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Para Tash Drake. Você vai fazer muita falta. Obrigada por tudo. Descanse em paz. TABELA DE CONTEÚDOS AVISO — BWC 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 EPÍLOGO ONE-TIMER - CENA BÔNUS AGRADECIMENTOS AVISO — BWC Essa presente tradução é de autoria pelo grupo Bookworm’s Cafe. Nosso grupo não possui fins lucrativos, sendo este um trabalho voluntário e não remunerado. Traduzimos livros com o objetivo de acessibilizar a leitura para aqueles que não sabem ler em inglês. Para preservar a nossa identidade e manter o funcionamento dos grupos de tradução, pedimos que: • Não publique abertamente sobre essa tradução em quaisquer redes sociais (por exemplo: não responda a um tweet dizendo que tem esse livro traduzido); • Não comente com o autor que leu este livro traduzido; • Não distribua este livro como se fosse autoria sua; • Não faça montagens do livro com trechos em português; • Se necessário, finja que leu em inglês; • Não poste – em nenhuma rede social – capturas de tela ou trechos dessa tradução. Em caso de descumprimento dessas regras, você será banido desse grupo. Caso esse livro tenha seus direitos adquiridos por uma editora brasileira, iremos exclui-lo do nosso acervo. Em caso de denúncias, fecharemos o canal permanentemente. Aceitamos críticas e sugestões, contanto que estas sejam feitas de forma construtiva e sem desrespeitar o trabalho da nossa equipe. 1 Hollis Casamentos devem ser dias felizes. Eles devem ser preenchidos com sorrisos, amor e lágrimas de alegria. Casamentos não devem ser preenchidos com tristeza infinita e lágrimas suficientes para encher um maldito vaso decorativo. Mas aqui estou eu, sentada no meu carro, chorando porque minha irmãzinha vai se casar com o amor de sua vida neste fim de semana e eu acabei de assinar meus papéis de divórcio no início da semana. Eu não posso me forçar a sair e enfrentar tudo isso. Não me interpretem mal, estou mais do que emocionada pela minha irmãzinha. Harper sempre foi cética quando se trata de amor, então o fato de ela estar prestes a subir ao altar e trocar votos é algo monumental. É um negócio ainda maior porque ela está se casando com a estrela da NHL, Collin Wright, mas essa é uma conversa totalmente diferente. Vê-la ter uma vida perfeita que ela nunca quis quando eu era a garotinha que planejou seu casamento aos cinco anos de idade e pensou que tinha encontrado o felizes para sempre? Sim, dói. Não tanto quanto descobrir que seu marido tinha uma amante e eles estavam dormindo juntos antes de você se casar, mas ainda dói. Limpo as lágrimas escorrendo pelo meu rosto, frustrada por elas – minhas lágrimas e meu ex-marido e sua amante. Por mais embaraçoso que tenha sido quando Harper chegou em casa para contar a minha mãe e a mim que ela estava noiva, eu chorei também. Na frente dela. Tipo, realmente caí em lágrimas como uma terrível irmã mais velha. Depois de toda aquela confusão, não tem como eu entrar assim. Outra lágrima escorre pelo meu rosto, e eu a limpo. Não vou estragar o grande fim de semana da minha irmã com minhas lágrimas bobas. Uma velha caminhonete surrada, tocando música tão alto que está chacoalhando as minhas janelas, vem balançando para o estacionamento, chicoteando no espaço ao lado do meu como se pertencesse aqui. Eu sei, de fato, que não pertence. Minhas sobrancelhas se unem em frustração porque o idiota nem se incomoda em diminuir a música. Ele não sabe que duas pessoas que estão loucamente apaixonadas estão lá dentro para ensaiar uma cerimônia para que amanhã possam começar uma nova vida juntos? Ugh. Um conjunto de lágrimas frescas escorre pelo meu rosto com o pensamento. Fecho os olhos com força, tentando afastar os pensamentos do que perdi, depois enxugo o rosto de novo, que tenho certeza que está uma bagunça. Eu abaixo o parasol para verificar o pequeno espelho dentro e, sim, estou uma bagunça. Listras pretas correm pelas minhas bochechas e uma bagunça de maquiagem fica embaixo de cada olho. Tudo porque meu rímel favorito não estava disponível na versão à prova d'água porque claro que não estava. Não é uma grande surpresa, no entanto. Nada deu certo desde que fui enganada pelo meu ex-marido traidor. Bateram na traseira do meu carro e o motorista fugiu... em um estacionamento que não tinha câmeras. Fui detida por furto porque o caixa não queria acreditar em mim que a embalagem da barra de chocolate no carrinho não era minha e eu estava me sentindo mesquinha o suficiente para discutir. Ah, e aquele corte de cabelo que eu dei a mim mesma? Um massacre, deixando-me com um chanel curto, o que eu não queria. Foram dois meses desafiadores, para dizer o mínimo. O único ponto positivo é que este divórcio não foi arrastado por mais tempo do que o necessário. Thad me concedeu o divórcio quando percebeu que eu tinha cópias de suas mensagens. Você pensaria que, sendo um advogado, ele teria feito um trabalho melhor em cobrir seus rastros, mas não. Ele deixou tudo exposto, bem ali para eu ver. Uma parte de mim se pergunta se ele fez isso de propósito. A maneira como ele agiu nos meses que antecederam nosso casamento, como ele não estava envolvido no planejamento e estava provocando brigas, deveria ter sido uma bandeira vermelha, mas eu estava muito presa nos anos que coloquei em nosso relacionamento e no que eu queria para o meu futuro para ver o que isso era. Mentiras. Tudo foram grandes mentiras. Eu deveria ter ouvido minha melhor amiga, Emilia, quando ela disse que Thad era um babaca em quem não se podia confiar. Claro, ela disse isso quando estava bêbada, mas há verdade em nossas divagações embriagadas, certo? — O nome dele é Thad, Hollis. Isso deve dizer tudo o que você precisa saber sobre o babaca. Em retrospectiva, ela estava certa. Eu gostaria que ela estivesse aqui agora. Ela sempre me faz rir. Mas eu tenho que sofrer esta noite sozinha. Amanhã, porém... amanhã nós beberemos. E, em seguida, beberemos um pouco mais. Já sei que vou precisar. Com um suspiro, eu estendo a mão pela minha BMW – um presente de Thad, já que ele não queria que suas transgressões voltassem para seus amigos da empresa – para abrir o porta- luvas. E… nada. Nem uma maldita coisa. — A única vez que eu não tenho dez bilhões de guardanapos da Starbucks enfiados lá… Eu fecho com força, então inclino minha cabeça para trás contra o assento, tentando não chorar mais uma vez. Eu não preciso de uma bagunça ainda maior para limpar. — Ugh. Controle-se, Hollis. Você está sendo ridícula. É apenas um guardanapo. É isso. É um guardanapo. Lágrimas ardem em meus olhos de novo porque não é apenas um guardanapo, é um casamento também, um casamento pelo qual certamente vou chorar, e não exatamente pelas razões certas. Fecho os olhos para bloquear todos os pensamentos negativos que estão passando pela minha mente e respiro fundo. Então repito. E um… — OH MEU DEUS! Eu olho para a velha caminhonete ao meu lado, aquela maldita música ainda chacoalhando minhas janelas. Com os amassados, arranhões e o para-choque pendurado pelo que parece ser uma linha de fita adesiva, não entendo como a caminhonete em si não se partiu com o volume da música. As janelas são escurecidas, mas não tão escuras que eu não consiga ver o interior. O motorista está recostado no banco sem se importar com o mundo, um par de óculos escuros cobrindo os olhos, parecendo que não vai se mexer tão cedo. Esse idiota está sendo sério? É irritante. Ele é irritante. Aposto que Harper e Collin devem estar lá dentro agora se perguntando o que diabos é esse barulho alto e desagradável. Eu serei amaldiçoada se esse idiota arruinar o ensaio da minha irmãzinha. Eu empurro a porta do meu carro aberta, marcho para o lado do motorista da caminhonete do idiota, e bato minha palma contra a janela. Ele não se move. O quê… Eu bato najanela novamente. Nenhuma reação. Nem mesmo um estremecer. Esse idiota está dormindo? Eu bato na janela uma terceira vez e... nada. Eu bufo, revirando os olhos para o céu. Então, porque estou completamente fora de mim, bato uma última vez, só que não há janela, e me conecto com o rosto do estranho, derrubando seus óculos escuros. Eu… acabei de bater em uma pessoa! — Ah, merda! — Eu grito, retraindo minha mão e posicionando na minha boca. Acabei de me divorciar, minha vida está uma bagunça, acabei de bater em uma pessoa e agora provavelmente vou para a cadeia por agressão. Minha vida pode ficar pior? O cara, que parece vagamente familiar, mas não consigo identificá-lo, mexe a mandíbula para frente e para trás com o golpe inesperado. Ele levanta sua grande mão, seus longos dedos acariciando o local onde minha palma acertou seu rosto. Seu peito sobe e depois desce com um suspiro pesado. Eu prendo a respiração enquanto ele lentamente, como em um ritmo glacial lento, puxa seus óculos de aviador para baixo e me perfura com os olhos verdes mais deslumbrantes que eu já vi. Eles são tão únicos e bonitos que eu suspiro audivelmente. Felizmente, evitando ainda mais constrangimento, minha mão ainda está firmemente sobre minha boca, então duvido que ele ouça. Seus lindos olhos que são da cor de pinheiro se estreitam, e mesmo isso não é suficiente para me fazer parar de olhar para eles. Eles são tão diferentes de tudo que eu já vi antes. Não é a cor que os torna tão únicos. É a dor e os segredos que estão escondidos dentro dos redemoinhos que os fazem se destacar. Esse cara passou por coisas que o endureceram. Uma carranca simpática puxa meus lábios porque eu posso entender. Já passei por coisas que me endureceram também. — É sério isso, porra? E assim, minha simpatia se foi. Seu tom é agudo e sombrio. E sim, tudo bem, ele pode ter uma razão para estar irritado desde que eu tecnicamente bati nele, mas ainda assim, ele