Prévia do material em texto
Responsável Técnico: Lorena de Fátima Vidal (CRB: 410/11-AM) Biblioteca CEUNI-FAMETRO FAMETRO Av. Djalma Batista, Nossa Sra. das Gracas. Manaus, AM Ficha catalogada na Biblioteca CEUNI-Fametro Todos os direitos reservados © FAMETRO IME Instituto Metropolitano de Ensino Ltda Wellington Lins de Albuquerque | Presidente - IME Maria do Carmo Seffair Lins de Albuquerque | Reitora Cinara da Silva Cardoso | Vice-Reitora Iyad Amado Hajoj | Diretor de EaD e Expansão Leonardo Florêncio da Silva | Diretor Editorial e Gestor de EaD Luciana Braga | Projeto Gráfico e Direção de Arte Amenayde Cristine Corrêa | Assistente Editorial Ana Augusta de Oliveira Simas | Supervisora de Produção e Revisão Leandro Carvalho | Revisor Liene Costa | Revisora Imagens | depositphotos.com "Nos termos da Lei n.º 9.610/98, o autor desta obra é titular de todo o complexo de direitos autorais sobre a presente criação. Assim, é vedada a cópia, reprodução, edição ou distribuição desta obra sem autorização expressa do Autor ou da Editora e, ainda é vedado utilizar, citar, publicar esta obra integral ou parcialmente sem deixar de indicar ou anunciar o nome, pseudônimo ou sinal convencional do autor sob pena da aplicação das medidas previstas nos Art. 101 a 110 da Lei n.º 9.610/98." P117f Pacifico, Bruno Victor Brito. Filosofia e ética / Bruno Victor Brito Pacifico. -- Manaus: CEUNI- FAMETRO, 2021. p. 156 ISBN: 978-85-64293-12-0 1. Crítica da ideologia 2. Aristóteles 3. Epistemologia I. Título. CDU.:17 Pa la vr a da R ei to ra “É a educação que faz o futuro parecer um lugar de esperança e transformação”. (Mariana Moreno) “Sejam todos e todas bem-vindos ao EaD do Centro Universitário Fametro” O Centro Universitário Fametro acredita que o papel de uma instituição de ensino é formar não apenas profissionais, mas também formar profissionais no Ensino Superior, com valores éticos, humanísticos e com respeito ao meio ambiente capazes de contribuir para o desenvolvimento da nossa Amazônia. A Fametro, portanto, tem premissas claras a cumprir como instituição de ensino de qualidade. Praticar o ensino, pesquisa e extensão é a sua principal bandeira. A Fametro, ao longo das últimas duas décadas, vem se consolidando como a melhor instituição de ensino do Norte, um espaço democrático e docentes com variadas visões de mundo. Somos uma instituição de ensino plural que avança a cada ano em busca sempre de desenvolver a economia da Amazônia. Nossa estrutura é moderna, estamos em diversos municípios levando uma educação inclusiva e de qualidade. Conheça o Centro Universitário Fametro e viva a experiência em estudar numa instituição com o corpo docente com mestres e doutores e de qualidade de ensino comprovada pelo MEC. Maria do Carmo Seffair Reitora UNIDADE I - A IMPORTÂNCIA DA FILOSOFIA Cultura: conceitos Distinção entre natureza e cultura: questões sobre o conceito de natureza Filosofia: conceito e origem O conhecimento: capacidade humana de entender, apreender e compreender Teoria do conhecimento, ciência e técnica Su m ár io 16 17 21 24 25 UNIDADE II - A IMPORTÂNCIA DA FILOSOFIA NO MUNDO DE HOJE A formação histórica da Filosofia Os principais períodos e escolas filosóficas: dos pré-socráticos aos contemporâneos Período do helenismo: a busca pela felicidade Filosofia Medieval: as filosofias de Santo Agostinho e São Tomás de Aquino O nascimento da Filosofia Moderna: o Período Renascentista UNIDADE III - O PAPEL DOS VALORES DE NOSSA SOCIEDADE A Ética e a Filosofia Diferenças entre ética e moral Do estabelecimento de valores e sua importância: um estudo axiológico A dimensão moral da vida social A conduta humana 35 36 49 58 62 94 98 99 101 103 UNIDADE IV - REFLEXÕES SOBRE A ÉTICA NO TRABALHO E NA CIDADANIA A ética e as empresas: uma relação histórica Ética e responsabilidade social na contemporaneidade A importância da ética no trabalho As questões da atividade profissional a partir da ética A filosofia e a ética no campo profissional hoje Referências Caderno de Exercícios 112 115 117 122 122 128 141 U ni da de 1 Videoaula 1 Videoaula 2 Videoaula 3 Videoaula 4 Videoaula 5 13 Mostrar a importância da Filosofia como área de conheci- mento humano em nossos dias é uma tarefa complicada mediante o mundo em que vivemos. Depara- mo-nos com a seguinte indagação: fazer Filosofia tem alguma utili- dade nos dias de hoje? Este tipo de pergunta é recorrente e não ocorre em relação às demais áreas de investigação científica, como se fosse uma espécie de precon- ceito a respeito da Filosofia, seja ela de humanas (como a Socio- logia), de exatas (como a Física), A IMPORTÂNCIA DA FILOSOFIA 14 Anotações: seja da biológica (como a Medicina Veterinária). Não cabem, pois, os argumentos do senso co- mum responder esta questão a respeito de sua possível utilidade. No entanto, faz-se necessário estar inserido na dinâmica de pensamentos e de teorias fundamentais da Filosofia para alcançar a compreensão de sua importância em nossas vidas. Para muitos, pessoas que tomam o conceito contemporâneo de utilidade, como forma de medir seu tempo apreendido, seja pelo trabalho, seja pelo estudo, a Filosofia não poderia estar inserida na hierarquia de importância vital do conhecimento porque ela não teria o potencial de interferir, de forma imediata, no mundo que nos cerca. Assim, podemos pensar que a Filosofia estaria na categoria de forma de conhecimento sem valor de troca, isto é, que não gera lucro, pois a sua finalidade não está inserida somente nas relações de produção. Segundo Chauí (2011), a Filosofia não está limitada ao conjunto de ciências práticas que servem apenas de pontes para a evolução das técnicas de produção. A Filosofia pode ser compreendida como uma das formas de conhecimento que pensa e repensa a produção teórica de grandes filósofos e filósofas, desde o período clássico, isto é, desde a Grécia Antiga, trazendo uma luz sobre os paradoxos da vida contemporânea ou respondendo mesmo que, indiretamente aos problemas que circundam a humanidade e a sociedade desde a antiguidade. Vemos, por exemplo, a investigação filosófica em torno da cultura, da política e da arte como alguns dos campos de seu interesse. Nos estudos filosóficos, convencionou- se a ideia de que a filosofia está inteiramente 15 Anotações:relacionada à busca da verdade universal. Apesar desta ideia de busca da verdade não ser mais um consenso entre nós, filósofos, há de se reconhecer que tal ideia é uma base muito importante para tratar de temas fundamentais da humanidade. Um dos filósofos mais importantes e conhecidos da história do pensamento, o alemão Arthur Schopenhauer (2014, p. 1380), escreveu em sua obra O mundo como vontade e como representação, Tomo de número II, que “o tema da Filosofia se limita ao mundo, à natureza, à essência do mundo, e que é o único resultado honesto que a Filosofia pode nos dar.” Assim, pensar sobre a essência das coisas que nos cercam é uma manifestação da reflexão pré-científica, capaz de entender o mundo em seu interior. Os pensadores contemporâneos franceses, Guattari e Deleuze (2007) sugerem, na obra O que é a Filosofia?, escrita por eles, que a Filosofia é uma disciplina que, de forma rigorosa, cria conceitos. Os conceitos são formas abstratas construídas pelo pensamento humano. É a partir deles que se constitui a investigação filosófica. A exemplo do que são conceitos, podemos citar os termos mencionados: política, arte e cultura. Estes três substantivos femininos são formas conceituais do entendimento humano e que possuem funções distintas dentro da dinâmica social. Podemos, inclusive, compreender a política e a arte como manifestações derivadas do conceito de cultura. Para iniciarmos nossos estudos, começare- mos resumindo a investigação a respeito de um dos conceitosfundamentais do campo filosófico. A sa- ber, trata-se da cultura. 16 Anotações: CULTURA: CONCEITOS Segundo Hale e Wright (1995), a cultura é tudo aquilo que está relacionado ao que se estabelece como conhecimento (ciência), costumes (moral e ética), religião (crença), jurisdição (lei e justiça), e arte (artesanato e técnica) criados pelo ser huma- no, e que não pode ser é repassado geneticamente como conhecimento natural, inato. É a cultura, como veremos a seguir, que nos diferencia das de- mais espécies animais. Antes de tudo, é preciso compreender como o conceito de cultura foi uti- lizado ao longo da história do pensamento humano. O pesquisador Cuche (2002), de acordo com Godoy e Santos (2014), afirma que o termo “cultura”, no sentido figurado passa a ser usado com mais frequência no século XVIII, inicialmente, seguido de um complemento, “cultura das artes”, “cultura das letras”, “cultura das ciências”, como se fosse necessário que a coisa cultivada estivesse explicitada. Em seguida, para designar a “formação”, e a “educação” do espírito, Cuche (2002) comenta que em um dado momento posterior, num movimento contrário, aqueles termos perdem o seu significado de “cultura” como expressão de uma ação (a ação de instruir), passando a “cultura” como um estado, ou seja, um estado de espírito cultivado pela instrução, um estado em que o indivíduo possui cultura. O termo Cultura apareceu pela primeira vez na língua francesa, no século XVIII, só depois difundido em outras línguas, como a alemã e a inglesa. Ainda, para Cuche (2002), a cultura é própria do ser humano, além de toda a distinção de povos 17 Anotações:ou de classes. A palavra “cultura”, no século XVIII, é empregada no singular, refletindo o universalismo e o humanismo dos filósofos (GODOY; SANTOS, 2014). Desse modo, pode-se dizer que “Cultura” se inscreve na ideologia do Iluminismo, na medida em que a palavra é associada às ideias de progresso, de evolução, de educação, e da razão que estão no centro do pensamento da época, conforme afirmam os autores. A