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1 Louyse Jerônimo de Morais Distúrbios hidroeletrolíticos na criança Referência: aula da prof. Adriana Queiroga + material disponibilizado por ela Se chegar um paciente com desidratação na urgência, avalia glicemia, porque, na pediatria, o DM1 chega muito na urgência com vômito e diarreia. Primeiro hidrata e expande o paciente e, se houver necessidade, pede outros exames. • Líquido intracelular • Líquido extracelular o Intersticial o Vascular: volemia. Tanto a membrana entre as células como a que está entre os vasos têm que ter integridade. O que acontece com o meio? Digamos que temos um meio hipernatrêmico e outro com menor quantidade de solutos. O meio mais concentrado vai receber água do menos concentrado, a fim de manter equilíbrio isotônico. Então, espera-se que o organismo consiga equilibrar. Se a célula e os hormônios não conseguem fazer isso, o indivíduo vai desidratar. • Principais agentes responsáveis pela osmolaridade: sódio, glicose e albumina. Estes dois últimos não conseguem manter osmose e promover equilíbrio interno, mas servem para desidratar. Quem faz a osmose é justamente a bomba de sódio e potássio. Mais de 70% do nosso organismo é composto de água. Quanto mais jovem for o indivíduo, maior será essa porcentagem. Um RN tem um volume de até 80 a 90% de água. Dessa forma, uma criança pequena desidrata bem mais rápido, até porque a parte hormonal central e renal está imatura. Da mesma forma ocorre com o desnutrido grave, pois ele tem menor volume de água em relação à massa corpórea. Além disso, ele perde massa muscular e potássio, bem como a função renal e cardíaca não é boa. Os músculos estão deficientes e o rim não responde tão bem. Distribuição do líquido intra e extracelular • LIC: K+ • LEC o Intersticial: Na+ o Intravascular: plasma • Transcelular: LCR, TGI, urinário, humores ocular e sinovial. O meio transcelular não é solicitado para manter hemodinâmica, ele só mantém hidratação, leva hormônios e substâncias neurotransmissíveis, que também estão no intravascular. Fisiopatologia Quando um paciente desidrata e perde líquido, a primeira coisa que se sente é sede. No organismo, temos receptores de osmolaridade [a nível periférico e central] e de volume. Quando temos alteração de 1 a 2% na osmolaridade, eles já são acionados, bem como quando há pelo menos 5% de perda de líquido. O primeiro mecanismo é o da sede. Se não compensar, vai levar a uma desidratação e ativação dos mecanismos hormonais. A nível central, o hipotálamo estimula hipófise, que leva à liberação de ADH, com aumento da retenção de água. Tem algumas doenças a nível central, que levam à lesão mais grave, principalmente paciente grave e politraumatizado, os quais têm uma liberação desordenada de ADH. Ao reduzir o fluxo a nível renal, ocorre liberação de renina e angiotensina. A angiotensina II vai no córtex da 2 Louyse Jerônimo de Morais suprarrenal e libera aldosterona, a qual é responsável pela retenção de sódio e eliminação de potássio. Então, ocorre compensação a nível renal e hipotalâmico. Os receptores de volume e osmolaridade estão a nível periférico e cardíaco. A nível cardíaco, quando a volemia normaliza, ocorre liberação de peptídeo natriurético, que vai mandar mensagem para as regiões renal e central, mandando “fechar a torneira”, a fim de manter a volemia. Se a perda for tão intensa que esses mecanismos não consigam compensar, o paciente entra em desidratação, que é uma contração do eixo celular. Isso tudo é deficiente tanto no desnutrido quanto no RN. Causas principais O termo desidratação é uma classificação. O correto é chamar de “distúrbio hidroeletrolítico”. • Febre: geralmente associado com pneumonia ou diarreia. • Estados hipermetabólicos: septicemia pode evoluir para choque distributivo. • Perdas intestinais • Atividade física intensa: só se for adolescente que mora na academia. • Queimaduras • Hiperventilação • Desnutrido grave: tem maior quantidade de água corpórea, com tendência a ter perda de albumina. O sódio plasmático está diminuído porque está diluído na água corpórea. Nesse contexto, só se corrige hiponatremia se Na+ < 120, a não ser que haja um quadro clínico compatível. Sempre temos que levar em consideração o volume corpóreo na vigência de hiponatremia [hipovolêmica, normovolêmica ou hipervolêmica?] Particularidades do desnutrido grave: aumento da água corpórea, hipoalbuminemia, sódio plasmático diminuído e sódio total aumentado [se desidratação grave], hipopotassemia [pela própria perda muscular], hiperaldosteronismo, baixo débito cardíaco e baixo fluxo e taxa de filtração renal. Desidratação Ocorre como resultado de baixo aporte, perdas excessivas de líquidos e/ou eletrólitos e quando os mecanismos compensatórios não se estabelecem. Geralmente, é isotônico. Classificação de acordo com a perda de peso • Leve: com perda de peso < 5% • Moderada: com perda de peso entre 5 a 10% • Grave: com perda de peso > 10% Caso clínico Pré-escolar, 4 anos, é trazido à emergência com história de diarreia que iniciou há 2 dias. Apresentou febre alta desde o início dos sintomas, com BEG e sangue nas fezes. O pediatra, ao realizar o exame físico, não observou sinais de desidratação. • Diarreia infecciosa com desinteria Conduta • Plano A [domiciliar]: ingerir mais líquido que o habitual, beber líquidos caseiros, solução de reidratação oral – SRO. • Indica ATBterapia ou reavalia com 24 horas • Uso de zinco • Pode fazer probiótico se quiser. • Se vomitar, voltar ao serviço de saúde. • Manter a alimentação, exceto se houver APLV ou erro alimentar. • Continuar o aleitamento materno O paciente deve tomar líquidos caseiros [água de arroz, soro caseiro, chá, suco e sopas] ou SRO após cada evacuação diarreica. Não utilizar refrigerantes e não adoçar o chá ou suco. Se fosse RN com menos de 3 meses e desinteria, a conduta seria internação hospitalar, por conta do risco de sepse. Dilui SRO em 1 litro de água [fervida e filtrada] a cada 12 horas. No desnutrido, dilui em 2 litros, por causa do sódio. Tem soro 0,45% na farmácia, que não tem perigo no desnutrido. E se piorar? Se o paciente não melhorar em dois dias ou se apresentar qualquer sinal de perigo, deve retornar imediatamente ao serviço de saúde. • Sinais de perigo: piora na diarreia, vômitos repetidos, muita sede, recusa de alimentos, sangue nas fezes, diminuição da diurese. Deve-se orientar o paciente ou acompanhante para reconhecer os sinais de desidratação, preparar e administrar a SRO e praticar medidas de higiene pessoal e domiciliar [lavagem adequada das mãos, tratamento da água e higienização dos alimentos]. 3 Louyse Jerônimo de Morais Continuação do caso clínico Paciente com piora da diarreia e vomitou várias vezes. Ao exame: evolui com olhos encovados, sinal da prega volta lentamente e bebe água com muita sede. A história e o exame físico são indispensáveis para uma conduta adequada. Ao exame físico é importante avaliar o estado de hidratação, o estado nutricional, o estado de alerta (ativo, irritável, letárgico), a capacidade de beber e a diurese. O percentual de perda de peso é considerado o melhor indicador da desidratação. Mesmo quando o peso anterior recente não é disponível, é fundamental que seja mensurado o peso exato na avaliação inicial do paciente. Outros achados podem ser importantes quando presentes, traduzindo a gravidade do quadro, tais como nível de alerta, fontanela baixa, saliva espessa, padrão respiratório alterado, ritmo cardíaco acelerado, pulso débil, aumento do tempo de enchimento capilar, extremidades frias, perda de peso, turgência da pele e sede. Conduta • Plano B: administrar SRO na unidade de saúde. A quantidade de solução ingerida dependerá dasede do paciente. A SRO deverá ser administrada continuamente, até que desapareçam os sinais de desidratação. Apenas como orientação inicial, o paciente