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O Atlântico de Língua Portuguesa em Perspectiva Comparada de Segurança e Defesa

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO – UFRJ 
CENTRO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS 
INSTITUTO DE HISTÓRIA – IH 
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA COMPARADA – PPGHC 
 
 
 
 
 
 
 
 
O ATLÂNTICO DE LÍNGUA PORTUGUESA EM 
PERSPECTIVA COMPARADA DE SEGURANÇA E DEFESA – 
DOS DOCUMENTOS POLÍTICOS ÀS ELABORAÇÕES 
ESTRATÉGICAS (1996 A 2013). 
 
 
 
 
 
DANIELE DIONISIO DA SILVA 
 
 
 
 
RIO DE JANEIRO 
 
OUTUBRO/2015 
 ii 
DANIELE DIONISIO DA SILVA 
 
 
 
 
 
 
 
O ATLÂNTICO DE LÍNGUA PORTUGUESA EM 
PERSPECTIVA COMPARADA DE SEGURANÇA E DEFESA – 
DOS DOCUMENTOS POLÍTICOS ÀS ELABORAÇÕES 
ESTRATÉGICAS (1996 A 2013). 
 
 
 
 
Tese de doutorado apresentada ao Programa de Pós-
Graduação em História Comparada, da Universidade Federal 
do Rio de Janeiro – PPGHC / UFRJ, na Linha de Pesquisa 
Poder e Instituições, como parte dos requisitos necessários à 
obtenção do título de Doutora em História Comparada. 
 
Orientadora: Prof. Drª. Sabrina Evangelista Medeiros 
Co-orientador: Prof. Dr. Adriano de Freixo 
 
 
 
RIO DE JANEIRO 
 
OUTUBRO/2015 
 iii 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Dionisio da Silva, Daniele. 
O Atlântico de Língua Portuguesa em Perspectiva Comparada de 
Segurança e Defesa – dos documentos políticos ás elaborações estratégicas 
(1996 a 2013) / Daniele Dionisio da Silva. Rio de Janeiro, 2015. 
340 f., enc. 
 
Orientadora: Prof. Drª. Sabrina Evangelista Medeiros 
Co-orientador: Prof. Dr. Adriano de Freixo 
 
Tese (Doutorado em História Comparada) – Universidade Federal do Rio 
de Janeiro, Programa de Pós-Graduação em História Comparada, Rio de 
Janeiro, 2015. 
 
Referências: f. 340. 
 
1. Comunidade dos Países de Língua Portuguesa. 2. CPLP. 3. Agenda de 
Segurança e Defesa. 4. Conferência das Marinhas da CPLP – Teses. I. 
Medeiros, Sabrina Evangelista (Orient.). II. Universidade Federal do Rio 
de Janeiro. Programa de Pós-Graduação em História Comparada. III. O 
Atlântico de Língua Portuguesa em Perspectiva Comparada de Segurança e 
Defesa – dos documentos políticos às elaborações estratégicas. 
 
 iv 
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO – UFRJ 
CENTRO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS 
INSTITUTO DE HISTÓRIA – IH 
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA COMPARADA – PPGHC 
 
 
Tese intitulada “O Atlântico de Língua Portuguesa em Perspectiva Comparada de Segurança e 
Defesa – dos documentos políticos às elaborações estratégicas (1996 a 2013).”, de autoria da 
doutoranda Daniele Dionisio da Silva, aprovada pela banca examinadora constituída pelos 
seguintes professores: 
 
 
COMISSÃO DE AVALIAÇÃO 
 
_________________________________________________________________________ 
Profª. Drª. Sabrina Evangelista Medeiros – PPGHC/UFRJ – EGN/MB – Orientadora 
 
_________________________________________________________________________ 
Prof. Dr. Adriano de Freixo – INEST/UFF – Co-orientador 
 
_________________________________________________________________ 
Prof. Dr. Ivo Jose de Aquino Coser – PPGHC/UFRJ 
 
_________________________________________________________________ 
Prof. Dr. José Costa D’Assunção Barros – PPGHC/UFRJ 
 
_________________________________________________________________ 
Prof. Drª. Laura Cristina Ferreira-Pereira – Universidade do Minho 
 
_________________________________________________________________ 
Prof. Dr. Eli Alves Penha – Instituto de Geografia/UERJ e IBGE 
 
 
Rio de Janeiro, 29 de outubro de 2015.
 v 
DEDICATÓRIA 
 
 
 
 
 
 
 
 
Dedico este trabalho a aqueles que passam a vida a 
pensam e a viver o mar, são percebidos pela sociedade 
terrestre como se vivessem em uma ilha deserta, 
desconhecida e sem valor; verdadeiros oceanógrafos de 
uma vida marítima. 
 
 
 
 
 vi 
AGRADECIMENTOS 
 
Primeiro, ao companheiro da minha vida, aquele que divide comigo as ondas, 
sabe ser farol e por muitas vezes torna-se o timoneiro do meu barco. 
 
A minha mãe, que agora é filha, pelos ensinamentos ao longo do caminho. 
 
Ao meu irmão por ser tão diferente como a água e o vinho. 
 
A estimada Mestra Sabrina Medeiros que sempre confiou em mim, e me permitiu 
por mais de quatro anos conhecer um oceano chamado Atlântico que fala 
português, enquanto tantos outros orientadores teriam me sugerido estudar um que 
falasse inglês ou mesmo chinês. 
 
Ao Professor Adriano de Freixo pelas sugestões de leitura e pelas longas 
conversar sobre o jeito português de ver o mundo 
 
Aos meus gatos Feel e Félix, companheiros fiéis de longos dias e noites sentados 
ao lado do computador. 
 
Aos meus amigos e parentes que sentiram minha ausência, em especial a minha 
prima Tamyres por fornecer a trilha sonora das longas horas de estudo. 
 
As minhas estimadas amigas de Mestrado e Doutorado, Cintiene Sandes e Ana 
Luiza Paiva, por compartilhar sete longos anos de ansiedades e boas risadas. 
 
As minhas estimadas amigas Sabrinetes, Ana Paula Rodriguez, Verônica Pires, 
Bianca Bittencourt, Julia Fogel, Flávia Seidel e Daiana Seabra pelo apoio diário 
via zapzap. 
 
Aos grandes apaixonados pelo mar, Comandante José Augusto, Comandante 
Treuffar, Comandante Claudio Rogério, Comandante Correia, Comandante Alves 
de Almeida e Thiago Sarro por me ensinarem coisas sobre a vida a bordo que não 
encontraria nos livros. 
 
A todos do Laboratório de Simulações e Cenários da Escola de Guerra Naval 
pelas boas conversas sempre repletas de intensas reflexões 
 vii 
 
Ao Almirante Silva Ribeiro pelas longas conversar sobre o Atlântico português e 
por sua disponibilidade em me ajudar no Estado Maior da Armada de Portugal. 
 
A Professora Helena Carreiras por me receber para uma longa conversa sobre 
defesa em Portugal. 
 
A Reitoria do Instituto Federal do Rio de Janeiro que me permitiu no último ano 
dedicar-me este trabalho. 
 
Ao PPGHC pela oportunidade de fazer um doutorado em uma instituição de 
excelência como é a UFRJ. 
 
A querida Smirna Cavalheiro pela primorosa revisão e por sofre comigo para 
cumprir o prazo. 
 
Por fim, a todos aqueles que de algum modo partilharam comigo esses quatro 
anos de tese. 
 viii 
 
“O mar não é um obstáculo, é um caminho” 
Amyr Klink 
 
 
“Aquele que comanda o mar comanda o comércio; 
aquele que comanda o comércio do mundo comanda as riquezas 
do mundo e, consequentemente, o próprio mundo” 
Sir Walter Raleigh. 
 
 
“... Da nossa língua vê-se o mar e ouve-se o seu rumor. Esse 
mar que nos fez encontrar um dia e que alarga o horizonte à 
medida da esperança que aqui nos reúne e do afeto que liga os 
nossos Povos...” 
Vergílio Ferreira. 
 ix 
RESUMO 
 
 
Hoje, no mapa geoestratégico, o Atlântico é visto como secundário, entretanto, para 
Brasil, Portugal e para os PALOPS ele deveria ser parte dos objetivos nacionais permanentes 
e estratégicos. O Atlântico constitui inegável fonte de riquezas, mas também preocupação na 
área da segurança. Crescem nesse ambiente a pirataria, a imigração ilegal e o tráfico de armas 
e drogas. Apesar da exploração de recursos naturais oceânicos e do fluxo de mercadorias, há 
carência de meios militares e de tecnologia de ponta para combater esses crimes. Os oceanos 
são um desafio para a defesa dos Estados ao apresentarem uma concepção diferenciada de 
limites e fronteiras. Além disso, a CNUDM atribuiu aos países direitos e deveres sobre suas 
áreas oceânicas, reforçando a lógica que para explorá-las há que se garantir a segurança 
marítima de todos. Assim, o presente trabalho busca analisar o Atlântico como elemento 
discursivo ao longo da história recente, nas instruções normativas e nos planejamentos 
político-estratégicos de Brasil e de Portugal, tendo como fontes os documentos publicados 
pelos Ministérios da Defesa, tais como PDN, END, Livro Branco de Defesa, Conceito 
Estratégico de Defesa Nacional, bem como documentos de algumas outras estruturas estatais 
para o ambiente marítimo. Ademais, o trabalhotambém propõe analisar a Agenda de 
Segurança e Defesa da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, principalmente para o 
ambiente marítimo, nesse caso, primordialmente o Atlântico Sul, a fim de que se obtenha uma 
história comparada dos âmbitos bilaterais e multilaterais da Componente de Defesa. 
 
Palavras Chave: Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, CPLP, Agenda de 
Segurança e Defesa, Conferência das Marinhas da CPLP. 
 x 
ABSTRACT 
 
 
Nowadays, the Atlantic Ocean is seen as secondary in the global geostrategic map, 
however, to Brazil, Portugal and the PALOPS it should be part of their permanent and 
strategic national interests. The Atlantic is an undeniable source of wealth, but it is also a 
concern in the area of security. Piracy, illegal immigration and drug and weapons trafficking 
grow each day in this environment. Although, the exploitation of ocean resources and the 
flow of goods, there is a lack of military resources and the latest technology to combat these 
transnational crimes. The oceans are a challenge for the defense of States because of their 
differentiated design of limits and boundaries. In addition, the UNCLOS assigned to 
countries, rights and duties of their ocean areas reinforcing the logic that to explore them it is 
necessary to ensure maritime security for all. Thus, this thesis aims to analyze the Atlantic 
Ocean as a discursive element along the recent history, in the normative instructions and in 
the political-strategic plans of Brazil and Portugal. The sources to be used are: the documents 
published by the Ministries of Defense, such as National Defense Policy (PDN), National 
Defense Strategic (END); National Defense White Paper (LBDN), Strategic Concept of 
National Defense, as well as documents of some other state structures to the maritime 
environment. In addition, the study also aims to analyze the agenda of security and defense of 
the Community of Portuguese Language Countries, mainly to the marine environment, in this 
case primarily the South Atlantic, in order to obtain a comparative history of bilateral and 
multilateral areas of Defense Component. 
 
