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O que o homem faz tem uma carga cultural, um componente simbólico, explique.

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Daniel

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LR

A cultura nasce através de um processo de invenções e reinvenções mediadas pelas relações de sociabilidade entre os homens e pelos aspectos objetivos de temporalidade e território toda comunidade de homens está submetida. Deve-se levar em consideração que levando em conta que “uma sociedade humana não poderá sobreviver se sua cultura não for transmitida de geração para geração” (ABBAGNANO, 2007: 357), e que por cultura podemos compreender ser as técnicas de uso, produção e comportamento mediante as quais um grupo de homens é capaz de satisfazer suas necessidades, proteger-se contra a hostilidade do ambiente físico e biológico e trabalhar em conjunto, de modo mais ou menos ordenado e pacífico” (ABBAGNANO, 2007: 357). Sendo impossível dissociar o homem do social, pois é exatamente esse o aspecto que torna o homem, humano e diferente dos outros animais. Essa percepção está presente, arrisco dizer, em todos os autores que buscam compreender a gênese da sociedade e ação humana.

Em Aristóteles, o homem é visto como um animal político e jamais isolado: “O homem é um animal político ou naturalmente político porque é um ser carente e imperfeito que necessita de coisas (para desejar) e de outros (para se reunir), buscando a comunidade como o lugar em que, com os seus semelhantes, alcance completude. Se fosse sem carências, seria um deus e não precisaria da vida comunitária; se fosse uma besta selvagem sequer sentira a falta de outros. Por não ser um deus nem uma besta feroz, o homem é um animal político. Além disso, como explica Aristóteles, ‘a natureza nada fez em vão’ e se deu ao homem a linguagem não foi apenas para comunicar sentimentos de prazer ou dor (como a maioria dos animais), mas para exprimir em comum a percepção do bom e do mau, do útil e do nocivo, do justo e do injusto, ou seja, para exprimir em comum a percepção dos valores.” (CHAUI, 2008: 464). Afirmação esta ultima que contempla o que já afirmamos aqui, que nenhuma sociedade é capaz de sobreviver sem a transmissão de sua cultura, sem inventar, reinventar, herdar e deixar de herança um determinado padrão se sociabilidade dento em vista um dado conjunto de valores.

Em Hegel e em Marx a cultura pode ser percebida pelos padrões de produção e trabalho sob a lógica de uma ideologia burguesa. Marx vê a formação da sociedade sob a ótica de um materialismo histórico, “que consiste em atribuir aos fatores econômicos (técnicas de trabalho e de produção, relações de trabalho e de produção) peso preponderante na determinação dos acontecimentos históricos.” (ABBAGNANO, 2007: 750). Segundo Max, “a personalidade humana é constituída intrinsecamente (em sua própria natureza) por relações de trabalho e de produção que o homem participa para prover suas necessidades”(ABBAGNANO, 2007: 750). Assim, não são essas relações (de trabalho e de produção) que produzem a forma com que o homem pensa, com que o homem concebe seu próprio mundo, e sim é a forma com que o homem concebe o mundo, ou seja é “A ‘consciência’ do homem (suas crenças religiosas, morais, políticas etc.)” é que são os elementos que produzem as citadas relações. Podemos então definir o materialismo histórico da seguinte forma: “as formas assumidas pela sociedade ao longo de sua história dependem das relações econômicas predominantes em certas fases dela.” (ABBAGNANO, 2007: 750). Essa tese é formulada a fim de se apresentar como contraponto à visão de Hegel. Se em Hegel, “é a consciência que determina o ser social do homem”, em Marx “é o ser social do homem que determina a sua consciência” (ABBAGNANO, 2007: 750). Nas palavras de Marx: “ ‘Em sua vida produtiva em sociedade, os homens participam de determinadas relações necessárias e independentes de sua vontade: relações de produção que correspondem a certa fase de desenvolvimento de suas forças produtivas materiais. Esse conjunto de relações de produção constitui a estrutura econômica da sociedade, que é a base real sobre a qual se erige uma superestrutura jurídica e política e à qual correspondem determinadas formas sociais de consciência. [...] Portanto, o modo de produção da vida material em geral condiciona o processo da vida social, política e espiritual’ (...).” (ABBAGNANO, 2007: 750).