é o idiota que veio correndo para o estacionamento quando há um ensaio de casamento lá dentro. Rude por si só, mas especialmente rude, já que ele nem pertence aqui. — Estou falando sério. Seu gosto de merda para música é alto e perturbador e você não tem porque estar aqui. Não é um gosto de merda para música. Eu amo a música. Todo mundo adora a música que está tocando. É um crime não amar Queen, mas não vou admitir isso para o idiota. Ele levanta uma sobrancelha escura. — É mesmo? — É mesmo. Este é um evento privado. — Evento privado, hein? — Sim e… Ele zomba… então aperta o botão para subir a janela de volta, efetivamente me interrompendo. Minha mandíbula afrouxa enquanto olho para a caminhonete, observando-o desaparecer novamente. Quem diabos esse cara pensa que é? Estou prestes a bater na maldita coisa de novo, mas não tenho a chance. O ronco alto de seu veículo morre abruptamente, e ele abre a porta. Eu pulo para trás para não ser atingida por ele, embora eu ache que seria justo se eu fosse atingida. Ele desliza para fora da caminhonete e se eleva sobre mim. Ele é tão alto que eu literalmente tenho que inclinar minha cabeça para trás para olhar para ele. Ele estende a mão e vira o boné de beisebol em sua cabeça para trás, e estou irritada comigo mesma por achar a ação remotamente atraente, especialmente porque esse cara é um completo idiota. Mesmo que ele esteja usando aqueles malditos óculos escuros de aviador novamente, eu posso sentir seu olhar quente. Eu o encaro de volta, cruzando os braços sobre o peito, recusando-me a recuar. Eu tento não pensar em quão ridícula eu provavelmente pareço agora. Eu sou pelo menos quinze centímetros mais baixa do que ele, embora eu esteja usando salto alto e toda arrumada em um vestido longo para o ensaio. — Este é um evento privado. Que parte de privado você não está compreendendo? Aponto de volta para a placa que diz claramente que o estacionamento está fechado, mas ele não parece se importar. Não. Seus lábios se contraem. Ele está se divertindo, e isso me irrita ainda mais. Ele se recosta em sua velha caminhonete suja e cruza os braços sobre o peito como se estivesse se acomodando e não planejando sair quando claramente não deveria estar aqui. — Eu acho que tudo. Você pode explicar o que a palavra privado significa? Eu zombo. — Significa que você não está convidado. Você não pertence aqui. Ele concorda. — E como exatamente você sabe que eu não pertenço aqui? Pelo o que eu sei, é você que não pertence aqui. Eu aceno com a mão a minha roupa. — Meu traje diz o contrário. — Entendo, e por que seu traje é tão importante? — Ha! — Eu aponto um dedo para ele. — Se você pertencesse aqui, isso nem seria uma pergunta. Você saberia exatamente por que estou vestida como... — Como se você tivesse um pau na bunda? Pela segunda vez desde que conheci esse homem, suspiro audivelmente com suas palavras. Um pau na minha bunda? Thad costumava ficar irritado sempre que eu usava algo muito decotado em um dos muitos jantares de clientes que tínhamos de comparecer. Aprendi rapidamente que não queria criar problema e deveria me cobrir. Eu nunca pensei que meu guarda-roupa gritasse que eu tenho um pau na minha bunda. Eu estreito meus olhos para ele, escolhendo ignorar seu golpe. — Você precisa sair antes que eu chame a segurança. Não faço ideia se este lugar tem segurança, mas ele não sabe que eu não sei. Ele ri, e é um som baixo e profundo. — Vá em frente. Chame. Eu não gosto da confiança em suas palavras. Ele parece muito certo de que não há ninguém para quem eu possa ligar. — Eu vou. — Bom. Eu vou esperar. Ele afunda ainda mais contra a caminhonete, me observando. Esperando. E esperando. — Bem? — Ele pergunta, arqueando uma sobrancelha. — Você vai ligar? — Eu não tenho meu telefone. — Tudo bem. Você pode usar o meu. Ele enfia a mão no bolso de trás e pega o iPhone mais recente, e estende na minha direção. Eu olho para ele com surpresa, o dispositivo é o oposto do que ele está dirigindo. Ele não parece que deveria ter a última geração de qualquer coisa, não quando sua caminhonete está literalmente sendo mantida junta com, caramba, são braçadeiras ao redor do espelho? — Vá em frente. Ligue. — Ele sacode o telefone para mim. Quando não alcanço o dispositivo, um sorriso lento surge em seus lábios. — Oh, eu entendi. Você nunca ligaria. Você estava apenas tentando me assustar, hein? — Não. Eu vou ligar. Ele mexe o telefone novamente, e eu não pego. Ele solta outra risada baixa, então desliza o telefone no bolso de trás. Seus braços voltam sobre o peito, e seus lábios estúpidos são puxados em um sorriso estúpido. — Ouça, querida, eu… — Eu não sou sua querida. Eu não sou nada sua. — Eu caminho em direção a ele, lábios curvados com o apelido indesejado, e não paro até que estou a poucos metros de distância, meu dedo apontado firmemente para ele. Ele não parece nem um pouco assustado. Na verdade, ele parece divertido por ter me irritado, e isso me irrita ainda mais. — Você está invadindo um evento privado, e eu… Ele levanta a mão, me parando. — Deixe-me ver se entendi. Você me bateu e você está com raiva de mim? — Eu não bati em você de propósito! E a única razão pela qual eu bati em você é porque eu estava tentando fazer você desligar sua maldita música porque este é um evento privado e você está… — Deixe-me adivinhar… estou invadindo? — Ele balança a cabeça, então se afasta da caminhonete, inclinando-se para baixo até que estejamos no nível dos olhos. Nossos narizes estão quase se tocando neste momento, e eu deveria estar totalmente assustada porque esse cara é um estranho. Mas eu não estou. Estou com muita raiva para ficar assustada. Eu também não deveria estar notando que seu lábio inferior é maior que o superior ou quão macios seus lábios parecem. Mas eu noto. Só por um segundo. Então, ele abre esses lábios, e todos os pensamentos dequalquer coisa que não seja raiva voam pela janela. — Bem, eu tenho novidades para você, querida: eu não estou invadindo. Eu… As portas do local se abrem, chamando nossa atenção. — Oh meu Deus! Você está aqui! — Minha irmãzinha bate palmas, pulando nos calcanhares animadamente, o maior sorriso no rosto. Eu não posso deixar de sorrir de volta para ela. Collin está logo atrás dela, com as mãos nos bolsos, observando-a com um sorriso no rosto enquanto ela desce as escadas em minha direção. Harper me puxa para um abraço, e eu a aperto de volta, derretendo em seu calor. Por um momento, quase esqueço tudo o que acabou de acontecer e o idiota parado a poucos metros de mim. Ela se afasta, me olhando. — Você parece… — Como uma bagunça? Eu sei. — Eu limpo o rímel que está acumulado sob meus olhos. — Desculpe. Foi meio que uma manhã emocional. Um sorriso simpático puxa em seus lábios, e eu odeio isso. Não quero a simpatia dela. Especialmente não neste fim de semana. Eu aceno com a mão. — Chega disso. Estou tão feliz por você, Harper. Seu sorriso triste fica radiante sem mais nem menos. — Obrigada. Estou tão feliz por mim também. E estou tão feliz que vocês dois já se conheceram — ela diz, acenando para o cara de pé atrás de nós. — Que bom que você encontrou — Collin diz, dando um tapinha em seu ombro e me trazendo de volta à realidade. — Quase não encontrei. — O cara sorri quando diz isso, e é como se eles estivessem em algum segredo que o resto de nós não conhece. — Por que é bom que nos conhecemos? — Eu pergunto, olhando para os três, sem entender como eles se conhecem. — Este é o companheiro de time de Collin com quem você estará andando pelo corredor, duh. Agora vamos — ela diz, enlaçando seu braço no meu e me arrastando em direção ao prédio. — Vocês estão atrasados e temos alguns treinos para fazer. Este é o meu parceiro para o fim de semana? Este cara? Aquele que eu dei um soco na cara? Ele é um jogador profissional de hóquei? Eu olho de volta para ele, observando enquanto ele lentamente sobe as escadas atrás de nós, aquele sorriso presunçoso que ele não consegue remover firmemente no lugar. Puta que pariu. 2 Lowell Collin tem sorte de ser como um irmão para mim porque, caso contrário, de jeito nenhum eu aguentaria essa merda. Primeiro eu tenho que passar o fim de semana inteiro com meus companheiros de time no período fora de temporada. Não me entenda mal, eu amo esses caras, mas também amo meu tempo sozinho. E agora ele está me dizendo que eu tenho que passar o fim de semana com a garota que me deu um soco na cara minutos atrás. Claro, eu estava errado por entrar no estacionamento com minha música tocando como um maníaco, mas não acho que isso justifica ser atingido na cara por uma estranha. Especialmente não no estacionamento do meu próprio negócio. Olho para a minha agressora. Ela está com a cabeça jogada para trás rindo de algo que Emilia, a gerente de mídia social da equipe, está dizendo. Olhando para ela agora sem todo o rímel escorrendo pelo rosto e o olhar enlouquecido em seus olhos, é claro que eu deveria ter percebido o fato de que esta é a irmã de Harper. É óbvio que elas são parentes. Seus rostos têm a mesma forma, e elas têm os mesmos lábios carnudos, o mesmo nariz empinado. Inferno, até a cor do cabelo delas é do mesmo tom de marrom. Elas parecem que poderiam ser gêmeas em vez de ter a diferença de idade de dois anos que eu sei que existe entre elas. E como eu sei todas essas informações? Collin. O cara nunca cala a boca sobre sua futura esposa. Mas suponho que isso é de se esperar quando você encontra a sua pessoa. Eu pensei que tinha encontrado a minha pessoa uma vez. Ah, como eu estava errado. Muito, muito, embaraçosamente errado. Hollis deve sentir meu olhar porque ela olha para mim, e aquele sorriso que ela estava usando é substituído por uma carranca profunda em questão de milissegundos. A mudança é tão