Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Objetivos da Aula � De�nir a integral de Riemann; � Exibir o cálculo de algumas integrais utilizando a de�nição; � Apresentar funções que são de�nidas por integrais, em particular a função f(x) = ln x. 1 O Problema da Área O Problema da Área foi apresentado na aula introdutória do curso de cálculo, mas se faz necessário relembrarmos de algumas ideias importantes vistas nesse tema. Problema 1. Como calcular a área da região limitada pela função y = 4, o eixo x e as retas x = 0 e x = 5? A região cuja área queremos calcular é a seguinte: Como podemos notar, a região é um retângulo de base 5 e altura 4. Logo, sua área é dada por Área = base× altura = 5× 4 = 20 unidades de área. Problema 2. Como calcular a área da região limitada pela função y = x, o eixo x e as retas x = 0 e x = 2? A região cuja área queremos calcular é vista na �gura abaixo: 1 Universidade Federal do Pará Cálculo I - 2023-4 Aula nº 22: A Integral de Riemann. Cálculo I Aula nº 22 Como é fácil ver, a região é um triângulo de base 2 e altura 2, logo, sua área é calculada por: Área = base× altura 2 = 2× 2 2 = 2 unidades de área. Quando as regiões são as �guras planas cujas fórmulas de área são conhecidas, �ca fácil determinar as suas medidas de área. Contudo, o próximo problema nos ensina um modo de determinar a área de regiões mais gerais, através da ferramenta matemática chamada INTEGRAL. Problema 3. Como medir a área A delimitada pelo grá�co da função f(x) = x2, o eixo x e as retas x = 0 e x = 1? A região cuja área queremos calcular é a seguinte: Figura 1: Vamos adotar a seguinte estratégia para resolver este problema: 1. Vamos dividir o intervalo [0, 1] em 4 subintervalos, cujo comprimento será: ∆x = 1− 0 4 = 1 4 . Teremos, então, os seguintes subintervalos: [ 0, 1 4 ] , [ 1 4 , 1 2 ] , [ 1 2 , 3 4 ] e [ 3 4 , 1 ] . 2. Vamos construir quatro retângulos de base ∆x e altura igual ao valor de f(x) nas extremidades à esquerda dos subintervalos. 3. Calculamos a soma das quatro áreas destes retângulos, conforme �gura a seguir. Figura 2: 2 Cálculo I Aula nº 22 Veja que A = 1 4 · (0)2 + 1 4 · ( 1 4 )2 + 1 4 · ( 1 2 )2 + 1 4 · ( 3 4 )2 = 7 32 = 0, 21875. Na �gura 2 vemos que a área é maior que 0,21875: A > 0, 21785. Podemos repetir esse procedimento com um número maior de retângulos. A �gura 3 mostra o que acontece quando sob a região A construímos oito retângulos com a mesma largura. Figura 3: Calculando a soma da área desses retângulos, temos que A > 0, 2734375 Podemos obter estimativas melhores aumentando o número de retângulos. A tabela 1 (onde n é o número de retângulos) mostra os resultados de cálculos semelhantes ao anterior, utilizando o Geogebra para calcular as áreas. n An 10 0,2850000 20 0,3087500 30 0,3168519 50 0,3234000 100 0,3283500 1000 0,3328335 Tabela 1: Logo, utilizando os resultados obtidos na tabela acima, é possível conjecturarmos que a área é 1 3 . Observação 1. Podemos substituir os extremos à esquerda pelos extremos à direita dos subintervalos no procedimento realizado acima e obteremos o mesmo resultado. 2 Integral de Riemann Consideremos uma função não negativa y = f(x) de�nida em um intervalo [a, b]. Chamamos de uma partição do intervalo [a, b] ao conjunto de pontos x0, x1, ..., xn ∈ [a, b] tais que a := x0 < x1 < x2 < ... < xn−1 < xn := b. A �gura abaixo ilustra essa de�nição. 