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NÚCLEO DE ENSINO A DISTÂNCIA - NEAD Página | 43 secretariaead@funec.br GRADUAÇÃO UNEC / EAD CENTRO UNIVERSITÁRIO DE CARATINGA DISCIPLINA: Zootecnia II METABOLISMO ENERGÉTICO NA NUTRIÇÃO ANIMAL 1. INTRODUÇÃO O termo “energia” é definido como o potencial para realizar trabalho e, ao con- trário do que muitos pensam, a energia não é considerada um nutriente, mas um pro- duto liberado pelo alimento no processo metabólico. Embora muitos nutrientes sejam requeridos no processo de crescimento dos animais, a energia costuma ser padronizada como a base das exigências nutricionais, e os demais nutrientes são expressos em relação a ela. Carboidratos, proteínas e gorduras atuam como combustível para a manutenção da vida e desenvolvimento do animal, e cada um desses nutrientes possui um determinado potencial de produção de energia, por meio da oxidação que ocorre nos processos metabólicos. Já as vita- minas e minerais, como o fósforo, por exemplo, não produzem energia para o animal, mas auxiliam no processo de viabilização da energia. A energia produzida pela oxidação fisiológica dos nutrientes dos alimentos é utilizada principalmente para realização de trabalho, ou seja, para sustentar todos os processos vitais do organismo, que incluem respiração, circulação, atividade muscu- lar, movimentação, entre outros. A energia também é utilizada para manter a tempe- ratura corporal, que ocorre efetivamente por geração de calor. Contudo, é importante mencionar que, ao se tratar de animais de produção, energia adicional é requerida para expressar potencial produtivo, como crescimento, engorda, gestação, lactação, postura, entre outros. A deficiência de energia implica no retardamento do crescimento, falhas reprodutivas, perda de reservas corporais e redução da produtividade. A energia é considerada o componente que mais limita a produtividade do animal. Assim, o entendimento de conceitos básicos sobre o metabolismo energético é fundamental para a aplicação correta dos conceitos de nutrição animal e a maximi- zação da produtividade dos animais de produção. AULA 4 mailto:secretariaead@funec.br NÚCLEO DE ENSINO A DISTÂNCIA - NEAD Página | 44 secretariaead@funec.br GRADUAÇÃO UNEC / EAD CENTRO UNIVERSITÁRIO DE CARATINGA DISCIPLINA: Zootecnia II 2. CONSIDERAÇÕES SOBRE O ESTUDO DO METABOLISMO DE ENERGIA A combustão, ou queima, é uma reação química que ocorre entre uma subs- tância (combustível) e um gás (comburente), geralmente o oxigênio, resultando na liberação de calor. Por liberar calor para o ambiente, é possível afirmar de forma sim- plificada que os nutrientes existentes nos alimentos são chamados de exotérmica. Nos organismos vivos, a combustão ocorre por meio do processo de oxidação das moléculas realizado pelas células. É possível afirmar que, de forma simplificada, os nutrientes existentes nos alimentos (glicose, ácidos graxos e aminoácidos) são “queimados” pelo organismo na presença de oxigênio, por meio do processo de oxi- dação que ocorre nas células, e resulta na produção de gás carbônico, água e energia (na forma de ATP). Dessa forma, a energia contida nos alimentos é disponibilizada para o organismo dos seres vivos após uma série de complexos processos metabólicos, e todos os constituintes orgânicos da dieta são passíveis de oxidação. Moléculas orgânicas são constituídas quimicamente por carbono e ligações covalentes C-H, podendo apresentar outros elementos como oxigênio, nitrogênio, en- xofre, fósforo, entre outros. Algumas moléculas orgânicas não são oxidadas imedia- tamente, elas são reorganizadas em novas moléculas e estocadas nos tecidos vivos, o que permite que sejam oxidadas posteriormente, como no caso da gordura e do glicogênio. 2.1 Unidades de medida Existem várias unidades utilizadas na literatura para descrever quantidade de energia. Tais unidades refletem o fato de que ela pode ser medida em termos de tra- balho ou calor. O sistema internacional de unidades adota o joule (J) como unidade padrão de energia. Um joule é a energia necessária para acelerar uma massa de 1 kg a 1 m/s² em um espaço de 1 m. No entanto, a unidade de energia historicamente utilizada para descrever o teor de energia dos alimentos é a caloria (cal), que por definição é o calor necessário para se elevar a temperatura de um grama de água de 14,5 °C para 15,5 °C. mailto:secretariaead@funec.br NÚCLEO DE ENSINO A DISTÂNCIA - NEAD Página | 45 secretariaead@funec.br GRADUAÇÃO UNEC / EAD CENTRO UNIVERSITÁRIO DE CARATINGA DISCIPLINA: Zootecnia II Uma caloria é igual a 4,184 joules. Em nutrição animal, ambos, caloria e joule, são frequentemente expressos por meio de seus múltiplos: uma quilocaloria (kcal) ou um quilojaule (kJ) são, respectiva- mente, 1.000 cal ou 1.000 J, assim como uma megacaloria (Mcal) ou um megajoule (MJ) são, respectivamente, 1.000 kcal ou 1.000 kJ. 3. DETERMINAÇÃO DA ENERGIA DOS ALIMENTOS Quando uma substância orgânica é completamente oxidada por meio de um processo de combustão, obtêm-se como produto dióxido de carbono, água e energia liberada na forma de calor. Essa energia é comumente conhecida como energia bruta (EB) e pode ser medida em laboratório com o uso de um equipamento chamado bomba calorimétrica. A determinação da energia bruta de um alimento, via bomba