seguir, veremos a distinção entre os conceitos de cultura e de natureza dentro dos estudos da Filosofia, bem como de outras áreas de conhecimento. DISTINÇÃO ENTRE NATUREZA E CULTURA: QUESTÕES SOBRE O CONCEITO DE NATUREZA A filósofa Chauí (2011) afirma que distinguir o que é o natural e o cultural não é uma tarefa fácil, uma vez que criamos e transformamos nosso meio convertendo o natural em cultural, porém o contrário é impossível. Expõe ainda as questões da natureza e da cultura. Segundo ela, ser capaz de distinguir entre os conceitos de natureza e cultura é requisito fundamental para qualquer estudante de filosofia. Natureza é tudo aquilo que nos rodeia, que existe por si mesmo e que, portanto, não depende do ser humano. Por outro lado, entende-se por cultura tudo aquilo que é pensado e construído pelo ser humano. Assim, a cultura é uma característica exclusiva do ser humano, portanto, só existe porque nós existimos. O ser humano, por ser um ente da natureza, primordialmente, é também um 18 Anotações: animal como tantos outros. No entanto, nós nos diferenciamos graças à aquisição da consciência, uma consequência do processo evolutivo de nossa espécie. Ainda, segundo Chauí (2011), percebemos que são nossas ações que transformam o nosso meio. Ações essas designadas como trabalho, outro conceito fundamental para esse estudo. Temos noções sobre nós, as ideias de passado, presente e futuro. A autora enfatiza que adquirimos conhecimento, ou ao menos, algum entendimento sobre a realidade que nos cerca, ao intervir sobre ela. Isso tudo é permitido devido à consciência que possuímos dos fenômenos no mundo. Para a filósofa, significa o “saber de si”. Neste sentido, a natureza de alguma coisa é o conjunto de qualidades, propriedades e atributos que a definem, é seu caráter ou sua índole inata, espontânea. Aqui, Natureza se opõe às ideias do que seria acidental (o que pode ser ou deixar de ser) e do que pode ser adquirido por costume ou pela relação com as circunstâncias; organização universal e necessária dos seres segundo uma ordem regida por leis naturais (CHAUÍ, 2000). Podemos pensar que a Natureza é caracteriza- da da seguinte forma: há um ordenamento entre os seres, há um parâmetro que regula os fenômenos, ou as ocorrências naturais. Neste sentido, po- demos dizer que se trata de uma regularidade, uma frequência, uma constância e uma repetição de encadeamentos das ocorrências e fenômenos naturais. Em alguns casos, são fixos, outros em transformação. Tudo isto pode ser observado pela ótica da relação de causalidade que há nas ocorrên- 19 Anotações:cias da Natureza. Em outros termos, a Natureza é a ordem e a conexão universal é necessária entre as coisas que nos cercam, e que se expressam em leis naturais, tudo o que existe no universo sem a intervenção da vontade e da ação humana (CHAUÍ, 2000). Podemos definir o que é próprio à natureza da seguinte maneira: é tudo aquilo que não é produzido artificialmente pelas mãos do ser humano, a exemplo de um artefato de barro, um artifício mecânico, uma técnica de produção de cadeiras ou algo mais avançado, como a tecnologia da informação. Natural é tudo quanto se produz e se desenvolve sem qualquer interferência humana; um conjunto de tudo quanto existe e é percebido pelos humanos como o meio e o ambiente no qual estamos inseridos. Para Descola (2005), a divisão entre nature- za e cultura e a demarcação de fronteiras entre humanos e não humanos, como vimos, têm sido colocadas de forma recorrente no pensamen- to antropológico contemporâneo. Essas grandes divisões são tematizadas atualmente por antro- pólogos que têm buscado a revalorização do que é político-metafísica. Isto porque, deriva de um pensamento que pode ser classificado como “ani- mista” ou “panpsiquista”, tendo como ponto de par- tida as cosmologias indígenas da Amazônia. Assim, o antropólogo recuperou o termo “animismo” para designar uma ontologia particular que contrasta o “naturalismo” ocidental com outras ontologias pos- síveis. Há muito tempo, sabe-se que existem povos que não concebem a natureza como um domínio exterior e manejável, que está disponível para os 20 Anotações: seres humanos. Assim, fica claro que eles ofere- cem imagens de outras relações possíveis com os seres não humanos e com os quais compartilhamos a nossa existência. Claro, não se trata de idealizar o outro, a alteridade, mas, sim, de reconhecer que, ao estudar outras culturas, a antropologia apresenta ao campo de investigação filosófica outros mundos possíveis a partir dos quais poderíamos repensar os nossos modelos e valores, assim como, talvez, as dimensões da crise ambiental e civilizatória em que nos encontramos (DESCOLA, 2005). Mas afinal, o que é a Cultura? Segundo Laraia (2001), a primeira constatação formal sobre o conceito de cultura foi desenvolvida por Edward Tylor que a entendia de forma etnográ- fica, como um complexo sistema social que abarca crença, conhecimento, moral, arte, costumes e leis. Portanto, é tudo aquilo que pode ser realizado pelo ser humano. A cultura é assim, o aprimoramento da espécie humana através da educação. Uma outra compreensão de cultura é aquela formulada a partir do século XVIII, em que tem início a separação e, posteriormente, a oposição entre Natureza e Cultura. Pesquisadores da área filosófica consideram, sobretudo, que isto se deu a partir de Kant. Essa compreensão filosófica postula, que há uma diferença entre o homem e a natureza em suas essências: a natureza opera, mecanicamente, de acordo com leis necessárias de causa e efeito. Já o homem, enquanto espécie, é dotado de liberdade e razão, agindo por escolha, 21 Anotações:de acordo com valores e fins. Desta forma, a cultura tornou-se sinônimo de História. Se, por um lado, a natureza é o reino da repetição, a cultura, por outro, é lugar da transformaçãoracional. Portanto, é a relação dos humanos com o tempo e no tempo (CHAUÍ, 2000). A partir do que foi exposto, podemos agora falar mais sobre o que é a Filosofia em seu amplo aspecto. A seguir abordaremos sobre o conceito de filosofia e o método adotado por ela para compreender o mundo. FILOSOFIA: CONCEITO E ORIGEM Em conformidade com Costa (2004), no manual de Filosofia, a palavra ‘Filosofia’ é composta por duas palavras gregas: Philos que, em grego, significa amor, e Sophia, que significa sabedoria. Assim, a Filosofia significa amor pela sabedoria. Marcondes (1997) afirma que a Filosofia é uma forma de pensamento que se originou na Grécia Antiga, numa data não específica, mas que tem por sugestão histórica o século VI a.C. A palavra, como a conhecemos, foi utilizada pela primeira vez por Pitágoras no século VI a.C., um filósofo e matemático bem conhecido. Já a palavra filósofo significa “aquele que ama a sabedoria” e tem amizade pelo saber, que deseja o saber. “Assim, a filosofia indica um estado de espírito, o da pessoa que ama, isto é, deseja o conhecimento, a estima, a procura e o respeito” (CHAUÍ, 2000, p. 19). Uma das bases fundamentais para o surgimen- to da Filosofia, como área de conhecimento, advém do pensamento racional sobre a natureza. Isto quer 22 Anotações: dizer que seu surgimento deriva justamente de uma oposição às explicações sobrenaturais ou míticas, que eram consideradas formas de conhecimento pré-filosóficas. Para Marcondes (1997), se hoje po- demos pensar de forma racional e científica sobre as ocorrências do mundo, foi porque a emergência para o nascimento de um novo tipo de conhecimento sobre o mundo, revelou a necessidade de pensá-lo de forma reflexiva. Então, foi a partir dos primeiros filósofos, cuja necessidade de entender como o mundo funcionava sem explicações antinaturais, que se deu o início da filosofia. Logo, pode-se afir- mar que as formas de entendimento sobre o mundo, anteriores à filosofia, foram caracterizadas como insuficiente para compreendê-lo. Podemos dizer dessa forma que, desde a antiguidade, a surpresa e o espanto perante o mundo levaram o homem a formular questões sobre a origem e a razão do universo e, a buscar o sentido da própria existência. Segundo a Filosofia, todos os aspectos da cultura humana podem ser objetos de reflexão. Para Costa (2004), o homem, naquele período em que se convencionou chamar de primitivo, não filosofava. Os mitos foram inscritos na mente humana pela necessidade de explicar a natureza, que para o homem era completamente desconhecida. O salto evolutivo da biologia humana possibilitou ao ser humano pensar sobre essas questões que o cercavam. Se o mito serviu como uma forma de explicação do mundo, a Filosofia, enquanto uma forma de conhecimento não biológico da espécie humana, surgiu a partir da vontade e do desejo de saber (COSTA, 2004). 