deverá receber de 50 a 100 ml/kg para ser administrado por pelo menos 4 a 6 horas, até reidratação completa e reinício da alimentação. Durante a reidratação, reavaliar o paciente seguindo os sinais clínicos e diurese: • Se melhorar, seguir plano A. • Se vomitar e não aceitar SRO, passar uma sonda orogástrica. • Se evoluir com sinais de desidratação grave, indicar plano. Como avaliar diurese? Diurese / peso / número de horas Se, em seis horas, uma criança de 4 kg urinou 90 ml, podemos calcular: 90 / 4 / 6 = 3,75 ml/kg/hora. O normal é que a criança urine 1 a 3 ml/kg/hora. Se a diurese estiver muito alta, mas o paciente continuar desidratado, pensa em poliúria e suas causas [Diabetes mellitus? Diabetes insipidus? Problema renal?]. Em um bebê pequeno, coloca saco coletor e sonda dentro dele, se criança maior, dá um recipiente para ele urinar dentro. Em geral, não precisa sondar. Soro de reidratação oral Vai dando aos pouquinhos, conforme aceitação do paciente. Se não aceitar, passa sonda nasogástrica. 4 Louyse Jerônimo de Morais Não pode correr grande volume, porque se distender o abdome, pode vomitar. Além disso, pode ir para o plano C. Considera-se fracasso da reidratação oral se as dejeções aumentam, se ocorrem vômitos incoercíveis ou se a desidratação evolui para grave. Continuação do caso clínico Paciente com piora clínica, não aceita SRO, continua vomitando. Conduta • Plano C: corrigir a desidratação grave com terapia de reidratação por via parenteral. Deve ser feito a nível hospitalar. Indicações para reidratação venosa • Desidratação grave • Contraindicação de hidratação oral [íleo paralítico, abdome agudo, alteração do estado de consciência ou convulsões] • Choque hipovolêmico • Manifestações neurológicas [letargia e convulsões] • Falha na terapia de reidratação oral • Doença cirúrgica Os pacientes que estiverem sendo reidratados por via endovenosa devem permanecer na unidade de saúde até que estejam hidratados e conseguindo manter a hidratação por via oral. Deve-se reavaliar a cada 30 minutos. Não é obrigado internar, podendo ficar na emergência. Antes de dar alta, avaliar a clínica, o peso, a PA e a diurese. Em seguida, oferece plano B no hospital. Se a criança aceitar, libera para casa. Se tiver indicação de ATB venoso [pneumonia grave, asma grave], mantém internado com soro de manutenção e ATB. Em criança, geralmente, na primeira hora de hidratação, coloca eletrólitos, porque elas costumam apresentar muito vômito e diarreia. No entanto, isso não é uma regra, pode deixar para colocar só na manutenção, se houver necessidade. O que mudou recentemente na hidratação, mas que o MS ainda não acatou? Pode usar na manutenção soro fisiológico 4:1 [glicose e NaCl] ou glicose com soro mais hipertônico [NaCl 20%, fica mais ou menos 3:1]. Hidratação venosa • Fase rápida: fase de expansão em paciente com desidratação grave. Pode repetir até 3 vezes. Se não melhorar, avalia osmolaridade do paciente. • Fase de manutenção: é a manutenção basal, baseada nas perdas fisiológicas [diurese, sudorese etc.]. Se ele ficar bem, não precisa fazer reposição, se voltar a desidratar, significa que ele continua com perdas [diarreia aumentou, apresentou vômitos], então aumenta volume, acrescentando reposição [nada mais é do que aumentar o volume; não precisa fazer eletrólitos]. • Fase de reposição Fase rápida ou de expansão em menores de 5 anos Exemplo Criança com 10 kg e 1 ano de vida. Se temos que usar 20 ml/kg/dia, daremos 200 ml de SF 0,9% em 30 minutos para esse paciente. Fase rápida ou de expansão em maiores de 5 anos Exemplo Criança com 5 anos e pesando 20 kg. Dessa forma, fazemos 30 ml * 20 kg = 600 ml de SF 0,9%. Esse volume deve correr em 30 minutos. Após fase rápida, deve-se avaliar e reclassificar. Se continuar com sinais de desidratação e baixo débito urinário, não hidratou o suficiente, continua perdendo. Nesse contexto, deve repetir fase rápida até duas vezes. Se não