Referente ao art. 1.520, CC, anterior à mudança no primeiro semestre de 2019, o consentimento da vítima, sua eventual experiência sexual anterior ou a existência de relacionamento amoroso entre o agente e a vítima, afastaria a ocorrência do crime? Explique.
Em 2005, a Lei 11.160 revogou os incisos VII e VIII do artigo 107 do Código Penal, que previam o casamento do estuprador com sua vítima como causa extintiva da punibilidade.
Porém, a Lei 11.160/2005 revogou tão somente os dispositivos do Código Penal, deixando de alterar o artigo 1.520 do Código Civil, que decorria exatamente da possibilidade de extinção de pena pelo casamento. A previsão normativa do diploma civil é ainda mais incômoda do que a admissão de que qualquer pena seja remidapelo casamento – ela trata da possibilidade de remissão de pena em caso de estupro de adolescentes, inclusive do estupro de vulnerável.
O texto civil permitia o casamento voluntário apenas por maiores de 16 anos, com apenas duas exceções: em caso de gravidez da jovem menor de 16 e em casos que o casamento servirá para extinguir a pena de um dos nubentes. Como a proposta deste artigo foi alinhar a norma civil com a norma penal, o dispositivo tinha justificativa no ordenamento jurídico até 2005, quando da revogação dos incisos VII e VIII do artigo 107 do Código Penal. Sua manutenção depois disso, no entanto, requer a reflexão dos motivos que sustentam a permissão do casamento de adolescentes com seus agressores sexuais.
O permissivo do artigo 1.520 autoriza até mesmo o casamento de crianças com seus estupradores, haja vista a ausência de imposição de idade mínima para o enquadramento na exceção. Assim, mesmo em se tratando de estupro de vulnerável, quando o consentimento é considerado impossível pela legislação, o casamento entre vítima e agressor estaria autorizado – mesmo que o consentimento não fosse exarado, por ser inadmissível.
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