Keywords: Community of Portuguese Language Countries, CPLP, Agenda of Security and 
Defense, Navy’s Conference of CPLP. 
 xi 
LISTA DE SIGLAS 
 
AJB Área Marítima de Jurisdição Brasileira 
ALCA Área de Livre Comercio das Américas 
AMAZUL Amazônia Azul 
ASA Cúpula de chefes de Estado da África e da América do Sul 
BNDES Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social 
BRICS Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul 
CAE Centro de Análise Estratégica 
CDS Conselho de Defesa Sul-Americano 
CEMGFAs Chefe do Estado-Maior-General das Forças Armadas 
CIRM Comissão Interministerial para os Recursos do Mar 
CLPC Comissão de Limites da Plataforma Continental 
CNUDM Convenção das Nações Unidas sobre Direito do Mar 
CPLP Comunidade dos Países de Língua Portuguesa 
CSM Consciência Situacional Marítima 
DHN Diretoria de Hidrografia e Navegação da Marinha do Brasil 
ECA Comissão Econômica para a África 
ECOWAS Comunidade Econômica dos Estados da África Oriental 
EMA Estado Maior da Armada 
EMGEPROM Empresa Gerencial de Projetos Navais 
ENB Estratégia Naval Brasileira 
END Estratégia Nacional de Defesa 
FAs Forças Armadas 
FHC Fernando Henrique Cardoso 
FMI Fundo Monetário Internacional 
FRELIMO Frente de Libertação de Moçambique 
IBAS Índia, Brasil e África do Sul 
I CNUDM I Conferência das Nações Unidas sobre Direito do Mar 
II CNUDM II Conferência das Nações Unidas sobre Direito do Mar 
III CNUDM III Conferência das Nações Unidas sobre Direito do Mar 
IMO International Maritime Organization 
INACE Indústria Naval do Ceará 
ISA International Seabed Authority (Autoridade Internacional dos Fundos Marinhos) 
LEPLAC Levantamento da Plataforma Continental Brasileira 
LBDN Livro Branco de Defesa Nacional 
MAN-Namíbia Assessoria Naval na Namíbia 
MARPOL Convenção Internacional para a Prevenção da Poluição por Navios 
MB Marinha do Brasil 
MD Ministério da Defesa 
 xii 
MDNs Ministros da Defesa Nacional 
MERCOSUL Mercado Comum do Sul 
MGM Marinha de Guerra Angolana 
MNE Ministério dos Negócios Estrangeiros 
MP Marinha Portuguesa 
MRE Ministério das Relações Exteriores 
NEPAD Nova Parceria para o Desenvolvimento da África 
OIs Organizações Internacionais 
ONU Organização das Nações Unidas 
OTAN Organização do Tratado do Atlântico Norte 
PAED Plano de Articulação e Equipamento da Defesa 
PAEMB Plano de Articulação e Equipamento da Marinha do Brasil 
PALOPs Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa 
PC Plataforma Continental 
PND Política Nacional de Defesa 
PEDs Países em Desenvolvimento 
PROAREA Programa de Prospecção e Exploração de Recursos Minerais da Área 
Internacional do Atlântico Sul e Equatorial 
PROMAR Programa da Mentalidade Marítima 
PRONABIO Programa Nacional d Diversidade Biológica 
PROTRINDADE Programa de Pesquisas Cientificas na Ilha da Trindade 
PSRM Plano Setorial para os Recursos do Mar 
Recursos Vivos Marinhos 
REMAC Programa de Reconhecimento Global da Margem Continental Brasileira 
REMPLAC Programa de Avaliação da Potencialidade Mineral da Plataforma Continental 
Jurídica Brasileira 
REVIMAR Programa de Avaliação, Monitoramento e Conservação da Biodiversidade Marinha 
REVIZEE Programa de Avaliação do Potencial Sustentável e Monitoramento dos Recursos
 Vivos na Zona Econômica Exclusiva 
SADC Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral 
SAR Área de Busca e Salvamento 
SECIRM Secretaria da Comissão Interministerial para os Recursos do Mar 
SIPRI Stockholm International Peace Research Institute 
SisGAAz Sistema de Gerenciamento da Amazônia Azul 
SPAD Secretariado Permanente para Assuntos da Defesa 
TIAR Tratado Interamericano de Assistência Recíproca 
TNP Tratado de Não-Proliferação Nuclear 
UA União Africana 
UE União Europeia 
UNASUL União das Nações Sul-Americanas 
 xiii 
UNCLOS United Nations Convention on the Law of the Sea 
UNIFIL United Nations Interim Force in Lebanon 
ZEE Zona Econômica Exclusiva 
ZOPACAS Zona de Paz e Cooperação do Atlântico Sul 
 xiv 
SUMÁRIO 
 
Página 
 
Apresentação 1 
 
Introdução 17 
 
Capítulo 1 – As relações políticas e econômicas entre Brasil, Portugal e os países africanos 
de língua portuguesa nos últimos quarenta anos. 23 
 
1.1 – Do Brasil colônia aos processos de independência na África de língua portuguesa. 24 
 
1.2 – Avanços e retrocessos nas relações políticas e econômicas até o fim do século XX. 33 
 
1.3 – As mudanças na virada do século XXI e o amadurecimento da CPLP. 45 
 
1.4 – O fim das guerras civis e a tentativa do pensamento próprio da África para África. 58 
 
1.5 – Duas visões: Países de Língua Portuguesa ou Lusófonos, que estabelecem duas 
estratégias: como aliados do sul ou ex-colônias portuguesas. 65 
 
Capítulo 2 – Concepção políticas e estratégicas para os Oceanos ao longo da história. 76 
2.1 – Percepções estratégicas de um oceano do norte e um pouco da história 
militar marítima no Atlântico. 77 
 
2.1.1 – A Diplomacia Naval e as Marinhas como ator de política externa. 90 
 
2.2 – As Conferências sobre o Direito do Mar e a construção de percepções 
para um oceano do sul. 98 
 
2.3 – A CNUDM e a mudança do paradigma do oceano como meio para fonte de recursos. 111 
 
Capítulo 3 – A Agenda de Segurança e Defesa da Comunidade dos Países de 
Língua Portuguesa e o oceano de língua portuguesa em perspectiva estratégica. 130 
 
 xv 
Página 
 
3.1 – A Segurança e Defesa na CPLP, a estrutura para o mar e as principais 
temáticas marítimas. 130 
 
3.1.1 - Conjuntura oceânica atual e um breve cenário prospectivo 145 
 
3.2 – A análise dos documentos brasileiros paradefesa e segurança e construção 
estratégica de uma potência costeira. 153 
 
3.3 – A análise dos documentos portugueses para defesa e segurança e a disputa entre um 
pensamento de segurança coletiva e a soberania sobre a maior área marítima da Europa. 174 
 
3.4 – As outras Marinhas, suas competências e as dificuldades de construir um 
pensamento naval. 189 
 
Capítulo 4 – Atlântico de língua portuguesa da dimensão histórico-política a técnico-estratégica. 211 
 
4.1 – Algumas percepções teóricas aplicáveis a Agenda de Segurança e Defesa da CPLP 
e ao ambiente marítimo comunitário. 211 
 
4.2 – A análise dos documentos e as principais concepções da Agenda de Segurança 
e Defesa da CPLP. 226 
 
Conclusão 295 
 
Referências Bibliográficas 304 
 
Anexos 
 
Anexo I – Gastos Militares por Países (2000-2013) - (em milhões de dólares) 317 
 
Anexo II – Sites CPLP 319 
 xvi 
LISTA DE FIGURAS 
 
Página 
 
Figura 1: Mapa com os Países Membros e Observadores da CPLP. 131 
Figura 2: Símbolo dos Exercícios Felino. 135 
Figura 3: Evolução da Componente de Defesa da CPLP (1996-2011). 137 
Figura 4: Arquitetura de Segurança e Defesa da CPLP. 137 
Figura 5: Agenda da Componente de Defesa (1996-2011). 138 
Figura 6: Dispersão geográfica dos países da CPLP em relação aos oceanos. 141 
Figura 7: Limites dos espaços marítimos, de acordo com a CNUDM. 146 
Figura 8: Áreas Marítimas requeridas de acordo com a CNUDM. 146 
Figura 9: Espaços Marítimos sob responsabilidade portuguesa (ZEE e SAR). 148 
Figura 10: Espaços Marítimos sob responsabilidade brasileira (ZEE). 148 
Figura 11: Área SAR sob responsabilidade brasileira. 149 
Figura 12: Áreas das ZEEs e SAR no Atlântico de Língua Portuguesa. 149 
Figura 13: Projetos prioritários da Marinha de açodo com PAEMB. 165 
Figura 14: Área de Exploração da Camada do Pré-Sal. 169 
Figura 15: Capacidades da Marinha contributivas para o Sistema de Forças Nacional. 180 
Figura 16: Delimitações Marítimas de Angola. 194 
Figura 17: Delimitação da região do Golfo da Guiné. 195 
Figura 18: Enquadramento Geoestratégico de Cabo Verde. 198 
Figura 19: Enquadramento Geoestratégico da Guiné-Bissau. 201 
Figura 20: ZEEs de Moçambique e Madagáscar e o ponto de intercessão entre as duas. 203 
Figura 21: Mar Territorial, ZEE e SAR de São Tomé e Príncipe. 206 
Figura 22: ZEE estimada de Timor-Leste. 208 
Figura 23: Área Conjunta de Exploração de Petróleo. 208 
Figura 24: Mapeamento das Reservas de Petróleo Offshore próximo a Timor-Leste. 209 
 xvii 
LISTA DE TABELAS 
 
