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Ergonomia e Saúde do Trabalhador


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Brasília-DF. 
Ergonomia, ambiEntE E as DoEnças 
Do trabalho
Elaboração
Elisa Maria Amate
Produção
Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração
Sumário
APRESENTAÇÃO ................................................................................................................................. 5
ORGANIZAÇÃO DO CADERNO DE ESTUDOS E PESQUISA .................................................................... 6
INTRODUÇÃO.................................................................................................................................... 8
UNIDADE I
ASPECTOS GERAIS DA SAÚDE DO TRABALHADOR ................................................................................... 9
CAPÍTULO 1
UM POUCO DE HISTÓRIA... ....................................................................................................... 9
CAPÍTULO 2
MEDICINA DO TRABALHO, SAÚDE OCUPACIONAL E SAÚDE DO TRABALHADOR ........................ 18
CAPÍTULO 3
SAÚDE DO TRABALHADOR: O COLETIVO E O INDIVIDUAL......................................................... 27
CAPÍTULO 4
ANAMNESE OCUPACIONAL .................................................................................................... 36
CAPÍTULO 5
AGRAVOS À SAÚDE RELACIONADOS AO TRABALHO E AO AMBIENTE ....................................... 39
UNIDADE II
DIRETRIZES E ATORES DA ESFERA PÚBLICO-PRIVADA DA SAÚDE DO TRABALHADOR ................................ 43
CAPÍTULO 1
POLÍTICAS PÚBLICAS EM SAÚDE DO TRABALHADOR ................................................................. 43
CAPÍTULO 2
SERVIÇOS ESPECIALIZADOS E PROGRAMAS DE SAÚDE E SEGURANÇA DO TRABALHADOR ....... 49
UNIDADE III
SOBRE ALGUNS AGRAVOS RELACIONADOS AO TRABALHO .................................................................. 58
CAPÍTULO 1
DOENÇAS DO TRABALHO CAUSADAS POR FATORES DE RISCO FÍSICO, QUÍMICO E BIOLÓGICO, 
PSICOERGONÔMICO E MECÂNICO – ACIDENTES .................................................................. 58
CAPÍTULO 2
ACIDENTE COM EXPOSIÇÃO A MATERIAL BIOLÓGICO RELACIONADO AO TRABALHO ............. 61
CAPÍTULO 3
CÂNCER RELACIONADO AO TRABALHO (DECORRENTE DA EXPOSIÇÃO AO BENZENO) ........... 67
CAPÍTULO 4
DERMATOSES OCUPACIONAIS ................................................................................................ 72
CAPÍTULO 5
DISTÚRBIOS OSTEOMUSCULARES RELACIONADOS AO TRABALHO (DORT) ................................. 76
CAPÍTULO 6
PERDA AUDITIVA INDUZIDA POR RUÍDO (PAIR) RELACIONADA AO TRABALHO ............................ 81
CAPÍTULO 7
PNEUMOCONIOSES RELACIONADAS AO TRABALHO ............................................................... 85
CAPÍTULO 8
TRANSTORNOS MENTAIS RELACIONADOS AO TRABALHO ......................................................... 88
CAPÍTULO 9
TRABALHO INFANTIL ................................................................................................................ 97
UNIDADE IV
ERGONOMIA ...................................................................................................................................... 99
CAPÍTULO 1
ORIGENS E CARACTERÍSTICAS DA ERGONOMIA ..................................................................... 99
CAPÍTULO 2
CONTEXTO DE PRODUÇÃO DE BENS E SERVIÇOS (CPBS) ...................................................... 111
CAPÍTULO 3
ANÁLISE ERGONÔMICA DO TRABALHO (AET) ........................................................................ 118
CAPÍTULO 4
NORMA REGULAMENTADORA 17 ......................................................................................... 125
PARA (NÃO) FINALIZAR ................................................................................................................... 130
REFERÊNCIAS ................................................................................................................................ 131
5
Apresentação
Caro aluno
A proposta editorial deste Caderno de Estudos e Pesquisa reúne elementos que se 
entendem necessários para o desenvolvimento do estudo com segurança e qualidade. 
Caracteriza-se pela atualidade, dinâmica e pertinência de seu conteúdo, bem como pela 
interatividade e modernidade de sua estrutura formal, adequadas à metodologia da 
Educação a Distância – EaD.
Pretende-se, com este material, levá-lo à reflexão e à compreensão da pluralidade 
dos conhecimentos a serem oferecidos, possibilitando-lhe ampliar conceitos 
específicos da área e atuar de forma competente e conscienciosa, como convém 
ao profissional que busca a formação continuada para vencer os desafios que a 
evolução científico-tecnológica impõe ao mundo contemporâneo.
Elaborou-se a presente publicação com a intenção de torná-la subsídio valioso, de modo 
a facilitar sua caminhada na trajetória a ser percorrida tanto na vida pessoal quanto na 
profissional. Utilize-a como instrumento para seu sucesso na carreira.
Conselho Editorial
6
Organização do Caderno 
de Estudos e Pesquisa
Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em unidades, subdivididas em 
capítulos, de forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de textos 
básicos, com questões para reflexão, entre outros recursos editoriais que visam tornar 
sua leitura mais agradável. Ao final, serão indicadas, também, fontes de consulta para 
aprofundar seus estudos com leituras e pesquisas complementares.
A seguir, apresentamos uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos 
Cadernos de Estudos e Pesquisa.
Provocação
Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes 
mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor 
conteudista.
Para refletir
Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita 
sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante 
que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As 
reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões.
Sugestão de estudo complementar
Sugestões de leituras adicionais, filmes e sites para aprofundamento do estudo, 
discussões em fóruns ou encontros presenciais quando for o caso.
Atenção
Chamadas para alertar detalhes/tópicos importantes que contribuam para a 
síntese/conclusão do assunto abordado.
7
Saiba mais
Informações complementares para elucidar a construção das sínteses/conclusões 
sobre o assunto abordado.
Sintetizando
Trecho que busca resumir informações relevantes do conteúdo, facilitando o 
entendimento pelo aluno sobre trechos mais complexos.
Para (não) finalizar
Texto integrador, ao final do módulo, que motiva o aluno a continuar a aprendizagem 
ou estimula ponderações complementares sobre o módulo estudado.
8
Introdução
No cenário contemporâneo, as transformações ocorridas nos processos produtivos 
(precarização, informalidade, globalização etc.) implicam a necessidade de construção 
de conhecimento sobre agravos relacionados ao trabalho para além do estudo de suas 
manifestações clínicas. Essa construção será fomentada como categoria fundamental 
de reconhecimento da relação “causa e efeito”, resultante da interação da tríade 
ambiente-saúde-trabalho. O ponto de partida será a definição dos principais conceitos 
até o rol de agravos relacionados ao assunto em questão. 
O assunto não se esgota porque ele faz interface direta com as demais disciplinas do 
curso e o cotidiano de profissionais da área de Segurança e Saúde do Trabalhador, 
pública ou privada. 
Portanto, a disciplina contribui para a discussão dos entrecruzamentos dos campos do 
Ambiente, Saúde e Trabalho, por intermédio da compreensão dos aspectos conceituais 
e históricos. Assim, possibilita-se avaliar todas aquelas situações que ofereçam 
risco de acidentes e adoecimento associados aos processos produtivos, à avaliação 
de procedimentos utilizados na investigação das situações de risco, bem como as 
metodologias utilizadas na suaprevenção e controle. Dá-se ênfase às morbidades mais 
prevalentes. 
Objetivos
 » Aprofundar os aspectos conceituais e históricos do campo da Saúde 
Ambiental e do Trabalhador. 
 » Identificar as relações entre saúde, ambiente e trabalho, de maneira a 
estimular a prevenção de fatores de riscos que levariam à redução de 
NTEP. 
 » Identificar os principais sujeitos envolvidos nos procedimentos de 
investigação de situações de risco para a saúde do trabalhador. 
 » Analisar os procedimentos utilizados para a investigação de situações de 
risco, bem como as metodologias utilizadas em sua prevenção e controle.
 » Avaliar as situações de risco e dos acidentes e patologias associadas aos 
processos produtivos.
9
UNIDADE I
ASPECTOS GERAIS 
DA SAÚDE DO 
TRABALHADOR
CAPÍTULO 1
Um pouco de História...
Os acidentes e doenças relacionadas ao trabalho são antigos e a sua origem está 
vinculada ao surgimento do trabalho: ao longo de toda História, as condições do 
ambiente de trabalho têm causado incapacidades e mortes para um grande número de 
trabalhadores (MATTOS; MÁSCULO, 2011). Observe:
 » Na Antiguidade, essa associação foi encontrada em papiros antigos, 
no Império Babilônico e em escrituras greco-romanas. Nesse período, 
predominava o conceito de fenômenos de origem mágico-religiosa e, 
posteriormente, naturalista. 
 » No Egito, há registros de 2360 a.C., como o Papiro Seler II e o Anastasi 
V, sendo este último conhecido como “Sátira dos Ofícios”, de 1800 
a.C., no qual estão evidenciados problemas relativos à insalubridade, 
periculosidade e penosidade dos profissionais à época (MATTOS; 
MÁSCULO, 2011).
 » Em 1750 a.C., o código de Hamurabi trazia em seu bojo cerca de 281 artigos 
a respeito das relações de trabalho, família, propriedade e escravidão. Um 
deles, em especial, tratava da pena de morte ao arquiteto que projetasse 
uma casa que desmoronasse e causasse a morte de seus ocupantes.
 » As civilizações greco-romanas não tinham interesse em estudar o 
trabalho em si, uma vez que essa área era de competência dos escravos. 
Entretanto, houve estudos relevantes, como o tratado de Hipócrates, 
Sobre os Ares, Águas e Lugares, no século IV a.C., cujo conteúdo 
indicava ao médico a relação entre ambiente e saúde, bem como 
descreveu um quadro de intoxicação saturnina em um mineiro. No séc. 
I a.C., o naturalista romano Plínio escreve um tratado chamado História 
10
UNIDADE I │ ASPECTOS GERAIS DA SAÚDE DO TRABALHADOR
Natural, evidenciando o aspecto dos trabalhadores expostos a chumbo, 
mercúrio e poeiras (MATTOS; MÁSCULO, 2011).
