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Qual o regime política organizado a partir da escolha dos melhores é: Oligarquia Anarquia Poliarquia República Teocracia

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Jonas Neto

Aristocracia  (governo dos melhores)

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LR

Primeiramente, o termo ‘escolha dos melhores’ é bastante relativo pois não expressa de quem são os indivíduos que fazem determinada escolha. Em uma Teocracia, tratando-se de um “Regime político em que o governo é exercido pela casta sacerdotal”, ou mais genericamente, de “qualquer doutrina segundo a qual toda autoridade provém de Deus” (ABBAGNANO, 2007: 1118), a escolha dos melhores é feita por Deus, ou acredita-se que assim o é. O Anarquismo, talvez seja a forma de organização da sociedade que não compreende o termo ‘escolha dos melhores’, pois o Estado é em realidade um Estado sem Estado, o Estado, como ordenamento jurídico, detentor do poder coercitivo, cujo o fim é estabelecer uma determinada ordem, e que para isso necessita que em alguma medida exista no comando um indivíduo ou um grupo, escolhido por um outro individuo, por um grupo ou por uma entidade, não é uma instancia reconhecida pelo Anarquismo, já que “por Anarquismo se entende o movimento que atribui, ao homem como indivíduo e à coletividade, o direito de usufruir toda a liberdade, sem limitações de normas, de espaço e de tempo, fora dos limites existenciais do próprio indivíduo: liberdade de agir sem ser oprimido por qualquer tipo de autoridade, admitindo unicamente os obstáculos da natureza, da ‘opinião’, do ‘senso comum’ e da vontade da comunidade geral – aos quais o indivíduo se adapta sem constrangimento, por um ato livre de vontade. (...): ‘A doutrina anárquica resume-se numa única palavra: liberdade.’.” (BOBBIO, 1993: 23). Os três termos que resta então apontar, conforme o questão solicita, são: a Oligarquia, a Poliárquia e a República. Tendo em vista que, não se tratam de termos necessariamente incongruentes, é possível afirmar a existência, tanto no presente quanto no passado, tanto de uma Republica Oligárquica, quanto de uma Republica Poliárquica. E mais, para além dessas formas citadas, há diversas outras formas que envolvem os três conceitos e muitos outros. Constará ao fim deste texto a definição de cada uma das formas aqui questionadas. Entretanto, para responder a questão, fica aqui esclarecido que:

1) A escolha dos melhores não pode ser questionada sem que se destaque, de antemão, os indivíduos autorizados a fazer determinada escolha. Lembrando que, na Grécia clássica, por exemplo, apesar de ter sido palco do surgimento das primeiras instituições democráticas, a escolha dos melhores não podia ser feita por todos, e sim apenas por homens integrantes de uma determinada classe social, assim, a escolha era dos melhores segundo a opinião/ a demanda/ a agenda de poucos, não contemplando o interesse, por exemplo, das mulheres, dos estrangeiros e dos escravos. Para além disso, em regimes mistos, como algumas Monarquias Parlamentares, parte do governo é eleito, ou seja, há a escolha dos melhores, entretanto por um grupo de pessoas integrantes de uma parte minoritária da sociedade, e outra parte do governo está em mãos de um indivíduo cujo a única virtude é a hereditariedade, e tal virtude, tal forma de chegar ao poder tem, em menos em sua raiz, em sua origem, provém da crença em Deus;