resolver, algo está errado, então avalia osmolaridade do paciente. Se a criança estiver hidratada, mas sem diurese, avaliar bexigoma [bota compressa, faz massagem, conversa, abre a torneira], se não melhorar, passa sonda de alívio. Se apresentar boa diurese após essa conduta, vai para a manutenção. Se não tem bexigoma, mas está hidratado e sem diurese, investiga perdas, edemas e função renal. Tem que fazer exames. Na urgência, faz 1 mg de furosemida e 5 Louyse Jerônimo de Morais aguarda uma hora antes de chamar o nefro. Se ele apresentar diurese acima de 1 ml/kg/hora, faz manutenção e continua reavaliando. Se continuar em oligúria ou anúria, chama nefro, pois esse paciente pode até ter que ir para a UTI. Sem sinais de desidratação e com boa diurese [1 a 3 ml/kg/hora] = fase de manutenção Fase de manutenção Quando for hidratar o paciente, o primeiro passo é calcular o volume total. Exemplo Criança com 1 ano e pesando 10 kg. Como supracitado, começamos calculando o volume total. 10 kg * 100 ml = 1000 ml/kg/dia Pode dividir a manutenção em duas fases [12/12h], ou seja, faz 500 ml e depois mais 500 ml. Se for um volume maior, divide em três ou mais fases. Isso é apenas porque o saco do soro só cabe 500 ml. O que vai ter dentro da hidratação? HV para 12 horas • Soro glicosado a 5% • Soro fisiológico a 0,9% ou NaCl 20% • KCl 19,1% • GluCa 10% Isso é o que faz em paciente com diarreia e vômitos. Não precisa colocar eletrólitos em todos. O soro precisa ser 4:1. Ou seja, quatro partes de glicose [dá calorias para o paciente] e uma parte de soro fisiológico. A ampola de 1 ml de K+ apresenta 2,5 mEq. Normalmente, usamos o basal, que é de 1 a 3 mEq de potássio e 2 a 4 de gluconato. Não começa logo com 3 mEq de potássio, pois o paciente pode fazer hiperpotassemia. Então, geralmente começa com quantidade mínima [1 mEq/kg/dia]. Nesse contexto, o paciente do exemplo, que pesa 10 kg, vai precisar de 10 mEqs de K+. Fazendo a regra de 3, dividimos esses 10 por 2,5 [que é o quanto tem em cada ampola de K+], isso nos dá 4 ml de K+ em 24 horas. Como faremos duas fases, faz 2 ml em cada uma [12 em 12h]. O gluconato de cálcio já vem em mg. Então faz direto. Em 1 ml da ampola, vem 100 mg de GluCa. Deve- se fazer de 2 a 4 ml/kg/dia. Assim, faremos 2 ml * 10 kg, o que nos dá 20 ml em 24 horas [dividindo em duas fases, 10 ml a cada 12h]. Lembre-se que o volume total é 1000 ml, mas precisamos subtrair da quantidade de eletrólitos que vamos dar. Nesse caso, será 4 ml de potássio e 20 ml de gluconato de cálcio. Portanto, ficamos com 1000 – 24 = 976 ml. Esse será o volume de glicose e soro fisiológico. Como devemos fazer 4 de glicosado para 1 de SF 0,9%, dividimos o valor total de 976 por 5 [a fim de deixar em 5 partes]. Isso nos dá 195,2 ml. Essa será a quantidade de SF 0,9%. O restante [1000 – 195,2 = 780,8 ml] deve ser dado na forma de soro glicosado. Como iremos fazer em duas fases, divide tudo por dois [12/12h]. Assim, deve-se dar 97,6 ml de SF 0,9% e 390,4 ml de SG. Receita Hidratação venosa para 12 horas SGF [4:1] ----------------------------------------------- 390,4 ml SF 0,9% -------------------------------------------------- 97,6 ml KCl 19,1% ------------------------------------------------ 2 ml Gluconato de cálcio ----------------------------------- 10 ml Isso é o basal, conforme as perdas diárias do paciente. Espera-se que a sede melhore, a diarreia seja controlada e etc. Se começar a desidratar de novo, faz fase de reposição, pois o basal não está sendo suficiente. Cálculo do sódio Geralmente tem NaCl a 10%, mas se tiver a 20%, fazo cálculo. A ampola do NaCl a 10% tem 1,7 mEq. O basal do sódio é de 2 a 3 mEq/kg/dia. Então, um paciente com 10 kg necessita de 20 mEq. Se for a 20%, é o dobro do achado. Pode fazer com SF 0,9% ou NaCl. Nesse último caso, dá uma quantidade de sódio maior em um volume menor. 