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LEITURA E ESCRITA MU SICAL AULA 2 P rof . Alysson Siqueira 2 CONVERSA INICIAL Nesta abordagem, daremos início ao processo de alfabetização musical. Em suma, vamos conhecer os símbolos básicos constituintes da partitura. Inicialmente, exploraremos o pentagrama – entendido como ambiente onde a música há de ser escrita – e como as alturas musicais são representadas neste. Mais adiante, também mergulharemos a fundo em quais são as claves, suas funções e origens. Posteriormente, nos aprofundaremos na representação das durações das notas musicais, como estabelecer a noção de tom e semitom, além de entender como é possível promover alterações de altura e duração na partitura. TEMA 1 – A PAUTA E AS NOTAS MUSICAIS Atualmente, o sistema de notação musical universal utilizado é representado por um conjunto de cinco linhas horizontais denominado pentagrama ou pauta. Figura 1 – Pentagrama Fonte: Siqueira Para que seja facilitada a comunicação, as cinco linhas e quatro espaços – ambas utilizadas na escrita musical – são enumeradas de baixo para cima. As linhas e espaços do pentagrama-padrão permitem a representação de nove alturas sonoras, abrindo portas para um universo finito de possibilidades musicais. No entanto, a música permite evoluções ainda maiores e infinitas. Desta forma, a demanda para a criação de alguma alternativa que permitisse que tais desenvolvimentos aflorassem, foi crescendo. Tal demanda foi atendida e recebeu um nome autoexplicativo: linhas suplementares. 3 Figura 2 – Linhas Suplementares Fonte: Siqueira As linhas suplementares são utilizadas pontualmente para a escrita de notas detentoras de alturas que ultrapassem o limite do pentagrama-padrão. Nas ocasiões em que tal demanda se apresentar necessária, deve-se ocorrer a inclusão da linha apenas no espaço de inserção da nota. Vale ressaltar que os espaços gerados por essas linhas também serão utilizados, e que, contanto que a clareza da partitura seja mantida, não existe um limite para a inclusão de novas linhas. Para que ocorra a inclusão de notas no pentagrama, deve-se ser cauteloso e preciso, pois as cabeças das notas – representadas por uma forma elíptica, e não circular – devem ser colocadas de duas possíveis formas: 1 - dentro do espaço entre as linhas, sem vazar para o espaço seguinte, tangenciando, assim, a linha superior e a linha inferior; 2 - sobreposta de forma bem centralizada sobre a linha. A seguinte imagem facilita o entendimento das duas possibilidades: Figura 3 – Posicionamento das notas na pauta Fonte: Siqueira 4 Apesar de ser um sistema padrão, há casos em que o pentagrama não é adequado. De modo geral, os instrumentos de percussão utilizam apenas uma linha para reproduzir os símbolos referentes ao que deve ser executado. Existem diferentes formas e sistemas de notação musical para instrumentos de percussão; no entanto, toda partitura de percussão completa deve apresentar a convenção que relaciona os instrumentos ou os signos utilizados e como tocá-los. Figura 4 – Convenções da partitura de pandeiro Fonte: Moura, 2017. Moura (2018) descreve cada signo com instruções sobre como percutir cada região do instrumento: 1 – Grave Polegar; 2 – Grave Polegar Abafado; 3 – Grave Ponta de Dedo; 4 – Platinela Punho; 5 – Platinela Ponta de Dedo; 6 – Slap / Tapa; 7 – Rulo / Drag com Ponta de Dedo. TEMA 2 – CLAVES As primeiras impressões desenvolvidas ampliaram o acesso às partituras, porém, em virtude de documentos serem impressos apenas em preto e branco, as linhas coloridas que representavam as alturas musicais caíram no abismo do esquecimento e desuso. Como forma de substituí-las, o pentagrama ganhou sua quinta linha e, houve também, a inclusão das claves, signos responsáveis para referenciar a altura na partitura. A clave funciona como um carimbo que estabelece uma convenção, revelando a localização da primeira nota musical e, como consequência, a posição do restante das outras notas na sequência. D’Arezzo já utilizava as letras C e F para indicar a posição das notas; na sequência, surgiu a clave de sol. A simbologia das claves evoluiu e, atualmente, são três, representadas como na figura. 