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A Psicologia Existencial


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DESCRIÇÃO
Psicologia Existencial como perspectiva e aproximação no contexto da
Psicologia e seu diálogo com diversos autores do Existencialismo; a
influência em outras áreas da Ciência Psicológica, como a Psicologia da
Personalidade, a Psicologia da Motivação e a Psicopatologia.
PROPÓSITO
Contribuir para o aprendizado e o aprofundamento do conhecimento sobre a
Psicologia Existencial como perspectiva da Psicologia, e suas influências em
diferentes áreas, como a Psicologia Clínica, da Personalidade, da Motivação
e a Psicopatologia.
PREPARAÇÃO
Use um dicionário de Filosofia para ampliar seu conhecimento na área. O
Dicionário de Filosofia Nicola Abbagnano é uma boa sugestão e está
disponível virtualmente.
OBJETIVOS
MÓDULO 1
Definir o que é Psicologia Existencial a partir de suas relações com o
Existencialismo
MÓDULO 2
Reconhecer o pensamento de Karl Jaspers e sua influência na
Psicopatologia Fenomenológica
MÓDULO 3
Reconhecer o pensamento de dois dos principais representantes da
Psicologia Existencial: Viktor Emil Frankl e Rollo May
INTRODUÇÃO
Qual é o sentido da sua vida? Você é totalmente livre ou é fruto de
determinantes sociais, psicológicos e biológicos? Como você lida com o fato
da sua finitude? Provavelmente, em algum momento da vida, toda pessoa
se depara com questões semelhantes a essas e, embora possamos dizer
que esses questionamentos estejam presentes na prática de muitos
psicólogos e abordados por diferentes correntes da Psicologia, é na
Psicologia Existencial que eles ganharam especial interesse e
aprofundamento.
Apresentaremos a você o que é a Psicologia Existencial, quais são as
influências recebidas do Existencialismo, seus principais representantes e
como ela ainda se mostra evidente na Psicologia do século XXI.
Vamos incentivá-lo, ao longo do conteúdo, a tomar uma atitude existencial:
não somente entender os conceitos apresentados, mas vivenciá-los para
que você tenha uma experiência existencial.
MÓDULO 1
 Definir o que é Psicologia Existencial a partir de suas relações com
o Existencialismo
O QUE É A PSICOLOGIA
EXISTENCIAL? “SER OU NÃO SER,
EIS A QUESTÃO”
Certamente você já escutou, ou escutará a frase acima em algum momento
de sua vida. Esse famoso dito, atribuído ao personagem Hamlet, de
Shakespeare, está carregado da preocupação sobre o existir.
 Estátua de Hamlet, Stratford-upon-Avon, Warwickshire, Inglaterra, Reino
Unido, Europa.
A Psicologia Existencial e seus diversos autores se debruçarão sobre
questões referentes ao existir da pessoa, em como essa pessoa configura a
sua vida e como ela lida com aqueles aspectos centrais da existência:
sofrimento, angústia, finitude, amor, esperança, sentido.
Pode-se perceber que as questões próprias da Psicologia Existencial, que
também podemos chamar de questões existencialistas, não se resumem a
elucubradas perguntas filosóficas, mas se encarnam no cotidiano do existir
pessoal, ou seja, podem ser percebidas no dia a dia, na vida comum de
todos.
QUESTÕES EXISTENCIALISTAS
São as perguntas que o homem pode fazer diante de sua existência:
Quem sou eu? Qual o sentido da minha vida? Como encaro a finitude
da vida?
 
Imagem: Shutterstock.com
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A Psicologia Existencial pode ser compreendida como uma aproximação a
aspectos da vida do homem desde uma perspectiva existencialista. Isso
significa que a angústia, a culpa, a esperança, a vontade, o amor serão
compreendidos desde um ponto de vista existencial.
AMOR
Pensemos, por exemplo, no amor. Uma perspectiva biológica poderia
reduzir a experiência amorosa a um complexo de descargas
hormonais e de neurotransmissores que inclusive podem gerar
dependência. Uma perspectiva da Psicologia Existencial, como a de
Viktor Emil Frankl, sobre quem estudaremos no módulo 3, afirma que o
amor é uma atitude em que uma pessoa é capaz de apreender a
totalidade de outra pessoa, ou seja, o amor vê o mais profundo do
outro ser humano.
Sendo assim, temos o primeiro ponto da construção de uma definição de
Psicologia Existencial: É uma aproximação às categorias psicológicas,
aos aspectos psicológicos da pessoa, desde uma perspectiva
existencialista.
Você sabe o que é uma perspectiva existencialista? Para ajudar na
compreensão, exploraremos o Existencialismo, visto que a Psicologia
Existencial recebe inúmeras contribuições de pensadores que se enquadram
nessa perspectiva filosófica.
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EXISTENCIALISMO OU
EXISTENCIALISMOS? EIS A NOVA
QUESTÃO
Em linhas gerais, o Existencialismo tem como marca a preocupação e a
busca por compreender a existência concreta da pessoa; ou seja, em como
o homem conduz e vive sua vida no cotidiano: suas angústias, esperanças,
seus sonhos, sofrimentos. Seu realce não é teorizar sobre a existência, mas
como se aproximar ao máximo da experiência do viver particular da
pessoa.
EXPERIÊNCIA DO VIVER
PARTICULAR DA PESSOA
Uma ótima forma de observar essa experiência do viver que o
Existencialismo quer incentivar é facilmente reconhecida no filme
Gênio Indomável , na cena (considerada por muitos a melhor do filme)
em que Sean (Robin Willians) e Will (Matt Damon) estão sentados em
um banco, frente a um lago. Naquele breve diálogo entre eles, fica
claro que o conhecimento teórico não substitui a experiência concreta
do viver.
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Foto: Shutterstock.com
Jolivet (1953) afirma que o Existencialismo surge sobretudo como uma
resposta ao Idealismo e Realismo que imperavam no pensamento filosófico
da época e que, na tentativa de explicar a pessoa, acabavam por ignorar
seu mistério; ou seja, acreditavam que era possível explicar totalmente a
pessoa.
VOCÊ ACREDITA QUE EXISTA
ALGUMA PERSPECTIVA QUE
CONSIGA EXPLICAR A PESSOA EM
SUA TOTALIDADE?
Abbagnano (1998), em seu dicionário de Filosofia, define o Existencialismo
como “um conjunto de filosofias ou correntes filosóficas cuja marca comum
não são os pressupostos e as conclusões (que são diferentes), mas o
instrumento de que se valem: a análise da existência”.
A leitura dos diversos representantes do Existencialismo permite verificar
que suas conclusões e aproximações nem sempre coincidem. Veja o
exemplo a seguir:
Jean-Paul Sartre (1905-1980)
Um dos pontos fundamentais do pensamento existencialista é a afirmativa
do filósofo Jean-Paul Sartre: “a existência precede a essência.” Com isso,
Sartre quer dizer que a nossa forma de viver, o nosso comportamento, o que
fazemos com aquilo que fizeram conosco, molda nossa essência, ou seja,
não possuímos uma natureza prévia.