23 Anotações:Foi na própria natureza (na physis) que os primeiros filósofos encontraram uma explicação para o mundo. Isto significa dizer que as explicações sobre o seu funcionamento se concentraram nas causas naturais. É no próprio mundo que os homens podiam encontrar a sua própria compreensão, não em causas externas a ele. Deste modo, a Filosofia é uma forma de conhecimento para explicar a realidade. O seu surgimento representou, portanto, uma ruptura profunda em relação ao conhecimento mítico (MARCONDES, 1997). O Método da Filosofia A palavra método vem do grego "méthodos", sendo formada pelo prefixo metá, “além de”, “através de”, “para”, e pelo radical odós, “caminho”. Poder-se- ia, então, traduzir o método por “caminho para” ou, então, “prosseguimento”, “pesquisa”. Método é um processo intelectual de abordagem de qualquer problema mediante a análise prévia e sistemática de todas as vias possíveis de acesso a uma solução. Opõe-se, portanto, a um modo de trabalho atrelado, exclusivamente, à improvisação ou à inspiração repentina. Todo método, seja na Filosofia ou em qualquer outro campo de conhecimento, tem por finalidade formular ou buscar afirmações, previsões, expli- cações, no caso específico da Filosofia, descobrir meios para chegar a uma reflexão mais precisa e eficaz sobre o eu, o outro e o mundo externo, isto é, entender a natureza. Entretanto, ainda segundo o autor, os métodos úteis para solucionar um certo conjunto de problemas podem ser totalmente inefi- 24 Anotações: cazes para resolver outros conjuntos de problemas. Pode-se, então, distinguir os métodos filosóficos do método puramente científico. O CONHECIMENTO: CAPACIDADE HUMANA DE ENTENDER, APREENDER E COMPREENDER Figura 1: O Pensador de Rodin De acordo com Chauí (2013), conhecimento, oriundo do latim cognoscere, “ato de conhecer”, tal como a origem etimológica da palavra indica, é o ato ou efeito de conhecer. No conhecimento, temos dois elementos básicos: o sujeito (cognoscente) e o objeto (cognoscível). O cognoscente é o indivíduo capaz de adquirir conhecimento ou o indivíduo que possui a capacidade de conhecer. Já o cognoscível é o que se pode conhecer. O tema “conhecimento” inclui descrições, hipó- teses, conceitos, teorias, princípios e procedimen- tos que são úteis ou verdadeiros. A ciência que es- 25 Anotações:tuda o conhecimento é a gnoseologia. Atualmente, existem vários conceitos para esta palavra, sendo de ampla compreensão que conhecimento é aquilo que se sabe sobre algo ou alguém. Dessa forma, o conhe- cimento está associado com a pragmática, ou seja, relaciona-se com alguma coisa existente no “mundo real” do qual temos uma experiência direta. Ainda em conformidade com Chauí (2013), o conhecimento pode ser também apreendido como um processo ou como um produto. Quando nos referimos a uma acumulação de teorias, ideias e conceitos, o conhecimento surge como um produto resultante dessas aprendizagens, mas como todo produto é indissociável de um processo, podemos, então, olhar o conhecimento como uma atividade intelectual por meio da qual é feita a apreensão de algo exterior à pessoa. TEORIA DO CONHECIMENTO, CIÊNCIA E TÉCNICA Atualmente, discute-se sobre a relação entre ciência e conhecimento e seus aspectos históricos. A esse respeito, há várias teorias que descrevem a inter-relação entre o conhecimento científico no campo prático e teórico. Silva (2013) salienta que a ciência foi responsável por uma nova forma de pensar e agir do homem, trazendo um equilíbrio na resolução de problemas que antes eram inimagináveis e, isso, levou-o a olhar o problema com outros olhos e trilhar novos horizontes (CRUZ, 2018). Neste contexto, Silva (2013) afirma que a ciência possui sua origem no termo em latim 26 Anotações: “scientia”, que significa conhecimento. É plausível destacar a estreita relação entre a ciência e o conhecimento, sendo este disponível a todo indivíduo em sociedade. No entanto, é importante ressaltar que a ciência, de modo geral, não se traduz em uma verdade total, em princípios imutáveis e ou intransigíveis (CRUZ, 2018). Na ciência, convencionou-se fazer classifi- cações a partir de duas áreas do conhecimento, sendo: 1) as ciências da natureza, que busca com- preender os fenômenos da natureza; 2) aquela que se convencionou chamar de ciências humanas, que buscam entender os fenômenos sociais e culturais. Augusto Comte, filósofo francês e expoente da cor- rente Positivista do século XIX, classificou as ciên- cias do seguinte modo: as abstratas, que tratam das questões teóricas e universalistas; e as concretas, que tratam dos recortes particulares e específicos. Este ponto de vista de Comte contraria o ideal de Aristóteles, que dividia as ciências em teórica ou es- peculativa (metafísica), o que, por sua vez, limitava o conhecimento à reprodução cognitiva da realidade (CRUZ, 2018). Para Tesser (1994), a Filosofia é uma exten- sa área do saber humano que se divide em muitos campos de análise, e um deles é a teoria do conhec-imento. É claro que os gregos já pensavam e conhe- ciam as coisas, mas foi apenas no período moderno que esse campo filosófico se consolidou. O princi- pal fator que contribuiu para esse evento foi a bus- ca pelas certezas de Descartes, que culminou em muitas críticas, de modo que as diferentes formas de conhecer o mundo ficaram mais evidentes. Chama-se Teoria do Conhecimento tudo aquilo que se refere ao desenvolvimento do conhecimento 27 Anotações:humano. Entre os assuntos mais tematizados, neste campo teórico, estão a distinção entre conhecimento e opinião, conhecimento científico e conhecimento comum, a observação dentro do conhecimento, conhecimento empírico, raciocínios indutivo e abdutivo, entre outras questões (UNESP, 2013). Na verdade, o conhecimento passou por etapas evolutivas e a mais elevada, a última delas, é o conhecimento científico. Nele, verifica-se o real em sua abstração. Pensa-se sobre os conceitos e os princípios, sejam leis naturais ou da cosmologia (MARCONDES, 1997). A teoria do conhecimento busca, portanto, compreender o modo pelo qual o homem conhece as coisas. Essa busca se dá, basicamente, através de duas perguntas: o que é o conhecimento? Como nos conhecemos? Muitos filósofos se dedicaram seriamente a essas questões, de modo que se tornaram grandes referências no assunto. Para Aranha (2012), o método adotado pela filosofia para resolver esse problema é a divisão do assunto em duas partes: fontes primárias e possibilidades de conhecimento. Segundo Marcondes (1997), no período clássico havia uma distinção entre a teoria e a técnica. Sobre a teoria, Aristóteles indicava que, tal saber é definido pela observação das ocorrências no mundo e que não tem finalidade imediata ou prática na vida de quem reflete sobre o mundo. A teoria é um tipo de saber cuja finalidade está em si mesma porque traz satisfação ao descobrir a natureza do homem. Isto representa aquele mencionado desejo de conhecer, que falamos anteriormente. Este tipo de saber é gratuito, e a sua gratuidade quando 28 Anotações: relacionada à abstração do pensamento é capaz de revelar o seu grau superior em relação à técnica. Contudo, a concepção grega clássica de que havia um distanciamento entre teoria e técnica, foi superada com os filósofos modernos Galileu Galilei e Francis Bacon. A partir de suas reflexões, a ciência e a técnica foram pensadas em conjunto. A técnica passou a ser uma forma de aplicação do conhecimento científico, que pode ser considerado como uma prática da teoria científica (MARCONDES, 1997). De acordo com Soliveréz (1992), a ciência é comparada à mãe da técnica. Para ele, a técnica está intimamente ligada ao modo de “como se deve fazer”. Já a ciência, insere-se nos conhecimentos necessários para se pôr em prática a utilização da técnica (CRUZ, 2018). Marcondes (1997) nos lembra que houve uma revolução científica a partir de 1543, com a obra de Nicolau Copérnico, intitulada Sobre a revolução dos orbes celestes. Os orbes celestes (planetas) passaram a ser compreendidos pelos cálculos matemáticos, trazendo um novo entendimento sobre o modelo cosmológico, logo: o Sol é o centro e a Terra apenas um astro que gira em torno do sistema heliocêntrico. Em outras palavras, a Terra gira em torno do Sol, e não o contrário, como se acreditava antes da teoria matemática de Copérnico ser publicada. Acreditava-se, desde a teoria formulada por Ptolomeu, no século II, que a Terra era o centro do universo, um astro imóvel. Este sistema ficou conhecido como geocêntrico. Podemos, então, reconhecer que uma das principais mudanças que ocorreram ao longo da 29 Anotações:história, no método científico, esteve ancorada numa inversão de ordem de prioridades. A ciência moderna traz como fundamento analisar os fenômenos e observá-los (MARCONDES, 1997). Como mostramos, paralelamente ao desenvolvimento da ciência, a técnica caminhou a passos largos para a situação de cientificação. Há um evidente desenvolvimento da técnica atrelado ao progresso das ciências modernas (SOLIVERÉZ, 1992). A seguir, mostraremos a História da Filosofia. U ni da de 2 Videoaula 1 Videoaula 2 Videoaula 3 Videoaula 4 Videoaula 5 32 Anotações: 33 Pesquisadores renomados da área da Filosofia como Chauí (2000), Cotrim (2017), Cortella (2013) e ARA- NHA (2003) afirmam que este cam- po de conhecimento é uma forma de aprender a pensar e refletir, des- pertando o nosso senso crítico, o que nos auxilia na construção de uma visão mais ampla do mundo. Por isso, a Filosofia ainda é de suma importân- cia no mundo de hoje, mesmo que muitos não saibam o seu significado ou acreditem que ela possua serven- tia utilitarista. A IMPORTÂNCIA DA FILOSOFIA NO MUNDO DE HOJE 34 Anotações: Para Cortella (2013), é a filosofia que estimula a consciência e nos ajuda na formulação do nosso caráter moral. A verdadeira importância da filosofia está no efeito que ela causa sobre as pessoas, tornando-as mais livres para uma postura crítica e questionadora. Por esses e outros motivos, a Filosofia é tão importante no mundo atual, pois ajuda as pessoas a desenvolverem uma visão mais humanista. Deste modo, a Filosofia possui um valor que transcende o seu significado conceitual, pois atravessa inteiramente o modo de vida do indivíduo. Podemos afirmar que alguns não são guiados por doutrinas ou crenças que os orientem e, nesse sentido, é que a Filosofia torna-se uma área de conhecimento que supera o seu significado científico, uma vez que é capaz de dar às pessoas uma forma de conhecimento racional, com o qual podem pensar. Vemos ao longo da sua história, pensadores passarem a seguir uma corrente filosófica. Isto significou que a espécie humana alcançou o interesse em buscar objetos e, ao mesmo tempo, dirigir o seu próprio comportamento. Observa-se isto na corrente conhecida como estoicismo, que busca dominar as emoções humanas. A epicurista que vai à procura da felicidade que é alcançada mediante o prazer. A cristã, que sai em busca da salvação através da graça e dos ensinamentos de Jesus Cristo. Cada uma dessas correntes levou o ser humano a uma forma de pensar a vida e o mundo, bem como a um tipo de comportamento (COSTA, 2004). Assim, podemos dizer que a Filosofia traz a nos- sa espécie o desejo do conhecimento de si próprio, 35 Anotações:faz refletir sobre o nosso lugar no universo e na socie- dade, sempre buscando a verdade. Dessa forma, ela está disponível à descoberta para todos nós. Veremos a seguir, a formação histórica da Filosofia e seus desdobramentos. A FORMAÇÃO HISTÓRICA DA FILOSOFIA Spinelli (2003) diz que a fase de origem da Filosofia, entendida como uma maneira de pensar totalmente nova, originou-se na Grécia no final do século VII e início do século VI a.C (–para outros pesquisadores filósofos, o período que abarca o surgimento da Filosofia é de VI e V, a.C.