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Prévia do material em texto

Bioética e Pesquisa 
Marcela Santos Procópio
Bioética e Pesquisa 
2
Introdução
Olá, pessoal! Bem-vindos a mais um importante conteúdo de estudos de Bioética!
A partir de agora nossos olhares serão voltados para a bioética e para a pesquisa, 
buscando compreender os embasamentos éticos e jurídicos que envolvem este 
importante e amplo campo de estudos.
Vamos aprofundar nossos conhecimentos acerca das realizações de pesquisas que 
ocorrem tanto em seres humanos, quanto em animais, compreender quais são os 
limites para esses experimentos e de que forma eles ocorrem.
Fiquem atentos para descobrir ainda mais sobre esses importantes assuntos que 
podem ser tema de grandes debates para a atualidade!
Bons estudos!
Objetivos da Aprendizagem
• Compreender os aspectos éticos e jurídicos que envolvem a realização de 
pesquisas envolvendo seres humanos. 
• Compreender os aspectos éticos e jurídicos que envolvem a realização de 
pesquisas envolvendo a experimentação animal.
3
Bioética e pesquisa com seres humanos
Contexto histórico e abordagem dos documentos básicos de 
ética em pesquisa: Código de Nuremberg, Declaração de 
Helsinque e Relatório Belmont
A bioética, como temática de estudo e ciência qualitativa na área da filosofia, direito 
e saúde, tem o seu início no Brasil durante a década de 1990. Isso se decorreu no 
contexto da redemocratização do país, em que se observou o aumento do debate 
sobre direitos individuais, sociais, e também as questões de ética em saúde pública.
Ao falar de ética na medicina ou em pesquisa com seres humanos temos que 
recuperar alguns fatos que marcaram a história e deram início à regulamentação da 
experimentação com humanos. Dentre os documentos básicos sobre a ética podemos 
citar o Código de Nuremberg, a Declaração de Helsinque e o Relatório Belmont, que 
iremos explorar adiante.
O Tribunal de Nuremberg, em 9 de dezembro de 1946, julgou vinte e três pessoas, vinte 
das quais, médicos que foram considerados criminosos de guerra, pelos experimentos 
realizados em seres humanos, durante a Segunda Guerra Mundial. Em 19 de agosto de 
1947, as sentenças foram divulgadas, e sete pessoas foram acusadas e condenados 
à morte. Com a sentença, também foi publicado um documento que ficou conhecido 
como Código de Nuremberg. Esse documento tornou-se um marco na história da 
humanidade que, pela primeira vez, estabeleceu-se um conjunto de recomendações 
internacionais sobre os aspectos éticos envolvidos na pesquisa em seres humanos.
Figura 1 – Assento dos réus durante o julgamento de Nuremberg.
Fonte: Wikicommons (2020).
#PraCegoVer: Fotografia colorida de uma vista superior do banco de réus do 
tribunal de Nuremberg.
4
O documento estabelece que um indivíduo dotado de plena capacidade de tomada de 
decisões precisa ter os seus desejos respeitados. O pesquisador, por sua vez, deve 
proteger os interesses do seu paciente.
Além disso, o Código de Nuremberg (SHUSTER, 1997), aborda outros princípios, que 
podem ser observados abaixo:
1. O consentimento voluntário do ser humano é absolutamente essencial.
2. O experimento deve ser tal que produza resultados vantajosos para a 
sociedade, que não possam ser buscados por outros métodos de estudo, 
mas não podem ser feitos de maneira casuística ou desnecessariamente.
3. O experimento deve ser baseado em resultados de experimentação com 
animais e no conhecimento da evolução da doença ou outros problemas em 
estudo; dessa maneira, os resultados já conhecidos justificam a condição 
do experimento.
4. O experimento deve ser conduzido de maneira a evitar todo sofrimento e 
danos desnecessários, quer físicos, quer mentais.
5. Não deve ser conduzido nenhum experimento quando existirem razões para 
acreditar que possa ocorrer morte ou invalidez permanente; exceto, talvez, 
quando o próprio médico pesquisador se submeter ao experimento.