drástica que me faz rir. O que, claro, a irrita ainda mais. É como se ela estivesse irritada com a minha mera existência. Ela olha para mim, e meu sorriso se abre ainda mais. Eu rio quando ela vira as costas para mim completamente. Fizemos vários ensaios para o casamento amanhã, e cada vez que eu tinha que dar os braços com Hollis, ela ficava mais rígida e ficava mais longe de mim. Não demorou muito para Harper perceber, e ela puxou Hollis de lado. Não tenho ideia do que elas conversaram, mas quando passamos pela quarta vez, foi muito mais tranquilo. Agora que terminamos de praticar, Hollis voltou a ser fria como gelo. Engraçado, porque eu deveria ser aquele que está irritado, dadas as circunstâncias de nossa apresentação. — Já está se divertindo? Meu companheiro de time, Rhodes, desliza ao meu lado. Ele toma um gole de sua taça de champanhe, então solta um longo suspiro como se estivesse tão exausto com tudo isso quanto eu. O que é ainda mais engraçado sabendo que de todos nós, ele é o que se casou mais vezes. Olho para a cicatriz em seu rosto e momentaneamente me sinto mal porque, mesmo depois de tanto tempo conhecendo- o, ainda é a primeira coisa que meus olhos vêem. Acho que quando você tem uma cicatriz logo abaixo do olho, descendo pela bochecha e cortando os lábios e é tão marcada e irregular quanto a dele, é meio que esperado. Se ele percebe, ele não diz nada. Em vez disso, ele toma outro gole, olhando para a pequena multidão à nossa frente. Não há muitas pessoas, apenas cerca de vinte e cinco, mas parece uma centena dado o quanto eu não quero estar aqui agora. Eu dou grunhido em resposta à sua pergunta. Ele ri. — Parece que você está se divertindo tanto quanto eu em multidões. Um dos nossos melhores defensores no Carolina Comets, Adrian Rhodes, não é exatamente conhecido por ser social. Ele é tão notório por pular entrevistas quanto por suas estatísticas no gelo. Ele não gosta de imprensa, e ele certamente não gosta de multidões. Inferno, antes de sua esposa, Ryan, aparecer, tivemos que lutar com unhas e dentes para conseguir que o cara fosse tomar uma cerveja conosco, seus próprios companheiros de time, depois de um jogo. Embora ainda tenhamos que convencê-lo a sair com mais frequência, houve muitas vezes no ano passado que ele disse sim sem que estivéssemos pressionando muito. Mas ainda assim, o cara odeia multidões. Para mim, não são tanto as multidões; é apenas o evento. — Estou feliz que Ryan não me fez usar gravata. Eu recebo o suficiente disso durante a temporada. Porra, nem me diga. Se eu pudesse queimar meu terno e gravata, eu o faria. Eu sei que alguns caras adoram se vestir para jogos, mas eu não sou um deles. E é exatamente por isso que eu usei um par de jeans escuros e uma camisa de botão. Eu já tenho que me vestir para este evento amanhã. Eu não vou fazer isso hoje também. — Cara, eu estou feliz que nunca tivemos que passar por toda essa formalidade de para o nosso casamento. — Quero dizer, para ser justo, você se casou em Vegas... duas vezes. Ele sorri como se estivesse pensando nisso. — E eu faria isso de novo em um piscar de olhos. — Mesmo a primeira vez? — Especialmente a primeira vez. Isso me levou a Ryan. Eu faço uma careta para o amor de tudo isso. Rhodes percebe e ri do meu desconforto. — Sabe, é meio engraçado que, como um cara que odeia tanto relacionamentos, você é co-proprietário de um dos locais de casamento mais populares com sua irmã. — Confie em mim, eu vejo a ironia nisso também. Não muito tempo atrás, minha irmã mais nova, Stacie, veio até mim com a ideia de abrir um local de casamento ao lado da cervejaria que possuímos juntos na minha cidade natal, que fica a cerca de duas horas da arena em que jogo. Eu admito, foi preciso um pouco de convencimento para eu concordar com a ideia de montar um local para casamentos. Somos uma cervejaria, por que precisamos realizar casamentos? Mas quando ficou claro para mim que era algopelo qual ela era apaixonada, achei justo apoiá-la. Afinal, ela abriu mão de muito de sua infância pelos meus sonhos e aspirações de jogar hóquei profissional. Então, lançamos um novo prédio e conectamos os dois com uma enorme área de estar ao ar livre, que é facilmente transformada no cenário perfeito de recepção ao ar livre. Eu nunca pensei que estaria hospedando o casamento do meu companheiro de time aqui, mas Harper se apaixonou pelo lugar mesmo sem saber que era meu negócio, já que não é realmente algo que eu anuncio. Sou mais um co-proprietário silencioso, especialmente durante a temporada de hóquei. Ela ficou mais do que emocionada quando eu dei a eles o desconto para amigos e familiares, o que significa que eu não cobrei um centavo deles pelo local. Então, eles estarem me torturando com todas essas outras besteiras é realmente injusto. Não é nada contra Collin e Harper. Estou feliz por eles. O que eles têm parece ser uma das raras ocorrências, algo real. Assim como o que Ryan e Rhodes têm. Não, meu problema tem a ver com meu desdém pelos relacionamentos em geral. Amor e eu? Não nos damos muito bem. Minha irmã acha que estou sendo teimoso e que preciso seguir em frente. Isso é fácil para ela dizer. Não foi ela que foi levada a acreditar que engravidou uma mulher, a pediu em casamento, anunciou para o mundo que ele propôs, depois descobriu que era tudo falso e nada mais que uma armadilha para conseguir seu dinheiro de hóquei profissional. Uma armadilha em que caí direitinho. A pior parte? Na verdade, pensei que estava apaixonado por ela... e sei que estava apaixonado pelo bebê que nunca existiu. Eu não apenas lamentei a perda do meu relacionamento; eu lamentei a perda de um futuro que nunca foi realmente meu, e não estou prestes a me lançar em outro relacionamento. Ser queimado assim uma vez foi o suficiente para mim, obrigado. Então eu mantenho as coisas leves e casuais nesse departamento. O passe único não é bom apenas no gelo. É mais ou menos assim que eu vivo. — Ok, pergunta séria, mais alguém notou a falta de gatinhas nessa coisa? Nós dois nos viramos para Miller, que está examinando a multidão com o cenho franzido. — Primeiro — Rhodes lhe dá um tapa na nuca —, não. Pare de tentar pegar mulheres. Em segundo lugar, não diga gatinhas. É estranho. — Primeiro, ai. Seu cuzão. — Miller esfrega no local. — Segundo, não estou tentando pegar mulheres agora. Estou apenas fazendo reconhecimento. — Reconhecimento? — Para amanhã — ele elabora. Eu reviro os olhos. — Você é exaustivo. — E com tesão. Muito tesão. Solitário também. — Sim, mas tenho certeza que sua mão direita não está — comenta Rhodes, nem mesmo se preocupando em esconder seu sorriso por trás de sua taça de champanhe. — Exatamente! Esse é meu problema. — Ele levanta a mão. — Está ficando cansada. Tenho certeza de que está calejada, olhe! — Eu realmente prefiro não discutir seus problemas de masturbação, Miller — eu digo a ele. — Você prefere falar sobre porque você se atrasou? Era você quem estava se masturbando? Eu olho para ele. — Dificilmente. Não que eu fosse admitir isso para o idiota, mas posso simpatizar com ele. Meu pau viu minha mão mais do que viu uma boceta no último ano. Mas isso foi por escolha. Depois de vencer a Copa, eu queria tentar outra vez, e sabia que não poderia nos levar longe se não me concentrasse. Então foi isso que eu fiz. Joguei hóquei e tirei todas as outras distrações da mesa. Claramente, não foi suficiente. Fomos eliminados dos playoffs1 na segunda rodada. Mas não quero remoer sobre isso agora. — Por que você estava atrasado, no entanto? — Rhodes pergunta. — Não queria vir? — Bingo. — Até eu cheguei aqui antes de você, o que nunca acontece. Você sempre chega primeiro. Ele tem razão; não é como se eu faltasse nas coisas. Geralmente sou o primeiro no gelo de manhã e o último a sair todos os dias e depois de cada jogo. — Fui detido no estacionamento. Ele ergue uma sobrancelha questionadora. — O estacionamento? Aqui? — Sim. Você não sabe que estou invadindo? Eu sinto que deveria estar mais irritado com todo o encontro, mas pensando em como Hollis parecia totalmente 1 Torneio anual de eliminação para decidir o vencedor da Copa Stanley. insana do lado de fora da minha janela com manchas de rímel escorrendo pelo rosto, não posso deixar de rir. — Na sua própria propriedade? — Rhodes pergunta, parecendo tão confuso quanto eu quando fui abordado. — Aparentemente sim. — Isso soa… — Completamente louco? Sim, eu sei. Diga isso a maluca que me agrediu no estacionamento. — Alguém agrediu você no estacionamento? — Não qualquer pessoa. A irmã de Harper. Miller, em seu típico estilo dramático, engasga. — De jeito nenhum. — Sim. Acertou bem na minha cara. — Então, eu sei que ela deveria ser sua garota e tudo mais, portanto você tem as primeiras ordens, mas isso significa que você não tem chance com ela? Ela está disponível, então? — Rhodes e eu lançamos um olhar incrédulo para ele. — O quê? Ela é gostosa! — Gostosa ou não, ela é louca. Ele dá de ombros. — Louca pode ser divertido. — O que há de errado com você? Acabei de dizer que ela me agrediu. — Oh meu Deus! Eu não te agredi! Foi um acidente! Eu me viro para encontrar Hollis parada ali. Ela tem uma mão em seu quadril, seus lábios apertados enquanto ela olha para mim com os olhos cheios de ira. Eu menti mais cedo quando disse que ela está vestida como se tivesse um pau na bunda. Sim, claro, seu vestido cobre todos os seus bens e mais alguns, mas definitivamente a abraça em todos os lugares certos também. É sexy de uma maneira discreta, especialmente agora que ela tirou a maquiagem. Francamente, ela é linda, e é uma distração pra caralho. E irritante, porque não quero achá-la atraente. Ela é louca. Huh. Talvez Miller tenha razão sobre loucura, afinal… — Você realmente bateu nele? — Miller