Prévia do material em texto
Sistema Urinário INTRODUÇÃO FUNÇÃO DO RIM O rim tem as seguintes funções: → Formação de urina para eliminar os resíduos metabólicos; → Regulação ácido-base; → Conservação de água pela reabsorção; → Manutenção da concentração de K+; → Função endócrina: secreção de renina, eritropoietina e conversão da vitamina D em sua forma ativa. PORTAS DE ENTRADA As portas de entrada para agentes etiológicos no rim são hematógena, ascendente do ureter, filtrado glomerular e penetração direta ANOMALIAS DO DESENVOLVIMENTO AGENESIA OU APLASIA RENAL É a falha do desenvolvimento do rim, podendo ser unilateral (compatível com a vida) ou bilateral (incompatível com a vida). Corresponde à ausência completa (agenesia) ou a rudimentos embrionários (aplasia) de um ou ambos rins, respectivamente. Quando unilateral, o rim que se desenvolve geralmente é maior para compensar a ausência do outro (hipertrofia compensatória), mas é um achado de necropsia. Ureter pode estar presente ou ausente. HIPOPLASIA RENAL É o desenvolvimento incompleto dos rins. Animal nasce com um rim que não atinge o tamanho normal (hipoplásico), mas suas estruturas são proporcionais ao seu tamanho. Também é um achado de necropsia. Pode ser unilateral ou bilateral, sendo que a bilateral pode causar insuficiência renal. A e B, Rins hipoplásicos unilaterais, cães jovens. A, Corte dorsal. B. Macroscopicamente, o rim direito afetado é quase estruturalmente idêntico ao rim esquerdo, mas de tamanho menor (hipoplasia). Não confundir com o rim atrófico, o qual atinge o tamanho normal, mas após sofrer lesão (como por imunocomplexos, que leva a áreas de fibrose que diminuem o tamanho do rim) ele atrofia. Obs.: gato tem um rim mais claro, pois há gotículas de gordura em seu epitélio. CISTOS RENAIS São distensões esféricas, de parede fina e tamanho variável, principalmente dos túbulos corticais ou medulares e são preenchidos com fluido claro aquoso. Pode ser congênito (animal nasce), podendo ser solitários (suínos, bovinos e cães) ou policísticos (suínos, bovinos e gatos). Os mecanismos para formação do cisto renal são: → Obstrução de néfrons, o que aumenta a pressão luminal e causa dilatação secundária (dilatação cística); → Modificações na matriz extracelular resultam em membrana basal tubular enfraquecida, permitindo a dilatação sacular dos túbulos; → Hiperplasia epitelial tubular focal com produção de novas membranas basais, aumento da secreção tubular e aumento da pressão intratubular causam dilatações dos túbulos; → Diferenciação das células epiteliais tubulares podem causar modificações em sua polaridade e pressão intratubular aumentada, levando a dilatação. Os cistos solitários são focais e geralmente são um achado de necropsia. Localizam-se mais frequentemente na cortical, com um tamanho de 1 a 2 cm. Pode haver um ou mais cistos que fazem saliência na superfície do órgão. Micro: constituídos por membrana conjuntiva revestida por epitélio cúbico com compressão do parênquima renal adjacente. Rim de suíno com cistos solitários Os rins policísticos apresentam seu parênquima substituído por formações císticas numerosas, pequenas e coalescentes, podendo estar em um rim ou dois e podem causar insuficiência renal crônica. Os cistos apresentam diâmetro de milímetros a 3 cm e contem líquido em seu interior. O corte o rim policístico tem aspecto de “queijo suíço”. Os gatos Persa e os Bull Terrier são mais comuns de terem a síndrome do rim policístico (doença renal policística). Micro: os cistos são observados nas regiões cortical e/ou medular e suas paredes são constituídas por tecido conjuntivo fibroso revestido internamente por células cúbicas ou achatadas. Rim de suíno policístico com estruturas cavitárias nas regiões cortical e medular. Como também adquirido (cistos de retenção), que ocorre quando uma lesão renal não se regenera (atinge a membrana basal), havendo deposição de tecido conjuntivo fibroso no parênquima (fibrose). Esse tecido comprime parte do túbulo e ele se dilata, havendo formação do cisto por retenção, que são vistas como dilatações com líquido em seu interior, sendo usualmente pequenos (1 a 2 mm). Micro: cistos delimitados por epitélio tubular achatado ou cuboide de permeio com a grande quantidade de tecido conjuntivo fibroso. Animal pode viver normalmente, dependendo do grau de fibrose. A fibrose são áreas brancacentas e deprimidas no rim. O congênito é de um animal novo, não estando associado a fibrose! Cistos adquiridos em rins de cão. B. Rins com várias estruturas cavitárias no córtex interno. C. Rins com inúmeras estruturas cavitárias no córtex interno e na região medular. D. Micro de cistos de retenção: túbulos dilatados envoltos por intensa proliferação de tecido conjuntivo fibroso. DISPLASIA RENAL É o desenvolvimento anormal do néfron em decorrência de nefrogênese anômala, possuindo estruturas que ainda lembram a diferenciação embrionária do rim. Animal já nasce com insuficiência renal ou depois de meses já desenvolve essa insuficiência renal crônica. Pode ser unilateral ou bilateral. Acomete mais as raças de cães Lhasa Apso, Shih Tzu e Terriers Macro: superfície irregular com áreas deprimidas (pois a estrutura renal não foi corretamente formada), branco, firme e menor. Não confundir com fibrose, pois a fibrose ocorre em cães que já sofreram lesão renal. Micro: glomérulos e túbulos imaturos, aumento do interstício. Diferenciação assincrônica dos néfrons, inapropriada para a idade. Persistência do mesênquima primitivo (tecido conjuntivo intersticial com aspecto mixomatoso), persistência dos ductos metanéfricos, epitélio tubular atípico (adenomatoide) e presença de tecido cartilaginoso e/ou ósseo. Animal tem dificuldade na excreção de fósforo e retenção de potássio renal, aumentando a retenção de fósforo e isso reduz os níveis de cálcio na circulação. Com isso a paratireoide libera paratormônio para aumentar os níveis de cálcio por meio de reabsorção óssea dos ossos. Os primeiros ossos afetados são maxila e mandíbula, tornando-a uma estrutura maleável e de tamanho aumentado (mandíbula de borracha) pela deposição de tecido conjuntivo fibroso. Os dentes também ficam moles, pois os ossos em que eles estão fixados também sofrem perda de cálcio e deposição de tecido conjuntivo fibroso. A nefropatia progressiva juvenil (doença renal familiar) do Lhasa Apso, Shi-tzu, Golden retriver e talvez de outras raças caninas, pode ser um exemplo de displasia renal. RINS ECTÓPICOS E FUNDIDOS Os rins ectópicos são deslocados de sua localização sublombar normal, por causa da migração anormal durante o desenvolvimento fetal. Geralmente ficam na cavidade pélvica ou a posição inguinal. Os rins fundidos (ferradura) resultam da fusão dos polos craniais direito e esquerdo ou caudal direito e esquerdo dos rins durante a nefrogênese. NECROSE PAPILAR É a necrose da medular interna do rim. Ocorre por hipóxia decorrente de vasoconstrição dessa região, ocorrendo como doença primária em animais tratado com AINEs. A prostaglandina coordena a vasoconstrição ou vasodilatação dessa região do rim. Drogas como fenilbutazona e ácido acetilsalicílico são inibidores das prostaglandinas, causando essa necrose. Os esteroides atuam nas fosfolipases na cadeia do ácido araquidônico, interferindo a produção de prostaglandinas. Os AINEs inibem as ciclo-oxigenases, as quais agem na produção de prostaglandina. Sem prostaglandina temos vasoconstrição na medular interna do rim, levando a necrose papilar e pode causar também necrose tubular aguda. Equinos: fenilbutazona ou banamine (flunixin meglumine) e cães e gatos: aspirina, ibuprofeno e acetaminofeno. Macro: necrose papilar e pode haver cálculos renais.A medular interna fica mais macia a friável com áreas amareladas ou esverdeadas (necrose de coagulação) entremeadas por áreas avermelhadas (congestão e hemorragia). A necrose pode ser tão extensa que parte do tecido necrótico pode cair na pelve, podendo obstruir, levando a hidronefrose (não muito comum) ou a formação de cálculos. A medular interna remanescente em geral é atenuada. O córtex pode estar encolhido pela atrofia de alguns néfrons. Necrose papilar (crista medular), tratamento crônico com AINE, rim, corte dorsal, equino. Necrose aguda de coagulação da crista medular e medula interna (área esverdeada [setas]). Há também hemorragia da medula externa. O termo necrose papilar é usado para todos os animais, embora somente os suínos e bovinos possuam papila renal distinta. Em outros animais, elas se uniram para formar a crista medular. Associado a isso pode ocorrer gastrite hemorrágica, pois a prostaglandina, no estômago, estimula a produção de muco. Então sem muco, as células parietais produzem HCl, o qual lesa o estômago. A necrose papilar também pode ser secundária, resultando de redução do fluxo sanguíneo no vasa recta (por lesões glomerulares, compressão