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Ciencia Politica

Segundo STRECK, Lenio Luis & BOLZAN DE MORAIS, José Luis (Ciência Política e Teoria Geral do Estado, Livraria do Advogado, 2003), ¿estudar o Estado e suas relações com a sociedade implica, necessariamente, estudar os mais variados aspectos que envolvem o próprio funcionamento das instituições responsáveis por essa sociedade, [sendo que] Estado, Governo, Democracia, Legitimidade, Poder são questões que, imbricadas, exigem uma disciplina para o estudo de suas complexidades ¿ é aí que entra a Ciência Política...¿. Assim, no que se refere à ¿natureza¿ da Ciência Política e às dificuldades ¿epistemológicas¿ por ela compartilhadas com outras disciplinas da mesma área de conhecimento, é CORRETO afirmar que:

 
 

Dentre as dificuldades que derivam do agir humano e que se encontram no cerne da Ciência Política, podemos destacar o caráter ideológico deste "agir humano" que faz com que as pessoas ajam e se sirvam das coisas visando o atingimento de determinados objetivos, nem sempre declarados, nem sempre conscientes. 

 

Trata-se de uma disciplina eminentemente prática, servindo tão somente para a elaboração de especulações a respeito da natureza do Estado e de suas instituições.  .

 

É uma forma de saber claramente a-histórica (ou seja, sem qualquer relação com a experiência humana no tempo) cujos métodos de investigação compreendem a experimentação e a argumentação, tal como se verifica nas ciências físicas e nas ciências biológicas.

 

Ela se constitui como uma disciplina do campo do conhecimento jurídico de perfil "normativo puro", interessando-se apenas por modelos ideais de Estado e de sociedade.

 

Este campo do conhecimento tem que lidar com o fato de que o homem é um "animal simbólico" cujas ações só podem ser conhecidas através da decodificação e da interpretação de símbolos (dentre eles a linguagem) cuja significação não é de todo conhecida, passível de uma reconstrução muitas vezes baseada em conjecturas.

💡 2 Respostas

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taina cristiany

AHAM 

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LR

RESPOSTA: a) Dentre as dificuldades que derivam do agir humano e que se encontram no cerne da Ciência Política, podemos destacar o caráter ideológico deste "agir humano" que faz com que as pessoas ajam e se sirvam das coisas visando o atingimento de determinados objetivos, nem sempre declarados, nem sempre conscientes. 

 

JUSTIFICATIVA: Primeiramente, por exclusão. Posteriormente, por definição.

I) Por exclusão:

b) Trata-se de uma disciplina eminentemente prática, servindo tão somente para a elaboração de especulações a respeito da natureza do Estado e de suas instituições: Incorreta, a ciência política possui um caráter fortemente empírico, ou seja, baseia-se na administração de provas como toda e qualquer outra ciência. Baseando-se em provas, ou seja, pautando-se do concreto é capaz de chegar a conclusões sobre a realidade. E para além disso, por vezes apresenta também um caráter fortemente normativa, entretanto em nada levianamente especulativo, tendo em vista que seu caráter empírico, se houvesse uma gradação de prioridades, viria sempre de forma anterior a normatividade da tese.

c) É uma forma de saber claramente a-histórica (ou seja, sem qualquer relação com a experiência humana no tempo cujos métodos de investigação compreendem a experimentação e a argumentação, tal como se verifica nas ciências físicas e nas ciências biológicas: Incorreta, a ciência política possui um acumulo de conhecimento enorme, e cada conhecimento é de muitas formas datados, estudar o Poder presente na sociedade [esclarecendo que o Poder é o elemento central da ciência política], é estudar o Poder presente não apenas no hoje, como na história.

d) Ela se constitui como uma disciplina do campo do conhecimento jurídico de perfil "normativo puro", interessando-se apenas por modelos ideais de Estado e de sociedade: Incorreta, há entre todas as disciplinas de humanidades um certo grau de interdisciplinaridade. O conhecimento jurídico pode compartilhar alguns objetos de estudos que também são do interesse da ciência política, entretanto o olhar do pesquisador é completamente diferente, por exemplo, a disciplina jurídica entende o Estado como um ordenamento jurídico, a ciência política entende o Estado sob o viés puramente sociológico e não sendo possível reduzir o conceito a normatividade do direito. A ciência política é em realidade uma disciplina do campo da sociologia, inclusive é sociologia política é tratada como sinônimo de ciência política.

e) Este campo do conhecimento tem que lidar com o fato de que o homem é um "animal simbólico" cujas ações só podem ser conhecidas através da decodificação e da interpretação de símbolos (dentre eles a linguagem) cuja significação não é de todo conhecida, passível de uma reconstrução muitas vezes baseada em conjecturas: Incorreto, esta descrição se relaciona muito mais com a busca de um conhecimento psique humana do que um conhecimento do social humano, ou seja, do homem em sociedade. Para além disso, a ciência política apenas pode ser considerada uma ciência pois há em seu corpo a inescapável necessidade da prova, ou seja, é uma ciência pautada na empiria e jamais em conjecturas.