6 Louyse Jerônimo de Morais Logicamente, se fizer com NaCl, a glicose vai aumentar. Essa é uma nova hidratação que está sendo feita. Fase de reposição É feita se o paciente continuar desidratado na fase de manutenção. Não mexe no potássio e no gluconato de cálcio, apenas no SF e no SG. A proporção, nesse caso, é de 1:1. A reposição é feita com 50 ml/kg. No caso do paciente do exemplo, ele vai necessitar de 500 ml de SGF 1:1, pois ele pesa 10 kg. Nesse contexto, pega o soro de manutenção que já está sendo ofertado e acrescenta 250 ml de SF 0,9% e 250 ml de SG 5%. Receita Hidratação venosa para 24 horas SG -------------------------------------------------------- 1030,8 ml SF 0,9% -------------------------------------------------- 445,2 ml KCl 19,1% ------------------------------------------------ 4 ml Gluconato de cálcio ----------------------------------- 20 ml Como o volume total, agora, é de 1500 ml, devemos dividir em três fases, ou seja, divide tudo por três. Receita Hidratação venosa para 8 horas SG --------------------------------------------------------- 343,6 ml SF 0,9% -------------------------------------------------- 148,4 ml KCl 19,1% ------------------------------------------------ 1,33 ml Gluconato de cálcio ----------------------------------- 6,67 ml Exames complementares • Hemograma • Eletrólitos sérico • Glicemia • Ureia e creatinina • Albumina • Gasometria • Osmolaridade sérica e urinária • Eletrólitos urinários: faz se tiver dúvida em relação à SIAD [retenção de água] – o sódio urinário vai estar muito concentrado. • Densidade urinária: se estiver baixa e se sabe quanto deu de líquido é porque fez hipervolemia [sódio dilucional]. Se sabe que não deu volume demais e o sódio está alterado, a hiponatremia é porque perdeu e não porque deu volume demais. Continuação do caso clínico Paciente evolui com sinais de desidratação, necessitando nova fase rápida. Após fase rápida apresentou melhora clínica e boa diurese. Recebeu resultado do ionograma: • Na+ = 120 • K+ = 6 Estamos diante de uma hiponatremia! Hiponatremia Caracterizada por Na+ sérico < 135 mEq/l, assume maior gravidade em situações em que os níveis de sódio se encontram abaixo de 120 mEq/l, ocasião em que necessita de correção imediata e cuidadosa. É o distúrbio eletrolítico mais comumente encontrado em pacientes instáveis. Classificação • Hiponatremia com osmolaridade plasmática normal [pseudohiponatremia]: pode ser por hipertrigliceridemia ou hiperproteinemia. • Hiponatremia com osmolaridade plasmática aumentada [hiponatremia dilucional]: hiperosmolaridade por aumento de solutos. Nesses casos, há um desvio de água do intra para o extracelular, o que dilui o sódio plasmático. Isso pode ocorrer por hiperglicemia, manitol, glicerol e contrastes radiológicos. Para cada 60 mg/dl de glicose que ultrapassa 100 mg/dl, é reduzido 1 mEq/l de Na+. • Hiponatremia com osmolaridade plasmática baixa: seriam os casos verdadeiros, que ocorrem por excesso de água [retenção hídrica ou ingesta 7 Louyse Jerônimo de Morais exagerada] ou perdas de sódio proporcionalmente maiores do que as perdas hídricas. Nessas situações, o volume intravascular pode estar normal, alto ou baixo, dependendo da causa. o Hiponatremia normovolêmica: aporte de água excessivo, hipotireoidismo, insuficiência suprarrenal, SIHAD e seus desencadeantes. o Hiponatremia hipovolêmica: perdas extrarrenais gastrintestinais [vômitos, diarreia, fístulas etc.] e para o 3º espaço [peritonites, queimaduras, traumas etc.]; perdas renais por uso de diuréticos, tubulopatias, acidose tubular renal etc. o Hiponatremia hipervolêmica: ICC, síndrome nefrótica, cirrose hepática. Causas da hiponatremia • Oferta hídrica aumentada • Baixa oferta de sódio • Redistribuição osmótica de água: hiperglicemia, por exemplo. • Excreção renal de água reduzida: imaturidade renal, IRA e IRC, ICC, SIHAD, drogas. • Perda renal aumentada de sódio: imaturidade tubular renal, uropatia obstrutiva, alcalose metabólica, IRA poliúrica, diuréticos de