Página 
 
Tabela 1: Áreas das ZEEs x Território – delimitação do fator mar/terra. 149 
 xviii 
O ATLÂNTICO DE LÍNGUA PORTUGUESA EM PERSPECTIVA 
COMPARADA DE SEGURANÇA E DEFESA – DOS 
DOCUMENTOS POLÍTICOS ÀS ELABORAÇÕES 
ESTRATÉGICAS (1996 A 2013). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Guiné Equatorial 
1 
 
 
APRESENTAÇÃO 
 
A Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, CPLP, foi criada em julho de 1996 
pela congregação dos sete países que têm o português como língua oficial - Angola, Brasil, 
Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal e São Tomé e Príncipe, registrando-se a 
inclusão do Timor-Leste em 2002 e da Guiné Equatorial em 2014. A CPLP se afirma como 
uma comunidade plural que se propõe a ser um fórum multilateral privilegiado para o 
aprofundamento da amizade mútua entre os Estados membros, e teria como um dos pilares a 
materialização de projetos de promoção e difusão da língua portuguesa. A Comunidade teria 
ainda dois outros pilares: a concertação político-diplomática entre os seus membros em 
matéria de relações internacionais, nomeadamente para o reforço da sua presença nos fóruns 
internacionais; e a cooperação em vários domínios e temáticas. Porém, a Comunidade não 
tinha como um dos seus objetivos iniciais a cooperação no âmbito da segurança ou da defesa, 
ou mesmo, no âmbito da segurança marítima. 
No século XXI, a conjuntura linguística e cultural de criação da Comunidade de Países 
de Língua Portuguesa se adicionaria outro pilar: o mar. Um oceano visto como fonte de 
recursos delimitados na Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar (CNUDM) na 
década de 1980, e que este já não seria só mais um meio de deslocamento. Há que se 
considerar aqui que todos os países de língua portuguesa são países oceânicos com mar 
territorial, zona contígua, zona econômica exclusiva estabelecidas segundo a CNUDM, e 
alguns com pedidos requeridos de extensão de suas plataformas continentais para além das 
200 milhas. Isso lhes gerou direitos as riquezas da coluna d’água, do leito e subsolo em suas 
áreas de soberania, mas também deveres e responsabilidades a cumprir, e para isso irá se 
requer, mesmo que minimamente, algum poder marítimo ou naval. Levando isso em conta, é 
que surge objeto de pesquisa desta tese: a Agenda de Segurança e de Defesa da 
Comunidade dos Países de Língua Portuguesa – CPLP, principalmente os documentos 
relativos à dimensão marítima. E para a análise desta Agenda de Segurança e Defesa da 
CPLP, levando em conta que esta é uma tese de história comparada, se propôs fazer uma 
comparação clássica entre literaturas que abordam a visão portuguesa e brasileira para o 
ambiente atlântico, e destas com a literatura do ambiente oceânico comunitário (CPLP), 
contudo, para isso também se fez uma análise global do que a Agenda de Segurança e Defesa 
propunha, para depois focar no ambiente marítimo. Nesta análise consideram-se os 
documentos produzidos, nos âmbitos comunitário e nacionais, de 1996 até 2013. 
2 
 
 
Primeiro pretendemos por apresentar como foram estabelecidas as relações político-
diplomáticas entre Portugal, Brasil e os países africanos de língua portuguesa, registrando a 
criação da CPLP no fim do século XX e aproximação política e econômica do Brasil com essa 
parte da África nesse século XXI. Depois se descreve um pouco da história político-militar do 
Atlântico e a influência no pensamento marítimo ocidental, segue-se uma narrativa das 
conferências que estabeleceram a CNUDM e a participação ativa dos países em desenvolvi-
mento, bem como a análise da própria CNUDM e suas regulamentações. Em seguida é 
apresentado como a segurança e defesa estariam sendo estabelecidas na CPLP, como é a 
estrutura desta, as principais temáticas marítimas apresentadas considerando a conjuntura 
oceânica atual e um breve cenário prospectivo. Além disso, a fim de se obter uma análise um 
pouco mais ampla e em perspectiva comparada, também foram analisados alguns documentos 
relativos ao mar dos dois principais atores da Comunidade: Portugal e Brasil, bem como suas 
estruturas burocráticas relativas a este tema. Quando esse trabalho de pesquisa começou 
desejava-se também fazer uma análise comparativa que incluísse as análises dos documentos 
de defesa e segurança relativos ao mar dos países africanos de língua portuguesa1, entretanto, 
frente aos obstáculos de acesso encontrados durante a pesquisa, a dificuldade de 
confiabilidade nos dados, e uma provável desestruturação dos órgãos de competência 
marítima optou-se apenas por uma breve análise dos documentos oficiais obtidos no âmbito 
das Marinhas. 
Tendo como base uma análise teórica feita pelo Professor Samuel Soares, no livro 
Controles e Autonomia - As Forças Armadas e o sistema político brasileiro, optou-se por 
hierarquizar os países da CPLP em democraticamente estruturados ou não estruturados. Sendo 
Brasil e Portugal democraticamente estruturados, com eleições periódicas, com Ministérios da 
Defesa com rotatividade de Ministro, com Comandos das Marinhas com rotatividade de 
comando, com parlamentares, grupos de influência relativamente conscientes da temática 
oceânica, com orçamento de Defesa para o oceano que passam pela aprovação de seus 
parlamentos e com atuaçãode outras instituições que não militares nas discussões que 
envolvem a temática oceânica, bem como pela participação desses dois países por mais de 
trinta anos nas discussões de fóruns multilaterais que envolvem a temática. Por isso, 
incluíram-se alguns de seus documentos nacionais. Já os outros países de língua portuguesa, 
 
1 Logo nesse início optou-se por excluir a análise dos documentos relativos ao mar do Timor-Leste já que o contexto 
geopolítico regional no qual o país está inserido é diferente do Atlântico, com a presença de potências costeiras regionais 
diferentes (Índia, China, Indonésia e Austrália), e que dificultariam muito qualquer análise comparativa. Entretanto, na 
análise do poder naval da Comunidade esse país é incluído com sua estrutura individual de poder naval. Cabe também 
pontuar que apesar de situado mais próximo ao Oceano Índico, Moçambique foi considerado também como um país atlântico 
por estar incluído geopoliticamente no contexto e ter influência dessa conjuntura. 
3 
 
 
apesar de possuírem Ministério da Defesa e Comando Naval, seja por Marinha ou Guarda 
Costeira, foram considerados democraticamente não estruturados, por dois motivos, 
principalmente, pela recente institucionalização da democracia, às vezes relativamente frágil, 
e pela não estruturação da temática marítima com burocracias estatais nas amplitudes política, 
econômica e militar. Assim sendo, desses países de língua portuguesa não foram incluídos 
seus documentos estratégicos nacionais. Apenas com o fim de mostrar essa dificuldade de 
estruturação da temática marítima com burocracias estatais na amplitude militar foram 
incluídos elementos de seus poderes navais obtidos em apresentações oficiais feitas nas 
Conferências das Marinhas da CPLP. 
Além da análise dos documentos foram levados em conta também os dados obtidos 
durante quatro anos de pesquisa em entrevistas formais ou conversas informais no Ministério 
dos Negócios Estrangeiros (Divisão de Cooperação), no alto comando da Marinha 
Portuguesa, no alto comando da Marinha do Brasil, com oficiais da MB que participavam das 
atividades na Escola de Guerra Naval, além de várias participações em conferências e 
simpósios que envolviam a temática no Brasil e em Portugal (principalmente a Conferência 
das Marinhas da CPLP, Simpósio O Mar e a Ciência e os Encontros Nacionais da Associação 
Brasileira de Estudos da Defesa), duas visitas ao Instituto de Defesa Nacional em Portugal, 
vários eventos relacionados ao oceano realizados na Escola de Guerra Naval, a participação 
no Curso de Estudos Pós-Coloniais: Atlântico Sul ofertado pelo Camões – Instituto da 
Cooperação e da Língua do Ministério dos Negócios Estrangeiros Português e pela 
Universidade de Bolonha; a participação no Curso de Estudos Africanos, Operações de Paz e 
State-building ministrado pelo Instituto de Estudos Militares em Lisboa em 2013, e 
principalmente a participação no seminário Internacional “O Atlântico Sul: as visões 
estratégicas dos países da Comunidade de Língua Portuguesa”2 realizado pelo Centro de 
Estudos Político-Estratégicos (CEPE) da Escola de Guerra Naval (EGN), no Rio de Janeiro, 
em setembro de 2015 com a participação do Centro de Análise Estratégica da CPLP. 
Essa parte da história obtida, além da análise dos documentos produzidos, é 
considerada nesse trabalho como História Oral dos Agentes, sejam eles políticos, securitários, 
marítimos ou navais (termo stricto sensu militar) de língua portuguesa e encontra-se presente 
nas entrelinhas dos documentos produzidos na CPLP, mas é difícil de ser encontrada nos 
livros de história, apesar de fazer parte da história e esquematizar alguns aspectos da ciência 
política. Por estarem nas entrelinhas tiveram relevância nesta tese, mesmo que algumas vezes 
 
