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Neuropsicologia do envelhecimento Elodie BERTRAND Neuropsicóloga (CRP 05/ 4712) Mestre em Neuropsicologia cognitiva e clínica (Université de Strasbourg (França) Doutora em Psicologia clínica e neurociência (PUC-Rio) Professora Adjunta (UNIGRANRIO) elodie.bertrand1@gmail.com 2 WHO, 2015 3 WHO, 2015 • Modificações estruturais do cérebro Diminuição do volume e do peso do cérebro 5% a cada 10 anos a partir de 40 anos - Relativamente uniforme e difusa na substância branca -Na substância cinzenta o córtex frontal e parietal são mais afetados em relação ao córtex temporal. O córtex occipital é o menos afetado. Aumento do sistema ventricular • Modificações celular e molecular do cérebro Perda neuronal generalizada, mudanças na morfologia dendrítica, alterações nos receptores dos neurotransmissores e nas propriedades eletrofisiológicas, aumento do tamanho dos astrócitos e da microglia... O Envelhecimento normal - Biologia Shankar, 2010 • Modificações estruturais do cérebro Diminuição do volume e do peso do cérebro 5% a cada 10 anos a partir de 40 anos - Relativamente uniforme e difusa na substância branca -Na substância cinzenta o córtex frontal e parietal são mais afetados em relação ao córtex temporal. O córtex occipital é o menos afetado. Aumento do sistema ventricular • Modificações celular e molecular do cérebro Perda neuronal generalizada, mudanças na morfologia dendrítica, alterações nos receptores dos neurotransmissores e nas propriedades eletrofisiológicas, aumento do tamanho dos astrócitos e da microglia... O Envelhecimento normal - Biologia Shankar, 2010 Oregon Brain Aging Study O Envelhecimento normal – Cognição Algumas questões • Na ausência de patologia, tem um declínio das funções cognitivas? • Esse declínio é geral ou seletivo? • Quais são os possíveis fatores que influenciam este declínio? O Envelhecimento normal - Cognição • Processo complexo e progressivo implicando vários fatores : • biológicos genética, presencia de outras patologias, hábitos de vida... • sociais escolaridade, relações sociais... • psicológicos estado emocional, motivação... • Inteligência cristalizada (conhecimento sobre o mundo) estável • Inteligência fluida (habilidade para usar esse conhecimento de uma forma flexível e adaptada) declínio Craik & Bialystok, 2006 O Envelhecimento normal - Cognição • Variabilidade importante interindividual e heterogeneidade entre as funções cognitivas de um mesmo indivíduo Habilidades mais preservadas Habilidades mais frágeis Memória semântica Memória episódica Memória procedural Memória de trabalho Linguagem Velocidade de tratamento da informação Raciocínio matemático Capacidades atencionais Funções executivas • Lembrete: • Memória episódica: Sistema que se supõe servir de base à capacidade de relembrar eventos específicos • Memória semântica: Sistema que se supõe armazenar conhecimento sobre o mundo • Memória procedural: Sistema que se supõe armazenar dados relacionados à aquisição de habilidades mediante a repetição de uma atividade que segue sempre o mesmo padrão • Memória de trabalho: Sistema de memória que serve de base à nossa capacidade de “manter as coisas em mente” ao realizarmos tarefas complexas • Funções executivas: As funções executivas se referem à capacidade de planejamento, sequenciamento e execução de atividades cognitivas, além de automonitoramento. Inclui como principais processos, planejamento, organização, criação de estratégias, abstração e insight. O Envelhecimento Patológico • Comprometimento Cognitivo Leve (CCL) • Demência grupo de sintomas caracterizado por um declínio progressivo das