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ATUALIDADES SOBRE SAUDE DA MULHER E MORTALIDADE MATERNA NO PIAUÍ

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SONIA FONSECA

Em 2018, 35 mulheres morreram no Piauí em decorrência de complicações na gravidez. É uma média de quase três mortes por mês. No mesmo período, 689 recém-nascidos também não resistiram, sendo um número ainda maior: 57 óbitos por mês. Para mudar essa realidade, o Governo do Estado lança, em agosto, por meio da Secretaria de Estado da Saúde (Sesapi), o Plano Estadual de Ação para Redução da Mortalidade Materna e na Infância.

O objetivo é reduzir em 21% a mortalidade materna, 15% a mortalidade infantil neonatal (crianças até 28 dias de vida) e 7,5% a mortalidade infantil de crianças até cinco anos de idade. O plano pretende melhorar os indicadores que não só no Piauí como no Brasil estão muito acima do que a Organização Mundial de Saúde (OMS) considera aceitável. Enquanto que em países desenvolvidos o índice é de até 20 mortes de mães para cada 100 mil bebês nascidos vivos, no Brasil o número é de 62 e, no Piauí, 72.



De 2011 a 2018, o Piauí reduziu a mortalidade materna em 15%, caindo de 84,55 mortes para cada 100 mil nascidos para 72,03. No período de 2015 a 2018, a mortalidade infantil neonatal mudou de 11,91 para 11 (a cada mil nascidos vivos) e a mortalidade infantil até cinco anos de idade, de 18,33 para 17,8. Caso o Piauí tenha êxito, em 2023 a mortalidade materna será de 56,5 óbitos; a infantil neonatal, de 9,35; e a infantil até 5 anos, de 16,04. Se o Estado mantiver esse mesmo empenho, vai conseguir alcançar a meta.
 

Mortalidade materna
 

A Organização Mundial de Saúde define a morte materna como o óbito de uma mulher durante a gravidez ou no período de até 42 dias após o término da gestação. Mas somente em situações causadas à gravidez. Mortes acidentais ou incidentais não entram nessa conta. A OMS considera que a mortalidade materna é uma epidemia silenciosa, problema de saúde pública de grande magnitude.
 

Causas

As principais causas de óbitos maternos no Piauí são hemorragias (15,9%), eclâmpsia (15,1%), infecções puerperais (8,4%) transtornos hipertensivos (7,3%), e complicações de aborto (6,9%). Os dados foram coletados após a Sesapi analisar a causa de mortes de 532 mulheres, entre 2006 e 2018.

Segundo o Relatório de Mortalidade Materna do Estado do Piauí, no período de 2010 a 2019, 44,8% dos óbitos ocorreram na faixa etária de 20 a 29 anos, seguido de 30,4% na faixa etária de 30 a 39 anos. Com relação ao número de consultas, sobre 41,1% das mulheres que foram a óbito não havia informação sobre o número de consultas de pré-natal realizadas, 21,8% fizeram quatro a seis consultas e 18,4% 7 e mais consultas. No quesito escolaridade, 25% das mulheres que foram a óbito tiveram de quatro a sete anos de estudo e 26% delas não há registro sobre sua escolaridade.

Assim, de acordo com os dados, as mortes maternas atingem principalmente as classes menos favorecidas, que têm menos acesso à saúde e com menor qualidade de vida. Falta de informação, como mostra o relatório, também é um dos fatores que contribuem para os óbitos.
 

Objetivos do Milênio
 

Com todos esses desafios, porém, o Governo do Estado tem conseguido avanços. A implantação da Rede Cegonha, em 2011, por meio de uma política do Ministério da Saúde, foi fundamental para essa vitória.
 


A Rede Cegonha (RC) é uma iniciativa inovadora para implementar uma rede de cuidados que assegure à mulher o direito ao planejamento reprodutivo e à atenção humanizada à gravidez, parto e ao puerpério. A RC implantou um novo modelo de atenção ao parto, ao nascimento, ao crescimento e ao desenvolvimento da criança de zero aos 24 meses, possibilitando a ampliação do acesso e a melhoria da qualidade do pré-natal.

A ação do Ministério da Saúde nasceu a partir do estabelecimento, pela Organização das Nações Unidas, de que os países membros atingissem metas de melhorias desses indicadores. Em 2000, durante a Cúpula do Milênio, um dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM) era melhorar a saúde das gestantes. O desafio era reduzir a mortalidade materna em 75% de 1990 a 2015, em todo o Brasil.

Para o Brasil, em 2015, seria uma razão igual ou menor que 35 óbitos maternos por 100.000 nascidos vivos, entretanto, em 2015, o Brasil apresentou uma RMM - Razão de Morte Materna de 65,4 óbitos maternos por 100.000 nascidos vivos, portanto, não cumprindo a meta estabelecida.
 