2 Esse evento aconteceu como parte do Acordo de Cooperação estabelecido entre a EGN e o Instituto Superior de Ciências 
Sociais e Políticas e o Centro de Administração e Políticas Públicas da Universidade de Lisboa. 
4 
 
 
tenha que se deixar de lado o rigor científico. Essa história se constrói por meio de teias de 
relacionamento, e acaba por produzir documentos e elaborar estratégias que só as dimensões 
de relacionamentos políticos e econômicos não seriam capazes de explicar. Com essa História 
Oral dos Agentes é que se consegue descrever porque uma comunidade criada por uma união 
linguística do sul que teria como pilar básico a herança do colonialismo português e o 
imaginário da lusofonia, muitas vezes desprezada no tabuleiro das relações políticas e 
econômicas mundial, produz uma Estratégia para os Oceanos; leva a uma região de 
dominação inglesa como a Namíbia a pensar em instituir o português como língua oficial e a 
pedir para ser membro observador da CPLP; leva um país membro da OTAN e da União 
Europeia, como é Portugal, a aderir a um mecanismo de regulação do direito do mar 
produzidos pelos países em desenvolvimento em uma lógica de contestação das assimetrias 
Norte e Sul, e em seguida a requer a extensão de sua plataforma continental. 
Entretanto, a Agenda de Segurança e de Defesa da Comunidade dos Países de Língua 
Portuguesa, apesar da diversidade de temáticas discutidas, ainda não foi além de um fórum de 
discussão, mesmo que já tenhamos tidos projetos bilaterais de formação de capital humano de 
curta duração, exercícios de treinamento militar multilaterais e doação ou venda de meios de 
pequeno porte. Para isso dois fatores, dentre outros, podem ter contribuído: carência de 
recursos e dificuldade de integrar ações e políticas no médio e longo prazos. 
Optar por falar ou estudar a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa e seus 
documentos oceânicos pode ser considerado se falar da margem se comparada com os 
documentos oceânicos produzidos pela OTAN. Falar de um assunto sem valor frente à 
Marinha de Guerra Americana com mais de uma dezena de submarinos nucleares, ou frente à 
produção offshore da empresas petrolíferas britânicas ou mineradoras japonesas que estão no 
alto mar a explorar toneladas de riquezas oceânicas que seriam patrimônio da humanidade. 
Contudo, o que se deseja mostrar aqui é que se compararmos o know-how marítimo (militar 
ou civil) de Brasil e Portugal com, por exemplo, Estados Unidos e Japão esses dois países 
seriam considerados relativamente inferiores nas capacidades militares e pouco relevantes. 
Todavia, considerando o objeto dessa tese, a CPLP, se compararmos o know-how marítimo 
(militar ou civil) de Brasil e Portugal com os dos outros países de língua portuguesa, estes 
dois poderiam ser considerados relativamente superiores nas capacidades militares para 
atividades marítimas de safety e security histórica e politicamente estabelecidas. Mesmo que 
careçam de recursos e meios para projeção do poder marítimo ou naval, ou mesmo que 
careçam de ciência, tecnologia e inovação de ponta, e ainda que tenham que ser submetidos 
ao cerceamento tecnológico das grandes potências, estes dois tem sido atores relevantes nos 
5 
 
 
grandes fóruns oceânicos como as Conferências das Nações Unidas sobre Direito do Mar, a 
Autoridade Internacional dos Fundos Marinhos, a Organização Marítima Internacional, a 
Comissão de Limites da Plataforma Continental, dentre outros, projetando-se em uma lógica 
que o Professor Dr. Heitor Romana descreve como um multilateralismo multivariável, onde 
um país joga em vários tabuleiros em simultâneo com poderes pontuais sem ter grande 
projeção de poder no todo3. 
Além disso, o capital humano desta estrutura burocrática estatal para atividades 
marítimas de safety e security, incorporados nas duas Marinhas, transita, sem muito controle 
dos atores políticos nacionais (a não ser pelas limitações orçamentárias), nas esferas de 
discussão dessas temáticas das grandes potências; lêem os mesmo referenciais teóricosdessas 
(dentre eles Mahan, Corbet, Aube, Coutau-Begarie, Geoffrey Till); nas academias militares 
estudam a mesma perspectiva da história militar atlântica; usam ou almejam ter os mesmo 
meios navais que essas potências; e participam de exercícios militares conjuntos com 
Marinhas mais desenvolvidas. De alguma forma, o que queremos analisar aqui é a 
mundialização de valores de segurança e defesa, de valores securitários oceânicos, marítimos 
ou navais, que aconteciam do Norte para Sul na Pax Britânica e na Pax Americana do século 
XX, e agora, no século XXI, pode acontecer ou ressoar em estruturas, às vezes ditas como 
paralelas, como a CPLP e União Africana, de Sul para Sul, algo que alguns diriam ser de 
“segunda linha”, ou de menor valor relativo. Contudo, para os países africanos de língua 
portuguesa, essa mundialização de valores securitários do Sul para Sul teria valor e 
relevância, onde esses poderiam conhecer as experiências um pouco mais desenvolvidas de 
Brasil e Portugal e optar por adaptá-las a suas realidades locais ou regionais. Essas estruturas, 
ditas como paralelas, adicionadas a estrutura hierarquicamente estruturada de projeção 
vertical de poder marítimo poderiam ser incluídas na concepção teórica de interdependência 
complexa proposta por Keohane & Nye, onde os regimes internacionais tomariam forma por 
meio da criação ou aceitação de procedimentos, regras e instituições para determinado tipo de 
atividade, com os quais governos regulariam e controlariam relações transnacionais e 
interrestatais. 
Essa mundialização de valores oceânicos, marítimos ou navais no âmbito da Marinhas, 
apesar de ser desenvolvida e propagada em instituições militares consideradas como 
politicamente diferenciadas, não seria diferente com o que acontece com a mundialização de 
 
3 Palestra intitulada “O Atlântico Sul: uma visão estratégica portuguesa” proferida no 1º Seminário Internacional CEPE-
EGN/ISCSP-Universidade de Lisboa cujo título era O Atlântico Sul: as visões estratégicas da CPLP, realizado nos dias 3 e 4 
de setembro de 2015, na Escola de Guerra Naval da MB. O Seminário contou ainda com a presença de representantes do 
Estado Maior da Armada Portuguesa, do Comando da MB e do Centro de Análise Estratégica da CPLP. 
6 
 
 
valores do meio ambiente, das áreas de engenharia, das áreas econômicas, da agricultura ou 
de segurança alimentar. Algumas correntes teóricas ocidentais pontuam que quanto mais 
democraticamente estruturado for um país mais seus valores e regulamentações serão 
influenciados pela internacionalização de ideias e ideologias, promovendo, por exemplo, o 
que aqui se convencionou chamar de mundialização de valores oceânicos, marítimos ou 
navais. Mesmo que ainda encontremos diferenças relevantes, por exemplo, no pensamento 
estratégico de Portugal membro da OTAN e da União Europeia, e no pensamento estratégico 
do Brasil membro do Conselho de Defesa Sul-Americano e da Zona de Paz e Cooperação do 
Atlântico Sul, ambos são também membros da Autoridade Internacional dos Fundos 
Marinhos, da Organização Marítima Internacional e da Comissão de Limites da Plataforma 
Continental, e vivem inseridos em uma rede de valores securitários partilhados. Porém, 
mesmo que hoje essa mundialização seja baseada em visões multilaterais, ela também é algo 
permeado pela história das relações de poder das grandes potências, e não há como dissociar 
uma coisa da outra como veremos ao longo desta tese. 
Na análise do objeto: a Agenda de Segurança e de Defesa da Comunidade dos Países 
de Língua Portuguesa, principalmente os documentos relativos à dimensão marítima, na 
amplitude conjuntural dos últimos 30 anos, são considerados aspectos políticos, econômicos, 
ambientais e militares que às vezes podem parecer não estar muito bem apresentados na tese, 
já que não são seu elemento principal de comparação, mas que de alguma forma compõem a 
rede de inter-relações da temática analisada, local onde as relações de poder e a disputa de 
espaços são constantes. 
- Aspectos Políticos - política externa de Brasil e de Portugal para os outros países de 
língua portuguesa; política externa entre Brasil e Portugal; ditaduras e democracias no Brasil e 
Portugal, participação dos oficiais de Marinha e a estruturação dos Ministérios da Defesa; 
atores externos ao Atlântico de língua portuguesa; arranjos regionais em que os países de 
língua portuguesa estão inseridos; relações Sul-Sul, Norte-Sul e Sul-Norte. 
- Aspectos Econômicos – poder marítimo; recursos nacionais disponíveis para o 
oceano; recursos nacionais obtidos pelo oceano; ciência, tecnologia e inovação para o oceano. 
- Aspectos Ambientais – meio ambiente oceânico, exploração de recursos e 
preservação; estruturas burocráticas estatais que abordem a temática oceânica. 
- Aspectos Militares – funções militares e não militares (constabulares); ideologias e 
referenciais teóricos de história naval e do poder naval ao longo dos séculos; diplomacia 
naval; defesa nacional como investimento ou como gasto; parcerias militarmente estratégicas 
e parcerias político-economicamente estratégicas; cooperação internacional naval e marítima; 
7 
 
 
fóruns de discussão naval; conceitos de safety e security4; e um único agente concentrando o 
poder naval nos dias de hoje, os Estados Unidos. 
 
Para a análise da Agenda de Segurança e de Defesa da Comunidade dos Países de 
Língua Portuguesa – CPLP, principalmente os documentos relativos à dimensão marítima, 
optou-se por dividir as hipóteses em dois grupos: as hipóteses referentes à Agenda de 
Segurança e de Defesa da Comunidade como um todo, e as hipóteses referentes à Agenda de 
Segurança e de Defesa da CPLP no ambiente marítimo. 
 
A – HIPÓTESES PARA A AGENDA DE SEGURANÇA E DE DEFESA DA CPLP 
 
Hipótese Principal - A agenda de segurança e de defesa produzida no âmbito da 
CPLP apresenta um alinhamento com a proposta atual de securitização de novas ameaças, 
principalmente as ameaças não estatais. 
Hipótese Auxiliar - A agenda de segurança e de defesa produzida no âmbito da CPLP 
está centrada na perspectiva de segurança multidimensional e na segurança como elemento 
essencial ao desenvolvimento. 
 
B – HIPÓTESES PARA AGENDA DE SEGURANÇA E DE DEFESA DA CPLP NO 
AMBIENTE MARÍTIMO 
 
Hipótese Principal - O incremento da agenda de segurança e de defesa produzida no 
âmbito da CPLP para o ambiente marítimo está centrado na visão multidimensional do 
oceano e de sua passagem estratégica de meio de locomoção para fonte de recursos, algo 
materializado na CNUDM na década de 1980. 
Hipótese Auxiliar - A agenda de segurança e de defesa produzida no âmbito da CPLP 
para o ambiente marítimo apresenta também um relativo alinhamento com a proposta atual de 
securitização de novas ameaças para o mar. 
 