Gabriel Marcel (1889-1973)
Ainda que a premissa de Sartre seja compartilhada por muitos
existencialistas, existem alguns, como Gabriel Marcel, que a questionam,
acreditando que haveria sim uma essência, mesmo que fosse uma que
permitisse ser formada pela existência; ou seja, seria parte da essência da
pessoa que a existência fosse o seu fundamento.
Mesmo que o Existencialismo, como conjunto de filosofias da existência,
tenha diferenças entre seus teóricos, um ponto relativamente comum é que
todos buscam compreender a existência do homem a partir da análise das
situações cotidianas que a permeiam e que podem ser consideradas
fundamentais na existência da pessoa. A análise da existência é, portanto, a
ferramenta utilizada para se aproximar do mistério da pessoa.
Mondin (1981) cita cinco características fundamentais do Existencialismo:
MÉTODO FENOMENOLÓGICO
Método utilizado pelo Existencialismo como forma de analisar a existência
humana, sendo caracterizado pela clarificação da experiência, conduzido
não à luz dos princípios metafísicos, mas no âmbito da própria experiência,
por intermédio da observação objetiva da realidade assim como ela se
manifesta (MONDIN, 1981).
PONTO DE PARTIDA ANTROPOLÓGICO
A origem e o norte da reflexão filosófica é o homem e sua experiência
concreta.
TENTATIVA DE INTEGRAÇÃO DAS
DIMENSÕES HUMANAS
Existe um esforço em analisar a realidade da pessoa de forma integral,
considerandoseus pensamentos (razão), sentimentos, instintos e suas
paixões.
SUBORDINAÇÃO DA ESSÊNCIA À
EXISTÊNCIA
Ainda que alguns existencialistas não manifestem apoio a tal premissa, a
maior parte deles acredita que o homem, em seu existir, constrói e configura
sua essência.
CRITÉRIOS DE CONDUTA MORAL
Tais critérios não viriam de Deus (como os dez mandamentos), nem da
natureza da pessoa, mas sim da história, por meio do existir concreto de
cada pessoa.
 RESUMINDO
Podemos afirmar que o Existencialismo engloba diferentes filosofias da
existência que têm, em comum, a análise da existência concreta como forma
de aproximação ao mistério da pessoa. Por isso, alguns autores preferirão
falar de existencialismos (diferentes filosofias), enquanto outros falarão de
Existencialismo (referindo-se ao conjunto de todas elas).
Após essa breve definição do que seja o Existencialismo, podemos
apresentar alguns expoentes desse movimento. Abordaremos um pouco do
pensamento de Soren Aabye Kierkegaard (1813-1855) e Martin Heidegger
(1889-1976), nomes importantes para a Psicologia Existencial.
PSICOLOGIA EXISTENCIAL
Você poderá conhecer outros filósofos existenciais explorando as
Referências. Aqui, optamos por aqueles mais relevantes no âmbito de
sua influência na Psicologia.
SOREN AABYE KIERKEGAARD
(1813-1855)
De acordo com Penna (1985), Kierkegaard pode ser considerado o fundador
do movimento existencialista contemporâneo. Conforme afirma Jolivet
(1953), o fracasso dos sistemas, a angústia, o valor exclusivo da
subjetividade e o drama da existência pessoal são alguns dos temas
principais do pensamento do filósofo dinamarquês.
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Foto: La Biblioteca Real de Dinamarca/ Wikimedia Commons/ Domínio
Público
 Soren Kierkegaard, Dinamarca, 1840.
Compreender o Existencialismo de Kierkegaard envolve perceber três
aspectos: a realidade existencial desse pensador, o contexto intelectual de
sua formação e a influência religiosa em sua vida. Confira abaixo os
detalhes de cada aspecto:
REALIDADE EXISTENCIAL
Pode-se dizer que sua doutrina surge de uma incansável busca pelo
autoconhecimento, uma constante reflexão sobre si e sobre sua existência.
Os temas que perpassam o pensamento de Kierkegaard são aqueles que
permearam sua existência: a verdade, a angústia, a experiência religiosa, a
finitude. O filósofo buscou uma coerência em seu existir, não somente
pensando, mas vivendo de acordo com seus pensamentos.
O homem, para Kierkegaard, é o principal problema para si, e a
Filosofia deve contribuir para que esse homem tome, pouco a pouco,
consciência profunda de sua própria existência, buscando que ela seja
autêntica e pesando as exigências advindas dessa autenticidade.
A tomada de consciência traz ao homem maior liberdade, mas não o isenta
de maior responsabilidade. Nisso tem-se a vivência da angústia, que para
Kierkegaard “é a realidade da liberdade enquanto possibilidade para a
possibilidade”.
Até aqui, do pensamento de Kierkegaard, nota-se:
A defesa de uma vida coerente, ou seja, de acordo com a verdade
concebida como sentido de vida.
A realidade da angústia que naturalmente nasce da tensão pela busca
dessa vida coerente e do exercício da liberdade.
O autoconhecimento como caminho a ser desenvolvido e explorado
pela pessoa para a sua compreensão, que ocorre quando ela existe e,
mais do que isso, quando analisa seu existir.
CONTEXTO INTELECTUAL DA ÉPOCA
Kierkegaard se apresenta como um combatente da lógica hegeliana, que
tentava explicar por meio da dialética toda a complexidade da realidade da
pessoa. Nas palavras de Jolivet (1953), “a dialética suprime o mistério”.
Kierkegaard se insurge com a tentativa de explicar a pessoa desde a rígida
lógica, defendendo que a existência sempre se sobrepõe a explicações
universais. Dessa premissa, surgiram pontos que influenciariam a
concepção de homem partilhada por psicólogos existencialistas, como a de
que cada pessoa é única e que sua vida é singular, não existindo outra
configuração igual em toda a história.
INFLUÊNCIA RELIGIOSA
A influência religiosa em Kierkegaard vem, especificamente, do luteranismo.
Jolivet (1953), ao falar da influência do cristianismo no pensamento de
Kierkegaard chega a afirmar que não é possível saber se “é Kierkegaard que
é cristão ou se é o cristianismo que é kierkegaardiano”, referindo-se a essa
adaptação íntima entre o pensamento do filósofo dinamarquês e o
cristianismo.
O aspecto do sofrimento foi apreendido por Kierkegaard, notadamente, o
tema da angústia. Para Kierkegaard, a angústia é o mais próprio da
existência humana; ela nasce do fato de que a pessoa é livre e, portanto,
passível de falha. Deparar-se com essa realidade, tomar consciência dela
leva, naturalmente, à angústia e pode conduzir ao sofrimento; este leva o
homem a ser provado e o desafia a mostrar quem é.
Sendo assim, Kierkegaard prepara o solo para o que será o Existencialismo
e influenciará psicólogos existencialistas, como Rollo May, e outros filósofos
que aderirão a premissas existenciais, como Karl Jaspers e Martin
Heidegger.
 
Foto: Willy Pragher/ Wikimedia Commons/ CC BY-SA 3.0
 Martin Heidegger, Alemanha, 1960.
MARTIN HEIDEGGER (1889-1976)
Uma boa forma de começar a falar sobre Heidegger é que para ele a vida
autêntica reside no desespero. Parece contraditório dizer que essa é uma
boa forma de começar a falar sobre Heidegger, mas o desespero é um tema
marcante do Existencialismo e aparecerá na obra de outro filósofos.
É importante contextualizar a vida de Heidegger, sobretudo considerar que o
filósofo alemão vivenciou os ápices do desespero do século XX: Primeira e
Segunda Guerras Mundiais. O historiador Max Hastings (2012) afirma que,
ao tentar se aproximar da experiência de dezenas de pessoas que
vivenciaram a Segunda Guerra Mundial, recebia a mesma explicação: “um
verdadeiro inferno”.
A principal preocupação de Heidegger é com o ser, tema de sua principal
obra Ser e Tempo , sendo que seu pensamento desenvolve uma
Ontologia. Entretanto, Heidegger defende que a melhor forma de estudar e
se aproximar do ser não é por meio da análise geral do ser, mas da
análise específica do próprio ser, do ser-aí, do Dasein. De acordo com
Jolivet (1953): “pelo exame reflexivo deste existente, poder-se-á chegar a
uma noção do sentido do ser em geral”.
ONTOLOGIA
Ontologia é definida como a ciência que se debruça sobre o ser, sobre
suas características fundamentais.
DASEIN
Do alemão: existência, ser-aí. Termo heideggeriano que significa
realidade humana, ente humano, a quem somente o ser pode abrir-se.
Mas como é ambíguo, correndo o risco de criar uma brecha para o
humanismo, Heidegger prefere usar o termo ser-aí. Na linguagem
corrente, Dasein significa existência humana, mas Heidegger procura
pensar o que separa o homem dos outros entes. Enquanto os entes
são fechados em seu universo circundante, o homem é, graças à
linguagem, aí de onde vem o ser. Assim, o Dasein é o ser do
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existente humano enquanto existência singular e concreta: “A essência
do ser-aí (Dasein ) reside em sua existência (Existenz ), isto é, no
fato de ultrapassar, de transcender, de ser originariamente ser-no-
mundo” (JAPIASSÚ; MARCONDES, 2008).
Pode-se concluir que o método principal defendido por Heidegger é a
análise da existência.
Da análise do Dasein , Heidegger retira duas conclusões:
A essência do ser, o que ele é, está determinada pela sua existência e,
com isso, retoma uma das premissas fundamentais do Existencialismo,
ou seja, “a existência precede a essência”.
Quando se fala do ser do Dasein , está se falando do ser particular do
sujeito, ou seja, é sempre o meu ser, não o ser em geral.
Imagem: Shutterstock.com
Dessas duas conclusões e dando continuidade à análise da existência,
Heidegger (1997) vai traçar as três características fundamentais do homem:
 
Imagem: Shutterstock.com
SER-NO-MUNDO
Todo homem está no mundo: aoolhar para o Dasein (ser-aí), para a
existência concreta e cotidiana do sujeito, percebo que ele se encontra em
um mundo, ou seja, ele é um ser-no-mundo, mas não está sozinho.
 