5 Figura 5 – Evolução das claves Fonte: Siqueira A linha do tempo evolutiva das claves, representada na imagem acima, segue no sentido horário – da esquerda para a direita – e mostra como cada uma é utilizada atualmente; as colunas representam, respectivamente, as claves de sol, dó e fá. Apesar de serem as principais, essas três claves não suprem todas as necessidades musicais, já que alguns instrumentos apresentam uma extensão de notas mais longa, em outras palavras, apresentam maior distância entre a nota mais grave e a mais aguda possível. Para atender essas situações, há a inclusão de um número oito acima ou abaixo da clave referência, indicando, conforme a localização do numeral, se a partitura deve soar uma oitava acima ou uma oitava abaixo. Figura 6 – Claves alteradas Fonte: Siqueira Entre os diversos instrumentos, o violão é um dos que utiliza o recurso; no entanto, as partituras não costumam vir com o símbolo oito assinalado, e os 6 instrumentistas já deixam subentendido que a leitura deve ser feita com uma oitava abaixo. O mesmo acontece com as partituras de coral para a voz tenor, que não apresentam o símbolo, mas são cantadas oitavadas. Outra situação possível em uma partitura é a troca de claves sempre que for necessário, conforme o exemplo a seguir: Figura 7 – Mudança de clave Fonte: Siqueira A clave incluída na partitura não determina a tonalidade; há outro símbolo com essa função, que será tratado na sequência. Uma vez referenciada a altura, as próximas notas são determinadas ocupando as linhas e espaços anteriores e posteriores. Conforme a Figura abaixo, as notas circuladas referenciam as alturas de cada uma das claves. Figura 8 – Claves e notas musicais Fonte: Siqueira TEMA 3 – DURAÇÕES A representação da duração do som evoluiu ao longo da história, e, no sistema atual, os signos representativos dessa propriedade são chamados de nota, sendo esta composta por três partes, conforme exemplo a seguir. 7 Figura 9 – Elementos da nota musical Fonte: Siqueira A cabeça, em formato de elipse, pode ser cheia e inclinada, como no exemplo, ou vazada e reta na horizontal. Existem autores que nomeiam a cabeça vazada como branca e a cabeça preenchida como preta. A haste é a linha vertical. Com comprimento aproximado de três espaços, ela parte de uma das extremidades da nota, seguindo as seguintes condições: 1 - se a nota estiver alocada até a terceira linha da pauta, a haste fica à direita e acima da cabeça da nota; 2 - se a nota aparecer depois da terceira linha, a haste ficará abaixo e ao lado esquerdo da cabeça da nota. Figura 10 – Disposição da haste Fonte: Siqueira Quando a nota utilizar linhas e espaços complementares, a haste deve subir ou descer até a terceira linha do pentagrama original, garantindo, assim, que a nota mantenha conexão com a pauta. Figura 11 – Comprimento da haste de notas em linhas e espaços suplementares Fonte: Siqueira 8 O comprimento da haste é estabelecido com base na quantidade de colchetes que a nota apresentar, como exemplificado na figura 12. Figura 12 – Comprimento da haste em função da quantidade de colchetes Fonte: Siqueira O colchete indica a divisão da duração da figura original, esta feita por múltiplos de dois, ou seja, um colchete divide a nota por dois, dois colchetes dividem por quatro, três colchetes dividem a nota por oito e assim por diante; ele sempre é inserido à direita da haste.Nos países de língua inglesa, o nome desse elemento é “flag”, que em português significa “bandeira”. Por esse motivo, alguns músicos não usam o termo colchete, e sim bandeira ou bandeirola. Em algumas ocasiões, a partitura apresenta seguidas notas com colchetes, desta forma torna-se possível fazer a união dos colchetes