da vasa recta, fibrose intersticial, amiloidose medular renal intersticial ou por pielite) ou de compressão da papila renal (que ocorre por aumento da pressão intrapélvica secundária a cálculo pélvico, obstrução do trato urinário inferior ou refluxo vesicoureteral). RESPOSTA DOS TÚBULOS À LESÃO A lesão epitelial tubular ocorre por infecções transmitidas pelo sangue; infecções ascendentes; toxinas; isquemia, infarto. Quando néfrons são perdidos por causa de lesão, túbulos restantes podem sofrer hipertrofia compensatória em uma tentativa de manter a função renal global, mas não há regeneração dos néfrons. Na necrose por toxina, muitas vezes a membrana basal tubular permanece intacta, então o epitélio tubular tem grande capacidade de regenerar-se. Lesões graves ou a perda das membranas basais tubulares, como ocorre após lesão isquêmica, resulta em necrose e perda permanente dos segmentos tubulares. ATROFIA TUBULAR Ocorre secundariamente a compressão externa do túbulo por massa; fibrose intersticial; obstrução intratubular e contrapressão; filtração e perfusão glomerular diminuídas; redução na tensão de oxigênio. DEGENERAÇÃO TUBULAR AGUDA Perda generalizada mais grave das células epiteliais tubulares é reparada pela proliferação das células epiteliais viáveis remanescentes sobre uma membrana basal tubular intacta para formar uma camada de células cuboides mais baixas em vez de uma cobertura de epitélio colunar maduro. NECROSE (NEFROSE) TUBULAR AGUDA É a necrose dos túbulos contorcidos proximais (principalmente esses túbulos), os quais são mais susceptíveis a lesão, pois são mais sensíveis, importantes para excreção de substâncias e pelo grande volume de filtrado glomerular que reabsorvem. As células do epitélio tubular são mais susceptíveis a substâncias tóxicas e a isquemia. Também chamado de nefrose por ser uma forma de lesão não causada por inflamação. Independente da causa temos lesão do epitélio tubular, levando a degeneração e necrose e posteriormente descamação do epitélio para a luz (que causa oligúria ou anúria pois essa descamação obstrui o túbulo). A oligúria ou anúria ocorre por um dos dois mecanismos: → Vazamento do ultrafiltrado tubular dos túbulos lesados através das membranas basais rompidas no interstício; → Obstrução intratubular resultante do epitélio necrótico descamado. O túbulo pode se regenerar (quando não há acometimento da membrana basal) ou acarreta em fibrose. As causas isquêmicas têm maior tendência em resultar em fibrose e as tóxicas tendem mais a resultar em regeneração. Um dos primeiros eventos na lesão celular renal tubular é a alteração do transporte de íons na superfície luminal (captação). Esse processo resulta em diminuição da absorção de sódio e aumento de íons sódio no lúmen dos túbulos distais, o que estimula o mecanismo renina-angiotensina, causando vasoconstrição e redução do fluxo sanguíneo, o que resulta em isquemia e lesão celular tubular. Macro: rim tumefeito (aumentado), liso, brilhante e mais arredondado e cápsula lisa. Córtex edemaciado, mogno pálido a bege. Ao corte o córtex está saliente e úmido; as estriações estão diminuídas ou acentuadas por estrias radialmente orientadas, opacas e esbranquiçadas (necrose). Medular pálida ou congesta. Nefrose isquêmica em rim de cão, com estriações esbranquiçadas no córtex interno Micro: degeneração e perda das vilosidades (túbulo contorcido proximal); necrose de coagulação; membrana basal rompida (fibrose) ou íntegra (regeneração); picnose, cariorrexia ou cariólise nas células tubulares; descamação do epitélio tubular necrótico para a luz tubular; no começo da regeneração as células são achatadas (semelhante a um endotélio). Necrose tubular aguda, rim, túbulos proximais, gato. A. Esta lesão caracteriza-se principalmente por necrose de coagulação das células epiteliais tubulares (setas) e picnose nuclear e os debris nucleares e proteicos intratubulares (ponta de setas). Coloração H&E. B. Esta lesão caracteriza-se principalmente por picnose nuclear (setas), cariorrexe (pontas de seta) e cariólise (ponta de seta 1) com debris nucleares e proteicas intratubular e necrose de coagulação com desprendimento do epitélio da membrana basal tubular (pontas de seta 2). Coloração H&E. Uma lesão histológica característica da necrose tubular isquêmica é a possível ruptura da membrana basal tubular (tubulorrexia). A. Ambos os insultos causam necrose tubular aguda caracterizada por edema celular, picnose, cariorrexia e cariólise. B. Subsequentemente à necrose nefrotóxica, há desprendimento do epitélio necrótico para a luz dos túbulos. As membranas basais permanecem intactas e atuam como um suporte para (C) ocorrer regeneração tubular. D, A isquemia pode resultar em tubulorrexia. As células epiteliais necróticas são descamadas para a luz tubular, a membrana basal é rompida e ocorre infiltração de macrófagos e proliferação de fibroblastos. E, O resultado é a fibrose com atrofia tubular. Causa Hipóxia ou Isquêmica Ocorre por redução da perfusão renal, sendo as causas: hemorragias extensas e/ou intensas (se for um processo mais lento que não causa choque hipovolêmico, temos hipóxia renal, pois há vasoconstrição periférica e com isso há a necrose tubular aguda); desidratação; anemia; insuficiência cardíaca congestiva (diminui a perfusão renal pelo sistema renina- angiotensina-aldosterona, mas é difícil correr). Ocorre vasoconstrição das arteríolas aferentes e redução da filtração glomerular. Geralmente rompe membrana basal, causando fibrose. Causa Nefrotóxica Causada por nefrotoxinas que danificam os rins, pois 20% a 25% do débito cardíaco vai para o rim; a substância é filtrada na urina pelo glomérulo; a toxina ou seus metabólitos dentro do lúmen tubular renal estão concentrados. Os rins são importantes para biotransformação de drogas e tóxicos, sendo que a nefrose tóxica pode ser reversível se houver preservação da membrana basal. Exemplo de substâncias exógenas: aminoglicosídeos (como gentamicina), tetraciclinas, sulfonamidas (formam cristais), antifúngicos (como anfotericina B), metais pesados (como chumbo), micotoxinas (como ocratoxina), cisplatina. Causam lesão quando em uma dose elevada. Exemplo de endógenos: hemoglobina, mioglobina, bilirrubina. Hemoglobinúria: ovinos por intoxicação por cobre; bovinos: leptospirose ou babesiose; cães: babesiose ou anemia hemolítica autoimune. Mioglobinúria: equinos: azotúria; animais silvestres: captura; trauma muscular. Quando temos hemoglobinúria é um sinal que está havendo muito rompimentode hemácias (como em anemia hemolítica autoimune, babesiose, leptospirose, transfusão de sangue incompatível), sendo a hemoglobina tóxica ao rim. Normalmente, a hemoglobina circulante é eliminada pelo sistema reticoendotelial. Se a hemólise exceder a capacidade desse sistema de remover a hemoglobina, esta se acumulará no sangue (hemoglobinemia), sendo eliminada pela urina (hemoglobinúria) quando as moléculas transportadoras de hemoglobina (haptoglobina) já estão todas consumidas. A hemoglobina não é uma nefrotoxina primária, mas causa nefrose em associação à baixa tensão de oxigênio causada pela hemólise (isquemia renal). Macro: córtex renal com hemoglobinúria se cora em vermelho-acastanhado ou negro-azulado; medular difusamente vermelho-escura ou com manchas e estrias avermelhadas. Micro: degeneração epitelial dos túbulos proximais e necrose e os lúmens tubulares são preenchidos por abundante material granular refringente vermelho-alaranjado, de aparência característica do composto heme, sendo cilindros hialinos. Urina enegrecida com “cor de Coca-Cola”. Fígado pode ter necrose centrolobular em decorrência da hemólise. Nefrose hemoglobinúrica, rim. A, Cão. Intensa coloração de hemoglobina no córtex e medula, secundária à hemoglobinemia em decorrência de crise hemolítica intravascular aguda. Observe a coloração amarelada (icterícia) da gordura pélvica e da íntima, em corte transversal da artéria arqueada na junção corticomedular. B, Ovino. Vários túbulos distais contêm cilindros hialinos e de hemoglobina finamente granular que ocorreu após hemólise intravascular (hemoglobinemia) resultante da toxicose cúprica crônica. Coloração H&E. O cobre em excesso causa ruptura de hemácias, sendo que em ruminantes há cobre nas rações, sendo importante, porém o excesso causa a intoxicação, sendo ovinos mais susceptíveis a intoxicação. A Babesia também causa hemólise. A Leptospira em bovinos causa hemólise. Essa hemólise é intravascular, pois na extravascular geralmente ocorre icterícia. Geralmente a intoxicação por cobre em ovinos ocorre quando o produtor fornece ração de bovino (que tem mais cobre) para ovinos, para dar suplementação. Porém, o cobre em excesso faz lise de hemácias. O cobre também tem relação com o molibdênio, sendo que sua concentração interfere na de cobre. Muito molibdênio