levanta a mão para cumprimentá-la. — Boa! Ele provavelmente mereceu. Ela ignora a mão dele, mantendo os olhos em mim. — Eu obviamente não sabia quem você era. — E você não se incomodou em tentar descobrir também. Você apenas assumiu que eu não pertencia aqui. Por quê? Por causa do meu veículo? — Aquela coisa é uma merda total — Rhodes entra na conversa. Eu admito, minha caminhonete não está na melhor forma. Mas é a mesma maldita caminhonete que tenho desde o momento em que completei dezesseis anos, e ainda não estou pronto para deixá-la morrer. Mesmo que eu possa comprar um veículo melhor, inferno, eu poderia comprar vários melhores, eu não posso desistir dela. Ela tem sido boa para mim, e eu sinto que devo isso a ela, mantê-la. — E-eu… — ela gagueja. — Bem, eu… — Você o quê? Me julgou? Tirou conclusões precipitadas? — Não! Sim! — Bem, qual é? Não ou sim? — Ambos. — Diga-me, você agride todo mundo que você não conhece com base nas conclusões que você tira? Sabe, pensando bem, havia muita força por trás daquele soco. Parecia meio premeditado para mim. Seus olhos se estreitam, sua mão se fecha ao seu lado. — Ah, acredite em mim, se eu quisesse bater em você, você saberia. Eu não conheço essa mulher, mas algo me diz que ela pode estar dizendo a verdade. Ela pode parecer um pouco certinha, mas por aquela atitude raivosa que ela mostrou no estacionamento, eu diria que ela é tudo menos isso. — De alguma forma eu duvido disso, querida — eu me pego dizendo apenas para provocá-la. A maneira como sua mandíbula trabalha para frente e para trás é um sinal de que ela não gosta nem um pouco. Agora, normalmente, tenho reflexos muito bons. Você não se torna um jogador da NHL sem eles. Eu geralmente posso ler as pessoas muito bem. Mais uma vez, jogador profissional de hóquei. É apenas um conjunto de habilidades que vem com o jogo. Mas em nenhum lugar, nem uma vez em todos os meus anos de treinamento e praticando um esporteprofissionalmente, estive preparado para esse momento. Como se estivesse acontecendo em câmera lenta e eu estivesse na platéia assistindo ao desenrolar na tela grande, Hollis levanta sua taça de champanhe... e joga o líquido diretamente no meu rosto. Miller e Rhodes saltam para trás bem a tempo, deixando-me ali encharcado e irritado. Hollis dá um passo em minha direção, seus olhos nublados e mais raivosos do que eu já os vi, o que diz alguma coisa. Quando ela fica na ponta dos pés, nossos narizes estão quase se tocando. É então que noto uma diferença fundamental entre ela e Harper, seus olhos. Poças de azul escuro cheias de raiva me encaram. Mas não é qualquer azul escuro, e não é apenas raiva. Há uma profunda tristeza solitária nadando lá também. Por um momento, uma parte de mim esquece tudo o que aconteceu no estacionamento e que estou coberto de champanhe. Por um momento, tudo o que sinto é empatia completa por ela. Eu sei como é essa tristeza profunda, e eu não gosto que ela esteja sentindo isso. — Eu. Não sou. Sua. Querida. Hollis gira nos calcanhares e se afasta, toda a sala saltando os olhos entre mim e ela recuando, tentando descobrir o que diabos aconteceu. — Cara — Rhodes sussurra no meu ouvido. — Que porra você fez com ela? Eu corro minha mão pelo meu rosto para limpá-lo, sacudindo o excesso de champanhe dos meus dedos. Alguns convidados me encaram por acertar gotículas neles, mas eu realmente não me importo. Aparentemente, eu tenho um problema maior. — Acho que acabei de irritar minha acompanhante para o fim de semana. — Sim, eu diria. — Ele solta uma risada sem humor. — Chegando. Ele abaixa a cabeça para o outro lado da sala onde Collin está correndo em minha direção enquanto sua futura esposa se aproxima da saída, correndo atrás de sua irmã. Ele não para até estar bem na minha frente, seu nariz queimando de raiva. Eu só o vi assim uma outra vez, e nessa vez, ele acabou algemado. Eu levanto minha mão para detê-lo. — Guarde isso. Eu não estou no clima. Ele dá um passo em minha direção de qualquer maneira, ignorando minha mão. — Eu não dou a mínima se você está de bom humor ou não. Eu também não me importo com o que foi tudo isso. Tudo o que me importa é que você conserte isso e que você conserte rápido. Com um suspiro, dou-lhe um aceno conciso, então sigo na mesma direção que Harper e Hollis foram, tentando o meu melhor para ignorar todos os olhares curiosos e murmúrios dos outros convidados. Parte de mim entende sua frustração comigo. Se alguém fosse ao casamento da minha irmã e estragasse tudo como eu acabei de fazer, eu provavelmente reagiria da mesma maneira. Mas nada disso é realmente minha culpa. Não fui eu que agi como um louco. Não fui eu quem estava julgando se alguém pertencia ou não a este lugar. Não sou eu quem bateu. Não fui eu que joguei champanhe na cara de alguém. Ok, tudo bem. Eu cutuquei e estimulei um pouco, mas ainda assim. Um pouco dramático, não? Eu entro no corredor, e meus olhos imediatamente vão para duas figuras no final dele. Hollis e Harper estão amontoadas, Harper com os braços em volta de sua irmã mais velha, consolando-a. Hollis está chorando, isso é óbvio. Seus ombros estão tremendo com seus soluços, e eles não estão exatamente quietos. Estou começando a suspeitar que tive muito pouco a ver com sua explosão no estacionamento e agora. Isso me faz sentir mal porque outra coisa está claramente acontecendo. O desejo mais estranho de andar pelo corredor e confortá-la vem sobre mim, e isso me faz parar de repente. Meus sapatos rangem contra o chão, e os olhos de Harper encontram os meus com o som. Ela estreita os olhos, balançando a cabeça para me impedir de chegar mais perto. Ela se afasta de Hollis, então murmura algo para ela que eu não consigo entender daqui. O que quer que ela diga, Hollis acena com a cabeça e enxuga os olhos. Hollis dá um último aperto na irmã antes de sair correndo pela porta da frente sem olhar para trás. Harper a observa ir por um momento antes de se virar para mim e voltar pelo corredor com o olhar mais raivoso que eu já vi dela. Ela só tem cerca de 1,60m, pequena comparada à minha estatura de 1,90m, mas porra, ela está assustadora agora. Eu abro minha boca para me desculpar com ela, mas quando ela levanta a mão, eu a fecho. — Qualquer pedido de desculpas ou contestação que você está prestes a me dar, guarde para Hollis amanhã. Ela está passando por muita coisa agora e não precisa de mais drama esta noite. — Ela dá outro passo em minha direção. — Mas se eu descobrir amanhã que você não se desculpou com minha irmã, vou fazer você pagar o inferno, e eu assisto muitos filmes de terror, então conheço muitos lugares bons para esconder um corpo onde eles não vão encontrar você por anos. Eu realmente não duvido que ela esteja dizendo a verdade. Então, eu aceno. — Entendido. — Bom. Agora vamos voltar para a festa. Para, você sabe, meu casamento amanhã. Com um último olhar, ela passa por mim. E eu sei que este fim de semana longo ficou muito maior. 3 Hollis — Oh meu Deus, você deveria ter visto o jeito que vocês dois caminharam até o altar. Vocês estavam tão duros! Ainda não consigo acreditar que você bateu nele. — Ele mereceu! Você poderia ter me avisado sobre ele, você sabe — eu reclamo para Emilia enquanto deslizamos até um dos muitos bares que este lugar tem. — Oh, vamos lá. Ele não é tão ruim — ela diz. — Na verdade, ele é realmente muito legal. Provavelmente um dos caras mais legais do time, para ser honesta. Ele sempre joga por coisas de caridade e é tão bom com todas as crianças. — Parece que você tem uma queda por ele. — Ha. Dificilmente. Quero dizer, o homem é insanamente gostoso? Sim. Obviamente. Duh. Mas você não quer mexer com jogadores de hóquei. — Ela diz isso como se estivesse falando por experiência própria, e eu tenho a sensação de que ela está. Emilia se mudou para cá há alguns anos depois que descobriu que seu namorado estava vivendo uma vida dupla com ela e a vizinha ao lado. Assim como eu, ela teve que largar tudo. Embora eu sentisse falta dela, eu não podia culpá-la por isso. Especialmente quando lhe ofereceram um cargo de gerente de mídia social em um time profissional de hóquei. No primeiro fim de semana em que ela morou aqui, ela teve um caso de duas noites com um cara misterioso, e algo em minhas entranhas me diz que foi um dos jogadores com quem ela trabalha, embora ela não confirme. — Espere... não é ele, é? — Oh… não. — Embora suas bochechas fiquem vermelhas. — Peça-me um vinho, sim? Vou correr para o banheiro bem rápido. Eu me sento em um banquinho e suspiro. Meus pés estão me matando, e eu não quero nada mais do que tomar um banho quente e mergulhar nele por horas. — Longo dia? — O barman pergunta, colocando um guardanapo na minha frente. — O mais longo. Acordei esta manhã com uma dor de cabeça terrível, sem dúvida por causa de todo o choro de ontem. Então, quando verifiquei minha conta bancária, como faço todas as manhãs porque sou responsável assim, percebi que alguém havia feito não uma, não duas, mas três compras no meu cartão sem minha autorização. Adivinha quem passou a manhã ao telefone com o banco para tratar disso? Eu. Então, o café que eu tinha entregue pelo serviço de quarto, uma ostentação por si só, não veio com creme, e quando liguei para a recepção para pedir um pouco, eles me disseram que estavam sem. O que significava que eu estava presa com café preto, e eu odeio café preto. Isso foi tudo antes mesmo de eu sair da cama. Eu também tive que lidar com minha irmã surtando com coisas de última hora, minha mãe surtando com coisas de última hora, e todo mundo surtando com coisas de última hora. E nem me fale sobre os olhares de pena que tenho recebido de todos que sabem que acabei de me divorciar. Foi um dia emocionalmente desgastante em muitos níveis. O barman ri