Prévia do material em texto
Clínica do Idoso Perspectivas contemporâneas sobre o envelhecimento: - Fatores que influenciam o envelhecimento populacional No Brasil, o envelhecimento da população se mostra em rápida ascensão, visto que o país passa por uma grande mudança na estrutura etária da população. Esse fenômeno acontece por fatores políticos, sociais, culturais, de educação e de saúde, podendo ser observado ao redor do mundo, e vem acontecendo desde o processo de urbanização e industrialização ao redor do mundo. Devido a entrada das mulheres no mercado de trabalho, e do surgimento de métodos contraceptivos cada vez mais eficazes, observa-se uma redução na taxa de fecundidade; e com a evolução da medicina também há a redução da taxa de mortalidade infantil, assim como o aumento da expectativa de vida, visto que esses avanços possibilitam o tratamento de diversas enfermidades que outrora foram mortais. Melhor nutrição, melhor controle de doenças infecciosas, melhorias no acesso a água e saneamento básico, e avanços na ciência, tecnologia e medicina. - Conceitos de saúde e funcionalidade global (autonomia e independência) – texto “o exame geriátrico” A saúde no cenário da velhice fala mais sobre as condições de autonomia e independência, do que sobre a ausência de doenças e síndromes. Já a independência e autonomia estão ligadas ao funcionamento integrado e harmonioso de alguns sistemas funcionais principais como: cognição (capacidade mental de entender e resolver os problemas do cotidiano); humor (motivação necessária para atividades e/ou participação social. Inclui outras funções como o nível de consciência, sensopercepção e pensamento); mobilidade (capacidade de deslocamento e de manipulação do meio em que está inserido. Depende da capacidade de alcance, preensão e pinça nos membros superiores/postura, marcha e transferência nos membros inferiores/capacidade aeróbica e continência esfincteriana); comunicação (capacidade de estabelecer relacionamento produtivo com o meio, trocar informações, manifestar desejos, ideias, sentimentos, e relacionado com a habilidade de se comunicar. Depende de visão, audição, fala, voz e motricidade orofacial. A funcionalidade global diz respeito à capacidade do indivíduo de funcionar sozinho, gerir a sua própria vida e cuidar de si mesmo. As Atividades de Vida Diária (AVDs) dizem respeito as tarefas do cotidiano que o indivíduo precisa para conseguir cuidar de si e da sua vida, e são classificadas de acordo com o grau de complexidade. Atividades de autocuidado (cuidado com o corpo e autopreservação > básicas. Atividades relacionadas ao domicílio (cuidado com o domicílio ou atividades domésticas) > instrumentais. Atividades relacionadas à integração social (atividades produtivas, recreativas e sociais) > avançadas. Autonomia: decisão – capacidade de decisão e comando sobre as ações, estabelecendo e seguindo as próprias regras (cognição e humor) Independência: execução – capacidade de realizar algo com os próprios meios (mobilidade e comunicação) - Papel da família no envelhecimento saudável: visto que o envelhecimento pode ser marcado por dependências físicas (incapacidade funcional, desamparo prático ou incapacidade individual de realizar atividades da vida diária – vista como sinal de incompetência geral); dependência estruturada (gerada pela perda do trabalho e/ou aposentadoria); dependência comportamental (socialmente induzida, antecedida pela dependência física – excesso de zelos, poupando os idosos de atividades, superproteção e promoção da dependência), é preciso que a família esteja disponível para auxiliar os idosos no processo de envelhecimento, mas atentos às limitações e especificidades de cada indivíduo, para que não haja a generalização e nem exista uma dependência induzida. A família é uma relação humana e insubstituível, em que cada membro tem uma função – compreender esse funcionamento pode auxiliar em intervenções Saúde emocional dos idosos - De que forma a aposentadoria, a sexualidade e a proximidade com a finitude podem influenciar positiva e negativamente o processo de envelhecimento no contexto brasileiro? Aposentadoria: caracterizada pela saída total ou parcial da população laboral e economicamente ativa, num momento de transição para as últimas etapas da fase adulta e que traz consigo alterações na saúde, tanto física quanto mental. Ela é percebida de forma diferente entre diferentes grupos da sociedade (trabalhadores rurais x trabalhadores urbanos, homens x mulheres, aposentados por idade x por tempo de serviço). Com a aposentadoria, há um aumento do tempo ocioso, fazendo com que o tempo dispendido em ações de autocuidado e prevenção (como ir à consultas médicas, manter uma alimentação saudável, praticar atividades físicas, ter tempo de lazer) seja menos custoso, e possa ser melhor aproveitado. Também é possível observar redução nos níveis de estresse, que são amplificados durante a atividade laboral; alívio das exigências físicas (trabalho braçal); maior tempo de sono; e redução da jornada dupla de trabalho (que é o caso de grande parte das mulheres, que, além da jornada de trabalho, também possuem os cuidados com o lar e com a família). A aposentadoria também traz segurança e estabilidade financeira, e estudos demonstram que há redução do sofrimento psicológico e menores níveis de depressão. Há redução das chances de fumar, de sedentarismo e inatividade física e de passar