3 Cálculo I Aula nº 22 Figura 4: Agora, note que os pontos da partição dividem o intervalo [a, b] em n subintervalos fechados I1 = [x0, x1], I2 = [x1, x2], ..., In−1 = [xn−2, xn−1], In = [xn−1, xn], como mostra a �gura abaixo, Figura 5: com os seus respectivos comprimentos ∆x1,∆x2, ...,∆xn dados por ∆x1 = x1 − x0, ∆x2 = x2 − x1, ...,∆xi = xi − xi−1, .... ,∆xn = xn − xn−1. Dessa forma, escolheremos em cada subintervalo um ponto λ1 ∈ I1, λ2 ∈ I2, ... , λn ∈ In e traçamos o valor de f(λi), para cada i = 1, ..., n, assim como na �gura seguinte. 4 Cálculo I Aula nº 22 Figura 6: Dessa forma, construiremos n retângulos cujas bases são o comprimento ∆xi de cada subintervalo e a altura é o valor de f(λi), para todo i = 1, 2, ..., n, como ilustrado abaixo. Figura 7: A soma da área desses retângulos é dada por Sn = f(λ1)∆x1 + f(λ2)∆x2 + ...+ f(λn)∆xn = n∑ i=1 f(λi)∆xi. A soma Sn é chamada Soma de Riemann, para cada n, e é apenas uma aproximação para a área da região que queremos. Logo, fazendo n → +∞, estaremos subdividindo o intervalo [a, b] cada vez mais e, como mostrado anteriormente, conseguimos uma aproximação melhor para a área da região desejada. Logo, a área A que queremos calcular é dada por A = lim n→+∞ Sn = lim n→+∞ n∑ i=1 f(λi)∆xi. 5 Cálculo I Aula nº 22 O número A é o limite das somas de Riemann e é chamado integral de Riemann da função f sobre o intervalo [a, b]. Em nossos cálculos, esse limite será representado pelo símbolo: A = ∫ b a f(x) dx = lim n→+∞ n∑ i=1 f(λi)∆xi Se o limite à direita existir para todo x ∈ [a, b], e independente da escolha de λ1, ..., λn, dizemos que a função f é integrável em [a, b]. Essa de�nição nos propõe um problema: o de saber quando o limite das somas de Riemann existe. Como essa é uma questão delicada e foge do objetivo de um curso de cálculo, enunciaremos e utilizaremos o seguinte resultado: Teorema 1. Toda função contínua em um intervalo fechado [a, b] é integrável neste intervalo. Nos seguintes exemplos, onde buscamos apenas exempli�car, com alguns cálculos, a integral de funções contínuas em um intervalo [a, b] utilizando a de�nição, admitiremos que os comprimentos dos subintervalos são �xos, ou seja, ∆x1 = ∆x2 = ... = ∆xn = ∆x = b− a n , e escolheremos o ponto λi como sendo o extremo esquerdo da partição. Desse modo, podemos sintetizar o procedimento para calcular a integral de uma função contínua f , não negativa, em um intervalo [a, b], da seguinte forma: (1) Dividi-se o intervalo [a, b] em n subintervalos Ii, i = 1, ..., n, todos de comprimento igual a ∆x = b− a n . Sejam a = x0 < x1 < x2 < ... < xn−1 < xn = b, os pontos que dividem o intervalo. (2) Em cada um destes subintervalos escolhemos um ponto λi como sendo o extremo esquerdo de cada subintervalo Ii (3) Formamos então n retângulos com base ∆x e altura f(λi), i = 1, 2, 3, ..., n. (4) Calculamos a soma Sn das áreas dos retângulos: Sn = f(λ1).∆x+ f(λ2).∆x+ ...+ f(λn).∆x = n∑ i=1 f(λi).∆x. (5) Calculamos o limite lim n→+∞ Sn Antes de fazermos os exemplos, vamos listar algumas propriedades que envolvem somatórios: Proposição 1. Sejam c, x1, ..., xn, y1, ..., yn ∈ R. Então, valem as seguintes propriedades: (a) n∑ i=1 cxi = c n∑ i=1 xi; (b) n∑ i=1 (xi + yi) = n∑ i=1 xi + n∑ i=1 yi. Demonstração: (a) De fato, note que n∑ i=1 cxi = cx1 + cx2 + ...+ cxn−1 + cxn = c (x1 + x2 + ...+ xn−1 + xn) = c ( n∑ i=1 xi ) . 6 Cálculo I Aula nº 22 (b) Observe que n∑ i=1 (xi + yi) = (x1 + y1) + (x2 + y2) + ...+ (xn−1 + yn−1) + (xn + yn) = (x1 + x2 + ...+ xn−1 + xn) + (y1 + y2 + ...