C - APRESENTAÇÃO DO CORPUS DOCUMENTAL 
 
4 Na língua portuguesa, essas duas palavras são uma única palavra, segurança. Mas, na verdade as duas palavras na língua 
inglesa propõem ações diferentes para segurança marítima. Matérias relacionadas com safety são busca e salvamento 
marítimo, a certificação e inspeção de embarcações, a proteção do meio marinho, as regras para navegação, assuntos mais 
relacionados com a segurança da navegação. Já as atividades criminosas no mar no contexto das “novas ameaças” seriam 
matérias relacionadas com security que leva em conta a segurança de pessoas, bens, equipamentos, navios e instalações em 
risco por essas atividades criminosas. Esse dois elementos, safety e security, seriam diferentes do conceito de Defesa Naval 
mais estadocêntrica, onde a ameaça seria a guerra com outro Estado. De alguma forma, as Marinhas ou Guardas Costeiras da 
CPLP levam esses elementos em conta no seu planejamento estratégico, mesmo que a hierarquização, e a capacidade de 
capital humano e meios sejam diferentes. 
8Para analisar a Agenda de Segurança e Defesa na Comunidade dos Países de Língua 
Portuguesa, deve-se considerar que a CPLP é constituída e regulamentada, dentre outros, 
pelos seguintes órgãos: 
- Conferência de Chefes de Estado e de Governo (reúne-se, ordinariamente, de dois 
em dois anos e, extraordinariamente, quando solicitada por 2/3 dos Estados-membros, é a 
instância deliberativa superior da Organização e as suas decisões são sempre tomadas por 
consenso); 
- Reuniões Ministeriais Setoriais (são constituídas pelos ministros e secretários de 
Estado dos diferentes setores governamentais de todos os Estados membros, e compete a elas 
coordenar, ao nível ministerial ou equivalente, as ações de concertação e cooperação nos 
respectivos setores governamentais); 
No âmbito da Componente de Defesa da CPLP temos: as Reuniões dos Ministros da 
Defesa (anual); as Reuniões dos Chefes dos Estados-Maiores-Generais de Forças Armadas 
(anuais); o Secretariado Permanente para Assuntos da Defesa (SPAD) (duas reuniões por 
ano); Centro de Análise Estratégica; as Conferências das Marinhas da CPLP. No âmbito 
marítimo temos ainda: as Conferências de Ministros de Assuntos do Mar e as Conferências de 
Ministros da Pesca. 
 
Levando em conta esta estrutura anteriormente citada, bem como as estruturas internas 
dos países membros, foi utilizado na tese, o seguinte Corpus Documental: 
 
Documentos produzidos pela CPLP: 
• Estatutos (julho de 1996, com revisões em 2001, 2002, 2005, 2006 e 2007) e 
Declarações Constitutivas da CPLP (julho de 1996, ratificação de novembro 1998, 
comunicados das Cimeiras Constitutivas), 
• Atas das Conferências dos Chefes de Estado e de Governo (1998 a 2014): 
• Atas e declarações anexas das Reuniões de Ministros da Defesa da CPLP (1998 a 
2015); 
• Atas e declarações anexas das Reuniões dos Chefes de Estado-Maior-General da CPLP 
(1999 a 2011); 
• Declaração sobre "Cooperação, Desenvolvimento e Democracia na era da 
Globalização" (2000); 
• Declaração sobre Timor-Leste (2000); 
• Declaração sobre a Paz em Angola (2002); 
9 
 
 
• Declaração sobre a Contribuição da CPLP para o Combate ao Terrorismo (2002); 
• Declaração sobre Paz e Desenvolvimento e o Futuro da CPLP (2002); 
• Resolução sobre a República da Guiné-Bissau (2004); 
• Declaração sobre a “CPLP e a Globalização” (2014); 
• Declaração sobre a Situação na Guiné-Bissau (2014); 
• Resolução sobre a Criação de Grupo de Trabalho para a Definição de uma Nova Visão 
Estratégica da CPLP (2014); 
• Resolução sobre a Criação de um Grupo Técnico de Estudo para a Exploração e 
Produção Conjuntas de Hidrocarbonetos no Espaço da CPLP (2014); 
• Resolução sobre os Planos Estratégicos de Cooperação Setorial da CPLP (2014); 
• Regimento Interno Reuniões de CEMGFAs (2011); 
• Regimento Interno das Reuniões de Diretores de Política de Defesa Nacional dos 
Países de Língua Portuguesa; 
• Atas das Reuniões Plenárias do Secretariado Permanente para os Assuntos de Defesa 
(2000 a 2011); 
• Normativo do Secretariado Permanente para os Assuntos de Defesa (2000); 
• Atas resumo das Conferências das Marinhas da CPLP (2008, 2010, 2012 e 2015); 
• Ata resumo das Reuniões dos Ministros dos Assuntos do Mar da CPLP (2010 e 2012); 
• Regimento Interno da Reunião dos Ministros dos Assuntos do Mar da CPLP (2010); 
• Contributos para um Projeto de Criação de um Atlas dos Oceanos da CPLP (2010); 
• Contributos relativos aos processos de extensão da plataforma continental, e da 
investigação científica e proteção ambiental, como projetos associados (2010); 
• Contributos para um projeto de criação de uma Feira do Mar da CPLP (2010); 
• Contributos para programas de pesquisa referentes aos fundos marinhos (“Área”) 
(2010); 
• Contributos para um projeto pedagógico para a mobilização de professores, alunos e 
sociedade civil para importância dos Assuntos do Mar como um tema de afirmação da 
cultura e identidade marítima da CPLP (2010); 
• Resolução sobre os desenvolvimentos da Estratégia dos Oceanos da CPLP (2012); 
• Estratégia da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa para os Oceanos (2009); 
• Normas para realização de Exercícios Militares da CPLP; 
• Protocolo de Cooperação da CPLP no Domínio da Defesa (2006); 
• Declaração de São Tomé relativa ao Protocolo de Cooperação da CPLP no Domínio da 
Defesa (2015); 
10 
 
 
• Identidade da CPLP no Domínio da Defesa (2015); 
 
Documentos no âmbito brasileiro: 
• Políticas Nacional de Defesa (PND) (1996, 2005 e 2012); 
• Estratégias Nacional de Defesa (END) (2008 e 2012); 
• Livro Branco de Defesa Nacional (LBDN) (2012); 
• Resoluções e Programas da Comissão Interministerial de Recursos do Mar; 
• Planos Setoriais para os Recursos do Mar (1982 a 2015); 
• Política Nacional para os Recursos do Mar (1980 e 2005); 
• Resoluções do Programa LEPLAC (Plano de Levantamento da Plataforma Conti-
nental). 
 
Documentos no âmbito português: 
• Conceito Estratégico de Defesa Nacional (CEDN) de 2013; 
• Funções e Tarefas da Marinha – Enquadramento legal (site da MP); 
• Marinha a serviço de Portugal (site da MP); e 
• Estratégia Nacional para o Mar - 2013 – 2020. 
• Resoluções e Programas da Comissão Interministerial de Recursos do Mar; 
• Tratado de Lisboa (Política Comum de Pescas) (2007); 
• Programa Dinamizador das Ciências e Tecnologias do Mar (PDCTM) (1998); 
• Resoluções e Programas da Comissão Oceanográfica Intersetorial; 
• Resoluções e Programas da Comissão Interministerial para a Delimitação da Plata-
forma Continental; 
• Resoluções do Programa EMEPC (Estrutura de Missão para Extensão da Plataforma 
Continental); 
• Relatório da Comissão Estratégica dos Oceanos intitulado “O Oceano. Um Desígnio 
Nacional para o Século XXI” (2004); 
• Estratégia Nacional para o Mar 2013-2020. 
 
Outros países da CPLP: 
 Apresentações da I Conferência da Marinhas da CPLP (2008) 
• Apresentação da Delegação de Angola - “Angola no contexto da 
defesa e segurança marítima do Golfo da Guiné”; 
11 
 
 
• Apresentação da Delegação de Cabo Verde - “Guarda Costeira e 
desafios emergentes face à emigração clandestina e face à futura 
extensão da Plataforma Continental”; 
• Apresentação da Delegação de Guiné-Bissau - “Nova visão 
geoestratégica”; 
• Apresentação da Delegação de Moçambique - “Desafios da Marinha 
de Guerra de Moçambique no contexto nacional e supranacional”; 
• Apresentação da Delegação de São Tomé e Príncipe - “Guarda 
Costeira de São Tomé e Príncipe, hoje e perspectivas”; 
• Apresentação da Delegação de Timor-Leste - “O desenvolvimento 
da Componente Naval e as perspectivas e possíveis contributos para a 
Estratégia Nacional”. 
 
 Apresentações da III Conferência da Marinhas da CPLP (2012) 
• Apresentação da Delegação de Angola - “A segurança do Golfo da 
Guiné e papel de Angola”; 
• Apresentação da Delegação de Cabo Verde - “A expansão do 
Conhecimento Situacional Marítimo em ambiente colaborativo”; 
• Apresentação da Delegação de Moçambique - “O impacto da 
pirataria e crimes marítimos”; 
• Apresentação da Delegação de São Tomé e Príncipe - “A Guarda 
Costeira de São Tomé e Príncipe”; 
• Apresentação da Delegação de Timor-Leste - “O desenvolvimento 
da Força Naval na República Democrática de Timor-Leste”. 
 
Outros: 
• Discursos, artigos, monografias, teses, livros, publicações específicas e reportagens 
sobre o tema; 
• Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar. 
• Entrevistas e conversas informais: 
 Portugal: 
- Professora Drª Helena Carreiras do Instituto Universitário de Lisboa (ISCTE-
IUL); 
12 
 
 
- Vice-Almirante António Silva Ribeiro (Diretor-Geral da Autoridade Marítima 
Nacional Portuguesa); 
- Embaixador Francisco Carlos Duarte Azevedo (Diretor do Centro de Análise 
Estratégica - CAE/CPLP); 
- CMG Pedro Carmona (Diretor de Serviços de Cooperação Técnico-Militar – 
MDN); 
- CMG Valentim José P. A. Rodrigues (Chefe da Divisão de Relações Externas 
do EstadoMaior da Armada); 
- Tenente Ivone Carapeta (Relações Públicas da Divisão de Relações Externas 
do Estado Maior da Armada). 
 
 Brasil: 
- Contra-Almirante Roberto Gondim C. da Cunha (Diretor de Gestão de 
Programas Estratégicos da Marinha do Brasil); 
- Capitão-de-Mar-e-Guerra Izabel King Jeck (Responsável pelo LEPLAC na 
Diretoria de Hidrografia e Navegação); 
- Almirante Marcos A. Leal de Azevedo (Centro de Excelência para o Mar 
Brasileiro); 
- Almirante Álvaro Augusto Dias Monteiro (Presidente do Conselho do Centro 
de Estudos Político-Estratégicos da Escola de Guerra Naval). 
 
D - QUADRO TEÓRICO 
 
 O quadro teórico proposto visa principalmente dar sustentação para as quatro 
hipóteses da tese, dos quais destacamos aqui os principais. 
 
