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Políticas Públicas e Educação Unidade 1 Sistema Educacional Brasileiro Diretor Executivo DAVID LIRA STEPHEN BARROS Gerente Editorial CRISTIANE SILVEIRA CESAR DE OLIVEIRA Projeto Gráfico TIAGO DA ROCHA Autoria PRICILA RIBEIRO ALIAS AUTORIA Pricila Ribeiro Alias Sou formada em Ciências Biológicas, com habilitação em Química pela Fundação Santo André e realizei a especialização em Ciências da Natureza para crianças pela Universidade de São Paulo (USP). Além da graduação citada, sou formada em Pedagogia com habilitação em Direção e Supervisão Escolar pela Universidade Bandeirantes (Uniban). Com uma vasta experiência técnico-profissional na área educacional há mais de 24 anos, tenho, dentre eles, 18 anos na área de docência (como professora de Ciências e Química) e 13 anos na coordenação pedagógica do Ensino Fundamental I, II, Ensino Médio e Técnico, incluindo escolas municipais, estaduais e particulares. Foram 16 anos de docência na Secretaria Estadual de Educação e dois anos na ETEC Ribeirão Pires, 10 anos na Prefeitura Municipal de São Paulo como professora de Ciências e Coordenadora Pedagógica, dois anos na Prefeitura Municipal de São Bernardo do Campo como coordenadora pedagógica e mais cinco anos na coordenação pedagógica de uma escola particular como minha penúltima experiência. Como última experiência profissional, exerci a função de consultora pedagógica na Editora FTD Educação, ministrando formações para diretores, coordenadores e professores, além da consultoria pedagógica para estudantes nas orientações de TCC. Já ministrei, também, cursinhos preparatórios para concurso público. Sou apaixonada pelo que faço e adoro transmitir minha experiência de vida àqueles que estão iniciando em suas profissões. Por isso, fui convidada pela Editora Telesapiens a integrar seu elenco de autores independentes. Estou muito feliz em poder ajudar você nesta fase de muito estudo e trabalho. Conte comigo! ICONOGRÁFICOS Olá. Esses ícones irão aparecer em sua trilha de aprendizagem toda vez que: OBJETIVO: para o início do desenvolvimento de uma nova compe- tência; DEFINIÇÃO: houver necessidade de se apresentar um novo conceito; NOTA: quando forem necessários obser- vações ou comple- mentações para o seu conhecimento; IMPORTANTE: as observações escritas tiveram que ser priorizadas para você; EXPLICANDO MELHOR: algo precisa ser melhor explicado ou detalhado; VOCÊ SABIA? curiosidades e indagações lúdicas sobre o tema em estudo, se forem necessárias; SAIBA MAIS: textos, referências bibliográficas e links para aprofundamen- to do seu conheci- mento; REFLITA: se houver a neces- sidade de chamar a atenção sobre algo a ser refletido ou dis- cutido sobre; ACESSE: se for preciso aces- sar um ou mais sites para fazer download, assistir vídeos, ler textos, ouvir podcast; RESUMINDO: quando for preciso se fazer um resumo acumulativo das últi- mas abordagens; ATIVIDADES: quando alguma atividade de au- toaprendizagem for aplicada; TESTANDO: quando o desen- volvimento de uma competência for concluído e questões forem explicadas; SUMÁRIO História do sistema educacional brasileiro .........................................10 O sistema educacional brasileiro – histórico .............................................................. 12 O sistema educacional brasileiro — avanços e retrocessos ............................ 19 Conceitos do sistema educacional brasileiro .................................... 21 O que é o sistema educacional brasileiro? .................................................................. 21 A organização do sistema educacional brasileiro ...................................................24 Princípios do sistema educacional brasileiro .....................................33 Princípios educacionais propostos para uma rede colaborativa de educadores ......................................................................................................................................... 36 Princípios que fazem da educação da Finlândia um sucesso....................... 41 Características do sistema educacional brasileiro ..........................44 Características gerais dos sistemas educativos .......................................................44 Características das escolas eficazes no Brasil .......................................................... 48 7 UNIDADE 01 Políticas Públicas e Educação 8 INTRODUÇÃO Nesta unidade, vamos abordar o sistema educacional brasileiro, e estaremos dissertando, a priori, o conceito de “sistemas”, com o objetivo de o aluno entender do que se trata “sistemas” e como o sistema educacional brasileiro está inserido nesse contexto. Trataremos, também, do sistema educacional brasileiro e todo o seu histórico, seus avanços e retrocessos e toda legislação que passou por mudanças e transformações ao longo desses séculos, além dos princípios da educação que permeiam esse sistema, suas principais características e as ideias sobre as características dos sistemas educacionais que, hoje, são bem-sucedidos. Entendeu? Ao longo desta unidade letiva, você vai mergulhar nesse universo! Políticas Públicas e Educação 9 OBJETIVOS Olá. Seja muito bem-vindo a nossa Unidade 1, e o nosso objetivo é auxiliar você no desenvolvimento das seguintes competências profissionais até o término desta etapa de estudos: 1. Entender a história do sistema educacional brasileiro, seus avanços e retrocessos. 2. Definir o conceito do sistema educacional brasileiro, compreendendo como ele está organizado. 3. Compreender os princípios básicos do sistema educacional brasileiro em comparação com o de outros países que possuem um sistema de educação bem-sucedido. 4. Identificar as características gerais do sistema educacional brasileiro e, em especial, aquelas que são eficazes no Brasil. Então, preparado para uma viagem sem volta rumo ao conhecimento? Ao trabalho! Políticas Públicas e Educação 10 História do sistema educacional brasileiro OBJETIVO: Ao término deste capítulo você será capaz de entender como é o sistema educacional brasileiro, seu histórico, seus avanços e retrocessos. Isto será fundamental para o exercício de sua profissão. E então? Motivado para desenvolver esta competência? Então vamos lá. Avante! Para melhor entendermos o conceito, as características e a estrutura do sistema educativo, torna-se necessário rever alguns conceitos básicos da teoria geral dos sistemas, o que fazemos de forma necessariamente sucinta e os aspectos indispensáveis. O conceito de sistema faz parte da base conceitual de uma parte cibernética que se denomina Teoria geral de Sistemas, cujo objetivo é relacionar, entre si, a grande variedade de sistemas existentes, de maneira a descobrir suas próprias propriedades e desenvolver um referencial histórico que possa ser aplicável a todos eles. Entretanto, há certos grupos específicos de objetos ou fenômenos da realidade que, pelas características particulares, exigem abordagens específicas e não unicamente no quadro da teoria geral dos sistemas. Assim, pode-se falar de sistemas biológicos, sociais, organizativos, eletrônicos, etc., cujos estudos ficam a cargo específico da teoria de cada área. O conceito de sistemas tem sido formulado de modo diferente pelos especialistas, entre os quais não há unanimidade sobre a sua definição. Alguns defendem que, por se tratar de um conceito intuitivo, não carece de definições. Todavia, é possível encontrar pontos comuns nas diferentes posições e, dessa forma, formular uma ideia básica acerca do que são os sistemas. Assim, de quase todas as definições resulta a ideia de que “sistema” é um conjunto organizado e integrado de elementos que concorrem para o mesmo fim. Lalande apud Silva (2006) apresenta uma das definições mais didáticas e de fácil compreensão sobre o termo. Ele o define como “conjunto de elementos,materiais ou não, que dependem reciprocamente Políticas Públicas e Educação 11 uns dos outros, de maneira a formar um todo organizado”. Essa definição apresenta o sistema como um todo formado de partes interdependentes e harmônicas, mas tem sua atenção voltada apenas para o interior do sistema, ignorando o que se passa à sua volta. Já Drew apud Silva (2006) incorpora as relações com o meio externo à noção de sistema, ao defini-lo como Conjunto de componentes ligados por fluxos de energia e funcionando como uma unidade [...]