6. O grau de risco aceitável deve ser limitado pela importância do problema 
que o pesquisador se propõe resolver.
7. Devem ser tomados cuidados especiais para proteger o participante do 
experimento de qualquer possibilidade de dano, invalidez ou morte, mesmo 
que remota.
8. O experimento deve ser conduzido apenas por pessoas cientificamente 
qualificadas.
9. O participante do experimento deve ter a liberdade de retirar-se no decorrer 
do experimento.
10. O pesquisador deve estar preparado para suspender os procedimentos 
experimentais em qualquer estágio, se ele tiver motivos razoáveis para 
acreditar que a continuação do experimento provavelmente causará danos, 
invalidez ou morte para os participantes.
Infelizmente o Código de Nuremberg não obteve tanto sucesso quanto esperado. 
A mídia não deu a devida atenção ao assunto e os médicos e cientistas acharam 
que este código somente se aplicava aos condenados pelos crimes que ocorreram 
durante a Segunda Guerra Mundial. Então até a década de 1970, os aspectos éticos 
em torno da pesquisa clínica com seres humanos ainda eram muito negligenciados 
(DINIZ; CORRÊA, 2001).
5
[...] o julgamento dos médicos nazistas em Nuremberg recebeu pouca 
cobertura da imprensa e, antes da década de 70, o próprio código 
raramente era citado ou discutido nas revistas médicas. Pesquisadores e 
clínicos americanos aparentemente consideravam Nuremberg irrelevante 
para seu próprio trabalho [...] (ROTHMAN, 1991, p. 62).
Em 1964, a Associação Médica Mundial (AMM), um órgão regulador das associações 
médicas internacionais, publicou a Declaração de Helsinque, um documento que não 
possui poderes legais ou normativos, mas que, pelo consenso conquistado, é uma 
referência ética importante para a regulamentação de pesquisas médicas envolvendo 
seres humanos (DINIZ, 2005).
A declaração de Helsinque traz em seu conteúdo alguns princípios a serem 
considerados ao conduzir uma pesquisa com seres humanos. Tendo 12 princípios, 
em resumo, o documento preza em primeiro lugar que a pesquisa biomédica deve 
seguir uma hierarquia de ensaios, in vitro, in vivo e depois translacionar para humanos. 
Somente profissionais cientificamente treinados devem conduzir pesquisas com 
humanos. Em qualquer pesquisa com seres humanos, cada participante em potencial 
deve ser adequadamente informado sobre os objetivos, métodos, benefícios previstos 
e potenciais perigos e incômodos que o experimento possa acarretar. Deve ser 
informado de que é livre para retirar seu consentimento em participar, a qualquer 
momento (AMM,1964).
Para acessar a Declaração de Helsinque na íntegra e ver as suas 
modificações, desde a primeira publicação, acesse o link aqui.
Saiba mais
Como abordado anteriormente, o Relatório Belmont foi essencial para o desenvolvimento 
da bioética mundial (LEONE; PRIVITERA; CUNHA, 2001). Publicado por Van Potter em 
1978, esse relatório tinha como objetivo analisar princípios ético básicos que possam 
nortear pesquisas com seres humanos e desenvolver protocolos técnicos, garantindo 
que a pesquisa seja administrada e aplicada diante tais princípios. Dentre os princípios 
citados no relatório devemos citar os quatro mais importantes: Respeito à autonomia, 
beneficência, justiça e não maleficência (BEAUCHAMP; CHILDRESS, 2002).
6
O princípio da autonomia
O indivíduo, desde que com plena capacidade e consciência, possui o direito de 
decidir sobre as questões relacionadas ao seu corpo e à sua vida. Quaisquer 
atos médicos devem ser autorizados pelo paciente, ou em alguns casos pelo 
responsável legal.
O princípio da beneficência
Diz respeito à obrigação ética de prevalecer o benefício em detrimento ao 
prejuízo. Dessa forma, o pesquisador ou médico necessita sempre prezar pela 
preservação da saúde do paciente.