Imagem: Shutterstock.com
SER-COM-OS-OUTROS
Como o homem não está só, uma segunda característica que nasce é o ser-
com-os-outros. O homem se relaciona, tem cuidado com os outros e
quando esse cuidar contribui para o desenvolvimento do outro, significa
coexistir.
 
Imagem: Shutterstock.com
SER-PARA-A-MORTE
Esse homem que tem como características ser-no-mundo e ser-com-os-
outros se depara com um dado do qual não pode fugir sem renunciar ao seu
ser homem: a morte. Por isso, Heidegger afirmará que o terceiro existencial
do homem, o traço típico da pessoa, é o ser-para-a-morte, a possibilidade
permanente da existência.
Diante da realidade de que o ser-para-a-morte é uma possibilidade
permanente da existência, o homem se angustia. Entretanto, encarar e
vivenciar essa angústia é necessário para a vida autêntica.
PARA A EXISTÊNCIA AUTÊNTICA, O
FUTURO É UM VIVER-PARA-A-MORTE, QUE
NÃO PERMITE QUE O HOMEM SEJA
ARRASTADO NAS POSSIBILIDADES
MUNDANAS.
(ANTISERI; REALE, 2006)
Da análise da existência de Heidegger, Ludwig Binswanger, psiquiatra suíço,
desenvolverá a análise existencial ou Daseinsanálise, sendo uma das
abordagens da Psicologia Existencial.
DE VOLTA À PSICOLOGIA
EXISTENCIAL: RESOLVENDO A
QUESTÃO
Imagem: Shutterstock.com
Após iniciar a tentativa de clarificar e conceituar a Psicologia Existencial,
demos um passeio, ainda que breve, pelo Existencialismo.
Você se lembra da definição de Psicologia Existencial que nos levou a esse
passeio?
A Psicologia Existencial é uma aproximação às categorias psicológicas, aos
aspectos psicológicos da pessoa, desde uma perspectiva existencialista.
Em síntese, podemos dizer que essa perspectiva existencialista se baseia
em uma aproximação da realidade da pessoa desde a análise da existência,
buscando esclarecer quem é o homem desde a concretude do seu cotidiano.
Podemos, agora, definir outras características que contribuirão para
entender o que é a Psicologia Existencial.
PRIMEIRA CARACTERÍSTICA
Ao mesmo tempo que é aclamada pelos psicólogos existenciais como uma
virtude, é também fonte de críticas. A Psicologia Existencial dá ênfase à
subjetividade de cada pessoa como caminho para seu autoconhecimento;
entretanto, com isso, distancia-se, em parte, de um modelo científico
baseado em generalizações.
Como afirma Rollo May (1986), a Psicologia Existencial se esforça para
compreender o homem como experimentador, como aquele a quem
acontecem as experiências. Essa ênfase, em certo ponto, lançará mais luz
sobre a experiência particular do que a busca por generalizações, próprio do
modelo científico moderno, o que gera críticas em relação à falta de
cientificidade da Psicologia Existencial.
Essas críticas, por exemplo, pontuam que a Psicologia Existencial não
apresenta técnicas de intervenção psicoterapêutica. Entretanto, conforme
pontua Rollo May (1986), “não é um conjunto de técnicas por si mesmas,
mas é um interesse pela compreensão da estrutura do ser humano e sua
experiência que deve sustentar todas as técnicas.”
SEGUNDA CARACTERÍSTICA
Surge da premissa de que a existência precede a essência, o que na
Psicologia Existencial ocasiona a aproximação de que a pessoa é um
ser em desenvolvimento e evolução, um ser que pouco a pouco vai se
autoconfigurando.
Em termos psicoterapêuticos, essa premissa se manifestará por uma
resistência em acreditar que fatos de nossa vida, por exemplo, relações
infantis negativas, determinarão nosso comportamento futuro. Para a
Psicologia Existencial, sempre haverá espaço para a mudança.
TERCEIRA CARACTERÍSTICA
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É o diálogo com a Filosofia. Nesse sentido, Frankl (2011) afirma que toda
psicoterapia tem implicações metaclínicas e tais implicações são a visão de
mundo (filosofia de vida/cosmovisão) e visão de pessoa (visão de homem)
que estão, na maioria das vezes, implícitas nas teorias psicológicas.
A Psicologia Existencial, com base no Existencialismo, apresenta um
fundamento filosófico para suas premissas psicológicas sobre o
comportamento e funcionamento humano, bem como utiliza não somente o
método científico, marcado pela experimentação e relação causal, para
compreender a realidade da pessoa, mas também o método
fenomenológico.
QUARTA CARACTERÍSTICA
É a abertura para abordar temas como vontade e decisão, angústia, culpa,
finitude, transcendência, bem como as potencialidades da pessoa, a
vivência do amor e a criatividade que, não necessariamente, eram
abordados de forma profunda por outras linhas da Psicologia da época.
QUINTA CARACTERÍSTICA
Uma quinta característica se manifestará em um afastamento das categorias
diagnósticas como as do DSM-V (2014) e CID-10 (1994). Muitos psicólogos
existencialistas acreditam que as categorias diagnósticas acabam por
engessar e dificultar a compreensão da pessoa. Além disso, atrapalham a
atitude fenomenológica, em que preconceitos e ideias anteriores devem ser
suspensos para se aproximar ao máximo do fenômeno estudado.
MUDANÇA
Existem técnicas em Psicologia Existencial, como o diálogo Socrático,
a Intenção Paradoxal e a Derreflexão (essas últimas duas específicas
da Logoterapia). Ainda que a Psicologia Existencial defenda essa
característica da pessoa quanto à autoconfiguração, ela não nega a
existência de condicionamentos. Essa assertiva pode ser vista em
escritos de Viktor Frankl quando ele pontua que a pessoa pode não ser
“livre de que”, mas livre “para que”, ou seja, livre para fazer algo com
aquilo que fizeram com ela.
Após todas essas características, conseguimos chegar a uma conclusão do
que seja a Psicologia Existencial?
 
Imagem: Shutterstock.com
À nossa definição inicial, somamos mais algumas características que
permitem compreender que a Psicologia Existencial, mais do que um
sistematizado corpo de técnicas e princípios, é, na realidade, a proclamação
de uma nova atitude e aproximação da pessoa no contexto da Psicologia,
influenciando diversas áreas como Psicologia Clínica, Psicologia da
Personalidade, Psicologia da Motivação.
Em síntese, a Psicologia Existencial é uma forma de ver o mundo, de ver o
outro e de viver:
A PSICOLOGIA EXISTENCIAL, CONTUDO,
NÃO É UMA ESCOLA ESPECIAL – ISSO É
IMPORTANTE. O EXISTENCIALISMO É UMA
ATITUDE, UMA ABORDAGEM DOS SERES
HUMANOS, NÃO UMA ESCOLA OU UM
GRUPO ESPECIAL.
(MAY, 1986)
EXISTENCIALISMO E PSICOLOGIA
EXISTENCIAL
Vamos aprofundar um pouco mais essa relação entre a Filosofia
Existencialista e a Psicologia Existencial.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
1. EMBORA ALGUNS AUTORES COMO JOLIVET (1953)
DEFENDAM QUE SE PODE FALAR DE EXISTENCIALISMOS
EM VEZ DE EXISTENCIALISMO, EXISTE UM ESFORÇO EM
PONTUAR ELEMENTOS QUE SE MOSTRAM COMUNS À
MAIORIA DAS DOUTRINAS EXISTENCIAIS. UM DESSES
ELEMENTOS É:
A) A aproximação ateísta de todos os existencialistas.
B) A premissa de que o homem é determinado.
C) A defesa da lógica e da dialética como meio de compreender a pessoa.
D) A utilização da análise da existência como caminho para aproximação da
pessoa.
E) A afirmação de que a essência precede a existência.
2. ROLLO MAY (1986) AFIRMA QUE: “NÃO É UM
CONJUNTO DE TÉCNICAS POR SI MESMAS, MAS É UM
INTERESSE PELA COMPREENSÃO DA ESTRUTURA DO
SER HUMANO E SUA EXPERIÊNCIA QUE DEVE
SUSTENTAR TODAS AS TÉCNICAS”. ESSA AFIRMAÇÃO
ENCERRA QUAL CARACTERÍSTICA DA PSICOLOGIA
EXISTENCIAL?
A) A importância da Filosofia e da Antropologia Filosófica para compreensão
do homem.
B) A abertura para abordar temas como vontade, decisão, liberdade, morte,
de forma mais profunda.
C) Uma exaltação da Ciência como método principal para compreensão da
realidade da pessoa.
D) A ênfase na subjetividade de cada pessoa e a defesa da análise da
existência como meio adequado de aproximação à realidade do homem.
E) A Psicologia Existencial realiza um rico diálogo com a Filosofia e aAntropologia Filosófica; a partir do conhecimento profundo da pessoa, pode
estabelecer técnicas de intervenção, como ocorre na Logoterapia de Viktor
Frankl.
GABARITO
1. Embora alguns autores como Jolivet (1953) defendam que se pode
falar de existencialismos em vez de Existencialismo, existe um esforço
em pontuar elementos que se mostram comuns à maioria das
doutrinas existenciais. Um desses elementos é:
A alternativa "D " está correta.
 