como seentendesse a piada, mesmo que ele não tenha ideia de quanto esse dia realmente foi longo para mim. — O que eu posso trazer para você? — Você tem achocolatado? Não sei por que digo isso. Eu tinha toda a intenção de ficar bêbada esta noite, mas o vinho não parece atraente agora. Ele levanta as sobrancelhas, então lança um olhar para o bar. — Temos achocolatado esta noite, chefe? Chefe? Eu virei no meu banquinho para encontrar minha pessoa menos favorita no mundo agora. Na verdade, provavelmente minha segunda pessoa menos favorita no mundo agora, foda-se aquele idiota que roubou as informações do meu cartão de crédito. Prendo a respiração, esperando que ele diga algo estúpido, porque aparentemente é a única coisa que pode sair de sua boca. Mas para minha surpresa, ele não diz. Ele apenas olha para o barman e acena com a cabeça. — Sim, nós temos. O barman bate no balcão duas vezes e me diz que já vai voltar, então vai embora. Eu me viro para agradecê-lo pela bebida, mas as palavras morrem na minha língua quando percebo que ele está se levantando e movendo dois bancos para se sentar ao meu lado. Tipo bem ao meu lado. Tão perto que posso sentir o cheiro dele, e ele tem um cheiro divino. Quase como uma sugestão de algo amadeirado com apenas uma nota de laranja. Odeio que eu tenha gostado. Ele não diz nada enquanto se senta, seu calor me envolvendo como um cobertor que eu não pedi. De alguma forma, ele parece muito mais alto sentado ao meu lado do que de pé ao meu lado. Eu não achava que meus saltos me davam tanta altura, mas me sinto tão pequena sentada ao lado dele agora. — Você sabe que sua irmã e Collin pagaram por um open bar, certo? — Estou ciente. Ele levanta uma sobrancelha, esperando que eu explique. Não, porque tudo o que posso ouvir é a voz de Thad na minha cabeça. Ele costumava ficar tão bravo comigo quando eu pedia em suas funções de trabalho porque era “embaraçoso”. — Achocolatado, Hollis? Sério? Você é uma adulta, os adultos não bebem achocolatado. Cresça. Mas ele nunca soube que eu amo tanto achocolatado porque me lembra das manhãs cedo com meu pai. Ele se levantava, tomava um bule de café e lia o jornal. Ele me servia um copo de achocolatado e me entregava a seção de palavras cruzadas. Sentávamos calmamente à mesa da cozinha enquanto ele lia e eu trabalhava. Sempre foi uma coisa de conforto para mim. Sempre que estou em uma situação de alto estresse, tomo um copo de achocolatado para acalmar meus nervos. Isso me ajuda a voltar a tempos mais simples, quando eu era jovem, esperançosa e não percebia o quão cruel o mundo pode ser. Antes do meu marido acabar se mostrando nada melhor do que qualquer outro homem na minha vida e me traísse. — Ok — diz ele, e, chocantemente, abandona o assunto. Ele levanta a própria bebida de sua escolha, parece um coquetel de algum tipo, e toma um gole saudável. Sentamos um ao lado do outro em silêncio por um longo tempo. Quanto tempo, eu não tenho ideia, mas seria muito errado pedir ao cara para ir embora depois do que ele acabou de fazer por mim com o achocolatado. Além disso, acho que devo a ele depois de ontem. Eu tento não me encolher pensando nisso. Esse não foi um dos melhores momentos da minha vida. Eu não tenho ideia do que aconteceu. Minhas emoções levaram o melhor de mim. Eu já estava estressada com a situação, e ele e sua atitude presunçosa não melhoraram nada. — Olha, sobre ontem — ele diz como se pudesse ler minha mente. — Eu… Levanto a minha mão, parando-o. — Não precisa se desculpar. Sou eu quem deveria estar pedindo desculpas. Eu estava completamente fora de mim em muitos aspectos, e lamento isso. Estou passando por um momento difícil, mas não deveria ter descontado em você. — Eu não ia me desculpar. Eu empurro minha cabeça para trás. — Como é? — Eu não ia me desculpar. Eu só ia dizer que sinto muito por você estar passando pelo que quer que esteja passando, mas eu te perdoo por suas ações ontem. Cara, esse homem é engraçado. — Você está falando sério? — Você está falando sério? Porque pelo que me lembro, eu não estava fazendo nada além de cuidar da minha vida ontem. Você foi quem me atacou. Ambas as vezes. — Você provocou. — Ok, tudo bem — diz ele com um encolher de ombros. — Eu admito isso. — E eu admito que eu posso ter sido um pouco… — Louca? Errática? Completamente idiota? Eu estreito meus olhos para ele, mesmo que ele não esteja errado. Fui eu quem atacou ontem, literalmente, embora não pretendesse. Mas foi ele que me provocou. Ele deve assumir a culpa também. Estou cansada demais para continuar discutindo e me importando. Eu solto um longo suspiro. — Olha, é óbvio que começamos com o pé errado, e sim, talvez eu estivesse um pouco — enfatizo a palavra para que ele saiba que não sou a única culpada aqui — louca ontem, mas podemos começar de novo? Ele me olha com cuidado, aqueles cativantes olhos verdes dele saltando para frente e para trás entre os meus próprios olhos azuis. Me assistindo. Esperando. Eu não sei para quê, mas seu olhar penetrante é intenso o suficiente para me fazer mexer no meu assento. Não gosto de como isso não me traz conforto nem desconforto. Se alguma coisa, eu me sinto vista pela primeira vez em muito tempo. Depois do que parece uma eternidade, ele me dá um aceno lento. — Sim, podemos começar de novo. — Ele levanta sua bebida assim que o barman coloca um copo de achocolatado na minha frente. — A recomeçar? — A recomeçar. Nós brindamos com nossos copos. Tomo um gole do meu achocolatado enquanto ele toma o resto de sua bebida, então acena para o barman pedindo outra. — Você não se afastou de mim depois da cerimônia — diz ele, passando a mão pelo cabelo. — Estou impressionado. E impressionado que você não me bateu ou jogou champanhe em mim. — Bem, a noite ainda é uma criança — eu digo. — Isso é justo. — Ele limpa a garganta e passa a mão sobre a barba por fazer em seu rosto. — Acho que devo dizer que sinto muito. Eu mesmo fui um pouco... antagônico. — Um pouco? — Ok, muito. Eu só... não gosto muito de casamentos. — Não gosta muito de casamentos? Você não é o proprietário deste local? — Co-proprietário. — Ele concorda. — Com minha irmã, na verdade. Ela é quem queria usar a propriedade extra para casamentos. Achei que deveríamos apenas construir uma área de atividade ou espaço aberto para os food trucks pararem, mas ela estava certa sobre os números para um local de casamento. É muito mais lucrativo do que qualquer outra coisa. Ah, então ele é um desses caras, sempre sobre o dinheiro. Thad também era assim. Ele queria o melhor e mais recente, e queria antes que qualquer outra pessoa pudesse tê-lo. — Sim, tenho certeza que você está sofrendo por dinheiro, Sr. Superstar da NHL. — Ah, então você sabe meu nome. Eu estava começando a me perguntar. Eu reviro os olhos. — Eu sei seu nome, Lowell. Mesmo que a sala esteja mal iluminada, não perco a forma como seus olhos brilham quando digo seu nome pela primeira vez, testando-o em meus lábios e ouvidos. — Cameron. — Huh? — Meu primeiro nome, é Cameron. Eu estendo minha mão para ele. — Prazer em conhecê-lo, Cameron. Eu sou Hollis. Seus olhos brilham novamente quando ele aperta minha mão. — Prazer em conhecê-la, Hollis. Um arrepio percorre minha espinha quando meu nome sai de seus lábios. Ele diz isso como se estivesse xingando e beijando tudo de uma vez. Nós não puxamos nossas mãos para trás imediatamente. Na verdade, é seguro dizer que ficamos sentados segurando as palmas das mãos um do outro por muito mais tempo do que o apropriado. Eu não consigo me afastar e, aparentemente, ele também não. Eu não entendo, e baseado na forma como suas sobrancelhas afundam cada vez mais a cada segundo, ele também não. O barman coloca uma nova bebida na frente de Lowell, e finalmente quebramos o contato. — Então — eu digo, esfregando minha mão contra minhacoxa. Não tenho certeza se estou limpando seu toque ou tentando saboreá-lo. — Como exatamente uma estrela da NHL que não gosta de casamentos se torna dono de um local para casamentos? — Não é qualquer local de casamento, um local de casamento e uma cervejaria. — Ele dá de ombros. — Apenas algo divertido para investir. Eu realmente não tenho muito a dizer por aqui. Minha irmã é a verdadeira chefe. Não sei por que, mas gosto que ele não leve todo o crédito pelo negócio como a maioria dos homens faria. Eu gosto que ele foca a atenção em sua irmã. Embora eu tenha certeza de que sendo um jogador da NHL, ele recebe muita atenção. Ele não precisa disso também. — Acho que isso faz sentido, então. Mas se você não gosta de casamentos, por que deu a aprovação? — Porque era o que ela queria. — Ele diz isso como um fato, e eu gosto disso também. — Eu entendo. E você não gosta de casamentos porque… — E você estava chorando em seu carro ontem porque… — ele desafia. Bem, merda. Ele me pegou bem aí. Com base na maneira como ele sorri, ele também sabe. Ele leva sua bebida à boca, ainda olhando para mim com expectativa como se eu fosse derramar minhas entranhas com apenas um olhar. Sem chance. — Puxa, eu me sinto muito melhor. Eu tive que fazer xixi durante todos aqueles discursos. A propósito, o seu foi ótimo. — Emilia se joga no banco ao meu lado. — Oh, bom, você pediu o meu vinho. Exceto que eu não pedi o vinho dela. Esqueci disso no momento em que me sentei e percebi que Lowell estava aqui. Olho ao redor, tentando descobrir de quem veio, e não perco o jeito que o cara mais velho do outro lado do bar está olhando fixamente para este lado, os olhos firmemente em Emilia. Quando ele finalmente tira os olhos dela e percebe que eu estou olhando para ele, ele desvia o olhar. Emilia não percebe nada disso. Ela apenas pega seu copo, bebendo metade de uma vez antes de acenar para o meu. — Eles têm achocolatado aqui? — Eu me certifiquei