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                             Ponderação Dialogal - Roberto Felipe Amaral

- Você já pensou no que venha a ser pensar, de fato?
- Pensar não seria sinônimo de ponderar?
- Tudo o que você fala constitui-se só "verdade afirmada". Quem te disse que pensar é isso ou aquilo?
- Há processos cerebrais envolvidos. Reações eletroquímicas no cérebro.
- Bem, se pensar é haver reações tais no cérebro, creio que temos uma falta de sustentação argumentativa aqui.
-Onde? Qual é a falta de base?
- Vejamos. Nem neurotransmissores nem a bioeletricidade envolvidos no processo dizem nada a respeito do que signifique pensar. Eu poderia bem dizer que pensar é "comer, andar, urinar ou mesmo defecar" diante dos elementos do processo cerebral e eles não me questionariam em nada, apesar de eu poder estar completamente errado.
- Mas, vendo as reações de ambos, enquanto se pensa ou se faz qualquer outra coisa, inclusive correr, poderemos tirar conclusões de que "pensar" não seja o que você disse.
- Quando você fala a oração "enquanto se pensa ou faz qualquer coisa" você afirma já saber o que está à procura de descobrir: é uma petição de princípio! Você deveria saber, primariamente, o que seja "pensar ou qualquer outra coisa", de fato, diferente para fazer tal assertiva categórica assim. Mas aí não necessitaríamos estar nesta discussão, se fosse já sabido o que seja "pensar".
- Sendo assim, eu não saberia, com certeza, coisa alguma. Nem mesmo o que quer que seja "saber".
- O cerne aqui está no fato de tudo o que afirmamos não ter sentido simplesmente por que dizemos ter sentido ou vivemos como se fizesse sentido, utilizando-o em nossas vidas.
- Entrando em teu raciocínio, pergunto-te: O que é "saber", então?
- Tomando-se por base a matéria somente, vemos que tudo, inclusive "saber", é só algo que acontece. Mas "acontecer" também não tem sentido.
- Então quê? O que é "acontecer"?
- Tomando-se, puramente, por base a matéria, eu não sei nem por que encetamos qualquer conversa, inclusive esta sobre o que seja ou signifique alguma coisa, no caso, "pensar".
- Mas a observação da matéria nos diz coisas significativas!
- Creio que não, amigo. Pois, até a idéia de "observação" é solapada nesta cosmovisão.
- O que faremos, então? E o que, de fato, "estamos fazendo"?
- Não deveríamos nem estar fazendo alguma coisa, posto que, já no início do início (primórdios de tudo!), não havia qualquer intenção para que algo viesse a existir, nem mesmo a possibilidade de existir a idéia de existir.
- Então, por que fazemos o que fazemos?
- Amigo, não sei nem se não sei, com certeza, de algo.