Com base no livro do sitado autor diferencie Constituição e o Sistema Constitucional.
Para determinar a verdadeira natureza e extensão do fenômeno político, a palavra "Constituição" não basta, hoje, no campo do Direito Constitucional, para demonstrar toda a realidade referente à organização e o funcionamento das estruturas da sociedade política. Em ambos os casos, tem-se recorrido ao vocábulo "sistema" para que se aproxime daquilo que se pretende exprimir.
O sistema constitucional surge pois como expressão elástica e flexível, que nos permite perceber o sentido tomado pela Constituição em face da ambiência social, que ela reflete, e a cujos influxos está sujeita, numa escala de dependência cada vez mais avultante. A terminologia "sistema constitucional" não é, assim, gratuita, pois induz a globalidade de forças e formas políticas a que uma Constituição necessariamente se acha presa.
Fonte: Curso de Direito Constitucional - Paulo Bonavides - p. 93 e 95 - 26ª ed.
Sobre o tema, Paulo Bonavides leciona:
“Faz-se mister, por conseguinte, estabelecer, mais do que nunca, uma distinção entre Constituição e sistema constitucional, de modo a inserir o Direito Constitucional no âmbito da Ciência Política, solucionando-lhe assim a crise, e abrindo, do mesmo passo, amplas perspectivas a um estudo mais compreensivo, metódico e realista da trepidante matéria constitutiva de seu conteúdo. Vista pelos moldes clássicos, não seria possível adequa-la aos meios jurídicos disponíveis.
O constitucionalismo clássico, reduzindo a Constituição simplesmente a um instrumento jurídico, dava competência aos três órgãos fundamentais da ordem estatal - o Executivo, o Legislativo e o Judiciário – ao mesmo passo que declarava os direitos e as garantias individuais. A Constituição se continha toda no texto, como se fora o livro sagrado da liberdade, a bíblia de uma nova fé democrática, o alcorão dos princípios liberais, tendo por finalidade precípua limitar ou enfrear o exercício do poder.
Constituição e Direito Constitucional se apresentavam coincidentes.
Estabelecido então o divorcio entre a Sociedade e o Estado, a Constituição exprimia apenas o lado jurídico do compromisso do poder com liberdade, do Estado com o individuo. Era a Constituição do Estado liberal, a Constituição folha de papel, a que se reportava sarcasticamente Lassalle. Enquanto as instituições liberais funcionaram a contento, não se questionava o aspecto político das Constituições: a Sociedade estava despolitizada e a Constituição podia margea-la ou quase ignora-la, sendo aquela, pois, a idade de ouro do positivismo liberal e constitucional dos normativistas. Confiados na abstração tranquila dos textos, alcançaram eles as surpreendentes extremidades de uma teoria metaempirica, capaz de pretensiosamente dispensar os elementos sociológicos e filosóficos da realidade e proclamar com a exacerbação unilateralista do normativismo puro a identidade absoluta do Direito e do Estado.
Todo o problema constitucional ainda hoje procede, contudo, da ausência de uma formula que venha combinar ou conciliar essas duas dimensões da Constituição: a jurídica e a política. A verdade e que ora prepondera uma, ora outra. No constitucionalismo clássico e individualista preponderou a primeira; no constitucionalismo social e contemporâneo, a segunda. E quando uma delas ocupa todo o espaco da reflexão e da analise, os danos e as insuficiências de compreensão do fenômeno constitucional se fazem patentes.
O sistema constitucional surge pois como expressão elástica e flexível, que nos permite perceber o sentido tomado pela Constituição em face da ambiência social, que ela reflete, e a cujos influxos esta sujeita, numa escala de dependência cada vez mais avultante. A terminologia sistema constitucional nao e, assim, gratuita, pois induz a globalidade de forcas e formas políticas a que uma Constituição necessariamente se acha presa.
(...)
“Daqui surge o claro imperativo de colocar a Constituição escrita num sistema: o sistema constitucional, quer dizer, aquele que abrange todas as forcas excluídas pelo constitucionalismo clássico ou por este ignoradas, em virtude de visualizar nas Constituições apenas o seu aspecto formal, o seu lado meramente normativo, a juridicidade pura.
Essa inserção da Constituição formal num sistema material e orgânico não só busca evitar o grave inconveniente de um normativismo extremo e abstrato, esvaziado de conteúdo material, a que de certo conduziria a posição kelseniana - constitucionalismo jurídico impotente perante a Constituição real - como, por outra parte, serve ainda de valioso anteparo contra aqueles que, presos ao sociologismo de realidades inarredáveis e fatais, exprimem negação e ceticismo em face da eficácia normativa das Constituições.” (Curso de Direito Constitucional. 15ª ed. pg. 94-97)
Diante o exposto, percebe-se que, segundo Bonavides, a ideia de “Constituição” está atrelada a um formalismo incompatível com as necessidades da dinâmica social. Constituição seria tão somente o conjunto de normas contidas num documento solene estudadas e pensadas sob o ponto de vista estritamente jurídico, descompromissado, em grande medida, com a realidade social. “Sistema Constitucional”, por outro lado, é o termo usado pelo autor para inserir a Constituição na realidade social, compatibilizando-a com as forças, influências e dinâmicas sociais.
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Elementos de Direito Civil Constitucional
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