+ yn−1 + yn) = ( n∑ i=1 xi ) + ( n∑ i=1 yi ) . � Nos próximos exemplos também utilizaremos algumas fórmulas que serão apenas apresentadas, pois suas demonstrações fogem do objetivo do nosso curso. Elas são: n∑ i=1 i = n(n+ 1) 2 ; (1) n∑ i=1 i2 = n(n+ 1)(2n+ 1) 6 ; (2) n∑ i=1 i3 = [ n(n+ 1) 2 ]2 . (3) Vejamos alguns exemplos de cálculo de integral pela de�nição. Exemplo 1. Calcule ∫ 7 3 c dx, em que c ∈ R. Solução: Primeiramente, calculamos a soma de Riemann da função no intervalo descrito, que é dada por n∑ i=1 f(λi) ( 7− 3 n ) = n∑ i=1 c ( 4 n ) = c 4 n n∑ i=1 1. Agora note que n∑ i=1 1 = 1 + 1 + 1 + ...+ 1︸ ︷︷ ︸ n vezes = n. Então, n∑ i=1 f(λi) ( 7− 3 n ) = 4c �n �n = 4c. Portanto, ∫ 7 3 c dx = lim n→+∞ 4c = 4c. � Exemplo 2. Calcule ∫ 3 1 x dx. Solução: Primeiramente, dividiremos o intervalo [1, 3] em n subintervalos de comprimentos iguais, ou seja, ∆x = 2 n . Logo, temos que x0 = 1, x1 = 1 + ∆x, x2 = 1 + 2∆x, ..., xn−1 = 1 + (n− 1)∆x,xn = 3. Logo, como λi = xi−1, i = 1, ..., n, temos que λ1 = 1, λ2 = 1 + 2 n , ..., λn = 1 + (n− 1) 2 n . 7 Cálculo I Aula nº 22 Logo, as somas de Riemann são dadas por n∑ i=1 f(λi)∆x = n∑ i=1 λi 2 n = 2 n n∑ i=1 λi = 2 n ( 1 + 1 + 2 n + 1 + 2 · 2 n + ...+ 1 + (n− 1) 2 n ) = 2 n ( n+ 2 n + 2 · 2 n + 3 · 2 n + ...+ (n− 1) 2 n ) = 2 n · n+ 2 n ( 2 n + 2 · 2 n + 3 · 2 n + ...+ (n− 1) 2 n ) = 2 + 4 n2 (1 + 2 + 3 + ...+ (n− 1)) . Pela fórmula (1), temos que 1 + 2 + ...+ n = n(n+ 1) 2 = n2 2 + n 2 . Logo, 1 + 2 + 3 + ...+ (n− 1) = n2 2 + n 2 − n = n2 2 − n 2 = n(n− 1) 2 . Logo, temos que n∑ i=1 f(λi)∆x = 2 + 4 n2 (1 + 2 + 3 + ...+ (n− 1)) = 2 + 4 n2 n(n− 1) 2 = 2 + 2(n− 1) n Calculando o limite da soma de Riemann, temos que lim n→+∞ ( 2 + 2(n− 1) n ) = lim n→+∞ 2 + 2 lim n→+∞ ( n− 1 n ) = 2 + 2 lim n→+∞ ( 1− 1 n ) = 2 + 2 = 4. � Exemplo 3. Calcule ∫ 1 0 x2 dx. Solução: Utilizando o procedimento prático, dividimos o intervalo [0, 1] em n subintervalos de comprimento ∆x = 1− 0 n = 1 n . Note que essa partição é dada por x0 = 0, x1 = 0 + ∆x = ∆x, x2 = 0 + 2∆x = 2∆x ... ... ... xi = i∆x ... ... ... xn−1 = (n− 1)∆x xn = 1. 8 Cálculo I Aula nº 22 Como λi = xi−1, temos que λ1 = 0 λ2 = ∆x λ3 = 2∆x ... ... ... λi = (i− 1)∆x ... ... ... λn = (n− 1)∆x. Desse modo, as somas de Riemann são dadas por Sn = n∑ i=1 f(λi)∆x = ∆x n∑ i=1 f(λi) = ∆x ( 02 + 12(∆x)2 + 22(∆x)2 + 32(∆x)2 + ...+ (n− 1)2(∆x)2 ) = (∆x)3 ( 12 + 22 + 32 + ...+ (n− 1)2 ) . Agora, note que pela fórmula (2), temos que 12 + 22 + 32 + ...+ (n− 1)2 + n2 = n(n+ 1)(2n+ 1) 6 = n3 3 + n2 2 + n 6 . Logo, 12 + 22 + 32 + ...+ (n− 1)2 = n3 3 + n2 2 + n 6 − n2 = n3 3 − n2 2 + n 6 = 2n3 − 3n2 + n 6 . Desse modo, temos que Sn = (∆x)3 2n3 − 3n2 + n 6 = 2n3 − 3n2 + n 6n3 . Logo, lim n→+∞ Sn = lim n→+∞ 2n3 − 3n2 + n 6n3 = lim n→+∞ ��n 3 ( 2− 3 n + 1 n2 ) 6��n 3 = 2 6 = 1 3 . � 9 Cálculo I Aula nº 22 Por �m, exibiremos uma lista de propriedades da integral de Riemann. Omitiremos a demonstração, por acreditar que foge ao objetivo de um curso de cálculo. São elas: Teorema 2. Sejam f e g uma função contínua em [a, b] e c uma constante real. 1. ∫ a b f(x) dx = − ∫ b a f(x) dx; 2. ∫ a a f(x) dx = 0; 3. ∫ b a c dx = c(b− a); 4. ∫ b a [f(x) + g(x)] dx = ∫ b a f(x) dx+ ∫ b a g(x) dx; 5. ∫ b a c.f(x) dx = c. ∫ b a f(x) dx; 6. ∫ b a f(x) dx = ∫ c a f(x) dx+ ∫ b c f(x) dx, com c ∈ (a, b); 7. Se f(x) ≥ 0 para todo x ∈ [a, b], então ∫ b a f(x) dx ≥ 0; 8. Se f(x) ≥ g(x), então ∫ b a f(x) dx ≥ ∫ b a g(x) dx. Resumo Faça um resumo dos principais resultados vistos nesta aula. Aprofundando o conteúdo Leia mais sobre o conteúdo desta aula na seção 5.2 do livro texto. Sugestão de exercícios Resolva os exercícios da seção 5.2 do livro texto. 10
Compartilhar