funções intelectuais, severo o bastante para interferir com as atividades sociais e do cotidiano. • Doença de Alzheimer (DA) • Demência vascular, frontotemporal, com corpos de Lewy, na Doença de Parkinson... Declínio cognitivo subjetivo (DCS) • 30% dos idosos sem problemas em testes cognitivos relatam ter "problemas para se lembrar de coisas que aconteceram recentemente" e ter "dificuldade para se lembrar onde guardaram os pertences" (Jessen et al., 2008) • Será que essas queixas tem um significado clínico? – nível de queixas está relacionado com o nível de mudanças fisiopatológica no cérebro (Amariglio et al., 2012) – queixas de memória são um precursor de déficits de memória em pessoas idosas em estudos longitudinais (Jorm et al., 2001) Declínio cognitivo subjetivo (DCS) • 30% dos idosos sem problemas em testes cognitivos relatam ter "problemas para se lembrar de coisas que aconteceram recentemente" e ter "dificuldade para se lembrar onde guardaram os pertences" (Jessen et al., 2008) • Será que essas queixas tem um significado clínico? – nível de queixas está relacionado com o nível de mudanças fisiopatológica no cérebro (Amariglio et al., 2012) – queixas de memória são um precursor de déficits de memória em pessoas idosas em estudos longitudinais (Jorm et al., 2001) Comprometimento Cognitivo Leve (CCL) • Proposto como uma condição de sintomatologia intermediária entre as mudanças cognitivas devido o envelhecimento e o desenvolvimento pleno da sintomatologia das demências (Petersen, 2008) • Mild Cognitive Impairment (MCI) termo introduzido por Flicker et al. , em 1991. • Conversão para a DA – Estudo no Brasil (Godinho et al., 2012) depois de 45 meses, 38% dos pacientes com CCL passaram a desenvolver uma demência Comprometimento Cognitivo Leve (CCL) • Proposto como uma condição de sintomatologia intermediária entre as mudanças cognitivas devido o envelhecimento e o desenvolvimento pleno da sintomatologia das demências (Petersen, 2008) • Mild Cognitive Impairment (MCI) termo introduzido por Flicker et al. , em 1991. • Conversão para a DA – Estudo no Brasil (Godinho et al., 2012) depois de 45 meses, 38% dos pacientes com CCL passaram a desenvolver uma demência Critérios clínicos adotados pelo Grupo de Trabalho em CCL (Winblad et al., 2004): • O indivíduo é considerado nem normal, nem com demência. • Evidência de declínio cognitivo constatado: – Objetivamente por testagem cognitiva ao longo do tempo, e/ou – Por queixa subjetiva do sujeito e/ou do informante, em concordância com a constatação objetiva do declínio. • As atividades funcionais da vida diária estão preservadas Comprometimento Cognitivo Leve (CCL) Comprometimento Cognitivo Leve (CCL) • Diferentes subtipos de CCL: – CCL amnésico; – CCL de múltiplos domínios amnésico; – CCL de múltiplos domínios que não a memória; – CCL de um único domínio que não a memória Comprometimento Cognitivo Leve (CCL) Petersen et al., Archives of Neurology, 2009 Doença de Alzheimer (DA) • 1906 primeira descrição da doença pelo médico alemão Alois Alzheimer • Forma mais comum de demência – 70% dos casos de demência – No Brasil, 1 milhão e 200 mil pessoas sofrem da DA • Doença neurodegenerativa destruição progressiva e irreversível de células nervosas em certas regiões do cérebro. 