O princípio da não-maleficência
Tem por objetivo reduzir ao máximo os danos causados à saúde e a moral dos 
indivíduos.
O princípio da justiça
Tem por finalidade garantir a equidade. A obrigação ética de tratar cada 
indivíduo com o que é moralmente adequado, oferecer o que é necessário 
dentro da individualidade do paciente. O profissionalda saúde deve atuar de 
forma imparcial.
Aspectos conceituais sobre os tipos de pesquisa 
em seres humanos
A pesquisa científica pode ser definida como uma classe de atividades cujo objetivo 
é desenvolver ou contribuir para o conhecimento generalizável. O conhecimento 
generalizável consiste em teorias, relações ou princípios ou no acúmulo de informações 
sobre as quais estão baseados, que possam ser corroborados por métodos científicos 
aceitos de observação e inferência (Resolução 196/96 item II).
7
Figura 2 – Pesquisa científica.
Fonte: Plataforma Deduca (2021).
#PraCegoVer: Imagem de um homem com jaleco branco, representando um 
cientista, manuseando equipamentos de laboratório, caracterizando a pesquisa 
científica.
Podemos citar três que são muito frequentes na área da saúde: pesquisas 
epidemiológicas, pesquisas de comportamento, atitudes e crenças e os testes de 
novos remédios e procedimentos.
8
Pesquisas Epidemiológicas
São estudos que têm como objetivo a produção do conhecimento sobre as 
características dos agravos de saúde na população. Geralmente utilizam dados 
secundários, tais como documentos, declarações de óbito, fichas produzidas 
pelos próprios serviços de saúde, prontuários médicos, ou até mesmo artigos 
publicados em revistas científicas.
Pesquisa sobre comportamento, atitudes e crenças
Buscam entender a maneira como as pessoas vivem, como agem e o que 
pensam sobre determinada temática, que seria o objeto do estudo. O contato 
entre a equipe de pesquisa e os participantes ocorre por meio de entrevistas, 
grupos de discussão ou questionários.
Testes de novos remédios e procedimentos
Esses estudos são pagos frequentemente pelos laboratórios farmacêuticos, 
que possuem como objetivo a testagem de novos medicamentos. Nessas 
pesquisas, a equipe de profissionais possui contato com os participantes que, 
geralmente, passam por procedimentos médicos e laboratoriais, antes e após a 
utilização do novo medicamento, para avaliar o efeito da substância.
A epidemiologia contribui com o desenvolvimento de diferentes metodologias 
de pesquisa, com a finalidade de responder a perguntas clínicas. O conhecimento 
adequado desses delineamentos de pesquisa é fundamental no planejamento de 
uma pesquisa, e também na leitura e na interpretação dos estudos, para as quais 
recomendamos revisões recentes sobre o assunto (BUEHLER; et al., 2009)
9
De acordo com Nedel e Silveira, 2009, podemos classificar os estudos epidemiológicos 
das seguintes formas:
Ensaio clínico randomizado (ECR)
Estudo intervencionista e prospectivo. Os participantes devem ter a mesma 
oportunidade de receber, ou não, a intervenção proposta e esses grupos devem 
ser os mais parecidos possíveis, de forma que a única diferença entre eles seja 
a intervenção em si, podendo-se, assim, avaliar o impacto na ocorrência do 
desfecho em um grupo sobre o outro. É o padrão de excelência em estudos 
que pretendem avaliar o efeito de uma intervenção no curso de uma situação 
clínica.
Ensaio clínico não randomizado (quase experimental)
Neste tipo de estudo há um grupo intervenção e um grupo controle, mas a 
designação dos participantes para cada grupo não se dá de forma aleatória, 
como no ECR, mas conveniência do pesquisador.
Estudos de prevalência (transversais)
As mensurações dos fatores de risco e dos desfechos analisados ocorrem em 
um mesmo momento, concomitantemente, não podendo inferir no que veio 
primeiro (exposição ou desfecho).