 » No período entre o apogeu do Império Romano e o final da Idade Média, 
poucos relatos foram encontrados sobre doenças. Porém, nessa época, 
foram criadas ordens hospitalares para prestar atendimento a enfermos 
(MATTOS; MÁSCULO, 2011).
A sociedade feudal caracterizava-se pela produção de bens e serviços efetuados pelo 
trabalho servil e artesanal. Mas qual era a relação de servidão com o acúmulo de capital? 
Os camponeses não eram trabalhadores livres e não possuíam direito de propriedade 
ou de venda de sua força de trabalho em troca de salário, onde quer que estivessem. 
O senhor feudal e o clero exigiam os dízimos e impostos, pouco se importando 
com o estado de saúde de seus subalternos. A assistência ao doente ou inválido era 
arcada pela família, pois o trabalho e as doenças decorrentes disso não eram objetos 
de regulamentação e interferência do Estado (VASCONCELOS; OLIVEIRA, 2011). 
O artesão era capaz de realizar todas as tarefas do ofício, conhecendo o início e o fim 
do trabalho, não o distanciando de seu objeto de atuação, o que ocorrerá na Revolução 
Industrial. 
Após anos, apenas em 1473, Ulrich de Elsborg desenvolveu o estudo sobre 
vapores metálicos, em que há o descritivo de sinais e sintomas de envenenamento 
ocupacional por monóxido de carbono, chumbo, mercúrio e ácido nítrico, além de 
sugerir medidas preventivas (MATTOS; MÁSCULO, 2011).
Até o final do século XV, muitas pesquisas tratavam de doenças causadas por 
agentes químicos, como o estudo completo De Re Metallica (George Bauer ou 
Georgius Agricola, Inglaterra), que se compõe de: problemas relacionados às 
atividades de extração e fundição de prata e ouro; acidentes de trabalho; doenças 
comuns entre mineiros; e meios de prevenção (MATTOS; MÁSCULO, 2011).
Já no início do século XVIII, o mundo do trabalho sofreu grandes transformações 
com o surgimento de novos estudos pela Europa e, por conseguinte, com as grandes 
contribuições para a medicina do trabalho, como a obra De Morbis Artificum Diatriba, 
de Bernadino Ramazzini. Em seu estudo, o autor descreveu as doenças, os riscos e as 
precauções relacionados a 50 profissões da época. É considerado o pai da medicina do 
trabalho (MATTOS; MÁSCULO, 2011).
No final do XVIII e início do século XIX, ocorre na Europa a Revolução Industrial, 
inicialmente na Inglaterra, França e Alemanha, tendo como marcos a invenção da 
máquina a vapor por James Watts (1784) e a publicação polêmica de Adam Smith da 
11
ASPECTOS GERAIS DA SAÚDE DO TRABALHADOR │ UNIDADE I
obra Riqueza das nações (1776), apontando as vantagens econômicas na divisão do 
trabalho (MATTOS; MÁSCULO, 2011).
Nesse espectro, a forma de fabricação industrial caracterizou-se por: 
1. Divisão técnica do trabalho;
2. Uso intensivo de máquinas do dono da empresa; e
3. Uso de energia motriz capaz de movimentar um conjunto de máquinas. 
A operação das máquinas gerava uma divisão técnica do trabalho 
e as atividades passaram a ser parceladas, com tarefas divididas, 
exigindo movimentos de partes específicas do corpo do trabalhador 
(VASCONCELOS; OLIVEIRA, 2011).
Com o furor causado pela Revolução Industrial, houve grande aumento da 
produtividade e ampliação do consumo de bens pela sociedade em geral, necessitando 
de mais mão de obra para conduzir as máquinas. Para isso, foram empregadas 
mulheres, homens e crianças (a partir dos 6 anos), em condições de trabalho 
degradadas, como jornada de trabalho prolongada, ruído exacerbado, más condições 
de higiene no local de trabalho, somando-se a esses aspectos o elevado número de 
acidentes e adoecimentos (MATTOS; MÁSCULO, 2011).
A indústria capitalista demandou legiões de trabalhadores e trouxe consigo efeitos 
devastadores, como alta frequência de mortes, epidemias e mutilações, contudo, 
em função disso, várias leis começaram a ser editadas, principalmente na França e 
Inglaterra (VASCONCELOS; OLIVEIRA, 2011).
A situação só se modificou com os movimentos sociais de trabalhadores, que 
obrigaram legisladores e políticos a repensar o papel do Estado na regulação das 
condições de trabalho nas fábricas. Desta forma, em 1802, foi aprovada a Lei 
da Preservação da Saúde e da Moral dos Aprendizes e de Outros Empregados, 
constituindo-se, portanto, na primeira legislação de amparo e proteção aos 
trabalhadores. E aí foi feita uma comissão de inquérito do parlamento britânico, 
que estabelecia a jornada diária de trabalho de 12 horas, proibia o trabalho noturno 
e obrigava a ventilação e lavagem das paredes das fábricas pelos empregadores 
(MATTOS; MÁSCULO, 2011).
As ações dessa comissão parlamentar resultaram na primeira legislação no 
campo da saúde do trabalhador, a Factory Act (Lei das Fábricas), que, apoiada 
pela sociedade britânica, obrigou todos os empregadores a proibirem o trabalho 
noturno para menores de 18 anos e montarem escolas para menores de 13 anos. 
12
UNIDADE I │ ASPECTOS GERAIS DA SAÚDE DO TRABALHADOR
Além disso, a idade mínima para o trabalho passou a ser de 9, e não mais de 6 
anos, e o desenvolvimento físico do trabalhador menor deveria ser avaliado por 
um médico. No mesmo ano, a Lei Operária foi aprovada na Alemanha (MATTOS; 
MÁSCULO, 2011).
A Factory Act tomou por base o conselho de Baker, que foi um médico contratado 
por um industrial inglês, Robert Derham, em 1830, para estudar a melhor forma 
de preservar a saúde dos trabalhadores de sua fábrica. Após seu estudo, Baker 
sugeriu que Derhamcontratasse um médico que visitasse a fábrica diariamente 
e estudasse a influência do trabalho na saúde dos trabalhadores – aqui foi criado 
o ensaio do primeiro serviço médico industrial do mundo. Quatro anos depois, 
Baker foi nomeado inspetor médico do parlamento inglês. A criação da legislação 
ocupacional na Inglaterra contou também com a contribuição de Charles Turner 
Thackrah, em 1830, quando ele publicou um livro sobre doenças ocupacionais.
Quando os trabalhadores começaram a ser contratados massivamente pela via 
salarial, costumava-se pagá-los por produção, e as jornadas de trabalho eram muito 
mais longas do que as atuais – podiam atingir de 16 a 18 horas seguidas – e, comumente, 
eram empregadas crianças e mulheres para realizar tarefas árduas, fato gerador de duras 
críticas por parte das primeiras associações formadas por trabalhadores (primeiros 
sindicatos, por assim dizer). A partir daí, obteve-se a melhoria das condições de trabalho 
e o advento das primeiras leis no século XVIII, que se consolidariam especialmente 
no século XIX, em alguns países da Europa, como França e Inglaterra, e nos Estados 
Unidos da América (MATTOS; MÁSCULO, 2011).
No auge da Revolução Industrial, muitos artesãos habilitados foram contratados e 
mantiveram suas tradições e regras de ofício até a difusão da “organização científica do 
trabalho”, por Frederic Taylor, a partir do século XX. Dessas tradições e regras de ofício, 
partiram muitos marcos regulatórios que determinariam a organização do trabalho 
e cuidados aos riscos profissionais para a saúde do trabalhador (VASCONCELOS; 
OLIVEIRA, 2011).
A transição ocorreu com as profundas transformações provocadas pelo taylorismo 
e fordismo. O fordismo desencadeou a 2a Revolução Industrial quando Henry Ford 
estabeleceu, em sua montadora de carros nos Estados Unidos, o gerenciamento 
científico de Taylor, valorizando todas as formas de intensificação das tarefas e 
automação industrial (VASCONCELOS; OLIVEIRA, 2011), instituindo a produção 
em série e o consumo em massa. Aqui o trabalhador entra como uma equipagem 
merecedora de processos de análise seletiva na sua inserção na indústria. Nessa 
condição, a manutenção da sua saúde destina-se a evitar o absenteísmo por meio 
13
ASPECTOS GERAIS DA SAÚDE DO TRABALHADOR │ UNIDADE I
de práticas de medicina, psicologia, higiene industrial, com vias de não interferir na 
produtividade e no lucro. 
Leia o artigo “Fordismo, taylorismo e toyotismo: apontamentos sobre suas 
rupturas e continuidades”, de Érika Batista, disponível em nossa biblioteca 
virtual. 
A partir do século XX, algumas organizações criaram resoluções e convenções na 
tentativa de melhorar as condições de trabalho e atendimento à saúde em todos os 
países membros que tivessem aderido às referidas convenções. Estamos falando das 
organizações multigovernamentais tais como a ONU e suas afiliadas: OIT (Organização 
Internacional do Trabalho) e OMS (Organização Mundial da Saúde) (MATTOS; 
MÁSCULO, 2011).
Em 1979, foi retomado o movimento sindical no Brasil, e várias entidades tiveram 
acesso às informações das empresas, prontuários, laudos e exames médicos de 
trabalhadores para constituir dossiês e instigar a discussão das suas condições de 
vida e trabalho, divulgando essas informações na imprensa e estações de rádio e de 
televisão daquela época (MATTOS; MÁSCULO, 2011).
É importante ressaltar que esse movimento deu fruto a uma obra pioneira na 
integração das atividades sindicais com a pesquisa em saúde e área jurídica: “De 
que adoecem e morrem os trabalhadores”, organizado pelo médico Herval Ribeiro 
e Francisco Lacaz. Obras como essa foram fruto de pesquisas organizadas pelos 
sindicatos para melhoria de base técnica em defesa dos direitos dos trabalhadores 
(MATTOS; MÁSCULO, 2011).
Muitos sindicalistas conseguiram espaço com direito a voto nos processos de 
criação e retificação das normas regulamentadoras, bem como a participação 
nos embrionários Conselhos-Centros de Referência em Saúde do Trabalhador 
(MATTOS; MÁSCULO, 2011).