. Se o sistema recebe energia exterior e devolve energia, dizemos que é um sistema aberto. Se a energia é retida dentro do sistema, dizemos então, que se trata de um sistema fechado. (DREW apud SILVA, 2006) Sendo assim, um sistema aberto apresenta uma fronteira permeável ao ambiente, ou seja, existe um movimento de entrada e saída de elementos através das fronteiras. Ele recebe do ambiente externo novos elementos e devolve ao ambiente os produtos do sistema. Em geral, o sistema está contido dentro de um sistema mais amplo, que poderá ser chamado de “super sistema” e, em contrapartida, ele poderá estar contido de partes que são sistemas menores e podem ser chamados de “subsistemas”, ou seja, o “subsistema” convém estudá-lo como parte de um sistema maior. A estrutura sistêmica exige, para um bom funcionamento, um conjunto de regras orientadoras, normatizadoras da vida em sociedade. Isso significa dizer que a base de sustentação do “super sistema” ou “macrossistema” vem traduzida na Constituição Federal. Nessa mesma linha de compreensão, focamos a educação em sua composição formal (escola) e apresentamos com base de sustentação normativa a LDBEN. Enfim, em uma abordagem mais elaborada, diremos que o sistema é um conjunto de elementos, que, possuindo propriedades ou atributos específicos, estabelecem relações entre si e com o meio ambiente, gerando sinergias e contribuindo para o mesmo fim. O sistema é assim, esses conjuntos de elementos, propriedades, relações que, pertencendo à realidade objetiva, representam para o investigador o objeto do seu trabalho. Políticas Públicas e Educação 12 O aspecto mais importante consiste em que um sistema constitui um todo e, portanto, apresenta como resultado final ou integrado determinadas propriedades que não é possível localizar de forma isolada em nenhuma das suas componentes. Todavia, esse complexo de elementos, propriedades, relações e resultados finais tem lugar em determinadas condições de espaço e tempo e em contato com um meio ambiente. Entendendo o sistema, ora, como um conjunto de elementos organizados para o prosseguimento do mesmo fim, o sistema educativo pode ser definido como um conjunto integrado de estruturas, meios e ações diversificadas que, por iniciativa e sob responsabilidade de diferentes instituições e entidades públicas, privadas e/ou cooperativas, pensam na realização do direito à educação em um dado contexto, ora, como um conjunto de estruturas e instituições educativas que, embora possuam características ou peculiaridades específicas, relacionam-se entre si e com o meio ambiente, envolvendo de forma integrada e dinâmica, combinando os meios e recursos disponíveis para a realização do seu objetivo comum, que é garantir a realização de um serviço educativo que corresponda às exigências e demandas de uma sociedade. O sistema educacional brasileiro – histórico Considerando os primórdios da educação no Brasil, iniciamos com a reflexão de que, na época da colonização do nosso país, Portugal passa aos jesuítas a responsabilidade da gestão da educação. Todavia, nesse período já existia uma forma administrativa de gerir uma escola, baseada em uma rigorosa hierarquia, e foi dessa forma que a direção das escolas foi caminhando no período que veio logo atrás. No Império, ainda havia a predominância de uma forma de construir a escola sob perspectivas de imposições intransigentes. Ao longo do tempo, esses modelos foram evoluindo. Então, o primeiro período vai de 1500 a 1930, e engloba o período do sistema educacional brasileiro que abrange o Brasil Colônia, Império e a Primeira República, prevalecendo uma concepção tradicional de educação. Políticas Públicas e Educação 13 Em 1548, dá-se o período inicial do Brasil Colônia, que regulamenta a conversão dos indígenas à fé católica pela catequese e instrução, trabalho este realizado pelos Jesuítas. Embora tenham sido expulsos em 1759, os Jesuítas implantaram as bases, a estrutura e o funcionamento da escola brasileira, diferentemente do que estava previsto no regimento, instalando-se como direito de todos e não apenas da população indígena. Figura 1 - Jesuítas Fonte: Wikimedia Commons. VOCÊ SABIA? Você sabia que mesmo depois de mais de 500 anos, o Brasil ainda possui tribos indígenas? E que agora essa clientela está amparada pela LDB com a Educação Indígena? Cabe ressaltar que a sociedade nessa época era organizada para garantir o modelo agroexportador e a monocultura latifundiária não dependia de mão de obra qualificada ou diversificada, pois o tráfico de negros supria a necessidade da mão de obra. Diante dessa realidade, surge na colônia dois tipos de escolas, uma para as populações indígenas (catequese) e outra para os mamelucos, órfãos e filhos dos principais caciques da terra (a instrução através dos internatos — recolhimentos). Posteriormente, foram criados colégios e seminários destinados aos filhos dos colonos brancos. Políticas Públicas e Educação 14 Os Jesuítas sendo os responsáveis pela educação na colônia, tornam a Igreja participante privilegiada da sociedade civil e política da época e a escola um instrumento de grande alcance na reprodução dos valores de uma cultura externa, embasada na visão liberal, já consolidada na Europa. No último século desse período, a Escola Função deixa de ser a característica da educação na Colônia, e a Escola Estrutura passa a ser organizada e regulamentada nacionalmente. Desde então, o aumento numérico de escolas de instrução básica é acompanhado da criação de colégios e cursos cuja finalidade era formar profissionais. Dessa maneira, nascem os primeiros cursos de Medicina e Direito, os primeiros cursos técnicos de artes e ofícios e os colégios militares. No fim do Império e início da República, são traçadas as primeiras concepções de uma política educacional estatal, resultado do fortalecimento do Estado, sob a forma de sociedade política. Em 1824, é promulgada a primeira Constituição, e assim, acontece a substituição da proposta de uma política nacional de ensino por uma regulamentação da instrução primária gratuita a todos os cidadãos e pela criação de colégios e universidades onde seriam ensinados os elementos das Ciências, Belas Artes e Artes. Em relação à escola primária, a Lei de 15 de outubro de 1827 foi à única lei geral sobre esse nível de ensino, até 1946. O governo republicano, segundo alguns autores, foi quem proporcionou o maior crescimento de oportunidades escolares, porém, essas escolas eram elitistas, e com o tempo tornaram-se insuficientes. Com o início do ensino secundário, o pobre não podia frequentá-lo, visto que o ginásio e o colégio custavam caro. Então, cerca de 90% eram os pobres, que iriam para fábricas, lavouras e para mão de obra. E os 10% restantes eram os ricos, fariam exames e seriam médicos, engenheiros, políticos, jornalistas, bacharéis e constituiriam a elite nacional dominadora. Na Constituição de 1891, a escola organiza-se em “graus de ensino”, em que o 1º grau seria para crianças de 7 a 13 anos e o 2º grau para crianças a partir de 13 anos. Uma das intenções dessa nova estrutura na organização escolar era que os diversos níveis de ensino se tornassem formadores e não apenas preparadores para o grau seguinte. O ingresso Políticas Públicas e Educação 15 nos cursossuperiores seria precedido de exames (no final do curso secundário), objetivando medir a capacidade intelectual dos formandos. Outra intenção era assegurar que a formação no 2º grau ocorresse tendo como base a Ciência, substituindo, assim, o que chamavam “academismo literário”, criticado como resultado do predomínio da escola tradicional. Porém, ocorreram os paradoxos: • Formação humana versus preparação para o ensino superior. • Formação humana baseada na ciência versus formação humana baseada na literatura. O resultado desse impasse é que ambos os ensinos (1º e 2º) tornaram-se enciclopédicos. Na prática, a escola se manteve como preparadora daqueles que iriam ingressar no grau de ensino subsequente. Em 1930, no governo de Getúlio Vargas, foi criado o Ministério da Educação e Saúde, mas apenas 30% da população em idade escolar estava nas escolas. A ideia mais geral e abrangente de escola pública no Brasil surgiu com o Movimento dos Pioneiros da Escola Nova, que lançaram o Manifesto dos Pioneiros. Os pioneiros da educação apresentam um projeto de sistema educacional, baseado no pressuposto de que medidas educacionais deveriam ser tomadas e apoiadas a partir de um programa educacional amplo, com unidade de propósitos e sequência determinada. Propunham a organização de cursos acadêmicos e profissionais em um mesmo estabelecimento; combatiam o dualismo entre o ensino profissional e cultural, sendo contrários ao centralismo que confundia unidade com uniformidade. O “movimento dos pioneiros” marcou o tipo de escola e o sistema escolar da época, mas não impossibilitou o crescimento da escola tecnicista, sendo a escola laica com gratuidade, obrigatoriedade e coeducação alguns dos tantos princípios que esse Manifesto assenta a escola unificada. O Manifesto prescrevia a inovação para o progresso da educação. Políticas Públicas e Educação 16 No período de 1946 até 1964, houve um grande avanço na política educacional brasileira, que abarca o ensino na zona rural e a classe trabalhadora, desencadeando amplas defensorias da escola pública, no entanto, os resultados alcançados não correspondiam às expectativas da sociedade. No período de 1965 até 1970, de cada mil alunos matriculados no Ensino Fundamental, apenas 101 alcançavam a 8ª série. Na década de 1960, surge uma nova organização educacional, pela Lei nº 4.024/61 (Lei de Diretrizes e Bases da Educação - LDB), tornando o sistema de ensino um ponto de conflito entre os segmentos e grupos sociais. Essa primeira LDB foi considerada uma lei completa, pois estabelecia diretrizes e bases para toda a educação nacional, ou seja, para todos os níveis de ensino, desde a pré-escola até o nível superior. Estabeleceu a seguinte estrutura para o ensino: Cursos 1. Primário — obrigatório e gratuito com duração de quatro anos (1ª a 4ª série). 2. Ginásio — não obrigatório e gratuito nas escolas públicas com duração de quatro anos (5ª a 8ª série). 