calorimétrica, é realizada com uma quantidade determinada de alimento, que é queimado no equipa- mento sob condições controladas de temperatura e pressão, e resulta em calor (ener- gia), dióxido de carbônio e água. A energia liberada pela combustão desse alimento faz com que temperatura da água aumente e, a partir da variação de temperatura, a quantidade de energia produzida é calculada. Assim, com a variação da temperatura, é possível determinar a energia ou quantas calorias o alimento fornece, por meio da seguinte equação: Q = m × c × Δt Em que: Q = calor recebido pela água e cedido pelo alimento m = massa de água contida no calorí- metro c = calor específico da água (1 cal/g°C) Δt = variação da temperatura da água (tfinal – tinicial) Por exemplo, uma amostra de 1g de determinado alimento é colocada na câ- mara de combustão do calorímetro, contendo 1000g de água a uma temperatura ini- cial de 20 °C. O alimento testado é queimado e o termômetro indica que a temperatura mailto:secretariaead@funec.br NÚCLEO DE ENSINO A DISTÂNCIA - NEAD Página | 46 secretariaead@funec.br GRADUAÇÃO UNEC / EAD CENTRO UNIVERSITÁRIO DE CARATINGA DISCIPLINA: Zootecnia II da água subiu até 24 °C. Então temos que a variação da temperatura (Δt) é igual a 4 °C. Aplicando a fórmula temos: Q = m × c × Δt Q = 1000 g × 1 cal/g°C × 4°C Q = 4000 cal Dessa forma, o resultado obtido acima significa que o valor energético do ali- mento exemplificado é de 4.000 cal ou 4 kcal. Outra maneira de medir a EB de um alimento é por meio da avaliação da composição química da amostra. Assim, é necessário saber a quantidade de cada nutriente contido em determinado alimento ou ração (por meio de análises químicas), e multiplicar cada nutriente por seu valor energético. Assim é possível calcular o valor da EB de uma determinada amostra. A Tabela 4 apresenta os valores de energia bruta encontrados em alguns alimentos purificados. Porém, é importante ressaltar que os valores de EB têm pouca relação com o que está disponível para o animal, uma vez que durante os processos de digestão e de metabolismo ocorrem perdas de energia, o que varia em função de diversos fatores, como a categoria animal, a raça, a compo- sição corporal, entre outros. Além disso, diferentedo que ocorre na bomba calorimé- trica, em que há queima total do composto, o organismo dos animais não é eficiente em utilizar (oxidar) totalmente a energia contida nos alimentos. Dessa forma, parte dessa energia não aproveitada (digerida) pelo organismo é perdida nas fezes. Tabela 4 – Energia bruta de alimentos purificados por combustão completa Nutrientes Energia bruta (Mcal/kg) Glicose 3,7 Amido 4,2 Celulose 4,2 Carboidratos em geral 4,1 Óleo vegetal 9,3 Gordura animal 9,4 Proteína 5,6 Fonte: Corte et al., 2019. mailto:secretariaead@funec.br NÚCLEO DE ENSINO A DISTÂNCIA - NEAD Página | 47 secretariaead@funec.br GRADUAÇÃO UNEC / EAD CENTRO UNIVERSITÁRIO DE CARATINGA DISCIPLINA: Zootecnia II Portanto, mesmo que a EB seja uma forma simples e objetiva de medir a quantidade de energia produzida por um determinado composto em laboratório, ela não é utilizada em comparações de alimentos ou no processo de formulação de ra- ções, pois nenhum organismo animal é 100% eficiente na utilização da energia pre- sente nos alimentos ou no substrato, uma vez que há diversas perdas de energia ao longo dos processos fisiológicos e metabólicos. Em termos práticos, é possível afirmar que o tipo de animal, bem como o tipo de alimento ou dieta formulada, são fontes de variação que influenciam na quantidade de energia aproveitada pelo animal oriundas do processo de digestão e metabolismo. 3.1 Partição de energia Entende-se por partição de energia a avaliação da quantidade de energia con- tida em um alimento ou dieta, somado a quantificação das perdas da energia nos processos fisiológicos. A EB perdida nas fezes, subtraída da EB do alimento ingerido, resulta na energia digestível aparente (EDa). Denomina-se digestibilidade aparente (DA) já que parte do material recuperado nas fezes não provém do alimento, mas também do organismo do animal, como secreções gástricas e descamações do epi- télio gastrintestinal. A porção das fezes que não provém do alimento é chamada de contribuição endógena ou material metabólico fecal. Para calcular a digestibilidade verdadeira (DV) é necessário descontar essa fração das fezes. Portanto, a DV será sempre maior que DA. É importante mencionar que a DA é um conceito bastante utilizado na área da nutrição animal, uma vez que ela pode ser efetivamente medida e não deriva apenas de um cálculo matemático. Em outras palavras, uma vez que a contribuição endógena faz parte do conteúdo total das fezes recuperadas e é, portanto, inerente ao processo de digestão, valores de DA apresentam estimativas bastante práticas na área da pro- dução animal. Cálculo de DA: mailto:secretariaead@funec.br NÚCLEO DE ENSINO A DISTÂNCIA - NEAD Página | 48 secretariaead@funec.br GRADUAÇÃO UNEC / EAD CENTRO UNIVERSITÁRIO DE CARATINGA DISCIPLINA: Zootecnia II Em que: DA da MS = digestibilidade aparente da matéria seca IMS = ingestão da matéria seca Conforme a equação apresentada, é possível calcular não só a DA da MS, mas também a digestibilidade de cada nutriente do alimento ou da dieta em separado. Ou seja, calcular o valor de proteína