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DIFERENCIAÇÃO PEDAGÓGICA, ATENDIMENTO EDUCACIONAL ESPECIALIZADO E O ENSINO COLABORATIVO NA PERSPECTIVA INCLUSIVA Maria Candida Bandeira Lacerda de Paula1 Carla C. Marçal y Guthierrez2 Beatriz Almeida Quintanilha3 Eixo Temático 10: Diferenciações Curriculares Indicação de categoria: Pôster Resumo: Este relato de experiência envolve práticas pedagógicas desenvolvidas em duas escolas públicas na cidade do Rio de Janeiro. A escola pública A retrata as experiências na sala de recursos multifuncional (SRM), como a realização do Atendimento Educacional Especializado (AEE) para estudantes com deficiências, transtorno global do desenvolvimento e altas habilidades. A escola pública B retrata a experiência de um projeto de Estágio Interno Complementar que tem como objetivo a produção de recursos de tecnologia assistiva e comunicação alternativa e ampliada n a perspectiva inclusiva. Os objetivos são: 1 Mestranda em Educação pelo Programa de Pós-graduação em Educação, Faculdade de Educação, Centro de Educação e Humanidade, Universidade do Estado do Rio de Janeiro. candidablp@gmail.com 2 Professora do Instituto de Aplicação Fernando Rodrigues da Silveira – CAP Uerj e Universidade Estácio de Sá. Doutoranda do Programa de Pós-graduação em Educação, Faculdade de Educação, Centro de Educação e Humanidade, UERJ. carlacordeiromarcal@gmail.com 3 Bolsista do Projeto de Estágio Interno Complementar “ Recursos de Tecnologia Assistiva e Comunicação Alternativa e Ampliada na perspectiva Inclusiva”, coordenado pela Prof.ª Ms. Carla C. Marçal y Guthierrez. Aluna do curso de Ciências Biológicas da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. quintanilhabia@gmail.com mailto:candidablp@gmail.com.br mailto:quintanilhabia@gmail.com evidenciar a necessidade de planejar estratégias e recursos considerando a diferenciação pedagógica como um pressuposto; enfatizar a necessidade do trabalho colaborativo entre os docentes do AEE e da sala de aula comum. As experiências apontam para a importância da ação docente no reconhecimento sobre quando, como e o que deve ser usado de forma mais adequada e produtiva para favorecer a aprendizagem de cada estudante. As ações de diferenciação são a tônica do trabalho na SRM, como Atendimento Educacional Especializado e em sala de aula inclusiva, pois diante das necessidades diferenciadas dos alunos, a remoção de barreiras à aprendizagem implica na busca pedagógica por recursos e estratégias que garantam acesso ao currículo, ainda que por caminhos diferentes dos que percorrem a maioria dos estudantes. Ajustes e diferenciações pedagógicas, utilizadas na Sala de Recursos Multifuncional e em uma sala de aula inclusiva com a possibilidade de bidocência, precisam fazer parte do dia a dia das classes escolares como garantia de equidade no atendimento à diversidade. Palavras-chave: Diferenciação Pedagógica – Atendimento Educacional Especializado – Ensino colaborativo. Introdução Discutir sobre as diferenciações curriculares no atendimento educacional especializado e em uma perspectiva inclusiva, é refletir no sucesso e na inclusão escolar de alunos com necessidades educacionais especiais. As diferenciações curriculares envolvem modificações organizativas tanto nos objetivos e conteúdos, quanto nas metodologias e organização didática. Além da organização no tempo e nas estratégias de avaliação. Tudo isso tem um único foco, a aprendizagem e a construção do conhecimento. Quando propomos uma diferenciação curricular, abrimos a possibilidade na discussão de currículo. E para isso, vale destacar o conceito clássico de currículo apresentado por Zabalza (1992): ...o conjunto dos pressupostos de partida, das metas que se desejam alcançar e dos passos que se dão para as alcançar; é o conjunto dos conhecimentos, habilidades, atitudes, etc., que são considerados importantes para serem trabalhados na escola, ano após ano. E, supostamente, é a razão de cada uma dessas opções (p.12). Ora, “currículo é todo o conjunto de ações desenvolvidas pela escola no sentido de oportunidades para a aprendizagem” (p.25). Alguns professores defendem que um currículo único, sem adaptações para atender às diversidades, pode acentuar as práticas excludentes. E ainda, gerar um descaso com