aumenta a concentração de cobre circulante, pois o cobre se liga ao molibdênio. A mioglobinúria ocorre na miopatia por captura de animais selvagens, na azotúria de equinos (mal da segunda-feira) e nos traumas musculares graves. Ela passa com liberdade pelo glomérulo por ser uma molécula pequena. O aspecto macroscópico da urina e dos rins com nefrose mioglobinúrica é semelhante ao da nefrose hemoglobinúrica. Micro: igual hemoglobinúria, ou seja, cilindros hialinos (eosinofílicos e homogêneos) na luz tubular. A nefrose colêmica ocorre quando a bilirrubina é acumulada no epitélio dos túbulos renais, como nos casos de icterícia. O rim fica com coloração amarelada ou esverdeada e até enegrecida. Obs.: a hemoglobina pode ter papel isquêmico também, pois está havendo rompimento de hemácias, então há hipóxia Geralmente não rompe membrana basal, havendo regeneração. NEFROSE POR ÁCIDO ÚRICO Causada pela precipitação de cristais de ácido úrico nos túbulos renais. Os rins de suínos, cães e gatos recém- nascidos são imaturos e incapazes de produzir urina hipertônica. Quando esses animais apresentam anorexia com perda de fluidos e eletrólitos, começam a catabolizar as proteínas teciduais, e os níveis sanguíneos de ureia e ácido úrico tornam-se muito elevados. NEFROCALCINOSE A nefrocalcinose distrófica ocorre quando há lesão prévia do tecido renal, após processos degenerativos e/ou inflamatórios do rim. O cálcio que se precipita é o intracelular e proveniente das células lesionadas. A nefrocalcinose metastática é decorrente da hipercalcemia e, para que ela ocorra, não é necessário haver lesão prévia do tecido renal. Esse tipo de nefrocalcinose pode ser encontrado como manifestação do hiperparatireoidismo primário, intoxicação por vitamina D (pode causar nefrocalcinose metastática e/ou distrófica), excesso de cálcio alimentar e neoplasias que resultam em hipercalcemia da malignidade (linfossarcoma e osteossarcoma). NEFRITE INTERSTICIAL OU TUBULOINTERSTICIAL A inflamação no interstício é chamada de nefrite intersticial, podendo ter causa infecciosa ou não. Ocorre como resultado de infecções ascendentes (pielonefrite), por infecções de origem sistêmica dos túbulos e interstícios, toxinas, ou secundária a lesão tubular e glomerular. Na nefrite tubulointersticial ocorre inflamação nos túbulos e interstício. Há um infiltrado inflamatório no interstício e túbulos renais. Pode resultar de septicemia bacteriana ou viral, onde o agente inicialmente infecta os túbulos renais, incitando uma resposta inflamatória no interstício. Micro: independente do padrão, há um infiltrado inflamatório no interstício e no interior dos túbulos. Espessamento do interstício, células epiteliais tubulares degeneradas, necróticas ou ambas. Pode ocorrer eventual fibrose. Macro: áreas multifocais brancacentas irregulares não elevadas (se for granuloma pode ficar mais elevado). Na supurativa as áreas são friáveis. Na mononuclear não se destacam. Mas independente do padrão, são áreas multifocais a coalescentes brancas. O mais comum de nefrite tubulointersticial é ter um padrão mononuclear (linfócitos, plasmócitos, macrófagos), como na leptospirose, leishmaniose, circovirose. Sendo que esse infiltrado pode ocorrer na nefrite tubulointersticial aguda e crônica. O agente Leptospira realiza a leptospiremia e chega pela circulação, atingindo o rim pelos capilares intersticiais (incita resposta inflamatória mononuclear) e persistem no interstício. Depois migram para o túbulo, alcançando a luz tubular renal, associam-se a microvilosidades epiteliais e persistem nos fagossomos do epitélio dos túbulos contorcidos proximais e distais. Com isso, induzem degeneração e necrose das células epiteliais tubulares, como resultado de efeitos tóxicos diretos ou pela reação inflamatória intersticial. NEFRITE TUBULOINTERSTICIAL A nefrite tubulointersticial crônica pode ocorrer como evolução da aguda, como manifestação secundária de glomerulonefrite crônica ou pielonefrite crônica ou é produzida após lesão imunomediada aos túbulos renais. Nefrite tubulointersticial crônica. A. Observe a nodularidade da superfície capsular (direita) devido a fibrose intersticial crônica e reduzida largura do córtex (atrofia) (esquerda). B. Existe um intenso infiltrado intersticial linfoplasmocítico (setas). Coloração H&E. C. Fibrose medular e cortical, variáveis graus de atrofia tubular e infiltrado celular intersticial mononuclear. Coloração tricromo de Masson. D. As estrias pálidas e os focos no córtex são principalmente infiltrados linfoplasmocitários intersticiais. Como exemplo, o adenovírus canino, que se localiza no glomérulo (glomerulite viral) após viremia. Com isso produz glomerulonefrite por imunocomplexo, depois recupera da fase aguda, iniciando uma resposta imunossistêmica. Dessa forma, o vírus desaparece dos glomérulos para reaparecer nas células epiteliais tubulares, onde causa necrose e nefrite intersticial crônica linfocítica e plasmocítica. NEFRITE EMBÓLICA SUPURATIVA (GLOMERULITE SUPURATIVA AGUDA) No padrão supurativo (embólica supurativa) de nefrite intersticial ou tubulointersticial temos como exemplos garrotilho, endocardite valvular (Trueperella puyogenes em bovinos), onfaloflebite. Infiltrado PMN (neutrófilos no interstício e túbulos). Embólico, pois o rim tem pontos multifocais de lesão supurativa. Patogenia: é resultado de bacteremia,onde a bactéria se aloja nos glomérulos ou nos capilares intersticiais, formando lesões multifocais (microabscessos) por todo o córtex. Macro: pontos multifocais acastanhados, salientes na superfície. Ao corte esses pontos estão por todo o córtex. Nefrite embólica (glomerulite supurativa), rim, equino. A, Focos necróticos múltiplos, pequenos, pálidos a esbranquiçados e abscessos estão presentes sob a cápsula. Micro: pontos multifocais de processo inflamatório supurativo. Glomérulos com colônias bacterianas (basofílicas), debris necróticos e infiltrado de neutrófilos. Nefrite embólica. As bactérias causadoras (seta) penetram no rim via circulação sanguínea (bacteremia) e se alojam nos capilares glomerulares, onde se replicam e induzem necrose e inflamação. Coloração H&E Bovinos: Staphylococcus aureus, Mannheimia haemolytica e Streptococcus boivs. Equinos: actinobacilose de potros (Actinobacillus equuli). Obs.: exemplo de necropsia em bovino: rim com superfície amarelada e muito aumentado, dilatação do ureter. Áreas multifocais amareladas macias a friáveis (supurativa), áreas avermelhadas (de hemorragia, não sendo muito comum de ocorrer). O processo vem via hematógena, podendo migrar para pelve renal (sendo chamado de pielonefrite). No rim contralateral havia hidronefrose, isso porque no outro rim houve a formação de secreção supurativa e com descamação epitelial que se acumulou no ureter, chegando na vesícula urinária, obstruindo os dois ureteres. Com isso houve a hidronefrose. Outra via que pode ter bactéria: via ascendente, sendo oriundo da vesícula urinária, subindo para pelve, causando pielonefrite. NEFRITE GRANULOMATOSA No padrão granulomatoso, temos como exemplos tuberculose (Mycobacterium) e Toxocara canis (pode migrar ao rim, causando a resposta granulomatosa. Suas larvas também induzem resposta imune celular granulomatosa). Nefrite granulomatosa, rim, córtex, cão. A, Múltiplos granulomas subcapsulares, corticais, castanhos, causados por larvas migratórias de ascarídeos. B. Um granuloma composto de larva do parasito localizado centralmente e cercado por macrófagos epitelioides e tecido conjuntivo fibroso arranjado concentricamente e células inflamatórias. Coloração H&E. No detalhe, Larva de áscaris. Há formação de granulomas cinza- esbranquiçados a marrom-claros, secos e granulares multifocais no rim. Micro: centro necrótico rodeado por macrófagos epitelioides, células gigantes e macrófagos. Em bovinos pode ocorrer pela toxicose por ervilha (Vicia villosa). GLOMÉRULO O glomérulo é um tufo contorcido de capilares recobertos por uma camada de endotélio fenestrado, mantidos juntos pelo mesângio. Ele é suportado pela matriz mesangial que é secretada pelas células mesangiais (células mesenquimais contráteis e fagocíticas capazes de sintetiza colágeno e matriz mesangial, além de secretar mediadores inflamatórios). O capilar glomerular é abraçado por podócitos, que possuem prolongamentos primários e secundários que são importantes para a filtração do sangue. Esse capilar é fenestrado para permitir a filtração de substâncias pequenas. A albumina, por exemplo, não passa pelas fenestras quando não há lesão. A barreira de filtração glomerular é composta de pedículos de podócitos, lâmina basal e endotélio fenestrado. O endotélio possui uma lâmina basal, que descansa o endotélio e os prolongamentos secundários dos podócitos. Epitélio visceral: podócitos. Epitélio parietal: epitélio da cápsula de Bowman. As células mesangiais