3. Colegial — subdividido em “clássico” e “científico”, não era obrigatório, mas era gratuito nas escolas públicas, com duração de três anos. 4. Superior — não obrigatório e gratuito nas escolas públicas. Apesar das prescrições, os dados do MEC/SEEC demonstram que, em 1964, apenas dois terços das crianças estavam matriculadas. Diante dessa circunstância de exclusão social, o princípio de direito e o dever da educação para todos os cidadãos passa a descrédito. A partir do golpe de 1964, o país passou por uma centralização administrativa, o que mudou o direcionamento e a condução do trabalho pedagógico e discente nos diferentes níveis de ensino do sistema público. A melhor forma de educação era a instrução programada, que tinha objetivos de conteúdo e de comportamento para os estudantes, em especial no Ensino Médio, em que só se podia trabalhar com questões Políticas Públicas e Educação 17 fechadas, as quais o aluno não podia transcender. O aluno tinha uma pergunta com uma série de respostas estabelecidas das quais não poderia escapar: uma delas era correta e não se cabia questionamentos da realidade. A resistência à ditadura gerou movimentos de luta democrática. A década de 1980 reflete essas ações, o que resulta no retorno ao estado democrático, e em seguida, a instalação da constituinte. Os diferentes setores da sociedade se organizam para garantir o direito de influenciar no processo de mudanças que ficam mais fortes no país. Temos a segunda LDB, nº 5.692, de 11 de agosto de 1971. Com ela, surge a unificação do ensino primário com o ginásio, constituindo o “1º grau” tornando os oito primeiros anos obrigatórios e gratuitos em escolas públicas. Essa lei estabeleceu a seguinte estrutura: • Ensino do 1º grau – obrigatório e gratuito nas escolas públicas, com duração de oito anos. • Ensino do 2º grau – não obrigatório, mas gratuito nas escolas públicas, com duração de três ou quatro anos obrigatórios e profissionalizante. A obrigatoriedade da profissionalização do ensino de 2º grau foi abolida em 1982, já que tinha sido um completo fracasso, devido à falta de condições e de recursos necessários por parte da maioria das escolas públicas. A democratização das escolas necessita de uma autonomia destas, mas vinculadas à política geral do Estado para que as instituições de ensino não percam seu sentido de público, de atendimento a todos, o que não pode acontecer devido a uma privatização interna das escolas. Se estas são públicas, são de todos e todos devem participar. Escola autônoma é aquela que estabelece suas regras e normas para sua existência e funcionamento, podendo levar em conta sua realidade. Com essa conquista, as unidades escolares estabelecem diretrizes para canalizar as forças vindas de diversos setores: governo, administração escolar, alunos e pais. Essa foi uma bandeira levantada no fórum nacional em defesa da escola pública, em 1987. Esse fórum continuou mobilizado em função da LDB. Políticas Públicas e Educação 18 Em 1996, com a Lei nº 9.394/96 (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional), levou-se em consideração a realidade educacional, normatizando o sistema educacional para garantir o acesso à educação de igual para todos. Essa lei traria um conjunto de definições políticas que orientariam o sistema educacional brasileiro, introduzindo mudanças significativas na educação básica no Brasil. Considerando, em especial, além da educação básica (Educação Infantil, Ensino Fundamental I e II e Ensino Médio), suas modalidades: Educação de Jovens e Adultos, Educação Profissional e Técnica, Educação Especial e Educação a distância (EAD). A LDB é o diploma legal que define as regras gerais a serem seguidas nas políticas educacionais no país. A elaboração dessa nova LDB surgiu da necessidade de a educação atender e adequar-se à realidade brasileira e às exigências de um mundo cada vez mais globalizado. Do mesmo modo, era necessário elaborar uma lei que fosse mais adequada aos assuntos constitucionais que tratavam da educação. IMPORTANTE: Após a LBD, ainda em vigor, surgiram várias emendas, melhorando ainda mais os direitos à educação, como o Ensino Infantil (pré-escola obrigatório), que agora é obrigatório a partir dos 4 anos, tornando a pré-escola, o Ensino Fundamental e o Ensino Médio obrigatórios e gratuitos nas escolas públicas. Além do Ensino Fundamental de nove anos, entre outros benefícios. Após a LDB, temos a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) prevista na LDB e prescrita para o Ensino Fundamental e a Educação Infantil, norteando nacionalmente a construção dos currículos. Políticas Públicas e Educação 19 O sistema educacional brasileiro — avanços e retrocessos Nas últimas décadas, a educação no Brasil tem transposto períodos reflexivos que culminam em uma ideia: a educação precisa mudar. O tema, mesmo recorrente, continua atual. Não é mais uma questão de opção ou de postura dosprofissionais da educação, mas trata-se de uma exigência da sociedade, que cada vez mais prega a mudança da educação para que esta seja de qualidade e igualitária. Em todo o mundo estão sendo implantadas reformas educacionais para adequar o sistema de ensino às mudanças econômicas e sociais. As instituições escolares vêm sendo pressionadas a repensar o seu papel diante das transformações aceleradas que caracterizam o processo de integração e reestruturação capitalista mundial e inovações tecnológicas. Os avanços tecnológicos e científicos, as mudanças no mundo do conhecimento afetam diretamente a sociedade em suas necessidades, e é claro, atingem também a escola, que é cobrada pela formação desse “novo cidadão” para o século XXI. Em resposta a essa exigência, as instituições de ensino têm a todo tempo o questionamento do papel e da função da escola, em relação ao que a sociedade espera que ela desenvolva na formação integral do aluno e exerça verdadeiramente sua cidadania. Para o educador hoje, não basta ser um profissional eficiente em sala de aula, mas possuir uma cultura geral que inclui conhecimentos legais, jurídicos, cognitivos e pedagógicos e saber direcionar a busca do conhecimento dos seus alunos, visto que o ensino autodidata vem crescendo. O que observamos é que, no Brasil, na maioria das escolas públicas, podemos observar: instituições do século XXI estruturalmente falando, professores do século XX, que nem sempre se atualizam com as novas tendências educacionais, e os alunos do século XXI. Por isso, há um abismo entre a versão escolar e a versão social, e, em consequência disso, o fracasso de algumas escolas públicas no Brasil. Políticas Públicas e Educação 20 RESUMINDO: E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu mesmo tudinho? Agora, só para termos certeza de que você realmente entendeu o tema de estudo deste capítulo, vamos revisar o que vimos. Você deve ter aprendido que nos primórdios da educação no Brasil, Portugal passa aos jesuítas a responsabilidade da gestão da educação e esses implantaram as bases, a estrutura e o funcionamento da escola brasileira. Posteriormente, foram criados colégios e seminários destinados aos filhos dos colonos brancos. No fim do Império e início da República, são traçadas as primeiras concepções de uma política educacional estatal, resultado do fortalecimento do Estado, sob a forma de sociedade política. O governo republicano foi quem proporcionou o maior crescimento de oportunidades escolares elitistas. Na Constituição de 1891, a escola organiza-se em “graus de ensino”, em que o 1º grau seria para crianças de 7 a 13 anos, e o 2º grau para crianças a partir de 13 anos. Na década de 60, surge uma nova organização educacional, pela Lei nº 4.024/61 (Lei de Diretrizes e Bases da Educação [LDB]), estabelecendo a seguinte estrutura para o ensino: Primário — obrigatório e gratuito com duração de quatro anos (1ª a 4ª série). Ginásio — não obrigatório e gratuito nas escolas públicas com duração de quatro anos (5ª a 8ª série). Colegial — subdividido em “clássico” e “científico”, não era obrigatório, mas era gratuito nas escolas públicas, com duração de três anos. Superior — não obrigatório e gratuito nas escolas públicas. Estudamos que foi criada a segunda LDB, nº 5.692, de 11 de agosto de 1971. Com ela, surge a unificação do ensino primário com o ginásio, constituindo o “1º grau” e tornando os oito primeiros anos obrigatórios e gratuitos em escolas públicas. Políticas Públicas e Educação 21 Conceitos do sistema educacional brasileiro OBJETIVO: O sistema educacional brasileiro está cada vez mais sendo lembrado e falado por redes sociais, mídias, nas campanhas eleitorais, em congressos, entre outros. Fato este importante, visto que a educação é a principal ferramenta para formar profissionais e cidadãos mais conscientes dos seus direitos e deveres e como a sociedade funciona. Neste tópico, você entenderá mais sobre o conceito do sistema educacional brasileiro. O que é o sistema educacional brasileiro? De acordo com o que estabelece Menezes (2021), o sistema educacional é a maneira como se organiza a educação regular no processo político brasileiro. É a forma de como se organiza a educação regular no Brasil. Essa organização se dá em sistemas de ensino da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios. A Constituição Federal de 1988, com a Emenda Constitucional n.