A utilização da análise da existência como meio de aproximação a
concretude da vida do homem é abordada pela maioria dos existencialistas,
sendo um ponto em comum na maioria deles.
2. Rollo May (1986) afirma que: “não é um conjunto de técnicas por si
mesmas, mas é um interesse pela compreensão da estrutura do ser
humano e sua experiência que deve sustentar todas as técnicas”. Essa
afirmação encerra qual característica da Psicologia Existencial?
A alternativa "A " está correta.
 
A Psicologia Existencial realiza um rico diálogo com a Filosofia e a
Antropologia Filosófica; a partir do conhecimento profundo da pessoa, pode
estabelecer técnicas de intervenção, como ocorre na Logoterapia de Viktor
Frankl.
MÓDULO 2
 Reconhecer o pensamento de Karl Jaspers e sua influência na
Psicopatologia Fenomenológica
ABORDAGEM EM
PSICOPATOLOGIA
Imagine que você vá a um psiquiatra. Após entrar no consultório, o médico
pergunta o motivo de tê-lo procurado. Você relata que no último mês vêm
experimentando dificuldade para dormir, falta de apetite, tristeza,
irritabilidade, pouca motivação para realização de atividades para as quais
anteriormente você tinha disposição, o que o leva ao isolamento.
O psiquiatra pega um livro escrito DSM-V (2014) e, após folheá-lo, aponta
para uma página em que está escrito Episódio Depressivo Maior; entrega-
lhe uma receita de medicamentos e pede para você voltar em um mês.
Esse pequeno exercício imaginativo representa uma abordagem em
Psicopatologia. Essa abordagem está ancorada no modelo médico, em que
a preocupação está no conjunto de sintomas da pessoa e sua consequente
medicalização.
Antes de continuar, gostaríamos de saber:
O QUE VOCÊ ACHA DESSA
ABORDAGEM?
Neste módulo, apresentaremos um importante nome da Psicopatologia e
outra forma de aproximação desenvolvida por Karl Jaspers, que sofreu
grande influência de precursores do Existencialismo, como Nietzsche e
Kierkegaard.
KARL JASPERS E A
PSICOPATOLOGIA
FENOMENOLÓGICA
Imagem: Shutterstock.com
Inicialmente, acreditamos ser importante pontuar que não existe uma única
abordagem em Psicopatologia. Desde uma explicação etimológica,
Psicopatologia significa o estudo das doenças da alma, sendo geralmente
compreendida como o estudo das doenças mentais, suas causas, sintomas
e tratamentos.
Dalgalarrondo (2018) define a Psicopatologia como “um conjunto de
conhecimentos referentes ao adoecimento mental do ser humano. É um
conhecimento que se esforça por ser sistemático, elucidativo e
desmistificante”.
 SAIBA MAIS
Existem diferentes abordagens dentro da Psicopatologia: descritiva,
dinâmica, médico-naturalista, psicanalítica, cognitivo-comportamental, entre
outras.
Podemos dizer que a proposta de Psicopatologia defendida por Karl Jaspers
é de uma Psicopatologia existencialista, em que a pessoa é vista de forma
única e singular.
Jaspers (1987), que junto com Heidegger pode ser considerado um dos
principais nomes do Existencialismo alemão, em sua importante obra
Psicopatologia Geral , demarca a diferenciação da Psicopatologia em
relação à Psiquiatria, colocando-a como campo específico do conhecimento,
defendendo que a preocupação da Psicopatologia deve ser a pessoa como
um todo, completando que jamais se pode reduzir a pessoa a conceitos
psicopatológicos.
 
Foto: Desconhecido (Editores Mondadori)/ Wikimedia Commons/Domínio
Público
 Karl Jaspers, Itália, 1946
QUANTO MAIS CONCEITUALIZA, QUANTO
MAIS RECONHECE E CARACTERIZA O
TÍPICO, E QUE SE ACHA DE ACORDO COM
OS PRINCÍPIOS, TANTO MAIS RECONHECE
QUE, EM TODO INDIVÍDUO, OCULTA-SE
ALGO QUE ELE NÃO PODE CONHECER.
COMO PSICOPATOLOGISTA, BASTA SABER
DA RIQUEZA INFINITA DE TODO INDIVÍDUO,
QUE NUNCA PODERÁ ESGOTAR;
INDEPENDENTEMENTE DISSO, PODERÁ,
COMO HOMEM, VER MAIS, OU QUANDO
OUTROS VEEM ESSE “MAIS”, QUE É ALGO
INCOMPARÁVEL, NÃO DEVE IMISCUIR-SE
COM PSICOPATOLOGIA. SOBRETUDO
AVALIAÇÕES ÉTICAS, ESTÉTICAS,
METAFÍSICAS SÃO DE TODO
INDEPENDENTES DE AVALIAÇÕES E
CLASSIFICAÇÕES PSICOPATOLÓGICAS.
(JASPERS, 1987)
Essa importante passagem no início da obra já citada de Karl Jaspers abre
espaço para discussão de dois pontos muito atuais:
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O cuidado com a rotulação e patologização da pessoa, ou seja, a pessoa é o
seu transtorno.
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A consideração da necessidade do conhecimento de outras áreas para
melhor se aproximar da realidade da pessoa.
Vejamos os detalhes de cada um a seguir.
Certamente você já deve ter escutado alguém dizer: sou depressivo, sou
ansioso, sou bipolar, ou ser descrito dessa forma. Essa tendência atual
dialoga com um modelo psicopatológico que deixou de levar em
consideração a realidade pessoal que está para além do transtorno.
 
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Essa atitude, além de ser uma evidência do esquecimento da realidade
pessoal, favorece a estigmatização, o preconceito e a consequente
marginalização de todos aqueles que, porventura, venham a sofrer com um
transtorno mental crônico ou pontual.
Jaspers também vivenciava essa realidade em seu tempo, em que o
preconceito com os doentes mentais levava a contínuas intervenções
discriminatórias, contribuindo para que muitos vivessem à margem da
sociedade. O modelo de Psicopatologia defendido por Jaspers recoloca a
pessoa e seu mistério em primeiro lugar, sendo necessário perceber essa
realidade para melhor compreender a doença e o transtorno que afeta
aquela realidade pessoal.
Essa aproximação despatologizante também permite considerar toda a
gama de elementos positivos que cada pessoa encerra e que concretamente
podem ser vistos em intervenções como a de Nise da Silveira, ou seja,
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olhar para além da doença é olhar para todas aquelas capacidades de
transcendência (criatividade, amor, servir) que a pessoa possui.
NISE DA SILVEIRA
Nise da Silveira (1905-1999) foi singular na Psiquiatria brasileira.
Pequenina e frágil, era uma gigante em força e coragem com que
defendeu e lutou por suas ideias no âmbito da Psiquiatria institucional.
Ela foi pioneira na terapia ocupacional, introduzindo esse método no
Centro Psiquiátrico Pedro II do Rio de Janeiro e, segundo suas
próprias palavras, entrara na Psiquiatria “pela via de atalho da
ocupação terapêutica, método então considerado pouco importante
para os padrões oficiais" (CÂMARA, 2002).
O segundo ponto diz respeito à compreensão de que o homem sempre
transcende as disciplinas e ciências e, por isso mesmo, compreendê-lo
envolve levar em consideração outras disciplinas. Ética, Filosofia,
Antropologia, Neurociências, Sociologia, História são todo um conjunto de
áreas que se juntam para ajudar a se aproximar do mistério humano.
Para melhor apreender a realidade da pessoa, Jaspers, que era médico de
formação, defende a utilização de um método filosófico: a Fenomenologia.
Jaspers reconhece que embora a Psicopatologia esteja muito ligada à
medicina somática, não deve prescindir dos “métodos que se adquirem no
ensino filosófico” (JASPERS, 1987).
Jaspers apresenta-se como um filósofo integrador, ou seja, busca unir o
conhecimento das ciências naturais e o da Filosofia na aventura por
compreender o homem.
Muitos são os que tentaram dar uma definição de Fenomenologia; aqui
apresentaremos uma simples, que dialoga com a proposta de Jaspers: a
Fenomenologia é um método, uma atitude de pensamento, uma
tentativa de apreender fenômenos de forma objetiva.
Voltando ao nosso exemplo inicial, a atitude fenomenológica não será
resumida a categorizar os sintomas e dar um rótuloà pessoa. Como discorre
Jaspers (2005), a análise fenomenológica será colocada em prática de três
modos:
 
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Pela imersão em gestos, comportamentos, expressões do paciente.
 
