A relação entre direito e sociedade é uma via de mão dupla. Se de uma lado o direito reflete o desenvolvimento social, político, econômico, cultural e histórico da sociedade, por outra via ele tenta induzir comportamentos buscando alterar a realidade social. A contraposição entre ser e dever ser marca essa relação e faz da busca pelo equilíbrio entre esses fatores o grande desafio de qualquer sociedade.
Nessa linha, podemos exemplificar o tema com um conflito constitucional. Logo no art. 1º da CF/88, temos a seguinte previsão:
Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos:
V - o pluralismo político.
Portanto, podemos dizer que o constituinte originário identificou o pluralismo político como um princípio fundamental da sociedade brasileira. Partindo dessa premissa, seria natural supor que o Estado incentivaria a criação de novos partidos políticos. Ocorre que a proliferação de partidos políticos mostrou-se danosa para a governabilidade do país, o que levou o Congresso a reagir a esse problema. Em 2017, promulgou a Emenda Constitucional 97, que dificulta o acesso dos partidos aos recursos do fundo partidário e ao acesso gratuito ao rádio e à televisão.
Constituição Federal
Art. 17. É livre a criação, fusão, incorporação e extinção de partidos políticos, resguardados a soberania nacional, o regime democrático, o pluripartidarismo, os direitos fundamentais da pessoa humana e observados os seguintes preceitos:
§ 1º É assegurada aos partidos políticos autonomia para definir sua estrutura interna e estabelecer regras sobre escolha, formação e duração de seus órgãos permanentes e provisórios e sobre sua organização e funcionamento e para adotar os critérios de escolha e o regime de suas coligações nas eleições majoritárias, vedada a sua celebração nas eleições proporcionais, sem obrigatoriedade de vinculação entre as candidaturas em âmbito nacional, estadual, distrital ou municipal, devendo seus estatutos estabelecer normas de disciplina e fidelidade partidária.
§ 3º Somente terão direito a recursos do fundo partidário e acesso gratuito ao rádio e à televisão, na forma da lei, os partidos políticos que alternativamente:
I - obtiverem, nas eleições para a Câmara dos Deputados, no mínimo, 3% (três por cento) dos votos válidos, distribuídos em pelo menos um terço das unidades da Federação, com um mínimo de 2% (dois por cento) dos votos válidos em cada uma delas; ou
II - tiverem elegido pelo menos quinze Deputados Federais distribuídos em pelo menos um terço das unidades da Federação.
Com essa medida, ou seja, valendo-se do Direito, o Congresso busca incentivar um novo modelo partidário por entender que, com menos partidos, a governabilidade será mais simples, e o interesse público será melhor atendido.
O Direito muitas vezes busca resolver uma situação de crise, garantindo a pacificação social. Se o Direito não acompanha a velocidade do restante da sociedade ele não consegue pacificá-la e dá espaço ao conflito. Como a sociedade não é estática, imutável, sua constante mudança dificulta o alinhamento entre Direito e Sociedade, daí a busca por esse equilíbrio ser o grande desafio.
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