auxiliam na fagocitose e suporte do glomérulo. RESPOSTA À LESÃO O insulto ao glomérulo é refletido por necrose, espessamento das membranas ou infiltração de leucócitos e por perfusão vascular reduzida. Insultos graves ou contínuos resultam em atrofia e fibrose do glomérulo (esclerose) e secundariamente em atrofia dos túbulos renais. A lesão da barreira de filtração glomerular pode resultar em perda de proteína de baixo peso molecular (como albumina), sendo que as doenças que resultam em proteinúria são chamadas de nefropatias com perda proteica. A perda proteica causa hipoproteinemia, reduzindo a pressão oncótica, o que leva ao edema generalizado (anasarca). A lesão pode ocorrer por hipertensão (como por pressão hidrostática ou oncótica aumentada), levando a hiperfiltração e dano repetitivo ao glomérulo, por deposição de imunocomplexos e por outras causas. GLOMERULONEFRITE IMUNOMEDIADA Resulta de mecanismos imunomediados, como após a deposição de imunocomplexos no glomérulo ou após a formação de anticorpos contra antígenos da membrana basal. Em animais o comum é a formação de imunocomplexos (Ag-Ac), sendo que a outra forma ocorre em primatas (incluindo humanos). A glomerulonefrite por imunocomplexo é mais comum em cães e gatos, sendo causada pelos seguintes agentes: ✓ Cão: hepatite infecciosa canina (HIC por adenovírus), prostatite, piometra, anemia hemolítica autoimune, leishmaniose, parasitismo crônico (dirofilariose), neoplasias; ✓ Gato: peritonite infecciosa felina (PIF), FeLV, FIV, neoplasias; ✓ Bovino: Diarreia Viral Bovina, Tripanossomiase. ✓ Equino: Anemia Infecciosa Equina (AIE), Streptococcus sp. (garrotilho). ✓ Suíno: circovírus, peste suína africana. Macro: rins tumefeitos, pálidos a cor normal, pontos vermelhos ou granular (são glomérulos evidentes). Cortical granular (glomérulos evidentes) e enrugada. Glomerulonefrite, rim, corte dorsal, cão. Os pequenos focos brancos e arredondados no córtex são glomérulos aumentados. O equino normalmente possui glomérulos mais evidentes por natureza, necessitando então diferencial; além disso na pelve há uma substância amarelada mucosa (produzida por glândulas mucosas na pelve), que pode fazer pensar em pielonefrite, mas não é. Obs.: na macro pode parecer nefrite intersticial. Micro: pode ter padrão membranoso ou membranoproliferativo. Patogenia Os complexos imunes (Ag-Ac) são formados e depositados na membrana basal, sendo acima do endotélio ou abaixo do epitélio dos podócitos. Com a deposição, ocorre a ativação e fixação do sistema complemento via clássica e com isso ativação de células efetoras (epiteliais viscerais, endoteliais, mesangiais, células inflamatórias) e produção de moléculas efetoras (citocinas, oxidantes, proteinases dos neutrófilos, metabólicos do ácido araquidônico) que causam lesão na membrana basal, célula endotelial e podócitos. A lesão glomerular ocorre por agregação de plaquetas e ativação do fator de Hageman, que resulta na formação de trombos de fibrina que produzem isquemia; por ataque direto do complexo de ataque à membrana; por citotoxicidade de linfócitos T; pelas moléculas efetoras citadas; neutrófilos que chegam por quimiotaxia, atraídos por C3a e C5a, causando danos ao tentar fagocitar os imunocomplexos. Com isso, há perda da membrana de filtração, levando a passagem de albumina e outras proteínas plasmáticas, resultando na formação de cilindros hialinos na luz dos túbulos renais. Glomerulonefrite membranosa Mais comum em gatos. Imunocomplexo se deposita abaixo do epitélio visceral (abaixo dos podócitos). Ocorre estímulo para espessamento da membrana basal do capilar glomerular e da cápsula de Bowman por causa da presença dos depósitos subepiteliais de imunocomplexos. Patogenia é a mesma. Micro: áreas eosinofílicas homogêneas espessadas (membrana basal espessada) e cápsula de Bowman espessada. GN membranosa, cão. A lesão é caracterizada pelo espessamento hialino generalizado das membranas basais dos capilares glomerulares. Coloração H&E. Glomerulonefrite membranoproliferativa Mais comum em cães. Imunocomplexo se deposita acima das células endoteliais (abaixo da membrana basal). Ocorre espessamento da membrana basal e hipercelularidade(muitos núcleos, sendo células mesangiais, podócitos, endotélio e células inflamatórias). Pode ser do tipo I: depósito subendotelial e do tipo II: depósito no interior do espaço subendotelial. Micro: áreas eosinofílicas homogêneas espessadas (membrana basal espessada) e muitos núcleos. GN membranoproliferativa, cavalo. Fibrose periglomerular circunda esse glomérulo hipercelular (células mesangiais). A matriz mesangial é proeminente na área superior direita do glomérulo. Coloração H&E. Outras alterações encontradas são adesões entre as células epiteliais do tufo glomerular e da cápsula de Bowman, hipertrofia e hiperplasia do epitélio parietal que recobre a cápsula de Bowman, deposição de fibrinogênio e trombo fibrinoso nos capilares glomerulares e túbulos renais com cilindros hialinos. Antes também havia a classificação de proliferativa também, mas ela se tornou membranoproliferativa. Glomeruloesclerose Na glomerulonefrite crônica, os glomérulos afetados diminuem de tamanho e se tornam hialinizados devido ao aumento do tecido conjuntivo fibroso e matriz mesangial e perda de capilares glomerulares. Esses glomérulos hipocelulares e não funcionais ocorrem pela glomeruloesclerose, sendo que esse processo pode reduzir o fluxo sanguíneo, causando hipóxia dos túbulos e morte por apoptose das células epiteliais tubulares, que são descamadas, causando proteinúria crônica. A glomeruloesclerose é o estágio terminal da glomerulonefrite, mas também pode se desenvolver em qualquer doença crônica que cause lesão dos néfrons. AMILOIDOSE GLOMERULAR A proteína amiloide pode se depositar em glomérulos, podendo causar amiloidose AL (por mieloma de plasmócitos) ou amiloidose AA (por deposição de proteína associada à amiloide SAA). Como consequência pode ocorrer nefropatia com perda proteica e redução do fluxo sanguíneo glomerular conduzindo a atrofia tubular, degeneração, fibrose e necrose papilar. Macro: rins aumentados, pálidos, superfície capsular lisa ou finamente glomerular. Glomérulos evidentes como postos translúcidos. Ao corte, o córtex está granular com focos brilhantes dispersos. Micro: glomérulo aumentado, hipocelular, hialino e eosinofílico. Necessário diferencial com glomeruloesclerose, ocorrendo pela coloração Vermelho Congo que evidencia o amiloide na luz polarizada como uma birrefringência verde. GLOMERULITE VIRAL Causada por insulto viral direto ao glomérulo por doenças virais sistêmicas (como hepatite canina infecciosa aguda). As lesões são discretas e geralmente transitórias. Macro: rins edemaciados com coloração normal a discretamente pálida, cápsula renal lisa. Ao corte, os glomérulos são visíveis como pontos avermelhados no córtex renal. Micro: inclusões intranucleares podem ocorrer por vírus da hepatite canina infecciosa e por citomegalovírus. FIBROSE RENAL (CICATRIZAÇÃO) A fibrose pode ocorrer se a toxina não for removida ou se houver rompimento da membrana basal (como na causa isquêmica). A deposição de imunocomplexos, a nefrite intersticial e a nefrose tubular aguda se prolongadas podem se tornar um processo crônico, causando insuficiência renal crônica. Dependendo da extensão da lesão e do rompimento da membrana basal ocorre a deposição de tecido conjuntivo fibroso, sendo irreversível. Basicamente é a reposição do parênquima renal por tecido conjuntivo fibroso. Ocorre quando a lesão não conduz para regeneração. Geralmente ocorre após infarto, glomerulonefrite, amiloidose, doença tubulointersticial crônica ou doença pélvica crônica. Macro: rins de aspecto pálido, marrom a esbranquiçado, enrugado, com depressões na superfície e consistência firme, associado à excessiva aderência da cápsula ao córtex. Pode ser difusa e finamente pontilhada, com depressões puntiformes e granularidade. Há, portanto uma atrofia renal. Lembrando que hipoplasia não está relacionada com fibrose, pois a hipoplasia é congênita, não tendo lesão. Micro: aumento no tecido conjuntivo fibroso intersticial e desaparecimento dos túbulos renais. Os túbulos remanescentes são atróficos e com diâmetro luminal reduzido, estando cobertos por um epitélio achatado. Focos de linfócitos e plasmócitos (infiltrado inflamatório mononuclear, pois é um processo crônico) podem estar no interstício (nefrite intersticial). Cistos de retenção podem estar presentes. Na clínica há insuficiência renal crônica e uremia. Com isso, há incapacidade do animal em concentrar urina, causando poliúria, que é acompanhada por desidratação e excessiva ingestão de água (polidipsia). Fibrose renal. A, Corte dorsal, córtex. Essa lesão caracteriza-se por fibrose intersticial, atrofia tubular e infiltrado intersticial de linfócitos e