 1) Integração: 
- HAAS, Ernst B. (1964); 
- HERZ, Mônica e RIBEIRO-HOFFMANN, Andrea (2004); 
 
2) Segurança Internacional: 
- AYOOB, Mohammed (1983); 
- BRODIE, Bernard (1973); 
- BULL, Hedley (1961); 
- BUZAN, Barry e HANSEN, Lene. 
- BUZAN, Barry, WAEVER, Ole e WILDE, Jaap de (1998); 
13 
 
 
- BUZAN, Barry (1991); 
- HERZ, Mônica (2009); 
- RUDZIT, Gunther (2005); 
- SARDENBERG, Ronaldo M. e FUJITA, Edmundo S. (1996); 
- WOLFERS, Arnold (1962); 
 
3) Controle e Autonomia - as Forças Armadas e o sistema político brasileiro: 
- SOARES, Samuel A. (2006). 
 
4) Potência: 
- ARON, Raymond (2002); 
- HIRST, Mônica; LIMA, Maria Regina Soares de; PINHEIRO, Letícia (2010); 
- MOURA, Gerson (1991); 
- VIZENTINI, Paulo F. (2003); 
- MAPA, Dhiego de M. (2012). 
 
5) Cooperação Sul-Sul: 
- SOARES, Guido. A Cooperação Técnica Internacional (1994); 
 
6) CPLP: 
- BARROSO, Luis (2010). 
- BERNARDINO, Luís (2010); 
- BORGES, João (2008); 
- FONTOURA, Luis (2013); 
- FREIXO, Adriano de Freixo (2001, 2002, 2005 e 2009); 
- MENDONÇA, Helio (2013); 
- MIYAMOTO, Shiguenoli (2009); 
- MOREIRA, Adriano (2009); 
- MOTA, Mariana C. da (2009); 
- SANTOS, Vitor dos (2004 e 2010); 
 
7) Estratégia Marítima: 
- RIBEIRO, António S. (2010); 
 
8) Relações Brasil África: 
- SOMBRA SARAIVA, José F. (1996, 2002, 2011, 2012, ; 
- RIBEIRO, Cláudio (2004); 
14 
 
 
- MAPA, Dhiego de M. (2012); 
- PENHA, Eli A (2011); 
- GONÇALVES, Williams (2009, 2011); 
- CERVO, Amado (2000, 2002, 2003, 2011 e 2012). 
 
9) Geopolítica Oceânica: 
- JOHNSTON, Douglas (1988); 
- MCDORMAN, Ted. (2015). 
 
10) Instituições Internacionais e Interdependência Complexa: 
 - KEOHANE, Robert O. (1988); 
 - KEOHANE, Robert; NYE, Joseph S. (2000). 
 
E - Justificativa da Originalidade do Projeto 
 
No início da tese, partindo do princípio que um projeto de doutorado tem que ser 
original, buscou-se uma avaliação na internet de artigos ou publicações em geral que 
abordassem temática de segurança e defesa na CPLP. Como resultado desta busca foram 
encontrados poucos trabalhos, devendo-se ressaltar os estudos dos portugueses Luís Barroso, 
José Santos Leal e Luís Bernardino. Há que se considerar ainda a carência de pesquisas no 
Brasil sobre a Cooperação Técnico-Militar, seja a realizada por grandes potências, seja por 
potências emergentes como o Brasil. Em contrapartida, foram encontrados inúmeros artigos 
ou notícias em sites portugueses ou de países africanos sobre os projetos de CTM realizados 
por Portugal, dando a impressão que comparativamente Portugal, um país europeu com 
poucos de recursos financeiros, realizaria muito mais ações de CTM que o Brasil5, uma 
potência emergente que almeja ser um global player. Ao longo da pesquisa se percebeu que 
Portugal tem sua Cooperação Técnico-Militar focada nos países de língua portuguesa e mais 
centralizada no Ministério da Defesa Nacional (Divisão de Serviços de Cooperação Técnico-
Militar) e por isso divulga essas ações em maior amplitude. Enquanto, que no Brasil até bem 
 
5 Projetos catalogados na ABC para as áreas de defesa e segurança com os países lusófonos: Capacitação em Técnicas 
Militares de Oficiais Moçambicanos no Exército Brasileiro; Capacitação em Técnicas Militares de Oficiais Cabo verdianos 
no Exército Brasileiro; Capacitação de Militares Moçambicanos no Exército e Aeronáutica do Brasil (formação de oficiais); 
Missão de Prospecção para Estabelecer Projeto de Cooperação Técnica com São Tomé e Príncipe na Área de Polícia 
Criminal; Capacitação de militares de Guiné-Bissau; Capacitação Técnica para a Polícia de Investigação Criminal de São 
Tomé e Príncipe; Capacitação de Militares de Moçambique, Cabo Verde, São Tomé e Príncipe, Angola (2012 e 2013); 
Desenvolver Atividades no Centro de Formação das Forças de Segurança da Guiné-Bissau; Centro de Formação das Forças 
de Segurança da Guiné-Bissau; Capacitação em gestão de unidades prisionais para formação de multiplicadores em 
Moçambique, pelo Departamento Penitenciário Nacional do Ministério da Justiça do Brasil; Fortalecimento da capacidade 
institucional da Agência de Aviação Civil de Cabo Verde. Disponível em: <www.abc.gov.br/projetos/pesquisa>. Acesso em 
28 mar. 2013. 
15 
 
 
pouco tempo não se computavam as ações de cooperação internacional das Forças Armadas 
como ações de cooperação brasileira. Além disso, cada força realizava seus projetos de 
cooperação autonomamente, estando esses projetos muitas vezes desconectados das áreas de 
influências propostas para Política Externa Brasileira daquele momento. Assim, estudar a 
agenda de segurança e defesa da CPLP e as influências de Portugal e Brasil nesse ambiente 
contribuiria significativamente como um estudo comparado clássico entre literaturas que 
abordam a visão portuguesa e brasileira, e destas com a literatura do ambiente comunitário 
(CPLP), tendo como foco também outra comparação com ambiente securitário mundial. 
Estudos focados na área de defesa e segurança, e na componente militar como 
mecanismo de cooperação pontuam normalmente uma proposta de cooperação verticalizada, 
norte-sul, ou a proposta de um complexo de segurança coletiva sobre o guarda-chuva de uma 
potência regional ou global. Nessa pesquisa de doutorado parece inovadora a análise da 
proposta de inserção das temáticas de segurança e defesa no âmbito de uma cooperação sul-
sul com foco linguistico e cultural. No caso dessas duas temáticas e sua amplitude marítima, 
as análises envolveriam diretamente os Ministérios da Defesa e as Forças Armadas dos países 
de língua portuguesa para treinamento, capacitação técnica, formação de oficiais e 
fortalecimento da capacidade institucional, mas também para concertação político-
diplomática em outros fóruns que incluam essas temáticas, bem como análises de ambientes 
regional e internacional, conjunturas, cenários prospectivos, ameaças e vulnerabilidades. 
Um terceiro ponto de originalidade deste projeto de doutorado está na análise da 
agenda de segurança e defesa para o ambiente marítimo da CPLP levando em conta a 
Conferência das Nações Unidas sobre o Direito do Mar e a delimitação dos espaços 
oceânicos, em uma lógica que transformaria os oceanos de meio de deslocamento em fonte de 
recursos. 
 
F – Estrutura da Tese 
 
Para falar da Agenda de Segurança e Defesa da CPLP, levando em conta que esta é 
uma tese de história comparada, onde há proposição de se fazer uma comparação clássica 
entre literaturas que abordam a visão portuguesa e brasileira, e destas com a literatura do 
ambiente comunitário (CPLP), optou-se por dividir essa tese em quatro perspectivas de 
análise que deram origem aos quatro capítulos que a compõe. A primeira seria a Perspectiva 
Histórica e Política (Capítulo 1 - As relações políticas e econômicas entre Brasil, Portugal e 
os países africanos de língua portuguesa nos últimos quarenta anos) que descreve 
16 
 
 
comparativamente como foram sendo delineadas as relações políticas entre Portugal, Brasil e 
os países africanos de língua portuguesa até a criação da CPLP, e como o elemento político-
partidário nas últimas décadasminimizou ou acentuou esta relação, principalmente o atual 
governo brasileiro do Partido dos Trabalhadores. A segunda seria a Perspectiva Histórica e 
Técnica (Capítulo 2 - Concepção políticas e estratégicas para os Oceanos ao longo da 
história) que descreve comparativamente como ao longo do último século foram construídas 
pelas grandes potências as percepções para os oceanos tanto na dimensão técnico-militar 
como na político-histórica, e como isso passaria a ser contestado com a Conferência das 
Nações Unidas sobre o Direito do Mar na década de 1980 em uma lógica que passa a incluir 
países em desenvolvimento. A terceira seria a Perspectiva Política e Técnica já focada na 
Comunidade e nos países que a compõe (Capítulo 3 - A Agenda de Segurança e Defesa da 
Comunidade dos Países de Língua Portuguesa e o oceano de língua portuguesa em 
perspectiva estratégica) que descreve comparativamente como esta estruturada a Componente 
de Defesa da Comunidade, como esse ambiente marítimo comum tem sido visto 
estrategicamente por seus dois principais atores: Brasil e Portugal, e quais tem sido as 
limitações dos outros países da Comunidade para se inserirem nesse ambiente oceânico de 
direitos e deveres no estabelecimento da CNUDM, bem como, nessa lógica, surge no âmbito 
da CPLP, o ator político do pensamento estratégico para os oceanos que são as Marinhas. E 
por fim a quarta e última perspectiva que é a Técnica-Estratégica (Capítulo 4 - Atlântico de 
língua portuguesa da dimensão histórico-política a técnico-estratégica), que é construída pela 
análise comparativamente dos documentos produzidos na Componente de Defesa e que nos 
permite descrever como a dimensão histórica, política e técnica da Comunidade e do mundo 
influenciaram de maneira global e pontual na Agenda de Segurança e Defesa da CPLP, bem 
como nos permiti fazer uma análise da importância da interação entre dimensão histórica, 
política e técnica para o futuro da Comunidade dentro do enquadramento de direitos e deveres 
que propõe para o século XXI a CNUDM. 
17 
 