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Pelo questionamento ao paciente sobre as vivências subjetivas dele.
 
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Em autodescrições escritas.
Jaspers (2005) afirma que os fenômenos psicopatológicos necessitam de
uma aproximação fenomenológica que se debruçará mais na busca por bem
ver e descrever o que está ocorrendo em detrimento do estabelecimento de
relações causais, ou seja, mais ver do que explicar.
 RESUMINDO
A Psicopatologia Fenomenológica, portanto, busca na descrição dos
fenômenos, por meio da Fenomenologia, melhor compreender a vivência
daquela pessoa única e singular. Não estamos falando mais do depressivo e
sim do “Carlos” que está acometido por uma depressão, que possui uma
história singular, um contexto particular, e naquele momento passa por uma
situação de adoecimento mental.
É interessante perceber que as formas pelas quais a análise fenomenológica
é colocada em prática se expressam não somente nas psicoterapias de
base existencial – que têm, por exemplo, como técnica muito difundida o
diálogo socrático, uma forma de pouco a pouco aprofundar em
questionamentos sobre a vivência profunda do paciente –, mas também em
técnicas cognitivas muito utilizadas na Terapia Cognitivo-Comportamental,
como o registro de pensamentos automáticos, que consiste em estimular
que a pessoa realize autodescrições sobre pensamentos que a incomodam.
JASPERS (2005) RECONHECE O
DESAFIO QUE A FENOMENOLOGIA
ENCONTRA, NOTADAMENTE, QUANTO
À QUESTÃO DA PASSAGEM DA
EXPERIÊNCIA INDIVIDUAL PARA A
GENERALIZAÇÃO.
LEIA AQUI
"Sempre será custoso definir como se pode passar do caso individual para
um entendimento mais geral e uma delimitação mais completa. Deve-se ter
em mente que as experiências de pacientes individuais são infinitamente
variadas, e que a fenomenologia extrai delas algumas características gerais
que podem ser igualmente achadas em outros casos e, portanto, podem ser
tomadas pela mesma característica, enquanto a infinidade de experiências
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individuais continua mudando. Sustentamos, assim, que por um lado a
fenomenologia efetua abstrações a partir de uma infinidade de elementos
em contínua mudança, e de outro lado é definitivamente orientada ao
perceptível e ao concreto, não ao abstrato." (JASPERS, 2005)
A abordagem fenomenológica, portanto, não estará voltada para a criação
de categorias diagnósticas, mas para um contínuo aprofundar na
experiência particular da pessoa acometida por determinada patologia,
sendo possível, dessas experiências, abstrair aspectos mais gerais, um
movimento semelhante ao de Martin Heidegger ao tentar abstrair conclusões
sobre o ser, a partir do Dasein .
A atitude fenomenológica demanda se livrar de preconcepções, ou seja, é
uma tentativa de aproximação do fenômeno suspendendo todo o
conhecimento anterior sobre ele, para assim se debruçar totalmente sobre
esse fenômeno sem preconceitos que possam impedir sua captação.
Até aqui, podemos ver algumas contribuições de Karl Jaspers para o campo
da Psicopatologia:
 
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Uma abordagem para além do transtorno, considerando a realidade da
pessoa.
 
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O reconhecimento de que a compreensão da realidade da pessoa vai para
além do conhecimento possível da Psicopatologia.
 
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A utilização do método fenomenológico para o aprofundamento das
questões psicológicas.
Além disso, três termos são importantes para Jaspers: situação, existência
e transcendência.
Ao se referir a situação (ou ser-em-situação), quer destacar o que
considerou como aquilo que é a base para a existência. Ou seja: é a
realidade humana espaço-temporal; sua limitação cotidiana, física e
psíquica. Mas não caracteriza o ser verdadeiramente é. Daí a importância de
extrapolar essa condição, rumo à existência.
No que diz respeito à situação, Jaspers também terá a preocupação em se
debruçar sobre a verdadeira realidade do ser, como Heidegger, mas para
além disso, entende a comunicação como uma das principais características
da existência.
O ato de comunicar, aqui não reduzido ao falar, significa a possibilidade de o
homem ir além de si mesmo, chegando à transcendência, que é própria da
realidade humana, da situação concreta do homem de estar no mundo.
Essa transcendência também ocorre no encontro de uma pessoa com a
outra, do médico com o paciente. De certo modo, Jaspers lança as bases do
que, mais tarde, será explorado por Binswanger em seu modelo de
Psicopatologia Fenomenológica, em que o psiquiatra suíço realça a
importância do encontro terapêutico no processo de desvelar do outro e na
compreensão da Psicopatologia presente (MOREIRA, 2011).
A Psicopatologia Fenomenológica, influenciada por Jaspers e desenvolvida
por Binswanger, entende que o encontro entre o psiquiatra e o paciente é a
possibilidade de que a presença do sadio possa modificar a realidade do
doente. Binswanger (2019) defende que a possibilidade da psicoterapia
ocorre somente devido a “um traço fundamental da estrutura do ser humano
como ser-no-mundo (Heidegger) em geral, justamente o ser-um-com-o-outro
e o ser-um-para-o-outro”.
 
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O homem que está inserido em um mundo é dotado de consciência. Para
Jaspers (1987), abordar a consciência é abordar a experiência real de
determinado acontecimento por parte da pessoa, bem como a
autoconsciência e a reflexão sobre si mesmo, retomando aqui pressupostos
existencialistas lançados por Kierkegaard, notadamente a importância da
autoconsciência, alcançada por meio da análise da existência.
 RESUMINDO
Em síntese, Karl Jaspers têm grande importância no campo da
Psicopatologia, primeiramente por separar essa disciplina da Psiquiatria,
considerando-a como uma base importante para a Psiquiatria e a Psicologia;
por sublinhar a possibilidade e utilidade do método fenomenológico para
compreensão dos fenômenos mentais; e, em terceiro lugar, por contribuir
para a integração dos aspectos próprios do Existencialismo com a ciência
médica, favorecendo o diálogo frutífero entre esses dois campos do
conhecimento na busca por compreender a pessoa.
UM OLHAR DESPATOLOGIZANTE
SOBRE O INDIVÍDUO
Vamos conhecer um pouco mais das contribuições de K. Jaspers para a
Psicologia.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
1. SEGUNDO JASPERS, A ANÁLISE FENOMENOLÓGICA É
COLOCADA EM PRÁTICA DE TRÊS FORMAS. UMA
DESSAS FORMAS É:
A) A escuta livre do paciente.
B) A busca pela identificação de categorias diagnósticas.
C) O questionamento do paciente por meio de escalas objetivas.
D) A imersão em gestos, comportamentos e expressões do paciente.
E) A busca pelo histórico do paciente.
2. ENTRE AS CONTRIBUIÇÕES DE KARL JASPERS PARA
O CAMPO DA PSICOPATOLOGIA, A ALTERNATIVA QUE
ABORDA ADEQUADAMENTE TAIS PONTOS É:
A) O foco no transtorno mental e a tentativa de generalização do
conhecimento sobre as doenças mentais somente pelo método das ciências
naturais.
B) A afirmação de que a ciência psicopatológica era suficiente para
compreensão da condição humana e a utilização do método
fenomenológico.
C) Uma abordagem para além dos transtornos mentais, buscando
considerar a pessoa em sua totalidade e a abertura para diferentes áreas do
conhecimento na busca por compreender a pessoa.
D) Uma abordagem para além dos transtornos mentais, buscando
considerar a pessoa em sua totalidade e a crítica a filosofia como fonte de
conhecimento sobre a pessoa.
E) A exaltação do método científico como fonte de conhecimento sobre as
patologias mentais e a defesa da Psicopatologia como integrante da
Psiquiatria, não havendo diferenças entre elas.
GABARITO
1. Segundo Jaspers, a análise fenomenológica é colocada em prática
de três formas. Uma dessas formas é:
A alternativa "D " está correta.
 