17 • 2 processos fisiopatológicos paralelos – Placas amiloides (ou senis) acumulação da proteína beta- amilóide (Aβ) – Novelos (ou emaranhados) neurofibrilares a proteína Tau sofre uma mutação (hiperfosforilação) e não pode mais cumprir a sua função de estabilizar os microtúbulos dos axônios que se desintegram. Doença de Alzheimer 18 • 2 processos fisiopatológicos paralelos – Placas amiloides (ou senis) acumulaçãoda proteína beta- amilóide (Aβ) – Novelos (ou emaranhados) neurofibrilares a proteína Tau sofre uma mutação (hiperfosforilação) e não pode mais cumprir a sua função de estabilizar os microtúbulos dos axônios que se desintegram. Doença de Alzheimer 19 Doença de Alzheimer 20 Jack et al., 2010 Doença de Alzheimer • Critérios diagnósticos da DA (DSM-IV-TR) – Déficits cognitivos múltiplos memória e uma (ou mais) outra função cognitiva (afasia; apraxia; agnosia; disfunção executiva) – Alteração das capacidades ocupacionais e sociais – Início gradual e declínio cognitivo contínuo – Déficits não devidos a: outras condições do sistema nervoso central; condição sistêmica podendo gerir um quadro demencial; condição induzida por substâncias 21 Diagnostico da DA • Feito por exclusão, a DA só pode ser diagnosticada com certeza através do exame microscópico do tecido cerebral por biópsia ou necropsia. • Entrevista • Exame neurológico • Testes laboratoriais (para rastrear doenças sistêmicas) sangue, urina, líquido cefalorraquidiano • Exames de imagens tomografia computadorizada, ressonância nuclear magnética, SPECT e PET • Avaliação neuropsicológica 22 Diagnostico da DA • Feito por exclusão, a DA só pode ser diagnosticada com certeza através do exame microscópico do tecido cerebral por biópsia ou necropsia. • Entrevista • Exame neurológico • Testes laboratoriais (para rastrear doenças sistêmicas) sangue, urina, líquido cefalorraquidiano • Exames de imagens tomografia computadorizada, ressonância nuclear magnética, SPECT e PET • Avaliação neuropsicológica 23 Avaliação neuropsicológica na DA Baterias de Rastreio Bateria Breve de Rastreio Cognitivo (Nitrini et al., 1994, 2008) Mini Exame do Estado Mental (MEEM) Teste de Memória de Figuras Teste do Desenho do Relógio Teste de Fluência Verbal Semântica Escala Geriátrica de Depressão (GDS-15) Escala de Atividades Instrumentais de Vida Diária – Lawton Questionário de Atividades Funcionais – Pfeffer 24 CERAD (Morris et al., 1989, Adaptação brasileira Bertolucci et al., 1998) Teste Memória da Lista de Palavras – evocação livre, tardia e reconhecimento Teste de Nomeação de Boston – versão reduzida 15 itens Praxia Construtiva – cópia e evocação tardia Teste de Fluência Verbal Semântica Avaliação neuropsicológica na DA 25 Avaliação neuropsicológica na DA 26 Avaliação neuropsicológica na DA • Teste de Nomeação de Boston – versão reduzida 15 itens 27 Avaliação neuropsicológica na DA • Teste do Desenho do Relógio Instruções: Dar uma folha de papel em branco para o paciente e dizer: “Desenhe um relógio com todos os números e ponteiros, marcando 2h e 45 min “. 28 Souillard-Mandar et al. (2016) Avaliação neuropsicológica na DA • Escala Geriátrica de Depressão (GDS-15) – Porque avaliar os sintomas depressivos em idosos? • Fator de risco para demência • Alta prevalência na DA Sintomas depressivos são observados em até 40-50% dos pacientes • Pode causar déficits cognitivos parecidos com a DA “pseudodemência” 29 Avaliação neuropsicológica na DA 30 Avaliação neuropsicológica na DA • Avaliação da funcionalidade 31 Avaliação neuropsicológica na DA • Avaliação da funcionalidade 32 • Evolução dos sintomas depende das regiões cerebrais mais afetadas • Esperança de vida após o diagnóstico ± 7 anos 33 Doença de Alzheimer – Evolução Doença de Alzheimer – Prevenção 34 Doença de Alzheimer – Prevenção 35 Doença de Alzheimer – Prevenção 36 Pacientes com DA e seus cuidadores • Baixa qualidade de vida • Prevalência alta de depressão • Sobrecarga do cuidador falta de consciência dos déficits (ou anosognosia), sintomas comportamentais... 37