bruta digestível do extrato etéreo digestível, da fibra em detergente neutro digestível, por exemplo. Assim, basta substituir os valores de MS pelos valores obtidos por análise laboratorial da proteína bruta, do extrato eté- reo e assim por diante. Quanto maior a inclusão de ingredientes pouco digestíveis na dieta, maior será a proporção de energia perdida nas fezes. Como exemplo, há perdas de EB nas fezes que variam abaixo de 10%, como no caso de alguns grãos de cereais proces- sados, e até 70% no caso de dietas a base de palha; considerando digestibilidades de 90% e 30%, respectivamente. Alguns programas de formulação de ração, como tabelas de alimentos, utili- zam o NDT (nutrientes digestíveis totais) para descrever o valor energético do ali- mento. O NDT representa a soma das frações digestíveis dos alimentos de acordo com as análises de Wendee (método denominado de Sistema Proximal), utilizando para cálculo as seguintes variáveis: proteína bruta digestível (PBd), fibra bruta diges- tível (FBd), extrativos não nitrogenados (ENN) digestíveis e extrato etéreo digestível (EEd) (× 2,25), conforme equação: NDT (%) = %PBd + %FBd + %ENNd + (%EEd × 2,25) O extrato não nitrogenado é obtido por diferença e deduzido de 100: ENNd = 100 – PBd – EEd – FBd – MM (matéria mineral) mailto:secretariaead@funec.br NÚCLEO DE ENSINO A DISTÂNCIA - NEAD Página | 49 secretariaead@funec.br GRADUAÇÃO UNEC / EAD CENTRO UNIVERSITÁRIO DE CARATINGA DISCIPLINA: Zootecnia II Na fórmula, a proteína, a fibra e os carboidratos solúveis (representados pelo ENNd) contribuem com a mesma quantidade de energia e o EE contribui com 2,25 vezes mais energia. É importante ressaltar que os valores de NDT podem apresentar alguns pro- blemas: expresso em porcentagem em vez de unidade de energia (joules, calorias); na prática, é um valor estimado a partir de fórmulas empíricas baseadas em ensaios de digestibilidade e análises químicas e, consequentemente, incorpora os defeitos do sistema de análise proximal; considera apenas perdas digestivas de energia e ignora as perdas de ener- gia na urina, nos gases e no incremento calórico; considera as rotas metabólicas dos nutrientes apenas ao definir o valor de 4,4 kcal/g para o teor de energia dos carboidratos digestíveis (ENN, FBd) e de 9,9 kcal/g para o EE digestível. Água e cinzas (MM) não contêm energia; superestima o valor nutritivo dos alimentos fibrosos e subestima o valor dos concentrados, em função do que foi exposto nos dois itens anteriores; como o EEd é multiplicado por 2,25, alimentos com alto teor de EE podem ter teor de NDT superior a 100%; análises que utilizam a FBd estão em desuso, principalmente por superes- timar valores de forrageiras de baixa qualidade em comparação às de melhor quali- dade. O cálculo do NDT para ruminantes utilizado pela maioria dos técnicos na prá- tica tem como base o uso de uma equação de múltiplos componentes. Tal equação utiliza o sistema de Van Soest para medir o teor de fibra (parede celular e inclui o efeito da lignina sobre a indigestibilidade de parte da parede (FDN). A parede celular (menos a porção associada à lignina) teria 82% de digestibilidade em nível de man- tença. No caso das vacas leiteiras, com consumo aproximado para três vezes as exi- gências de mantença, esse valor deve ser diminuído para 75% (substituir fator 0,82 por 0,75). Isso deve ser feito porque o aumento do consumo implica no aumento da taxa de passagem, uma vez que há diminuição do tempo de permanência do alimento no rúmen, sendo a fibra digerida em menor extensão. mailto:secretariaead@funec.br NÚCLEO DE ENSINO A DISTÂNCIA - NEAD Página | 50 secretariaead@funec.br GRADUAÇÃO UNEC / EAD CENTRO UNIVERSITÁRIO DE CARATINGA DISCIPLINA: Zootecnia II NDT = (0,98 × CNE) + (PDisp) + (2,8 × (EE-1)) + (0,82) × (FDNLP – L) × (1 – ((L/FDNLP)0,667))) – 9 Em que: NDT = nutrientes digestíveis totais CNE = carboidratos não estruturais; CNE =100 – (PB + Cinzas + EE + FDNLP) PB = proteína bruta EE = extrato etéreo (se EE < 1, então: EE – 1 = 0) FDNLP = FDN livre de proteína; FDNLP = FDN – NFDN NFDN = nitrogênio ligado ao FDN PDisp = proteína disponível; PDisp = PB – NFDA NFDA = nitrogênio ligado ao FDA FDN = FDN puro (preferencialmente livre de cinzas) L = lignina Vale ressaltar que a energia do alimento descrita em NDT pode ser conside- rada similar a ED. Portanto, o uso de NDT não apresenta vantagemou desvantagem sobre os valores de ED como unidade para descrever o valor energético do alimento. Dessa forma, o NDT pode ser convertido a ED na relação: 1 kg de NDT = 4,4 Mcal de ED Por outro lado, nem toda a energia digestível aparente (EDa) absorvida é uti- lizada pelo animal, pois há perda parcial na urina e também por meio da produção de gases, principalmente o metano, durante a fermentação dos alimentos no trato gas- trintestinal. Em suínos e aves, as perdas por gases são negligenciáveis. Já em rumi- nantes e em não ruminantes com ceco funcional, as perdas de energia pela produção de metano devem ser consideradas e dependem do substrato fermentado e da comu- nidade de microrganismos no trato gastrintestinal. Quanto maior a proporção de forragem na dieta, maior será a proporção de energia perdida em forma de metano, e vice-versa. Já a perda de energia pela urina está relacionada com a ingestão de compostos