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Absolvição sumária no crime da competência do júri: pode haver absolvição sumária nos crimes conexos?

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Regina Pegorini

Entendemos que sim, pois se trata de Direito Público Subjetivo do réu, tendo em vista que a lei especifica os requisitos legais autorizadores da suspensão do processo.

Com efeito, a lei 9099/95, em seus artigos 89, parágrafos e seguintes, prevê a possibilidade de suspensão do processo, por dois a quatro anos, desde que preenchidos os seguintes requisitos: pena mínima do delito até um ano; concordância do réu e de seu defensor; o réu não pode estar sendo processado por outro crime e nem ter sido condenado por outro crime, além de presentes os requisitos que autorizariam o "sursis" (artigos 77 e seguintes do Código Penal).

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Estudante PD

Segundo a jurisprudência não, pois, o julgamento pelo juiz singular estaria adentrando a competência constitucional do Tribunal do Júri, desse modo, tanto o crime principal contra a vida quanto o crime conexo devem ser submetidos ao júri para os juízes de fato decidirem a questão.

AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. HOMICÍDIO QUALIFICADO, OCULTAÇÃO DE CADÁVER E FRAUDE PROCESSUAL. PRONÚNCIA. CRIME CONEXO.
ABSOLVIÇÃO SUMÁRIA. PRINCÍPIO DA CONSUNÇÃO. IMERSÃO VERTICAL.
VALORAÇÃO CRÍTICA DE FATOS E PROVAS. INVIABILIDADE. COMPETÊNCIA DO CONSELHO DE SENTENÇA. AGRAVO REGIMENTAL NÃO PROVIDO.
1. O pós-fato pode ser considerado um exaurimento do crime principal praticado pelo agente, a ponto de por aquele crime não ser punido.
Esta Corte Superior, inclusive, já se decidiu ser possível o reconhecimento do princípio da consunção entre os crimes de homicídio e de porte de arma, mas desde que comprovado "o nexo de dependência ou de subordinação entre as duas condutas e que os delitos foram praticados em um mesmo contexto fático" (HC n.
178.561/DF, Rel. Ministro Marco Aurélio Bellizze 5ª T., DJe 13/6/2012).
2. Todavia, consoante o magistério da jurisprudência desta Corte Superior e da Excelsa Corte, na decisão de pronúncia, a fundamentação deve ser comedida, limitando-se o julgador a emitir um mero juízo de probabilidade e não de certeza, sob pena de usurpar a competência constitucional do Tribunal do Júri.
3. À luz dessa premissa e do disposto no art. 78, I, do Código de Processo Penal, "a remansosa jurisprudência desta Corte Superior reconhece a competência prevalente do Tribunal do Juri na hipótese de conexão entre crimes dolosos contra a vida e crimes não dolosos contra a vida. Precedentes. [...]" (CC n. 147.222/CE, Rel. Ministro Joel Ilan Paciornik, Terceira Seção, DJe 31/5/2017).
4. Incorre, pois, em ofensa ao art. 78, I, do Código de Processo Penal e à consolidada jurisprudência desta Corte Superior a decisão unipessoal ou, como in casu, o acórdão que, para absolver sumariamente ou impronunciar o acusado da prática de crime de fraude processual conexo a crime(s) doloso(s) contra a vida, arrimado na incidência do princípio da consunção, imerge verticalmente sobre os elementos de prova produzidos nos autos.
5. Agravo regimental não provido.
(AgRg no REsp 1686864/GO, Rel. Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ, SEXTA TURMA, julgado em 18/10/2018, DJe 08/11/2018- STJ)
 

 