Em Durkheim, compreende que as representações simbólicas da cultura são o sinônimo de representações mentais, tomadas por representações coletiva, retomando e exemplo dado, a religião – representação simbólica – em As formas elementares da vida religiosa (livro) é compreendida da seguinte forma: “através da análise das religiões primitivas – o totemismo como sua forma primeira e mais simples –, pode-se perceber como os homens encaram a realidade e constroem uma certa concepção do mundo e, mais ainda, como eles próprios se organizam hierarquicamente, informados por tal concepção” (RODRIGUES, 2005: 21). Outro exemplo, a família – também uma representação simbólica – é definida por Durkheim da seguinte forma: “ela é simplesmente, um grupo de indivíduos que foram aproximados uns dos outros, no seio da sociedade política, por uma comunidade mais particularmente estreita de ideias, sentimentos e interesses. A consanguinidade pode ter facilitado essa concentração [de indivíduos em torno do que se diz ser família], pois ela tem por efeito natural incluir as consciências umas em direção às outras. Mas muitos outros fatores intervieram: a proximidade material, a solidariedade de interesses, a necessidade de se unir para lutar contra um perigo comum, ou simplesmente de se unir, foram causas muito mais poderosas de aproximação.” (DUKHEIM, 1990: XXIII). Assim a família, como também a religião e a economia, são todas representações simbólicas, e por isso possuem um papel na construção de uma coesão social na medida em que é responsável pela construção de uma moralidade importante para a construção de um consenso, de uma consciência comum, de uma relação de solidariedade entre os indivíduos integrantes de uma mesma sociedade.

E por fim, um último exemplo importante é o peso que Jessé Souza atribui ao fator cultural no Brasil. violência A simbólica, como elemento fundamental da cultura brasileira, posta por Jessé de Souza em seus livro A Elite do Atraso (2017) e A tolice da inteligência brasileira (2018) – entre outros livros do autor tão importantes quanto estes citados –, tem sua raiz no que ele determina ser o pacto elitista. Há, primeiramente, a existência de um pensamento hegemônico que naturaliza certas aspectos da sociedade que só beneficiam uma parcela minoritária dela. Duverge (1976), em síntese, estaria correto quando expõe que a violência física é o último recurso de um governo (levando em conta que governo, no caso brasileiro, é sinônimo de Elite), e recurso este que expõe sua ilegitimidade, assim para governar, mais do que a violência aberta, visível, é necessário colonizar as mentes dos governados, ou seja, construir um discurso hegemônico capaz de ser um elemento de controle social. Para Jessé, este discurso hegemônico desenvolvido pela elite brasileira, trata-se da violência simbólica ao qual o povo brasileiro é submetido sem ao menos perceber, e ao não perceber, perde-se a possibilidade de se rebelar contra o status de coisa que os reprime e os relega as piores condições da miséria humana. Jessé questiona-se como é possível que o 1% mais rico da população brasileira possa ser capaz de concentrar a riqueza produzida pelo trabalho executado pelo restante (99%) da população brasileira. A resposta que o autor dá é que a todo o arcabouço de produção de conhecimento, e todas as formas de reprodução desse conhecimento, dedica-se a construção de um pensamento hegemônico cujos interesses são avessos aos interesses sociais, e cujas as origens são tão enraizadas no pensamento brasileiro, através da construção de um pensamento social que sequestrou a nossa história passada, amenizando os efeitos da violência física que herdamos do nosso passado escravista, e recolocando esta mesma violência, que impõe um novo tipo de escravidão de forma mais perversa. A elite, ao reescrever o passado do brasil segundo os próprios interesses e ao financiar a produção e a reprodução de novos conhecimentos a partir dessa história deturpada, e fazendo isso transparecer tanto na academia quanto eu todos os diversos meios de comunicação, construiu um senso comum tão desagregador socialmente que é capaz de mantê-la no poder sem que os 99% de oprimidos sejam capazes de se revoltar. Não o são pois possuir uma história de desagregação social, cuja a sociabilidade não é pautada no reconhecimento dos interesses da própria classe, e sim na reprodução dos interesses da classe que os domina e os oprime, das elites: “tamanha ‘violência simbólica’ só é possível pelo sequestro da ‘inteligência brasileira’ para o serviço não da imensa maioria da população, mas do 1% mais rico, que monopoliza a parte do leão dos bens e recursos escassos. Esse serviço que a imensa maioria presta é o que possibilita a justificação, por exemplo, de que os problemas brasileiros não vem da grotesca concentração da riqueza social em pouquíssimas mãos, mas sim da ‘corrupção apenas do Estado’.” (SOUZA, 2018: 10).