II) Por definição: Das alternativas a única mais próxima do que a ciência política entende como objeto de estudos é a alternativa a) Dentre as dificuldades que derivam do agir humano e que se encontram no cerne da Ciência Política, podemos destacar o caráter ideológico deste "agir humano" que faz com que as pessoas ajam e se sirvam das coisas visando o atingimento de determinados objetivos, nem sempre declarados, nem sempre conscientes. Entretanto, cabe aqui maiores explicações para que “ideologia” não seja um termo tomado de forma equivocada. Assim, serão apresentados dois tópicos: 1) Sobre o caráter ideológico do ‘agir humano’; 2) O cerne da Ciência Política.

 

1) Sobre o caráter ideológico do ‘agir humano’:

A violência simbólica posta por Jessé de Souza em seus livro A Elite do Atraso (2017) e A tolice da inteligência brasileira (2018) – entre outros livros do autor tão importantes quanto estes citados –, tem sua raiz no que ele determina ser o pacto elitista. Há, primeiramente, a existência de um pensamento hegemônico que naturaliza certas aspectos da sociedade que só beneficiam uma parcela minoritária dela. Duverge (1976), em síntese, estaria correto quando expõe que a violência física é o último recurso de um governo (levando em conta que governo, no caso brasileiro, é sinônimo de Elite), e recurso este que expõe sua ilegitimidade, assim para governar, mais do que a violência aberta, visível, é necessário colonizar as mentes dos governados, ou seja, construir um discurso hegemônico capaz de ser um elemento de controle social. Para Jessé, este discurso hegemônico desenvolvido pela elite brasileira, trata-se da violência simbólica ao qual o povo brasileiro é submetido sem ao menos perceber, e ao não perceber, perde-se a possibilidade de se rebelar contra o status de coisa que os reprime e os relega as piores condições da miséria humana. Jessé questiona-se como é possível que o 1% mais rico da população brasileira possa ser capaz de concentrar a riqueza produzida pelo trabalho executado pelo restante (99%) da população brasileira. A resposta que o autor dá é que a todo o arcabouço de produção de conhecimento, e todas as formas de reprodução desse conhecimento, dedica-se a construção de um pensamento hegemônico cujos interesses são avessos aos interesses sociais, e cujas as origens são tão enraizadas no pensamento brasileiro, através da construção de um pensamento social que sequestrou a nossa história passada, amenizando os efeitos da violência física que herdamos do nosso passado escravista, e recolocando esta mesma violência, que impõe um novo tipo de escravidão de forma mais perversa. A elite, ao reescrever o passado do brasil segundo os próprios interesses e ao financiar a produção e a reprodução de novos conhecimentos a partir dessa história deturpada, e fazendo isso transparecer tanto na academia quanto eu todos os diversos meios de comunicação, construiu um senso comum tão desagregador socialmente que é capaz de mantê-la no poder sem que os 99% de oprimidos sejam capazes de se revoltar. Não o são pois possuir uma história de desagregação social, cuja a sociabilidade não é pautada no reconhecimento dos interesses da própria classe, e sim na reprodução dos interesses da classe que os domina e os oprime, das elites: “tamanha ‘violência simbólica’ só é possível pelo sequestro da ‘inteligência brasileira’ para o serviço não da imensa maioria da população, mas do 1% mais rico, que monopoliza a parte do leão dos bens e recursos escassos. Esse serviço que a imensa maioria presta é o que possibilita a justificação, por exemplo, de que os problemas brasileiros não vem da grotesca concentração da riqueza social em pouquíssimas mãos, mas sim da ‘corrupção apenas do Estado’.” (SOUZA, 2018: 10).

Como se verifica essa ‘violência simbólica’: “A realidade social não é visível a olho nu, o que significa que o mundo social não é transparente aos nossos olhos. Afinal, não são apenas os músculos dos olhos que nos permite ver, existem ideias dominantes, compartilhadas e repetidas por quase todos, que, na verdade, ‘selecionam’ e ‘distorcem’ o que os olhos veem, e ‘escondem’ o que não deve ser visto.” (SOUZA, 2018: 9); “É isso que faz com o que mundo social seja sistematicamente distorcido e falseado. Todos os privilégios e interesses que estão ganhando dependem do sucesso da distorção e do falseamento do mundo social para continuarem a se reproduzir indefinidamente. A reprodução de todos os privilégios injustos no tempo depende do ‘convencimento1, e não da ‘violência’. Melhor dizendo, essa reprodução dependente de uma ‘violência simbólica’, perpetrada com o consentimento mudo dos excluídos dos privilégios, e não da ‘violência física’. É por conta disso que os privilegiados são os donos dos jornais, das editoras, das universidades, das TVs e do que se decide nos tribunais e nos partidos políticos. Apenas dominando todas essas estruturas é que se pode monopolizar os recursos naturais que deveriam ser de todos, e explorar o trabalho da imensa maioria de não privilegiados sob a forma de taxa de lucro, juro, renda de terra ou aluguel.” (SOUZA, 2018: 9 – 10); “A soma dessas rendas de capital no Brasil é monopolizada em grande parte pelo 1% mais rico da população. É o trabalho dos 99% restantes que se transfere em grande medida para o bolso do 1% mais rico.” (SOUZA, 2018: 10); “tamanha ‘violência simbólica’ só é possível pelo sequestro da ‘inteligência brasileira’ para o serviço não da imensa maioria da população, mas do 1% mais rico, que monopoliza a parte do leão dos bens e recursos escassos. Esse serviço que a imensa maioria presta é o que possibilita a justificação, por exemplo, de que os problemas brasileiros não vem da grotesca concentração da riqueza social em pouquíssimas mãos, mas sim da ‘corrupção apenas do Estado’.” (SOUZA, 2018: 10).