de que eles trouxessem um pouco para ela. — Ah, ei, Lowell. Não te vi aí. — Emilia. — Seus olhos saltam entre nós. — Vocês duas se conhecem? — Você poderia dizer isso. — Emilia me dá uma cotovelada de leve, sorrindo. — Nós nos conhecemos desde a primeira série, o primeiro dia da primeira série para ser exata. Hollis era muito tímida na época e ficou tão nervosa no ônibus para a escola que vomitou na lancheira e não contou a ninguém sobre isso. Quando chegou a hora do almoço, me senti mal e dividi metade do meu sanduíche de manteiga de amendoim e geleia com ela. Somos melhores amigas desde então. Eu tento não reagir à história porque mesmo sendo apenas uma criança, ainda é embaraçoso. — Huh — diz Lowell. — É difícil imaginar Hollis tão tímida. — Eu posso imaginar que é para você. Ouvi dizer que ela bateu muito bem em você. — Claro que sim. É uma lutadora, essa aí. — Essa aí está sentada bem aqui — eu interrompo, olhando incisivamente para Emilia, que apenas sorri de volta para mim. — Vamos, vamos dançar. — Mas você odeia dançar. — Não, eu não odeio. — Sim, você odeia. Você mal dançou no seu casam... — Ela para no meio da frase, fechando a boca, percebendo que talvez agora não seja um bom momento para falar sobre isso. — Você tem razão. Você adora dançar. Vamos dançar. — Ela engole o resto de seu vinho em um gole, então pula do banco. — Além disso, eles estão tocando Queen, e você ama Queen. No momento em que ela diz isso, meus olhos encontram os de Lowell, e seu olhar verde está dançando de tanto rir. — Ama eles, hein? — Ele diz. — Pensei que fossem... como você os chamou mesmo? Merda? Emilia suspira. — Ela nunca falaria isso! Ela é obcecada por eles. — É mesmo, Hollis? Eu dou de ombros, e ele balança a cabeça com um sorriso que acho encantador demais enquanto Emilia me arrasta para longe. Pela primeira vez desde que o conheci, não tenho certeza se quero ficar longe dele. 4 Lowell Eu me sinto como um maldito esquisito agora. Eu estive sentado no bar nos últimos vinte minutos apenas assistindo Hollis e Emilia dançando na pista. Elas estão rindo de alguma coisa, o que, eu não sei, mas não posso deixar de notar que esta versão de Hollis é exatamente o oposto da versão que conheci ontem. Honestamente, ela é confusa como o inferno. E intrigante. Eu odeio que ela seja intrigante porque isso me faz querer conhecê-la. Eu não quero querer conhecê-la. — Você parece uma merda esmagada de cachorro. — Obrigado. Eu esperava que alguém notasse o quanto eu trabalhei para ter uma boa aparência hoje. Smith ri, sentando-se no banco ao meu lado. — Isso tem alguma coisa a ver com a briga que você começou na noite passada? — Um, não foi uma briga. Dois, como você sabe disso? Você não estava lá. Ele levanta um ombro. — A notícia se espalha. — Miller? — Seu sorriso é resposta suficiente, e eu balanço minha cabeça. — Maldito novato. — Eu bebo o resto do meu coquetel e aceno para o barman pedindo outro. — Não é sobre ontem à noite. É só... outra merda. — Outra merda tipo aquela garota que você está olhando? Meus olhos voltam para a pista de dança no meio do pátio. Hollis tem os braços para cima enquanto ela balança a bunda de um lado para o outro. Honestamente, ela é uma dançarina horrível. Sem ritmo e não sabe mexer o corpo de jeito nenhum. Mas por alguma razão, eu ainda não consigo desviar o olhar. — Interessante — ele murmura, e volto minha atenção para ele. — O quê? — Nada. Faz tempo que não te vejo assim. — Assim como? — Cativado. Eu zombo. — Não estou cativado. Eu estou… — Interessado? Eu olho para ele. — Intrigado, é tudo. — Certo. — Cara, não é nada. Ele ergue as mãos em inocência. — Eu não disse que era. — Seu tom fez parecer. — E sua insistência de que não é nada também fez. — Porque não é nada. Você sabe como me sinto sobre relacionamentos. Quando tudo aconteceu com Celine há vários anos, Smith estava lá para me ajudar a juntar os pedaços e me recompor. Eu ainda estava me encontrando com os Comets na época, e Smith me colocou sob sua asa e me ajudou a enroscar minha cabeça de volta para que toda a bagunça não afetasse muito meu desempenho no gelo. Ele disse que eu era muito jovem e tinha uma carreira muito promissora para deixar algo assim me derrubar e me mandar de volta para a AHL. Então, adotei sua filosofia de vida: o hóquei vem em primeiro lugar, não importa o quê. Eu vivi por essa regra nos últimos anos e isso me manteve no caminho certo. Por causa disso, eu pude levantar a Taça Stanley sobre minha cabeça, e é disso que se trata, não é? — E você entende, nós temos a mesma visão sobre isso — eu digo. Ele passa a mão pelo queixo, coçando a barba bem aparada que mantém. — Não sei. Estou começando a pensar que posso estar errado sobre isso, afinal. Eu jogo minha cabeça para trás, surpreso com suas palavras. — Oh cara, me diga que você não está ficando mole comigo também. Já é ruim ouvir Collin e Rhodes falando sobre suas esposas. Não me diga que eles pegaram você também. Ele levanta um ombro. — Não. Apenas... envelhecendo. Começando a perceber as coisas que importam e as que não importam. — O hóquei importa. — O hóquei sempre importa. Mas... algumas coisas importam mais. Eu sigo sua linha de visão para a pista de dança, e a menos que eu esteja completamente louco, ele está olhando direto para a parceira de dança de Hollis. Eu tenho perguntas, tantas perguntas, mas assim como eu, Smith é um cara reservado. Isso é algo com o qual concordamos e respeitamos um ao outro. Eu não posso deixar de me perguntar se Emilia pode ser a causa da mudança que eu vi nele nos últimos dois anos. A linha do tempo bate… — Me ignore — diz ele, interrompendo meus pensamentos. — É apenas o casamento. Às vezes eles te fazem pensar, sabe? Sobre coisas que você pode estar perdendo. Uma pontada aguda no meu peito chama minha atenção. — Perdendo? O que pode estar faltando? Ele me dáum olhar que me diz que eu sei exatamente a que ele está se referindo, mas eu ignoro. Ele quer dizer amor. Não sinto falta do amor porque não preciso dele. Eu não preciso disso porque eu já tive e é uma porcaria. Tudo que eu preciso é hóquei... e talvez alguns encontros de uma noite. É isso. — Enfim. — Ele se afasta do bar, então me dá um tapinha nas costas. — Eu vou impedir Miller de apalpar a avó de Ryan. Ele está ficando atrevido, e eu não confio no novato. Eu rio porque provavelmente não é uma má ideia. Dizer que Miller é um pouco imprevisível seria um eufemismo. Ele se vira e dá dois passos antes de girar de volta para mim. Eu levanto uma sobrancelha para ele em questão. — Convide-a para dançar. — Convidar quem para dançar? — A garota que você não consegue tirar os olhos. Confie em mim, se eu pudesse convidar alguém para dançar agora, eu faria. — Ele olha para a pista de dança ansiosamente antes de balançar a cabeça e recuar para a multidão. Eu tiro meus olhos de suas costas e olho para a multidão na pista. Hollis está dançando bem no centro, balançando os braços, se divertindo como nunca. Ela parece ridícula. Feliz. E por um breve momento, eu quero estar lá com ela me divertindo também. A música lentamente desliza em um ritmo muito mais suave. Emilia faz um movimento em direção ao bar, mas Hollis acena para ela, balançando para frente e para trás lentamente, sozinha no meio da multidão. Eu não sei porque eu faço isso. Pode ser as palavras de Smith se repetindo na minha cabeça, ou pode ser porque ela parece tão estranha balançando para frente e para trás sozinha. De qualquer forma, deixo meus pés me levarem para frente. Eu não paro até estar bem na frente dela. Seus olhos se arregalam, surpresos ao me ver. Estou surpreso com isso também. Eu não sei quem faz o primeiro movimento, mas em um segundo ela está a um metro de distância de mim, e no próximo ela está em meus braços, não mais dançando desajeitadamente sozinha. Estamos nos movendo lentamente pela pista de dança, completamente coordenados, e é confortável fazer isso com ela. Talvez seja só porque eu não estive tão perto de alguém em muito tempo, mas seu corpo se sente bem ao lado do meu. Suave... quente. — Você é muito bom nisso — ela murmura baixinho depois de vários longos segundos em silêncio. — Aulas. — Huh? — Eu tive aulas de dança. Balé também. Muitos jogadores de hóquei fazem isso. Nos ajuda a nos mover melhor no gelo, aumenta nossa flexibilidade e agilidade. Ela inclina a cabeça para o lado. — Isso é... inesperado. — Além disso, isso nos ajuda a marcar pontos com as mulheres. — É algo que você precisa de ajuda? Marcar pontos com as mulheres? — Eu não sei, você me diz. Como eu estou indo? — Escala de um a dez? — Eu concordo. — Eu diria um quatro sólido. — Um quatro? — Um quatro sólido. — Ah, sim, sólido torna muito melhor. — Quero dizer, realmente torna. Você pode ser um quatro suave, que é mais como um três. — De dez? Ela acena. — Temo que sim. — E como alguém consegue um três de dez exatamente? Ela gesticula atrás de mim, então eu nos giro, querendo ver o que ela está olhando. — Você vê aquele cara dançando com a velhinha? Isto é um três sólido. Ele definitivamente ganha pontos por se divertir com os idosos, mas perde muitos pontos porque parece desesperado, como se estivesse se esforçando demais para impressionar alguém. — Você sabe que é meu companheiro de time, certo? — Ei, eu não faço as regras, eu apenas as repasso. — Eu diria que sua pontuação é perfeita porque, bem, eu conheço Miller e ele definitivamente está se esforçando demais, mas ainda estou confuso como ele é um três sólido enquanto eu sou um quatro sólido. Não dancei com nenhuma velhinha esta noite, e certamente não pareço desesperado. Como estou apenas um ponto à frente dele? — Ah, veja, é aí que fica meio complicado. Você não dançou com nenhuma velhinha esta noite, então você definitivamente