– Como se verifica essa ‘violência simbólica’: “A realidade social não é visível a olho nu, o que significa que o mundo social não é transparente aos nossos olhos. Afinal, não são apenas os músculos dos olhos que nos permite ver, existem ideias dominantes, compartilhadas e repetidas por quase todos, que, na verdade, ‘selecionam’ e ‘distorcem’ o que os olhos veem, e ‘escondem’ o que não deve ser visto.” (SOUZA, 2018: 9); “É isso que faz com o que mundo social seja sistematicamente distorcido e falseado. Todos os privilégios e interesses que estão ganhando dependem do sucesso da distorção e do falseamento do mundo social para continuarem a se reproduzir indefinidamente. A reprodução de todos os privilégios injustos no tempo depende do ‘convencimento1, e não da ‘violência’. Melhor dizendo, essa reprodução dependente de uma ‘violência simbólica’, perpetrada com o consentimento mudo dos excluídos dos privilégios, e não da ‘violência física’. É por conta disso que os privilegiados são os donos dos jornais, das editoras, das universidades, das TVs e do que se decide nos tribunais e nos partidos políticos. Apenas dominando todas essas estruturas é que se pode monopolizar os recursos naturais que deveriam ser de todos, e explorar o trabalho da imensa maioria de não privilegiados sob a forma de taxa de lucro, juro, renda de terra ou aluguel.” (SOUZA, 2018: 9 – 10); “A soma dessas rendas de capital no Brasil é monopolizada em grande parte pelo 1% mais rico da população. É o trabalho dos 99% restantes que se transfere em grande medida para o bolso do 1% mais rico.”(SOUZA, 2018: 10); “tamanha ‘violência simbólica’ só é possível pelo sequestro da ‘inteligência brasileira’ para o serviço não da imensa maioria da população, mas do 1% mais rico, que monopoliza a parte do leão dos bens e recursos escassos. Esse serviço que a imensa maioria presta é o que possibilita a justificação, por exemplo, de que os problemas brasileiros não vem da grotesca concentração da riqueza social em pouquíssimas mãos, mas sim da ‘corrupção apenas do Estado’.”(SOUZA, 2018: 10);

 

Referências bibliográficas:

SOUZA, Jessé. A tolice da inteligência brasileira: ou como o país se deixa manipular pela elite. 2ed. Rio de Janeiro: LeYa, 2018.

SOUZA, Jessé. A elite do atraso: da escravidão à Lava Jato. Rio de Janeiro: 2017.

DUVERGER, Maurice. Ciência Política, Teoria e Método. Rio de Janeiro: Editora Zatar, 1976.

ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia. São Paulo: Martins Fontes, 2007.

CHAUI, Marilena. Introdução à história da filosofia: Dos pré-socráticos a Aristóteles. 2. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2008.

DURKHEIM, Émile. As regras do método sociológico. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 4ed, 1966.

DURKHEIM, Émile. 1999. Da divisão do trabalho social, São Paulo: Martins Fontes:1-109.

RODRIGUES, José Albertino. Émile Durkheim. São Paulo: Editora Ática, 2005.

IGUORI, Guido; VOZA, Pasquale. Dicionário Gramsciniano: 1926 - 1937. São Paulo: Boitempo, 2017. ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia. São Paulo: Martins Fontes, 2007. BOBBIO, Norberto; MATTEUCCI, Nicola; PASQUINO, Gianfranco. Dicionário de Política. 5. ed. Brasília: Edunb, 1993

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