nitrogenados, uma vez que a maior parte do carbono presente na urina está associado com os principais produtos da ex- creção de nitrogênio, como a ureia e o ácido úrico. Para aves, a energia digestível não é usual em virtude da dificuldade de separação de fezes da urina, utilizando-se então, para aves e suínos, a energia metabolizável. mailto:secretariaead@funec.br NÚCLEO DE ENSINO A DISTÂNCIA - NEAD Página | 51 secretariaead@funec.br GRADUAÇÃO UNEC / EAD CENTRO UNIVERSITÁRIO DE CARATINGA DISCIPLINA: Zootecnia II Descontando-se da EDa as perdas de energia por gases e urina, obtém-se a energia metabolizável (EM), que é a energia efetivamente disponível para o metabo- lismo do animal. No caso dos ruminantes, a produção de metano corresponde em média a uma perda energética de 6% da energia bruta ingerida. Em termos energéti- cos, um litro de metano corresponde a uma perda de 9,47 kcal. Por outro lado, consi- derando que a energia perdida na forma de gases em monogástricos é muito baixa, valores envolvendo perdas energéticas na forma de gases costumam ser despreza- dos nos cálculos da EM. Para aves, a energia metabolizável aparente (EMa) pode ser determinada e expressa como energia metabolizável aparente (EMA), energia metabolizável apa- rente corrigida para balanço de nitrogênio (EMan), energia metabolizável verdadeira (EMv) ou energia metabolizável verdadeira corrigida para balanço de nitrogênio (EMvn). Estima-se que, em ruminantes, cerca de 82% da ED é metabolizável. A lite- ratura científica tradicionalmente considera que EM = 0,82 × ED. Contudo, a propor- ção em termos percentuais da relação de ED e EM pode alterar sobremaneira, princi- palmente pelas diferenças entre animais e dietas. Relações de 0,81 para bovinos, 0,86 para caprinos e 0,73 para ovinos foram observadas em condições distintas de alimen- tação. Ao descontar as perdas energéticas já mencionadas anteriormente, a energia metabolizável pode ser fracionada em apenas duas partes: a energia utilizada na ma- nutenção de funções vitais e formação de produtos como leite e carne (energia retida, ER) e a energia produzida na forma de calor (PC) pelos diversos processo metabóli- cos, definida por EM = PC + ER. Se a perda de calor, inerente à metabolização dos alimentos, for subtraída da quantidade de EM ingerida, obtém-se a energia líquida (EL), que é efetivamente a energia disponível para o animal sobreviver e produzir. A energia líquida contida em um alimento ou em uma dieta é a parte da energia do alimento disponível para man- tença corporal e para produção. É importante ressaltar que o conteúdo de energia líquida de um produto de origem animal é numericamente igual ao seu conteúdo de energia bruta (por exemplo, para saber a energia líquida para lactação basta avaliar a energia bruta do leite produzido). mailto:secretariaead@funec.br NÚCLEO DE ENSINO A DISTÂNCIA - NEAD Página | 52 secretariaead@funec.br GRADUAÇÃO UNEC / EAD CENTRO UNIVERSITÁRIO DE CARATINGA DISCIPLINA: Zootecnia II Parte da energia líquida, conhecida como energia líquida de manutenção (ELm), é convertida para o metabolismo basal do animal, sendo utilizada para a ma- nutenção da homeotermia, a circulação, a respiração, a manutenção de sistemas en- zimáticos, para caminhar e para a busca por alimento. É importante lembrar que o aumento da produção de calor em função do consumo de alimento é chamado de incremento calórico. A outra parte da EL é utilizada para a produção animal, denominada energia líquida de produção ou ganho (ELg), é usada para descrever a proporção de energia destinada ao crescimento e secreção dos produtos animais, como a carne, o leite, a lã e a gestação. O sistema de energia líquida tem algumas vantagens em relação ao sistema de EB, pois a expressão de energia em energia líquida independe do tipo de dieta e, além disso, os valores de energia do alimento são determinados separadamente para diferentes funções fisiológicas, como mantença, ganho, lactação e gestação. 4. EFICIÊNCIA ENERGÉTICA Por que algumas espécies são mais eficientes do que outras? Por que, em uma determinada espécie, alguns indivíduos são mais eficientes que outros? Qual é o efeito da taxa de crescimento na eficiência? Qual é o estágio ideal para abater o animal, obtendo-se eficiência máxima? Para responder essas perguntas, é importante compreender as interações entre cresci- mento e consumo alimentar, e também, a origem do gasto energético que ocorre du- rante o crescimento do animal. Nesse sentido, o entendimento da partição de energia no animal é o ponto central para tais discussões, visto que é possível obter valores que indicam a eficiência do animal na utilização da energia para a mantença e/ou produção. Para a otimização do crescimento, é benéfico que a maior parte do alimento consumido seja transformada em tecido, minimizando a quantidade convertida em dióxido de carbono e água. Uma forma de mensurar essa eficácia é através da "ener- gia de utilização pelo animal", um conceito que avalia o aproveitamento da energia metabolizável ingerida em contraste com a energia acumulada no corpo do animal mailto:secretariaead@funec.br NÚCLEO DE ENSINO A DISTÂNCIA - NEAD Página | 53 secretariaead@funec.br GRADUAÇÃO UNEC / EAD CENTRO UNIVERSITÁRIO DE CARATINGA DISCIPLINA: Zootecnia II para diversos