longos períodos sentados. Porém, o modelo de aposentadoria que temos hoje em dia no Brasil ainda reforça as desigualdades sociais sofridas pelas diferentes classes ao longo da vida. Sexualidade: a sexualidade é um processo presente ao longo de todo o desenvolvimento humano, e é composta por elementos biológicos (instintos), subjetivos (sentimentos e desejos) e sociais (relações e interações). Não se restringe às relações sexuais, e envolve atitudes (sentimentos, representações e ações) e interações sociais. É atravessada pela cultura e pelos papéis socialmente orientados e valorizados. Apesar de ser esperado pelo senso comum que o exercício da sexualidade seja encerrado ou reduzido drasticamente (devido à menopausa e à redução da resposta genital), a libido e o prazer permanecem. Pesquisas da gerontologia apontam benefícios e a importância da sexualidade na velhice, apontando o prazer sexual como um dos critérios para uma vida saudável. Todavia, os papéis de gênero são muito presentes, e grande parte das idosas apontam que mantém a vida sexual ativa com o parceiro por se sentirem obrigadas a proporcionar esse prazer, considerando as relações desnecessárias, desconfortáveis, desinteressantes e sem sentido – além dos padrões sexuais que limitam a sexualidade feminina. Já os idosos relatam que sentem a necessidade de ter relações, ainda que existam as limitações e mudanças no desempenho sexual. Outras problemáticas dizem respeito à saúde física (doenças podem impedir o interesse – mas a sexualidade é um dos últimos processos biológicos provedores de prazer a se perder); preconceitos sociais; autoestima (risco de frustração e desapontamento) (homem: medo de não chegar a ereção/mulheres: mudança na imagem corporal e alterações hormonais, podem tornar a prática dolorosa); maior número de mulheres idosas do que homens idosos + falta de parceiro disponível. Proximidade com a finitude: o envelhecimento a finitude e a morte são temas que estão necessariamente interligados. As perdas de pessoas próximas se tornam mais frequentes, sinalizando que os ciclos estão se encerrando. O idoso passa a viver situações e dramas pelos quais não tinha passado antes, e tem mais problemas com a saúde, vivenciando dificuldades financeiras, perdas de familiares e amigos, e outras formas de luto. Passa pelas alterações biológicas, sociais, financeiras, psicológicas, emocionais e culturais. No geral não demonstram medo em relação à morte, e sim ao processo demorrer (medo de sofrer) – e aqueles que não querem falar sobre o tema explicam que é um assunto triste (medo de sentir a tristeza) e/ou já se sentem contemplados com o temas em suas religiões. A velhice é rodeada por lutos, daqueles que já se foram, do que já se foi, e do que poderia ter sido. Com o afastamento físico da morte dos centros urbanos, se tem uma falsa sensação de que podemos ser imortais, pois tentamos a todo custo distanciar e fugir dela. Os sistemas sociais têm se tornado impessoais, de forma que as decisões tem sido tomadas por especialistas, fazendo com que o indivíduo perca a capacidade de discutir e participar das condições que influenciam sua própria vida >> como se deseja viver? > como se deseja morrer? /// Além disso, as mudanças corporais também são um lembrete e um indício de que o tempo está se esgotando. De que forma a psicologia e os profissionais psicólogos podem promover mudanças na percepção do idoso sobre a finitude e a morte? Qual a nossa função diante do processo de envelhecimento e da morte? >>> Ainda que a morte seja a única certeza da existência humana, ela se mostra como um tabu em nossa sociedade, em que os pensamentos e reflexões a cerca dela são distanciados. E, cada vez mais, o envelhecimento tem passado por esse distanciamento, visto a produção de cada vez mais estratégias que visam amenizar os efeitos do tempo nos corpos. Esses processos naturais da existência humana se encontram ofuscados e afastados das possibilidades de existência e até mesmo do pensamento. É importante desenvolver e aplicar intervenções psicoeducativas para se falar sobre esses processos. Visto que a religião pode ser um instrumento que auxilia a lidar com a morte de entes queridos e com a ideia da própria morte, também é fundamental desenvolver as competências necessárias para abordar temas relacionados à espiritualidade, religião, e religiosidade. Questões e problemas que envolvem gênero, etnia e fatores socioeconômicos nos últimos tópicos abordados em sala: >>>> Diferença entre recurso e acessibilidade da sociedade brasileira no que entendemos sobre envelhecimento saudável; mulheres tendem a envelhecer de maneira diferente – certa restrição à vida conjugal e à função de cuidado na família. Em contrapartida, tendem a demonstrar mais cuidados com a própria saúde; sexualidade masculina se sobrepõe à masculinidade feminina; discriminação sofrida por algumas etnias dificulta a atenção ao idoso. Como as políticas públicas de saúde voltadas para o cuidado e atenção do idoso devem levar essa problematização em consideração? >>>> Equidade no sistema de saúde (atenção integral) para qualidade de vida do idoso e seus direitos sociais (incluindo acessibilidade integral); atenção às características territoriais; exercício da cidadania; atividades pertinentes à sua condição física, mental e cognitiva; propostas psicoeducativas envolvendo cuidado à saúde emocional (como aposentadoria, sexualidade e finitude).