RECURSO ESPECIAL Nº 1.728.973 - MG (2018/0053912-6)
RELATOR : MINISTRO ROGERIO SCHIETTI CRUZ
RECORRENTE : MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
RECORRIDO  : LUCAS PEREIRA FRANCELINO
ADVOGADOS : GIOCONDA CANALONGA MATTOS E OUTRO(S) - MG042225
FABIO GAMA LEITE  - MG085224
RECORRIDO  : WESLEY MARCELINO CINTRA
ADVOGADO : DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DE MINAS GERAIS
DECISÃO
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS interpõe recurso
especial, com fulcro no art. 105, III, "a", da Constituição Federal,
contra acórdão proferido pelo Tribunal de Justiça local (Apelação
Criminal n. 1.0707.13.022757-2/001).
O recorrente aponta violação dos arts. 244-B da Lei n. 8.069/1990,
74, caput e § 1º, 76, III, 78, I, 79, caput, 155, parágrafo único,
413, caput e § 1º, e 414, caput, do Código de Processo Penal (fls.
569-594).
Sustenta que a pronúncia pela prática de crime doloso contra a vida
impossibilita o magistrado de impronunciar ou de absolver
sumariamente o acusado da prática de crime conexo. Ademais, para a
prova da menoridade não é necessária a juntada aos autos de certidão
de nascimento, porquanto pode ser demonstrada por outros documentos
oficiais.
Ao final, requer a reforma do acórdão para que os réus sejam
pronunciados pelo crime de corrupção de menores e julgados pelo
Tribunal do Júri.
Contrarrazões ofertadas às fls. 679-685 e admitido o recurso às fls.
691-692.
O Ministério Público Federal manifestou-se pelo provimento do
recurso especial (fls. 704-706).
Decido.
O Juízo de primeiro grau pronunciou Wesley Marcelino Cintra pela
prática do crime descrito no art. 121, § 2º, I, c/c o art. 62, I, do
CP e Lucas Pereira Francelino pelo delito previsto no art. 121, §
2º, I, c/c o art. 62, IV, do CP, e deixou de pronunciá-los por
corrupção de menores, por não constituir o fato infração penal (fl.
318).
O Tribunal de origem deu parcial provimento ao recurso ministerial
para impronunciar os acusados pelo crime previsto no art. 244-B do
ECA, nos seguintes termos (fls. 539-540, destaquei):
No presente caso, embora existam indícios de que os apelados
praticaram o crime na companhia de V.F.T., não há nos autos prova da
materialidade delitiva, que é indispensável à pronúncia.
Entendo que a qualificação promovida no BO, no APFD ou, ainda, no
termo de declarações firmado perante a autoridade policial ou
judicial não constitui, por si só, prova hábil da menoridade do
infrator que participou da empreitada criminosa. Explico.
Sei que os documentos emitidos por autoridades públicas, no
exercício de suas funções, gozam de presunção de veracidade.
Entretanto, a meu ver, a qualificação feita em sede policial ou em
juízo, a princípio, não pode gozar dessa autenticidade, porquanto
elaborada, em regra, com base tão somente nas declarações da pessoa.
Tanto é assim que, não raras vezes, no decorrer do processo criminal
se descobre que a qualificação do réu está errada, que ele se
identificou como outra pessoa, etc.
Nesse aspecto, ressalto que, quando há a apresentação de documento
de identidade ou é feita prévia pesquisa no sistema informatizado do
órgão, se costuma juntar aos autos cópia do documento ou do
resultado da investigação, ou pelo menos escrever o número do
documento apresentado, o que não ocorreu no caso.
A controvérsia resume-se a dois pontos. No primeiro, o recorrente
alega que, uma vez admitida a acusação quanto ao crime doloso contra
a vida, os crimes conexos serão automaticamente submetidos à
apreciação do corpo de jurados. No segundo, sustenta a existência de
prova da materialidade delitiva quanto ao crime de corrupção de
menores.
Ab initio, importante consignar, por oportuno, que, reconhecida a
materialidade do delito contra a vida e existentes indícios de
autoria, a submissão ao Tribunal do Júri do julgamento do delito
conexo decorre diretamente do disposto no art. 78, I, do CPP. Por
tal disposição, a pronúncia apenas verifica a admissibilidade do
julgamento pelo Tribunal do Júri, de modo que, confirmada a
competência do Tribunal popular para julgar o crime doloso contra a
vida, caberá aos jurados o veredito a respeito do crime conexo.
Com efeito, a jurisprudência desta Corte Superior "reconhece a
competência prevalente do Tribunal do Júri na hipótese de conexão
entre crimes dolosos contra a vida e crimes não dolosos contra a
vida. Precedentes. [...] (CC n. 147.222/CE, Rel. Ministro Joel Ilan
Paciornik, 3ª S., DJe 31/5/2017).
Nesse sentido, ilustra a doutrina de Gustavo Badaró:
[...] Havendo crime conexo, a pronúncia deverá incluir tanto o crime
doloso contra a vida quanto o delito conexo. Mesmo que haja prova de
eventuais excludentes de ilicitude ou culpabilidade quanto ao crime
conexo, o acusado deverá ser pronunciado por ambos, não podendo ser
absolvido sumariamente ou impronunciado apenas quanto ao delito
conexo (Processo Penal. 4. ed. rev. atual. e ampl. São Paulo:
Editora Revista dos Tribunais, 2016, p. 666-668, destaquei)
A jurisprudência e a doutrina entendem, portanto, ser inviável a
absolvição sumária ou a impronúncia do réu quanto aos delitos
conexos quando a decisão demanda análise aprofundada dos elementos
probatórios, pois estaria a justiça togada invadindo a competência
constitucional do Tribunal popular.
Todavia, também é certo que "O crime conexo só pode ser afastado
[...] quando a falta de justa causa se destaca in totum e de pronto"

