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CBI of Miami 1 CBI of Miami 2 DIREITOS AUTORAIS Esse material está protegido por leis de direitos autorais. Todos os direitos sobre o mesmo estão reservados. Você não tem permissão para vender, distribuir gratuitamente, ou copiar e reproduzir integral ou parcialmente esse conteúdo em sites, blogs, jornais ou quaisquer veículos de distribuição e mídia. Qualquer tipo de violação dos direitos autorais estará sujeito a ações legais. CBI of Miami 3 Introdução à Linguagem Fábia Evangelista Verly O primeiro ano de vida do bebê é repleto de marcos importantes que evidenciam seu desenvolvimento nas áreas motora, cognitiva, social e linguagem. Familiares e amigos acompanham emocionados cada aquisição e conquista do bebê que, em poucos meses, aprende a sorrir, sentar, engatinhar, bater palminhas, andar, experimentar novos alimentos e explorar diferentes texturas. Nesta perspectiva, os primeiros gestos, balbucios e palavras também proporcionam imensa alegria aos pais, que reconhecem esta aquisição como fundamental para o desenvolvimento infantil adequado. Ao emitir os primeiros sons e palavras com intenção comunicativa, mesmo que com produções simples de “mamã” “dá” “papá”, a criança passa a ter “voz” em uma sociedade que atribui enorme valor à linguagem. A linguagem representa um papel fundamental na interação do ser humano com o meio, considerando a necessidade que o indivíduo tem de comunicar-se e formar vínculos com seus semelhantes. A criança nasce inserida no mundo da linguagem, em um universo repleto de simbolizações, que a permite traduzir o que sente, relatar experiências do cotidiano, expressar o que já conhece, interagir com o meio e realizar suas próprias escolhas. Há também o sentimento de alívio por parte dos cuidadores, considerando que nos primeiros meses o bebê apenas faz uso do choro diante de suas dores e angústias, e em alguns momentos os responsáveis não conseguem interpretar, o que lhes causa aflições. Considerando o impacto da comunicação no desenvolvimento global da criança, a aquisição da linguagem tornou-se objeto de estudos há décadas, em diversos campos da ciência, entre eles: Linguística, Psicologia, Sociologia, Filosofia e Fonoaudiologia. Estudiosos buscaram compreender como ocorre o processo do desenvolvimento linguístico, de modo que crianças com diferentes vivências e rotinas estabelecem padrões linguísticos semelhantes. As perspectivas teóricas fornecem informações sobre esse fenômeno, no entanto, não existe uma teoria ou abordagem única que seja suficiente para explicar CBI of Miami 4 todos os aspectos do desenvolvimento linguístico da criança. Ao contrário, várias são as perspectivas teóricas adotadas e elas contribuem com significativas reflexões acerca de como ocorre esse processo. O Behaviorismo tem como base a proposta teórica de Burrhus Frederic Skinner, que buscou explicar os fenômenos da comunicação linguística e da significação na língua em termos de estímulos observáveis e respostas produzidas pelos falantes em situações específicas. A teoria behaviorista da linguagem parte do pressuposto de que o processo de aprendizagem consiste numa cadeia de estímulo-resposta-reforço. O ambiente fornece os estímulos linguísticos e a criança - que inicia como uma “tábua rasa”, isto é, totalmente “em branco” - fornece as repostas, tanto pela compreensão (seguindo o comando) como pela expressão (inicialmente repete a fala do adulto e posteriormente elabora falas espontâneas). A criança, por esta teoria, durante o processo de aquisição linguística, é recompensada ou reforçada na sua produção pelos adultos que a rodeiam, uma vez que a linguagem é totalmente aprendida. Observa-se que atualmente algumas famílias e/ou terapeutas ainda fazem uso desses pressupostos teóricos, em situações que envolvem reforços positivos e negativos, promovendo correções e repetições numa tentativa de “treinar” uma criança a falar. A abordagem inatista, proposta por Noam Chomsky, pressupõe a existência de um mecanismo inato responsável pela aquisição da linguagem denominado de Gramática Universal (GU). Nesta proposta, a criança nasce pré-programada para adquirir a linguagem e é capaz de, a partir da exposição à fala, construir suas hipóteses sobre a língua a que está imersa. A criança apenas molda-se às especificidades da sua língua. A Gramática Universal é parcialmente inata e específica da espécie humana, e o que sustenta essa hipótese é, em grande parte, a incapacidade que teríamos de explicar como todos os falantes atingem o estágio maduro de suas línguas durante um pequeno período de exposição a dados fragmentários, incompletos e inconsistentes. O ser humano está biologicamente programado para adquirir a linguagem, seguindo os princípios e parâmetros necessários para cada idioma, CBI of Miami 5 de forma que consegue elaborar um número infinito de frases a partir de uma lista infinita de palavras. Os estudos da linha construtivista, proposto por Jean William Fritz Piaget, consideram que o pensamento aparece antes da linguagem, que é uma das suas formas de expressão. A formação do pensamento depende, basicamente, da coordenação dos esquemas sensoriomotores e não da linguagem. A linguagem é construída e somente ocorre depois que a criança já alcançou um determinado nível de habilidades mentais, por estar subordinada aos processos de pensamento. Desta forma, a criança adquire a função semiótica/simbólica por volta dos dois anos. Nesta perspectiva, a aquisição da linguagem é consequência da atividade construtiva do sujeito, a partir das relações interativas entre a criança e o ambiente. A linguagem é mais um dos desafios que a criança enfrenta e resolve ao longo de seu crescimento, por isso o estudo deve ser feito no contexto do desenvolvimento social e intelectual geral da criança. Na vertente socio interacionismo, para Lev Semyonovich Vygotsky, o conhecimento se constrói na interação entre o homem e o meio e, portanto, ao socializar-se, o homem se predispõe à linguagem. Vygotsky considera a linguagem como constituidora das funções mentais superiores, sendo que o conhecimento é adquirido nas relações entre as pessoas, através da linguagem e da interação social. Para o autor, pensamento e linguagem têm origens diferentes, visto que o balbucio e o choro da criança nos primeiros meses de vida são estágios do desenvolvimento da fala que não têm relação com a evolução do pensamento, sendo consideradas como manifestações de comportamento emocional. As risadas, os sons inarticulados e os gestos são meios que o bebê dispõe de contato social a partir do nascimento. Embora pensamento e linguagem tenham raízes diversas, há no desenvolvimento da criança um período considerado como pré-linguístico do pensamento e um período pré-intelectual da fala. Vygotsky acredita que a linguagem não é apenas uma expressão do conhecimento adquirido pela criança, entre pensamento e palavra existe uma inter-relação fundamental, em que a linguagem tem papel essencial na formação do pensamento e vivências do indivíduo. CBI of Miami 6 O desenvolvimento linguístico na infância é gradual, e “... apesar de longas discussões sobre o fato da linguagem ser inata (de nascença) ou aprendida, hoje a maior parte dos estudiosos concorda que há uma interação entre o que a criança traz em termos biológicose a qualidade de estímulos do meio. Alterações em qualquer uma dessas frentes, pode prejudicar a sua aquisição e o seu desenvolvimento.” (MOUSINHO, R. Rev. Psicopedagogia 2008; 25(78): 297-306) Desta forma, a aquisição da linguagem, nas crianças neurotípicas, ocorre em etapas semelhantes, porém deve-se respeitar a singularidade do sujeito falante e seu funcionamento peculiar de linguagem, considerando que cada família concebe, acolhe e estimula essa criança de forma única.