–), ocor- reu, a rigor, na região da Jônia (Grécia), onde as cidades eram movimentadas pelos mercantis do mar Mediterrâneo e, por isso, tinham grande con- centração de intelectuais. O pesquisador ainda afirma que foi, precisamente, na cidade de Mileto onde surgiram os três primeiros filósofos (Tales, Anaximandro e Anaxímenes), que tinham ideias que rejeitavam as explicações tradicionais baseadas na religião e na mitologia e buscavam, assim, apresen- tar uma teoria cosmológica baseada em fenômenos observáveis. Apresentamos essa questão na uni- dade anterior. Podemos observar, contudo, que as carac- terísticas da Filosofia não são encontradas so- mente na escola de Mileto, mas também em di- versos pensadores daquele período, chamados de pensadores pré-socráticos, pois surgiram antes de Sócrates. Assim, os primeiros filósofos con- tribuíram com o desenvolvimento filosófico e através deles, surgiram as primeiras noções que 36 Anotações: buscavam compreender a realidade e que funda- mentaram alguns dos conceitos e das teoriassobre a natureza (MARCONDES 1997). A seguir veremos os períodos de cada escola e corrente filosófica. OS PRINCIPAIS PERÍODOS E ESCOLAS FILOSÓFICAS: DOS PRÉ-SOCRÁTICOS AOS CONTEMPORÂNEOS A partir deste tópico, veremos com mais aprofundamento que a Filosofia grega Pré- Socrática foi a primeira corrente de pensamento, surgida por volta do século VI a.C., na Grécia Antiga. Belo (2015) afirma que os primeiros filósofos, aqueles antes de Sócrates, interessavam-se pelas questões do Universo e dos fenômenos naturais, buscando explicá-los por meio do conhecimento racional. Podemos afirmar que se trata de um conhecimento pré-científico. O período pré-socrático foi o ponto inicial das reflexões filosóficas. Suas discussões prendem-se a entender a Cosmologia, sendo a determinação da physis (princípio eterno e imutável que se encontra na origem da natureza e de suas transformações), ponto crucial de toda formulação filosófica. Pitágo- ras, por exemplo, desenvolve seu pensamento de- fendendo a ideia de que tudo preexiste a partir da alma, já que ela é imortal. Já Demócrito e Leucipo defendem a formação de todas as coisas a partir da existência dos átomos (BELO, 2015). Os primeiros traços da Filosofia grega pré-socrática surgem com Tales de Mileto, comerciante e estudioso, ha- bitante da região da Jônia, conjunto de ilhas gre- gas situadas no atual território turco. Segundo a 37 Anotações:História, Tales era um exímio matemático, astrôno- mo e estrategista que previu, no ano de 585 a.C., o acontecimento de um eclipse total do Sol, por meio de cálculos matemáticos e previsões astronômicas (BELO, 2015). As escolas jônica, eleática e pitagórica são consideradas as principais do período. Da Jônia, surgiram os físicos: Tales de Mileto (625-546 a.C.), Anaximandro (611-547 a.C.), Anaxímenes (570-547 a.C.) e Heráclito (544-480 a.C.). Eles buscaram explicar o desenvolvimento da natureza em sua essência comum a todas as coisas, além de propagar a ideia do movimento contínuo (eterno). Foi Heráclito quem afirmou a contradição e a dinâmica no mundo. Segundo ele, quando entramos num rio, ele não é o mesmo, nem nós somos os mesmos ao sair dele. A sua frase mais conhecida é: “não nos banhamos duas vezes no mesmo rio” (COSTA, 2004). A escola jônica trouxe ao pensamento humano o caráter crítico, pois as teorias formuladas por seus pensadores não se fundamentavam pelo dogmatismo, isto é, as suas teorias não eram apresentadas como verdades absolutas. Através delas, poderia suscitar-se discussões que divergissem ou discordassem completamente delas, portanto, eram passíveis de crítica (MARCONDES, 1997). Da escola de Eléa, surgiram filósofos como Empédocles (483-430 a.C.), Parmênides (530- 460) e Anaxágoras (499-428 a.C.). Para esses, não há mudanças nas coisas, já que a unidade e a imobilidade são elementos do ser (a essência do mundo). Zenon, outro pensador eleata, conceituou o paradoxo da lógica, que é quando uma conclusão, 38 Anotações: cuja contradição interna de um enunciado é derivada de premissas válidas, no entanto, uma delas pode não ser verdadeira. Ele fundamentou a base para que os filósofos de épocas diferentes buscassem soluções para tal paradoxo. Podemos dizer que esta escola tinha, como um de seus interesses, questões em torno da coerência racional, possibilitando o surgimento da lógica como ciência (COSTA, 2004). Porém, o filósofo mais conhecido desta escola é Parmênides, que foi quem introduziu a distinção entre a realidade e a aparência. Segundo ele, a realidade é única, imóvel, eterna, imutável, por isso, o movimento seria, em sua superficialidade, algo aparente (MARCONDES, 1997). A escola atomista, por sua vez, tem como característica afirmar que o Universo é constituí- do de átomos que são indivisíveis, infinitos (logo eternos), que estão reunidos de modo aleatório. Seus representantes foram Leucipo e Demócrito (460-370 a.C.). Demócrito é o mais conhecido por ter sido o primeiro a traçar um esboço do materialismo determinista (COSTA, 2004). O filósofo Pitágoras (582-500 a.C.) foi de Sa- mos, na região da Jônia. Contudo, apesar de sua ori- gem, ele foi para a Itália, onde fundou outra escola. Assim, foi o representante da escola italiana, onde deu início à transição do pensamento da Jônia para o pensamento mais mítico e semirreligioso dentro da filosofia (MARCONDES, 1997). Portanto, sua es- cola tinha um caráter mais iniciático (para curiosos da vida esotérica). Segundo Costa (2004), Pitágo- ras afirmava que a verdadeira substância é a alma, a qual existe antes mesmo do corpo, e encarna por consequência de um castigo de uma vida anterior. 39 Anotações:Esse pensamento foi uma forma de compreender a essência das coisas e se mostrou uma teoria prévia ao mundo das ideias de Platão. O principal legado da escola pitagórica (ou pitagorismo) foi a teoria de que o número é o elemento que explica a harmonia e o equilíbrio do real, o que, consequentemente, ajudou a desenvolver a matemática e a geometria grega (MARCONDES, 1997). Outro importante momento neste período considerado pré-socrático aconteceu no final do século V a.C., que foi o surgimento dos sofistas. Os nomes mais conhecidos são Protágoras (490- 410 a.C.) e Górgias (485-380). Os sofistas eram educadores pagos pelos alunos, eles pretendiam substituir a educação tradicional, que era destinada a preparar verdadeiros atletas e guerreiros das cidades-estado gregas, por uma forma pedagógica que se preocupava com a formação de cidadãos. Em sua pedagogia, os sofistas ensinavam a retórica, uma arte dedicada a ensinar a falar de maneira convincente a respeito de qualquer assunto (COSTA, 2004). Assim, os sofistas, entre eles Górgias, Leontinos e Abdera, defendiam uma educação cujo objetivo máximo seria a formação de um cidadão pleno, preparado para atuar politicamente para o crescimento da cidade. Dentro dessa proposta pedagógica, os jovens deveriam estar preparados para falar bem, pensar e manifestar suas qualidades artísticas (BELO, 2015). 40 Anotações: O início do período Clássico Grego: a Filosofia socrática Figura 2: Sócrates Fonte: <https://arteeartistas.com.br/>. Essa é considerada a melhor fase da civilização grega. Sócrates viveu no Período Clássico, no auge da civilização grega, e foi mestre de vários alunos, dentre os quais Platão foi o mais destacado. Além de ser conhecido por sua filosofia e seus diálogos filosóficos, seu método lhe rendeu muito destaque. Estima-se que ele tenha nascido em 470 a.C. na cidade de Alópece, em Atenas, Grécia. De acordo com Funari, (2002), Sócrates foi condenado à morte e sua sentença foi a de morte por envenenamento. Este fato aconteceu em 399 a.C. Seus pais eram Sophroniscus, um escultor, e Phaenarete, uma parteira. Durante sua juventude trabalhou no mesmo ofício que seu pai, o de artesão. Na sua juvenilidade, Sócrates visitou o Oráculo de Delfos situado no templo dedicado ao deus Apolo, em Atenas. O primeiro impacto do 41 Anotações:filósofo deu-se com a percepção da frase escrita na entrada do templo: “Conhece-te a ti mesmo e conhecerá o mundo e os deuses”. Segundo Chauí (2004), essa frase foi tomada como lema de vida para Sócrates, que buscou sempre se empenhar no autoconhecimento. O maior choque do filósofo ocorreu, no entanto, no momento de uma conversa com a sacerdotisa do oráculo que teria afirmado ao jovem filósofo que ele seria o mais sábio de todos os homens da Grécia. Foi a afirmação “conhece-te a ti mesmo” que chocou o filósofo e o colocou em dúvida. Para Cotrim (2017), em uma atitude de colocar à prova o que lhe foi dito, o pensador passou a caminhar pelas ruas de Atenas conversando com interlocutores que se julgavam conhecedores de certos assuntos, como política e artes. Sócrates, no entanto, percebeu que, realmente, aquelas pessoas que julgavam conhecer sobre certos assuntos, na verdade não conheciam a fundo o que elas diziam saber. Ele fundouo método chamado de Maiêutica, palavra que