 
INTRODUÇÃO 
 
No século XX ocorreram reconfigurações no mundo, incluindo a aproximação entre 
países buscando a integração político-econômica e a cooperação, até nos domínios de 
segurança e defesa, aumentando ligeiramente a interdependência entre as nações. Após a 2ª 
guerra, os países europeus firmaram acordos com o objetivo de reunir o continente, re-
estruturar, fortalecer e garantir suas economias. Essa ideia europeia de integração, chamada de 
União Europeia, originou-se do Tratado de Roma de 1957. Com a entrada em vigor do 
Tratado de Lisboa, em dezembro de 2009, estabelece-se também uma perspectiva securitária 
com a Política Europeia de Segurança e de Defesa. A experiência europeia, estimulada pela 
proposta neoliberal da última década do século XX, foi estendida a outros continentes, dentre 
esses se destaca o Mercado Comum do Sul (MERCOSUL) criado em 1991 pelo Tratado de 
Assunção com a adesão do Brasil, da Argentina, do Paraguai e do Uruguai. Diferentemente da 
União Europeia, o MERCOSUL somente poderia ser definido como uma organização 
intergovernamental, já que todas suas decisões são tomadas por consenso e somente os 
representantes dos Estados membros atuam nas suas instituições. Outra experiência de 
integração é a União Africana, criada oficialmente em 2002, que sucedeu a Organização da 
Unidade Africana, baseada talvez no modelo da União Europeia. Integram a Organização 
todos os Estados africanos com a exceção do Marrocos. A União teria como foco a ajuda na 
promoção da democracia, os direitos humanos e o desenvolvimento econômico, social e 
político da África, e como objetivos a defesa da soberania; da integridade territorial e da 
independência dos seus Estados membros; a aceleração da integração política e econômica no 
continente; e a promoção de princípios democráticos, boa governança, paz, segurança e 
estabilidade no continente6. Cabe ressaltar que a UA propõe relativa integração econômica, 
mas também seria delineada por ações e perspectivas sócio-políticas em áreas como o 
desenvolvimento e a vertente militar da segurança e da defesa. A materialização dessas duas 
últimas vertentes acontece em um órgão interno denominado Conselho de Paz e Segurança e 
tem suas diretrizes descritas no documento intitulado Nova Arquitetura Africana de Paz e 
Segurança. Entre os objetivos do CPS estariam à promoção da paz, segurança e estabilidade 
na África; a prevenção de conflitos, mediante a promoção de práticas democráticas, boa 
governança, direitos humanos e liberdades fundamentais; a resolução de conflitos, mediante 
ações de peace-making e peace-building; a reconstrução no período pós-conflito; a 
 
6 ESCOSTEGUY, Pedro. A Nova Arquitetura Africana de Paz e Segurança: implicações para o multilateralismo e para 
as relações do Brasil com a África. Brasília, FUNAG, 2011. P. 49. 
18 
 
 
coordenação de esforços continentais para o combate ao terrorismo, e o desenvolvimento de 
uma política de defesa comum para a África. Objetivos que irão requerer recursos e 
capacidades técnicas que a África ainda não possui. Este documento de algum modo 
influenciou as primeiras ações da Agenda de Segurança e Defesa da CPLP. A Nova 
Arquitetura de Paz e Segurança Africana tem a proposta de se apresentar em dois níveis 
aparentemente diferentes, mas perfeitamente interligados e com sinergias próprias; o nível 
regional que é protagonizado pela União Africana que pretende ser o topo do sistema 
integrado de segurança continental para o século XXI. Interdependente e alinhado 
estrategicamente estaria um segundo nível (sub-regional), onde se inserem as cinco principais 
organizações compostas por países que integram a quase totalidade do continente africano. 
Este dois níveis também acabaram sendo refletidos na Agenda de Segurança e Defesa da 
CPLP. 
Uma breve apresentação destes três modelos de integração: União Europeia, 
MERCOSUL e União Africana, tanto no contexto estrutural como na vertente de segurança e 
defesa, torna-se relevante no contexto do que esta tese propõe como objeto de análise. 
Primeiramente porque a Comunidades dos Países de Língua Portuguesa é composta por países 
que integram estes, e tem como pilar de sustentação não a integração econômica, mas sim a 
herança histórica e cultural comum, unida pelo idioma, em uma proposta inicial similar a 
Francofonia e o Commonwealth. Segundo, porque esta integração dos países da CPLP nos 
respectivos grupos regionais, Portugal na UE, os Países Africanos de Língua Oficial 
Portuguesa na UA, o Brasil no MERCOSUL e na UNASUL, ou ainda o Timor Leste na 
Associação de Nações do Sudeste Asiático, estabelece para além da CPLP, uma rede de 
interesses sobrepostos de blocos regionais e terão influencia direta em tudo que tem sido 
produzido na Componente de Defesa da Comunidade. 
No início, a Comunidade não tinha como objetivos a cooperação no âmbito da 
segurança ou da defesa, apesar das ações de treinamentos e operações (Cooperação Técnico-
Militar – CTM) entre as Forças Armadas portuguesas e os PALOPS serem executados a mais 
de trinta anos, e a participação ativa brasileira nas Operações de Paz realizadas pela ONU 
durante os recentes conflitos africanos de Angola, Moçambique e também no Timor Leste, 
sendo essas participações apontadas como bem sucedidas pela ONU. Diante desse contexto de 
conflitos intraestatais africanos das últimas décadas e das novas ameaças de segurança do 
cenário pós Guerra Fria para o desenvolvimento dos países de língua portuguesa, estes 
domínios foram reconhecidos pelos Estados membros como objetos importantes para 
Comunidade, principalmente para cooperação técnico-militar, e apenas dois anos após o seu 
19 
 
 
nascimento foram incluídas já as primeiras linhas orientadoras e diálogos multilaterais nestas 
temáticas. Na ótica portuguesa, a Comunidadeteria inicialmente o objetivo de defesa da 
língua portuguesa, considerada como vínculo histórico comum, como meio de difusão da 
criação cultural entre os povos e de projeção internacional da cultura portuguesa. Contudo, 
esse elemento não seria primordial para Componente de Defesa. 
Resgatando a regionalização e a formação de blocos que aconteceram na segunda 
metade do século XX, anteriormente citadas, bem como as duas grandes guerras mundiais e o 
cenário da Guerra Fria, pode-se pontuar que a segurança e a defesa que anteriormente eram 
tratadas mais nacionalmente com reserva como interesse nacional, passaram a ser discutidas 
por países interessados na construção de instituições que promovessem a segurança em uma 
região geoestratégica. A discussão em conjunto e a união de recursos disponíveis a cada 
membro permitiria a partilha de responsabilidades e aumentaria a chance de controle de um 
possível inimigo. Entretanto, essa temática é um pouco mais ampla e difere na prática do que 
foi proposto no papel, pois dependia da posição geográfica, do contexto político, da história 
nacional ou mundial, dos valores culturais, morais, da religião, de cada país. Assim, a 
segurança acaba impregnada e permeada por relações assimétricas de poder, bem como por 
recursos militares ou econômicos disponíveis a cada membro, tornando-se algumas vezes um 
guarda-chuva político-militar das grandes potências com transferência de recursos, doação de 
material militar, e aplicação de normas e regulamentações verticalizadas. 
Dentro deste cenário de segurança coletiva, no caso da União Européia, e mais 
especificamente no Atlântico Norte, as discussões sobre defesa e segurança acabam 
impregnadas pelas deliberações e ações da OTAN, e dos Estados Unidos. A finalidade 
essencial da OTAN seria salvaguardar a liberdade e a segurança de seus membros através de 
meios políticos e militares, no âmbito político promoveria os valores democráticos e 
incentivaria a consulta e a cooperação em matéria de defesa e segurança para construir 
confiança e, no longo prazo, evitar conflitos. Já no âmbito militar estaria comprometida com a 
solução pacífica de controvérsias, mas se os esforços diplomáticos falhassem, teria a 
capacidade militar necessária para realizar operações de gestão de crises. Essas operações 
deveriam ser realizadas nos termos do artigo n. 5 do Tratado de Washington7, tratado 
 
7 Artigo nº. 5 - as Partes concordam em que um ataque armado contra uma ou várias delas na Europa ou na América do Norte 
será considerado um ataque a todas, e, consequentemente, concordam em que, se um tal ataque armado se verificar, cada 
uma, no exercício do direito de legítima defesa, individual ou coletiva, reconhecido pelo artigo 51 da Carta dias Nações 
Unidas, prestará assistência à Parte ou Partes assim atacadas, praticando sem demora, individualmente e de acordo com as 
restantes Partes, a ação que considerar necessária, inclusive o emprego da força armada, para restaurar e garantir a segurança 
na região do Atlântico Norte. Qualquer ataque armado desta natureza e todas as providências tomadas em consequência desse 
ataque são imediatamente comunicados ao Conselho de Segurança. Essas providências terminarão logo que o Conselho de 
20 
 
 
fundador da Organização; ou sob um mandato das Nações Unidas, isoladamente ou em 
cooperação com outros países e organizações internacionais. Com o surgimento de novos 
temas de segurança no cenário internacional pós Guerra Fria, como por exemplo, o 
terrorismo, o tráfico internacional de drogas, a pirataria e os conflitos intraestatais, teria 
surgido à necessidade de redefinição do papel da Organização tornando-se uma política de 
segurança, incluindo também países que antes formavam o bloco socialista. Essa ligação entre 
UE e OTAN se materializa em acordos, como por exemplo, o Berlim Plus feito em dezembro 
de 2002, onde é dada a União Europeia a possibilidade de utilizar-se dos meios da OTAN, 
caso quisesse agir de forma independente ante uma crise internacional, na condição de que a 
própria OTAN não quisesse se envolver, dentro do chamado direito de preferência. Apenas se 
a OTAN se recusar a agir que a UE teria a opção de tomar uma decisão independente. Cabe 
pontuar que os gastos militares combinados de todos os membros da Organização são bem 
relevantes, pois constituem hoje mais de 65% dos gastos de defesa mundiais. Os Estados 
Unidos sozinhos totalizariam mais de 40% dos gastos militares do mundo; já Reino Unido, 
França e Alemanha contariam outros de 15%. Cabe aqui acrescentar que Portugal, dada a sua 
restrita capacidade militar própria, conta estrategicamente com a OTAN e UE para sua 
segurança e de defesa nacional. 
Já no âmbito do Atlântico Sul, carente de recursos e meios militares, efetivamente 
poucas ações materializam-se em anseios regionais de segurança e defesa cooperativa, quer 
pela adoção de medidas de fomento à confiança mútua, quer pela cooperação militar existente 
ou pelos acordos firmados na área de segurança regional. A América do Sul destacar-se-ia 
como uma das regiões mais pacífica do mundo no âmbito de conflito entre Estados. Mas se de 
um lado a região se destaca pela ausência de guerras formais, por outro lado enfrenta as novas 
ameaças de segurança, sérios problemas relativos à fragilidade da lei e alto grau de violência 
social, ao tráfico internacional de drogas e armas, e ao baixo índice de desenvolvimento 
regional. Essa situação paradoxal, que atinge também a África, no outro lado do Atlântico 
Sul, pode pressupor que a estrutura desta região deveria ser marcada pela supremacia de 
preocupações relativas às ameaças de segurança em relação às preocupações de defesa. 
Assim, no eixo das relações entre países do sul, na área de defesa e segurança cabe 
pontuar a Zona de Paz e Cooperação do Atlântico Sul, também conhecida por ZOPACAS, 
criada em 1986. Os membros da ZOPACAS são os países banhados pela parte sul do oceano 
Atlântico, localizados na costa ocidental da África e na costa oriental da América do Sul, 
 