os alunos que precisam de diferenciações. Segundo Oliveira e Machado (2007), um conceito amplo de currículo que, elaborado a partir do projeto político-pedagógico escolar, se associa à identidade da instituição escolar, à sua organização e funcionamento e ao papel que exerce, a partir das aspirações e expectativas da sociedade e da cultura. A inclusão educacional é aspecto estruturante na elaboração do currículo. A educação inclusiva tem como característica uma política de justiça social. Ela traz como proposta atender a todas as necessidades educacionais dos estudantes em todas as escolas. Busca alcançar uma educação de qualidade para todos, removendo obstáculos durante o processo de aprendizagem, reconhecendo e atendendo as diferenças individuais e respeitando as necessidades de qualquer estudante. Ao invés de focalizar a deficiência, enfatiza o ensino e a escola, bem como as formas e as condições de aprendizagem. O professor é o profissional da aprendizagem, é alguém que aprende quando ensina, porque pode observar o processo de desenvolvimento de seus estudantes. É aquele que procura a resposta, o recurso e o apoio para remover as barreiras, e não coloque o estudante em desvantagem. O projeto político pedagógico de cada escola, que se propõe inclusiva, deverá atender ao princípio da flexibilidade em seu currículo, favorecendo o progresso escolar. Deste modo, estará promovendo a constituição de uma nova cultura, ressignificando seus valores, crenças e práticas. Segundo Santos (2009), a diferenciação pedagógica constitui-se uma resposta orientada pelo princípio do direito de todos à aprendizagem, essencial para dar resposta a heterogeneidade de estudantes que frequentam a escola. Ela acontece através da interação entre o estudante, o professor e o saber. Sendo assim, temos como proposta, neste estudo, de dar foco a uma concepção de diferenciação pedagógica, como possibilidade de garantir aprendizagem escolar para os nossos estudantes. Trazemos uma discussão sobre o Ensino Colaborativo (EC) como proposta da educação inclusiva, ensino este que constitui no desenvolvimento de uma parceria entre as docentes do Atendimento Educacional Especializado (AEE) e as das matérias escolares _ no caso dos anos iniciais do EF, professoras do Núcleo Comum (NC) _, compartilhando regência, planejamento e avaliação no ensino. Mendes (2008b) que o desafio maior é constituir uma cultura colaborativa na escola, pensar propostas de formação de professores e de trabalho pedagógico com base na filosofia colaborativa: “a ideia de colaboração pode ser considerada hoje a chave da efetivação do movimento de inclusão” (MENDES, 2008b, p. 114). Objetivos Este trabalho tem como objetivo geral evidenciar o favorecimento da diferenciação pedagógica para o processo de aprendizagem, considerando as relações entre o professor de sala de recursos, o professor de sala de aula, o estagiário e o estudante com necessidades educacionais especiais. Os objetivos específicos são: explorar a concepção de inclusão escolar, conceituar diferenciação pedagógica, destacando sua aplicação em práticas escolares cotidianas e relatar as experiências de diferenciações curriculares desenvolvidas em uma sala de recursos multifuncionais de uma escola pública municipal e os recursos e materiais de tecnologia assistiva e comunicação alternativa e ampliada produzidos em um Instituto de Aplicação de uma Universidade Pública, ambos na cidade do Rio de Janeiro. Nesses espaços, a diferenciaçãocurricular é vista como uma necessidade para aprendizagem, produção de conhecimento e sobretudo, na potencialização e desenvolvimento dos estudantes com necessidades educacionais especiais. Desenvolvimento Diferenciação Pedagógica – qual a sua importância para a aprendizagem? O direito à igualdade de oportunidades e que defendemos enfaticamente, não significa um modo igual de educar a todos e, sim, dar a cada um o que necessita em função de seus interesses e características individuais. (EDLER, 2004, p.35) Trabalhar com alunos em níveis muito diferenciados de conhecimentos deixa os professores inseguros e ansiosos para colocá-los em um modelo homogêneo. Quando nesta classe ainda existe um estudante com deficiência, este professor fica ainda mais abalado, sem saber o que fazer. É