º 14, de 1996 e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), instituída pela lei nº 9394, de 1996, são as leis maiores que regulamentam o atual sistema educacional brasileiro. (MENEZES, 2021) Figura 2 - Sistema educacional brasileiro Sistema educacional Regulamentado por leis Organização Educação regular Fonte: Elaborado pela autora com base em Menezes (2021 online) Políticas Públicas e Educação 22 No que se refere ao processo estabelecido pela LDB (Lei de diretrizes e bases), destaca-se ser uma norma responsável por definir os objetivos centrais da educação do Brasil e isso inclui a maneira como ela se organiza, quais são os órgãos que irão gerenciar as atividades educacionais e ainda, os níveis educacionais que o sistema brasileiro oferecerá. Destaca-se, portanto, que os elementos previstos da LDB devem estar em consonância com o estabelecido no sistema princípio lógico identificado na Constituição Federal. Figura 3 - Os pressupostos da Lei de Diretrizes e Base Constituição Federal Sistema principiológico Organização Níveis educacionais LDB Gerenciamento das atividades educacionais Modalidades de ensino Fonte: Elaborado pela autora com base em Brasil (1996) Ainda sobre a LDB, destaca-se que exerceu uma grande influência na BNCC Um conjunto de orientações de aprendizagem dos alunos para atingir metas educacionais. Ela busca garantir que todos os alunos tenham acesso aos conhecimentos básicos e indispensáveis, independentemente de onde e em quais condições estudam, conforme estabelecido em Brasil (2017) A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) é um documento de caráter normativo que define o conjunto orgânico e progressivo de aprendizagens essenciais que todos os alunos devem desenvolver ao longo das etapas e modalidades da Educação Básica, de modo a que tenham assegurados seus direitos de aprendizagem e desenvolvimento, em conformidade com o que preceitua o Plano Nacional de Educação (PNE). Este documento Políticas Públicas e Educação 23 normativo aplica-se exclusivamente à educação escolar, tal como a define o § 1º do Artigo 1º da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB, Lei nº 9.394/1996) e está orientado pelos princípios éticos, políticos e estéticos que visam a formação humana integral e a construção de uma sociedade justa, democrática e inclusiva, como fundamentado nas Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Básica (DCN). Cabe à União, aos estados, ao Distrito Federal e aos municípios planejar, financiar, manter e executar as políticas de ensino que estejam de acordo com a BNCC, LDB e as diretrizes constitucionais. (BRASIL, 2017) O Art. 2º da LDB afirma que a educação é inspirada nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana, cuja finalidade é desenvolver pessoas para exercerem a cidadania e qualificá-las para o trabalho. Além disso, a LDB define que existem duas categorias de ensino: a educação básica e a educação superior. REFLITA: A LDB trata especificamente de educação, como já vimos. Porém, ela divide a educação em ampla e estrita, sendo que a primeira é de responsabilidade da família e a segunda do Estado. A educação no sentido amplo, é tudo aquilo que acontece nos diversos ambientes formativos, ou seja, é o que se aprende em qualquer lugar ou espaço. Já a educação no sentido estrito, é a que acontece em ambientes formais, ou seja, uma educação escolar, sendo essa a única que a LDB irá disciplinar(NOGUEIRA, 2021). Sendo assim, de acordo com o que as referidas normas estabelecem, vários órgãos são responsáveis pelo funcionamento do nosso sistema educacional e, como será possível compreender abaixo, o funcionamento se dará de acordo com o estabelecido em níveis, que são, federal, estadual e municipal. No que se refere ao nível federal, encontram-se os seguintes órgãos: • Ministério da Educação (MEC). • Conselho Nacional de Educação (CNE). Políticas Públicas e Educação 24 Já no âmbito estadual, assim como no Distrito Federal, decisões sobre o sistema educacional ficam a cargo das seguintes entidades: • Secretarias Estaduais de Educação (SEE). • Conselhos Estaduais de Educação (CEE). • Diretorias de Ensino de Educação (DE). E, por fim, no nível municipal, quem coordena a educação são: • Secretarias Municipais de Educação (SME). • Conselhos Municipais de Educação (CME). SAIBA MAIS: No intuito de compreender melhor as informações que contextualizam a construção da BNCC, sugere-se a leitura do texto que pode ser acessado aqui. Através dessa leitura, será possível perceber as etapas cronológicas no processo de construção do documento que entrou em vigor no ano de 2017. Em seguida, torna-se essencial a leitura do texto final do documento BNCC que pode ser acessado aqui. A organização do sistema educacional brasileiro Como foi possível observar anteriormente, o sistema educacional brasileiro é estruturado em níveis de ensino, no sentido de adequar as necessidades do estudante de acordo com a sua faixa etária e realidade. Portanto, de acordo com a LDB 9.394/96 estabelece, o sistema educacional brasileiro está organizado em educação básica e ensino superior. Art. 21. A educação escolar compõe-se de: I – Educação básica, formada pela educação infantil, ensino fundamental e ensino médio; II – Educação superior. (BRASIL, 1996) Políticas Públicas e Educação http://basenacionalcomum.mec.gov.br/historico. http://basenacionalcomum.mec.gov.br/images/BNCC_EI_EF_110518_versaofinal_site.pdf 25 No que se refere ao processo de compreensão da educação básica, convém destacar que se diz respeito a um processo eminentemente obrigatório, ou seja, é dever dos pais e/ou responsáveis que as crianças e adolescentes concluam a educação básica, assim como é dever do Estado oferecer essa educação. Ela é constituída pelas seguintes modalidades: • Educação infantil – Com duração de cinco anos – Creche com alunos de 0 a 3 anos e pré-escola com alunos de 4 e 5 anos. Sendo obrigatória a matrícula a partir de 4 anos. • Ensino fundamental – Duração de nove anos, com alunos de 6 a 14 anos. • Ensino médio – Duração de três anos, com alunos de 15 a 17 anos. • Ensino médio técnico – As escolas podem oferecer cursos técnicos em turnos inversos. A duração é variável, podendo ser de um a três anos. Ainda no que se refere ao processo estabelecido pela educação básica, destacam-se outras modalidades, que são: • Educação de jovens e adultos (EJA) Essa é uma das modalidades mais conhecidas na educação brasileira. Sua origem advém da necessidade de escolarização de pessoas excluídas do processo, mas ficou inicialmente conhecida como uma educação de segunda classe para as pessoas adultas e, em geral, de classes populares. A necessidade de mão de obra minimamente qualificada para atuar na indústria e a diminuição dos números vergonhosos de analfabetismo foram os iniciadores do processo para que o Estado oferecesse tal modalidade. Anteriormente conhecida como supletivo, a atual EJA traz consigo a concepção de inclusão social e oferta para aqueles que não tiveram oportunidades na idade própria. A EJA está disciplinada na LDB, em especial nos artigos 37 e 38, e possui DCN própria para sua oferta. Políticas Públicas e Educação 26 • Educação especial Seu conceito está disposto no artigo 58 da LDB — a modalidade de educação escolar oferecida preferencialmente na rede regular de ensino, para educandos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação. Art. 58. Entende-se por educação especial, para os efeitos desta Lei, a modalidade de educação escolar oferecida preferencialmente na rede regular de ensino, para educandos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação. (BRASIL, 1996) Como é possível observar, a LDB teve o cuidado de especificar o que seria educação especial e, ainda, como deve ser aplicada, como é o caso da definição dos locais e da maneira como deve ser aplicada. Destacando a necessidade da instituição de ensino se adequar às peculiaridades de cada indivíduo que busca o serviço especial de educação. No que se refere ao processo de caracterização, destaca-se que ela é encontrada nos artigos 59, 59-A e 60, bem como nas inúmeras legislações que foram necessárias para que o processo de inclusão pudesse acontecer. Art. 59. Os sistemas de ensino assegurarão aos educandos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação: I - currículos, métodos, técnicas, recursos educativos e organização específicos, para atender às suas necessidades; II - terminalidade específica para aqueles que não puderem atingir o nível exigido para a conclusão do ensino fundamental, em virtude de suas deficiências e aceleração para concluir em menor tempo o programa escolar para os superdotados; III - professores com especialização adequada em nível médio ou superior, para atendimento especializado, bem como professores do ensino regular capacitados para a integração desses educandos nas classes comuns; IV - educação especial para o trabalho, visando a sua efetiva integração na vida em sociedade, inclusive condições adequadas para os que não revelarem capacidade de inserção no trabalho competitivo, mediante articulação Políticas Públicas e Educação 27 com os órgãos oficiais afins, bem como para aqueles que apresentam uma habilidade superior nas áreas artística, intelectual ou psicomotora; V - acesso igualitário aos benefícios dos programas sociais suplementares disponíveis para o respectivo nível do ensino regular. Art. 59-A. O poder público deverá instituir cadastro nacional de alunos com altas habilidades ou superdotação matriculados na educação básica e na educação superior, a fim de fomentar a execução de políticas públicas destinadas ao desenvolvimento pleno das potencialidades desse alunado. (Incluído pela Lei nº 13.234, de 2015) Parágrafo único. A identificação precoce de alunos com altas habilidades ou superdotação, os critérios e procedimentos para inclusão no cadastro referido no caput deste artigo, as entidades responsáveis pelo cadastramento, os mecanismos de acesso aos dados do cadastro e as políticas de desenvolvimento das potencialidades do alunado de que trata o caput serão definidos em regulamento. (BRASIL, 1996) Figura 4 - LDB e aspectos da educação especial LDB Inclusão Fonte: Elaborado pela autora com base em Brasil (1996) Compreende-se que a LDB se apresenta como um sistema normativo voltado para o processo de inclusão de todos os indivíduos, independentemente, de sua condição neurológica. Por isso, compreende- se como um processo de responsabilidade da escola, visto que cabe à instituição