Aimersão em aspectos do paciente se aproximada da atitude
fenomenológica de buscar ao máximo se aprofundar do fenômeno estudado,
cuidando para os preconceitos, adotando uma atitude de abertura a
realidade do outro.
2. Entre as contribuições de Karl Jaspers para o campo da
Psicopatologia, a alternativa que aborda adequadamente tais pontos é:
A alternativa "C " está correta.
 
Somente a alternativa C reúne os dois pontos que foram realçados no texto,
bem como fazem parte das contribuições de Karl Jaspers para a
Psicopatologia; ou seja, a compreensão da pessoa para além do transtorno
mental e a defesa da contribuição de diferentes áreas do conhecimento na
busca por melhor entender o mistério humano.
MÓDULO 3
 Reconhecer o pensamento de dois dos principais representantes da
Psicologia Existencial: Viktor Emil Frankl e Rollo May
EXPOENTES DA PSICOLOGIA
EXISTENCIAL
No módulo anterior, abordamos um pouco dos conceitos e das formulações
de Karl Jaspers e sua influência na Psicopatologia Fenomenológica. Agora,
abordaremos alguns expoentes da Psicologia Existencial, dando ênfase a
dois nomes.
 
Foto: Prof. Dr. Franz Vesely/ Wikimedia Commons/ CC BY-SA 3.0
Viktor Emil Frankl, expoente europeu da Psicologia Existencial e fundador da
Logoterapia, também conhecida como Terceira Escola Vienense de
Psicoterapia;
 Viktor Frankl, Alemanha, 1965.
 
Foto: Desconhecido/ Wikimedia Commons/ Domínio Público
Rollo May, representante norte-americano da Psicologia Existencial.
 Rollo May, Universidade de San Diego, 1977.
O objetivo é que você consiga compreender os principais conceitos dos dois
autores, tenha referências de seus principais livros, bem como vislumbre na
sua vida cotidiana elementos abordados pelas teorias.
VIKTOR EMIL FRANKL (1905-1997)
E A LOGOTERAPIA
Se uma corrente de psicoterapia tem grande influência dos aspectos
particulares da vida de seu autor, no caso da Logoterapia poderíamos
afirmar que a teoria teve na vida de Frankl uma forma de comprovação,
sendo que suas principais hipóteses e premissas foram experimentadas na
sofrível experiência do psiquiatra vienense em campos de concentração
durante a Segunda Guerra Mundial.
Foto: Shutterstock.com
Nesse sentido, Xausa (2013) esclarece que “a Logoterapia não pode nem
poderá ser entendida na sua amplitude, sem o conhecimento da vida de seu
autor”.
Viktor Emil Frankl nasceu em março de 1905 em Viena, tendo ao longo de
sua formação trocado cartas com Sigmund Freud e sido discípulo de Alfred
Adler, dois grandes nomes da nascente psicologia clínica e respectivamente
fundadores da Psicanálise e Psicologia Individual.
 