pode ser traduzida como obstetrícia, ou seja, a arte de realizar partos. No entanto, isso não basta para definir a maiêutica socrática. Como já foi mencionado, sua mãe era parteira. E metaforizando esse método, pode-se entender que, tal qual sua mãe, Sócrates dizia realizar partos, mas não partos de bebês, e sim de ideais. De acordo com Funari (2002), o filósofo acreditava que ele mesmo não detinha o seu conhecimento filosófico, mas teria uma habilidade de retirar esse conhecimento das outras pessoas. Já para Aranha (2013), a Maiêutica era um diálogo focado em aflorar o conhecimento nas 42 Anotações: pessoas de maneira paulatina, isto é, aos poucos fazer o indivíduo aproximar-se da verdade por meio de um diálogo lento e gradual. A autora supracitada esclarece que esse método se dava a partir de questões que tinham por finalidade ironizar e refutar conhecimentos dogmáticos. Em outras palavras, Sócrates queria acabar com as certezas que as pessoas de sua localidade tinham a respeito de diversos assuntos. Com isso, ele convencia, por meio da ironia, seus interlocutores de que eles não sabiam tanto quanto pensavam. Para Sócrates, o exercício fundamental do filósofo não é informar ou transmitir saberes definidos (acabados, prontos). É, no entanto, fazer com que o interlocutor tenha ideias próprias, como se desse luz a elas. É através do diálogo que Sócrates opera a sua forma de compreensão dialética. Primeiramente, questiona as crenças preconcebidas do indivíduo que participa desse diálogo, com provocações sobre essas crenças que ele acredita ser uma verdade universal. A partir disto, o filósofo grego utilizava a ironia e problematizava tais crenças, o que consequentemente ia gerando contradições nas respostas do interlocutor, fazendo-o perceber as suas próprias contradições. Ao se dar conta delas, o indivíduo reconhecia a sua ignorância (MARCONDES, 1997). Aquela famosa máxima “Conhece-te a ti mesmo” é oriunda da Grécia e está relacionada com a dialética socrática. Assim, para Cotrim (2017), Sócrates anunciava que a verdade estava dentro de nós, e por meio do questionamento das coisas ele conseguia chegar a verdades universais. Outra frase mais famosa de Sócrates, “Só sei que nada 43 sei”, é derivada daquela ideia de reconhecimento de sua própria ignorância porque é o elemento fundamental para o saber (MARCONDES, 1997). Costa (2004) diz que Sócrates não criou um sistema ou uma doutrina, mas a forma de viver a vida como um método de refl exão. É através da autorrefl exão sobre nossas crenças que podemos ser racionais e fazer problematizações críticas em torno da ética, assunto que trataremos mais adiante. Platão e sua epistemologia Platão nasceu por volta de 427 a.C., em uma família aristocrática de Atenas. Quando tinha cerca de 20 anos, aproximou-se de Sócrates, por quem tinha grande admiração. Como a maioria dos jovens de sua classe, quis entrar na política. Com cerca de 40 anos, Platão fundou a Academia, um instituto de Educação e pesquisa fi losófi ca e científi ca que, rapidamente, ganhou prestígio. Platão morreu por volta de 347 a.C. e já era um homem admirado em toda Atenas (SARDI, 2005). De modo geral, a sua fi losofi a trouxe um esboço daquilo que viria a ser conhecido como sistematização do conhe- cimento. A sua fi losofi a fundamenta-se pela te- oria das ideias ou teoria das for- adiante. Platão e sua epistemologia Platão nasceu por volta de 427 a.C., em uma família aristocrática de Atenas. Quando tinha cerca de 20 anos, aproximou-se de Sócrates, por quem tinha grande admiração. Como a maioria dos jovens de sua classe, quis entrar na política. Com cerca de 40 anos, Platão fundou a Academia, um instituto de Educação e pesquisa fi losófi ca e científi ca que, rapidamente, ganhou prestígio. Platão morreu por volta de 347 a.C. e já era um homem admirado em toda Atenas (SARDI, De modo geral, a sua fi losofi a trouxe um esboço daquilo que viria a ser conhecido como sistematização do conhe- cimento. A sua fi losofi a fundamenta-se pela te- oria das ideias ou teoria das for- 44 Anotações: mas. A sua contribuição para o conceito de bem absoluto foi fundamental para teorias filosóficas posteriores (COSTA, 2004). Assim como Sócrates, Platão rejeitava a Educação que se praticava na Gré- cia em sua época, por essa ficar a cargo dos sofistas, que eram incumbidos de transmitir conhecimentos técnicos - sobretudo a retórica - aos jovens que podiam pagar a eles para torná-los aptos a ocupar as funções públicas, como aponta Sardi (2005). Para Platão, toda virtude é conhecimento e, ao homem virtuoso, segundo ele, é dado a conhecer o bem e o belo. Para Chauí (2004), a busca da vir- tude deve prosseguir pela vida inteira, portanto, a Educação não pode se restringir aos anos de juventude. Educar é muito importante para uma ordem política baseada na justiça, como Platão preconizava, que deveria ser tarefa de toda a socie- dade. É por conta da complexidade da teoria filosófica de Platão que a Filosofia Clássica virou um marco na história do pensamento humano. É possível caracterizar o pensamento de Platão por meio da problematização do conhecimento. Há algumas questões que ajudam a corroborar esta caracterização, são elas: 1. Existe a possibilidade do conhecimento do mundo e da realidade, de vê-los como são em si? 2. Existe um método capaz de conhecer este mundo? 3. As questões dos sentidos e da razão são como instrumentos do conhecimento? 4. A questão da materialidade do mundo ou da realidade superior, cuja natureza é inteligível, e a realidade mutável e não 45 Anotações:duradoura versus a essência imutável é infinita? Podemos afirmar que a faceta epistemológica do pensamento de Platão é muito importante para entender a sua filosofia. O problema fundamental para o seu pensamento é poder avaliar as formas de conhecimento para alcançar o nível mais profundo, que está além das coisas do mundo que nos cercam (MARCONDES, 1997). O processo dialético platônico pelo qual, ao longo do debate de ideias, depuram-se o pensa- mento e os dilemas morais, também se relaciona com a procura de respostas durante o aprendiza- do. Platão é do mais alto interesse para todos que compreendem a Educação como uma exigência de que cada um, professor ou estudante, pense sobre o próprio pensar, como explica Sardi (2003). Neste sentido, podemos dizer que a obra de Platão é uma síntese que abarca o conhecimento verdadeiro, a moralidade e a política. Traz ao campo da Filoso- fia preocupações em torno dos fatores pedagógi- cos-políticos do conhecimento. Isto o leva à con- clusão de que é o conhecimento em alto nível que leva o homem a fazer o Bem (MARCONDES, 1997). Uma das alegorias mais conhecidas da história é A Alegoria da Caverna (conhecida popularmente como “Mito da Caverna”). Esta alegoria está inscrita na obra A República, no capítulo VII (514a-517d) e é contada através de um diálogo entre os personagens Sócrates e Glauco. Trata-se de uma metáfora de Platão sobre o nosso mundo, representado pela caverna. Nelas estão pessoas acorrentadas (como prisioneiros), desde crianças, sem se moverem, podendo somente observar o que está a frente, 46 Anotações: onde elas veem apenas sombras. Estas pessoas aprisionadas são representações nossas, como se Platão descrevesse o ser humano inserido em um mundo ilusório, onde enxergássemos unicamente uma parte ínfima do mundo real. Do lado de fora da caverna há uma fogueira, cuja luz projeta as sombras, que são os homens que passam (como sombra) pelo lado de fora da caverna. Eles são representações dos sofistas que manipulam as opiniões dos homens e são parte da ilusão. Quando um dos prisioneiros se liberta e conhece o que há no exterior da caverna, ele consegue enxergar a realidade plenamente, compreendendo-a a tal ponto de não querer voltar para a caverna (MARCONDES, 1997).Aristóteles e a ética a Nicômaco Aristóteles (384-322 a.C.), ao lado de Sócrates e Platão, é considerado um dos grandes filósofos do período clássico. Ele definiu os conceitos e princípios basilares de muitas teorias científicas. Fundamentou as teorias da lógica, da biologia, da física e também da psicologia. Na lógica, desenvolveu a teoria da inferência dedutiva, que são o silogismo e um conjunto de regras, que depois ajudaram a formar o método científico (COSTA, 2004). Nascido na cidade de Estagira, na Macedônia, Aristóteles foi discípulo de Platão por muitos anos, rompendo com a filosofia do mestre após a morte dele. Então, fundou o seu próprio sistema filosófico, partindo da crítica à teoria das ideias. Assim, toda a sua filosofia funda-se sobre a crítica aos 47 Anotações:fundamentos pré-socráticos e às teorias de Platão. O filósofo estagirita redefine a Filosofia, tanto no seu projeto quanto no seu sentido, para alcançar o seu objetivo de construir um sistema de saber, com a intenção de superar as limitações e as falhas de seus antecessores. Este projeto aristotélico pode ser observado na sua monumental obra intitulada Metafísica (MARCONDES, 1997). Devemos mencionar outra obra de Aristóteles, muito importante na História da Filosofia, que é a Ética a Nicômaco. Nela, Aristóteles apresenta uma nova concepção de virtude, de uma razão voltada para questões práticas e do justo meio. A investigação de Aristóteles estreita os laços entre a ética e a política, como se uma dependesse da outra. Apesar do modelo ético apresentado por ele ser muito semelhante à maneira como Platão, seu mentor, apresentava, (ou seja, em forma de diálogos) ela é bem distinta das questões éticas que permeiam o pensamento platônico. O filósofo de Estagira mostra um modelo teleológico que tem por finalidade apresentar a imagem de um arqueiro que precisa atingir seu alvo após visualizá-lo, tal como um agente moral precisa ter como objetivo o fim prático (o Bem) para alcançá-lo. A visão de mundo de