perde pontos aí. Você também não dançou com ninguém esta noite, então você perde mais pontos aí. Na verdade, tudo o que você fez foi sentar no bar se escondendo, então, novamente, você perde mais pontos. A esse ponto, você é um. — Como você sabe o que eu tenho feito a noite toda? Suas bochechas ficam rosadas como se ela tivesse admitido algo que não deveria. — Esse não é o ponto — ela murmura. — O ponto são os pontos. — Certo. E eu tenho... um? Por não ser cavalheiresco o suficiente e ser um idiota anti-social, mas também não parecer desesperado? Ela balança a cabeça. — Quatro. — Como eu ganho os outros três? — Terno elegante e a barba sexy e desleixada combinada com sua atitude de clube de corações solitários, dando-lhe toda essa vibe de, estou quebrado, por favor, conserte-me, trouxe-lhe alguns. — Vamos definitivamente voltar para aquele terno elegante e a barba sexy desalinhada. — Ah, veja, você falou, então você voltou para um três. Você é muito mais fofo quando não fala. — Devidamente anotado. Não falar, entendi. — Olhe para isso, já baixou para dois. — Bem, já que estou perdendo pontos a cada minuto, gostaria de abordar toda a coisa do clube dos corações solitários. Posso garantir que não estou aqui procurando uma amante ou uma amiga. — Sério? Afinal, é um casamento. Não é isso que as pessoas fazem em casamentos? Eles dão uns amassos e fazem más escolhas que vão se arrepender mais tarde porque estão tristes e solitários porque outra pessoa está tendo seu felizes para sempre quando eles são um recém-divorciado de quase trinta anos começando sua vida novamente. Eu levanto uma sobrancelha arqueada para ela. — Parece que você está falando por experiência própria. Mas faria sentido, o motivo pelo qual ela estava chorando em seu carro, o motivo pelo qual ela chorou durante todo o fim de semana, o motivo pelo qual suas emoções parecem estar em todo lugar. Se ela é recém-divorciada, este fim de semana deve doer para ela. A única indicação de que eu posso estar certo é a maneira como seus olhos se afastam dos meus pouco antes que a mesma tristeza que eu vi antes volte para seu olhar, e isso me faz querer abraçá-la e envolvê-la em meus braços para formar uma camada protetora para que ninguém possa machucá-la novamente. Quem quer que a tenha quebrado assim, eu quero quebrá-los. Mais do que isso, quero vê-la feliz e despreocupada novamente. Eu faria qualquer coisa para ter isso de volta. Eu a puxo para mais perto até que seu corpo esteja colado ao meu e coloco meus lábios em seu ouvido, tentando não me distrair com o quão bom é seu cheiro quando estou tão perto dela. Sua frequência cardíaca aumenta com a nossa proximidade, e eu posso ouvir sua respiração ficando mais forte a cada segundo. — Diga-me, Hollis, você está procurando um amante ou amigo? Ela engole em seco. É tão audível que eu ouço isso também. Ela inclina a cabeça para trás, olhando para mim, sua língua correndo para molhar os lábios. — Você está oferecendo? É a minha vez de ficar surpreso porque eu não esperava que ela dissesse isso. — Isso depende... Qual deles você está procurando? Ela ri, embora não haja humor nisso, e lentamente balança a cabeça. — Nenhum. Eu não tenho nenhum interesse em procurar também. Não agora. — Todo mundo merece um amigo, Hollis. Até você. — Eu inclino minha cabeça para baixo até que estejamos olho no olho. — Especialmente você. Outra respiração gaguejante. Seus olhos lampejam para os meus lábios, depois para os meus olhos, de volta para os meus lábios mais uma vez. Se eu me movesse apenas um centímetro, nossas bocas tocariam. Eu estaria beijando Hollis, e não acho que iria parar tão cedo. Ela abre a boca para responder, mas o que quer que esteja prestes a dizer é interrompido pelo som do obturador de uma câmera. Eu encaro o intruso. — Desculpe — diz o fotógrafo do casamento, não parecendo nem um pouco arrependido. — Vocês dois estavam apenas…uau. A química estava brilhando, eu tive que capturá- la. Ele balança a câmera para nós e tira mais algumas fotos antes de sair. O momento passou. Eu olho de volta para Hollis, mas com o quão rígida ela ficou em meus braços, eu já sei o que está por vir antes mesmo que ela diga. — Eu tenho que ir. Ela se afasta, e eu a deixo ir. Não sei quanto tempo fico ali olhando ela se afastar, e não sei quanto tempo fico ali parado depois que ela se foi. Eu sei que levo um segundo para sentir falta dela e querer abraçá-la novamente, e dois segundos para afastar as centenas de perguntas que já estão passando pela minha cabeça. Também sei que preciso de exatamente trinta passos para chegar à porta que leva para fora, e demoro um minuto para encontrá-la nos jardins ao lado da cervejaria. Ela está sentada em um banco, os ombros curvados para a frente, a cabeça apoiada nas mãos. É óbvio que ela está chateada, mas não sei sobre o quê, e não sei por que me importo tanto. Por que diabos eu me importo tanto? Eu caminho em direção a ela lenta e silenciosamente, não querendo assustá-la, mas de alguma forma, ela sabe que estou aqui. — Você não pode ser meu amigo, Lowell. Sento-me no banco ao lado dela, sem perder a lágrima que escorre pelo seu rosto. — Por que não? — Porque eu não gosto de você. Eu rio baixinho, gentilmente alcançando seu rosto e inclinando-o para que ela esteja olhando para mim. — Isso é bom. Eu também não gosto muito de você. É mentira. Eu gosto dela. Na verdade, não consigo me lembrar da última vez que gostei tanto de alguém quanto gosto dela. Eu não quero gostar dela, assim como eu realmente não quero lutar contra essa vontade de pressionar meus lábios nos dela. Eu não quero querer beijá-la. Mas eu quero. Eu realmente, realmente quero. Especialmente quando ela está olhando para mim com os olhos arregalados cheios de lágrimas não derramadas. Eu quero beijar toda a tristeza e todos os problemas que ela parece estar tendo. Quero vê-la sorrir novamente. Eu quero vê-la rir. Quero prová-la. Acho que ela está tão surpresa quanto eu quando pressiono meus lábios nos dela. Ela leva um momento para responder, como se estivesse esperando seu cérebro entender o que está acontecendo. Eu estou esperando meu cérebro entender o que está acontecendo também. Por que estou beijando ela? Que diabos estou fazendo? Eu não sei quanto tempo ficamos assim, imóveis, nossos lábios apenas descansando juntos, mas é como se toda a tensão saísse do ar em um segundo e não estivéssemos mais sentados. Hollis me beija de volta como se fosse o primeiro e último beijo que ela vai ter, e eu não ouso desperdiçar um segundo, deslizando minha mão mais para cima em seu cabelo, a outra indo para seu quadril, arrastando-a para mim até ela estar montada no meu colo. Ela solta um gemido baixo no momento em que nossos corpos se conectam, então se acomoda contra mim como se estivesse sentada exatamente onde ela pertence. Suas mãos entram no meu cabelo, me puxando para mais perto e aprofundando o beijo. Não há como ela não sentir meu pau através dessas calças horríveis, assim como não há como confundir a mancha molhada pressionando contra mim onde nossos corpos estão se encontrando. Eu arrasto minhas mãos por seu corpo, correndo meus dedos ao longo de suas curvas, memorizando-as, certificando- me de tocar cada centímetro dela. Eu deslizo minhas mãos sobre sua bunda e sob o vestido fino e esvoaçante que está amarrado em torno de sua cintura. Minhas mãos deslizam sobre suas nádegas, e faço um ruído baixo de aprovação quando percebo que ela está usando uma calcinha fio-dental. Ela afasta a boca com o som, sua respiração fica irregular enquanto ela olha para mim com olhos vidrados, desta vez por um motivo diferente de lágrimas. — O que estamos fazendo, Lowell? — Estou sendo seu amigo. Ela ri baixinho. — Eu disse que não quero ser sua amiga. Eu não gosto de você. — Tudo bem. Então eu estou sendo seu amante. Ela esmaga o lábio entre os dentes. — Isso é uma má ideia. — Eu sei. — É uma ideia muito, muito ruim. — Eu sei. — Isso é exatamente como uma daquelas ideias ruins que eu estava falando antes. — Eu sei, Hollis. — Eu aperto as bochechas de sua bunda, deixando cair minha testa na dela. — Eu sei. Ela está certa. É uma péssima ideia. Tipo, a pior possível de todos os tempos. Ela é cunhada do meu companheiro de time. Collin me mataria. Sem mencionar que ela é recém-divorciada e dormir com ela agora provavelmente cairia em uma área moralmente cinzenta. Ela está muito vulnerável emocionalmente. Ela também... Ela move os quadris, esfregando-se contra o meu pau, que ainda está morrendo de vontade de sair dessas calças. Eu agarro seus quadris, puxando-a para mais perto porque, oh Deus, ela é tão boa. Eu corro meu nariz ao longo de sua mandíbula, amando o cheiro de flores frescas que parece estar irradiando dela. — O que você está fazendo, Hollis? — Não sei. — Achei que era uma má decisão. — E é. Tão ruim. — A pior — eu concordo, salpicando beijos ao longo de seu pescoço. Ela acena. — Lowell? — Hum? Ela se afasta, nossos olhos colidindo, a lua refletindo em seu olhar azul escuro. Se este é o momento em que ela vai embora, quero memorizá-la. Ela é linda, sua pele ligeiramente pegajosa do calor no ar, bochechas coradas dos meus beijos, cabelo uma bagunça feita pelas minhas mãos. Sua boca se abre, e ela diz algo que eu não sabia que precisava tanto ouvir: — Quero tomar uma decisão ruim com você. 5 Hollis Eu não choro desde o casamento da Harper em julho, uma coisinha da qual estou imensamente orgulhosa, considerando o quão estressante tudo tem sido na minha vida. Mas hoje? Hoje eu sinto vontade de chorar, e é tudo porque eu simplesmente tive que sair do meu apartamento e tentar trabalhar em outro lugar durante o dia. No momento em que entrei no café bonitinho que encontrei há algumas semanas, sabia que era uma má