Foto: Chmouel/ Wikimedia Commons/ CC BY-SA 3.0
 Visão do campo de concentração de Auschwitz no inverno, onde Viktor
Frankl foi aprisionado pelos nazistas
Sendo judeu, Frankl (2010) sofreu a perseguição alemã, tendo sido levado
para campos de concentração acompanhado de esposa, mãe e pai. Foi o
único a sobreviver às barbáries do holocausto após quase três anos, com
passagem por três campos de concentração. Frankl, que já vinha
desenvolvendo a Logoterapia desde 1926, teve na experiência dos campos
seu experimentum crucis , ou seja, pôde experimentar na concretude da
existência a importância do sentido para a vida.
Dentre um vasto número de obras, seu livro Em Busca de Sentido: Um
Psicólogo no Campo de Concentração apresenta-se como uma das mais
importantes, considerado pela Biblioteca do Congresso Americano um dos
dez livros que influenciaram significativamente a humanidade.
Frankl, além de ser neurologista e psiquiatra, em sua formação teve contato
com diversos filósofos, como o existencialista Martin Heidegger e o
fenomenólogo Max Scheler. A Logoterapia apresenta uma rica contribuição
de diferentes nomes, como bases para a formulação teórica, e como
opositores às ideias que se estavam formulando.
A Logoterapia é comumente conhecida como a psicologia do sentido da
vida, ou mesmo como a psicoterapia do sentido da vida. Frankl (2011)
chegou a utilizar o termo análise existencial para se referir à sua construção
teórica; entretanto, ao perceber que Ludwig Binswanger (2019) utilizava
esse termo para se referir à Daseinsanálise, decidiu optar pela utilização
principal do termo Logoterapia.
Logoterapia tem como uma das raízes etimológicas a palavra logos , que
para Frankl significa sentido. Por isso, Frankl (2011, 2020), afirma que a
principal motivação humana é a busca por um sentido para sua existência, o
que ele chama de vontade de sentido. Entretanto, este é apenas um dos
pilares da Logoterapia. Vamos nos aprofundar neles agora: liberdade da
vontade, vontade de sentido e o sentido de vida.
LIBERDADE DA VONTADE
Reflita e responda:
VOCÊ É LIVRE? OU MELHOR: VOCÊ
ACREDITA QUE É LIVRE?
Imagem: Shutterstock.com
Afirmar que a pessoa tem sua vontade livre é algo complexo. Nessa
afirmação, vê-se dois conceitos de ampla repercussão filosófica: liberdade e
vontade, sendo que existem diferentes aproximações teóricas para eles.
Como já vimos, esses dois termos são muito queridos pelos existencialistas
e muitas filosofias da existência abordam, de alguma forma, essa realidade
da pessoa.
Frankl (2014) reconhece a dificuldade da Ciência em compreender a
liberdade humana, mas defende que o homem não é somente científico e,
com isso, aventura-se a promover o princípio de que a pessoa é livre.
Ao falar da liberdade da vontade Frankl (2011) estabelece um diálogo com a
questão do determinismo versus o pandeterminismo. Nesse sentido, a
Logoterapia não defende uma liberdade irrestrita. Essa defesa, certamente,
seria ingênua visto que um breve olhar pelas diversas ciências como a
Biologia, a Genética, a Neurologia, a Sociologia, entre outras, permite a
conclusão de que existem condicionantes, ou situações que influenciam o
pensar, o sentir e o agir.
A Logoterapia afirma que a pessoa é livre apesar de seus
condicionamentos, podendo tomar atitudes para além deles. Por isso, a
posição da Logoterapia é contra o pandeterminismo, ou seja, contra a
afirmação de que somos totalmente determinados pelos aspectos biológicos,
psicológicos ou sociológicos. As palavras de Frankl são importantes nesse
contexto do determinismo versus pandeterminismo:
AFINAL, A LIBERDADE DA VONTADE
SIGNIFICA A LIBERDADE DA VONTADE
HUMANA E ESTA É A VONTADE DE UM SER
FINITO. O HOMEM NÃO É LIVRE DE SUAS
CONTINGÊNCIAS, MAS, SIM, LIVRE PARA
TOMAR UMA ATITUDE DIANTE DE
QUAISQUER QUE SEJAM AS CONDIÇÕES
QUE SEJAM APRESENTADAS A ELE.
(FRANKL, 2011)
À liberdade da vontade, podemos relacionar outro conceito que integra a
visão de pessoa para Frankl (2014). Esse seria a responsabilidade, ou seja,
para a Logoterapia, a pessoa é livre e responsável.
Para a Logoterapia, o homem é livre para se autodeterminar, para se decidir,
para se autoconfigurar, como bem dizem os filósofos existencialistas;
entretanto, por isso mesmo, em última instância, é responsável por aquilo
que se torna a cada dia.
Ser homem é sempre ser responsável. Essa responsabilidade acontece
diante da consciência, materializando-se na atitude diária, quando o homem
é questionado pela vida sobre qual atitude deve ter e as consequências que
assumirá a partir delas. Essa característica torna a existência humana ao
mesmo tempo grandiosa e marcada por certo temor, ainda que tal temor
possa ser visto pelo lado positivo do assombro diante da magnitude do
existir.
VONTADE DE SENTIDO
O segundo pilar da Logoterapia se relaciona especificamente com as teorias
da motivação humana: é a vontade de sentido.
Tanto a teoria psicanalítica quanto a psicologia individual, cujos dois grandes
nomes são Freud e Adler, tecem considerações sobre a motivação humana.
Frankl (2011) afirma que, para a Psicanálise, a vontade de prazer é o
motivador principal e que, para a Psicologia Individual, a vontade de poder é
o motivador principal.
PARA A LOGOTERAPIA, O HOMEM
MOVE-SE PARA ALÉM DO PRAZER E
DO PODER, ELE MOVE-SE PARA O
SENTIDO.Frankl (2011) entende o prazer como uma das consequências da realização
do sentido, sendo que a fixação no prazer como busca principal constituiria
um equívoco e poderia ser o caso de uma neurose. De modo semelhante,
Frankl entende o poder como uma forma de tentativa de se alcançar o
sentido e não como o objetivo em si, ou seja, ter certo poder pode auxiliar o
alcance do sentido, mas não é o sentido em si.
Na Logoterapia, o homem é visto como um ser que aponta para algo diverso
dele mesmo, sendo que o prazer e a felicidade não são sua meta principal e
sim epifenômenos, ou seja, consequências da realização de um sentido na
vida.
Esse homem que é chamado para ir além de si mesmo na busca pelo
sentido é dotado de dois dinamismos: a autotranscendência e o
autodistanciamento.
AUTOTRANSCENDÊNCIA
AUTODISTANCIAMENTO
AUTOTRANSCENDÊNCIA
Frankl (2011) quer significar essa capacidade do homem de ir além de si
mesmo, seja para a realização de uma obra (um trabalho), seja para amar
alguém, seja para superar um sofrimento inevitável.
AUTODISTANCIAMENTO
Frankl (2011) também defende a capacidade do homem de distanciar-se do
mundo, para, assim, vislumbrá-lo e adotar uma atitude em resposta frente às
adversidades.
SENTIDO DE VIDA
O terceiro pilar da Logoterapia é o sentido de vida. Inicialmente, é importante
sublinhar que a Logoterapia não defende que o psicólogo possa dar um
sentido de vida para o paciente: é função deste e do logoterapeuta auxiliar a
pessoa para que ela se abra a encontrar um sentido para sua vida.
O sentido de vida é particular, diferindo de pessoa para pessoa, sendo uma
resposta concreta a situações específicas, colocadas pela vida como uma
pergunta à pessoa. Com isso, o sentido de vida para Frankl (2014)
apresenta-se em um quadro que considera a pessoa como um ser único e,
portanto, sua atitude diante da vida também é única. Em seu livro A Vontade
de Sentido , Frankl (2011) traz uma esclarecedora definição sobre o sentido
da vida.
LEIA AQUI
O ser humano é responsável por dar a resposta certa para as perguntas,
encontrando o verdadeiro sentido de uma situação. Sentido é algo a ser
encontrado e descoberto, não podendo ser criado ou inventado. Crumbaugh
e Maholick apontam que a descoberta do sentido de uma situação vivida se
relaciona a uma percepção gestáltica. Essa hipótese se coaduna com a
afirmação de Wertheimer, um dos membros da escola da Gestalt: “Uma
situação como 7 + 7 = ? constitui um sistema portador de uma lacuna. É
possível preencher esse espaço vazio de várias maneiras. O complemento
14, no entanto, corresponde à situação, encaixa-se na lacuna, atende ao
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que é estruturalmente exigido nesse sistema, nesse lugar, com sua função
no todo. Outros complementos, como 15, não se encaixam, não são os
corretos. Chegamos aqui, ao conceito de exigências da situação, a ideia de
caráter de necessidade. Exigências de tal ordem possuem uma qualidade
objetiva.” (FRANKL, 2011)
Frankl, ao aprofundar o sentido de vida, pontua que ele pode ser
encontrado, principalmente, mas não exclusivamente, de três formas:
criando um trabalho, ou praticando um ato; experimentando algo ou
encontrando alguém – sentido do amor –; pela atitude que tomamos em
relação ao sofrimento inevitável – sentido do sofrimento (FRANKL, 2014).
Frankl (2014) também aborda a falta de sentido na vida com que o homem
pode se deparar, vivenciando, assim, uma frustração da vontade de sentido.
Essa frustração caracteriza-se, sobretudo, por um “vazio existencial”, que,
segundo o autor, pode ser visto no tédio e na indiferença. O tédio
representa, principalmente, a perda de interesse do sujeito pelo mundo, e a
indiferença, a passividade do sujeito diante da mudança e melhora da
realidade.
VOCÊ ACHA QUE O HOMEM DO
NOSSO TEMPO VIVENCIA UMA
FRUSTRAÇÃO DO SENTIDO DA VIDA?
Outro aspecto importante da Logoterapia é sua visão integradora da
realidade humana. Para Frankl (2020), o homem é um ser bio-psico-
espiritual (ou noético). Espiritual na teoria logoterapêutica não carrega o
sentido religioso, mas sim antropológico. Refere-se à dimensão própria do
ser humano, aquela em que ocorrem os dinamismos fundamentais da
autotranscendência e autodistanciamento, bem como a consciência, a
liberdade e a responsabilidade.
Frankl (2020) afirma que a pessoa, em sua realidade concreta, não é regida
por instintos ou determinada por questões psicoemocionais não resolvidas.
Ela é um ser que decide o que fazer com seus instintos e com suas
questões psicoemocionais não resolvidas. Essa decisão, essa escolha, só é
possível por causa da dimensão espiritual.
Para entender melhor, veja o exemplo a seguir:
EXEMPLO
Talvez o melhor exemplo seja dado pelo próprio Frankl em um de seus livros
e que podemos trazer para nossa realidade atual. Imagine um macaco que
tivesse que tomar 20 agulhadas por dia como parte de um experimento para
testagem de uma vacina contra uma nova doença. Ele sentiria dor física
(dimensão biológica) e poderia desenvolver um pavor do aplicador da vacina
(dimensão psicológica). Entretanto, imagine que depois de algumas
semanas se tenha descoberto a cura para a doença. O macaco, diante de
todo aquele sofrimento, teria participado da cura dessa doença, mas nunca
seria capaz de compreender o sentido de seu sofrimento. Ao homem, foi
dada a possibilidade de compreender, e isso é devido à sua dimensão
espiritual.
A Logoterapia continua sendo um advento no século XXI. Atualmente, tem
sido retomada senão em vários aspectos, ao menos em alguns de seus
pressupostos, pela Psicologia Positiva (SELIGMAN, 2002) e pelo
Cognitivismo Existencial (PACCIOLLA; MANCINI, 2015).
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ROLLO MAY (1909-1994)
Se Viktor Frankl pode ser considerado o principal nome da Psicologia
Existencial na Europa, Rollo May possui esse título no contexto norte-
americano. Mas se, por algum motivo, esse psicólogo existencial é pouco
abordado em cursos de Psicologia, seu pensamento é significativamente
atual.
LEIA O TRECHO A SEGUIR E REFLITA:
ESSE RELATO GUARDA ALGUMA
SEMELHANÇA COM OS TEMPOS
ATUAIS?
“Pode surpreender o que eu diga, baseado em minha prática profissional,
assim como na de meus colegas psicólogos e psiquiatras, que o problema
fundamental do homem, em meados do século XX é o vazio. Com isso,
quero dizer não só que muita gente ignora o que quer, mas também que
frequentemente não tem uma ideia nítida do que sente. […] O que as leva a
buscar ajuda talvez seja, por exemplo, o fato de romperem sempre seus
relacionamentos amorosos, ou não conseguirem concretizar seus planos de
casamento, ou a insatisfação com o companheiro escolhido. Mas não é
preciso falarem muito para revelar que esperam que o cônjuge atual ou
futuro preencha uma falta, um vácuo no seu íntimo e ficam ansiosos e
zangados quando ele ou ela não conseguem.” (MAY, 2004)
Rollo May (2004) desenvolve em sua prática as premissas existencialistas
que já tivemos a oportunidade de ver no módulo 1 e considera que o
Existencialismo aporta a Psicologia e sua tentativa de resolução dos
problemas da pessoa.
No que diz respeito ao processo psicoterapêutico, alguns pontos do
pensamento de Rollo May são interessantes e dialogam com os dias atuais:
a ansiedade e a culpa.
ANSIEDADE
May (1986) considera que toda pessoa é centrada em si mesma e, quando
esse centro é atacado, vivencia-se um ataque à própria existência. De certa
maneira, esse ataque se manifesta na percepção de que existe algo que
pode destruir o ser da pessoa, sua existência.
Essa percepção leva ao estado de ansiedade, que May (2004) considera o
mais presente no homem de seu tempo, algo não muito distante do que
atualmente vem sendo apresentado, sendo a ansiedade um dos transtornos
com maior índice de prevalência na população.
 