Nova meta e novos prazos
 

A ONU estabeleceu novas metas, agora dentro dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), em execução entre os anos 2016 e 2030, chamado de Agenda 30. Um deles é reduzir a Razão de Morte Materna global para menos de 70 óbitos maternos por 100 mil nascidos vivos.

No Piauí, a Agenda 2030 pretende chegar a um índice 35 óbitos por cada 100 mil nascidos vivos. Apesar de ainda ser acima da média de países desenvolvidos, o número apresentaria uma queda de 51% em relação à RMM de hoje (2018), que é de 72.
 

Treinamento e responsabilidade com os municípios
 

A Secretaria de Estado da Saúde está no processo de execução do plano, enquanto prepara o lançamento. Ainda em agosto, o órgão pretende fazer um treinamento com todos os profissionais de saúde que têm acesso direto com as gestantes. Essas orientações serão passadas por meio do Canal Saúde, da TV Antares.

Os servidores ficarão a par do novo protocolo a ser adotado a partir do momento que o profissional responsável pelo pré-natal detectar algum nível de risco na gravidez da paciente. O documento “Linhas Gerais para Qualificação do Cuidado Pré-Natal” possui várias páginas com informações sobre os novos procedimentos.

Alzenir de Moura Fé, coordenadora da Saúde da Mulher da Secretaria da Saúde do Piauí (Sesapi), explica que, entre as medidas a serem adotadas com o novo protocolo – definido pelo Ministério da Saúde, está a prescrição de aspirina e cálcio. Eles são indicados para as mulheres que possuem alto risco de desenvolver eclâmpsia. “Os resultados após o uso das medicações são positivos, com evidências científicas. Alguns estados já estão começando a utilizar o novo protocolo”, acrescenta Moura Fé.

Cada gestante atendida na primeira consulta terá uma classificação do risco gestacional. Se nesta avaliação for identificado algum fator de risco para a pré-eclâmpsia, a mulher começar a tomar a aspirina entre a 12ª e 16ª semana de gravidez. Por volta da 37ª semana, se tiver tudo correndo bem, ela será reavaliada e a medicação será suspensa. Também há indicação do uso de cálcio a partir da 20ª semana.

“A gente entende que vai fazer a diferença porque a principal causa de mortalidade materna no nosso estado é por eclâmpsia, complicação da hipertensão. Então, se tomarmos condutas adequadas no início da gravidez, teremos a redução da mortalidade materna por essa patologia”, prevê a gestora.

A Sesapi reforça também a importância da adesão dos municípios, principal porque o clínico geral ou enfermeiros do Programa Saúde da Família são os profissionais que têm o primeiro contato com a gestante, ainda no início da gravidez. São servidores ligados aos municípios, daí a necessidade dos prefeitos abraçarem a causa. “Não adianta o Estado lançar o plano se os municípios não assumirem o compromisso também. A responsabilidade é de todos”, ressalta Alzenir.
 

Casa da Gestante permite acompanhamento da mulher antes e depois da gravidez
 

Uma das ações adotadas pela Secretaria da Saúde para garantir uma gravidez e um pós-parto tranquilos foi a construção de unidades da Casa da Gestante, Bebê e Puérpera, que faz parte do programa Rede Cegonha.

No local são acolhidas mulheres grávidas com complicações gestacionais de médio e alto risco, mas que não necessitam ficar hospitalizadas. Elas contam com leitos e recebem os cuidados de uma equipe multidisciplinar formada por enfermeira, técnico de enfermagem, segurança policial, motorista e médico de sobreaviso, que presta toda a atenção necessária durante 24 horas.

Além dos cuidados com a gestante, os recém-nascidos que necessitam de uma assistência diferenciada também recebem atendimento. Atualmente, existem unidades da Casa da Gestante em Parnaíba, Teresina e Floriano.

Mirza Cristiana Oliveira, dona de casa, teve o filho no Hospital Tibério Nunes, em Floriano. “Fui muito bem recebida. O acolhimento foi muito importante, vivi as duas fases: a de grávida e de mãe puérpera (também conhecido como resguardo) ”, afirma Mirza.
 

A importância do pré-natal
 

O pré-natal é fundamental para detectar chances de surgirem problemas durante a gravidez que possam prejudicar o parto. Por isso, o acompanhamento médico não pode ser esquecido. A dona de casa Elenilde da Conceição, 37 anos, descobriu, durante um exame, que estava anemia, ocasionada porque deixou de tomar o sulfato ferroso.

“Mesmo que nós, mães, não gostemos, temos que tomar o medicamento. A gente não tem que pensar só na gente, mas no bebê também”, frisou, mãe de 7 filhos.

Kaliane Alves, estudante, descobriu que tinha toxoplasmose, mas, graças ao pré-natal, fez o acompanhamento correto e teve o filho sem problemas. “Além da atenção dos médicos na consulta, eu participava de grupo de gestante, aprendendo como lidar com a nova realidade – cuidar do bebê e dar de mamar”, afirmou.

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