em uma linha horizontal, com maior espessura entre as hastes, conforme demonstrado na imagem abaixo. Figura 13 – Ligação entre notas com colchetes Fonte: Siqueira Tal ligação de notas com colchete acontece, na maioria dos casos, dentro da mesma unidade de tempo. Na figura acima, na primeira unidade de tempo, temos a ligação de duas notas de apenas um colchete; nesse caso, utiliza-se apenas uma linha vertical. Já na segunda unidade de tempo, a ligação é de duas notas com dois colchetes, e a segunda linha liga apenas a segunda e a terceira nota. Entretanto, no terceiro tempo, a nota com apenas um colchete é alocada no meio; por esse motivo, as notas das extremidades carregam apenas um 9 segmento do segundo traço. E, por último, no quarto tempo, todas as notas são ligadas por duas linhas horizontais, isso porque todas elas apresentam dois colchetes. Após o entendimento dos elementos constitutivos da simbologia das notas, é preciso assimilar como suas combinações determinam os tempos exatos para a escrita musical. Analise a figura a seguir: Figura 14 – Figuras de duração Fonte: Siqueira Na música, é sempre necessário estabelecer uma unidade de tempo. No exemplo da figura anterior, usamos a semínima para isso. O quadro apresenta cinco figuras, iniciando pela semibreve. Apesar de serem as notas mais utilizadas, existem outras: a breve, que representa o dobro da semibreve, portanto equivale a 8 tempos; abaixo das semicolcheias estão as fusas, ou seja, metade do tempo de uma semicolcheia (1/8 de tempo), escrita com 3 colchetes; e as semifusas (1/16 de tempo), escritas com 4 colchetes. Os símbolos da terceira coluna da tabela representam o tempo das pausas, frequentemente utilizadas na música. As pausas também recebem o nome de semibreve, mínima e semínima – da mesma forma que as notas. 10 TEMA 4 – TOM E SEMITOM Tratando-se das alturas sonoras, a Teoria da Música busca quantificar e/ou classificar a distância entres os sons. Se, na Física, essa diferença é calculada com base na diferença em hertz, na música essas diferenças recebem nomes. Segundo Goldemberg (2000), os nomes das notas musicais são atribuídos a Guido D’Arezzo, inspirado no Hino a São João Batista: “Ut queant laxis / Resonare fibris, / Mira gestorum, /Famuli tuorum, / Solve polluti,/ Labii reatum. - Sancte loannes”. Do primeiro ao sexto verso, todas as notas seguiam a sequência de alturas padrão da época, o famigerado sistema de seis notas: hexacorde guidoniano (Sadie, 1994). Na hipótese de haver dois fonemas terminados com consoante, acabava sendo difícil solfejar a primeira nota, a qual foi substituída pelo dó. A sétima nota foi acrescida utilizando as iniciais de Sancte Ioannes, o qual serviu de fator principal para criar um produto: o nome da nota si. Independentemente de serem amplamente conhecidos, os nomes das notas variam em alguns lugares do mundo – na França, por exemplo, o dó recebe o nome de ut. A diferença de frequência entre as alturas das notas é estritamente ligada à matemática, porém, elas não são constantes. A título de exemplo, a diferença de frequência entre dó e ré é maior que entre mi e fá. Para que haja um entendimento um pouco mais fácil e simplificado, basta pensar que no teclado do piano é possível entender que as notas mi e fá estão mais próximas; portanto, há menor diferença de frequência. Figura 15 – Teclas do Piano Fonte: Alysson Siqueira 11 Composto por teclas brancas e pretas, o teclado do piano é disposto em grupos de duas e de três teclas pretas próximas. A tecla branca que se localiza ao lado esquerdo do grupo de duas teclas é a primeira nota: dó. A partir dela, a sequência de teclas brancas do seu lado direito gera a sequência de notas conhecidas: (dó), ré, mi, fá, sol, lá, si. É possível observar que, entre as notas mi e fá, e si e dó, não existe a tecla preta e, por conta disso, pode-se afirmar que essa é a menor distância entre as notas do teclado e de frequência na música. A essa