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comente sobre os instrumentos legais para a formulação e a gestão de políticas públicas no Brasil.

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Instrumentos legais de formulação e gestão de Políticas Públicas no Brasil, tomando as reformas da educação como exemplo:

Segundo Santos (2010) o estudo de uma politica pública exige que se analise e compare questões de contextos e disputas, de documentos oficiais e participação na formulação dos mesmos, de discursos hegemônicos e discursos silenciados, além das transversalidades que uma decisão politica setorial pode vir a ter com os depois campos. A questão da educação, por exemplo, desperta cada vez mais o interesse e a atenção do Estado e da Sociedade. Vincula-se o nível educacional do população com o nível de desenvolvimento do país, por isto a crescente preocupação política em tratar do tema, principalmente quando se torna público dados negativos como baixos índices de matricula e excesso de jovens fora da escola, índices de desempenho educacional ruim dos alunos matriculados, aumento progressivo dos índices de evasão, somando-se a crescente necessidade do mercado por mão-de-obra qualificada.

A formulação de uma política pública educacional está sujeita a diversas fontes de influencia, e seus respectivos pensamentos políticos. Sobre uma influencia externa, em sintonia com a antiga teoria [quase conspiratória] de que agentes internacionais desejam e com sucesso adentram nos países latino-americanos para implementar um projeto neoliberal nas antigas colônias, verifica-se o presença de propostas educacionais que apontam para reformas cujo foco está na “maior eficácia dos sistemas educacionais”, orientadas em maioria “por critérios estritamente econômicos, decorrentes de uma visão mercantil e mercadológica da educação que passa a ser submetida a uma lógica empresarial (...) de organização e funcionamento” (SANTOS, 2010: 837). Estas propostas têm terreno fértil no pensamento político brasileiro, principalmente durante governos que compartilham um projeto ideologicamente semelhante e não desaparecendo completamente durante governos de oposição, entretanto por serem importadas, na tentativa de implementação nacional, estão sujeitas ao grande risco de transposições incompatíveis com o contexto brasileiro.

Em contrapartida, se faz muito presente no debate público a influencia da produção acadêmica brasileira sobre educação, que se caracteriza muito por um ranço da luta contra a ditadura militar, tendo assim um caráter “militante e apaixonado” e reativo. Hoje a academia através de representantes de associações educacionais e/ou consultores, participa ativamente da formulação de políticas públicas educacionais. Deve ser considerado para este estudo que é notável nela [na academia], assim como no Estado como já discutimos, uma contemporânea permeabilidade e coexistências de pensamentos políticos antagônicos, o que reforça um resultado político também cheio de contradições e confluências perversas. Esta relação fica bastante visível nas presenças e ausências, falas e silêncios de determinados atores, em Conferencias, Fóruns e Comitês Nacionais que objetivam diagnosticar os problemas da educação e propor soluções. Na temporalidade linear das decisões a respeito das políticas públicas educacionais no Brasil, a obrigação constitucional de abrir espaço de participação da sociedade, se mostrou algo relativo por diversos motivos como por exemplo a seletividade das demandas abarcadas pela decisão final, a seletividade quanto ao convite e abertura de cadeiras nestes locais para determinados atores em detrimento de outros e o próprio aprofundamento dos processos em relação a pressa do governo por definições. Recentemente este quadro foi claramente escancarado quando o governo Temer opta por uma reforma da educação através de Medida Provisória, formulada em tempo recorde por uma quantidade mínima de atores, ao invés de dar prosseguimento a um projeto de lei já em tramitação fruto de um extenso debate entre Estado e Sociedade. Neste mesmo caso, podemos notar a disputa de valores que Dagnino (2004) teoriza, através do compartilhamento de um mesmo diagnostico de problemas em ambas propostas de reformas (Medida Provisória e Projeto de Lei) e do uso dos mesmos termos e símbolos, entretanto com significados diferentes, que geraram soluções políticas bastante diferenciadas. Nesse sentido é necessário pontuar aqui que por mais que os documentos finais uma determinada ação do Estado para resolver determinado problema tenham no papel diversas convergências de terminologias, elas não necessariamente orientam para o mesmo sentido de interpretação.

Santos (2003) aponta didaticamente para a polarização de dois projetos político-pedagógicos, sendo um portador das “propostas dos educadores críticos”, onde a  educação é tida por um viés emancipatório que visa a “construção de uma sociedade mais justa” e combatente das “assimetrias sociais”, sem descartar a preocupação  “com aspectos econômicos” mas não tratando estes aspectos forma prioritária. O foco de propostas deste tipo é direcionado para a “dimensão formativa” do educando, que o torna apto ”para uma a atuação cidadã”, e entendendo com o isso a importância de desenvolver “capacidades de resolução de problemas individuais”, que possibilita a “atuação das pessoas em diferentes esferas da vida pública” (SANTOS, 2003: 841). E o outro projeto político-pedagógico se faz portador de uma “tradição eficientista da educação, que “privilegia critérios econômicos”, e diminui a relevância de “aspectos formativos”. Este segundo projeto guarda sintonia com “organismos internacionais como o Banco Mundial ou a Organisation for Economic Co-operation and Development (OECD)”, onde o foco está em “aumentar a eficiência dos sistemas educacionais partindo de critérios econômicos e da introdução da cultura empresarial”, vendo eficiência como um princípio derivado “do mercado e da organização do trabalho” devendo ter seu desempenho avaliado “em termos de alcance de metas preestabelecidas”. Este projeto defende também que a educação deve ser tratada em uma “aliança entre o setor público, o setor privado e o terceiro setor”, tanto em termos de recursos como de “desenvolvimento dos projetos educacionais” (SANTOS, 2003: 841). A educação pela tradição eficientista é tratada por fim como um atendimento de demandas do mercado de trabalho.      É interessante notar que em ambos projetos são usados termos como “sociedade justa” e “emancipação”, entretanto com significados e objetivos completamente diferentes.

Referencias bibliográficas:

DAGNINO, E. Sociedade civil, participação e cidadania: de que estamos falando?. In Daniel Mato (coord), Politicas de ciudadania y sociedad civil en tiempos de globalizacion. Caracas: FACES, Universidad Central de Venezuela.

DAGNINO, Evelina; OLIVEIRA, Alberto J., PANFICHI, Aldo (orgs.). A disputa pela construção democrática na América Latina. São Paulo: Paz e Terra; Campinas, SP: Unicamp. 2016.

SANTOS, Lucíola Licínio. Diretrizes Curriculares Nacionais para o ensino fundamental de 9 anos e o Plano Nacional de Educação: abrindo a discussão. Educação e Sociedade, v. 31, n. 112, 2010.

COSTA, AM., VIEIRA, N. Participação e controle social em saúde. In Fundação Oswaldo Cruz. A saúde no Brasil em 2030 prospecção estratégica do sistema de saúde brasileiro organização e gestão. [online]

VEIGA, Ilma P. A. Inovações e projeto político-pedagógico: Uma relação regulatória ou Emancipatória? in Cad. Cedes, Campinas/SP, v. 23, n. 61, p. 267-283, dezembro 2003. [online]

RAMOS, Marise N. O Currículo para o Ensino Médio em suas diferentes modalidades: Concepções, Propostas e Problemas. Educação e Sociedade, v. 32, n. 116, 2011, p. 771 – 788.

 

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