2) O único regime que de fato não pressupõe a necessariamente escolha dos melhores como mecanismo de estruturação hierárquica do poder, é a Anarquia. Entretanto, não significa que não haveria uma ordem a ser seguida, apenas que tal ordem deve estar submetida ao indivíduo, e ao indivíduo nada pode ser feito contra sua vontade, concedendo que é da vontade do indivíduo viver em comunidade e levar em consideração o conjunto. É necessário constar também, que há caminho a ser percorrido para se chegar a este tipo de organização, a teoria marxista, por exemplo, prevê a necessidade de um regime de transição, sendo ele o Estado Socialista, onde a estrutura de governo e seu poder de coerção [atenção pois é necessário notar que não se trata apenas da coerção física, pois é sabido que há várias formas de coagir o outro, sendo que o uso da força é o último dos recursos, e para além disso, tanto no Estado de transição segundo a teria marxista quanto em qualquer outro Estado, o aparato coercitivo do Estado, são representadas pelas leis e pelas instituições que existem para que uma determinada ordem social seja mantida, ou alcançada], ainda são necessários, embora espera-se que cada vez menos necessário. Superando-se este período de transição, o Estado Comunista, em realidade é o Estado sem Estado, ou melhor, o Estado sem o aparato coercitivo do Estado, onde a não mais existência da desigualdade entre os indivíduos que obriga que um se submeta as vontades de outro a ponto, ou seja, entregue ao outro a própria liberdade de escolha, ou seja, a própria via, onde haja então uma igualdade tamanha entre os indivíduos de uma mesma sociedade, que o aparato coercitivo do Estado com sua função de regulação de conflitos sociais se finda por perder completamente sua utilidade, pois não haverá mais conflitos a serem mediados, e assim restará no Estado apenas a estrutura comunitária, ou seja, o sociedade civil se tornará o próprio Estado;

3) Se o termo ‘escolha dos melhores’ for especificado por alguma variação de ‘escolha dos melhores, feita pela maioria’, é possível iniciar um debate a respeito do termo ‘democracia’. Nesse sentido, é necessário considerar que, ainda que seja feita essa especificação, o termo considerado é bastante amplo pois na teoria democrática há diversas formas de entender a que compete a Democracia. Os limites do sistema político, seja qual for, foi, é, e sempre será, tema de grande discussão entre os estudiosos dessa área do conhecimento. Em Participação e Teoria Democrática (1992), Pateman traça as possíveis fronteiras da democracia para trazer uma nova percepção a respeito do que lhe é imprescindível. Ao retomar diversas teorias democráticas e analisar como era o funcionamento do setor fabril da Iugoslávia em nível organizacional, pensando tanto em hierarquia de postos/cargos, quanto em oportunidades de participação nos possíveis processos de tomada de decisão, a autora demonstra que existe um aspecto central facilmente verificável dentro do espectro variado de teorias sobre democracia, que é a questão da Participação, o quão ela é realmente desejável. Ou seja, o quão a ‘escolha dos melhores’, ou melhor, a oportunidade de escolher, de participar, sendo esse participar uma ação que vai além do voto sazonal, é fundamental para que de fato exista o fato Democracia, em um dado governo. Pateman entende-a como absolutamente primordial, principalmente em virtude se seu caráter educativo. É participando de processos coletivos de decisão que se aprende a participar, é participando das decisões no chão de uma fábrica e verificando o efeito dessa ação, que o trabalhador irá ativar nele uma percepção de democracia e da possibilidade de tomada consciente do espaço da política. Evelina Dagnino, autora que será discutida mais a frente, assim como Pateman, faz a mesma aposta quando coloca a participação como solução democrática. Dahl é um dos autores mobilizados por Pateman. Segundo o que é apresentado no livro mencionado, Dahl localiza a Democracia, ou seja, o governo de todos, no campo de um ideal inalcançável, e assim pouco prático para fins de construir uma análise a respeito de sistemas políticos reais. Neste sentido o autor, assim como Schumpeter estabelece, entende democracia e seu conjunto de postulados, não como um sistema político possível, e sim como um método organizativo centralizado no processo eleitoral. Para Dahl o sistema político a ser perseguido trata-se em realidade de uma Poliarquia (PATEMAN, 1992: 18). Haveria assim uma gradação entre Estados, podem ser um mais democratizado do que outro. As eleições se trataria de um mecanismo controle, mesmo que limitado, dos eleitores sobre os eleitos, tendo como elemento metodológico democrático a competição eleitoral entre líderes. As regras de uma Poliarquia são pensadas para que seja viável abarcar as minorias em número, tamanho e diversidade, pensando em termos de “igualdade política”, ou seja, na necessidade do sufrágio universal, e na prerrogativa de que os líderes darão ouvidos e ações as reinvindicações que chegarem a ele, e não se tratando assim de uma igualdade de poder (PATEMAN, 1992: 19). Nesta teoria é imprescindível que haja, ao menos entre os líderes, um consenso a respeito de normas, dependendo de uma série de acordos sobre as escolhas que darão forma ao jogo político como um todo (PATEMAN, 1992: 20). Em Poliarquia (1991), Dahl especifica o consenso a ser estabelecido quando propõe que “o termo ‘democracia’” reserve-se à “um sistema político que tenha (...) a qualidade de ser inteiramente, ou quase inteiramente, responsivo a todos”, e que para tal o governo deve prover aos seus cidadãos plenas oportunidades de “formular suas preferencias”, de “exprimir preferências (...) através da ação individual e da coletiva” e de “ter suas preferencias igualmente consideradas na conduta do governo(DAHL, 1991: 26). Miguel, em Teoria Democrática Atual (2006), mapeia algumas teorias políticas buscando demonstrar há uma disputa pelos significados possíveis de democracia seja no campo prático da política, seja no campo normativo das teorias políticas, gerando uma multiplicidade de efeitos (MIGUEL, 2006: 6). Dagnino, em Sociedade Civil, participação e cidadania (2004) aponta que há uma simultaneidade temporal entre dois projetos político que apesar de possuírem raízes ideológicas completamente antagônicas encontraram na organicidade contemporânea um espaço de coexistência. Com efeito esta coexistência não significa que não há uma disputa por poder, pela sobreposição de um campo ideológico sobre o outro, pelo contrário, essa coexistência é pautada por um jogo de forças onde se está em prémio uma dominação hegemônica de consciências. Assim como Miguel (2006) aponta que há uma disputa pelo termo democracia que vai para além do campo teórico, Dagnino expõe que os projetos políticos em disputa têm como armas apropriações de termos importantes e seus significados políticos. As problemáticas que essas armas causam, culminam em uma confusão quanto os contornos da própria noção de democracia, provocando um problema estrutural, de divisões de papais e responsabilidades, no Estado e na Sociedade, ou seja, nos faz crer que em realidade países que vivem imersos neste cenário em realidade possuem uma “aparente consolidação democrática” (DAGNINO, OLIVEIRA e PANFICHI, 2016: 16), e não uma democracia de fato.