preciso, então, pensar em um aprimoramento da qualidade do ensino e trabalhar com princípios educacionais válidos para todos, incluindo os estudantes com necessidades educacionais especiais. Na nossa realidade, ainda encontramos muitos professores com dificuldades em realizar estratégias pedagógicas diferenciadas, ensino individualizado. Para que haja respeito à diversidade na escola, é necessário que todos sejam reconhecidos como iguais em dignidade e em direito, porém sem deixar de considerar as inúmeras formas de diferenciação que existem entre os indivíduos e os grupos. Devemos fornecer o apoio e os recursos necessários para que não haja tanta “assimetria”, desigualdade nas oportunidades e no acesso aos recursos. Pensando assim, não há mais espaço dentro do contexto escolar para um modelo institucional uniformista onde todos devem aprender da mesma maneira, sem diversificação do ensino, utilizando os mesmos recursos e ações e objetivando simplesmente garantir a aprendizagem através do currículo escolar único. Diante de tal desafio no interior da escola, onde não se pode negar a diferença que está presente, e que cada vez mais é evidente, existe uma busca para garantir o acesso e permanência, nesse contexto alguns conceitos vão se configurando pertinentes como respostas às demandas que se apresentam. Essa perspectiva educacional que pressupõe a diferenciação contempla uma alternativa de trabalho que é o ensino individualizado, onde cada estudante desenvolve atividades de acordo com suas necessidades e potencialidades, suas tarefas não são descontextualizadas da proposta curricular, mas partem do currículo para atingir os objetivos escolares. A diferenciação no contexto das propostas didáticas é aberta e diversificada, procurando desafiar os estudantes no processo de construção dos saberes. Todos os alunos devem aprender juntos, sempre que possível, independentemente das dificuldades e das diferenças que apresentam. As escolas inclusivas devem reconhecer e satisfazer as necessidades diversas dos seus alunos, adaptando-se aos vários estilos e ritmos de aprendizagem, de modo a garantir um bom nível de educação para todos, através de currículos adequados, de uma boa organização escolar, de estratégias pedagógicas, de utilização de recursos e de uma cooperação com toda a comunidade (UNESCO, 1994, p.7). Isto é o que se espera de um trabalho de diferenciação pedagógica. Permitir ao estudante o acesso à aprendizagem, utilizando estratégias para aprendizagem baseado em um currículo único, porém aberto e flexível. A individualização, no sentido de diferenciação pedagógica, consiste na adequação do ensino mediante as necessidades específicas do aluno. No entanto, vale ressaltar que essa ação não tem efeito exclusivo sobre o estudante em processo de inclusão, pois, embora alguma estratégia tenha sido desenhada para responder a uma necessidade individual, pode favorecer a aprendizagem de um grupo e até de uma turma inteira. O projeto político pedagógico da escola deverá atender ao princípio da flexibilidade em seu currículo, respeitando o caminhar próprio de cada estudante, favorecendo assim o seu progresso escolar. É preciso identificar barreiras que estejam impedindo ou dificultando o processo educativo. A avaliação deve sinalizar o processo de desenvolvimento e aprendizagem, o potencial do estudante, os conhecimentos já adquiridos e aqueles que estão em processo. Dentro da perspectiva sócio histórica, temos que estar atentos aos conhecimentos que, através das interações vão se construindo. Diferenciações pedagógicas na Sala de Recursos Multifuncional e em uma classe inclusiva O trabalho de diferenciação pedagógica na Sala de Recursos Multifuncional tem como objetivo dar ao aluno aparatos para a sua caminhada individual. O AEE deve, a partir das necessidades especiais de cada aluno, pensar em qual tipo de ajuda poderá oferecer a fim de cumprir com as finalidades da educação. As respostas a essas necessidades devem estar previstas e respaldadas no projeto político pedagógico da escola, não por meio de um currículo novo, mas com atividades pedagógicas diferenciadas que busquem garantir aos alunos com necessidades educacionais uma maior participação e que considerem as especificidades que as suas necessidades possam