O movimento de redemocratização e a abertura cultural e política, aliados ao 
intercâmbio entre entidades ambientalistas, pesquisadores, sindicatos e outros 
intelectuais da época, resultaram na inserção de leis de proteção ao meio ambiente 
e saúde do trabalhador na Constituição Federal de 1988 e em legislações estaduais 
(MATTOS; MÁSCULO, 2011).
Essa pressão incisiva, fomentada pelos sindicatos sobre os parlamentares e 
Administração Pública, foi em sua maioria integrada por categorias de trabalhadores 
atreladas diretamente às atividades econômicas com dependência direta dos recursos 
14
UNIDADE I │ ASPECTOS GERAIS DA SAÚDE DO TRABALHADOR
naturais, das águas, compostos químicos, além de trabalhadores rurais, sem-terras 
e extrativistas (MATTOS; MÁSCULO, 2011). Ora, essas categorias possuíam a real 
dimensão dos impactos ambientais e da saúde dessas atividades econômicas... 
Você sabia que a implantação da NR 5 começou, de fato, nas plantas industriais 
químicas e refinarias de petróleo? Em 1990, multiplicaram-se casos de 
contaminação por exposição a compostos químicos, em que as doenças mais 
prevalentes apresentadas foram leucemia e outros tipos de cânceres. Na indústria 
química, trabalhadores e comunidade em volta desses complexos industriais são 
expostas à toxicidade variada dos insumos, produtos e subprodutos efluentes. 
Por isso, a preocupação da comunidade veio se somar ao foco ocupacional, e a 
noção de perigo foi cada vez mais agregada ao conhecimento dos sindicalistas 
sobre os riscos químicos para a saúde humana e ambiental. 
Os problemas de saúde ocupacional pioraram com a 2a Revolução Industrial, 
advinda pela descoberta da eletricidade e motor de explosão, culminando no 
surgimento de várias obras que tratavam da situação do mundo do trabalho naquela 
época, como o livro O Capital, de Karl Marx, que trata principalmente dos mecanismos 
de acumulação de capital pelos empregadores por meio da mais-valia, além de 
descrever a exploração da mão de obra na Inglaterra. Nesse período, a enfermeira 
italiana Florence Nightingale publicou, em 1861, “Notas sobre a enfermagem para as 
classes trabalhadoras”, tornando-se pioneira em sua área de atuação. 
Diante do quadro preocupante, muitos países do continente europeu aprovaram leis 
sobre a reparação de acidentes e doenças profissionais, como a Alemanha (1884), 
Inglaterra (1897), França (1898), Portugal (1913) e, no continente americano, os 
Estados Unidos (1911) (MATTOS; MÁSCULO, 2011).
Em 1900, foi criada a Internacional Association for Labour Legislation – embrião 
da OIT, que seria formalmente criada após 19 anos. As duas primeiras convenções 
internacionais sobre o trabalho, especificamente sobre trabalho noturno das mulheres 
e eliminação de fósforo branco da indústria de máquinas, foram originadas em 
conferências diplomáticas realizadas em Berna, na Suíça (1905). A medicina do trabalho 
foi reconhecida enquanto especialidade somente em 1954. 
Os movimentos mundiais pela conscientização do papel fundamental da saúde do 
trabalhador foram motivadores para o trabalho em conjunto da OIT e OMS de tal 
modo que, na década de 1950 do século passado, uma comissão conjunta foi formada 
para tratar da saúde ocupacional, na Suíça, e, desde essa época, o tema tem sido 
debatido em vários encontros da Conferência Internacional do Trabalho (MATTOS; 
MÁSCULO, 2011).
15
ASPECTOS GERAIS DA SAÚDE DO TRABALHADOR │ UNIDADE I
Na história brasileira colonial e imperial, a mão de obra escrava teve uma importância 
central no panorama econômico, perfazendo um total de 400 anos de trabalho escravo. 
Diferentemente do que imaginamos, naquela época, surgiu uma prática de medicina do 
trabalho dirigida aos escravos com um foco do que hoje seria a zootecnia ou medicina 
veterinária: o escravo era considerado mercadoria animal, cujo senhorio era proprietário 
de corpo físico, da liberdade e da prole do escravo por toda eternidade.
Considerandoa escravidão em larga escala nas Américas, o mercado de escravos 
organizou-se de maneira distinta do mercado de força de trabalho desenvolvido no modo 
capitalista industrial. A visibilidade da doença do trabalho se perdia em um mundo de 
extrema violência e crueldade, o que se configuraria em um massacre moral extremo e 
desastre epidêmico (VASCONCELOS; OLIVEIRA, 2011). Quando doentes, os escravos 
eram tratados por seu valor patrimonial, caso houvesse interesse do proprietário, caso 
não sobrevivesse, era substituído por outro hígido. 
Segundo Vasconcelos e Oliveira (2011), a medicina do trabalho no Brasil surge como 
aquela assistência à saúde dos escravos por meio de práticas de medicina veterinária 
aplicadas aos seres humanos em cativeiros. Algumas leis foram promulgadas para 
amenizar o sofrimento dos escravos durante o Império, culminando com a Lei Áurea, 
em 1888. 
Pouco se diferenciava as condições de trabalho no Brasil com aquelas encontradas 
na Europa, quando do advento da indústria em território nacional. Com aumento da 
atividade fabril, principalmente em São Paulo, os movimentos sociais pressionaram o 
Estado à criação de legislação trabalhista em 1917, ainda que rudimentar, e também uma 
lei sobre acidentes de trabalho em 1919. Aqui, a Revolução Industrial foi tardia, assim 
como em toda América Latina, lá pelos idos dos anos de 1930, tendo-se a promulgação 
da Consolidação das Leis do Trabalho (1943), por Getúlio Vargas, como marco principal 
do século XX (MATTOS; MÁSCULO, 2011).
A 8a Conferência Nacional de Saúde e seus desdobramentos na Assembleia Nacional 
Constituinte, bem como a criação do Sistema Único de Saúde, advieram dos ideais 
e bases teóricas fomentados pela Epidemiologia Social. Ela apresentou avanços 
tecnológicos importantes na América Latina, desde o final da década de 1970, 
tendo grande reflexo na saúde pública brasileira. 
A ênfase no processo de produção estimulou a expansão conceitual da “Saúde 
Ocupacional” para “Saúde dos Trabalhadores”, paralela à implantação de políticas 
de saúde coerentes com esse novo marco. Em paralelo, a pauta da saúde ambiental 
ganhava espaço nas esferas políticas do mundo inteiro. Após a Rio 92, no Brasil, o 
campo da saúde ambiental teve uma abertura maior não apenas ao debate específico 
16
UNIDADE I │ ASPECTOS GERAIS DA SAÚDE DO TRABALHADOR
sobre o saneamento básico e as doenças infectocontagiosas, mas também ao enfoque 
de problemáticas a respeito de agrotóxicos, metais pesados, contaminação das águas 
para consumo humano, ambiente urbano, além de outros. Isso representaria os 
primeiros passos para o delineamento de uma política de saúde ambiental consistente 
(RIGOTTO, 2003).
Do ponto de vista institucional, as questões ambientais, tradicionalmente relacionadas 
à saúde no Brasil – numa preocupação quase que exclusiva de instituições voltadas ao 
saneamento básico (água, esgoto, lixo etc.) –, estiveram, durante muitos anos, pautadas 
nas propostas do Governo e atreladas aos diversos campos internos do aparelho de 
Estado, notadamente em alguns ministérios, como o da Saúde e do Interior, secretarias 
estaduais e municipais, além de algumas Universidades. A partir da década de 1970, 
com a piora dos problemas ambientais gerados pelo crescimento industrial, novas 
instituições surgiram ou foram criadas, como a Companhia Estadual de Tecnologia 
em Saneamento Ambiental (CETESB) e a Fundação Estadual de Engenharia do Meio 
Ambiente (FEEMA). Essas instituições contribuíram para o desenvolvimento de ações de 
monitoramento e controle da poluição ambiental, sem sequer ter ligação com o sistema 
de saúde. Em outra via, a elaboração de novas teorias e abordagens que renovavam esse 
aporte institucional estava latente no mundo acadêmico – estando majoritariamente 
associado a outras organizações civis no bojo da luta pela redemocratização do país 
(TAMBELINNI; CÂMARA, 1998). 
Com o crescimento da saúde do trabalhador, a partir do final da década de 1970, e 
durante toda a década de 1980, ficou explícito o elo existente entre essas questões e 
o sistema de saúde, abrindo o caminho para a incorporação de uma saúde ambiental 
moderna no setor. O período anterior à realização da Conferência das Nações Unidas 
sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento (UNCED), em 1992, no Rio de Janeiro, 
também corroborou para aumentar as preocupações com os problemas de saúde 
relacionados ao ambiente. Além disso, esse período pode ser caracterizado pelo 
crescimento dos movimentos ecológicos – ONGs e outras formas organizadas de luta 
da sociedade civil pela preservação do ambiente e da saúde –, que ganharam dia após 
dia mais publicidade. Esse desenrolar de fatos históricos concatenados demonstra e 
explicita o convencimento do meio político e social a respeito da importância da questão 
ambiental em seus desdobramentos para a saúde humana, atingindo todo o planeta 
também (TAMBELINNI; CÂMARA, 1998). 
O SUS resulta de movimentos inusitados na área de saúde do trabalhador: influencia 
a organização da saúde do trabalhador na rede pública como direito universal e dever 
do Estado, incorpora princípios institucionais nas legislações estaduais, introduz o 
conceito ampliado de saúde do trabalhador – diferente dos conceitos reducionistas 
17
ASPECTOS GERAIS DA SAÚDE DO TRABALHADOR │ UNIDADE I
de medicina do trabalho e saúde ocupacional –, e vislumbra a saúde como elemento 
central na proteção dos trabalhadores diante das imposições econômicas e sociais dos 
processos de trabalho historicamente arraigados (VASCONCELOS; OLIVEIRA, 2011).
Falaremos detidamente sobre esse assunto nos próximos capítulos, quando 
da evolução das políticas de Saúde no Trabalho (ST) no SUS até a atualidade, 
partindo da década de 1980.
18
CAPÍTULO 2
Medicina do trabalho, saúde 
ocupacional e saúde do trabalhador
A medicina do trabalho está pautada principalmente na presença de um serviço 
médico dentro das empresas, para monitorar a saúde dos trabalhadores, modelo 
ainda muito próximo à sua origem na Revolução Industrial (vide história de Baker). 