Aristóteles não se divide em dois, o sensível e o inteligível, como em Platão e, por isso, rejeita a ética platônica. O Bem precisa orientar as ações boas (uma forma moral) do agente (UNESP, 2013). Já no início da Ética a Nicômaco, o filósofo estagirita parte em investigar o Bem, com intenção de alcançá-lo. Em meio à investigação do Bem, apresenta a ideia de que precisa haver uma boa 48 Anotações: vida. Há a vida de prazer, a vida de honras, a vida virtuosa e a vida contemplativa. Destas quatro formas de viver a vida, somente a vida virtuosa e a vida contemplativa são consideradas em sua investigação como formas possíveis de alcançar a felicidade (UNESP, 2013). Para Aristóteles (1973, p. 428-430), a felicidade: É atividade conforme à virtude, será razoável que ela esteja também em concordância com a mais alta virtude; e essa será a do que existe de melhor em nós. Quer seja a razão, quer alguma outra coisa esse elemento que julgamos ser o nosso dirigente e guia natural, tomando a seu cargo as coi- sas nobres e divinas, e quer seja ele mesmo divino, quer apenas o elemento mais divino que existe em nós, sua atividade conforme à virtude que lhe é própria será a perfeita felicidade. Que essa atividade é contemplativa, já o dissemos anteriormente. Para Aristóteles, devemos agir de maneira virtuosa e, para termos essa ação, podemos nos basear nos aspectos culturais de nossa sociedade. Não há um conjunto de regras que nós devemos seguir, o que torna o modelo ético aristotélico diferente dos demais apresentados ao longo da História da Filosofia. Desta forma, abre margem para a possibilidade de compreender que uma ação virtuosa, em determinado lugar, pode ser considerada não virtuosa em outro. Contudo, Aristóteles apresenta uma noção que media a ação 49 Anotações:virtuosa de uma pessoa, impondo uma medida aritmética, trata-se do justo meio. Assim, ele exemplifica dizendo que o número três é o meio entre os números dois e quatro. Essa aritmética é um meio que pode ter variações devido aos casos singulares, em outras palavras, deve-se medir caso a caso. Algumas ações são consideradas covardes quando falta impulso, já o excesso de impulso pode ser considerado como temeridade, no entanto, ambas são manifestações de vício. Uma ação considerada corajosa é quando o impulso aparece de forma moderada, o que faz com que o indivíduo aja sem excesso e sem vício, portanto, virtuosamente. Isto quer dizer que uma ação só pode ser considerada virtuosa se aquela ação atender às “regras” do justo meio (UNESP, 2013). PERÍODO DO HELENISMO: A BUSCA PELA FELICIDADE Após a conquista da Grécia pelos macedônios (322 a.C.), teve início o chamado período helenístico. Devido à expansão militar do império da Macedônia, efetuada por Alexandre Magno, o período helenístico caracterizou-se por um processo de interação entre a cultura grega clássica e a cultura dos povos orientais conquistados. E o mesmo processo ocorreu no campo filosófico. Para Goldschmidt (1953), filósofo francês, as escolas platônicas (Academia) e aristotélica (liceu) — dirigidas, respectivamente, pelos discípulos de Platão e Aristóteles — continuaram abertas e em plena atividade, mas os valores gregos começaram 50 Anotações: a mesclar com as mais diversas tradições culturais. Este processo se deu através da cidade de Alexandria, capital do reino grego no Egito e centro cultural do helenismo. Pelo fato de a Alexandria ser cosmopolita, a cultura daquele local tornou-se sincrética (MARCONDES, 1997). Helenismo é um termo retirado da obra de um importante historiador francês, que apresentava a tese de que havia uma influência da cultura grega em toda a região conquistada por Alexandre. Podemos compreender que a primeira tentativa de criar uma hegemonia da língua e da cultura nasceu com o império estabelecido por Alexandre (MARCONDES, 1997). A seguir, veremos alguns filósofos e as escolas mais conhecidas deste período. Os Estoicos Este período foi marcado pela busca de um caminho para a felicidade, e sendo criada pelos estoicos, dando origem à corrente conhecida como estoicismo. De acordo com Marcondes (1997), o termo estoicismo deriva das palavras gregas stoa poikilé, que pode ser traduzido como “pórtico pintado”. A escola estoicista foi fundada em Atenas, em 300 a.C., e feita pelos discípulos que sucederam os pensadores Zenão, Cleantes e Crisipo. A Filosofia, para a escola estoicista, é um sistema composto por três partes fundamentais e estão divididas em uma forma hierárquica: a física, a lógica e a ética. O sistema estoico parte da metáfora da árvore para ser explicado, de modo que a raiz da árvore corresponde à física, o tronco corresponde à lógica e os frutos podem ser 51 Anotações:entendidos como a ética. Logo, a ética pode ser considerada a parte fundamental para tal escola, mas não deve estar separada da física porque há uma relação estreita entre as áreas. O homem é considerado uma parte do universo, pois ele é o microcosmo no macrocosmo (MARCONDES, 1997). Veremos, mais adiante, porque estas áreas estão conectadas. As nossas ações éticas devem ter uma relação com os princípios naturais, que se harmonizam com o cosmo e traz equilíbrio ao universo e ao próprio homem, o que resulta em sua felicidade. Uma ação considerada boa deve estar de acordo com a natureza, isto é, precisa estar em consonância com a ética. A virtude no sistema estoico é composta por três elementos básicos: a do conhecimento do que é o bem e o mal, correspondendo à inteligência; a do conhecimento do que deve ou não ser temido, que corresponde à coragem e a do conhecimento que nos permite dar algo que é devido a quem merece, o que corresponde à justiça. Assim, a concepção de natureza, na ética do estoicismo, tem um forte teor fatalista, pois o destino (heimarmené) tem uma presença grande em sua constituição. O destino não é arbitrário e refletea racionalidade do mundo real, portanto devemos aceitá-lo, mesmo não compreendendo o que fazemos para termos um triste destino. Assim, a resignação em aceitar os acontecimentos como algo predeterminado é um elemento fundamental nesta ética. Devemos agir tendo como princípio a ética, mas aceitar as consequências de nossas ações e o desenrolar dos acontecimentos inevitáveis (MARCONDES, 1997). Em outras palavras, tudo o que existe e acontece 52 Anotações: tem um objetivo e uma razão de ser, pois faz parte da inteligência universal. Assim, tudo é necessário, ou seja, não pode ser diferente do que é, pois, no cosmos, todos os eventos estão organicamente predeterminados. Isso inclui a vida de cada um de nós, o que quer dizer que, na concepção estoica, cada pessoa nasce com um destino definido. A eudaimonia, traduzida como felicidade, baseia-se na ataraxia, que se traduz por tranquilidade. O estado de tranquilidade consiste na ausência de perturbação. Aceitar o desenrolar dos acontecimentos, conviver com austeridade e manter o autocontrole é o que nos faz alcançar a ataraxia, ou melhor, a tranquilidade. O estoicismo, contudo, coloca-nos um desafio, pois para alcançar este estado, é preciso ser um completo sábio (MARCONDES, 1997). Cotrim (2016) destaca que os estoicos procuraram orientar a conduta das pessoas estabelecendo a seguinte distinção entre as coisas: 1) boas, aquelas que dependem de nós e que devemos buscar durante a vida para sermos felizes, são virtudes (ser prudente, justo, corajoso); 2) más, que são as coisas que dependem de nós, mas que, ao contrário, devemos evitar durante a vida se queremos ser felizes, são vícios advindos de algumas formas de paixões (ser imprudente, injusto, covarde, guloso, raivoso); 3) indiferentes, que são as que não dependem de nós e com as quais não devemos nos preocupar, sob pena de gerar infelicidade. Antes de passarmos para a próxima escola helenista, é preciso ressaltar que, por conta das características de ser determinista, de buscar o 53 Anotações:autocontrole, a submissão e a austeridade da vida financeira como valores centrais, a ética estoica foi uma grande influência para o desenvolvimento do cristianismo, assim explica Marcondes (1997). Epicuro Epicuro (341-271 a.C.) reunia-se, na cidade de Atenas, com os seus discípulos no jardim de sua escola, fundada em 306 a.C., ele retomou as teorias atomistas de Demócrito e Leucipo, e foi reconhecido pelo seu tratado sobre a natureza, intitulado Da Natureza. É importante observar que os epicuristas defendem a física materialista, atomista e mobilista. Assim, eles apresentam uma teoria do conhecimento que valoriza a experiência do que é imediato. Nesta teoria também é apresentado um conceito chamado de pré-noção, que consiste em conservar os elementos de uma experiência que servirá para alcançar objetivos e dar inícios teóricos (como ponto de partida) para a apreensão de conhecimentos posteriores (MARCONDES, 1997). A sua ética, segundo Marcondes (1997), tem por princípio a felicidade (ou eudaimonia) que se obtém da ataraxia, que é traduzida como tranquili- dade, como visto anteriormente. O que faz o homem alcançar a ataraxia é a sua forma de agir, que deve estar em acordo com a liberação de seus desejos e necessidades características de sua natureza. Essa liberação de impulsos naturais precisa ser equilibrada. Assim, na ética epicurista, o prazer (ou hedoné) é importante e considerado natural. É algo positivo quando realizamos nossos desejos de for- ma espontânea, contudo, deve-se ter moderação, 54 Anotações: mas nunca a sublimação do prazer (MARCONDES, 1997). Podemos definir algumas distinções entre o que desejamos e que pode ser dividido em três grupos: 1) naturais e necessários, como os dese- jos de comer, beber e dormir. 