plasmócitos. Os corpúsculos renais têm glomérulos contraídos com aumento do volume da matriz mesangial e espessamento das cápsulas de Bowman. Coloração H&E. B, Maior aumento de A. INFARTOS RENAIS São áreas de necrose de coagulação que resultam de isquemia local de oclusão vascular. Ocasionalmente, os êmbolos podem ocluir a artéria renal, causando infarto de todo o rim. Às vezes, o êmbolo oclui as artérias interlobares/arqueadas, causando infarto no córtex e na medula ne forma de cunha (em corte transversal do rim). Mais comumente, os êmbolos obstruem muitos vasos menores (artérias interlobulares), causando vários infartos menores envolvendo apenas o córtex. Macro: a princípio são ligeiramente edemaciados e avermelhados por causa da hemorragia e, posteriormente, se tornam amarelo-acinzentados e pálidos em 2 a 3 dias por causa da lise dos eritrócitos e perda de hemoglobina. O infarto cicatrizado (fibrose) é deprimido, pálido e enrugado. PELVE RENAL PIELONEFRITE É a inflamação da pelve renal e da medular interna e externa. A pielite é a inflamação da pelve renal, sendo a pielonefrite a inflamação da pelve renal e do parênquima. Ocorre em duas situações: ascendente (extensão da infecção bacteriana que acomete o trato urinário inferior) e descendente (infecções bacterianas via hematógena, portanto, nefrite embólica) ou também por Dioctophyma renale. Diagrama esquemático das vias de infecção renal. Infecção descedente resulta da bacteremia. Mais comum é a infecção ascendente, que resulta de uma combinação de infecção da bexiga urinária, refluxo vesicoureteral e refluxo intrarrenal. Agentes: Escherichia coli, Staphylococcus sp, Streptococcus sp, Enterobacter sp., Corynebacterium renale e Trueperella pyogenes. Macro: pode ser unilateral, mas em geral é bilateral. As membranas mucosas pélvicas e ureterais podem estar agudamente inflamadas, espessadas, avermelhadas, rugosas ou granulares e cobertas com um fino exsudato. A pelve e os ureteres podem estar dilatados e apresentar exsudato purulento na luz. A papila renal em geral está ulcerada e necrótica. O envolvimento renal é evidenciado pelas estrias irregulares, radialmente orientadas, avermelhadas ou acinzentadas envolvendo a medula e se estendendo em direção e, geralmente, alcançando a superfície renal. Pielonefrite. Corte dorsal, cão. Extensa inflamação pélvica destruiu áreas (cinza-branco) da medula interna e estende-se focalmente em direção à medula externa Micro: infiltrado polimorfonuclear no interstício, descamação de células. As lesões agudas mais severas habitualmente são encontradas na medular interna. O epitélio está, em geral, focal ou difusamente necrótico e descamado. Debris necróticos, fibrina, neutrófilos e colônias bacterianas podem estar aderidos à superfície desnudada. Os túbulos medulares estão dilatados e sua luz contém neutrófilos e colônias bacterianas. Lesões tubulares e intersticiais similares, embora menos severas, estendem-se radialmente para os túbulos corticais e interstício. Quandoas lesões se tornam subagudas, linfócitos, plasmócitos e monócitos infiltram o interstício. As lesões crônicas apresentam fibrose intensa. Na pielonefrite crônica há elementos da inflamação aguda e extensa necrose da medula, fibrose multifocal na medula externa e córtex e variável quantidade de exsudato inflamatório pélvico, além de deformidade visível na macro e cicatriz irregularmente distribuída visível como região deprimida na superfície capsular. Via ascendente A ascendente é mais comum, sendo uma das causas a cistite (inflamação da vesícula urinária), que é um fator predisponente para que as bactérias que estão causando lesão ascendam ao rim e endotoxinas. A patogenia depende do refluxo anormal de urina contaminada com bactérias do trato urinário inferior para a pelve renal e ductos coletores (refluxo vesicoureteral). Esse refluxo ocorre mais facilmente quando a pressão aumenta na vesícula urinária, como, por obstrução uretral e também por: ✓ Cistite, onde há alteração no epitélio (por edema, pelas bactérias e por outras consequências da inflamação) e com isso a válvula vesicoureteral (que impede o refluxo de urina quando a vesícula urinária está cheia) fica comprometida, causando refluxo; ✓ Endotoxina, liberada por bactérias Gram-negativas que infectam o ureter e a bexiga, pode inibir o peristaltismo ureteral normal, causando refluxo. Assim as bactérias podem infectar e ascender os ductos coletores, causar necrose epitelial tubular e hemorragia e incitar uma evidente resposta inflamatória. A infecção bacteriana pode progressivamente ascender no interior dos túbulos e interstício, até que as lesões inflamatórias se estendam da pelve para a cápsula. Vale destacar que cistite é mais comum em fêmeas. Pela anatomia geniturinária da fêmea, a proximidade do trato geniturinário com o trato digestório (ocorre contaminação do trato urinário inferior por conteúdo gastrointestinal), por contaminação dermatológica (dermatite perivulvar) e pelo tamanho reduzido da uretra, a cistite é mais comum em fêmeas. Já em machos é mais comum a formação de cálculos na uretra, por possuírem uma uretra mais longa. Escherichia coli, especialmente as cepas uropatogênicas, é uma das causas mais comuns. Macro: inflamação na vesícula urinária (cistite, com mucosa espessa, deposição de fibrina, pus) e na pelve renal (com pus). Via descendente A infecção descendente ocorre por via hematógena, onde há um processo inflamatório em outro órgão que realiza bacteremia e atinge o rim, causando nefrite embólica, podendo evoluir para essa pielonefrite. Macro: padrão de nefrite embólica, evoluindo para a pelve renal (pielonefrite). HIDRONEFROSE É a dilatação da pelve, por causa da obstrução do fluxo urinário, sendo causada por aumento lento ou intermitente da pressão pélvica. A obstrução pode ser causada por hiperplasia prostática (próstata aumentada, obstruindo uretra, causando acúmulo de urina na vesícula urinária, que faz refluxo para o rim), neoplasias (em qualquer local que interrompa o fluxo de urina normal, como neoplasias ureteral e uretral), paralisia da bexiga (ocorre refluxo de urina para o rim), anomalias congênitas (como estenose de ureter ou uretra, má formação congênita do ureter, junção vesiculoureteral ou uretra ou rins mal posicionados congenitamente), inflamação crônica, desordens de função neurogênica e cálculos. Ocorre a produção de urina, mas não há sua eliminação, causando aumento de pressão e a dilatação da pelve. A hidronefrose não reverte, mesmo sendo discreta ou moderada. Pode ser unilateral ou bilateral, sendo a unilateral causada pela obstrução dos ureteres em qualquer ponto de seu comprimento e a bilateral por obstrução uretral, obstrução ureteral bilateral ou lesões da vesícula urinária extensas centradas no trígono. A bilateral tem prognóstico pior. Se a obstrução causar bloqueio parcial, a hidronefrose bilateral pode ser notável pelo acúmulo de urina na pelve em expansão. Quando a obstrução é completa e bilateral, a morte ocorre por uremia antes de ter macro evidente. Patogenia: o refluxo da urina traz a urina de volta aos túbulos coletores, aumentando a pressão intratubular (dilatação dos túbulos), o que faz que a filtrado glomerular saia para o interstício, sendo ele removido por vasos sanguíneos e linfáticos. Isso aumenta a pressão do interstício, comprimindo e colapsando os vasos, o que resulta em fluxo sanguíneo renal reduzido, levando a hipóxia, atrofia e necrose tubular e, se o aumento de pressão persistir, fibrose intersticial. Macro: alterações precoces da hidronefrose incluem a dilatação da pelve e dos cálices e achatamento das cristas renais e papilas. Quando a dilatação pélvica for progressiva, a silhueta renal torna-se maior e mais arredondada do que o normal, e o córtex e a medula, progressivamente afinados. A contínua dilatação pélvica causa perda dos túbulos por degeneração e atrofia, seguida pela condensação do tecido conjuntivo intersticial e fibrose do parênquima renal. Em sua forma mais avançada, o rim hidronefrótico é um saco de parede fina preenchido por fluido. Hidronefrose, corte dorsal, ovino. A pelve de cada rim está acentuadamente dilatada. NEOPLASIAS (TRATO URINÁRIO SUPERIOR) A prevalência das neoplasias renais primárias em animais domésticos corresponde a menos de 1% do total das neoplasias relatadas. TUMORES EPITELIAIS Os adenomas renais são neoplasias epiteliais benignas, raras, constituídas por proliferações de células epiteliais do córtex renal, mais frequentemente relatados em cães, gatos e cavalos. Macro: massas não capsuladas, pequenas, brancas a amareladas, solitárias e bem circunscritas, no córtex. Os carcinomas renais são mais comuns e ocorrem mais em cães idosos. São causados em modelos experimentais por oncogenes de herpes vírus, carcinógenos químicos e mutações genéticas. Os papilomas de células transicionais