 

Resumo das definições já apresentadas:

Anarquia: Anarquismo, “Doutrina segundo a qual o indivíduo é a única realidade, que deve ser absolutamente livre e que qualquer restrição que lhe seja imposta é legítima; daí a ilegitimidade do Estado.” (ABBAGNANO, 2007: 62); “por Anarquismo se entende o movimento que atribui, ao homem como indivíduo e à coletividade, o direito de usufruir toda a liberdade, sem limitações de normas, de espaço e de tempo, fora dos limites existenciais do próprio indivíduo: liberdade de agir sem ser oprimido por qualquer tipo de autoridade, admitindo unicamente os obstáculos da natureza, da ‘opinião’, do ‘senso comum’ e da vontade da comunidade geral – aos quais o indivíduo se adapta sem constrangimento, por um ato livre de vontade. (...): ‘A doutrina anárquica resume-se numa única palavra: liberdade.’.” (BOBBIO, 1993: 23);

Oliguarquia: Forma de “governo baseado no patrimônio, no qual os ricos mandam” (ABBAGNANO, 2007: 567); Teoria das Elites – “Oligarquia é, no sentido etimológico da palavra, a única forma de governo. Com isso, os elitistas não querer afirmas que todos os Governos são iguais: limitam-se a sustentar que, no tocante ao número de governantes segundo o qual têm sido discriminadas as diversas formas de governo, os Governos não apresentam diferenças relevantes, isto é, todos eles são oligarquias, embora de espécie diversa” (BOBBIO, 1993: 836); “Um escritor de grande notoriedade como Duverge usa o termo Oligarquia para designar a classe dominante, isto é, para dar nome àquele mesmo fenômeno que os teóricos das elites haviam chamado ‘minoria organizada’ ou ‘classe eleita’ (...)” (BOBBIO, 1993: 836);