propósitos, como manutenção, crescimento, produção de leite, ovos, lã, entre outros. Nutricionalmente, a eficiência animal pode ser determinada pela dife- rença entre o consumo de alimentos e os custos associados à manutenção e produ- ção (crescimento, lactação, gestação). Diferentes metodologias de formulação de ração interpretam o conceito de eficiência de maneiras variadas. Por exemplo, a "metabolizabilidade" (ou fator de qua- lidade) é representada pela letra "q" e indica a fração da energia metabolizável pre- sente na energia bruta consumida. Já no modelo americano, a constante "k" (eficiên- cia de utilização) reflete o uso da energia metabolizável em relação à energia líquida armazenada no corpo, seja para manutenção ou para ganho de peso e produção de leite. Na aplicação prática, entender as diversas eficiências na utilização de energia é vital. Por exemplo, o nível de consumo influencia diretamente as perdas fecais, que aumentam com o maior consumo devido a uma taxa de passagem mais rápida e ao escape de material potencialmente digestível. Com o aumento do consumo de energia além da manutenção, a energia digestível pode reduzir de 2,1 a 6,2%. As perdas de energia na urina e na produção de metano, no entanto, mantêm-se relativamente constantes, variando de 5 a 12% na urina e de 3 a 5% para metano. A eficiência na utilização de nutrientes para diferentes funções variasignifica- tivamente devido a fatores como o consumo de alimento, peso do animal, composição do ganho de peso, condições ambientais, idade, além de aspectos intrínsecos relaci- onados à digestão, absorção e metabolismo. Certos sistemas de formulação de ração destacam que a eficiência líquida na utilização de energia metabolizável para manutenção, ganho de peso e lactação é representada pelos coeficientes km, kg, kL, respectivamente. Estes coeficientes me- dem o uso eficiente da energia metabolizável para atender à manutenção, à formação de tecido corporal e à produção de leite durante a lactação. Observa-se que a eficiência na utilização de energia metabolizável para ma- nutenção é superior à destinada aos processos produtivos, havendo maior eficiência na retenção de energia para manutenção seguida pelas funções produtivas, como lactação, crescimento e reprodução, em animais da mesma espécie. É importante no- tar que, ao comparar diferentes espécies de animais de produção, os ruminantes apre- sentam a menor eficiência líquida na utilização de energia. mailto:secretariaead@funec.br NÚCLEO DE ENSINO A DISTÂNCIA - NEAD Página | 54 secretariaead@funec.br GRADUAÇÃO UNEC / EAD CENTRO UNIVERSITÁRIO DE CARATINGA DISCIPLINA: Zootecnia II Aspectos como espécie, raça, sexo, linhagens e ingestão de alimentos afetam a velocidade de crescimento e a idade de maturação, influenciando a distribuição de nutrientes entre a deposição de proteínas e de tecido adiposo. A composição do ganho do animal também modifica a eficiência na utilização de energia metabolizável, com eficiências maiores relacionadas à maior acumulação de energia na forma de gordura comparada à proteica. Este fato explica as diferenças entre os sexos na eficiência de utilização de energia metabolizável, visto que fêmeas, ao apresentarem maior acumulação de gordura corporal em comparação aos machos no mesmo peso, exibem uma maior eficiência na retenção de energia. Adicionalmente, o perfil da dieta (proporção de concentrado e volumoso, tipo de processamento do milho, etc.) exerce um papel significativo na eficiência energé- tica. Dietas de maior qualidade, caracterizadas por uma maior proporção de grãos, promovem uma conversão mais eficiente da energia metabolizável em energia líquida de ganho, devido à sua maior digestibilidade e metabolizabilidade. 5. ENTENDENDO O CONCEITO DE MANTENÇA O metabolismo basal e o incremento calórico são os dois componentes res- ponsáveis pela energia metabolizável para mantença do animal. Entende-se por metabolismo basal a energia mínima necessária para suportar os processos vitais de um animal saudável em jejum e em estado pós-absortivo, ou seja, de 48 a 144 horas de jejum após a alimentação realizando atividade limitada em ambiente termoneutro. Já o incremento calórico envolve diversos fatores associados à produção de calor originada pela alimentação em nível de mantença, como por exemplo a regulação da temperatura corporal, atividade voluntária, digestão, fermen- tação, absorção, assimilação de nutrientes, formação e excreção de resíduos. Nesse aspecto, qual é a diferença entre mantença e metabolismo basal do animal? Na prática, a resposta é que durante a fase de mantença o animal não está em jejum. Assim, seria correto afirmar que a quantidade de energia requerida pelo animal para manter o peso vivo constante é denominada exigência de mantença, sendo equivalente à fração total de EM “perdida” na forma de calor. Contudo, é pos- mailto:secretariaead@funec.br NÚCLEO DE ENSINO A DISTÂNCIA - NEAD Página | 55 secretariaead@funec.br GRADUAÇÃO UNEC / EAD CENTRO UNIVERSITÁRIO DE CARATINGA DISCIPLINA: Zootecnia II sível manter o peso do animal constante mesmo que ocorram mudanças considerá- veis na composição corporal, alterando a quantidade de energia depositada na forma de tecidos. Nesse cenário, a definição mais correta para o termo ‘exigência de mantença’ é a quantidade de