 

2) O cerne da Ciência Política:

Por Sociologia podemos compreender ser “a ciência da sociedade, entendendo-se por sociedade o campo das relações intersubjetivas” (ABBAGNANO, 2007: 1083), usualmente referida para indicar “qualquer tipo ou espécie de análise empírica ou teórica que se refira aos fatos sociais, ou seja, às efetivas relações inter-subjetivas, em oposição às ‘filosóficas’ ou ‘metafísicas’ da sociedade, que pretendem explicar a natureza da sociedade como um todo, independentemente dos fatos e de modo definitivo” (ABBAGNANO, 2007: 1083). Ou seja, é objeto de estudo da sociologia tudo o que possa ser tomado como fato social, e por fato social entende-se ser todas as relações inter-subjetivas presentes na sociedade. Assim, mando, poder, coerção, consenso, são exemplos de termos sempre presentes, pois havendo relação social, ou seja, havendo um forma qualquer de convivência humano, há objeto a ser estudado pela sociologia. No vasto campo da análise sociológica, há um campo especificamente voltado à política, nomeado de Sociologia Política.

Se por sociologia compreendemos então o estudo dos fatos sociais, as relações sociais são consideradas assim fatos sociais. Para esclarecer, cabe expor aqui a definição feita por Durkheim de fato social. Em As regras do método sociológico (1966), Durkheim define que compete a sociologia exclusivamente o estudo do fato social, e que este fato deve ter o status de coisa, caso contrário não se trata de um fato, e assim não deve ser tomado como objeto de estudos. Ser coisa é ser um fenômeno externo e ao mesmo tempo generalizado. Generalizado porque tal fenômeno deve ter certo nível de recorrência no conjunto da sociedade. Externo porque deve ser algo afastado das consciências individuais, ou seja, algo independente das manifestações isoladas. Em um país onde o sistema de governo organiza-se em torno de eleições periódicas, as eleições, ou mesmo o sistema de governo como um todo, seria um fato social? A democracia é um fenômeno naturalizado no conjunto de uma determinada sociedade, os períodos eleitorais são momentos não apenas normais, como esperados. Caso um único indivíduo não concorde com esta forma de organização acarretará em um golpe de Estado? Em uma mudança organizativa? Segundo Durkheim, não, o indivíduo isolado não é capaz de sobrepor sua opinião a esta estrutura já dada por haver nela uma poder coercitivo, uma força imperativa, que pode ter uma origem naturalizada por meios como os costumes, a educação, a família, ou uma origem da coerção mais violenta que se manifesta pelo uso repressivo do exército ou da polícia, em cumprimento do que a justiça e seus “interpretes autorizados” determinam (DURKHEIM, 1966: 2). Por ser algo generalizado e independente da consciência individual, o exemplo dado tem status de coisa, tem a solidez necessária para ser considerado um fato social, e assim ser relevante em uma pesquisa sociológica.

Retomando assim, se por sociologia compreendemos então o estudo dos fatos sociais, e há este campo da Sociologia política, todas as possíveis relações políticas são consideradas assim fatos sociais. Quando “se inicia a reflexão sociológica sobre o poder, o Estado e o dever político” (BOBBIO, 1993: 1217), desponta-se com isso o campo específico da sociologia política. Para além de Durkheim, a sociologia política possui dois outros patronos, Marx e Weber.  Por eles, e tantos outros de menor vulto, “O poder, o Estado, o dever político, são vistos como elementos do ‘social’, quer representem uma ‘função’ na sociedade civil, quer revelem, em vez disso em forma institucional, a coercitividade como elemento da ‘luta de classes’.” (BOBBIO, 1993: 1217).

 

Referências Bibliográficas:

DURKHEIM, Émile. As regras do método sociológico. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 4ed, 1966.

ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia. São Paulo: Martins Fontes, 2007.

BOBBIO, Norberto; MATTEUCCI, Nicola; PASQUINO, Gianfranco. Dicionário de Política. 5. ed. Brasília: Edunb, 1993.

SOUZA, Jessé. A tolice da inteligência brasileira: ou como o país se deixa manipular pela elite. 2ed. Rio de Janeiro: LeYa, 2018.

SOUZA, Jessé. A elite do atraso: da escravidão à Lava Jato. Rio de Janeiro: 2017.

DUVERGER, Maurice. Ciência Política, Teoria e Método. Rio de Janeiro: Editora Zatar, 1976.

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