Segurança tiver tomado às medidas necessárias para restaurar e manter a paz e a segurança internacionais. Disponível em: 
<www.nato.int/nato-welcome/index.html>. Acesso em: 23 abr. 2013. 
21 
 
 
incluindo vários países de língua portuguesa. A Zona de Paz visa promove a cooperação 
regional e a manutenção da paz e segurança na região. Ainda no eixo das relações entre países 
do sul, na área de defesa e segurança, cabe explicar também a recente criação do Conselho 
Sul Americano de Defesa (CDS) proposta pelo Brasil. Em de dezembro de 2008, na cúpula 
extraordinária da União de Nações Sul-Americanas (UNASUL) foi aprovada à criação do 
Conselho, que não é uma aliança militar convencional, não prevê a existência de forças 
expedicionárias ou de intervenção no continente, mas certo nível de coordenação militar 
regional na área da defesa continental e de cooperação. O Conselho visa à elaboração de 
políticas de defesa conjunta, intercâmbio de pessoal entre as Forças Armadas, realização de 
exercícios militares conjuntos, participação em operações de paz das Nações Unidas, troca de 
análises sobre os cenários mundiais de segurança e defesa, integração de bases industriais de 
defesa, medidas de fomento de confiança recíproca e ajuda coordenada em zonas de desastres 
naturais. O Conselho de Defesa não seria uma aliança militar convencional como a OTAN, 
mas exige certa coordenação militar regional, entretanto assim como a ZOPACAS carece de 
recursos para o financiamento dos projetos. A atuação e os projetos do CDS seriam muito 
similares ao que tem sido produzido na Agenda de Segurança e Defesa da CPLP. Assim, na 
perspectiva brasileira se manteria um ambiente securitáriocooperativo, mas não coletivo, na 
América do Sul com o CDS e com a África, em geral pela ZOPACAS, e em específico com a 
CPLP. 
O documento sobre a Globalização da Cooperação Técnico-Militar da Comunidade, 
de 1999, vislumbrava a criação futura de centros de instrução militar, unidades de comandos e 
fuzileiros, engenharia, centros de reparação de material, também conjuntas e comunitárias. Na 
CPLP, os assuntos de segurança são tratados, de certo modo, por toda a esfera legislativa em 
uma perspectiva que permearia toda a estrutura, desde a Conferência de Chefes de Estado até 
a Conferência de Assuntos do Mar. Aprovado em 2006, o Protocolo de Cooperação da CPLP 
no Domínio da Defesa seria o documento guia da Agenda de Segurança e Defesa e definiria 
os princípios gerais de cooperação entre os Estados a fim de: promover e facilitar a 
cooperação por meio da sistematização e clarificação das ações a empreender; a criação de 
uma plataforma comum de partilha de conhecimentos em matéria de defesa, a promoção de 
uma política comum de cooperação nas esferas de defesa e militar, e contribuir para o 
desenvolvimento das capacidades internas com vista ao fortalecimento das forças armadas. 
No que diz respeito aos PALOPS, este protocolo auxiliaria na disposição de forças armadas 
modernas, disciplinadas e democráticas, para garantir a paz e a estabilidade interna e regional. 
22 
 
 
Neste início do século XXI, ganham também relevância os princípios gerais de cooperação 
entre os Estados membros para segurança marítima e mapeamento de recursos oceânicos. 
 
23 
 
 
CAPÍTULO 1 – AS RELAÇÕES POLÍTICAS E ECONÔMICAS ENTRE 
BRASIL, PORTUGAL E OS PAÍSES AFRICANOS DE LÍNGUA 
PORTUGUESA NOS ÚLTIMOS QUARENTA ANOS 
 
Ao longo desta tese cada capítulo tem a função fazer uma abordagem mais detalhada 
de elementos que, de algum modo, se relacionam com as hipóteses propostas. Considerando 
que esta é uma tese de história comparada, este primeiro capítulo descreve um pouco da 
história de aproximações e afastamentos políticos e diplomáticos entre Brasil, Portugal e os 
Países Africanos de Língua Portuguesa (PALOPS)8, principalmente nos últimos quarenta 
anos, algo que de alguma forma associa também uma amplitude econômica. São idas e vindas 
que acabam por materializar-se na criação do objeto de análise da tese que é a Comunidade 
dos Países de Língua Portuguesa, em 1996. Uma Comunidade estabelecida inicialmente no 
âmbito cultural e linguístico, mas que com o passar do tempo promove vários fóruns e 
conferências temáticas para além desses dois âmbitos, permitindo aos mais variados atores 
dos Estados membros a confluírem para questões de análise comuns, seja segurança e defesa, 
seja assuntos do mar, como veremos em outros capítulos. Há que se considerar ainda que 
mesmo que essa história acabe por ser descrita pelo olhar de uma brasileira, e não pelos olhos 
de uma portuguesa ou de uma africana, ela tem valor histórico. 
Cabe pontuar também que essa história de aproximações e afastamentos políticos e 
diplomáticos justifica a existência da Comunidade, mas por si só não é capaz de legitimar 
tudo que tem sido produzido nos vários fóruns e conferências da Comunidade nas temáticas 
de segurança e defesa, ou de assuntos do mar. Contudo, também a Comunidade não é a única 
instituição onde os países de língua portuguesa se reúnem; não é algo fechado em si mesmo 
ou em suas próprias questões, acaba por refletir também questões de outros fóruns 
internacionais. Observamos hoje uma interdependência complexa de pertencimento estatal a 
instituições internacionais ou regionais, bem como de pertencimento de atores estatais com 
finalidades específicas a vários fóruns e instituições com temáticas relacionais. 
Essa história de aproximações e afastamentos entre os países de língua portuguesa é 
também a história da Europa com a América, da Europa com a África, da América com a 
África, mas também da Europa do Norte com a Europa do Sul, da África Atlântica com a 
 
8A sigla PALOPS designa os Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa, grupo formado por: Angola, Cabo Verde, 
Guiné-Bissau, Guiné Equatorial, Moçambique e São Tomé e Príncipe. Cinco dos membros foram colônias de Portugal e 
obtiveram a independência entre 1974 e 1975. O outro é a Guiné Equatorial, que em 2007 adotou o português como língua 
oficial. 
24 
 
 
África Índica, da América do Sul com a América do Norte; uma história cruzada que acaba 
por refletir as várias assimetrias leste-oeste, norte-sul ou mesmo sul-sul. Mas também é uma 
história das disputas entre os atores de política interna e externa de cada Estado membro. Uma 
história densa com vários atores, várias continuidades e inflexões, várias lacunas e poucos 
elementos que concentram muito poder, seja político, seja econômico, seja militar. Levando 
isso em conta, esta tese foi escrita acreditando que vale a pena contar uma parte da história 
que não faz parte do mainstream da academia, principalmente se considerarmos elementos de 
hard power em um cenário estratégico hoje focado no Oceano Pacífico. Bem, então vamos à 
história política e diplomática desse Atlântico de língua portuguesa que mistura políticos, 
marinheiros, empresários e tantos outros indivíduos falantes do português, ou mesmo 
estrangeiros. 
 
 
1.1 DO BRASIL COLÔNIA AOS PROCESSOS DE INDEPENDÊNCIA NA ÁFRICA 
DE LÍNGUA PORTUGUESA 
 
Para falar dos países de língua portuguesa e de sua relação ao longo dos últimos 350 
anos temos de pontuar a triangulação imperfeita entre Portugal, o Brasil e a África, que muitas 
vezes polarizou opiniões envolvendo até a sociedade civil, coisa rara para ações de política 
externa brasileira. Entre várias idas e vindas, a temática vai de um sentimento antilusitano 
existente no Brasil ao longo do século XIX, passa por Jânio Quadros e João Goulart quando 
se sinaliza a possibilidade de formação de uma comunidade luso-afro-brasileira, e chega ao 
discurso de fraternidade repontuado por José Aparecido e Itamar Franco, materializados na 
idealizada Comunidade dos Países de Língua Portuguesa. Apesar de repontuado por eles, esse 
discurso de fraternidade é anterior e molda as relações luso-brasileiras ao longo de todo o 
século XX. 
Do lado português, na década de 1950, Agostinho da Silva recomendava que Portugal 
e o Brasil promovessem a criação de uma associação com base linguística e de afeto cultural 
comum. Já na década de 1960, o professor Adriano Moreira, como Ministro do Ultramar 
durante o Estado Novo português, empenhou-se, como um agente do Estado salazarista, nesse 
mesmo sentido, desenvolvendo ações junto das comunidades de emigrantes portugueses. 
Pode-se dizer que essas relações, entre esses três vértices são ora revestidas de intensa 
subjetividade e emotividade ora impregnadas de interesses econômicos. Pode-se dizer que no 
Brasil recente tornou-se enfático o discurso da herança africana, em uma lógica que propõe a 
25 
 
 
reorientação da política externa brasileira em relação à África; mas em um discurso que 
também envolve interesses políticos, econômicos e estratégicos. Já no âmbito político 
português, pode-se dizer que permanece o discurso do país de ser a ponte entre uma Europa 
desenvolvida e uma África extremamente carente, mas rica em recursos minerais; algo às 
vezes visto como uma tentativa de ser o centro de uma articulação entre o Atlântico Norte e o 
Atlântico Sul, talvez em uma estratégia de segurança global. Além disso, essa África de 
língua portuguesa, durante três séculos, foi elemento relevante a ser considerado, por 
exemplo, nas relações bilaterais entre Brasil e Portugal. 
As histórias da África de língua portuguesa e do Brasil estiveram intimamente ligadas 
e impulsionaram o império português no Atlântico. Tiveram um mesmo colonizador e uma 
longa fase de relação econômica e política sustentada no tráfico de escravos,

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