Nietzsche tornou-se um dos filósofos mais importantes da Alemanha do século XIX, porque sua filosofia confrontava, de maneira radical, toda a filosofia que derivou do pensamento clássico, abordando questões relativas ao conhecimento, ao pensamento, o intelecto, a consciência, a ciência, atravessando de maneira inovadora os conceitos de razão e verdade tão caros à história da filosofia.
Nietzsche ao se debruçar sobre o conceito de razão constatou que a maioria dos filósofos tradicionais, o concebeu sob a perspectiva da eternidade, caracterizando-o como um conceito de natureza ontológica e imutável. Segundo ele, a razão ganhará status de verdade universal e a-histórica no momento em que haverá a cisão entre o mundo dos sentidos e o mundo das ideias proposto por Sócrates. No mundo dos sentidos teríamos as coisas materiais que poderiam ser vistas e tocadas, sentidas, mas como deterioradas pelo tempo, não passariam de meras cópias sujeitas ao erro e ao desaparecimento, em contrapartida, no mundo das ideias existiriam todas as substâncias primordiais, dotadas de perfeição, eternidade e, portanto o local onde estaria guardado o verdadeiro conhecimento. A razão seria, por assim dizer, o meio pelo qual o homem teria acesso a esse segundo mundo. Nietzsche se contrapõe a razão por compreendê-la como a ruína do pensamento trágico. Para ele a sabedoria trágica, portadora das forças dionisíacas e apolíneas, ligada ao princípio da arte e da música, era a atividade de maior valor para a vida e para o homem porque estava relacionada aos instintos e ao corpo. A sabedoria trágica incentivava o amor incondicional à vida, mesmo a compreendendo em seu caráter absurdo e sofredor. A tirania da razão buscará banir essa concepção trágica levando as questões da vida, ao mundo das ideias, da verdade e da essência aos limites da transcendência, que alimentará posteriormente não só a noção do Deus cristão e de todo cristianismo, como também toda filosofia moderna, que substituirá a figura de Deus perfeito e eterno, pela figura do homem racional capaz de transcender sua própria natureza e julgar o mundo ao seu redor.
Já o conceito de verdade, leva Nietzsche a se questionar o porquê de todos os filósofos buscarem a verdade e não outra coisa, como a inverdade? Qual é o valor que a verdade tem? Para responder aos próprios questionamentos, Nietzsche se voltou contra aqueles filósofos, aos quais, ele denomina metafísicos. Segundo o autor, os metafísicos encobrem no erro de procurar a verdade naquilo que mais valorizam, pois não acreditam que ela possa derivar do mundo sensível e transitório posto aos seus sentidos. Ao contrário, a verdade para eles só poderia derivar de algo que tem sua própria origem em si, absoluta e imutável. O que Nietzsche mostra é que o conceito de verdade é fruto da atividade inventiva do homem é assim pertencente à história. Com esta abordagem filosófico-histórica, Nietzsche questiona o valor que o conceito de verdade tem e constata que ele diz respeito à esfera do extramundo. Acredita-se que, existe uma verdade capaz de transpor a aparência e, então, consertá-la, como se a aparência fosse fruto da ilusão dos sentidos. Mas para Nietzsche o que acontece em última instância é que a verdade estaria relacionada a moral, já que esta visa melhorar o homem baseado em algum fim ou ideal, mesmo que esse ideal se mostre irrealizável. Os metafísicos, portanto, ambicionam neutralizar a contradição, os conflitos, os desejos e instintos humanos, através da superação da aparência enquanto erro, pelas vias da verdade.
Considera-se por fim, que Nietzsche compreende a razão e a verdade como conceitos históricos e mutáveis relacionados a moral, e que correspondem a visão de mundo engendrada pelo pensamento filosófico clássico, que acabou originando a visão de mundo cristã, ascética nos valores e possuidora de um Deus supraterreno, além de reverberar na racionalidade científica moderna com um deslocamento simples, onde há substituição de Deus pelo homem racional e cientista, capaz de transcender o próprio corpo a fim de observar o imutável e o perene dos fatos. Nietzsche realiza uma crítica implacável ao conhecimento racional, por ver a razão e a verdade como a degeneração da vida, justamente porque ambas excluem toda a possibilidade de transformação, dos devires e das contradições que são para Nietzsche a grandeza da vida.
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