alça/tiazídicos, metilxantinas, drogas vasoativas. Quadro clínico • Náuseas/vômitos • Cefaleia/confusão mental • Letargia/ataxia/psicose • Convulsões/coma/herniação cerebral. O quadro neurológico é comum tanto na hipernatremia quanto na hiponatremia. Tratamento da hiponatremia 1. Hiponatremia na hipervolemia Às vezes acontece de o paciente receber líquido demais – a mãe abre o soro para ir embora rápido da urgência. Nessa situação, restringe líquido, faz diurético e reavalia. Se Na+ > 120 e paciente assintomático, pode só aumentar oferta de sódio no soro. Porém, se Na+ < 120 ou sintomático, faz sódio mais rápido [NaCl 3%]. Como não tem NaCl 3% no serviço, tem que diluir usando 85 ml de água destilada com 15 ml de NaCl 20%. Cada ml vai ficar com 0,51 mEq. Isso vai ser usado de acordo com a necessidade da fórmula – calcula-se quanto de sódio o paciente precisa para corrigir a hiponatremia. Necessidade de Na+ em mEq = [Na+ desejado – Na+ atual] * 0,6 * peso O sódio desejado, geralmente, em paciente com quadro agudo, corrige para 125. Se estiver em 130, só aumenta no soro. Nunca coloca 135, porque os mecanismos de compensação podem levar a uma hipernatremia. Nos casos crônicos, deve-se elevar o sódio apenas até 120 mEq/L. Além disso, não ultrapassar uma velocidade de infusão de 5 mEq/kg/h [10 ml/kg/h] nas hiponatremias agudas e 2,5 mEq/kg/h [5 ml/kg/h] nas hiponatremias crônicas. Tais cuidados visam a evitar um aumento muito rápido dos níveis de sódio, que tem sido associado a uma desmielinização osmótica da ponte, conhecida como mielinólise central pontina, frequentemente fatal. Caracterizada clinicamente por paraparesia, quadriplegia, disartria, disfagia, alteração da consciência e coma. Embora a mielinólise pontina esteja mais associada à correção rápida do déficit de sódio na hiponatremia crônica, de um modo geral, recomenda-se para todos os casos não se elevar os níveis de Na+ mais que 12 mEq/l nas primeiras 24 horas. Portanto, não corrige rápido, mas divide a cada 6 horas e vai fazendo ionograma. Exemplo: [125 – 120] * 0,6 x 10 = 30 mEq Se 1 ml de NaCl a 10% tem 1,7 mEq, em 30 mEq, precisamos de 17,65 ml de NaCl a 10% em 24 horas. Assim, 8 Louyse Jerônimo de Morais se desejado, pode dividir esses 17,65 por quatro, a fim de ir repondo o sódio aos poucos. Se fizer tudo de uma vez, pode fazer hipernatremia por iatrogenia. Hipernatremia A hipernatremia ocorre quando o Na+ sérico atinge mais de 145 mEq/l, costumando assumir maior gravidade quando os níveis de Na+ ultrapassam 150 a 155 mEq/l, com grande potencial de mortalidade e risco de sequelas. Está sempre associada à hiperosmolaridade plasmática e normalmente é causada por um déficit de água (aporte baixo ou perdas anormais) ou aporte excessivo de sódio. Quando o meio está muito concentrado e a célula perde líquido por osmose, para não desidratar, ela produz substâncias de pequeno peso molecular, mas que puxam água para dentro da célula. Quando for corrigir, precisa corrigir com água livre. Então, ao repor líquido, ele pode puxar rapidamente para o interior da célula, fazendo edema cerebral. Dessa forma, a hipernatremia necessita de mais cuidado na correção. Causas da hipernatremia • Ganho de sódio: soluções de reidratação oral em excesso, aporte alto de NaCl ou NaHCO3 EV, hiperaldosteronismo e síndrome de Cushing. • Déficit de água: diminuição da ingesta,ingestão inadequadamente baixa [erro dietético, causas psicológicas], insensibilidade dos centros da sede à hiperosmolaridade [hipernatremia essencial], distúrbios hipotalâmicos [hipodipsia]. • Perda de água superior à perda de Na+ [não renal]: sudorese excessiva, diarreia, perdas para o 3º espaço [queimaduras, peritonites etc,], perdas insensíveis [febre, calor radiante, hiperventilação etc.]