energia dietética exigida pelo animal para a manutenção da quantidade de energia corporal constante, sem que haja deposição ou mobilização de tecidos. Assim, a exigência de energia metabolizável para mantença (EMm) pode ser definida como o consumo de energia metabolizável (CEM), correspondente a produ- ção de calor, sem que haja perda ou o ganho de reservas corporais. Isso ocorrerá quando a energia retida do corpo do animal for igual à zero (ER = 0) e a produção de calor for igual a ingestão de energia metabolizável (EM = PC). Assim, por extrapola- ção, se dá a equação EM = ER + PC. A produção total de calor compreende a somatória de incremento calórico e energia líquida de mantença (ELm). Uma vez que a exigência de mantença de um animal durante a idade adulta varia de acordo com as mudanças do estado fisiológico, convencionou-se separar a exigência líquida em mantença e produção. A exigência de ELm é, por definição, a quantidade de energia requerida para produção de calor no estado de jejum, sendo a energia necessária para atender as exigências de mantença padronizada como 77 kcal/kg0,75/dia. Esse valor foi adotado para bovinos de corte de raças britânicas em condições livres de estresse, ou seja, em ambientes confinados que permitam atividade mínima. Vale ressaltar que para o cálculo da exigência de ELm de um bovino há a necessidade de utilizar coeficientes de ajustes de acordo com a escolha do genótipo, da condição sexual e do ambiente a ser explorado. Diferenças entre raças de bovinos e maior tamanho adulto podem re- presentar uma maior exigência energética, enquanto animais. Bos indicus e seus cru- zamentos apresentam menor exigência quando inseridos nas mesmas condições do que o estimado pelo índice de 77 kcal/kg0,75/dia. Exemplificando, animais de raças Bos indicus (p. ex. Africander, Barzona, Brahman, Sahiwal), durante a fase de crescimento, apresentam exigência de man- tença 10% menor do que os animais de raças Bos taurus (p. ex. Angus, Hereford, Shortorn, Charolês, Limousin). Mas a variação pode não se restringir apenas à carac- terística racial. Alguns autores reportaram que a exigência de EM para mantença de mailto:secretariaead@funec.br NÚCLEO DE ENSINO A DISTÂNCIA - NEAD Página | 56 secretariaead@funec.br GRADUAÇÃO UNEC / EAD CENTRO UNIVERSITÁRIO DE CARATINGA DISCIPLINA: Zootecnia II vacas adultas não prenhes e não lactantes varia tanto com o peso adulto quanto com o potencial de produção de leite. Assim, na comparação entre vacas Angus × Hereford com cruzamentos Jersey × Angus/Hereford e Simental × Angus/Hereford foram obti- dos requerimentos de mantença da ordem de 14 e 28% maiores para esses dois cru- zamentos, respectivamente, em relação à exigência de 130 kcal/kg PV0,75 obtida para as vacas Angus × Hereford. Ao avaliar diferentes sistemas de alimentação utilizados para bovinos na lite- ratura científica, é possível observar que além das diferenças entre raça, grupo sexual e ambiente, há vários fatores que alteram as exigências básicas para estimar a ener- gia metabolizável e líquida para mantença. Aspectos como nutrição prévia, estresse pelo frio, temperatura, umidade, velocidade do vento, chuva, presença de lama, es- pessura de pelagem, condição corporal, idade e estresse pelo calor são fatores que podem alterar a exigência de mantença de grupos de animais. O crescimento animal é dependente do tipo de dieta formulada contendo quantidades adequadas de energia e nutrientes essenciais. Quando animais conso- mem energia além da exigida pela manutenção, o excedente de energia fica disponí- vel para crescimento, reprodução e lactação. Contudo, é importante mencionar que a separação entre exigência de ganho (crescimento, gestação,lactação, produção de lã e pelos) e mantença é apenas didática, ou seja, teórica. Suponhamos que a concentração de ELm da dieta seja 1,75 Mcal/kg de MS e que a exigência de mantença seja 4,17 Mcal/dia. Esse animal precisaria de 2,38 kg da dieta para atender o requerimento de mantença (4,17 Mcal/dia ÷ 1,75 Mcal/kg). Considerando ainda que a ingestão de MS (IMS) seja de 6,13 kg, sobrariam 3,75 kg da dieta para ganho. Essa quantidade de alimento que ultrapassa a da mantença (3,75 kg MS) é utilizada com a eficiência de utilização da energia para ganho (kg). Ou seja, a quantidade de energia disponível é o produto da multiplicação dos 3,75 kg pela con- centração de ELg da dieta (neste caso igual a 1,13 Mcal/kg), resultando em 4,24 Mcal/dia de energia líquida para ganho. A exigência de energia líquida para ganho (ELg) é definida como o conteúdo de energia oriundo dos tecidos depositados pelo animal, que se dá em função da pro- porção de gordura e proteína no ganho de corpo vazio. Como a energia disponível para crescimento é retida na forma de tecido adi- poso (gordura) ou de tecido muscular (proteína), a composição do ganho de peso mailto:secretariaead@funec.br NÚCLEO DE ENSINO A DISTÂNCIA - NEAD Página | 57 secretariaead@funec.br GRADUAÇÃO UNEC / EAD CENTRO UNIVERSITÁRIO DE CARATINGA DISCIPLINA: Zootecnia II difere de acordo com os diferentes tamanhos corporais, ou frame size (medida que envolve principalmente as dimensões de altura e comprimento do corpo do animal). Assim, é possível afirmar que dentro de uma mesma raça e mesma faixa etá- ria, animais com maior estrutura corporal apresentam maior ganho de peso diário e alcançam um peso significativamente mais elevado quando abatidos em um mesmo grau de acabamento de gordura na carcaça. Outra característica importante é que a eficiência de transformação da energia metabolizável (EM) para ELg é sempre maior quanto maior for a concentração ener- gética do alimento. Em outras palavras, em termos práticos, a formulação de rações mais energéticas em confinamento promove efeito de diluição de custos de manuten- ção do animal, consequentemente resultando em menor custo para cada quilograma obtido no ganho de peso do animal. 