distância mínima dá-se o nome de semitom. A distância das teclas brancas para suas vizinhas pretas, tanto à esquerda quanto à direita, também se chama semitom. Entre as teclas brancas que apresentam entre si uma tecla preta, considera-se que há, então, dois semitons, como entre dó e ré por exemplo. Nesses casos, a soma de dois semitons é o tom. TEMA 5 – ALTERAÇÕES DE ALTURA E DURAÇÃO Observando outra vez a Figura 15, é possível chegar à conclusão de que, se um músico tocar a tecla preta que está entre as notas dó e ré, o nome dessa nota depende da origem do toque: ou seja, se o instrumentista parte da nota dó em direção à tecla preta adjacente à direita, então ele tocou um dó sustenido; em contrapartida, se a origem do toque vem da nota ré em direção à tecla preta à sua esquerda, o nome é ré bemol. A definição é: o sustenido é uma alteração da altura em um semitom acima, enquanto o bemol é a alteração em um semitom abaixo da altura natural da nota. É também comum dizer que o sustenido é a nota um semitom mais agudo, ao passo que o bemol é um semitom mais grave. Figura 16 – Símbolos do sustenido e do bemol Na pauta, esses sinais aparecem imediatamente ao lado esquerdo das notas a serem executadas. Essas alterações na altura são chamadas de 12 acidentes; além do sustenido e do bemol, existem outras possibilidades de acidentes, com variações. A imagem abaixo serve de sustento para esse último apontamento: Figura 17 – Outros acidentes Fonte: Alysson Siqueira Tanto o dobrado sustenido quanto o dobrado bemol acontecem quando há alteração de um tom inteiro na altura original da nota. Em caso de uma nota ser alterada em um compasso e ela se repetir dentro deste, esta sempre soará alterada, entretanto a situação volta ao normal no compasso seguinte. Em contrapartida, se o compositor deseja que, dentro do mesmo compasso, a nota volte a soar em seu tom original, então aplica o bequadro, sinal que indica a anulação da alteração. Os acidentes de prevenção, representados na terceira linha da Figura 17, servem para alertar sobre a existência do acidente, e sempre são escritos entre parênteses. Há ainda, na música, as alterações de duração, que são principalmente as ligaduras, espécie de arco que liga duas notas e soma o tempo delas – por exemplo: duas semínimas ligadas somam o tempo de uma mínima; e o ponto de aumento, que aumenta o tempo de uma nota em metade de sua duração original. Por exemplo, uma semínima adicionada do ponto teria a duração de uma semínima mais uma colcheia ligada. Existe ainda a quiáltera, espécie de colchete sobre as notas envolvidas, que pode aumentar ou diminuir o tempo das notas. Usualmente, são colocadas mais notas do que o programado no espaço – por exemplo: incluir três notas no espaço de duas para diminuir o tempo da nota, ou duas notas no espaço de três para ampliar a sua duração. 13 NA PRÁTICA Todo o conteúdo desta abordagem é essencial para a leitura e a escrita musical. Para memorizar nomes e desenhos, escreva várias vezes as claves de sol, fá e dó, e as principais formas de tempo das notas, desde a semibreve até a semicolcheia. FINALIZANDO Nesta abordagem, conhecemos a origem do pentagrama, como as claves surgiram, e sua função no pentagrama. Falamos sobre os nomes dados às notas segundo seu tempo de duração, e outros elementos constitutivos das alturas, como o nome das notas e a função do bemol e do sustenido. Entendemos aindaque a duração das notas pode ser aumentada e diminuída com a utilização de efeitos como ligadura, ponto de aumento e quiáltera. 14 REFERÊNCIAS GOLDEMBERG, R. Métodos de leitura cantada: dó fixo versus dó móvel. Revista da Abem, Porto Alegre, v. 8, n. 5, p. 7-12, 2000. MOURA, D. Estudos e transcrições. 2017. Disponível em: <https://mouradanilo.wixsite.com/meusite/estudos-e-transcricoes>. Acesso em: 10 jan. 2023. SADIE, S. (Ed.). Dicionário Grove de música: edição concisa. Tradução de Eduardo Francisco Alves. Rio de Janeiro: J. Zahar, 1994.