Formalmente não. A prisão preventiva, conforme o disposto pelo art. 312, serve "como garantia da ordem pública, da ordem econômica, por conveniência da instrução criminal ou para assegurar a aplicação da lei penal, quando houver prova da existência do crime e indício suficiente de autoria e de perigo gerado pelo estado de liberdade do imputado".
Em suma a prisão preventiva tem o objetivo de proteger os bens jurídicos ordem pública e econômica, bem como a segurança jurídica, no caso em que a liberdade do imputado represente risco.
Contudo, a utilização indevida do instituto pode sim ferir o estado democrático de direito. A própria restrição da liberdade imposta de forma indevida, em descordo com qualquer determinação formal da legislação, em si fere o Estado Democrático de Direito que tem como bem jurídico essencial a liberdade. Mais especificamente pode representar um afastamento do viés constitucional de um processo penal acusatório (separação entre as partes, isonomia do julgador e adequação na gestão de provas) em casos como, por exemplo, usa-se a prisão preventiva para coagir uma confissão ou uma colaboração premiada.
Não. Em rápidas linhas, podemos dizer que o Estado Democrático de Direito é aquele em que regras pré-estabelecidas devem ser observadas e no qual existe um sistema de freios e contrapesos entre os poderes republicanos (Executivo, Legislativo e Judiciário), que são independentes, mas harmônicos entre si.
Nesse nosso Estado Democrático de Direito, um direito fundamental constitucionalmente previsto é o da presunção de inocência, que assegura que ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória. Trânsito em julgado significa impossibilidade de rediscussão da matéria por meio de novos recursos.
E a prisão preventiva? Como funciona?
Em tempos não tão longínquos, não havia tanto interesse público na distinção entre prisão penal (decorrente de uma condenação confirmada pela instância recursal – duplo grau de jurisdição) e prisão preventiva, já que eram poucos os casos envolvendo o cerceamento da liberdade de pessoas nacionalmente conhecidas.
A prisão preventiva, tal qual aquela cumprida em desfavor do ex-Presidente Michel Temer, está prevista no Código de Processo Penal e pode ser decretada, sem prejuízo da presunção de inocência, para garantia da ordem pública, da ordem econômica, por conveniência da instrução criminal, ou para assegurar a aplicação da lei penal, quando houver prova da existência do crime e indício suficiente de autoria.
Como ela pode ser decretada quando existentes os requisitos, ela também pode ser revogada quando esses mesmos requisitos não mais estiverem presentes. Assim, o fato de um investigado ser preso preventivamente, ser solto dias depois, responder à ação penal segregado ou, então, em liberdade, em nada se liga ao julgamento de fato: é com o julgamento que vai haver a publicação de uma sentença condenatória (que, aí sim, poderá impor uma prisão para cumprimento de pena quando confirmada pela instância revisora) ou absolutória.
Ou seja, a decretação da prisão preventiva – ou sua revogação por uma instância revisora – em nada se relaciona a eventual condenação (ou absolvição) de quem está sendo criminalmente processado.
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Código Penal e Código Processual Penal Comentado
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