(REsp n. 952.567/SP, Rel. Ministro Felix Fischer, 5ª T., DJ
19/11/2007), como na hipótese dos autos, visto que o delito de
corrupção de menores foi afastado por ausência de prova da
materialidade delitiva.
No tocante à comprovação da menoridade, a Súmula n. 74 do STJ
estabelece que, para efeitos penais, o seu reconhecimento requer
prova por documento hábil.
Depreende-se dos autos que, para o reconhecimento da menoridade, foi
considerada a informação prestada pelo adolescente à fl. 29. Porém,
não há no processo menção a nenhum documento válido quanto à data de
seu nascimento, de modo que a irresignação não prospera.
No mesmo sentido:
ECA E PROCESSUAL PENAL. AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL.
ARTIGO 244-B DO ECA. CORRUPÇÃO DE MENORES. MATERIALIDADE. DOCUMENTO
HÁBIL. SÚMULA 74/STJ. CONFISSÃO ESPONTÂNEA EM JUÍZO. REGISTRO DE
OCORRÊNCIA. TERMO DE DECLARAÇÕES. INSUFICIÊNCIA.
1 A jurisprudência do STJ evoluiu o entendimento consolidado pelo
teor do enunciado sumular 74/STJ, passando a entender como documento
hábil para fins de reconhecimento da materialidade do crime de
corrupção de menores qualquer um que tenha fé pública, desde que não
seja precário, sendo inexigível apenas a certidão de nascimento.
2. A confissão espontânea em juízo, o registro de ocorrência ou o
termo de declarações baseados em informações colhidas,
exclusivamente, por depoimentos, ainda que atestados por policiais
que participam do procedimento, não são hábeis para comprovar a
menoridade, haja vista a sua precariedade e ausência de lastro
documental idôneo.
3. Agravo regimental desprovido.
(AgRg no REsp n. 1529710/DF, Rel. Ministro Lázaro Guimarães
(Desembargador Convocado do TRF 5ª Região), 5ª T., DJe 21/3/2016).
Por fim, destaco que a sessão do júri foi realizada e que foi
proferida sentença de condenação penal no dia 5/9/2018, conforme
informação obtida na página eletrônica do TJ/MG.
À vista do exposto, com fundamento no art. 932, VIII, do CPC, c/c o
art. 34, XVIII, "b", parte final, do RISTJ, nego provimento ao
recurso especial.
Publique-se e intimem-se.
Brasília (DF), 25 de abril de 2019.
Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ
Relator
(Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ, 30/04/2019)
 

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