Mendes e Dias (1991) descrevem, além dessas, outras características típicas da 
especialidade em questão: é-lhe atribuída a tarefa de cuidar da “adaptação física e 
mental dos trabalhadores”, supostamente contribuindo na colocação deles em lugares 
ou tarefas correspondentes às aptidões. Essa adaptação estaria mais limitada à seleção 
de candidatos mais sadios e à adequação dos trabalhadores às suas atividades, e não o 
inverso. É atribuída a essa tarefa “a contribuição à manutenção do nível mais elevado 
possível do bem-estar biopsicossocial dos trabalhadores”, conferindo-lhe ainda um 
caráter de plenitude e inerente à própria concepção positivista da prática médica. 
No campo das ciências da administração, a medicina do trabalho vai sustentar o 
desenvolvimento da “Administração Científica do Trabalho”, em que os princípios de 
Taylor, ampliados por Ford, encontraram uma aliada para aumentar produtividade nas 
empresas (MENDES; DIAS, 1991).
Entretanto, essa onipotência começa a dar espaço a uma nova abordagem de relação 
saúde versus trabalho, denominada saúde ocupacional, que visava à adequação à nova 
realidade resultante das inovações tecnológicas introduzidas após a Segunda Guerra 
Mundial (MATTOS; MÁSCULO, 2011). Assim, o contexto econômico e político – como 
o pós-guerra, o custo provocado pela perda de vidas e as doenças do trabalho – começou 
a ser também sentido pelos empregadores e pelas companhias de seguro, às voltas 
com o pagamento de pesadas indenizações por incapacidade provocada pelo trabalho 
(MENDES; DIAS, 1991).
Uma vez que o modelo positivista centrado na figura do médico não respondia às 
inovações tecnológicas e da sociedade, repensou-se a metodologia que aliasse médicos 
e engenheiros para higienizar os ambientes insalubres, ou seja, o que antes tinha como 
centro das atenções o trabalhador, agora extrapola para o ambiente em volta. Eis que 
surge a saúde ocupacional.19
ASPECTOS GERAIS DA SAÚDE DO TRABALHADOR │ UNIDADE I
Entretanto, nas escolas de saúde pública dos Estados Unidos, o desenvolvimento 
do novo modelo proposto não promoveu a multidisciplinariedade na íntegra, 
acompanhado de certa desqualificação do aspecto epidemiológico do trabalho 
(MENDES; DIAS, 1991). 
Para Mattos e Másculo (2011), essa abordagem é tecnicista, valoriza os ambientes de 
trabalho e agentes ambientais com atenção à saúde do trabalhador sadio, quantifica 
os riscos ambientais e despreza a análise dos processos de trabalho e organização da 
produção com o contexto social. O trabalhador permanece como objeto de análise – 
para melhor produtividade – e não como sujeito ativo de transformação do seu meio. 
A partir do final dos anos 1960, começam as críticas à concepção de saúde e à denúncia 
dos efeitos negativos da medicalização e do caráter ideológico e reprodutor das 
instituições médicas. Nesse intenso processo social de discussões teóricas e de práticas 
alternativas, ganha corpo a teoria da determinação social do processo saúde-doença 
(MENDES; DIAS, 1991). O modelo operário italiano contribuiu para as mudanças na 
relação saúde versus trabalho, por meio do Estatuto dos Direitos dos Trabalhadores 
(1970), em que foram incorporadas as reivindicações dos trabalhadores ao corpo da lei. 
Dessa forma, surge um novo conceito de trabalho versus saúde, enquanto modelo 
participativo, em que: 
1. O trabalhador é sujeito de transformações do ambiente de trabalho; 
2. A epidemiologia estuda as questões sanitárias da massa de trabalhadores 
e não do indivíduo; e
3. O indivíduo agora é considerado ser holístico, traduzindo esse 
modelo quanto ao cuidado biopsicossocial, levando-se em conta os 
macrocondicionantes externos ao trabalho nos determinantes em saúde 
para o desenvolvimento de doenças e agravos relacionados ao trabalho 
(MATTOS; MÁSCULO, 2011; ANAMT, 2014). 
As ações vinculadas à relação saúde e trabalho são resultados de diferentes conceitos e 
práticas de diversas correntes que tentaram, ao longo de anos, trazer a hegemonia do 
conceito (conhecimento) para si. Esse modelo de análise nos permite conceber alguns 
conceitos de áreas específicas no campo da saúde e das normas (jurídico) segundo a 
sua abordagem em relação ao processo de trabalho, reflentindo-se em algumas áreas 
específicas, como a medicina do trabalho, saúde ocupacional e saúde do trabalhador 
(MATTOS; MÁSCULO, 2011).
20
UNIDADE I │ ASPECTOS GERAIS DA SAÚDE DO TRABALHADOR
A relação saúde, ambiente e trabalho
O homem é ao mesmo tempo criatura e criador do meio ambiente, que 
lhe dá sustento físico e lhe oferece a oportunidade de desenvolver-se 
intelectual, moral, social e espiritualmente (...) Natural ou criado pelo 
homem o meio ambiente é essencial para o bem-estar e para o gozo 
dos direitos humanos fundamentais, até mesmo o direito à própria vida 
(ONU, 1972).
Quaisquer ações do homem têm impacto sobre a natureza, sejam positivas ou 
negativas: a sua criticidade, determinada pela intensidade e a natureza do impacto, é 
equivalente à organização social e às atividades econômicas desenvolvidas pelo homem. 
Dentre alguns problemas apresentados por essa relação entre o homem e a natureza, 
ressaltam-se os ambientais, que incidem sobre a saúde. Em meados do século XIX, 
o intenso processo de industrialização e urbanização acelerou os efeitos do meio 
ambiente na saúde humana, acometendo as condições de vida e trabalho das populações 
(RADICHI; LEMOS, 2009).
É pacificado o entendimento dos cientistas e estudiosos do assunto acerca da 
existência de uma crise generalizada e profunda, insistentemente denominada 
por alguns deles como “crise da modernidade”. Um dos aspectos evidentes dessa 
crise diz respeito à questão ambiental. Depois de longa trajetória de crescimento, 
marcada pela infinita capacidade do desenvolvimento tecnológico em dar resposta 
aos problemas externos produzidos pelos processos produtivos, no início dos anos 
1970 do século passado, a economia contemporânea tem seus padrões de produção 
e consumo questionados (RADICHI; LEMOS, 2009).
Os problemas ambientais são decorrentes tanto da modernidade expansiva quanto do 
atraso e da pobreza: países pobres e ricos, ambientes aquáticos e terrestres, a atmosfera 
e as aglomerações urbanas, todos vivem as consequências (impactos) dos modos de 
produção e reprodução material criados pela e na modernidade.
Esses impactos ambientais gerados sobre a saúde humana podem se manifestar sob 
a forma de eventos agudos de grandes proporções, como os acidentes industriais 
ampliados – Seveso, Chernobyl, Bhopal, entre outros –, bem como o adoecimento 
em doses homeopáticas traduzido em mortes, cânceres, malformações congênitas e 
intoxicações crônicas geradas por contaminações ambientais devido à prolongada 
exposição a doses variadas de diferentes poluentes.
Desigualdades entre povos, países ou até mesmo regiões fazem com que muitos 
problemas ambientais atinjam populações mais pobres e marginalizadas pelo processo 
21
ASPECTOS GERAIS DA SAÚDE DO TRABALHADOR │ UNIDADE I
de desenvolvimento de forma diferenciada. Riscos ambientais modernos atingem com 
mais gravidade os “excluídos”, como aquelas pessoas que moram em áreas de risco 
como encostas, áreas de enchentes ou de poluição.
Os processos que mais consomem recursos naturais e os mais geradores de poluentes 
se caracterizam por processos de trabalho muito insalubres e perigosos e tenderiam a 
se localizar naqueles locais que apresentam legislações ambientais e trabalhistas mais 
flexíveis, onde a população (trabalhadores) esteja mais suscetível a aceitar precárias 
condições de vida e trabalho, bem como onde a desinformação é o canal mantenedor de 
injustiças ambientais (RIGOTTO, 2003).
Em nível de industrialização, essa desigualdade é traduzida enquanto “perigos 
tradicionais” como, por exemplo, a contaminação dos alimentos por organismos 
patógenos, a falta de acesso à água potável, saneamento básico deficitário em 
moradias e na comunidade pobres etc. Jáos “perigos modernos estão relacionados ao 
desenvolvimento rápido e ao consumo insustentável dos recursos naturais” (RIGOTTO, 
2003), que não levam em conta a proteção a saúde e o meio ambiente . 
Esses “perigos modernos” são oriundos de processos produtivos – particularmente os 
de natureza industrial –, nos moldes do padrão de consumo que o modo de produção 
capitalista impõe à sociedade bem como na indução da utilização de mão de obra 
das aglomerações urbanas, de forma a atender às necessidades de força de trabalho 
e infraestrutura. Seriam os perigos modernos a seguir: contaminação da água pelos 
núcleos de população, indústria e agricultura intensiva; contaminação do ar urbano 
pelas emissões de motores de veículos, centrais energéticas e indústria; acumulação de 
resíduos sólidos e perigosos etc. (RIGOTTO, 2003).
Para saber mais sobre injustiça ambiental e o mapa de conflitos atuais no Brasil, 
acesse o link a seguir. Disponível em: <http://www.conflitoambiental.icict.
fiocruz.br/>.
A alteração dos elementos do sistema cria desequilíbrio e, ao tender para o equilíbrio, 
pode significar benefício ou não para os seres humanos e/ou biológicos.
Segundo Rigotto (2003), reconhecer que este tema é complexo e demanda práticas 
inter e transdisciplinares de produção de conhecimento torna-se essencial à 
superação dos reducionismos por meio de uma ciência mais dirigida à identificação 
dos problemas e reconhecimento dos seus limites. Legitimando esse entendimento da 
autora, no mesmo sentido, as políticas intersetoriais e participativas devem ter ciência 
dessa dimensão complexa dos problemas ambientais. Reitera-se a necessidade de 
22
UNIDADE I │ ASPECTOS GERAIS DA SAÚDE DO TRABALHADOR
redelineamento e reorientação da função do setor de saúde diante do tema “ambiente”, 
na elaboração de um modelo mais amplo, fundamentado na promoção da saúde e na 
perspectiva ampliada de vigilância ema saúde – superando o modelo hegemônicoassistencial-sanitarista vigente (RADICCHI; LEMOS, 2009).
