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Profª Lilian Uchoa Carneiro RECOMENDAÇÕES NUTRICIONAIS ARA0977 - NUTRIÇÃO E DIETÉTICA Na aula anterior... Componentes do gasto energético: Gasto energético basal; Gasto energético de repouso; Atividade física; Efeito térmico dos alimentos. Métodos de avaliação das necessidades energéticas diárias: Calorimetria direta e indireta; Água duplamente marcada; Equações preditivas. Objetivos Empregar as recomendações de macro e micronutrientes para a população saudável; Calcular as recomendações em percentual das necessidades energéticas diárias (% do VET), calorias/dia (kcal/dia), gramas/dia (g/dia) e gramas por quilo de peso corporal (g/kg de PC). Padrões Nutricionais Elaborados e utilizados ao longo do tempo com objetivo de normatizar a alimentação a ser consumida, de forma a garantir a sobrevivência, a reprodução e manutenção da capacidade de trabalho e da saúde dos homens. Apresentados na forma de: Recomendações nutricionais; Metas ou Diretrizes Nacionais. Objetivo: Orientação da quantidade de nutrientes a ser ingerida. Recomendações Nutricionais Quantidade de energia e nutrientes que uma população deve ter disponível para satisfazer as necessidades de todos os indivíduos que a compõe. Alimentação equilibrada: Consiste na presença de nutrientes, em quantidade e qualidade suficiente, e que seja agradável e apropriada ao indivíduo que a consome. Recomendações Nutricionais Constituem num padrão de referência para as necessidades fisiológicas humanas de nutrientes e energia; Principal finalidade: Servir de padrão de referência para o planejamento e avaliação de dietas e para a aquisição de alimentos nutricionalmente adequados para grupos populacionais saudáveis (FAO, 1989). OBS.: As recomendações não são destinadas a indivíduos com patologias específicas. Recomendações Nutricionais Leis da Alimentação Quantidade Qualidade Harmonia Adequação Quantidade – a dieta deve atender às necessidades calóricas e de cada nutriente específico, de acordo com a fase de vida do indivíduo. Qualidade – o regime ou cardápio só é completo quando sua composição atender todos os nutrientes, com a presença de todos os grupos alimentares. Harmonia – as quantidades de nutrientes devem manter uma relação de proporção entre si, permitindo seu aproveitamento completo. Adequação – a alimentação deve ser adequada a cada fase de vida ou situações fisiológicas do indivíduo. Recomendações Nutricionais Vários guias devem ser utilizados para elaboração de uma dieta ou plano alimentar de forma racional. Exemplos: Pirâmide dos Alimentos; Guia Alimentar para a População Brasileira (2014); Recomendações Nutricionais Recommended Dietary Allowances (Ingestão Dietética Recomendada - IDRs) – RDAs: Publicadas pela primeira vez em 1941/3; Elaboradas pela Food and Nutrition Board (Conselho de Alimentação e Nutrição) do Institute of Medicine (Instituto de Medicina – IOM) dos Estados Unidos; Objetivo: servir como meta para a boa nutrição e como padrão de medida, por meio do qual se poderia medir o progresso até o alcance da meta. Recomendações da Food and Agriculture Organization (Organização para Alimentos e Agricultura) – FAO – da ONU (Organização das Nações Unidas). Ambas adotadas no Brasil. Recomendações Nutricionais 1990 – iniciou-se uma revisão das IDRs (10ª edição – 1989) Objetivo: Elaborar os valores de referência para o consumo de nutrientes para a população dos Estados Unidos e Canadá, considerando os avanços das pesquisas sobre as necessidades de nutrientes; A