. • Perda de água superior à perda de Na+ [poliúria] o Diurese osmótica: natriurese [diuréticos de alça, tubulopatias], outros solutos [glicose, manitol, ureia]. o Diarreia aquosa [incapacidade de concentrar urina]: diabetes insipido central, trauma de crânio, cirurgia, tumor hipofisário, diabetes insípido nefrogênico, tubulopatias, hipopotassemia, hipercalcemia. É comum ser iatrogênica [alta quantidade de sódio]. Em criança, pode acontecer ao tomar leite de vaca, que tem muito sódio. A hipernatremia hipervolêmica pode levar a complicações graves. O paciente fica mais edemaciado, porque vai perder líquido para o terceiro espaço. Contudo, a diurese fica normal e o sódio urinário fica acima de 20. No caso da hipernatremia hipovolêmica, o sódio urinário fica mais baixo e ocorre perda de peso ao invés de edema, mas pode fazer um quadro neurológico também. A dosagem do Na+ urinário é particularmente importante, uma vez que concentrações baixas (5 a 10 mEq/l) indicam contração do extracelular, geralmente por perda de água livre, enquanto concentrações altas (> 20 mEq/l) indicam ganho de sódio ou natriurese por alteração dos mecanismos de conservação renal. Se hipovolêmico, faz correção com água livre. Só que quando ele está muito desidratado, não tem condição na urgência de avaliar o sódio, então corrige logo. Pela história clínica, já dá para desconfiar se o sódio está alto. Se hipervolêmico, faz restrição de sódio e volume. Deve-se corrigir entre 48 a 72 horas. Dependendo da gravidade, pode reavaliar a cada 4 horas. Resumo de hipernatremia 1. Hipernatremia com VEC normal ou diminuído • Causas: oferta hídrica inadequada, oferta de sódio excessiva, perda de água aumentada. • Diagnóstico: perda de peso, taquicardia, hipotensão, acidose metabólica, irritabilidade, convulsão. A diminuição da diurese e o aumento da densidade urinária [DU] podem ocorrer. No diabetes insipidus central ou nefrogênico a urina pode estar diluída. • Tratamento: correção da causa básica com ajuste da oferta hídrica adequada para a reposição das perdas insensíveis de água [PIA]. Nos casos graves e sintomáticos, reposição EV do déficit de água. Deve-se lembrar de não reduzir a natremia em mais de 0,5 mEq/kg/hora, repondo em 48 a 72 horas. A solução deve ter 20 – 25 mEq/l de Na+. A redução ideal deve ser de 10 a 15 mEq/l de Na+. 2. Hipernatremia com VEC aumentado • Causas: excessiva administração de soluções isotônicas ou hipertônicas. 9 Louyse Jerônimo de Morais • Diagnóstico: aumento de peso, com edema. O RN pode apresentar FC, PA, diurese e DU normais, com excreção fracionada de sódio aumentada. • Tratamento: restrição na administração de Na+ e volume. Potássio [3,5 – 5,5 mEq/L] O potássio está no interior da célula, sendo importante para polarização e função muscular. O grande risco é, no músculo cardíaco, fazer iatrogenia, o paciente fibrilar e fazer parada. Hipopotassemia [< 3,5 mEq/L] • Fraqueza muscular / dores musculares • Arritmias / bloqueio / fibrilação • ECG diminuição do ST e onda T e aumento de amplitude da onda U Conduta • Assintomático: correção lenta / diurético poupador de potássio. Na prática, aumenta potássio no soro, monitora e acompanha. • Sintomático: velocidade máxima de 0,5 mEq/H. Na ampola de 19,1%, 1 ml tem 2,5 mEq. o O basal varia de 1 a 5 mEq/kg/dia. Tem que ir avaliando, para não fazer iatrogenia. Hiperpotassemia > 5,5 mEq/L • Sintomas neuromusculares e cardíacos • ECG onde T estreitas / alargamento do QRS Conduta • Suspender o K+ EV e enteral • Antagonismo: gluconato de cálcio 10% 0,5-1 ml/kg lento. Se não conseguir reverter, tenta redistribuir, isso pode ser feito com bicarbonato de sódio [monitorizar sódio do paciente]. O indivíduo tem que estar respirando bem, porque vai mexer com a parte metabólica. A redistribuição pode ser feita com bicarbonato de sódio 1 a 2 mEq/kg ou glicose 0,5 a 1g/kg junto com insulina, para manter potássio no interior da célula. Se nada disso resolver, é preciso retirar potássio e jogar fora. Nesse caso, usa enzimas de troca iônica [sorcal oral ou retal de 4/4h], diurético ou, em último caso, chama nefrologista.