possuir estrutura física adequada para a construção da igualdade de oportunidades. Destaca-se, portanto, que a criança ou adulto que possui algum tipo de condição neuroatípica possui os mesmos direitos sobre o acesso à educação de qualquer outra criança ou indivíduo que é neuroatípica. Os sistemas de ensino devem matricular os estudantes com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades/ superdotação nas classes comuns do ensino regular e no Atendimento Políticas Públicas e Educação 28 Educacional Especializado (AEE), complementar ou suplementarà escolarização, ofertado em salas de recursos multifuncionais ou em centros de AEE da rede pública ou de instituições comunitárias, confessionais ou filantrópicas sem fins lucrativos. • Educação profissional e tecnológica A educação profissional e tecnológica, no cumprimento dos objetivos da educação nacional, integra-se aos diferentes níveis e modalidades de educação e às dimensões do trabalho, da ciência e da tecnologia, e articula-se com o ensino regular e com outras modalidades educacionais: EJA, educação especial e educação a distância (EAD). Como modalidade da educação básica, a educação profissional e tecnológica ocorre na oferta de cursos de formação inicial e continuada ou qualificação profissional e nos de educação profissional técnica de nível médio. No que se refere à previsão legal da educação profissional e tecnológica, indica-se o estabelecido no artigo 39º, que se encontra disposto da seguinte maneira: Art. 39. A educação profissional e tecnológica, no cumprimento dos objetivos da educação nacional, integra- se aos diferentes níveis e modalidades de educação e às dimensões do trabalho, da ciência e da tecnologia. (Redação dada pela Lei nº 11.741, de 2008) § 1º Os cursos de educação profissional e tecnológica poderão ser organizados por eixos tecnológicos, possibilitando a construção de diferentes itinerários formativos, observadas as normas do respectivo sistema e nível de ensino. (Incluído pela Lei nº 11.741, de 2008) § 2º A educação profissional e tecnológica abrangerá os seguintes cursos: (Incluído pela Lei nº 11.741, de 2008) I – de formação inicial e continuada ou qualificação profissional; (Incluído pela Lei nº 11.741, de 2008) II – de educação profissional técnica de nível médio; (Incluído pela Lei nº 11.741, de 2008) III – de educação profissional tecnológica de graduação e pós-graduação. (Incluído pela Lei nº 11.741, de 2008) § 3º Os cursos de educação profissional tecnológica de graduação e pós-graduação organizar-se-ão, no que concerne a objetivos, características e duração, de acordo com as diretrizes curriculares nacionais estabelecidas pelo Conselho Nacional de Educação. (Incluído pela Lei nº 11.741, de 2008). (BRASIL, 1996) Políticas Públicas e Educação 29 Ao analisar o texto apresentado do dispositivo normativo acima, destaca-se que se trata de uma iniciativa do poder público para ampliar o processo de aperfeiçoamento e, ainda, de inclusão da população. A educação profissional e o ensino tecnólogo, acima de qualquer coisa, ampliam as oportunidades dos jovens e adultos que desejam entrar no mercado de trabalho, mas que por várias questões não tiveram oportunidades. • Educação básica do campo A educação para a população rural está prevista com adequações necessárias às peculiaridades da vida no campo e de cada região, definindo-se orientações para três aspectos essenciais à organização da ação pedagógica: conteúdos curriculares e metodologias apropriadas às reais necessidades e aos interesses dos estudantes da zona rural, organização escolar própria, incluindo adequação do calendário escolar às fases do ciclo agrícola e às condições climáticas e, ainda, adequação à natureza do trabalho na zona rural. Nesse sentido, observa-se o disposto no artigo 28º da LDB que estabelece o seguinte: Art. 28. Na oferta de educação básica para a população rural, os sistemas de ensino promoverão as adaptações necessárias à sua adequação às peculiaridades da vida rural e de cada região, especialmente: I - conteúdos curriculares e metodologias apropriadas às reais necessidades e interesses dos alunos da zona rural; II - organização escolar própria, incluindo adequação do calendário escolar às fases do ciclo agrícola e às condições climáticas; III - adequação à natureza do trabalho na zona rural. Parágrafo único. O fechamento de escolas do campo, indígenas e quilombolas será precedido de manifestação do órgão normativo do respectivo sistema de ensino, que considerará a justificativa apresentada pela Secretaria de Educação, a análise do diagnóstico do impacto da ação e a manifestação da comunidade escolar. (BRASIL, 1996) Portanto, a identidade da escola do campo é definida pela vinculação com as questões inerentes à sua realidade, com propostas pedagógicas que contemplam sua diversidade em todos os aspectos, como sociais, culturais, políticos, econômicos, de gênero, geração e etnia. Políticas Públicas e Educação 30 Além do mais, as formas de organização e metodologias pertinentes à realidade do campo devem ser acolhidas, como a pedagogia da terra, pela qual se busca um trabalho pedagógico fundamentado no princípio da sustentabilidade, para assegurar a preservação da vida das futuras gerações, e a pedagogia da alternância, na qual o estudante participa, concomitante e alternadamente, de dois ambientes/situações de aprendizagem: o escolar e o laboral, supondo parceria educativa, em que ambas as partes são corresponsáveis pelo aprendizado e pela formação do estudante. • Educação escolar indígena Previsto no artigo 78º da LDB, a educação escolar indígena dispõe que as unidades educacionais inscritas em terras indígenas e suas culturas, as quais têm uma realidade singular, requerem uma pedagogia própria em respeito à especificidade étnico-cultural de cada povo ou comunidade e formação específica de seu quadro docente, observados os princípios constitucionais, a base nacional comum e os princípios que orientam a educação básica brasileira. Art. 78. O Sistema de Ensino da União, com a colaboração das agências federais de fomento à cultura e de assistência aos índios, desenvolverá programas integrados de ensino e pesquisa, para oferta de educação escolar bilíngue e intercultural aos povos indígenas, com os seguintes objetivos: I - proporcionar aos índios, suas comunidades e povos, a recuperação de suas memórias históricas; a reafirmação de suas identidades étnicas; a valorização de suas línguas e ciências; II - garantir aos índios, suas comunidades e povos, o acesso às informações, conhecimentos técnicos e científicos da sociedade nacional e demais sociedades indígenas e não- índias. (BRASIL, 1996) Na estruturação e no funcionamento das escolas indígenas, é reconhecida a sua condição de possuidores de normas e ordenamento jurídico próprios, com ensino intercultural e bilíngue, visando a valorização plena das culturas dos povos indígenas e a afirmação e manutenção de sua diversidade étnica. Políticas Públicas e Educação 31 Figura 5 - Educação escolar indígena Peculiarudades culturais Elementos históricos Valorização da linguagem Educação indigena Favorecimento da identidade étnica Fonte: Elaborado pela autora com base em Brasil (1996) • Educação escolar quilombola A educação escolar quilombola é desenvolvida em unidades educacionais inscritas em suas terras e cultura, requerendo pedagogia própria em respeito à especificidade étnico-cultural de cada comunidade e formação específica de seu quadro docente, observados os princípios constitucionais, a base nacional comum e os princípios que orientam a educação básica brasileira. Nesse sentido, de acordo com o que estabelecem as diretrizes nacionais para a educação escolar quilombola (2012), observa-se que: A Educação Escolar Quilombola é desenvolvida em unidades educacionais inscritas em suas terras e cultura, requerendo pedagogia própria em respeito à especificidade étnico- cultural de cada comunidade e formação específica de seu quadro docente, observados os princípios constitucionais, a base nacional comum e os princípios que orientam a Educação Básica brasileira. Na estruturação e no funcionamento das escolas quilombolas, deve ser reconhecida e valorizada sua diversidade cultural. (BRASIL, 2012 p. 42) Dessa maneira, convém destacar que no âmbito da estruturação e do funcionamento das escolasquilombolas, bem como nas demais, deve ser reconhecida e valorizada a diversidade cultural. • EAD É a modalidade educacional na qual os alunos e professores estão separados, física ou temporalmente e, por isso, faz-se necessária a utilização de meios e tecnologias de informação e comunicação (TICs). Essa modalidade é regulada por uma legislação específica e pode ser implantada Políticas Públicas e Educação 32 na educação básica (EJA, educação profissional técnica de nível médio) e na educação superior. A modalidade EAD caracteriza-se pela mediação didático–pedagógica nos processos de ensino e aprendizagem que ocorre com a utilização de TICs, com estudantes e professores desenvolvendo atividades educativas em lugares e/ou tempos diversos. VOCÊ SABIA? Você sabia que com os avanços no sistema educacional brasileiro, os cursos EAD foram bem-sucedidos e cresceram muito nesta última década? RESUMINDO: E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu mesmo tudinho? Agora, só para termos certeza de que você realmente entendeu o tema de estudo deste capítulo, vamos revisar o que vimos. Você deve ter aprendido que a educação básica tem caráter obrigatório, ou seja, é dever dos pais e/ou responsáveis que as crianças e adolescentes