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A Historiografia e a Monarquia


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TÓPICO 02: A HISTORIOGRAFIA
A necessidade ideológica da centralização da sociedade em torno da 
figura do rei, a um tempo governante, legislador, juiz, representante dos 
interesses da Igreja e administrador da expansão mercantilista, explica o 
interesse da família real na historiografia. Conhecer os reis do passado 
significava associar historicamente os antigos soberanos ao nome vigente, 
cuja figura se confundia simbolicamente com a do próprio Estado.
Fernão Lopes [1]
E não seria por outra razão que o príncipe Dom Duarte, que herdaria o 
trono de Dom João I em 1433, indicava, em 1418, Fernão Lopes para a 
gerência dos arquivos reais, localizados na Torre do Tombo. Diferentemente 
dos imaginosos cronistas medievais, Fernão Lopes procurou comprovar em 
documentos o que muitas vezes não se discernia da lenda. Assim 
procedendo, coube-lhe o pioneirismo da historiografia em cuidadosas bases 
documentais. Esse zelo documental aliado a um inquestionável pendor 
literário são qualidades que imortalizaram a memória desse que foi o 
primeiro historiador de Portugal.
EXEMPLO
E aqui está um trecho da crônica de Fernão Lopes, em que ele narra 
fatos da época de um dos mais lembrados reis lusitanos, Dom Pedro I, que 
viveu um trágico romance com Inês de Castro, que foi assassinada numa 
trama da corte medieval. Neste trecho, o cronista relata a homenagem 
póstuma de Pedro àquela que o povo português chama de Rainha Morta:
TRECHO DA CRÔNICA
Como foi trelladada Dona Ines pera o moesteiro Dalcobaça, e 
da morte delRei Dom Pedro Por que semelhante amor, qual elRei 
Dom Pedro ouve a Dona Enes, raramente he achado em alguuma 
pessoa, porem disserom os antiigos quc nenhuum he tam 
verdadeiramente achado, como aquel cuja morte nom tira da 
memoria o gramde espaço do tempo. E se alguum disser que muitos 
forom ja que tanto e mais que el amarom, assi como Adriana e Dido, 
e outras que nom nomeamos, segumdo se lee em suas epistolas, 
respomdesse que nom fallamos em amores compostos, os quaaes 
alguuns autores abastados de eloquemcia, e floreçentes em bem 
ditar, hordenarom segumdo lhes prougue, dizemdo em nome de 
taaes pessoas, razoões que numca nenhuuma dellas cuidou; mas 
fallamos daquelles amores que se contam e leem nas estorias, que 
seu fumdamento teem sobre verdade. Este verdadeiro amor ouve 
elRei Dom Pedro a Dona Enes como se della namorou, seemdo 
casado e aimda Iffamte, de guisa que pero dela no começo perdesse 
vista e falla, seemdo alomgado, como ouvistes, que he o prinçipal 
aazo de se perder o amor, numca çessava de lhe emviar recados, 
como em seu logar teemdes ouvido. Quanto depois trabalhou polla 
aver, e o que fez por sua morte, e quaaes justiças naquelles que em 
LITERATURA PORTUGUESA I
AULA 02: HUMANISMO. A LÍRICA HUMANISTA E O TEATRO VICENTINO
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