Caso-controle
Observacional, longitudinal e retrospectivo. Seleciona-se uma população com 
determinado desfecho de interesse (casos) e outra, semelhante ao primeiro 
grupo, sem o desfecho de interesse (controles). Comparando-se os dois 
grupos, avaliam-se os fatores que poderiam estar relacionados à ocorrência do 
desfecho pesquisado.
Estudos de coorte
Observacional longitudinal, prospectivo ou retrospectivo. Selecionam-
se populações exposta e não exposta a determinado fator, fazendo seu 
acompanhamento por um determinado período de tempo, ao final do qual deve 
ser analisado o efeito do fator de exposição no aparecimento do desfecho.
10
Revisão sistemática com metanálise
O objeto de análise deixa de ser os pacientes e passa a ser as pesquisas já 
realizadas anteriormente sobre determinado objeto de pesquisa. Os trabalhos 
originais publicados na literatura são revisados e selecionados de maneira 
sistemática, e os resultados deles podem ser sumarizados sob um único 
parâmetro de magnitude de efeito (a metanálise).
Aspectos jurídicos nacionais e internacionais em 
relação às pesquisas com seres humanos
Um dos vários modelos utilizados em Bioética é o modelo principialista. Este serve 
de fundamentação à vários documentos internacionais e, no Brasil, à Resolução 
196/96 do Conselho Nacional de Saúde (CNS), que regulamenta a pesquisa em seres 
humanos no país.
Essa é a resolução que dá as diretrizes e normas reguladoras para pesquisa com 
seres humanos no Brasil. Ela foi elaborada por um grupo de pessoas com diferentes 
profissões, inclusive com representantes de usuários. É neste documento que está 
descrito o funcionamento da Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP), 
dos Comitês de Ética em Pesquisa (CEP) e os princípios que devem ser respeitados 
em todas as pesquisas que envolvem seres humanos (BRASIL. Ministério da Saúde. 
Conselho Nacional de Saúde. Resolução n. 196, de 10 out. 1996).
Além da Resolução 196/96, o Conselho Nacional de Saúde aprovou as seguintes 
resoluções complementares:
Quer ter acesso integral à resolução nº. 196/96? Acesse aqui o link.
Saiba mais
11
Resolução CNS n. 240, de 5 de junho de 1997
Considerando a necessidade de definição do termo “usuários” para efeito de 
participação nos comitês de ética em pesquisa das instituições.
Resolução CNS n. 251, de 7 de agosto de 1997
Aprova normas de pesquisa envolvendo seres humanos para a área temática de 
pesquisa com novos fármacos, medicamentos, vacinas e testes diagnóstico.
Resolução CNS n. 292, de 8 de julho de 1999
Pesquisas coordenadas do exterior ou com participação estrangeira e pesquisas 
que envolvam remessa de material biológico para o exterior.
Resolução n. 301, de 16 de março de 2000
Contempla o posicionamento do CNS e CONEP contrário a modificações da 
Declaração de Helsinque.
Resolução CNS n. 303, de 6 de junho de 2000
Reprodução humana.
Resolução CNS n. 304, de 9 de agosto de 2000
Populações indígenas. Resolução CNS n. 340, de 8 de julho de 2004 – Diretrizes 
para a Análise Ética e Tramitação do Projetos de Pesquisa da Área Temática 
Especial de Genética humana.
Resolução CNS n. 346, de 13 de janeiro de 2005
tramitação de projetos de pesquisa multicêntricos no sistema Comitês de Ética 
em Pesquisa (CEPs) e (CONEP).
12
Resolução CNS n. 347, de 13 de janeiro de 2005
Aprova as diretrizes para análise ética de projetos de pesquisa que envolva 
armazenamento de materiais ou uso de materiais armazenados em pesquisas 
anteriores.
Resolução CNS n. 370, de 8 de março de 2007
O registro e credenciamento ou renovação de registro e credenciamento do CEP.
Resolução CNS n.404, de 1 de agosto de 2008
Declaração de Helsinque.