Poliarquia: Dahl em Poliarquia (1991), mais especificamente no capítulo um, Democratização e oposição pública (DAHL, 1991: 25), na finalidade de expor quais são as condições que “favorecem ou impedem” a formação legal de partidos políticos de oposição na corrida eleitoral livre, traça diversas fronteiras para definir o que é democracia. Primeiramente, reserva “o termo ‘democracia’ para um sistema político que tenha (...) a qualidade de ser inteiramente, ou quase inteiramente, responsivo a todos”, e que para tal o governo deve prover aos seus cidadãos plenas oportunidades de “formular suas preferencias”, “exprimir preferências (...) através da ação individual e da coletiva” e “ter suas preferencias igualmente consideradas na conduta do governo(DAHL, 1991: 26). Para tais oportunidades, oito garantias institucionais são indispensáveis: “Liberdade de formar e aderir a organizações”, “Liberdade de expressão”, “Direito ao voto”, “Elegibilidade para cargos públicos”, “Direito de líderes políticos disputarem apoio” e “votos”, “Fontes alternativas de informação”, “Eleições livres e idôneas”, “Instituições para fazer com que as políticas governamentais dependam de eleições e de outras manifestações de preferencias” (DAHL, 1991: 27);

República: “Na moderna tipologia das formas de governo, o termo República se contrapõe à monarquia. Nesta, o chefe de Estado tem acesso ao supremo poder por direito hereditário; naquela o chefe do Estado, que pode ser uma só pessoa ou um colégio de várias pessoas (Suiça), é eleito pelo povo, quer direta, quer indiretamente (através de assembleias representativas. Contudo, o significado do termo republica evolve e muda profundamente com o tempo (a censura ocorre na época da revolução democrática), adquirindo conotações diversas, conforme o contexto conceptual em que se insere.” (BOBBIO, 1993: 1107);

Teocracia: “Regime político em que o governo é exercido pela casta sacerdotal.” “Mas em geral, qualquer doutrina segundo a qual toda autoridade provém de Deus” 1118

 

Referências bibliográficas:

ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia. São Paulo: Martins Fontes, 2007.

BOBBIO, Norberto; MATTEUCCI, Nicola; PASQUINO, Gianfranco. Dicionário de Política. 5. ed. Brasília: Edunb, 1993.

DAHL, Robert. Poliarquia: Participação e Oposição. São Paulo: Edusp, 1991.

 

MIGUEL, Luis Felipe. Teoria Democrática Atual: Esboço de Mapeamento. Bib, São Paulo, v. , n. 59, p.5-42, set. 2006.

 

PATEMAN, Carole. Participação e teoria democrática. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1992.

 

DAGNINO, Evelina. Os movimentos sociais e a emergência de uma nova noção de cidadania. In DAGNINO, E. (ORG.), Os anos 90: Política e Sociedade no Brasil. São Paulo: Editora Brasiliense S. A., 1994.

 

DAGNINO, Evelina. Sociedade civil, participação e cidadania: de que estamos falando?. In Daniel Mato (coord), Politicas de ciudadania y sociedad civil en tiempos de globalizacion. Caracas: FACES, Universidad Central de Venezuela.

 

DAGNINO, Evelina; OLIVEIRA, Alberto J., PANFICHI, Aldo (orgs.). A disputa pela construção democrática na América Latina. São Paulo: Paz e Terra; Campinas, SP: Unicamp. 2016.

 

DUVERGER, Maurice. Ciência Política, Teoria e Método. Rio de Janeiro: Editora Zatar, 1976.

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