e os carcinomas de células transicionais se desenvolvem na pelve renal e no trato urinário inferior e, quando grandes, podem obstruir o fluxo urinário. TUMORES MESENQUIMAIS Os sarcomas renais primários são raros, podendo ser fibrossarcomas ou hemangiossarcomas. TUMORES METASTÁTICOS São compostos de múltiplos nódulos randomicamente distribuídos, geralmente envolvendo ambos os rins. O linfossarcoma renal ocorre com alguma frequência em bovinos e felinos, particularmente secundário à infecção por retrovírus. Esses focos neoplásicos aparecem como nódulo único ou múltiplo, homogêneo, branco-acinzentado ou como infiltrados linfomatosos difusos. Fibrossarcomas, hemangiossarcomas e carcinomas (principalmente mamários) também podem metastizar nos rins. TUMORES DE ORIGEM EMBRIONÁRIA Nefroblastomas (nefroma embrionário ou tumor de Wilms) são neoplasias renais comuns de suínos e aves e geralmente são achados incidentais. Ocorrem também em bovinos e caninos com menos frequência. Elas se originam do blastema metanéfrico e, assim, ocorrem em animais jovens. TRATO URINÁRIO INFERIOR ANOMALIAS DO DESENVOLVIMENTO Aplasia e Hipoplasia A aplasia ureteral (agenesia) é a ausência da formação do ureter e hipoplasia é o ureter com diâmetro muito reduzido. A agenesia pode ser uni ou bilateral. Resultam em interrupção do fluxo urinário do rim para a vesícula urinária, levando a hidronefrose. Ureteres ectópicos São ureteres que podem se esvaziar na uretra, vagina, colo da bexiga, ducto deferente, próstata ou outras glândulas sexuais secundárias. Eles estão mais sujeitos à obstrução ou infecção, predispondo o animal a pielonefrite. Patência do úraco Ocorre quando há falha no fechamento do úraco fetal, levando a formação de um canal direto entre o ápice da bexiga e o umbigo. Frequentemente observadonos casos de onfalite “neonatal”, onde o abscesso formado resulta na patência do úraco. Também pode ocorrer por causa da obstrução uretral congênita. Os potros são mais comumente afetados e os animais gotejam urina do umbigo. HIDROURETER E HIDROURETRA Refere-se à dilatação do ureter e da uretra, respectivamente, e são causados pela obstrução do fluxo urinário pelo bloqueio do(s) ureter(es) ou da uretra por cálculos, inflamação crônica ou neoplasia luminal ou intramural. O hidroureter pode ser uni- ou bilateral. Dependendo da localização da obstrução, hidronefrose, hidroureter e hidrouretra podem ocorrer concomitantemente. UROLITÍASE A urolitíase ocorre quando há precipitação de metabólitos de excreção na urina para formar cálculos nas vias urinárias. Os cálculos urinários (urólitos) são concreções formadas pela precipitação de sais de ácidos ou por outros elementos em associação a uma matriz orgânica (proteína). São mais frequentemente encontrados no ureter e menos comumente na pelve renal, mas podem estar em qualquer local do trato urinário. Possuem maior importância em bovinos, ovinos, cães e gatos. Exemplos de fatores predisponentes são: defeitos hereditários (cálculos de uratos são frequentes em Dálmatas); concentrações altas de uma substância na dieta (como magnésio em rações para felinos, alimentos ricos em fosfato, ingestão de plantas contendo oxalatos); concentrações baixas de uma substância na dieta (como vitamina D). Os fatores mais importantes na formação dos cálculos são: ✓ pH urinário ótimo para a precipitação do soluto; ✓ Reduzido consumo de água; ✓ Infecção bacteriana do trato urinário inferior (cálculo de estruvita em cães): as colônias bacterianas, juntamente com o epitélio esfolado e os leucócitos, podem servir de núcleo; ✓ Obstrução; ✓ Corpos estranhos, colônias bacterianas, epitélio esfoliado ou leucócitos, que servem de núcleo para precipitação de minerais; ✓ Estrógeno: predispõe, principalmente ovinos, à formação de cálculos. A supersaturação da urina é o precursor essencial para a iniciação da formação do urólito (nucleação). A precipitação pode ocorrer espontaneamente (nucleação homogênea) ou por epitaxia (um tipo de cristal cresce na superfície de outro tipo; nucleação heterogênea). Macro: são agregados de solutos urinários precipitados, sendo tipicamente esféricos ou ovoides, rígidos, com ninho central, rodeado por lâminas concêntricas (“pedras”). Grandes cálculos renais pélvicos possuem aparência de “chifres de veado”. Os cálculos urinários vesicais podem ser únicos ou múltiplos e variáveis de tamanho. Todos variam em cor. Micro: inflamação e hemorragia no trato urinário inferior. Lâmina própria infiltrada por células inflamatórias. Neutrófilos no foco da ulceração e linfócitos e plasmócitos infiltrados perivascularmente. Cálculos pequenos podem ser eliminados na urina, mas tipicamente os cálculos causam obstrução urinária. Ocorre mais frequentemente nos machos, por causa de sua uretra longa, de diâmetro estreito. Na uretra causa então obstrução, levando a cistite, evoluindo para pielonefrite e hidronefrose. Nos touros, os cálculos se alojam na uretra, no arco isquiático e na porção proximal da flexura sigmoide; nos carneiros inteiros ou castrados, o processo uretral (apêndice vermiforme) é o local mais comum; em cães ocorre na base do pênis (base do osso peniano); nos gatos ocorre na uretra. No local, onde os cálculos se alojam, ocorre necrose local por pressão, ulceração da mucosa e uretrite hemorrágica aguda. Como os locais uretrais são propensos à ruptura, a hidronefrose que ocorre como consequência da obstrução uretral é menos comum do que com a impactação ureteral unilateral de longa duração. Cálculos que causam obstrução uretral levam a dilatação da bexiga, associada ou não à ruptura da parede, com subsequente peritonite. Nos felinos, finos cristais de estruvita (arenosos) em matriz proteica semelhante à borracha podem preencher toda a uretra; tais cálculos são típicos da doença denominada síndrome urológica felina. Sinais clínicos: micção difícil (estranguria) ou dolorosa (disúria) com ou sem hematúria. DOENÇAS INFLAMATÓRIAS A cistite ocorre na vesícula urinária, sendo comum nos animais domésticos. Ureterite (inflamação no ureter) e uretrite (na uretra) dificilmente ocorrem na ausência de cistite. As causas da cistite aguda são variadas, porém a infecção bacteriana é a mais comum. Os fatores predisponentes são: ✓ Retenção urinária: devido a obstruções (urólitos, tumores, inflamação, etc.) ou causas neurogênicas (mielite, compressão da medula espinal, etc.); ✓ Traumatismo de mucosa: cateter e urólitos podem lesar a mucosa; vaginoscopia, vaginite, incontinência urinária ou administração prolongada de medicamentos; ✓ Micção incompleta: como resultado de divertículo de bexiga e de refluxo vesicoureteral; ✓ Uretra curta: fêmea, onde as bactérias que estão no genitourinário e na pele podem ascender e causar inflamação; ✓ Infecção umbilical: úraco (ligação da bexiga com o meio externo) patente. Agentes: Escherichia coli, Proteus vulgaris., Streptococcus sp. e Staphylococcus sp. em todas as espécies; Corynebacterium renale em bovinos; Actinobacilum suis em suínos; Enerococcus faecalis em gatos; Klebsiella sp. em equinos. A esterilidade da bexiga urinária é mantida por repetidas micções normais e por causa das propriedades antibacterianas da urina, que são urina ácida de carnívoros; IgA; mucina secretada que inibe a adesão bacteriana; alta osmolaridade da urina. A cistite ocorre quando as bactérias são capazes de sobrepujar os mecanismos normais de defesa e aderem a mucosa da bexiga. A retenção de urina como resultado da obstrução ou causas neurogênicas geralmente conduzem à cistite. Cistite aguda Traumas da mucosa pela presença de cálculo, cateterização negligente ou outras causas podem causar erosão e hemorragia e predispor a invasão bacteriana da lâmina própria. A hidrólise da ureia por bactérias produtoras de urease, como Corynebacterium renale no gado e Actinobaculum suis em suínos, libera amônia que pode lesar a mucosa e resulta na alcalinidade da urina. O crescimento bacteriano pode ser também favorecido quando há glicosúria, como na diabetes melito. O comprometimento do sistema imune, como na FIV, pode levar à cistite bacteriana secundária. Quando as bactérias acessam a lâmina própria, causam lesão vascular e inflamação. Na macro pode ser catarral, hemorrágica, fibrinosa, fibrinopurulenta, diftérica ou ulcerativa, sendo essas alterações geralmente sequenciais. O dano vascular predispõe hemorragia, extravazamento de fibrina e, se grave, necrose isquêmica da bexiga. Isto é geralmente acompanhado por ulceração mucosa. Os neutrófilos estão presentes em qualquer lesão bacteriana. A parede da vesícula urinária é espessada por edema e por infiltrado inflamatório e é difusa ou focalmente hemorrágica. Micro: desnudação epitelial com colônias bacterianas na superfície. Lâmina própria com edema e infiltrado neutrofílico. Hiperemia e hemorragias superficiais. Cistite aguda. A, Superfícies