Segundo Rigotto (2003), um indivíduo é considerado exposto a um fator de risco 
quando existem vias de ingresso do fator ao organismo (inalação, ingestão, contato 
dérmico etc.). Nas situações de exposição a algum poluente, é estritamente necessário 
o conhecimento a respeito de: 
 » Toxicologia do contaminante, características como a capacidade de 
transformação, tempo de atividade no ambiente e vias ingresso no 
organismo, por exemplo; 
 » Grupo de pessoas exposto a esse poluente;
 » Local de exposição ao risco e fonte do mesmo; e
 » Tempo , intensidade e frequência de exposição das pessoas ao risco. 
Para a saúde ambiental, as evidências maiores são representadas pelos acidentes, 
doenças e outros agravos causados por condições do ambiente. Contudo, quanto às 
doenças e aos agravos, é complexo definir qual fator ambiental adverso interferiu 
diretamente na saúde de uma pessoa exposta. Esse fator deveria ser estudado. Essa 
situação é agravada quando a sintomatologia apresentada pelo exposto é inespecífica, 
podendo o quadro clínico ficar inalterado muito tempo após a fase inicial da exposição. 
Essa peculiaridade na saúde ambiental é latente nos estudos epidemiológicos, em que 
é comum a existência de casos suspeitos, que posteriormente podem ser confirmados 
ou não. Por isso a importância da vigilância em saúde e da valorização desses sinais 
e sintomas precoces dos agravos nos estudos epidemiológicos, uma vez que as ações 
de saúde nessa fase são mais efetivas e podem evitar o desenvolvimento completo do 
agravo (RADICCHI; LEMOS, 2009).
Nos anos 1990, a Organização Mundial da Saúde desenvolveu um “marco causa-efeito 
para a saúde e o ambiente”, voltado para a elaboração de indicadores de sustentabilidade 
ambiental pela Comissão de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas e pela 
Organização de Cooperação para o Desenvolvimento Econômico (OCDE). No campo 
das relações saúde-ambiente, Briggs, Corvalán e Nurminen, em 1996, construiram um 
amplo arcabouço de indicadores de saúde ambiental, incluindo temáticas afetas ao 
contexto sociodemográfico, às condições de saneamento básico, aos fatores de riscos 
23
ASPECTOS GERAIS DA SAÚDE DO TRABALHADOR │ UNIDADE I
ocupacionais, à segurança alimentar, à poluição do ar, entre outras, relacionado 
abaixo (RIGOTTO, 2003): 
 » Forças motrizes: são responsáveis pela criação das condições que 
podem desenvolver ou evitar distintas ameaças ambientais para a saúde. 
Estão assentadas nas políticas que estabelecem as linhas mestras do 
desenvolvimento econômico, tecnológico, dos padrões de consumo e do 
crescimento da população. São elas: população, urbanização, pobreza 
e desigualdade, avanços técnicos e científicos, pautas de produção e 
consumo, desenvolvimento econômico. Elas exercem... 
 » Pressões sobre o meio ambiente, como a superexploração, contaminação 
e desigualdade na distribuição da água; a urbanização; a disputa pela 
terra, a degradação do solo e as mudanças ambientais decorrentes do 
desenvolvimento agrícola; a industrialização que, embora traga melhores 
perspectivas, tem consequências desfavoráveis, como as emissões, os 
resíduos, a utilização de recursos naturais, os acidentes industriais 
maiores; a energia, em que o uso doméstico de biomassa e carvão 
ameaça a qualidade do ar em ambientes fechados; as centrais térmicas, 
as indústrias e os meios de transporte que usam combustíveis fósseis e 
contaminam o ambiente; e as hidrelétricas que provocam deslocamento 
de populações e causam mudanças ecológicas; além da energia nuclear. 
Essas pressões podem produzir mudanças no... 
 » Estado do meio ambiente, alterando a qualidade do ar ambiental urbano, 
contaminando o ar das moradias; expondo-o a radiações ionizantes; 
gerando resíduos domésticos; contaminando ou promovendo acesso 
desigual à água, ou facilitando a transmissão de doenças transmitidas por 
vetores relacionados à água; contaminando biológica ou quimicamente 
os alimentos; degradando o solo; trazendo problemas relacionados à 
habitação – escassez, confinamento, qualidade dos materiais; acidentes e 
lesões; trazendo exposições nos locais de trabalho e, finalmente, gerando 
mudanças ambientais de impacto global, como as mudanças climáticas, 
o esgotamento da camada de ozônio, a contaminação atmosférica 
transfronteiriça e o movimento dos resíduos perigosos; além do problema 
das exposições combinadas procedentes de distintas fontes. Para que esse 
estado alterado do ambiente exerça algum efeito sobre a saúde humana, 
entre outros fatores, tem que haver a... 
 » Exposição, enquanto interação entre o ser humano e o perigo ambiental. 
Dessa exposição vão resultar... 
24
UNIDADE I │ ASPECTOS GERAIS DA SAÚDE DO TRABALHADOR
 » Efeitos sobre a saúde, que variarão em intensidade, magnitude e tipo 
de acordo com a natureza do perigo, nível de exposição e número de 
afetados. Eles atuam junto com os fatores genéticos, a nutrição, os riscos 
ligados ao estilo de vida e outros fatores para provocar a doença. São eles: 
as infecções respiratórias agudas, as doenças diarreicas, as preveníveis 
por vacinação, as doenças tropicais transmitidas por vetores e as doenças 
emergentes, os acidentes e intoxicações – ocupacionais ou não –; as 
alterações de saúde mental relacionadas aos fatores físicos, químicos 
e psicossociais; as doenças cardiovasculares; o câncer – de origem 
ocupacional, por agentes infecciosos, por contaminantes do ar, da água 
ou dos alimentos, das radiações ionizantes e não ionizantes, ou dos fumos 
de tabaco –; as doenças respiratórias crônicas, alergias e problemas de 
saúde da reprodução (RIGOTTO, 2003).
Instrumentos para o estudo das relações 
produção-trabalho-ambiente-saúde – roteiro 
para estudo dos processos de trabalho em sua 
relação com o ambiente interno e externo às 
atividades produtivas
Ao longo desta unidade, verificou-se a intrínseca relação entre a saúde, ambiente e 
trabalho. A construção histórica de conceitos cruciais se desvelou em processos humanos 
impactantes no meio ambiente, bem como os efeitos desses processos na saúde humana, 
constituindo-se enquanto ciclo. Assim, não há que se falar de saúde do trabalhador sem 
vinculá-la à saúde ambiental e vice-versa. Mas como se poderia analisar os processos 
de trabalho, considerando o ambiente externo à fábrica? Para facilitar essa análise, 
Rigotto (2003) elaborou um estudo de processos de trabalho e sua relação com o meio 
ambiente, abrangendo os ambientes internos e externos às atividades produtivas. Este 
roteiro a seguir foi adaptado segundo diretrizes estabelecidas pela autora. 
a. Identificação da empresa: razão social, localização, ramo de 
atividades.
b. Instalação da empresa: área física, tipo de construção, ventilação 
e iluminação. Condições de conforto e higiene (refeitórios, instalações 
sanitárias e fornecimento de água potável, vestiário, transporte dentro 
da empresa).
c. Aspectos históricos da organização da empresa: origens da 
empresa e do capital, evolução, procedência, unidades, produção e 
mercado consumidor, matérias-primas, subprodutos e produtos finais.
25
ASPECTOS GERAIS DA SAÚDE DO TRABALHADOR │ UNIDADE I
d. Etapas do processo produtivo (fluxograma): descrever cada uma 
das etapas do processo de produção, materiais utilizados, ferramentas, 
máquinas, processos auxiliares ou paralelos bem como produtos finais, 
resíduos e subprodutos. 
e. Trabalhadores e relações de trabalho: procedência, distribuição 
por sexo, idade e etnia, escolaridade, treinamento para a função, critérios 
para seleção, formas de contrato de trabalho, remuneração, benefícios e 
jornada de trabalho.
f. Organização do trabalho: percepção do trabalhador sobre seu 
trabalho, grau de satisfação, mecanismos de controle do ritmo e da 
produção. Jornada diária, salário, pausas, horas extras, férias, contrato 
de trabalho, relacionamento com colegas e chefias. 
g. Condições ambientais de trabalho eatenção à saúde: riscos 
químicos, físicos, biológicos, ergonômicos, de acidentes; natureza, dose, 
fontes, momentos críticos; medidas de proteção individual e coletiva 
com adequação, manutenção, eficácia, uso efetivo de equipamentos ou 
remodelagem de processos; política de assistência médica, ações de 
segurança e saúde no trabalho; dados epidemiológicos sobre doenças e 
acidentes.
h. Relação com o meio ambiente: área: recursos físicos e espaço 
ocupado. Fonte e consumo de água, consumo de energia elétrica e 
de combustíveis. Poluentes da água: vazamentos de tanques, dutos, 
canalizações, válvulas, bacias, valas e canaletas; borras e lamas; efluentes 
líquidos; descarte de fluidos, saídas líquidas das estações de tratamento 
de esgotos e de despejos industriais (dimensionamento e adequação do 
tratamento). Poluentes do ar: produtos da combustão, gases combustíveis 
residuais, emanações de substâncias químicas (formas de captação 
e tratamento). Poluentes do solo: resíduos sólidos, aparas e sucatas, 
borras, cinzas e poeiras coletadas, embalagens utilizadas (tratamento 
e destinação). Geração de ruído. Transporte de matérias-primas e de 
produtos finais: eixos. Coletividades humanas concernidas: vizinhos e 
transeuntes.
a. Relações institucionais: com o município, o estado, os órgãos 
fiscalizadores do trabalho e do ambiente.
26
UNIDADE I │ ASPECTOS GERAIS DA SAÚDE DO TRABALHADOR
 » Ao final deste capítulo o aluno conseguirá definir:
 » A evolução histórica da saúde do trabalhador no mundo e Brasil;
 » A relação entre ambiente, saúde e trabalho; e
 » A análise preliminar dos processos produtivos e seus efeitos no 
ambiente.