última revisão das Recomendações foi realizada de 1997 a 2005 com o nome de Dietary References Intakes – DRIs (Ingestão Dietética de Referência – IDRs). Dietary Reference Intakes (DRIs) Conjunto de 4 valores de referência de ingestão de nutrientes (níveis de ingestão): 1. Necessidade Média Estimada (Estimated Average Requirement – EAR); 2. Ingestão Dietética Recomendada (Recommended Dietary Allowances – RDA); 3. Ingestão Adequada (Adequate Intake – AI); 4. Limite Superior Tolerável de Ingestão (Tolerable Upper Intake Level – UL) Podem ser utilizadas para avaliar e planejar dietas, definir rotulagem e planejar programas de orientação nutricional. Necessidade Média Estimada (EAR) Valor de ingestão diária de determinado nutriente que se estima suprir a necessidade de metade (50%) dos indivíduos saudáveis de um grupo de mesmo sexo e estágio de vida: Neste nível de ingestão, a outra metade do grupo não tem suas necessidades atingidas. É utilizada para o cálculo de determinação da RDA; Corresponde à mediana da distribuição das necessidades de um dado nutriente e coincide com a média quando a distribuição é simétrica; Utilizada para avaliação de dietas de indivíduos e coletividades e planejamento alimentar de coletividades. Necessidade Média Estimada (EAR) Ingestão Dietética Recomendada (RDA) Definida como nível de ingestão diária; Quantidade do nutriente suficiente para atender às necessidades de aproximadamente 97 a 98% dos indivíduos saudáveis de um grupo em determinado estágio de vida e gênero; Utiliza-se a EAR para sua determinação; Ingestão Dietética Recomendada (RDA) Valor corresponde a 2 desvios padrão acima da necessidade média (EAR): RDA = EAR + 2 DP. Deve ser utilizada apenas para o planejamento de dietas de indivíduos e não deve ser utilizada para a avaliação; Nem sempre o conjunto de informações sobre um nutriente é suficientemente consistente para o estabelecimento de EAR e, consequentemente, da RDA; Ingestão Adequada (AI) Valor de consumo recomendável, baseado em levantamentos, determinações ou aproximações de dados experimentais, ou ainda de estimativas de ingestão de nutrientes para grupo(s) de pessoas sadias e que, a priori, se consideraria adequado; Valor estimado, prévio à RDA; Utilizada quando não há dados suficientes para a determinação da EAR e, consequentemente, da RDA, como meta de ingestão do nutriente para os indivíduos. Quando a RDA de um micronutriente não pode ser calculada (pois a EAR não está estabelecida), então usa-se o valor da AI. Em alguns casos, a compreensão equivocada de que se um nutriente faz bem em pequena quantidade, uma grande quantidade traria proporcionalmente mais benefícios. “A diferença entre remédio e veneno está na dose”. Limite Superior Tolerável de Ingestão (UL) Nível mais alto de ingestão habitual do nutriente que provavelmente não coloca em risco de efeitos adversos quase todos os indivíduos em um determinado estágio de vida e gênero; À medida que a ingestão aumenta acima do UL, aumenta o risco potencial de efeitos adversos à saúde; O estabelecimento surgiu com o crescimento da prática de fortificação de alimentos e do uso de suplementos alimentares; Limite Superior Tolerável de Ingestão (UL) Ainda não está estabelecido para todos os nutrientes; Utilizado apenas para avaliação de dietas de indivíduos e coletividades. Não deve ser utilizado como recomendação de ingestão. https://www.scielo.br/j/rn/a/YPLSxWFtJFR8bbGvBgGzdcM/?format=pdf&lang=pt - https://www.scielo.br/j/rn/a/YPLSxWFtJFR8bbGvBgGzdcM/?format=pdf&lang=pt