concluam a educação básica, assim como é dever do Estado oferecer essa educação. Ela é constituída pelas seguintes modalidades: Educação infantil. Ensino fundamental. Ensino médio. Ensino médio técnico Outras modalidades da educação básica: Educação de jovens e adultos (EJA). Educação especial. Educação profissional e tecnológica. Educação básica do campo Educação escolar indígena. Educação escolar quilombola. EAD. Políticas Públicas e Educação 33 Princípios do sistema educacional brasileiro OBJETIVO: Ao término deste capítulo você será capaz de entender os princípios do sistema educacional brasileiro e que estes vêm da constituição. Você verá também os educacionais propostos para uma rede colaborativa além dos princípios que fazem da educação Finlandesa um sucesso. Isto será fundamental para o exercício de sua profissão. E então? Motivado para desenvolver esta competência? Então vamos lá. Avante! A Constituição Federal estabelece um complexo sistema de proteção do indivíduo que pode ser identificada durante todo o texto constitucional. Por isso, observa-se a grande influência que o presente texto constitucional possui no processo de construção do texto constitucional. A referida questão pode ser encontrada nos artigos 205 da Constituição Federal, como é possível identificar na transcrição dos dispositivos apresentados abaixo. Art. 205. A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. Art. 208. O dever do Estado com a Educação será efetivado mediante a garantia de: III - atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino; IV - atendimento em creche e pré-escola às crianças de 0 a 6 anos de idade. Art. 213. Os recursos públicos serão destinados às escolas, podendo ser dirigidos a escolas comunitárias, confessionais ou filantrópicas, definidas em lei, que: I – comprovem finalidade não lucrativa e apliquem seus excedentes financeiros em educação. (BRASIL, 1988) Políticas Públicas e Educação 34 Figura 6 - Constituição Federal Fonte: Wikimedia Commons. Ao analisar os dispositivos acima, convém destacar o cuidado que a Constituição Federal teve ao afirmar que estudar é um direito de todas as pessoas, independentemente de sua condição financeira, política ou étnica. Além do mais, o próprio texto constitucional destaca que é dever do Estado garantir este acesso à educação, mas que deve haver a parcela de responsabilidade da família no que se refere ao cumprimento do direito educacional. Inclusive se torna essencial destacar que a família que não favorece a inclusão dos filhos no processo educacional, deve ser responsabilizada. Ainda no artigo 205 é possível observar que a educação amplia os horizontes da criança, pois favorece o seu desenvolvimento completo como ser humano, visto que oferece a construção de aspectos essenciais para o exercício de sua cidadania, ou seja, para a sua participação integral como membro de uma sociedade e, ainda, ser capaz de modificar o cenário em que se encontra inserido. Como será visto no tópico a seguir, o sistema educacional será fundamentado nos aspectos principiológicos, ou seja, independentemente de sua condição, o indivíduo possuirá o direito de acesso à educação. No que se refere ao sujeito responsável para garantir o funcionamento dos preceitos educacionais, observa-se que no artigo 208 está disposto que: Políticas Públicas e Educação 35 O dever do Estado com a Educação será efetivado mediante a garantia de: III - atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino; IV - atendimento em creche e pré- escola às crianças de 0 a 6 anos de idade. (BRASIL, 1988) O referido dispositivo destaca que compete ao poder público garantir o acesso à educação para todas as pessoas, indistintamente, ou seja, mesmo que o sujeito apresente alguma condição neuroatípica, conforme encontra-se destacado no inciso III. Além do mais, das informações apreendidas no presente dispositivo, torna-se possível compreender que o sistema educacional é obrigatório, ou seja, as famílias e o poder público não têm a opção de não oferecer educação às suas crianças e adolescentes. SAIBA MAIS: No que se refere à obrigatoriedade da criança estar na escola, destaca-se o especificado na Emenda Constitucional 59/2009, que estabelece a necessidade das famílias matricularem seus filhos na escola e nos casos de inexistência de vaga, o poder público precisa acolher esta criança a partir da criação de novas vagas. Nesse sentido, para compreender um pouco melhor o funcionamento da obrigatoriedade de se conceder acesso à educação, indica-se a leitura do artigo de opinião escrito por Marcela Campos, cujo título é “pais terão que matricular filhos a partir dos 4 anos”. O artigo pode ser acessado aqui. Por fim, não menos importante, o artigo 213 da Constituição Federal estabelece as especificações acerca do uso dos recursos públicos referentes ao processo educacional. Art. 213. Os recursos públicos serão destinados às escolas, podendo ser dirigidos a escolas comunitárias, confessionais ou filantrópicas, definidas em lei, que: I – comprovem finalidade não lucrativa e apliquem seus excedentes financeiros em educação. Destaca-se, portanto, que os recursos públicos se destinarão para as escolas públicas ou ainda, para instituições filantrópicas que objetivam, Políticas Públicas e Educação https://www.gazetadopovo.com.br/vida-e-cidadania/pais-terao-de-matricular-os-filhos-a-partir-de-4-anos-3s400hvpvagb7romy3aovu580/ 36 essencial, o favorecimento da educação. A referida questão visa, tão somente, afastar o uso dos recursos públicos por instituições privadas e, portanto, evitar a possibilidade de ocorrência de atos de corrupção. Princípios educacionais propostos para uma rede colaborativa de educadores A atual Constituição da República Federativa do Brasil foi promulgada em 5 de outubro de 1988. No que se refere à educação, como foi destacado no tópico anterior, mais especificamente no capítulo III que versa sobre Educação, Cultura e Desporto e na Seção I que versa sobre Educação observa-se um amplo sistema de proteção ao sistema educacional, de maneira a garantir acesso irrestrito à educação. No caso do artigo 206, a Constituição Federal estabelece quais são os princípios que irão nortear as atividades educacionais, como é possível identificar nafigura 7, apresentada abaixo. Figura 7 - Princípios Constitucionais que fundamentam o Direito à educação Liberdade Gratuidade Pluralismo Valorização Igualdade Fonte: Elaborado pela autora com base em Brasil (1988) Art. 206. O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios: I - igualdade de condições para o acesso e permanência na escola; II - liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a arte e o saber; III - pluralismo de ideais e de concepções pedagógicas, e coexistência de instituições públicas e privadas de ensino; IV - gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais; V - valorização dos profissionais do ensino, garantido, na forma da lei, plano de carreira para o magistério público, Políticas Públicas e Educação 37 com piso salarial profissional e ingresso exclusivamente por concurso público de provas e títulos, assegurado regime jurídico único para todas as instituições mantidas pela União; V - valorização dos profissionais do ensino, garantidos, na forma da lei, planos de carreira para o magistério público, com piso salarial profissional e ingresso exclusivamente por concurso público de provas e títulos; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998) V - valorização dos profissionais da educação escolar, garantidos, na forma da lei, planos de carreira, com ingresso exclusivamente por concurso público de provas e títulos, aos das redes públicas; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 53, de 2006) VI - gestão democrática do ensino público, na forma da lei; VII - garantia de padrão de qualidade. VIII - piso salarial profissional nacional para os profissionais da educação escolar pública, nos termos de lei federal. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 53, de 2006) Parágrafo único. A lei disporá sobre as categorias de trabalhadores considerados profissionais da educação básica e sobre a fixação de prazo para a elaboração ou adequação de seus planos de carreira, no âmbito da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios. (BRASIL, 1988) Partindo desse pressuposto, a Constituição determina que a educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando o pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho conforme o art. 205. Figura 8 - Os pressupostos da Educação Igualdade Autonomia Educação ampla Consciência crítica Participação da sociedade Inclusiva Fonte: Elaborado pela autora com base em Brasil (1988) Políticas Públicas e Educação 38 Percebe-se, portanto, que a educação a ser estruturada no Estado democrático de Direito com fundamento na Constituição Federal, visa o amplo desenvolvimento do indivíduo, afastando, portanto, as possibilidades de violação dos Direitos Humanos. Constitui dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão, conforme estabelece o artigo 227º da Constituição Federal. Art. 227 É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão. (BRASIL, 1988) E, nos casos de não se cumprir o estabelecido pela norma acima especificada, os sujeitos envolvidos no processo poderão ser responsabilizados diretamente pela omissão ou negligência no processo de cumprimento das determinações educacionais. No que se refere às possibilidades do exercício da prestação de serviço educacional, destaca-se que o ensino é livre à iniciativa privada, desde que sejam cumpridas as normas gerais da educação nacional e o seu funcionamento seja autorizado e avaliado pelo poder público (art. 209). Dessa maneira, destaca-se que tanto a iniciativa privada como a iniciativa pública podem oferecer atividades educacionais para a sociedade. Portanto, amplia as possibilidades de acesso à educação, conforme se observa nos preceitos estabelecidos na Constituição Federal. Políticas Públicas e Educação 39 Figura 9 - Os pressupostos para o exercício da Educação Iniciativa privada Iniciativa pública Ampliação da educação Fonte: Elaborado pela autora com base em Brasil (1988) Então, a partir desses princípios, foram necessários outros documentos, como, LDB 9.394/96 e suas alterações, a BNCC, emendas constitucionais, para regulamentar vários desses princípios, inclusive em relação aos investimentos que os governos Federal, Estadual e Municipal poderiam ter e aplicar. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, publicada em 1996, além de anunciar os princípios constitucionais, ampliou-os, incorporando o respeito à liberdade e o apreço à tolerância, a coexistência das instituições públicas e privadas de ensino, a valorização da experiência extraescolar e a vinculação entre a educação escolar, o trabalho e as práticas sociais. Segue abaixo um quadro das leis que regulamentam atualmente o sistema educacional brasileiro, visando os princípios que o norteiam. Quadro 1: Leis que regulamentam o sistema educacional brasileiro 1988 Constituição Federal 1990 Lei nº 8.069 Estatuto da Criança e Adolescente 1996 Emenda Constitucional nº 11 Autonomia Universitária Emenda nº 14 Criação FUNDEF Lei nº 9.394/96 Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional — LDBEN Lei nº 9.424 Regulamentação do FUNDEF Decreto nº 2.264 Regulamentação do FUNDEF Lei nº 10.172 Plano Nacional da Educação 2007 Lei nº 11.494/2007 FUNDEB — Fundo de manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e da Valorização dos professores da Educação Fonte: Elaborado pela autora (2021). Políticas Públicas e Educação 40 Esses princípios citados na Constituição são as BASES para a formação integral do ser humano e partir delas é que surgiram outros princípios que também norteariam a educação, para que ela tenha um papel crucial na transformação e desenvolvimento das formas de pensar e agir. Segundo o site Escolas de Redes, eles sugerem seis princípios a serem trabalhados, a fim de inserir uma rede colaborativa de educadores que poderão servir de pontos de partida para um multidiálogo. Carta de Princípios da Rede RC – núcleo SP (...) [esta é] uma rede colaborativa formada por pessoas que militam pela transformação da Educação Pública (1). Nossa finalidade inicial é a de promover a comunicação e o apoio mútuo entre pessoas, organizações e projetos que tenham por objetivo contribuir para a superação dos arcaicos paradigmas educacionais vigentes. (...) os modelos educacionais e as práticas educativas possuem decisivas condicionantes socioculturais. Este fato exige que, para a transformação da Educação, tenhamos de ultrapassar seu âmbito restrito, englobando as dimensões sociais, políticas e culturais. (...) a Educação atualmente praticada não contribui para que as gerações futuras tenham condição de superar os cruciais desafios postos para e pela humanidade. Mais do que isso, essa educação acaba por incentivar a formação de pessoas que tendem a reproduzir o modo de pensar, sentir, agir e viver que produziram tais desafios. Para que os atuais paradigmas educacionais possam ser superados é necessário estabelecer novas concepções que apontem formas alternativas de pensar, estruturar e praticar a Educação. (...) São estes princípiosque, a nosso ver, devem fundamentar a vital transformação da Educação, para que esta possa corresponder às necessidades das pessoas e das sociedades contemporâneas: 1. Educar [se] para a Integralidade. 2. Educar [se] em Solidariedade. 3. Educar [se] na Diversidade. 4. Educar [se] na Realidade. 5. Educar [se] na Democracia. 6. Educar [se] com Dignidade. (CASTRO, et al. 2009) p. 23 Políticas Públicas e Educação 41 Observa-se que os princípios de integridade, solidariedade, diversidade, realidade, democracia e dignidade fomentam os princípios da Constituição. Porém, em uma ótica socioemocional mais do que cognitiva, a BNCC trouxe-os como “base” das competências gerais a serem trabalhados nos conteúdos mínimos a serem ministrados pela educação no Brasil. Figura 10 - Princípios norteadores da educação Educação Diversidade Dignidade Realidade Integralidade Democracia Solidariedade Fonte: Elabora pela autora com base em Castro et al. (2009 p.23) Princípios que fazem da educação da Finlândia um sucesso Uma reforma curricular adotada pela Agência Nacional Finlandesa para a educação de 2016 fez com que crescesse mais a participação dos alunos pela aprendizagem, e assim os alunos tornaram-se mais bem- sucedidos no seu aprendizado acadêmico e socioemocional. Neste ensino, os alunos estabelecem metas, resolvem seus problemas e avaliam seu aprendizado com base nas suas metas estabelecidas. Os princípios que embasam a educação na Finlândia enfatizam a escola como uma “comunidade de aprendizagem”, visando: Políticas Públicas e Educação 42 • Habilidades transversais – Conhecidas como o “aprender a aprender”, enfatizando o “cuidar de si mesmo” e gerenciar sua vida cotidiana, bem como ênfase nas habilidades ativas que os alunos poderão utilizar para o resto de suas vidas, como empreendedorismo, participação, envolvimento e criação de um futuro sustentável. • Apoio governamental – Como o próprio nome diz, apoio do governo, ou seja, apoio do governo financeiro para custear esse ensino. Porém, para promover os currículos das escolas, a Agência Nacional de Educação na Finlândia e o governo buscam ferramentas que apoiem o ensino. Uma delas foi a venda do seu programa educacional antibullying para 17 países ao redor do mundo. • Aprendizagem multidisciplinar – Todo ano letivo, cada escola tem um tema ou projeto definido que culmine com o conteúdo em todas as disciplinas, chamados de “módulos de aprendizagem multidisciplinar”. • Diferenciação – Há um respeito muito grande em relação à individualidade dos alunos, por isso, eles não ensinam todos da mesma maneira, considerando que cada aluno tem sua individualidade e seu modo de aprender. Os professores precisam diferenciar suas aulas, o que implica em, geralmente, pelo menos cinco tipos de tarefas diferentes na mesma classe e ao mesmo tempo. • Diversidade na avaliação do aluno – Na Finlândia, a “AVALIAÇÃO” não é vista como um momento punitivo e classificatório, o novo currículo finlandês enfatiza a diversidade nos métodos de avaliação, bem como a avaliação que orienta e promove a aprendizagem. Informações sobre o progresso acadêmico de cada aluno devem ser dadas ao aluno e aos responsáveis com frequência. O retorno avaliativo também é fornecido de outras maneiras que não relatórios ou certificados. A autoavaliação e a avaliação entre pares desempenham um papel importante na avaliação e na habilidade de aprender a aprender. Políticas Públicas e Educação 43 • Um papel ativo para seus alunos – Neste princípio, os professores devem falar menos e deixar o aluno fazer mais, dando, assim, AUTONOMIA a eles. Os professores facilitam o ensino, enquanto os alunos estabelecem metas, refletem e resolvem problemas da vida real. Também estimulamos a curiosidade dos alunos estudando em ambientes fora da sala de aula, como o pátio da escola, a floresta, uma biblioteca ou até mesmo um shopping center. Todos esses princípios são fundamentais para a boa educação, e a Finlândia leva à sério esses fatores, mas o mais importante é que o sistema educacional deles é dedicado a ajudar todos os estudantes a crescer como seres humanos. RESUMINDO: E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu mesmo tudinho? Agora, só para termos certeza de que você realmente entendeu o tema de estudo deste capítulo, vamos revisar o que vimos. Você viu os princípios propostos para uma rede colaborativa de educadores e conheceu os princípios que tornam a educação da Finlândia um sucesso. Políticas Públicas e Educação 44 Características do sistema educacional brasileiro OBJETIVO: Ao término deste capítulo você será capaz de entender as características do sistema educacional brasileiro, as características gerais dos sistemas educativos, assim como, as características das escolas no Brasil. Isto será fundamental para o exercício de sua profissão. E então? Motivado para desenvolver esta competência? Então vamos lá. Avante! Características gerais dos sistemas educativos Para que seja possível compreender as informações apresentadas no presente capítulo, convém destacar o que estabelece Torres e Kawahara (s.d., p.05) ao dispor que: O sistema de ensino pode ser compreendido como um conjunto de partes que, coordenadas e integradas entre si, permitem estabelecer uma interligação lógica entre as esferas educacionais do nosso país, formando um todo autônomo e independente para atingir um objetivo comum. Como no Brasil os três entes federal, estadual e municipal são constitucionalmente responsáveis pela oferta da educação básica pública, a legislação preceitua que essa oferta deve se dar por meio do Regime de Colaboração. Trata-se, pois, de uma estratégia para evitar sobreposição e dispersão de ações. (TORRES; KAWAHARA, s.d., p.05) Isso significa informar que o sistema de ensino é dever do poder do público e para que isso aconteça torna-se essencial a interligação de atividades desempenhadas, de maneira colaborativa, por todos os sujeitos que se encontram evolvidos