6. TÉCNICAS PARA ESTUDO DO METABOLISMO Como já mencionado, a exigência de energia para mantença pode ser definida como a quantidade de energia ingerida de forma que não implique em perda nem deposição de energia nos tecidos do animal, englobando os gastos energéticos com a regulação da temperatura corporal, manutenção dos processos metabólicos, respi- ração, circulação, digestão, absorção e atividades diárias. Mesmo sem perda ou ga- nho de tecido corporal, o metabolismo continua ativo e o produto final de toda atividade metabólica é calor ou trabalho. A exigência nutricional de energia para mantença pode ser estimada com a mensuração direta das perdas de calor do animal, mensurada por técnicas de calori- metria direta ou indireta ou por meio da técnica do abate comparativo. Os primeiros estudos sobre a produção de calor foram realizados por Lavoi- sier e La Place há mais de 200 anos. Neles, os pesquisadores colocaram uma cobaia em uma câmara coberta de gelo, e o calor produzido pela cobaia era responsável pelo derretimento do gelo. A quantidade de gelo derretido foi multiplicada pelo calor latente do gelo, fornecendo uma estimativa da produção de calor. O método da calorimetria direta baseia-se no mesmo princípio utilizado na bomba calorimétrica, em que o calor desprendido do animal (em jejum absoluto e em mailto:secretariaead@funec.br NÚCLEO DE ENSINO A DISTÂNCIA - NEAD Página | 58 secretariaead@funec.br GRADUAÇÃO UNEC / EAD CENTRO UNIVERSITÁRIO DE CARATINGA DISCIPLINA: Zootecnia II estado pós- absortivo) no interior de uma câmara eleva a temperatura de um volume conhecido de água ou produz uma corrente elétrica gerada por meio do calor que passa por pares termoelétricos. É possível utilizar tanto o calorímetro adiabático como o de gradiente. Cada aumento de 1 °C por quilograma de água representa 1 kcal. O grande problema da técnica de calorimetria direta é empregar instrumentos extremamente caros e de difícil operação, tornando seu uso inviável na mensuração de gastos ener- géticos em animais de produção. Já na calorimetria indireta, o calor produzido é obtido por meio do quociente respiratório, considerando as trocas gasosas do animal com o ambiente e admitindo- se que a produção de calor metabólico é resultado da oxidação do substrato energé- tico. A produção do calor metabólico é calculada a partir da quantidade de oxigênio consumido, gás carbônico produzido e nitrogênio excretado na urina (o último informa a taxa de catabolismo proteico). Em animais ruminantes, é importante determinar o volume de metano produ- zido pois ele representa a perda energética em forma de gases. Assim, as quantida- des de energia, oxigênio consumido e gás carbônico produzido por grama de subs- trato (carboidratos, proteínas e lipídeos) utilizado no metabolismo animal foram previ- amente determinadas, de maneira experimental, em diversos estudos científicos e, a partir desses valores, equações para estimativa de produção de calor do animal foram desenvolvidas. A equação para o cálculo da produção de calor por ruminantes é a seguinte: PC = 3,886 × O2 (litros) + 1,2 × CO2 (litros) – 0,518 × CH4 (litros) – 1,431 × N (gramas) Em que: PC = produção de calor em kcal Outra maneira de estimar a exigência de mantença é por meio da técnica do abate comparativo, em que o consumo de energia metabolizável (CEM) e a energia retida no corpo vazio (ER) são mensuradas diretamente, enquanto a produção de ca- lor (PC) é obtida por diferença (CEM = ER + PC). mailto:secretariaead@funec.br NÚCLEO DE ENSINO A DISTÂNCIA - NEAD Página | 59 secretariaead@funec.br GRADUAÇÃO UNEC / EAD CENTRO UNIVERSITÁRIO DE CARATINGA DISCIPLINA: Zootecnia II Nesse método, é necessário que os animais sejam alimentados com diferen- tes níveis de energia metabolizável (um deles deves ser próximo ao nível de man- tença) o que resultará em variações na energia retida e na produção de calor. Assim, a ER no corpo do animal durante o período experimental é estimada subtraindo-se a quantidade de energia no corpo dos animais abatidos ao final do estudo pela quanti- dade de energia retida de um grupo de animais abatidos no início do experimento. Para isso, pressupõem-se que a composição corporal de um grupo de animais, no caso de animais abatidos no início do experimento, representa a composição corporal da população estudada. Assim, a ER iguala-se por definição a energia líquida de ga- nho (ELg) em animais em crescimento ou engorda. Comparado aos métodos calorimétricos, uma das vantagens do método de abate comparativo é permitir a condução de experimentos em condições mais seme- lhantes às observadas na prática. O NRC (2016) estabeleceu que a ELm para novilhas e machos castrados se- ria