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1 TRANSTORNO DEPRESSIVO Gizelle Felinto INTRODUÇÃO A depressão trata-se de uma síndrome caracterizada por sintomas afetivos, instintivos e neurovegetativos, ideativos e cognitivos, relativos à autovaloração, à volição (ter ou não ter vontade/disposição para fazer as coisas) e à psicomotricidade Humor triste e desânimo são os mais importantes Casos mais graves sintomas psicóticos Quebra da realidade nos casos graves alucinação e delírio Esses sintomas psicóticos são secundários à depressão O diagnostico é clínico! Os exames excluem outras causas Ex: Hipotireoidismo Lembrar em idosos sempre deve-se procurar causas orgânicas Pacientes apenas com episódios depressivos maiores têm transtorno depressivo maior ou depressão unipolar É importante a investigação da função tireoidiana em todos os pacientes com transtorno de humor EPIDEMIOLOGIA É o transtorno de humor mais comum, com uma prevalência de 15% Maior ocorrência nas mulheres (cerca de 2x mais) Alta incidência 10% da população geral e 15% dos pacientes hospitalizados Idade: Pico entre 20 e 50 anos média perto dos 30 anos 10% desenvolveram acima de 50 anos Aumento de incidência nos mais jovens Consequências: Doença com maior incapacidade funcional (OMS) é uma das doenças que mais afasta as pessoas do trabalho em todo o mundo ETIOLOGIA Biológica: Alterações em metabólitos e receptores dos neurotransmissores Alterações nos neurotransmissores: Noradrenalina (NA) Atividade reduzida da Serotonina (5-HT) é o neurotransmissor mais associado à depressão Atividade reduzida da Dopamina (DA) Redução dos níveis plasmáticos do GABA Desorganização do sono despertares noturnos, aumento de sono REM Maior risco com quantidade e proximidade de familiares afetados sobretudo parente de 1º grau com transtorno de humor Ambiental: Eventos estressores precoces perda parental, situações de abuso Perda de cônjuge, desemprego Psicológica: Percepções distorcidas de si, mundo e futuro EPISÓDIO DEPRESSIVO – SINTOMAS HUMOR DEPRESSIVO: Tristeza não é sinônimo de depressão! Tristeza, melancolia, choro fácil e/ou frequente Apatia (indiferença afetiva) Sentimento de “falta de sentimento” Incapacidade de sentir prazer Tédio e aborrecimento crônico Irritabilidade aumentada Angústia ou ansiedade Desespero ANEDONIA: Incapacidade de sentir prazer Paciente não sente mais prazer em realizar coisas que antes eram prazerosas AGITAÇÃO OU RETARDO PSICOMOTOR: Nem todos os pacientes apresentam retardo psicomotor Essa agitação se manifesta como uma inquietação, na maioria dos casos Ex: paciente fica andando em casa, impaciente Aumento da latência entre as perguntas e as respostas, diminuição do discurso, redução do tom de voz... FALTA DE ENERGIA OU FADIGABILIDADE: Anergia, fadiga Cansaço fácil e constante ATENÇÃO OU CONCENTRAÇÃO REDUZIDA, INDECISÃO: Dificuldade de concentração e esquecimentos Dificuldade para tomar decisões Pseudodemência depressiva: Quando o transtorno depressivo maior de apresenta como disfunção cognitiva semelhante à demência Ocorre mais frequentemente em idosos A depressão é primária e antecede as alterações cognitivas Pacientes idosos com depressão é difícil diferenciar, pois pode-se achar que o paciente está com quadro demencial devido a esses sintomas de falta de atenção e de concentração e às falhas na memória MENOS VALIA, CULPA, INUTILIDADE: Ideação negativa, pessimismo, ideias de arrependimento e culpa, ideias de abandono e autopunição Baixa autoestima e desvalia Sentimento de vergonha, autodepreciação e autoacusação Paciente se sente inútil, nada que faz dá certo, se sente um peso para a família Se sente culpado por tudo que acontece na família As vezes a culpa pode ter uma apresentação delirante: Ideias delirantes de conteúdo negativo Delírio de ruína ou miséria Alucinações com conteúdo depressivo geralmente auditivas Ou sintomas psicóticos incongruentes com o humor 2 TRANSTORNO DEPRESSIVO Gizelle Felinto PENSAMENTOS DE MORTE, SUICIDAS: Ideias de morte, desejo de desaparecer Ideação, planos ou tentativas suicidas É muito frequente, mas não é patognomônico de depressão! Esse pensamento isolado não significa dizer que o paciente é depressivo ALTERAÇÕES DE SONO: Insônia terminal ou hipersonia: Insônia terminal paciente que começa a acordar mais cedo do que o que costumava acordar (o que difere de paciente ansioso, que