Relembrando... Já aprendemos a calcular as necessidades energéticas...! O IOM/DRI também desenvolveu equações preditivas para estimar a necessidade energética dos indivíduos; Pela proposta das DRIs (IOM, 2023), para a estimativa das necessidades energéticas é o utilizado o termo EER (Estimated Energy Requirement) ou NEE (Necessidade Energética Estimada): Valor médio de ingestão de energia proveniente da alimentação necessária para a manutenção do balanço energético de indivíduos saudáveis. Necessidade Energética Estimada (NEE) (IOM, 2023) Necessidade Energética Estimada (NEE) Nível de atividade física Atividades Sedentário Atividades típicas da vida diária (por exemplo, tarefas domésticas, caminhar até o ônibus) Pouco ativo Atividades típicas da vidadiária MAIS 60 a 80 minutos de atividade de intensidade moderada diária (por exemplo, caminhar a 5-7 km/h) Ativo Atividades típicas da vida diária MAIS 30 a 50 minutos de atividade de intensidade moderada diária MAIS 85 minutos de atividade de intensidade vigorosa (bicicleta, tênis, corrida, musculação) Muito ativo Atividades típicas da vida diária MAIS pelo menos 2 horas de atividade de intensidade vigorosa Após identificar quantas calorias o paciente precisa consumir no dia, como fazer a distribuição das calorias entre os macronutrientes? Distribuição percentual de macronutrientes Macronutriente % do VET ou VCT (Valor Energético/Calórico Total) Carboidratos 55-75 Lipídios 15-30 Proteínas 10-15 Ministério da Saúde, 2006; WHO, 2003 Distribuição percentual de macronutrientes Exemplo: VET = 1835 kcal %PTN – 14% 1835 x 14% = 257 kcal = 64,25 g % CHO – 60% 1835 x 60% = 1101 kcal = 275,25 g % LIP – 26% 1835 x 26% = 477,1 kcal = 53 g Distribuição percentual de macronutrientes Nutriente % do VET SBAN (1990) % do VET DRI – AMDR (2002) % do VET WHO (2003) Carboidratos totais 60-70 45-65 55-75 Carboidratos simples limitar < 25 < 10 Lipídios 20-25 20-35 15-30 Proteínas 10-12 10-35 10-15 SBAN – Sociedade Brasileira de Alimentação e Nutrição WHO – Organização Mundial de Saúde (OMS) DRI – Acceptable macronutrients distribuition (taxa de distribuição de macronutrientes aceitável) Planejamento Dietético Etapas e Ferramentas Etapa 1 – Anamnese Etapa 2 – Avaliação do Consumo Alimentar Horário Alimento Medidas caseiras 8h Iogurte morango Danone 1 pote Bisnaguinha Panco 2 unidades Requeijão light Vigor 1 colher sopa rasa 12h Arroz branco 1 escumadeira média Feijão Preto 1 concha pequena Frango assado (sobrecoxa) 1 unidade grande Farofa com linguiça 1 colheres sopa Ice tea limão 1 copo requeijão 16h Pão de forma 2 fatias Queijo prato 1 fatia Presunto 1 fatia Margarina 2 pontas de faca Ice tea limão 1 copo de requeijão 20h Biscoito cream cracker 3 unidades 22:15h Lasanha 4 queijos Sadia ½ unidade Ice tea limão 1 copo requeijão Etapa 2 – Avaliação do Consumo Alimentar Etapa 2 – Análise quantitativa da dieta Comparar o consumo alimentar habitual com as recomendações nutricionais Referências para conversão de medidas caseiras em gramas Referência para cálculo do valor nutricional dos alimentos Etapa 2 – Análise quantitativa da dieta Exemplo: Refeição: café da manhã Leite integral – ½ caneca – 160 mL Café sem açúcar - ½ caneca – 160 mL Pão de forma integral – 1 fatia – 80 g Manteiga – 1 ponta de faca – 150 mg Banana prata – 1 unidade média – 61 g Etapa 2 – Análise quantitativa da dieta Alimento Medida caseira g/mL Kcal CHO (g Kcal) PTN LIP Cálcio (mg) Ferro (mg) Fibras Leite integral em pó 2 colheres sopa 20 100,1 7,84 g 31,36 kcal 5,08 g 20,32 kcal 