2) desejos naturais e desnecessários, como os desejos de comer alimen- tos refinados, tomar bebidas especiais e caras,3) os não naturais e desnecessários, como os desejos de riqueza, fama e poder. Contentar-se com pouco seria o segredo do prazer e da felicidade. Com a expectativa reduzida, não há decepção, e um grande prazer pode advir de um simples copo de água. Segundo Cotrim (2016, p. 30), “gozar o prazer eventual de um banquete ou de um cargo elevado não é proibido, mas não deveria ser desejado sempre, pois, mais cedo ou mais tarde, viriam a insatisfação, o desprazer, a infelicidade”. Deve-se agir com prudência racional, por isso, de acordo com Marcondes (1997), os epicuristas valorizavam a phronesis, que pode ser entendida como inteligência prática, pois quando há este tipo de inteligência, nem a razão, nem a paixão entram em conflito. Outro ensinamento importante na filosofia epicurista, conforme Cotrim (2016), é que Epicu- ro dizia que se devia eliminar algumas crenças, consideradas pelo filósofo como uma das princi- pais causas de angústia e infelicidade. Elas são preocupações religiosas e superstições sobre- naturais, o que manifesta em nós um temor im- posto por tais crenças ou religiões, por exemplo, os gregos temiam muito ofender seus deuses e serem terrivelmente punidos por eles. Também viviam sob o pavor de que forças divinas interferissem em suas 55 Anotações:vidas, mudassem sua sorte ou tirassem-lhes os en- tes queridos. Mediante a compreensão materialista do universo e do ser humano, próprias à ética de Epicuro, ele sustentava que as pessoas também deveriam se livrar de outro grande fator de angústia e infelicidade: o medo da morte. A sua ideia é exposta em uma das cartas mais célebres da História da Filosofia, a saber, a Carta sobre a felicidade, desta forma ele escreve (1997, p. 27-28.) o seguinte: Acostuma-te à ideia de que a morte para nós não é nada, visto que todo bem e todo mal residem nas sen- sações, e a morte é justamente a privação das sensações. A consciên- cia clara de que a morte não significa nada para nós proporciona a fruição da vida efêmera, sem querer acres- centar-lhe tempo infinito e elimi- nando o desejo de imortalidade. [...] quando estamos vivos, é a morte que não está presente; ao contrário, quando a morte está presente, nós é que não estamos. Em outras palavras, as sensações estão ligadas ao ato de temperança, ou seja, em virtude de quem é moderado e, assim, tendo esse pensamento, a morte não seria nada, mas a consciência de que se deve aproveitar a vida, mesmo porque ela é passageira e que se vive por um tempo determinado na terra. 56 Anotações: O Ceticismo A tradição cética, conforme Marcondes (1997) é formada por diversas concepções do ceticismo, pois não há um marco histórico que dê sinal de quando ela tenha começado, assim como não há um grande pensador inaugural. O que se conhece sobre o ceticismo antigo vem dos escritos de Sex- to Empírico, mais especificamente no texto Hipo- tiposes Pirrônicas. Uma das afirmações centrais presentes nesse texto é a diferença entre as aca- demias (filosóficas), de pensadores como Clitôma- co e de Carnéades, e o pensamento cético. As primeiras afirmavam ser impossível encontrar a verdade, enquanto os céticos, consideravam-se os verdadeiros mestres, pois continuavam as suas investigações sempre em busca da verdade. Em termos gerais, a afirmação de que seria impossível alcançar a verdade já era uma forma dogmática. Isto não caracteriza a posição cética pois o ceticismo tinha como proposta suspender o juízo quanto à possibilidade de algo ser verdadeiro ou falso. Sexto empírico afirma que a filosofia de Pirro de Élis pode ser considerada autenticamente cética. Assim, o pirronismo pode equivaler ao sentido de ceticismo. Segundo Marcondes (1997), tudo aquilo que conhecemos de Pirro e do que ficou conhecido como ceticismo pirrônico, vem do seu discípulo, provavelmente o único, Tímon, e é dele que podemos encontrar alguns fragmentos. O próprio Pirro não escreveu uma obra expressando o seu pensamento. Ele está inserido no grupo de filósofos, comoSócrates, que não tinham um sistema ou doutrina, 57 Anotações:mas acredita na Filosofia como uma atitude. Dele pode-se extrair algumas questões centrais, como: qual a natureza das coisas? Não podemos conhecer as coisas tais como elas são trazidas através dos sentidos e da razão, por meio delas fracassamos. Como agir em relação à realidade que nos cerca? Devemos evitar assumir alguma posição em relação ao conhecimento da natureza das coisas, justamente, porque não a conhecemos. Quais as consequências de tal atitude? O que nos traz tranquilidade é quando nos mantemos à distância de tais interesses. Assim como as escolas estoicas e epicuristas, Pirro buscava alcançar a felicidade, através da ataraxia que, como já vimos, trata-se da tranquilidade. Marcondes (1997) afirma que o ceticismo pode ser definido por seu procedimento específico, em que o filósofo que busca a verdade, ao se frontar com diversas tendências dogmáticas, vê que não há um critério decisivo sobre aquelas que apresentam suas "verdades", como válidas porque dependem de sua própria teoria para sustentá-las, fazendo com que todas elas estejam no mesmo nível, o que leva o cético à constatação de que estão no mesmo grau de potência. Como essas tendências entram em conflito, excluindo-se, de maneira mútua, porque cada uma apresenta a sua verdade como única, impossibilita-se a decisão sobre aquela que seria a melhor tendência a ser seguida. O cético suspende o seu juízo e, quando o faz, sente-se em estado de tranquilidade. 58 Anotações: FILOSOFIA MEDIEVAL: AS FILOSOFIAS DE SANTO AGOSTINHO E SÃO TOMÁS DE AQUINO Segundo Costa (2004), no período em que a sociedade greco-romana passava por declínio, o pensamento filosófico do Ocidente passou a se preocupar com a salvação do ser humano, que se daria num mundo metafísico. Assim, acabaram por deixar de lado as investigações a respeito da natureza e sobre o caminho para a felicidade. O pensamento cristão se estendeu pelo império romano, entre a classe mais abastada, a partir do século III. Marcondes (1997) observa que, embora tenha havido um período de transição do pensamento helenista para o cristianismo, este surgiu no contexto do próprio helenismo. A cultura helenista, uma cultura propícia, foi fundamental para que houvesse uma aproximação entre a filosofia grega e a cultura do judaísmo. Isto quer dizer que, mesmo que o cristianismo tenha sido originado como vertente do judaísmo, desenvolveu-se mediante a cultura helenista, portanto, o pensamento cristão é uma síntese da religião judaica e da cultura grega (MARCONDES, 1997, p. 115-116). O autor ainda mostra que havia duas concepções que pensavam a relação entre a Filosofia grega e o cristianismo. Uma defendia a presença da Filosofia grega no pensamento cristão e aproximava algumas obras de Platão à narrativa bíblica, bem como o papel de ensinamento, que é próprio à Filosofia, com a intenção de preparar o espírito dos convertidos para as revelações do livro da Bíblia. Sócrates, Platão e os 59 Anotações:filósofos estoicos eram vistos como os pensadores precursores do pensamento cristão, mesmo que não tenham conhecido os ensinamentos de Cristo porque nasceram muito tempo antes dele. A outra era dos teólogos que não viam a Filosofia como pensamento religioso e advertiam aos demais religiosos que a Filosofia grega estava distante da mensagem do cristianismo. Esses consideravam o método filosófico nocivo por se tratar de um método que traz a discussão como a forma, assim, a Filosofia grega era vista como prática pagã. Sendo assim, a posição dos defensores de uma teologia que se desenvolveu através da Filosofia só apareceu no período em que a Igreja passava por concílios, que eram reuniões onde os cargos mais altos da igreja, constituídos por bispos e líderes, deliberavam os dogmas a serem seguidos. Foi neste período que a Filosofia grega foi incorporada, definitivamente, ao pensamento cristão. A seguir, veremos alguns dos principais teólogos deste período, cuja linha religiosa apresenta uma enorme filiação com o método e o pensamento filosófico. Santo Agostinho Segundo Costa (2004), Agostinho de Hipona (354 – 430 d.C.) foi bispo e trouxe para a Igreja, junto a outros teólogos, a valorização da razão. Aliada à razão estava a emoção religiosa dos ensinamentos de Jesus Cristo e de seus apóstolos. Essa aliança formada entre a razão e a emoção, própria aos ensinamentos cristãos, fundou um sistema de pensamento, uma doutrina cristã. A Filosofia de 60 Anotações: Platão se manteve presente na doutrina cristã até o século XIII por causa de sua influência na igreja e foi neste período que a Filosofia patrística originou-se. A sua Filosofia se baseia no pensamento de Plotino, um neoplatonista (corrente derivada das teorias de Platão), Porfírio, nos ensinamentos de São Paulo e no Evangelho de São João. Assim, a partir de Agostinho, a Teologia passou a ser pensada como uma ciência e, a partir dela segundo seus dogmas, o homem precisa se dedicar para salvar a sua alma como uma forma de recompensa (MARCONDES, 1997). Essa da aproximação feita por ele entre Platão e o cristianismo ficou conhecida como Platonismo Cristão, uma espécie de corrente interna da Igreja. Neste sentido, Agostinho formulou a primeira sín- tese reconhecida historicamente entre a Filosofia grega e o cristianismo. As suas contribuições fun- damentais para o desenvolvimento da Filosofia são três: a relação entre Teologia e Filosofia, portanto, entre a razão e fé; a questão da subjetividade e da interioridade como questões centrais da teoria do conhecimento e a obra Cidade de Deus, cuja a teoria da história foi fundamental naquele período. A originalidade de Agostinho está justamente em ter desenvolvido a noção de interioridade e o conceito de subjetividade. A posição interior é considerada o âmbito da verdade, fazendo uma oposição ao exterior. A sua famosa frase “No homem interior habita a verdade” deriva