27
CAPÍTULO 3
Saúde do trabalhador: o coletivo e o 
individual
Aspectos epidemiológicos em saúde do 
trabalhador 
A epidemiologia, como área moderna do conhecimento científico, foi fundamental para 
a elaboração de questões que permitiram a incorporação da relação ambiente-saúde, 
em termos atuais, no campo da saúde coletiva. Com a introdução das ciências sociais no 
campo da epidemiologia, o estudo com foco no indivíduo passou a ser na coletividade, 
possibilitando o debate com as categorias “população” ou “grupos populacionais” 
tradicionalmente adotadas pela epidemiologia (TAMBELINNI; CÂMARA, 1998).
Rigotto (2003) aborda que todo o perfil de adoecimento e morte de uma população 
poderia ser interpretado no contexto da relação sociedade-natureza, em que doença 
é sinal de alteração do equilíbrio homem-ambiente, produzida por transformações 
produtivas, territoriais, demográficas e culturais. E, segundo Tambelinni e Câmara 
(1998), a intromissão do homem nas coisas da natureza, ou por ela conservadas – 
ecossistemas –, cria condições de aparecimento e difusão de doenças causadas por 
agentes etiológicos biológicos, o que determinaria os fatores condicionantes de agravos e, 
consequentemente, de epidemias. 
Cada indivíduo tem uma resposta à exposição ambiental, que varia de acordo com a 
sua suscetibilidade condicionada por fatores relacionados à idade, estado nutricional, 
predisposição genética, estado geral de saúde, comportamento e estilo de vida, entre 
outros. Há o fator de que algumas doenças podem ter longo tempo de latência para se 
manifestar, a exemplo da silicose, que tem um percurso insidioso e prolongado.
O conhecimento das condições patológicas mais comumente observadas numa 
população é de grande relevância e interesse para gestores públicos e profissionais 
que atuam na promoção, prevenção e assistência em saúde. Os levantamentos 
epidemiológicos e o processamento de dados advindos de arquivos e sistemas de 
informação devem servir de base para o correto planejamento e elaboração de medidas 
de saúde contextualizadas às reais necessidades da população assistida. Nesse contexto, 
a epidemiologia ganha destaque como ferramenta útil e indispensável. 
28
UNIDADE I │ ASPECTOS GERAIS DA SAÚDE DO TRABALHADOR
A definição de exposição humana e de populações expostas é crucial para identificação 
das situações de risco (RADICCHI; LEMOS, 2009) e, principalmente, para orientar 
as ações de saúde relativas à gestão SST, definir o perfil de saúde e adoecimento dos 
trabalhadores, elaborar indicadores e estatísticas de saúde e acidentes de trabalho, 
entre outras. Para tanto, o conhecimento de epidemiologia é crucial para o devido 
acompanhamento dos trabalhadores, delineando-se estudos com metodologias 
adequadas a resultados palpáveis. 
Uma forte aliada da epidemiologia, como ferramenta de análise da associação do 
fator de risco ao agravo do trabalho, é a estatística. Ela é importante ferramenta 
para constatar a associação de variáveis de causa e efeito e, por conseguinte, a 
relação causal.
Os estudos epidemiológicos devem valorizar os sinais e sintomas precoces dos 
agravos, uma vez que as ações de saúde nessa fase são mais efetivas e podem evitar 
o desenvolvimento completo do agravo. Há muitas incertezas em estimar tanto as 
exposições como os efeitos e suas relações (RIGOTTO, 2003). Por outro lado, a reação 
adversa a um contaminante pode assumir várias formas que afloram, desde sinais 
mais simples como um desconforto físico ou psicológico, passando por alterações 
fisiológicas de difícil interpretação, doenças clínicas de intensidade variável, até a morte 
(RADICCHI; LEMOS, 2009). 
Segundo Rigotto (2003), algumas patologias podem ter largo tempo de latência para 
se manifestar. Não obstante os avanços na produção de conhecimento nas últimas 
décadas, principalmente no campo da epidemiologia, ainda tem-se muita incerteza 
no bojo das relações saúde-doença-ambiente, especialmente quando se é incisivo no 
estabelecimento das correlações ou na medição de impactos das condições do ambiente 
sobre a saúde.
Contudo, a sociedade em si – muito marcada pelo positivismo – sempre demandará 
evidências, valores, medições, avaliações quantitativas, em suma, números para 
justificar mudanças de prioridades ou do modo de agir, permitindo o monitoramento 
de níveis de poluição, estabelecer prioridades de acordo com os recursos disponíveis e 
com a relação custo-benefício de algumas ações (RIGOTTO, 2003). 
A consciência da importância da relação do trabalho com a saúde da população 
trabalhadora e não trabalhadora cresceu à medida que os profissionais da área de saúde 
do trabalhador e afins detiveram o conhecimento das tecnologias e metodologias para 
a avaliação e controle dos riscos originados a partir dos ambientes de trabalho. Essa 
é outra das razões que levou grupos de instituições de pesquisa e ensino a definirem 
29
ASPECTOS GERAIS DA SAÚDE DO TRABALHADOR │ UNIDADE I
seu campo de atuação de forma mais abrangente, sob a denominação de “Trabalho, 
Ambiente e Saúde”. Esse motivo vem fortalecendo o desenvolvimento de uma área 
técnica de intervenção nos serviços públicos sob a denominação de Saúde Ambiental 
dentro do Ministério da Saúde e de outras instituições de pesquisa, como a Fiocruz 
(TAMBELINNI; CÂMARA, 1998).
De forma a atender às demandas da sociedade, supracitadas, enquanto alternativa 
viável e tangente ao conhecimento e à detecção de qualquer mudança nos fatores 
determinantes e condicionantes do meio ambiente que interferem na saúde 
humana, veio a proposta do Sistema Nacional de Vigilância Ambiental em Saúde. Além 
da definição do escopo de atuação desse sistema, ele tem a finalidade de identificar 
as medidas de prevenção e controle dos fatores de risco ambientais relacionados às 
doenças ou a outros agravos (CÂMARA, 2005).
Vigilância em saúde 
A este respeito, acompanhe o seguinte trecho da revista Ciência e Saúde Coletiva:
O termo Vigilância tem sua origem nas ações de isolamento e quarentena 
no pós II Guerra Mundial, especialmente nos Estados Unidos da 
América (EUA) do período da Guerra Fria, o conceito de Vigilância 
esteve associado à ideia de “inteligência”, em razão dos riscos de guerra 
química e ou biológica. Nos EUA, a vigilância evoluiu, passando a 
significara ação coordenada para controle de doenças na população, 
constituída de monitoramento, avaliação, pesquisa e intervenção. 
No Brasil, até a década de 1950 do século passado, o conceito de 
Vigilância era compreendido como o conjunto de ações de observação 
sistemática sobre as doenças na comunidade, voltadas para medidas de 
controle. Somente a partir da década de 1960, essas ações ganham uma 
estruturação de programa, incorporando as medidas de intervenção. 
Desde então, essas ações foram estendidas ao controle da produção, 
do consumo de produtos e da fiscalização de serviços de saúde, sob a 
denominação de Vigilância Sanitária. 
As ações de controle sobre o meio ambiente relacionadas à saúde 
– como a vigilância da qualidade da água para o consumo humano 
– embora restritas, estiveram, até o final da década de 1990, 
subordinadas à Vigilância Sanitária. As ações de vigilância foram 
agrupadas em Vigilância Epidemiológica e Vigilância Sanitária, ambas 
30
UNIDADE I │ ASPECTOS GERAIS DA SAÚDE DO TRABALHADOR
com praticamente os mesmos objetivos: prevenir e controlar os riscos 
e agravos à saúde.
Foi apenas na década de 1980 que “a vigilância passou a ser apresentada 
mais claramente sob o ponto de vista de articulação com outras ações 
de saúde”. Os Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados 
Unidos (CDC), por exemplo, definiram esse novo sistema onde “as 
ações referentes aos dados coletados (coleta, análise e interpretação) 
se articulam à informação periódica como instrumento da prevenção”, 
o que implica uma ação de controle sobre os riscos ambientais para a 
saúde. 
Também no Brasil, somente em meados da década de 1980 é que são 
promovidas iniciativas para se instituir, no âmbito do setor Saúde, 
ações de Vigilância da Saúde do Trabalhador e do Meio Ambiente, 
de acordo com a Constituição de 1988 e a Lei Orgânica de Saúde de 
1990. Mas é a partir do ano 2000 que o Ministério da Saúde formula 
a denominada Vigilância Ambiental, onde “a vigilância ambiental em 
saúde se configura como um conjunto de ações que proporcionam 
o conhecimento e a detecção de qualquer mudança nos fatores 
determinantes e condicionantes do meio ambiente que interferem na 
saúde humana, com a finalidade de recomendar e adotar as medidas 
de prevenção e controle dos fatores de riscos e das doenças ou agravos 
relacionados à variável ambiental”. 
No novo enfoque a necessidade de monitorar o ambiente é decorrente 
do reconhecimento de que ele não é dado, mas está em permanente 
construção e transformação pela ação do homem e da própria natureza. 
Nos setores ambientais e do trabalho, adota-se o termo Monitorar, 
para o qual são utilizados indicadores quantitativos, geralmente. 
Entretanto, para a Vigilância em Saúde, sob a ótica da Saúde Coletiva, 
monitorar é mais do que um ato de medição instrumental. 
Uma nova compreensão da causalidade com a crescente importância 
de eventos e doenças não relacionadas com agentes biológicos 
transmissíveis, houve a exigência de agregar-se mais um nível de 
prevenção, ditado pelas condições social, econômica e cultural das 
populações que não podem mais ser reduzidas a um único agente 
causal. Para o qual, aliás, não haveria uma vacina ou antibiótico capaz 
de prevenir ou curar. Então, o foco das ações passou, obrigatoriamente, 
para as condições determinantes. 
31
ASPECTOS GERAIS DA SAÚDE DO TRABALHADOR │ UNIDADE I
Na investigação de um acidente de trabalho, o contexto é conformado 
pelas características do processo produtivo, política de recursos 
humanos, condições de vida do trabalhador; a causa, dependendo do 
tipo de acidente, pode ser uma prensa sem mecanismo protetor, a falta 
de manutenção de uma máquina, o vazamento de uma tubulação, um 
curto circuito, o piso irregular, o rompimento de um cabo etc. 