Imagem: Shutterstock.com
A ansiedade, para Rollo May, é a experiência de ameaça, a si mesmo ou a
alguém que avaliamos ser importante, originando uma constante atitude de
defesa, deprecaução, fechando cada vez mais a pessoa em si mesma.
A pessoa ansiosa estará voltada para as possibilidades de ameaça do
mundo, o que em nosso tempo é potencializado por uma cultura que, em
grande parte do tempo, exacerba as possibilidades de risco, sendo que se
May (2004) chamava sua época da era da ansiedade, a nossa não deixa
nada a desejar em relação a essa definição.
Rollo May acreditava que existia certo grau de ansiedade natural, ou seja,
diante da consciência de que somos livres e de que construímos nosso
destino, a vivência de alguma ansiedade seria um processo natural e, de
alguma forma, indicaria uma abertura ao mundo, uma aceitação de que a
vida está batendo à nossa porta. Entretanto, existe também a ansiedade
patológica.
Essa ansiedade dialoga com outros males que May (2004) avalia fazerem
parte de seu tempo: a solidão e o vazio, já citados. Para Rollo May, a
etiologia dessa condição está em uma sociedade que se revolvia pela perda:
de valores.
do senso de self , ou seja, da dignidade e valor do ser humano.
da comunicação pessoal.
do senso trágico, em síntese, do sentido do sofrimento.
Novamente, a leitura de Rollo May dialoga em muitos aspectos com a nossa
situação atual. A relativização de valores, a dependência eletrônica que vem
anulando as relações pessoais, o constante ataque à dignidade da pessoa e
um fechar de olhos ao sofrimento são características que fazem parte de
nossa sociedade.
O QUE É PRECISO FAZER PARA LIDAR
COM ESSAS QUESTÕES?
LEIA AQUI
O homem precisa redescobrir a si mesmo e, dando conta de sua existência,
assumir a liberdade e responsabilidades inerentes à vida humana. Rollo May
acredita que cada um é responsável por aquilo em que se transforma; é
necessário que as pessoas tomem consciência de aspectos como a
inevitabilidade da morte, a importância de viver no presente e de que são
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responsáveis por construírem o próprio destino para assim terem melhor
saúde mental.
O processo terapêutico, portanto, deverá ajudar a pessoa a se tornar
autoconsciente da realidade em que está inserida, das ameaças que vem a
perceber e, sobretudo, de que essa realidade faz parte de seu mundo,
podendo causar uma ação sua. Ajudar a pessoa a ver que tem possibilidade
de agir e, por isso, não é uma vítima da sua existência.
Foto: Shutterstock.com
CULPA
Além da ansiedade, Rollo May também aborda outra situação da existência
humana: a culpa. Para o psicólogo norte-americano, a culpa nasce quando
não aceitamos nossas potencialidades, quando não percebemos as
necessidades das outras pessoas e quando nos alienamos da natureza.
De alguma forma, a culpa é um fato do qual não temos como fugir
completamente, sendo importante não nos alienarmos diante dela, mas
aceitarmos que somos seres falíveis e, com isso, apontar para o
autodesenvolvimento.
O autodesenvolvimento não acontece sozinho e aqui temos mais um
aspecto da Psicologia Existencial de Rollo May: somos seres que participam
de outros seres. Esse ser-com-o-outro faz parte do processo humano de
desenvolvimento e crescimento e, portanto, da saúde psíquica.
 RESUMINDO
Tanto a Logoterapia como a Psicologia Existencial de Rollo May partilham
aspectos em comum e são marcadas pelo Existencialismo. Em síntese,
podemos apontar as seguintes características de ambas as abordagens: a
aproximação existencial a realidade da pessoa; a consideração da
necessidade de a pessoa enfrentar aspectos como morte, culpa e
sofrimento; uma compreensão de que a pessoa é um ser-com-o-outro, ou
que se realiza na autotranscendência, na saída de si para encontrar-se com
outra pessoa.
CARACTERÍSTICAS DA
LOGOTERAPIA
Aprofundaremos agora um pouco mais sobre a Logoterapia.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
1. SEGUNDO VIKTOR EMIL FRANKL, O HOMEM TEM COMO
PRINCIPAL MOTIVAÇÃO.
A) A vontade de poder.
B) A busca pela liberdade.
C) A vontade de prazer.
D) A fuga do sofrimento.
E) A vontade de sentido.
2. ROLLO MAY, NO QUE DIZ RESPEITO À SAÚDE MENTAL,
AFIRMA QUE:
A) A pessoa saudável não vivencia nenhum tipo de ansiedade, alcançando
um equilíbrio homeostático.
B) A saúde mental é alcançada quando o homem assume sua finitude, a
possibilidade da morte, a liberdade e a responsabilidade, lidando com a
ansiedade normal que surge do existir.
C) Não é possível alcançar a saúde mental: o homem vive em constante
estado de desespero.
D) A pessoa saudável dá ênfase à sua individualidade em detrimento ao
relacionamento com os demais.
E) É necessária uma mudança na cultura e ambiente do indivíduo. Somente
assim ele alcançará a saúde mental.
GABARITO
1. Segundo Viktor Emil Frankl, o homem tem como principal motivação.
A alternativa "E " está correta.
 
Frankl afirma que a principal motivação humana é a busca por um sentido
de vida. Com isso, o psiquiatra vienense se contrapõe a duas das teorias
principais da época. A Psicologia Individual de Adler, que defendia a vontade
de poder como principal motivação humana, e a Psicanálise de Freud, com
a defesa da vontade de prazer como principal motivação humana.
2. Rollo May, no que diz respeito à saúde mental, afirma que:
A alternativa "B " está correta.
 
Para Rollo May, a pessoa deve ser consciente da finitude de sua existência,
bem como, pela autoconsciência, compreender sua liberdade e
responsabilidade, que embora gere ansiedade, quando elaborada, não
interfere em seu existir.
CONCLUSÃO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Compreendemos um pouco mais a Psicologia Existencial, as influências do
Existencialismo nessa perspectiva da Psicologia, bem como o rico diálogo
que pode nascer da relação Psicologia-Filosofia.
Conhecemos Karl Jaspers, importante pensador no campo da
Psicopatologia e que também influenciou psicólogos existenciais. Sobretudo,
pudemos tomar consciência de que a compreensão da patologia mental não
deve deixar de fora uma visão integral da pessoa.
Por fim, tomamos conhecimento de dois grandes nomes da Psicologia
Existencial: Viktor Emil Frankl e Rollo May. Ambos desenvolveram ricas
contribuições para a Psicologia e ainda influenciam outras abordagens
psicológicas, como a Psicologia Positiva, a Terapia Cognitivo-
Comportamental e o Cognitivismo Existencial.
AVALIAÇÃO DO TEMA:
REFERÊNCIAS
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XAUSA, I. A. M. A psicologia do sentido da vida. Campinas: Vide Editorial,
2013
EXPLORE+
Existem muitos filmes e livros sobre a Primeira e a Segunda Guerra Mundial.
Entretanto, alguns permitem a aproximação da experiência concreta dos que
vivenciaram esse trágico momento da história. Sugerimos dois livros e uma
série que o ajudarão a ter essa experiência mais existencial do momento
histórico que influenciou o Existencialismo e a Psicologia Existencial do
Século XX:
A Bailarina de Auschwitz , de Edith Eger, da editora Leya, 2020.
O diário de Anne Frank , de Anne Frank, publicado por várias editoras.
Band of Brothers , série norte-americana, produzida por Tom Hanks e
Steven Spielberg, entre outros, da HBO Home Video, 2002.
Você quer conhecer um pouco mais da Logoterapia desde a sua vivência no
cotidiano? Leia O mar me contou: A Logoterapia aplicada ao dia a dia , de
Claudio Garcia Pintos, da editora Cidade Nova, 2017.
Para saber mais sobre a impossibilidade de explicar de forma absoluta o
comportamento humano, pesquise na internet pelo vídeo Por que é
impossível a previsão absoluta do comportamento humano? , com o
professor Gustavo Castañon.
Nada melhor do que o contato com o próprio autor para melhor conhecer a
obra. Existem entrevistas de Frankl muito interessantes e estão disponíveis
no YouTube. Recomendamos a pesquisa por duas:
Entrevista com Viktor Frankl – A descoberta de um sentido no
sofrimento
Viktor Frankl 'Man Alive'
CONTEUDISTA
José Augusto Rento Cardoso
 CURRÍCULO LATTES
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