desta teoria que tem como princípio o olhar do homem para dentro de si, porque ao olhar para o interior é possível compreender a verdade divina. (MARCONDES, 1997) Santo Agostinho não foi o primeiro a realizar uma teoria da história como, observa Marcondes 61 Anotações:(1997), contudo, a sua noção é diferente das anteriores, porque havia a noção de tempo histórico, que se tornou uma grande influência no Ocidente. Ela foi inovadora por trazer a história como possuidora de um sentido, direcionada e marcada por um começo e um ponto final, que é o retorno ao lugar de origem. Isto significa que, para o filósofo de Hipona, a história não é cíclica no sentido de que não possua um começo e um fim, e os acontecimentos não são resultados fatalistas, de um destino implacável, como era na concepção dos gregos antigos, mas possuem sentido e podem ser interpretados como sinais da revelação divina. Tomás de Aquino No período de Tomás de Aquino (1225-1274), a Europa passava por mudanças estruturais, e também de mentalidade. Em sua época havia universidades e ordens religiosas, como a dominicana e a franciscana que podem ser consideradas expressões dessas transformações. A ordem religiosa de Aquino era a dominicana, ele manteve vínculo com as universidades, sendo a universidade de Paris uma das que mais frequentou (MARCONDES, 1997). A sua originalidade está em ter desenvolvido um sistema filosófico que passava por todos os grandes temas, tanto da Filosofia quanto da Teologia. Supera, através da retomada da filosofia aristotélica, o platonismo de Santo Agostinho. Abriu, assim, uma nova perspectiva para a Filosofia Cristã (MARCONDES, 1997). A sua principal obra é a Summa Theologica (Suma Teológica) que foi 62 Anotações: censurada por conter muitas questões tratadas por Aristóteles, que é a Filosofia do estagirita. Uma das contribuições mais importantes de Aquino foi o argumento das “cinco vias da prova da existência deDeus”, presente em sua Suma Teológica, considerado uma das principais questões da Filosofia Medieval. Este argumento busca demonstrar através de cinco artigos, de forma filosófica e racional, a existência de Deus. Através destes argumentos, pretende-se entender como a fé e a razão se relacionam (MARCONDES, 1997). O NASCIMENTO DA FILOSOFIA MODERNA: O PERÍODO RENASCENTISTA O termo Renascimento, conforme observado por Marcondes (1997) foi utilizado por Giorgio Vasa- ri, em 1550, na obra Vida dos mais excelentes pin- tores, escultores e arquitetos. O historiador Jacob Burkhardt pegou o termo e o tornou um conceito histórico para determinar o período intermediário entre o medieval e o moderno, que vai do século XV ao XVI. Embora a História da Filosofia não tenha utilizado, tradicionalmente, o Renascimento como um momento específico de algum dado filosófico específico, tratando-o somente como um período de transição entre a Idade Média e a Modernidade, temos visto cada vez mais pesquisas que mostram que este período desenvolveu um pensamento característico. Isto ocasionou uma ruptura com a escolástica sem, no entanto, ainda ser considerado o período moderno. O humanismo é uma das principais característi- cas deste período, e através dele foi possível romper 63 Anotações:com a concepção teológica medieval, com o Teocen- trismo e o papel central das ciências naturais após Aristóteles ser redescoberto no século XII. No perío- do renascentista, passou-se a valorizar o interesse pelo homem em si, e assim, ele foi considerado um ser com dignidade, dotado de liberdade e criação, passando a ser visto com capacidade de reproduzir a harmonia do cosmo. Portanto, é um microcosmo em si mesmo. Neste sentido, o humanismo repre- sentou um novo pensamento, um novo estilo nas artes e uma nova temática nas áreas do conheci- mento (MARCONDES, 1997). Segundo Marcondes (1997), os humanistas refletiram a necessidade de retomar os clássicos para trazer novidades, fosse na política ou na arte. Petrarca (1304-74), poeta italiano do período de transição, foi o primeiro pensador a rejeitar a teo- logia medieval e as especulações metafísicas. Ele é considerado o primeiro humanista. Dante Alighieri (1265-1321) escreveu seu famoso poema A Divina Comédia e inaugurou este novo estilo de pensar a arte. Erasmo de Rotterdam (1466-1533), que es- creveu a obra O elogio da loucura, e Thomas Morus (1478-1535), que escreveu a famosa obra Utopia, re- tomaram os princípios da virtude moral estoica e epicurista para aplicá-las na política. O mais famo- so dos teóricos políticos é Nicolau Maquiavel (1469- 1527), autor de uma das obras mais importantes da teoria política, O príncipe. Na obra, Maquiavel elabora uma análise de diferentes momentos históricos onde governantes que tiveram o poder, o perderam. A sua intenção era a de pensar questões pragmáticas e empíri- cas do exercício de poder, separando a política das 64 Anotações: questões morais. Traz nele uma nova qualidade de virtude, a “virtú”, que não carrega em si a virtude cristã. A “virtú” tem em si os elementos da coragem, habilidade e persistência, assim, contrariando a virtude cristã que pressupõe a piedade e a humil- dade. Já na filosofia, o filósofo mais famoso deste período é Michel de Montaigne (1533-95), que es- creveu os famosos Ensaios. Francês, representou o humanismo individualista, que é caracterizado pelo homem equilibrado, culto e sensível, cujo olhar crítico é lançado ao seu redor para refletir de for- ma pessoal, o mundo que o cerca. Os pensamentos deste tipo de humanista advêm de sua experiência no mundo, contudo não há um sistema ou teoria a ser elaborado por ele. A Modernidade A Filosofia Moderna surgiu a partir do século XV. O pensamento moderno da filosofia fundamen- tou a interpretação materialista e mecanicista do universo, relacionado ao pensamento humano como uma só realidade. As transformações políti- cas e as descobertas da ciência refletiram na in- teração entre aquelas formas de interpretar o mundo. A sua fundamentação está inteiramente baseada na razão e é crítica à religiosidade medie- val. O homem moderno, para compreender o mun- do e a si mesmo busca no conhecimento a capaci- dade de compreendê-los, e que se dá a partir da teoria do conhecimento. Com ela, a investigação leva o homem às condições de conhecer o que é verdadeiro (COSTA, 2004). 65 Anotações:Segundo Cotrim (1996), o conhecimento existe pela relação entre dois elementos: sujeito e objeto. Só há conhecimento quando o sujeito apreende o objeto. Quanto à nossa mente, ela torna possível a imagem, a ideia e o conceito de um objeto nela mes- ma sendo capaz de efetivar uma representação das coisas mentalmente. O sujeito é a nossa consciên- cia, isto é, nossa mente, e cabe-lhe o papel de ser conhecedor, já o objeto é a realidade (o mundo) e os fenômenos. Por fim, o conhecimento surge quando nossa mente alcança a capacidade de representar o mundo. Afirma Costa (2004) que a concepção mecanicista do mundo, que o vê como uma máquina, derrubou, em certa medida, a concepção cosmológica medieval. A visão moderna do mundo é a de que ele é constituído por leis físicas, sem uma vontade ou finalidade. O homem é o centro do universo, portanto, inaugura-se o Antropocentrismo, superando a visão medieval (teocêntrica) e seu dogmatismo que define uma única verdade. Os únicos métodos de investigação filosóficos da modernidade são pelas vias da razão e da experiência. Há dois caminhos para alcançar o caminho do conhecimento verdadeiro. Um é através do ra- cionalismo, o outro é através do empirismo. Afir- ma Chauí (2000) que no racionalismo, a razão é o caminho para o conhecimento porque operaria por si mesma, sem a necessidade da experiência sensível e que teria a capacidade de controlá-la. Já no empirismo, ao contrário, o caminho para o conhecimento é a experiência sensível, que seria a fornecedora das ideias racionais, e que teria a 66 capacidade de controlar a razão. Porém, cabe res- saltar que nenhum destes caminhos metodológicos anulam o ideal de tornar o entendimento do ser hu- mano em um objeto da Filosofia, o que é consenso entre os filósofos modernos. O pensamento de René Descartes Figura 3: René Descartes FONTES PRIMEIRAS Racionalismo Empirismo Dedinição A palavra racionalismo vem do latim ratio que significa razão. A palavra empirismo vem do grego emperia que significa experiência. Origem do conhecimento A razão é a origem do conhecimento. A experiência é a origem do conheicmento. Principais autores Descartes e Leibniz Locke e Hume Palavras-chave Razão, principais inatos e principais lógicos. Experiência, tábua rasa e sentidos. 67 Anotações:René Descartes (1596-1650) é reconhecido por fundar o método cartesiano e inaugurar o pensa- mento moderno na Filosofia. Ele se insere na história do pensamento como um dos representantes da vertente Racionalista. Esta doutrina se apoia na razão como fundamento de todo o conhecimento. O seu método cartesiano tinha como instrumento a matemática, tornando-a base para a ciência de modo geral. Uma das características centrais do cartesianismo é a dúvida metódica como princípio de investigação e é através dela que podemos pôr em questão todas as nossas certezas (COSTA, 2004). Cotrim aponta (2017) que os passos da dúvi- da metódica, constituem a parte mais conhecida de seu método. Contudo, ela não se resume a estes passos, pois corresponde (de forma mais ampla) a uma postura criteriosa de investigação filosófica. Os passos são: 1) Jamais aceitar como verdadeira coisa alguma que não estivesse tão clara na minha mente que não restasse dúvidas de sua verdade, 2) Dividir cada dificuldade em tantas partes quanto possível e necessário para resolvê-la, 3) Organizar os pensamentos, iniciando pelos assuntos mais fá- ceis e simples e progredindo gradativamente para os mais complexos, 4) Fazer, para cada caso, enu- merações