normalmente é uma insônia inicial) Hipersonia sonolência excessiva Sono não reparador e de baixa qualidade Paciente pode estar com insônia ou pode estar dormindo muito ALTERAÇÕES DE APETITE/PESO: Mais de 5% de ganho ou de perda de peso em um mês REGRAS PARA O DIAGNÓSTICO Pelo menos 5 sintomas, sendo um deles obrigatoriamente Humor deprimido ou anedonia, com duração mínima de 2 semanas e que apresentem prejuízos no funcionamento do indivíduo NOTA deve-se excluir sintomas maníacos ou do efeito direto de drogas e condição médica geral DSM-V: OBS: Luto pode ter duração de semanas. Mas apresenta alterações de humor mais restritas à perda e apresentação mais oscilante (ex: toda vez que lembra que a pessoa faleceu fica triste. É oscilante porque tem dias que a pessoa está bem e em outros não, pois lembra de algo da pessoa que faleceu). O luto pode virar uma depressão MAIS DETALHADO: DSM-V – CRITÉRIOS PARA EPISÓDIO DEPRESSIVO MAIOR A. Cinco (ou mais) dos seguintes sintomas estiveram presentes durante o mesmo período de duas semanas e representam uma alteração a partir do funcionamento anterior; pelo menos um dos sintomas é (1) humor deprimido ou (2) perda do interesse ou prazer. NOTA: Não incluir sintomas nitidamente devidos a uma condição médica geral ou alucinações ou delírios incongruentes com o humor 1. Humor deprimido na maior parte do dia, quase todos os dias 2. Interesse ou prazer acentuadamente diminuídos 3. Perda ou ganho significativo de peso sem estar em dieta (por ex. Mais de 5% do peso corporal em um mês), ou diminuição ou aumento do apetite 4. Insônia ou hipersonia 5. Agitação ou retardo psicomotor 6. Fadiga ou perda de energia 7. Sentimento de inutilidade ou culpa excessiva ou inadequada 8. Capacidade diminuída de pensar ou concentrar-se, ou indecisão 9. Pensamentos de morte recorrentes (não apenas medo de morrer), ideação suicida recorrente sem um plano específico, tentativa de suicídio ou plano específico para cometer suicídio B. Os sintomas causam sofrimento clinicamente significativo ou prejuízo no funcionamento social ou ocupacional ou em outras áreas importantes da vida do indivíduo C. Os sintomas não se devem aos efeitos fisiológicos diretos de uma substância (por ex. droga de abuso ou medicamento) ou de uma condição médica geral (por ex. hipotireoidismo) NOTA: Respostas a uma perda significativa (p. ex. luto, ruína financeira, perdas por um desastre natural, uma doença médica grave ou incapacidade) podem incluir os sentimentos de tristeza intensos, ruminação acerca da perda, insônia, falta de apetite e perda de peso observados no critério A, que podem se assemelhar a um episódio depressivo. Embora tais sintomas possam ser entendidos ou considerados apropriados à perda, a presença de um episódio depressivo maior, além da resposta normal a uma perda significativa, também deve ser cuidadosamente considerada. Essa decisão requer inevitavelmente o exercício do julgamento clínico baseado na história do indivíduo e nas normas culturais para a expressão de sofrimento de uma perda. D. A ocorrência do episódio depressivo maior não é mais bem explicada por: transtorno esquizoafetivo, esquizofrenia, transtorno esquizofreniforme, transtorno delirante,outro transtorno do espectro da esquizofrenia e outro transtorno psicótico especificado, ou transtorno da esquizofrenia e outro transtorno psicótico não especificado. E. Nunca houve um episódio maníaco ou um episódio hipomaníaco NO EXAME PSÍQUICO Geralmente, o paciente apresenta-se: Cansado e preocupado Com fraco contato visual Reduzido cuidado com a aparência Tendência ao choro Humor triste ou irritável Fala monossilábica, sem espontaneidade, monótona, e com longas pausas Pensamentos de cunho depressivo, hipocondríacos, menosvalia, inferioridade e culpa 3 TRANSTORNO DEPRESSIVO Gizelle Felinto Falta de energia Tendência ao isolamento Depressão menos acentuada humor oscila durante o dia, com piora matutina ou vespertina, e o paciente pode levar horas para retornar à normalidade Paciente pode apenas desejar a morte ou pensar e mesmo planejar o suicídio SUBTIPOS MELANCÓLICA OU ENDÓGENA: Anedonia Afeto pouco reativo, percebido como distante do normal Culpa excessiva Piora pela manhã Perda de apetite e peso Insônia terminal Lentificação psicomotora ATÍPICA OU REATIVA: Afeto reativo, hipersensibilidade a rejeição Sensação de exaustão Aumento de sono (hipersonia) Aumento do apetite (principalmente para doces e chocolates), hiperfagia e ganho de peso DEPRESSÃO PSICÓTICA ALUCINAÇÕES E DELÍRIOS: Trata-se de uma depressão grave, na qual ocorrem, associados aos sintomas depressivos, um ou mais sintomas psicóticos Essa diferenciação serve para que haja uma escolha certa do tratamento Encontra-se alucinações e delírios: Congruentes com humor sintomas psicóticos são de conteúdo depressivo São mais comuns Delírio de ruína ou culpa Delírio hipocondríaco Alucinações com conteúdo depressivo Poluição, morte, doenças incuráveis Exemplo vozes que mandam o paciente se matar Incongruentes com humor sintomas psicóticos não são de conteúdo negativo São menos comuns e estão associados a um pior prognóstico Delírios de perseguição, autorreferência, paranoides, de controle Nesses casos pensa-se mais em transtornos psicóticos Mas quando é associado à depressão significa um pior prognóstico Sintomas depressivos mais intensos psicomotricidade, culpa DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL CONDIÇÃO MÉDICA GERAL: Nutricionais Anemias, hipovitaminose B Endocrinológicas Hipotireoidismo, Doença de Cushing, Diabetes mellitus Infecciosas Sífilis terciária, Toxoplasmose, Influenza, AIDS Colágeno Artrite reumatoide, LES Neurológicas TCE, Parkinson, Epilepsia, AVC Neoplasias Síndromes Paraneoplásicas, Pulmão, Pâncreas MEDICAÇÃO: Anticoncepcionais orais Metildopa Corticóides Anti-inflamatórios não hormonais AINHs Intoxicação álcool, benzodiazepínicos Abstinência crack, anfetaminas CURSO E PROGNÓSTICO Tende a ser longo, com inúmeras recaídas Prognóstico tende a ser mais benigno do que o da esquizofrenia, pois os pacientes retornam à sua personalidade normal, anterior ao episódio À medida em que progridem, os pacientes tendem a ter episódios mais frequentes e de maior duração Um episódio depressivo não tratado costuma durar de 6 a 12 meses Indivíduos com transtorno depressivo maior, geralmente, não têm um transtorno da personalidade pré-mórbida O primeiro episódio depressivo ocorre antes dos 40 anos em cerca de 50% das pessoas A maioria dos episódios depressivos tratados duram cerca de 3 meses O início precoce do tratamento é um forte determinante da probabilidade de recuperação em curto prazo CARACTERÍSTICAS ASSOCIADAS A TAXAS MAIS BAIXAS DE RECUPERAÇÃO: Duração do episódio atual Características psicóticas Ansiedade proeminente Transtornos de personalidade Gravidade dos sintomas O risco de recorrência torna-se progressivamente menor ao longo do tempo a medida em que aumenta a duração da remissão Riscos maiores de recorrência em: Indivíduos cujo episódio anterior foi grave Indivíduos mais jovens Indivíduos que já apresentaram múltiplos episódios A persistência de sintomas, mesmo leves, durante a remissão, é um forte preditor de recorrência 4 TRANSTORNO DEPRESSIVO Gizelle Felinto TRATAMENTO EVOLUÇÃO SEM TRATAMENTO Duração: Leve/moderado 1 a 6 meses Grave 6 a 8 meses 25% duram mais de 1 ano Recidiva: Metade em cinco anos, 85% em quinze anos Recorrência: 2 episódios 70% de ter um terceiro 3 episódios 90% de ter outros episódios OBJETIVOS Tratar episódios Evitar recaída retorno do episódio depressivo durante a fase de continuação do tratamento Prevenir recorrência aparecimento de um novo episódio depressivo após o período de recuperação, na fase de manutenção do tratamento FASES DO TRATAMENTO ANTIDEPRESSIVO: RESPOSTA INCOMPLETA OU AUSENTE Avaliar diagnóstico ou considerar subtipo clínico Aumento de dosagem Acrescentar outro antidepressivo Potencialização com demais substâncias: Antipsicóticos atípicos Lítio Hormônio tireoidiano Estimulantes Sem resposta alguma troca de classe FASE DE MANUTENÇÃO (APÓS 9 MESES) Episódio grave ou crônico Sintomas psicóticos Sintomas residuais Comorbidades psiquiátricas Idade avançada Recorrência (3 ou mais episódios) ELETROCONVULSOTERAPIA (ECT) Indicações: Depressão refratária a várias drogas Contraindicação a antidepressivos Urgência na resposta riscos Protocolo geral: Avaliar contra-indicações (anestesia) 8 a 12 sessões iniciais Continuar com as medicações Possibilidade de continuação Riscos patologia intracraniana, anestesia Efeitos adversos comuns cefaleia e amnésia PSICOTERAPIA Indicação isolada nos casos leves/moderados é comum a associação com antidepressivos Psicodinâmica tem mais base na psicanálise Terapia Cognitivo-comportamental (TCC)