Resolução CNS n.421, de 18 de junho de 2009
Reestrutura a composição da Comissão Nacional de Ética em 
Pesquisa – CONEP.
Por mais de uma década a resolução196/96 do Conselho Nacional de Saúde (CSN) foi 
o Norte para a bioética na saúde e condução de ensaios clínicos no Brasil. Porém em 
12 de setembro de 2011, por meio de coletas de sugestões via eletrônica e correios a 
resolução sofreu modificações. As sugestões em questão foram submetidas a uma 
análise técnica no Encontro Nacional dos Comitês de Ética em pesquisa (ENCEP), que 
posteriormente enviaram suas considerações ao CSN. O Conselho Nacional de Saúde, 
em reunião em plenário, decidiu pela revogação das resoluções 196/96, 303/2000 e 
404/2008. Isso ocorreu no dia 12 de setembro de 2012. Todas as resoluções revogadas 
foram substituídas pela nova resolução n.466, que entrouem vigor a partir de 13 de 
junho de 2013.
O recente documento tem um caráter mais ético pois leva em consideração os 
princípios básicos da bioética como o respeito a autonomia, justiça, beneficência e não 
maleficência. Com isso deu-se a entender e a garantir os deveres que a comunidade 
científica tem para com a sociedade e com os participantes de pesquisa.
Saiba Mais
Quer ter acesso a integral à reso-
lução n. 466/12 e explorar mais 
o seu conteúdo? Acesse o link 
aqui.
13
Bioética e pesquisa com animais
Contexto histórico
Investigações na área da saúde tem embasamento teórico nos pensamentos de 
Hipócrates (450 a.C.), Aristóteles (384-322 a.C.) e Galeno (201-131 a.C.) precursores 
da análise entre órgão de humanos e animais. Talvez a primeira pesquisa científica 
foi desenvolvida por William Harvey publicada em 1638 que diz respeito a circulação 
sanguínea em mais de 80 espécies (RAYMUNDO; GOLDIM, 2006).
Figura 3 – Busto de Aristóteles.
Fonte: Wikicommons (2020).
#PraCegoVer: Cópia romana do busto de Aristóteles esculpido por Líspio, artis-
ta grego do século IV a.C.
A utilização de modelos animais na ciência possibilitou muitos avanços na área 
biomédica. Por muitos anos pouco se questionou sobre a ética em experimentação 
animal, que até então eram usados de forma indiscriminada.
No século XIX surgiram os primeiros movimentos organizados em favor dos direitos 
dos animais. A Inglaterra foi pioneira em regulamentar o uso de animais em pesquisas 
científicas (RAYMUNDO; GOLDIM, 2006). O conhecido British Cruelty Animal Act, 
que ocorreu em 1876, resultou em uma emenda complementar na Lei relacionada 
a crueldade aos animais, incluindo o capítulo 77, que regulamentava os aspectos 
éticos a serem considerado na utilização de animais para a experimentação médica, 
fisiológica ou científica. O trecho da lei britânica pode ser observado na figura a seguir:
14
Figura 4 – British Cruelty Animal Act.
Fonte: UK Public General Acts (1876).
#PraCegoVer: Imagem do capítulo 77 da lei sobre crueldade aos animais que 
regulamentava os aspectos éticos a serem considerado na utilização de ani-
mais para a experimentação médica, fisiológica ou científica.
O princípio dos 3Rs (do inglês: Replacement, Reduction and Refinement), criado por 
Russell and Burch em 1959 tem como premissa uma pesquisa humanitária para os 
animais. Com o passar dos anos, estes princípios foram incorporados em algumas 
leis que regulamentam a utilização de animais para pesquisa científica. Os princípios 
dos 3Rs são a substituição, redução e refinamento, e as suas definições podem ser 
observadas a seguir.
15
1 Replacement
Pode ser traduzido como substituição. Propor uma alternativa a experimentação 
animal, ou seja, se houver possibilidade substituir o uso de animais por outra 
ferramenta.