5,38 g 48,42 kcal 178 0,1 0 Café s/ açúcar ½ caneca 160 Pão de forma integral 1 fatia 80 Manteiga 1 ponta de faca 0,150 Banana prata 1 unidade média 61 Etapa 3 – Diagnóstico Nutricional Peso = 62 kg Altura = 1,69 m IMC = 21,7 kg/m² - eutrofia (peso adequado/saudável) Mulher, 29 anos, apresentando peso adequado, sem patologias pregressas ou atuais. Consumo alimentar inadequado em macro e micronutrientes, com elevado consumo de alimentos ultraprocessados e baixo consumo de frutas e vegetais. Etapa 4 – Conduta/planejamento dietético Dieta normocalórica, normolipídica, normoglicídica, normoproteica e adequada em micronutrientes para sexo e estágio de vida da paciente. Etapa 4 – Conduta/planejamento dietético GET = TMB X FA TMB = 14,818 x P (kg) + 486,6 TMB = 14,818 x 62 + 486,6 TMB = 1405,3 kcal – 10% TMB = 1264,77 kcal FA (sedentária/leve) = 1,4 (1,4 – 1,69) GET = 1264,77 x 1,4 GET = 1770,7 kcal Etapa 4 – Conduta/planejamento dietético GET x VET?? GET = gasto energético VET = valor calórico estabelecido para o plano alimentar conforme a necessidade/objetivo do paciente. Baseado no GET, porém nem sempre igual, podendo ser maior (dieta hipercalórica) ou menor (dieta hipocalórica). VET nunca pode ser menor que o GEB (TMB). Etapa 4 – Conduta/planejamento dietético VET = 1770,7 kcal Macronutriente % Kcal Gramas Gramas/kg de peso Gramas/kg de peso (DRIs) Carboidratos 55 973,9 243,5 3,9 Proteínas 15 265,6 66,4 1,1 0,8-1,2 Lipídios 30 531,2 59 0,95 Total 100 1770,7 Etapa 4 – Conduta/planejamento dietético VET = 1770,7 kcal Fracionamento das refeições = 4 a 6 refeições ao longo do dia Etapa 4 – Conduta/planejamento dietético Observar exame físico e bioquímico Definir micronutrientes-chave Exemplo: Cálcio – mínimo: 1000 mg (RDA); máximo: 2500 mg (UL) Ferro – mínimo 18 mg (RDA); máximo: 45 mg Fibras – mínimo 25 g Etapa 5 – Montagem do Plano Alimentar Etapa 6 – Orientações Nutricionais Vamos exercitar? Determinar o GET de um colega, calcular o percentual de macronutrientes segundo as recomendações e os gramas de carboidratos, proteínas e lipídios que atendam à quantidade de energia obtida pelo cálculo. Aprenda Mais Leia o artigo intitulado “Dietary reference intakes: aplicabilidade das tabelas em estudos nutricionais”. Disponível em: https://www.scielo.br/j/rn/a/YPLSxWFtJFR8bbGvBgGzdcM/?format=pdf&lang=pt - Leia o artigo intitulado “Evolução e interpretação das recomendações nutricionais para os macronutrientes”. Disponível em: http://www.braspen.com.br/home/wp- content/uploads/2016/12/08-Evolu%C3%A7%C3%A3o-e-interpreta%C3%A7%C3%A3o- das-recomenda%C3%A7%C3%B5es.pdf - https://www.scielo.br/j/rn/a/YPLSxWFtJFR8bbGvBgGzdcM/?format=pdf&lang=pt http://www.braspen.com.br/home/wp-content/uploads/2016/12/08-Evolu%C3%A7%C3%A3o-e-interpreta%C3%A7%C3%A3o-das-recomenda%C3%A7%C3%B5es.pdf Atividade avaliativa Aura 1. Os macronutrientes, representados pelos carboidratos, proteínas e lipídios são os nutrientes que fornecem energia para o corpo humano. Um grama de carboidrato ou de proteína oferece 4 kcal enquanto 1 g de lipídio, 9 kcal. Com base nessas informações, qual a quantidade de lipídios, em gramas, contidos em uma dieta de 2200 kcal, com 325 g de carboidratos e 63 g de proteínas? a) 648 b) 388 c) 72 d) 201 e) 90 Referências COZZOLINO, Silvia M. Franciscato. Biodisponibilidade de nutrientes. 5a. São Paulo: Mano le, 2016. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788520451113/cfi/ 0!/4/2@100:0.00 https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788520451113/cfi/0!/4/2@100:0.00