no processo. E, para que isso seja possível, a emenda constitucional 59/209 apresenta elementos essenciais no sentido de favorecer o cumprimento das questões educacionais previstas na constituição, nomeadamente o Plano Nacional de Educação (PNE). Políticas Públicas e Educação 45 Após a promulgação da Emenda Constitucional (EC) nº 59, de 12 de novembro de 2009, entre outras modificações introduzidas no texto constitucional, o artigo 214 reconhece o Sistema Nacional de Educação. De acordo com os preceitos da EC nº 59, o Sistema Nacional de Educação deve ter como elemento articulador o Plano Nacional de Educação (PNE) e o regime de colaboração entre os entes federativos, definindo diretrizes, objetivos, metas e estratégias de implementação para assegurar a manutenção e o desenvolvimento do ensino em seus diversos níveis, etapas e modalidades por meio de ações integradas dos poderes públicos. (TORRES; KAWAHARA, s.d., p. 06) Sendo assim, tendo em vista os critérios de classificação de “sistemas” dados no início desta unidade, podemos caracterizar o sistema educacional brasileiro da seguinte forma: • Em relação ao meio – O sistema educativo brasileiro é um sistema ABERTO, pois está em plena relação com o meio. • Em relação à sua estrutura – É um sistema composto, pois integra outros sistemas (subsistemas, por exemplo) que, por sua vez, podem ser decompostos em outros níveis. • Quanto à sua previsibilidade – É um sistema probabilístico, na medida em que é afetado por fatores imprevisíveis ou limitadamente previsíveis, que impedem de estabelecer determinados inputs ao sistema, provocando efeitos certos e determinados. • Por seu dinamismo, é um sistema dinâmico, visto que, para efeitos de seu estudo, são consideradas todas ou algumas de suas variações no tempo. Evolui consoante o contexto (espaço- temporal, sociocultural,etc.). • Por sua estabilidade, é um sistema relativamente estável, visto que tem uma capacidade média de resistência aos fatores de perturbação. • Por sua capacidade de regulação, é um sistema eclético (um misto de sistema “autorregulado” e de sistema “não autorregulado”), ou seja, tem certa capacidade própria de governar/regulação, porém, não deixa de depender grandemente do meio para sua gestão ou regulação. Políticas Públicas e Educação 46 • Quanto à sua origem, é um sistema artificial, visto ser criado pelo homem. • Por suas componentes, é um sistema social, visto que está constituído por pessoas. • Por sua forma de regulação, é um sistema conceitual (está formado por ideais e raciocínios) e de procedimentos (está formado por regras, normas ou instruções). Tendo compreendido as características dos sistemas de ensino convém destacar que as diretrizes do plano nacional de educação, mais especificamente em seu artigo 2º, se fundamentam em algumas questões especificas, que são: Erradicação do analfabetismo; II- universalização do atendimento escolar; III- superação das desigualdades educacionais, com ênfase na promoção da igualdade racial, regional, de gênero e de orientação sexual. IV- melhoria da qualidade da educação; V- formação para o trabalho e para a cidadania; VI- promoção do princípio da gestão democrática da educação; promoção humanística, científica, cultural e tecnológica do País. VII- estabelecimento de meta de aplicação de recursos públicos em educação como proporção do produto interno bruto, que assegure atendimento às necessidades de expansão, com padrão de qualidade e equidade; VIII- valorização dos (as) profissionais da educação; VIX- promoção dos princípios do respeito aos direitos humanos, à diversidade e à sustentabilidade socioambiental. X - difusão dos princípios da equidade, do respeito à diversidade e a gestão democrática da educação. (BRASIL, 2014) Dessa maneira, não se pode pensar em desenvolvimento de atividades no âmbito da educação nacional, sem que haja um fundamento essencial e, nesse caso, como observou-se acima, são os pressupostos estabelecidos no PNE. Políticas Públicas e Educação 47 Figura 11 - A importância do PNE PNE Desenvolvimento educacional Fonte: Autora (2021) baseado em (TORRES, KAWAHARA, s.d., p.16) Além do mais, analisando de maneira primária as questões da referida diretriz, observa-se que se trata de um sistema inclusivo, pois propõe a melhoria na qualidade da educação, a ampliação do acesso à educação, a construção de cidadãos que se preocupem com o desenvolvimento da sociedade através de uma consciência crítica e inclusiva. Destacamos que a execução do plano, considerando a natureza política do processo de planejamento, ocorrerá a partir do apoio dos atores comprometidos com o monitoramento contínuo e de avaliações periódicas das metas. Assim, destacamos a importância do acompanhamento e avaliação dos índices educacionais de quatro instâncias: Ministério da Educação (MEC); Comissões de Educação da Câmara dos Deputados e Comissão de Educação, Cultura e Esporte do Senado Federal; Conselho Nacional de Educação (CNE); Fórum Nacional de Educação (FNE). (TORRES; KAWAHARA, s.d., p. 16) Por isso, pensar em um sistema mais integrativo, onde se é capaz de pensar no desenvolvimento integral do ensino e de seus partícipes, se torna essencial no processo educacional. Sendo assim, conforme destaca Torres e Kawahara (s.d., p.16) a solução é pensar em: Um regime de colaboração específico para a implementação de modalidades de educação escolar que necessitem considerar territórios étnico-educacionais e a utilização de estratégias que levem em conta as identidades e especificidades socioculturais e linguísticas de cada comunidade envolvida, assegurada a consulta prévia e informada a essa comunidade. (TORRES; KAWAHARA, s.d., p.16) Políticas Públicas e Educação 48 Figura 12 - Relação de regime de colaboração com educação de qualidade Regime de colaboração Estratégias adequadas Educação escolar de qualidade Fonte: Elaborado pela autora com base em TORRES e KAWAHARA (s.d., p.16) Características das escolas eficazes no Brasil Vários estudos demonstram algumas características das escolas eficazes. Escolas eficazes são escolas que conseguem motivar (quase) a totalidade dos seus alunos a aprender, tanto habilidades básicas quanto habilidades socioemocionais/metacognitivas. Figura 13 - Escolas eficazes Motivam Integram Aperfeiçoamento Fonte: Elaborado pela autora com base em Castro et al. (2009 p.23) É importante que o aluno queira dedicar o maior tempo que lhe seja possível a atividades de aprendizagem, fazendo uso intensivo das oportunidades de ensino oferecidas. Isso evidencia que, no final das contas, o aluno é o fator determinante no processo. Como diz o provérbio americano, “You can bring the horse to the water, but you cannot make it drink” (É possível levar o cavalo à água, mas não se pode obrigá-lo a beber). Naturalmente, isso não altera o fato de que é necessário dar aos alunos a chance de despenderem tempo com os estudos. Um currículo sobrecarregado torna impossível a aprendizagem. Políticas Públicas e Educação 49 Figura 14 - Os efeitos de um curriculum sobrecarregado Currículo sobrecarregado Cansaço Desmotivação Falta de foco Dificuldades de aprendizagem Fonte: Elaborado pela autora com base em Castro et al. (2009 p.23) Outro fato importante é que é necessário fornecer aos alunos oportunidades concretas de aprenderem: materiais de estudo e livros atraentes e convidativos, por exemplo. O que nos leva automaticamente aos responsáveis por ofertar essas oportunidades de aprendizagem. Em primeiro lugar, os professores nas salas de aula. Importantes elementos do currículo são: • Objetivos e conteúdos claros e explícitos e de relação social. • Estrutura e transparência do conteúdo. • O emprego de planos de aulas contextualizados. • A avaliação sistemática dos resultados do aluno, oferecendo feedback positivo e instrução, além das autoavaliações. Além disso, a forma de agrupamentos dos alunos é importante. É preciso lembrar que a eficácia dos grupos de trabalho depende, em muito, dos materiais diversificados de que os professores dispõem, da maneira como é feita a avaliação e do modo como é dado o feedback e da forma como as informações suplementares são oferecidas. Porém, o currículo e as formas de agrupamentos, em si mesmos, representam apenas condições. O fator mais importante é o próprio professor, o ser humano à frente da classe. Em primeiro lugar ele (ou ela) pode influenciar o currículo e as formas de agrupamentos, embora essa possibilidade dependa do sistema de ensino, do país e da escola em questão. Nem todos os currículos realmente envolvem desde o início os seus professores em mudanças educacionais concretas. E, em muitos casos, o grande número de alunos por sala limita as variações nas formas de agrupamento. Políticas Públicas e Educação 50 No entanto, só o professor pode proporcionar: • Uma organização calma e ordenada da classe. • Uma forma bem planejada de acoplar o trabalho da classe às lições de casa. • Formulação precisa de objetivos, com ênfase em número limitado de metas, com muita atenção para as habilidades básicas e para a aprendizagem cognitiva. • Estruturação dos conteúdos curriculares, baseando-se nos conhecimentos que o aluno já possui e contextualizar. • Apresentações breves e compreensíveis, capazes de cativar a atenção do aluno. • Ênfase nos conhecimentos prévios dos alunos. • Após a apresentação de novo conteúdo, introduzir logo exercícios para que a matéria passe a ser praticada e integrada. • Muita atenção para a avaliação, feedback positivo, e instrução sobre os erros dos alunos e as reflexões sobre isso. • Utilizar novas tecnologias educacionais, como a