2 Reduction
sendo traduzido como redução. O pesquisador deve utilizar um método que 
reduza o número de animais usados em experimentos ou pesquisas, permitindo, 
porém, que permita os pesquisadores obter um nível comparável de informações 
de um número menor de animais.
3 Refinement
com tradução literal para refinamento. Métodos para minimizar a dor, tortura, 
sofrimento ou danos duradouros que um animal pode sofrer. O refinamento 
se aplica a todos os aspectos do uso de animais, incluindo alojamento e 
criação para procedimentos científicos. Exemplos perfeitos incluem o uso de 
anestésicos e analgésicos adequados para evitar o estresse.
A discussão sobre o uso de animais em experimentação volta em 1975 quando Peter Singer 
publica o livro Animal Libertation. O autor cita que a justificativa dos que utilizam animais 
em pesquisa e dos que aceitam essa prática consiste que os resultados provenientes de 
um estudo podem auxiliar no avanço e entendimento das questões humanas.
Figura 5 – Peter Singer.
Fonte: Wikicommons (2020).
#PraCegoVer: Fotografia do filósofo e autor da obra Animal Libertation.
16
Aspectos jurídicos nacionais
No Brasil não havia legislação específica que tratasse da experimentação com animal. 
A primeira norma brasileira sobre animais foi o Decreto n. 16.590, de 1924, baseado 
nas normas de países europeus.
A primeira lei brasileira a tratar de experimentação animal, Lei n. 6.638 foi publicada 
em 1979 e estabeleceu normas para a prática de ensino e científica da dissecação de 
animal vivo. Biotérios e centros de experiências deveriam ser registrados. No entanto, 
apesar de previsão de regulamentação em 90 dias pelo Poder Executivo, que não 
ocorreu, o que resultou na não efetividade da norma.
A Constituição Federal da República Federativa do Brasi l 1988 tem seu fundamento 
na dignidade da pessoa humana, trazendo como direito difuso o meio ambiente 
ecologicamente equilibrado. Especificamente o artigo 225, §1º, V I I dispõe que 
todos t êm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso 
comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público 
e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras 
gerações. E para assegurar a efetividade desse direito incumbe ao Poder Público, 
proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que coloquem em 
risco sua função ecológica, provoquem a extinção de espécies ou submetam os 
animais à crueldade.
Para entender melhor como os cientistas aplicam a ética na 
experimentação animal, assista ao vídeo, clicando aqui.
Saiba mais
Somente após 10 anos da promulgação da constituição de 88 foi publicada a Lei de 
Crime Ambiental (Lei n. 9.605/98) que trouxe como causa de agravamento de pena se o 
crime for praticado com emprego de métodos cruéis para abate ou captura de animais. 
Criminalizando por meio dos artigos 31 e 32 as condutas: introduzir espécimes no País 
sem parecer técnico e licença; praticar abuso, maus tratos, experiência dolorosa ou 
cruel em animais vivos, ainda que para fins didáticos ou científicos, quando existirem 
recursos alternativos.
O marco regulatório da experimentação animal no Brasil aconteceu com a publicação 
da lei Arouca (n. 11.794/2008), que regulamentou o inciso VII do §1º do Art. 225 da 
17
Constituição Federal. Essa lei estabeleceu os procedimentos para uso científico de 
animais em atividade de ensino e pesquisa. Além disso, criou o Conselho Nacional 
de Controle de Experimentação Animal (CONCEA) e as Comissões de Ética no Uso 
de Animais (CEUAs). Os direitos e deveres das Comissões de Ética em animais está 
determinado no artigo 5º da lei Arouca, conforme descrito a seguir.