A Saúde Coletiva trouxe um novo enfoque para o entendimento 
do processo saúde-doença, visto como “algo em permanente 
transformação e que a (cuja) ação se dá em um meio que não é só 
reativo, mas sobretudo transformável.” A construção de um sistema de 
vigilância ambiental de interesse para a saúde requer que o contexto 
seja devidamente valorizado. Para tanto, não só as bases de dados 
oriundas de monitoramentos quantitativos são necessárias, como 
também devem ser integradas técnicas de avaliação de risco que 
incluam dados qualitativos. 
O Princípio da Precaução é outro conceito que deve servir de guia 
para a ação em vigilância ambiental, isto é, não se deve priorizar a 
ação apenas pela ocorrência de doenças e desastres ou acidentes, mas 
antecipar esses eventos pelo reconhecimento, anterior, dos riscos e dos 
contextos nocivos à saúde. O Princípio da Precaução foi desenvolvido 
na Alemanha, para justificar a intervenção regulamentadora e de 
restrição das descargas de poluição marinha – na ausência de provas 
consensuais quanto aos seus efeitos e danos ambientais. Esse princípio 
tem sido tomado como referência em outras áreas e caracteriza-se por 
requerer que as decisões acerca de processos industriais e produtos 
perigosos sejam deslocadas da ponta final do processo para a ponta 
inicial. Por essa razão, a promoção e a prevenção terão, necessariamente, 
que prevalecer no enfoque da vigilância ambiental. 
A Saúde Ambiental, assim proposta, integra as dimensões histórica, 
espacial e coletiva das situações, a partir de um compromisso ético com 
a qualidade de vida das populações e dos ecossistemas em questão. 
A necessidade de implementar ações de Vigilância em Saúde 
Ambiental e do Trabalhador (VISAT) é uma questão que surge 
desde que essa ação pública foi consignada na Constituição Federal 
de 1988 e, particularmente, ao longo da trajetória de construção 
da área da saúde do trabalhador no Brasil. É uma estratégia que 
visa ultrapassar a dimensão assistencial que prevalecia (e ainda 
32
UNIDADE I │ ASPECTOS GERAIS DA SAÚDE DO TRABALHADOR
prevalece em certa medida) nos primeiros programas de saúde 
do trabalhador, anteriores ao advento do Sistema Único de Saúde 
(SUS), e precursores dos Centros de Referência em Saúde do 
Trabalhador (CEREST). O foco principal dessas iniciativas era 
diagnosticar, orientar e acompanhar as doenças decorrentes do 
trabalho, com a perspectiva de criar condições para que a rede 
pública viesse a se constituir em instância efetiva para assistência à 
saúde dos trabalhadores, além de iniciar algumas ações de vigilância 
de acidentes de trabalho. 
Com a atuação da VISAT, voltada para a intervenção nos ambientes, 
processos e formas de organização do trabalho geradoras de agravos 
à saúde, passa-se a incorporar a dimensão preventiva da saúde do 
trabalhador. Ou seja, somente com ações interventoras de vigilância 
é possível interromper o ciclo de doença e morte no trabalho. Esta 
dimensão prevencionista de atenção à saúde cabe, principalmente, à 
Rede Nacional de Atenção Integral à Saúde do Trabalhador - RENAST, 
por meio dos CEREST, os seus núcleos executivos de ação efetiva. 
A VISAT é um componente do Sistema Nacional de Vigilância em 
Saúde que visa à promoção da saúde e à redução da morbimortalidade 
da população trabalhadora, por meio da integração de ações que 
intervenham nos agravos e seus determinantes decorrentes dos modelos 
de desenvolvimento e dos processos produtivos. 
Na Portaria no 1.823, de agosto de 2012, que instituiu a Política 
Nacional de Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora (PNSTT), consta 
como objetivo prioritário o fortalecimento da Vigilância em Saúde do 
Trabalhador. Coerente com a PNSTT, na agenda do Ministério da Saúde 
foi definido como prioridade fortalecer a VISAT e a sua integração com 
os demais componentes da Vigilância em Saúde, com vistas à promoção 
da saúde e de ambientes e processos de trabalho saudáveis. A partir daí, 
a proposta nacional de ação estratégica, estabelecida pela Secretaria de 
Vigilância em Saúde (SVS), foi intensificar as ações de vigilânciana 
área de saúde do trabalhador, tendo como meta ampliar o número de 
CEREST desenvolvendo essas ações, de modo que, até 2015, todos eles 
estejam realizando essas ações. Existe uma razoável produção de textos 
de VISAT, onde encontramos material detalhado sobre seu conceito 
e sua forma de ser. Parte desta produção diz respeito às diversas 
modalidades de VISAT, inclusive no trato com agravos específicos, caso 
dos vários tipos de acidentes, agrotóxicos, silicose, asbestose, benzeno, 
lesões por esforços repetitivos, entre outras.
33
ASPECTOS GERAIS DA SAÚDE DO TRABALHADOR │ UNIDADE I
É possível também observar algumas experiências de VISAT 
sobre determinados segmentos econômico-produtivos, caso dos 
ramos químico, petroquímico, siderúrgico, frigorífico, agronegócio 
(agroindústria), construção civil, transporte, elétrico, setor saúde e 
educação, e sobre determinados contextos socioeconômicos de grupos 
populacionais específicos, caso do trabalho infantil, trabalho informal 
e cooperativado, entre outros. 
Observamos, também, que existe uma base legal para a ação em VISAT 
dispersa em várias legislações nacionais, estaduais e municipais, a 
exemplo da Lei Orgânica da Saúde 8.080, da Portaria MS no 3.120, 
de 1 de julho de 1998, de nível federal e das constituições e códigos 
sanitários de vários entes estaduais e municipais. Entretanto, ao 
observarmos a VISAT numa perspectiva de ação pública coordenada, 
articulada e harmônica entre aqueles que vêm se esforçando para 
desenvolver suas ações, vemos o quanto ainda falta para afirmarmos 
que existe um sistema de Vigilância em Saúde do Trabalhador no Brasil, 
sob essa ótica. Apesar de serem muitas as iniciativas, são minoritários 
os casos em que se pode falar de implementação de ações sistemáticas 
de VISAT, isto sem contar que em muitos locais do país sequer elas 
existem (VASCONCELOS; GOMEZ; MACHADO, 2014) 
Este texto, sintético e simplificado em suas indagações e formulações, 
traz alguns elementos para discussão que poderão ser considerados 
na IV Conferência Nacional de Saúde do Trabalhador e da 
Trabalhadora (CNSTT), a ser realizada este ano, 2014, em Brasília, 
e também por todos aqueles que vêm de alguma forma contribuindo 
para o aprimoramento da VISAT no Brasil. Em síntese, nosso roteiro 
de discussão baseia-se nos seguintes tópicos: (1) o lugar de fala da 
VISAT – para passar do discurso à ação; (2) a formação de agentes de 
VISAT; (3) o resgate dos trabalhadores enquanto sujeitos da ação de 
VISAT; (4) as estratégias de articulação intersetorial com outras áreas 
do Estado; (5) o diálogo estruturante dos pares. (VASCONCELOS; 
GOMEZ; MACHADO, 2014)
Não se pode falar em integração de setores, de participação da comunidade 
ou de estruturação de um sistema de VISAT sem a matéria-prima básica: 
informação sobre saúde. E a disciplina básica que mais nos oferece meios para 
produzir as informações acerca da saúde da população é a epidemiologia 
(CÂMARA, 2005). 
34
UNIDADE I │ ASPECTOS GERAIS DA SAÚDE DO TRABALHADOR
O sistema de informação (SI) sobre acidentes e agravos do trabalho – em específico o 
SINAN – trata da constituição de “um conjunto de procedimentos organizados que, 
quando executados, proveem informação de suporte à organização” de serviços de 
saúde (BRASIL, 2004). A princípio, o propósito dos sistemas de informação a respeito 
de acidentes de trabalho é fornecer informações fidedignas sobre o impacto desses 
acidentes, seja pelas lesões provocadas, seja no tocante a aspectos associados às suas 
origens, o que pode ser usado como ferramenta de prevenção.
Segundo Freitag e Hale (BRASIL, 2004), os procedimentos relacionados a seguir visam 
facilitam ao usuário a melhor visualização e compreensão das fases de um SI, que inclui 
a seleção e análise de eventos em saúde: 
1. Detecção ou reconhecimento e registro dos eventos com criação de banco 
de dados. 
2. Seleção de eventos para análise aprofundada; análise e criação de 
banco de dados complementar.
3. Exploração dos bancos de dados e emissão de relatórios com descrição 
de aspectos identificados distribuídos no mínimo segundo características 
de pessoa, tempo e lugar, incluindo aspectos do processo causal dos 
acidentes. Sempre que possível, os dados serão distribuídos de modo a 
permitir visualização de sua evolução temporal. 
4. Interpretação, incluindo tentativa de reconhecimento de 
necessidades de saúde; padrões de processos causais; necessidades 
de aprimoramento da formação de pessoal; identificação, seleção de 
prioridades a serem abordadas e recomendações. 
5. Implementação e monitoramento das recomendações com avaliação 
de impacto de providências recomendadas e efetivamente adotadas e 
também de aspectos do próprio sistema. Isso significa avaliar aspectos 
como o tempo decorrido entre a ocorrência de agravos e sua detecção 
pelo sistema. Também implica em avaliação dos tipos e da proporção 
de eventos ocorridos que o sistema efetivamente detecta. Esse conjunto 
de medidas deve servir de fonte de retroalimentação do sistema, 
contribuindo para o seu aperfeiçoamento contínuo.
35
ASPECTOS GERAIS DA SAÚDE DO TRABALHADOR │ UNIDADE I
Quadro 1. Relação de alguns sistemas de informação (SI) da Vigilância em Saúde.
SIs importantes para a Vigilância:
SIAB: Sistema de Informações de Atenção Básica.
SIAMED: Sistema de Informações de Medicamentos.
SIA-SUS: Sistema de Informações Ambulatoriais de Saúde.
SIH/SUS: Sistema de Informações Hospitalares.
SIM: Sistema de Informação de Mortalidade.
SINAN: Sistema de Notificação de Agravos.
SINASC: Sistema de Informações de Nascidos Vivos.
SINITOX: Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas.
SISAGUA: Sistema de Inf. de Vigilância da Qualidade da Água para Consumo Humano.
Fonte: Próprio autor.