de 77 kcal por unidade de peso metabólico, estimativa de produção de calor em jejum. E o que seria peso metabólico? Em termos absolutos, quanto maior a massa corporal do organismo, maior a taxa metabólica. No entanto, a relação entre as duas grandezas não é linear, mas exponencial. Os estudos de Max Kleiber durante a década de 1930 mostraram que, para a maioria dos mamíferos, a taxa de metabolismo basal (B) aumenta à potência de ¾ do peso corporal (PC), em que B ≈ PC3/4. Logo, a taxa metabólica de um indi- víduo é proporcional ao seu peso corporal elevado ao expoente de 0,75 (PC0,75). Na prática, a Lei de Kleiber implica que animais menores apresentam maiores taxas metabólicas em comparação a animaismaiores. Isso acontece porque em ani- mais menores há uma maior parcela do peso corporal composta por órgãos metabó- licos, que possuem altos custos de mantença. Portanto, a fim de comparar animais de tamanhos diferentes, as exigências de energia para mantença são expressas em re- lação ao peso corporal metabólico e não ao peso corporal absoluto. Já que as exigências de energia para mantença de um animal estão relacio- nadas à sua taxa metabólica, qualquer fator que afete o metabolismo do indivíduo também pode alterar seus requerimentos energéticos. Na verdade, variações nas exi- gências de mantença estão profundamente relacionadas ao peso e à atividade mailto:secretariaead@funec.br NÚCLEO DE ENSINO A DISTÂNCIA - NEAD Página | 60 secretariaead@funec.br GRADUAÇÃO UNEC / EAD CENTRO UNIVERSITÁRIO DE CARATINGA DISCIPLINA: Zootecnia II metabólica dos órgãos internos, especialmente do trato gastrintestinal e fígado. A relação entre o CEM e a produção de calor é exponencial, uma vez que o aumento do consumo leva ao aumento da atividade metabólica causado pela digestão, absorção e metabolismo de nutrientes. Diferenças nos requerimentos de mantença entre animais de genótipos dis- tintos também ocorrem por diferenças no metabolismo, portanto raças ou linhagens com maior potencial produtivo (maior taxa de crescimento, maior produção de leite ou maior produção de ovos) possuem maiores taxas metabólicas. Em relação à condição sexual, estudos apontam que machos não castrados apresentam maior exigência de energia para mantença do que machos castrados e fêmeas, o que está relacionado a diferenças no comportamento e proporção de tecido muscular. A proporção e atividade dos órgãos internos também está ligada a diferentes exigências de energia para mantença entre animais da mesma espécie, mas de dife- rentes genótipos. Levando em conta essa complexidade, exigências de energia foram instituí- das com o uso de métodos diretos e indiretos para estimar a utilização de energia ao longo da história, desenvolvendo definições básicas e conceitos que compõem a base dos sistemas de alimentação para animais domésticos. ATIVIDADES DE FIXAÇÃO 1 - Qual é o principal produto da oxidação de moléculas orgânicas nas células? a) Água b) Nitrogênio c) ATP d) Oxigênio 2 - O que mede a bomba calorimétrica? a) A energia mecânica produzida por uma substância. b) A energia potencial contida na estrutura molecular de um alimento. Vá no tópico VÍDEO COMPLEMENTAR em sua sala virtual e acesse o vídeo “Metabolismo energético”. mailto:secretariaead@funec.br NÚCLEO DE ENSINO A DISTÂNCIA - NEAD Página | 61 secretariaead@funec.br GRADUAÇÃO UNEC / EAD CENTRO UNIVERSITÁRIO DE CARATINGA DISCIPLINA: Zootecnia II c) A energia liberada na forma de calor quando um alimento é completamente oxi- dado. d) A energia necessária para descompor uma substância. 3 - Quantas calorias foram liberadas pela queima de 1g de alimento em um exemplo onde a temperatura da água aumentou de 20°C para 24°C, e a massa de água era de 1000g? a) 1000 cal b) 2000 cal c) 3000 cal d) 4000 cal 4 - Como a digestibilidade verdadeira (DV) difere da digestibilidade aparente (DA)? a) DV é medida sem considerar as secreções gástricas e descamações do epité- lio, ao contrário da DA. b) DV considera apenas a energia contida nos alimentos, enquanto DA inclui per- das metabólicas. c) DV e DA são medidas da mesma forma, mas DV usa uma escala diferente. d) DA é mais precisa que DV porque considera todas as perdas energéticas. 5 - Suponha que a concentração de Energia Líquida de Manutenção (ELm) de uma dieta seja de 2,5 Mcal/kg de matéria seca (MS) e que a exigência de mantença de um bovino seja de 6,25 Mcal/dia. Quantos quilogramas da dieta esse bovino pre- cisaria consumir para atender sua exigência diária de mantença? a) 1,5 kg b) 2,5 kg c) 3,0 kg d) 2,0 kg REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICAS 1) ANDRIGUETTO, José Milton et al. As bases e os fundamentos da nutrição animal. Reimpressão. São Paulo: Nobel, 2006. 2) CARVALHO, H. H. et al. Alimentos: métodos físicos e químicos de análise. Porto Alegre: Editora da Universidade/UFRGS, 2002. 3) CORTE, Rosana Ruegger Pereira da Silva et al. Metabolismo energético na nu- trição animal. In: ARAÚJO, Lúcio Francelino; ZANETTI, Marcus Antônio (Eds.). Nutrição Animal. Barueri: Manole, 2019. 4) NRC – National Research Council. Nutrient requirements of beef cattle. 8.ed. Washington: National Academic Press, 2016. 5) PESSOA, Ricardo Alexandre Silva. Nutrição animal: conceitos elementares. 1. ed. São Paulo: Editora Érica, 2014. mailto:secretariaead@funec.br