I
Formular e zelar pelo cumprimento das normas relativas à utilização humanitária 
de animais com finalidade de ensino e pesquisa científica;
II
Credenciar instituições para criação ou utilização de animais em ensino e 
pesquisa científica;
III
Monitorar e avaliar a introdução de técnicas alternativas que substituam a 
utilização de animais em ensino e pesquisa;
IV
Estabelecer e rever, periodicamente, as normas para uso e cuidados com animais 
para ensino e pesquisa, em consonância com as convenções internacionais 
das quais o Brasil seja signatário;
V
Estabelecer e rever, periodicamente, normas técnicas para instalação e 
funcionamento de centros de criação, de biotérios e de laboratórios de 
experimentação animal, bem como sobre as condições de trabalho em tais 
instalações;
VI
Estabelecer e rever, periodicamente, normas para credenciamento de instituições 
que criem ou utilizem animais para ensino e pesquisa;
18
VII
Manter cadastro atualizado dos procedimentos de ensino e pesquisa realizados 
ou em andamento no País, assim como dos pesquisadores, a partir de 
informações remetidas pelas Comissões de Ética no Uso de Animais (CEUAs), 
de que trata o art. 8o desta Lei;
VIII
Apreciar e decidir recursos interpostos contra decisões das CEUAs;
IX
Elaborar e submeter ao Ministro de Estado da Ciência e Tecnologia, para 
aprovação, o seu regimento interno;
X
Assessorar o Poder Executivo a respeito das atividades de ensino e pesquisa 
tratadasnesta Lei.
19
Conclusão
A partir da leitura proposta e levando em consideração todo o conteúdo discutido, 
pode-se concluir que o respeito à vida e o respeito às pessoas devem prevalecer 
em todas as esferas, e as pesquisas científicas envolvendo seres humanos devem 
basear-se na justiça. Isso também é benéfico porque é injusto permitir que certas 
categorias de pessoas (minorias étnicas, prisioneiros, pacientes, etc.) aceitem 
pesquisas simplesmente por causa de sua vulnerabilidade, fácil acesso ou porque são 
mais fáceis de manipular. O uso racional de seres humanos para pesquisas científicas 
baseia-se na avaliação cuidadosa da relação risco / benefício, que está intimamente 
relacionada a cada princípio estudado.
Os benefícios do uso de animais em pesquisas são inegáveis. Porém, para solucionar 
os problemas relacionados à condução dessas pesquisas, é eficaz adotar e seguir 
os princípios éticos e, por fim, refletir sobre a validade dos resultados. Combinar os 
três princípios “R” no estágio de planejamento da pesquisa animal pode disseminar 
melhor os padrões comportamentais dos experimentos com animais na comunidade 
científica e para toda a sociedade.
Cada país é responsável por regulamentar as leis que orientam o uso de animais 
em pesquisas, contanto que estejam em consonância com os padrões científicos 
internacionais. No Brasil, a regulamentação final nessa área ainda em fase de 
elaboração, o que dificulta a padronização de procedimentos e, principalmente, retarda 
o cumprimento das normas (e legislações) éticas na pesquisa animal. 
20
Referências
BEAUCHAMP, Tom L.; CHILDRESS, James F. Princípios de Ética Biomédica. Trad. Luciana 
Pudenzi. São Paulo: Loyola, 2002.
BRASIL. Ministério da Saúde. Conselho Nacional de Saúde. Resolução n. 196, de 10 
out. 1996.Diretrizes e normas regulamentadoras sobre pesquisa envolvendo seres 
humanos. Brasília-DF, 1996. 
____. Resolução n. 466, de 12 de dezembro de 2012. Dispõe sobre diretrizes e normas 
regulamentadoras de pesquisas envolvendo seres humanos. Diário Oficial [da] República 
Federativa do Brasil, Brasília, DF, 13 jun. 2013. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.
br/bvs/saudelegis/cns/2013/res0466_12_12_2012.html . Acesso 11 dez. 2020.
_____. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil: promulgada 
em 5 de out. de 1988. 4. ed.
____. Lei n. 8.080 de 19 de Setembro de 1990. Dispõe sobre as condições para a 
promoção, proteção e recuperação da saúde, a organização e o funcionamento dos 
serviços correspondentes e dá outras providências. Brasília, DF: Senado Federal, 1990. 
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8080.htm. Acesso em: 09 dez. 
2020. 
____. Lei n. 9.605, de 12 de Fevereiro de 1998. Dispõe sobre as sanções penais e 
administrativas derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente, e dá 
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