A Notificação Compulsória é obrigatória para os médicos, outros profissionais 
de saúde ou responsáveis pelos serviços públicos e privados de saúde, que 
prestam assistência ao paciente, em conformidade com o art. 8o da Lei no 
6.259, de 30 de outubro de 1975 (BRASIL, 1975), e deve ser realizada diante 
da suspeita diagnóstica ou confirmação de doença ou agravo, de acordo com 
o estabelecido no anexo da referida lei, observando-se, também, as normas 
técnicas estabelecidas pela Secretaria de Vigilância em Saúde/MS.
A relação das doenças e agravos monitorados por meio da estratégia de vigilância 
em unidades sentinelas e suas diretrizes constam na Portaria no 1.984, de 12 de 
setembro de 2014 (BRASIL, 2014), situação prevista no art. no 11, da Portaria anterior: 
“A relação das doenças e agravos monitorados por meio da estratégia de vigilância em 
unidades sentinelas e suas diretrizes constarão em ato específico do Ministro de Estado 
da Saúde”.
Monitorar indicadores-chave em unidades de saúde selecionadas (unidades 
sentinelas) que sirvam como alerta precoce para o sistema de vigilância é o objetivo 
da estratégia de vigilância sentinela. Ela se configura enquanto modelo de vigilância 
realizada a partir de estabelecimento de saúde estratégico para a vigilância de 
morbidade, mortalidade ou agentes etiológicos de interesse para a saúde pública, 
com participação facultativa, segundo norma técnica específica estabelecida pela 
Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS/MS). Para a VISAT, é nítido que os Centros 
de Referência em Saúde do Trabalhador (CERESTs) serão essas unidades sentinelas, 
servindo de apoio técnico a toda rede do SUS.
Os dados públicos adquiridos por meio dessas notificações serão divulgados pelas 
autoridades de saúde aos profissionais de saúde, órgãos de controle social e população 
em geral. Demais informações referentes aos canais de comunicação para notificação 
(endereço eletrônico oficial, o número de telefone, fax, endereço de e-mail institucional 
ou formulário para notificação compulsória) serão divulgadas pela SVS/MS, as 
secretarias de Saúde dos estados, do Distrito Federal e dos municípios. 
36
CAPÍTULO4
Anamnese Ocupacional
Na anamnese ocupacional, deve ficar evidente o que o(a) trabalhador(a) 
faz, como faz, com que produtos e instrumentos ele entra em contato, 
quanto faz, onde, em que condições e há quanto tempo faz (LUCCA, 
2012).
Segundo Lucca (2012), as doenças relacionadas ao trabalho, em sua maioria, apresentam 
quadro clínico similar ao das doenças comuns: estabelecer o nexo com o trabalho não é 
tarefa fácil, em especial para aquele profissional que não está habilitado ou habituado a 
relacionar as informações aos fatores de risco presentes no ambiente de trabalho com 
as atividades desenvolvidas pelo paciente trabalhador durante a sua anamnese clínica. 
A anamnese é fundamental porque objetiva tanto construir a história clínica-ocupacional 
completa quanto não se limitar à profissão do paciente, explorando sintomas, sinais 
clínicos e exames complementares.
Segundo diretrizes do Conselho Federal de Medicina (1998), alguns parâmetros devem 
ser considerados no estabelecimento de nexo causal, além do exame clínico (físico e 
mental) e dos exames complementares, quando necessários, deve o profissional de 
saúde considerar as seguintes informações:
1. O histórico clínico-ocupacional, primordial em qualquer diagnóstico e/
ou investigação de nexo causal; 
2. Conhecimento a respeito do local de trabalho e da organização do 
trabalho, incluindo a realização da atividade; 
3. As informações epidemiológicas da empresa e de grupos ocupacionais 
similares (homogêneos); 
4. A literatura atualizada; 
5. O aparecimento de quadro clínico ou subclínico em trabalhador exposto 
a condições agressivas; 
6. O reconhecimento de riscos físicos, químicos, biológicos, mecânicos, 
estressantes e outros; 
7. O relato de vida e a experiência dos trabalhadores; e
8. conhecimento e as práticas de outras disciplinas e de seus profissionais, 
sejam ou não da área da saúde. 
37
ASPECTOS GERAIS DA SAÚDE DO TRABALHADOR │ UNIDADE I
O objetivo é o de avaliar se as queixas e o quadro clínico possuem relação com as 
atividades de trabalho. O profissional deve considerar a multiplicidade de fatores 
envolvidos na determinação das doenças e, em especial, daquelas desencadeadas ou 
agravadas pelas condições em que o trabalho é realizado. 
Nesse sentido, é de fundamental importância valorizar o conhecimento e sentimentos 
dos pacientes sobre seu trabalho e os fatores de risco potencialmente causadores 
de doença. Em alguns casos, são de natureza química; em outros, intrinsecamente 
relacionados às formas de organização e gestão do trabalho ou mesmo da ausência de 
trabalho e, em muitos casos, decorrem de uma ação sinérgica desses fatores. 
Além do adoecimento que resulta da articulação de agravos que atingem a “população 
geral”, em função de sua idade, gênero, grupo social ou inserção em um grupo específico 
de risco, o trabalhador pode ter sua condição clínica agravada pelo trabalho. No entanto, 
o médico deve suspeitar de uma doença desencadeada ou agravada pelas condições de 
trabalho a partir da anamnese ocupacional, cujos componentes básicos incluem: 
 » análise detida das queixas que motivam a busca de atenção médica; 
 » a história ocupacional pregressa; 
 » a descrição detalhada do processo de trabalho no emprego atual ou do 
trabalho supostamente relacionado à doença sob investigação; e
 » as características da organização do trabalho do emprego atual ou do 
trabalho supostamente relacionado à doença sob investigação, além do 
compartilhamento de informações individuais e coletivas.
Durante a investigação das queixas, devem ser valorizadas as informações sobre o 
momento de surgimento dos sintomas e sua relação com o trabalho, exposição a 
agentes de risco específicos ou a realização de determinadas tarefas são fundamentais, 
verificando-se a relação temporal entre o surgimento de sinais e sintomas e a jornada 
de trabalho. Na mesma linha de atuação médica, o levantamento de informação quanto 
ao desaparecimento ou melhora de sintomas quando de finais de semana, feriados 
prolongados e férias pode fortalecer a hipótese de tratar-se de um agravo relacionado ao 
trabalho. A associação dos sintomas com mudanças recentes no ambiente ou processo 
de trabalho também deve ser investigada (LUCCA, 2012). 
A anamnese ocupacional tem que contemplar todos os riscos pelos quais o trabalhador 
está exposto, assim como avaliar as condições psicossociais desse trabalhador para 
realmente atingir o nível de prevenção adequado. Além disso, o profissional de saúde 
deve adotar uma postura ética para com o cliente interno e externo, preservando a 
38
UNIDADE I │ ASPECTOS GERAIS DA SAÚDE DO TRABALHADOR
identidade do trabalhador, acolhendo-o de forma humanizada, pois a origem de suas 
demandas ou queixas, em suma, está associada às angústias ou condições de vida, 
ora manifestadas por sintomas que traduzem o sofrimento na mente, no corpo ou 
insatisfação com o trabalho (LUCCA, 2012).
Por meio do Manual de Anamnese Ocupacional (2001), o Ministério da Saúde 
concebe um instrumento a ser utilizado nos Centros de Referência em Saúde 
do Trabalhador que compõem a Rede Nacional de Atenção Integral à Saúde do 
Trabalhador (RENAST), a Ficha de Resumo de Atendimento Ambulatorial em Saúde 
do Trabalhador (Firaast). Ela foi elaborada ainda como instrumento passível de 
utilização como prontuário eletrônico e de informatização a partir das experiências 
dos CEREST/MG, CEREST/BH e CEREST/Contagem.
Essa ficha foi criada enquanto instrumento epidemiológico que contribui para 
conhecimento, investigação, sistematização, padronização e intercambiação de dados 
e informações úteis ao planejamento em saúde, à capacitação de recursos humanos, ao 
atendimento, à vigilância, à avaliação de serviços de saúde do trabalhador e à divulgação 
pública mais ampliada (PINHEIRO et al., 1993), por meio dos Sistemas de Informação 
em Saúde componentes do SUS. O manual explicita todos os itens necessários na ficha 
de consulta e de retorno, sendo um norteador importante para aqueles serviços que 
ainda não dispõem de instrumentos validados para o atendimento em SST. 
Importante atentar para o Manual de Anamnese Ocupacional (2006a), lá você vai 
encontrar perguntas-chave para a investigação de agravos em ST em seu serviço 
de saúde.
39
CAPÍTULO 5
Agravos à saúde relacionados ao 
trabalho e ao ambiente
Para Rigotto (2003), a ocorrência de acidentes e doenças ocupacionais é oriunda de 
novas tecnologias e novas relações de trabalho. Estas por sua vez trazem novos valores, 
novos hábitos e introduzem novos riscos tecnológicos, de natureza física, química, 
biológica, mecânica, ergonômica e psíquica, que interferem na saúde humana no 
ambiente de trabalho. 
O acidente tem o caráter de um evento agudo, que causa lesão corporal ou perturbação 
funcional temporária ou permanente, como seria o caso de uma amputação de dedos ou 
de uma intoxicação aguda por agrotóxico, ou mesmo dos acidentes ocorridos no trajeto 
do trabalhador entre sua residência e o local de trabalho, seguindo ao que se define 
como: 
Todo evento súbito ocorrido no exercício de atividade laboral, 
independentemente da situação empregatícia e previdenciária do 
trabalhador acidentado, e que acarreta dano à saúde, potencial ou 
imediato, provocando lesão corporal ou perturbação funcional que 
causa, direta ou indiretamente (concausa) a morte, ou a perda ou 
redução, permanente ou temporária, da capacidade para o trabalho. 
Inclui-se ainda o acidente ocorrido em qualquer situação em que o 
trabalhador esteja representando os interesses da empresa ou agindo 
em defesa de seu patrimônio; assim como aquele ocorrido no trajeto da 
residência para o trabalho ou vice-versa (BRASIL, 2006d). 
Devido ao seu expressivo impacto na morbimortalidade da população, os acidentes 
constituem-se em importante problema de saúde pública e objeto prioritário das ações 
do SUS, que, em conjunto com outros segmentos dos serviços públicos e da sociedade 
civil, devem continuar a buscar

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