serosas e mucosas, bezerro. Áreas multifocais de mucosa ulcerada são intercaladas com áreas de mucosa hemorrágica. Observe a hemorragia subserosa (topo). B, Superfícies mucosas e serosas, cão. A mucosa foi parcialmente despida de epitélio de transição (setas). Há infiltrados na mucosa e submucosa de neutrófilos (ponta da seta), que se estendem até a túnica muscular adjacente. Note os vasos congestos com hiperemia ativa na lâmina própria. Sinais clínicos: disúria, estranguria e hematúria. A mucosa pode ter focos de erosão ou de ulceração, focos ou lençóis de exsudato aderidos e debris necróticos ou coágulos sanguíneosaderentes. Corynebacterium urealyticum em cães e gatos e Corynebacterium matruchotii em um cavalo foram implicados em uma condição conhecida como cistite incrustada em que placas e acúmulo de sedimentos predominam. A ingestão crônica de samambaia (Pteridium arachnoideum) pelos bovinos pode resultar na síndrome hematúrica enzoótica, que pode se manifestar como hemorragia aguda da vesícula urinária, cistite crônica ou neoplasia da bexiga urinária. Cistite necrohemorrágica: áreas de úlceras focalmente extensas, hemorragia na luz da vesícula urinária. Cistite enfisematosa: causada por bactérias produtoras de gás, sendo mais frequente na presença de glicosúria (como na diabetes mellitus). Macro: espessamento e crepitação da parede da vesícula urinária. Cistite crônica Possui formas difusa, folicular e polipoide. A difusa apresenta mucosa irregularmente avermelhada e espessada; descamação epitelial e submucosa infiltrada por mononucleares. Espessamento de tecido conjuntivo da submucosa e hipertrofia da camada muscular. Na folicular temos proliferações linfoides nodulares e disseminadas na submucosa circundadas por halo hiperêmico, tornando a mucosa com aspecto de pedras lisas (cistite folicular). É comum na urolítiase crônica. Micro: hiperplasia de células caliciformes, infiltrado linfoplasmocítico crônico e fibrose na lâmina própria. A forma polipoide (cistite polipoide crônica) geralmente ocorre a partir das respostas inflamatórias e hiperplásicas secundárias à irritação crônica, as quais se originam mais frequentemente da persistente infecção bacteriana do trato urinário ou da presença de urólitos. Essas respostas de hiperplasia de células epiteliais transicionais são denominadas cistite cística, cistite glandular e ninhos epiteliais de Brunn. A mucosa apresenta massas nodulares, únicas ou múltiplas, compostas de tecido conjuntivo fibroso e infiltradas por neutrófilos e leucócitos mononuclear. As massas apresentam base larga ou são pedunculadas, ulceradas ou cobertas por epitélio hiperplásico, com metaplasia das células caliciformes. Cistite Micótica Ocorre quando fungos oportunistas (Candida albicans ou Aspergillus sp.) colonizam a mucosa vesical. Geralmente é secundária à cistite bacteriana crônica, quando os animais estão imunossuprimidos. NEOPLASIAS As neoplasias do trato urinário inferior geralmente ocorrem na vesícula urinária, sendo mais frequentemente em cães idosos (raramente gatos) e em bovinos com hematúria enzoótica. Os fatores de risco são: inseticidas tópicos, poluição industrial, obesidade, raça. A retenção de urina na bexiga e a exposição mais prolongada do epitélio a carcinógenos resultam em maior incidência de tumores na bexiga urinária. Tumores epiteliais são mais comuns. Tumores epiteliais Os papilomas possuem aspecto papilífero ou pedunculado. Nos bovinos podem ocorrer pelo vírus da papilomatose bovina. Os carcinomas são nódulos focais enraizados ou espessamentos difusos da parede da bexiga urinária, mais comum na região do trígono vesical. Os carcinomas das células transicionais são compostos de epitélio transicional anaplásico a pleomórfico. Carcinomas das células escamosas, adenocarcinomas e carcinomas não classificados geralmente ocorrem a partir do epitélio transicional. Na cadela são multicêntricos e também se desenvolvem em ureteres, uretra e pelve renal. Metástases podem ocorrer em linfonodos regionais, pulmão e rins. Tumores mesenquimais Os leiomiomas são massas solitárias ou múltiplas, circunscritas, firmes, branco-pálidas a acastanhadas, na parede da vesícula urinária. Leiomiossarcomas são raros. Os fibromas se originam do tecido conjuntivo da lâmina própria. O linfossarcoma ocasionalmente infiltra a parede. Rabdomiossarcomas são raros, sendo descritos como massas botrioides (semelhantes a cachos de uva). Hemangiomas e hemangiossarcomas podem ocorrer em bovinos com hematúria enzooótica. INSUFICIÊNCIA RENAL Insuficiência renal aguda (IRA) e insuficiência renal crônica (IRC). A IRC não necessariamente precisa ter um rim atrofiado e com fibrose para ocorrer. Quando a capacidade de função renal é abruptamente diminuída ocorre insuficiência renal aguda. Ela não apresenta sinais clínicos ou sistêmicos em decorrência dos metabólitos. É reversível na maioria dos casos, mas também pode se tornar crônica. Na IRC há lesão pelos metabólitos não excretados (como ureia e creatinina), como hálito amoniacal, lesões na cavidade oral... Irreversível. UREIA E CREATININA A ureia é originada de uma substância tóxica (amônia). A amônia é originada da degradação de proteínas no intestino por proteases. A digestão do sangue (por parasitos, como Ancylostoma) também aumenta os níveis de ureia, portanto a creatinina é um dado mais confiável quando se fala em rins. 75% da ureia produzida é eliminada pelos rins e o restante volta ao intestino para ser degradada por ureases, formando amônia e voltando ao ciclo. A creatina é armazenada no músculo, formando fosfocreatina. Durante o uso da musculatura ocorre o uso da fosfocreatina, formando o resíduo creatinina. A creatinina é eliminada em sua totalidade pelos rins, portanto, é um parâmetro confiável para avaliar problemas renais. Quando ocorre ureia e creatinina sanguíneas elevadas, temos azotemia e insuficiência renal aguda. Quando ocorre ureia e creatinina elevadas + sinais clínicos e ou sistêmicos, temos insuficiência renal crônica, sendo que o animal entrou em uremia (consequência dos sinais de hiperfosfatemia, hipercalcemia e paratormônio). As causas e uremia ou azotemia podem ser pré-renais, renais ou pós-renais: ✓ Pré-renal: causada por diminuição do aporte vascular para os rins, ICC, choque circulatório e hipovolemia. Isso diminui a perfusão renal, reduzindo a taxa de filtração glomerular, retendo no sangue as substâncias tóxicas. Dificilmente tem- se uremia nesses casos, pois o animal pode morrer pelas causas pré-renais antes de ter as lesões urêmicas; ✓ Renal: causada por lesões agudas ou crônicas que reduzem a função renal; ✓ Pós-renal: causada por obstrução completa do fluxo urinário por causas intrínsecas ao trato urinário inferior (urolítiase, tumores de bexiga e de uretra, etc.) ou extrínsecas (tumores de útero, hiperplasia de próstata, prostatite grave e paralisia da bexiga). INSUFICIÊNCIA RENAL AGUDA Pode ser causada por necrose tubular de agentes infecciosos (como bactérias ou vírus), nefropatia obstrutiva por urolítiase, neoplasias de células de transição do sistema urinário inferior, trauma, isquemia renal com necrose tubular, necrose tubular por drogas nefrotóxicas ou por necrose tubular por produtos químicos. Funcionalmente, a insuficiência renal aguda pode ser causada por fatores pré-renais (perfusão renal comprometida, como por choque ou hipovolemia), intrarrenais (função renal comprometida, como por doença) ou pós-renais (obstrução do trato urinário). A insuficiência renal aguda ocorre quando o rim não consegue excretar os resíduos e manter a homeostase de fluidos e eletrólitos, sendo que as alterações patológicas são: diminuição da ultrafiltração, obstrução intratubular, vazamento retrógrado de fluidos e vasoconstrição intrarrenal. Animais morrem de insuficiência renal aguda devido a cardiotoxicidade do potássio sérico elevado, acidose metabólica e/ou edema pulmonar. Ocorre também acúmulo intravascular de produtos metabólicos e hipertensão (por hipercalemia). Com a insuficiência renal aguda ocorre aumento das concentrações séricas de ureia, creatinina e produtos nitrogenados, sendo chamado de azotemia. INSUFICIÊNCIA RENAL CRÔNICA Ocorre ao longo de um período de tempo mais longo, levando a várias alterações. A produção de eritropoietinaé reduzida, contribuindo para anemia não regenerativa (mucosas brancacentas) e há hiperfosfatemia e hipocalcemia, além de aumento dos níveis de paratormônio (PTH). Quando a taxa de filtração glomerular é cronicamente reduzida, o fósforo é inadequadamente reabsorvido pelos rins, resultando na hiperfosfatemia. Por causa das interações da lei de equação das massas entre o cálcio e o fósforo sérico, a concentração de cálcio ionizado no soro é reduzida, como resultado da precipitação de cálcio e fósforo. Diminuição de cálcio sérico ionizado estimula a secreção de paratormônio (PTH), promovendo a liberação de cálcio do estoque de cálcio facilmente mobilizável no tecido ósseo e a reabsorção óssea osteoclástica. Há também diminuição da capacidade dos rins em hidroxilar 25-hidroxicolecalciferol na forma mais ativa 1,25-di- hidroxicolecalciferol (calcitriol) por inibição da 1α-hidroxilase renal, resultando na diminuição da absorção intestinal de cálcio (potencializando a hipocalcemia). A produção de calcitriol (vitamina D ativa) é também inibida pela hiperfosfatemia. Níveis baixos de calcitriol aumentam a secreção e PTH. Com o tempo temos hiperparatireoidismo secundário renal (hiperplasia da paratireoide), osteodistrofia renal e calcificação de tecidos moles. Somado a isso temos retenção de potássio (pode causar cardiotoxicidade) e de íons hidrogênio (pode causar acidose metabólica). Vale ressaltar que a habilidade dos rins de formar eritropoietina apresenta-se comprometida, resultando na produção diminuída de eritrócitos pela medula óssea, com consequente anemia arregenerativa. Tipicamente as lesões não renais ocorrem por degeneração e necrose endotelial (resultando em vasculite e infarto); lesão cáustica ao epitélio da cavidade oral e do estômago, que resulta em úlcera, sendo secundária à produção de amônia após a degradação da ureia salivar ou gástrica por bactérias comensais. Lesões de Uremia – Sistema Digestório Pelo aumento de produção de amônia ocorre glossite e estomatite necrótica e ulcerativa e gastrite ulcerativa e hemorrágica (cães e gatos). Ureia circulante é convertida em amônia no estômago e cavidade oral por bactérias comensais, por meio da urease. Níveis muitos altos de amônia causam a glossite, estomatite e gastrite. A estomatite e glossite são caracterizadas por um material mucoide marrom, de mau odor, aderido à mucosa oral e da língua, ulcerada; na língua, as úlceras geralmente são bilaterais (simétricas) e na parte ventral da língua (local onde há mais saliva). Glossite ulcerativa, uremia, língua, superfície ventral, gato. Úlceras bilaterais simétricas (setas) estão presentes nas bordas rostrolaterais da superfície ventral da língua. A gastrite ulcerativa e hemorrágica, geralmente ocorre com mineralização secundária na zona intermediária. A parede gástrica pode ranger ao corte por causa da calcificação das camadas interna e média da submucosa. A hemorragia é digerida no intestino, causando melena (sangue digerido nas fezes). Gastrite urêmica, estômago, cão. A. Há uma acentuação das rugas gástricas e calcificação na mucosa profunda (setas). B, A mucosa apresenta mineralização laminar (cor preta) de glândulas gástricas (seta), coloração de von Kossa. Ocorre também aumento da secreção de gastrina, o que eleva a síntese de HCl pela mucosa gástrica e a secreção de enzimas pancreáticas, as quais autodigerem o parênquima pancreático, causando pancreatite hemorrágica. Colite ulcerativa e hemorrágica ocorre em equinos e bovinos. O conteúdo gastrointestinal pode ser sanguinolento e com odor amoniacal. Microscopicamente, necrose de coagulação, hemorragia e infiltrado neutrofílico ocorrem na mucosa intestinal. Grandes animais: lesões ulcerativas e necróticas em esôfago, rúmen, retículo e omaso e abomaso avermelhado. Rim pálido, pontos brancacentos multifocais. Micro: rim com deposição de tecido conjuntivo fibroso, calcificação. Causa: pode ser micotoxina. Lesões de Uremia – Sistema Locomotor e Endócrino O PTH realiza reabsorção óssea, onde o tecido ósseo é substituído por tecido conjuntivo fibroso (osteodistrofia fibrosa). Os ossos da face, principalmente o processo alveolar da mandíbula e maxila, são os primeiros afetados, causando a deformação conhecida como mandíbula de borracha. Pela hipercalcemia ocorre mineralização dos tecidos (calcificação distrófica e metastática). Lesões de Uremia – Sistema Respiratório Mineralização intercostal urêmica, particularmente em cães, é caracterizada por calcificação do tecido conjuntivo subpleural dos espaços intercostais. Macro: espessamentos pleurais de aspecto granular brancoacinzentado. Os músculos intercostais estão calcificados superficialmente. A calcificação pulmonar multifocal ou difusa resulta em falha de colapsar, áreas de palidez e em rangidos, podendo ocorrer ocasionalmente associada às lesões de pneumopatia urêmica. O edema pulmonar difuso caracteriza-se por alvéolos que contêm líquido rico em fibrina e geralmente um infiltrado discreto de macrófagos e neutrófilos. A lesão subjacente é uma vasculite que afeta os capilares alveolares, o que resulta em aumento da permeabilidade vascular e do grau de efusão de proteína, sendo causada por toxinas urêmicas ou por hipoproteinemia decorrente das lesões glomerulares. Pneumopatia urêmica: pulmão em pedra pome, onde há calcificação dos septos alveolares. Ao toque é arenoso. Ao corte os septos calcificados ficam brancacentos arenosos. Micro: calcificação basofílica nos septos alveolares. Lesões de Uremia – Sistema Cardiovascular Pericardite fibrinosa caracteriza-se por depósitos granulares finos de cálcio no epicárdio Arterite caracteriza-se macroscopicamente por placas ásperas finamente granulares dentro do endocárdio do átrio esquerdo e na aorta proximal e tronco pulmonar, decorrentes de degeneração fibrinoide. Lesões de Uremia – Sistema Urinário Nefrocalcinose ocorre, onde os rins podem ranger ao corte pela calcificação. Lesões de Uremia – Sistema hematopoiético Ocorre anemia aplásica ou arregenerativa devido a diminuição da produção de eritropoetina e pela perda de sangue em decorrência das lesões gastrintestinais. DISTÚRBIOS DOS ANIMAIS EQUINOS Nefrite embólica (Actinobacillus equuli) O Actinobacillus equuli é um habitante normal das membranas mucosas do trato alimentar. Contaminação fecal ou extensão de membranas da mucosa oral é o método de inoculação. Contaminação umbilical em potros é a rota mais comum de infecção. Microabscessos ocorrem nos rins. RUMINANTES Hematúria enzoótica Caracteriza-se por hematúria persistente e anemia, associada às hemorragias e/ou neoplasias do trato urinário inferior, acometendo principalmente bovinos. A samambaia (Pteridium arachnoideum) é a causa, sendo tóxica e palatável quando há escassez de alimento. O efeito carcinogênico da planta pode variar de acordo com a espécie. A doença se caracteriza por curso crônico, hematúria intermitente, anemia e emagrecimento. As lesões da vesícula urinária podem ser circulatórias, inflamatórias. Hiperplásicas ou neoplásicas. Os tumores podem ser de origem epitelial (papilomas, adenomas e carcinoma de células de transição e carcinoma epidermoide) e mesenquimal (fibroma ou fibrossarcoma, hemangioma ou hemangiossarcoma e leiomiossarcoma) Toxicidade de carvalho (Quercus spp.) Os ruminantes desenvolvem necrose tubular após a ingestão de folhas, brotos ou ramos de carvalhos e arbustos (Quercus spp.). As substâncias tóxicas são metabólitos de taninas. Doença renal polposa É causada por Clostridium perfringens tipo D cuja toxina épsilon se liga a células epiteliais tubulares renais e causa degeneração seletiva dos túbulos distais. O fator críticopredisponente é o acesso ao amido excessivo no intestino delgado, que permite a proliferação bacteriana excessiva. Hiperglicemia e glicosúria podem ser vistas. Linfossarcoma renal Ocorre em bovinos, sendo a causa o vírus da leucose bovina (BLV). Macro: aumento de volume renal difuso ou vários nódulos corticais castanhos, macios, mal definidos. SUÍNOS Circovírus A infecção por circovírus suíno resulta na síndrome de caquexia multissistêmica pósdesmame e pode produzir uma variedade de lesões. Macro: focos brancos dentro do parênquima renal, que correspondem a lesões inflamatórias renais, incluindo nefrite tubulointersticial linfoplasmocitária e/ou nefrite intersticial granulomatosa. Erisipelótrix Erysipelothrix rhusiopathiae é a causa bacteriana mais comum de nefrite embólica em suínos. O organismo pode se espalhar para os rins após envolvimento cutâneo ou como resultado de bacteremia de endocardite valvular. CANINOS Ingestão de uva A ingestão de uvas ou uvas-passas pode levar a uma síndrome de insuficiência renal aguda. Os taninos são apontados como princípio tóxico. Dioctophyma renale Esse nematódeo reside na pelve renal, onde causa pielite hemorrágica ou purulenta, subsequente obstrução ureteral e destruição do parênquima renal, resultando em um rim hidronefrótico e exsudato purulento. FELINOS PIF Gatos com peritonite infecciosa felina (PIF), particularmente a forma não efusiva (seca), geralmente apresentam nefrite piogranulomatosa multifocal, secundária à grave vasculite primária. A patogênese dessa lesão está relacionada com a hipersensibilidade tipo IV para o vírus da PIF. Toxicidade de lírio Os gatos são propensos a toxicidade por ingestão de folhas ou flores de plantas de lírio, que causam intoxicação renal na forma de necrose tubular aguda.