ideia. O cheiro aqui é... ugh, está horrível hoje, e está fazendo meu estômago revirar como louco. Geralmente cheira a um doce e delicioso assado, uma grande razão pela qual venho aqui. Hoje não. Hoje, o café cheira a queimado, a calda de avelã está me fazendo engasgar, e se eu tiver que sentir o cheiro de mais um sanduíche de ovo aquecido, eu realmente posso vomitar. Agarro meu estômago, desejando não vomitar. Falta só um pouco mais para terminar de escrever, e depois disso acabei e posso tirar o fim de semana e a segunda-feira de folga. É uma das coisas que eu amo na escrita de conteúdo, a flexibilidade. Eu também adoro poder pegar e trabalhar em qualquer lugar que eu quiser. Isso tornou muito mais fácil fazer as malas de toda a minha vida e me mudar pelo estado após o divórcio. Deixar minha mãe e tentar fazê-la entender que eu ficaria bem sozinha? Bem, essa foi uma história totalmente diferente. Meu estômago protesta novamente e eu pressiono minha mão contra ele, esperando acalmá-lo. Eu fecho meus olhos, sugando algumas respirações profundas para não vomitar no meio da cafeteria. Vamos, Hollis. Apenas meia hora a mais. Você consegue. Meu telefone vibra contra a mesa, e estou envergonhada pela maneira como corro para verificá-lo. Eu murcho quando vejo que é apenas minha mãe ligando pela quinta vez hoje, mesmo sabendo que estou trabalhando. Eu mando sua ligação para o correio de voz e espero meu telefone acender com uma mensagem irritada de dois minutos. Eu não sei por que eu esperava que fosse alguém diferente. É sempre só minha mãe ligando, não importa o quanto eu queira que seja outra pessoa. É bobo por muitas razões. Um, eu nunca lhe dei meu número. E dois, eu não deveria querer que ele ligasse. Soube o resultado no minuto em que pedi a Lowell que me levasse para a cama. Foi uma coisa de uma única vez. Era isso. Então acordar decepcionada com o lugar frio ao meu lado na manhã seguinte é minha própria culpa.Ele não entrar em contato comigo é provavelmente o melhor. Quero dizer, ele é companheiro de time do meu cunhado. Me envolver com ele, de novo, não seria a melhor decisão. Eu acho que estou esgotada em más decisões ultimamente. — Bem-vinda ao Cup of Joe's! O que posso te dar hoje? — Vou tomar um café com leite de avelã e depois um ovo… Eu alcanço o que está mais próximo de mim, que por acaso é minha bolsa de notebook, e coloco para fora todo o conteúdo do meu estômago. Eu gemo, limpando minha boca com as costas da minha mão. Eu alcanço cegamente um guardanapo da minha mesa e o uso para limpar minha testa suada. O que diabos está errado comigo? Esta é a segunda vez esta semana que eu vomito. Primeiro, foi por causa de restos de pizza estragada, algo que eu nunca acreditei que fosse uma coisa até que eu vi respingado no vaso sanitário. Agora, a julgar pelo macarrão no fundo da bolsa do meu notebook, é a comida chinesa que eu pedi ontem à noite. — Ugh — eu resmungo, jogando o guardanapo na bolsa agora arruinada e sentando contra a mesa em que estou sentada. — Ótimo. Exatamente o que eu precisava. — Você está bem? — Alguém pergunta ao meu lado. Eu aceno com a mão, não realmente prestando atenção enquanto fecho meus olhos e puxo algumas respirações profundas e firmes porque meu estômago está revirando novamente. Não sei por quanto tempo fico sentada assim, mas sou interrompida por uma voz doce e velha. — Aqui está, querida. — Eu abro meus olhos para encontrar uma mulher que parece ter uns sessenta anos segurando um copo de água para mim. — Beba isso. Vai ajudar. Eu alcanço o copo e engulo sem questionar. Meu estômago ronca novamente quando a água o atinge, mas não demora muito para que ele se acalme. — Obrigada — eu consigo engasgar, minha garganta doendo de vomitar. — E eu sinto muito. Eu estou tão envergonhada. — Está tudo bem, querida. Todas nós já passamos por isso antes. — Todas nós já vomitamos em público antes? — Bem, a maioria de nós mães já. Realmente não é grande coisa. Mães? Sobre o que ela está falando? — Eu não sou mãe. — Oh, desculpe. Eu pensei… — Ela acena com a mão enrugada. — Bem, não importa o que eu pensei. Não é importante. Você precisa de outro copo de água? — Na verdade, isso seria ótimo, obrigada. Acho que não suporto o cheiro de andar pelo lugar. Ela franze os lábios como se quisesse dizer alguma coisa, então balança a cabeça, pensando melhor. Ela pega o copo das minhas mãos e volta para o balcão para reabastecer. Mães? Eu balanço minha cabeça. A velhota acha que estou grávida? Eu pareço grávida? Eu sei que comi muita comida chinesa ontem à noite, mas não estou grávida. Isso não é… — Ah, porra. — Perdão? — A senhora diz, colocando um novo copo de água na mesa. — Eu… Eu tenho que ir. Eu tenho que ir agora. Eu me levanto da cabine tão rápido que a água espirra do copo. Eu nem me importo que quase atinja meu notebook. Estou muito ocupada surtando. — Muito obrigada por sua ajuda — eu digo para a mulher enquanto pego minhas coisas. Jogo minha bolsa do notebook no lixo, depois pego o resto das minhas coisas, jogando minha bolsa no ombro. — Mas eu tenho que ir. — Ir? Tem certeza de que está em condições de ir, querida? Não. — Sim, estou bem. Obrigada novamente. E desculpe. — Está bem. Eu… Eu não ouço o resto de suas palavras. Já estou fora da porta, voando pela calçada até a farmácia mais próxima. Vou imediatamente para o corredor de cuidados familiares e pego nada menos que seis kits. Como uma decisão de última hora, pego um saco de copos Solo e vou para o banheiro. Eu nem me incomodo em pagar nada. Farei isso depois. Estou muito assustada para esperar que alguém ligue para isso. Eu preciso saber agora. Eu rasgo todos eles, junto com os copos, e pairo sobre o vaso sanitário, querendo fazer xixi. Depois de mergulhar cada palito, eu espero. E assisto. E espero. E assisto. E espero. E finalmente… eu choro. Choro porque nem um, nem dois, mas todos os seis testes dizem a mesma coisa. Eu estou grávida. — Estou grá… A palavra fica presa na minha garganta, e eu a engulo. Uma vez. Duas vezes. Eu corro minha língua sobre meus lábios e tento mais uma vez. — Estou gráv… Fica travado novamente. É a mesma coisa que vem acontecendo nos últimos três dias desde que fiz esses testes. Depois de chorar no banheiro da farmácia por vinte minutos, paguei os exames e peguei mais três só para ter certeza, depois levei para casa e fiz tudo de novo. Os resultados foram os mesmos em cada um. Assim como os resultados foram os mesmos esta manhã, quando ouvi de volta da minha médica. — Parabéns, Srta. Kelly, você está grávida. Eu vomitei em seu escritório com suas palavras. Ela não ficou muito feliz com isso, ou o fato de que eu já estava com nove semanas e não tinha a menor ideia. Depois que expliquei que sempre tive períodos erráticos e tenho estado sob muito estresse desde o meu divórcio, ela entendeu. Ela perguntou se eu ia contar ao meu ex-marido sobre o bebê. Eu ri até chorar. Então eu vomitei novamente. Eu ainda não consigo acreditar. Como diabos isso aconteceu? Quer dizer, eu sei como. Eu só… como?! Usamos proteção. Eu sei que usamos proteção. Eu literalmente o vi colocar a camisinha. Mas talvez algo tenha acontecido. Quero dizer, estávamos indo muito forte. Talvez tenha estourado e nenhum de nós percebeu. Talvez seja tudo minha culpa, porque eu realmente não consigo me lembrar da última vez que tomei minha pílula anticoncepcional porque eu estava muito distraída com tudo o que estava acontecendo na minha vida. Talvez… Não. Vou enlouquecer pensando em todos os diferentes cenários. Nenhum deles vai mudar o resultado. — Estou grávida. Eu solto um suspiro gaguejante, completamente chocada até o meu interior. Acabei de me divorciar há três meses, e o primeiro cara com quem durmo, completamente por capricho, me engravidou. O que diabos eu fiz na minha vida passada para merecer esse tipo de carma? Eu descanso minha cabeça contra o volante apenas para pular de surpresa quando a buzina toca. Bem, se Harper não sabia que eu estava aqui antes, ela definitivamente sabe agora. Apenas alguns segundos depois, a porta da frente se abre, e ela fica lá, olhando para mim, perplexa porque eu estou apenas sentada no meu carro, buzinando. O que ela não sabe é que estou sentada no meu carro buzinando porque estou com medo de entrar lá e dizer a ela que estou grávida... do bebê de Lowell. Estou principalmente apavorada porque ela não tem ideia de que dormimos juntos. Nesse momento, o carro de Emilia estaciona na garagem de Harper, e ela acena animadamente para mim. Eu nem tenho coragem de acenar de volta. Perguntei a Harper se poderíamos ter um dia das meninas hoje na casa dela. Achei que eu poderia muito bem deixá-las saber as consequências de minhas ações juntas, em vez de ter que repetir uma e outra vez. Principalmente porque não tenho certeza se posso. Pego minha bolsa e minha confiança e saio do meu carro assim que Emilia sai do dela. Ela bate palmas. — Estou muito animada com o dia de hoje. Eu preciso de uma pausa antes que todos aqueles garotos fedorentos comecem a voltar para o rinque em algumas semanas. Só de pensar nos jogadores de rinque e hóquei me dá vontade de vomitar meu café da manhã. Ou talvez seja apenas o enjoo matinal. De qualquer forma, eu mantenho minha mão no meu estômago, tentando empurrar a sensação para baixo. É algo que tenho me pego fazendo muito nos últimos dias, tocando meu estômago. Há um bebê dentro de mim. Estou gerando uma vida humana. Não é que eu nunca pensei que teria um bebê ou uma família. Eu estaria mentindo se dissesse que não queria essas coisas com Thad uma vez. Na verdade, eu tinha toda a nossa vida planejada praticamente desde o início. Nós nos casaríamos e seríamos apenas nós por alguns anos para que pudéssemos navegar a vida como recém-casados