requerer. Escola A: Escola de dois turnos, com uma Sala de Recursos Multifuncionais (SRM) localizada na zona oeste do Rio de Janeiro, em uma comunidade com aproximadamente 54.793 habitantes, que é a terceira maior favela do Rio de Janeiro (IBGE, Censo 2010). O local é conhecido com uma das comunidades mais nordestinas da cidade, com muitas diferenças sociais e uma grande quantidade de crianças em idade escolar. Atualmente, a SRM atende a quarenta e cinco (45) estudantes com necessidades educacionais especiais matriculadas na própria escola e uma matriculada em uma escola próxima. Atuam nesta sala de recursos, duas (2) professoras. Para que estudantes com necessidades educacionais especiais possam participar integralmente do contexto escolar com resultados favoráveis, alguns aspectos precisam ser considerados como a preparação dos professores, de toda a equipe escolar, o apoio adequado, os recursos especializados, as adaptações curriculares e de acesso ao currículo. É preciso entender que cada um tem a sua especificidade e por conta disto não podemos esperar que todos os estudantes atinjam o mesmo grau de abstração ou conhecimento num tempo determinado. O trabalho simultâneo, cooperativo e participativo nas atividades desenvolvidas na escola, deve ser estimulado sempre. O trabalho de diferenciação pedagógica na SRM tem como objetivo dar ao estudante aparatos para a sua caminhada individual. O AEE deve, a partir das necessidades especiais de cada um, pensar em qual tipo de ajuda poderá oferecer a fim de cumprir com as finalidades da educação. As respostas a essas necessidades devem estar previstas e respaldadas no projeto político pedagógico da escola, não por meio de um currículo novo, mas com atividades pedagógicas diferenciadas que busquem garantir aos estudantes com necessidades educacionais uma maior participação e que considerem as especificidades que as suas necessidades possam requerer. No início do trabalho, quando o estudante chega à escola e é encaminhado ao atendimento educacional especializado (AEE), a nossa primeira ação é estabelecer vínculo com ele e com a família. Em uma entrevista inicial poderemos conhecer a história de vida deste estudante, seu contexto familiar, suas habilidades. Com estas informações, poderemos conhecer melhor as suas necessidades e traçar planos para sua rede de apoio. Na SRM procuramos ensinar ao estudante a utilizar a tecnologia ou o recurso de acessibilidade, para que haja uma organização na aprendizagem. São produzidos diversos materiais de baixa e de alta tecnologia que auxiliam a participação do estudante nas atividades escolares. Estes materiais serão experimentados por ele com a nossa mediação. No processoavaliativo também necessitamos utilizar estratégias adaptativas. Podemos modificar os objetivos considerando as condições do estudante dentro do seu ano escolar. Considerar que ele possa alcançar os objetivos comuns ao seu grupo, porém necessitando de um período de tempo mais longo. Como cita Glat (2007), fazer essas adaptações nos instrumentos de avaliação do estudante, não significa promovê-lo indiscriminadamente para os anos seguintes. Deve-se avaliar com critérios e flexibilidade, atendendo aos estilos, ritmos e peculiaridades individuais de aprendizagem. Cada um tem o seu ritmo, suas especificidades, por isso, o trabalho do AEE vai se modificando. Estamos sempre buscando novas estratégias e novos recursos para atender individualmente a necessidades de todos os estudantes matriculados. O trabalho envolve dedicação, carinho e fidelidade aos princípios de equidade. Em cada momento da realidade escolar precisamos estar atentos para as mudanças necessárias. Escola B: Instituto de Aplicação de uma Universidade Pública do Rio de Janeiro. Considerada de excelência por diversas aprovações dos estudantes nas melhores universidades do Rio de Janeiro, mas também por sua metodologia de ensino diferenciada e corpo docente qualificado. Os estudantes entram no Instituto em dois anos de escolaridade, a saber: no primeiro ano do ensino fundamental por sorteio ou no sexto ano do segundo segmento por provas. Em 2014, passou-se a reservar um número de matrículas para alunos público-alvo da Educação Especial. A partir dessa entrada de estudantes há uma reconfiguração no currículo dessa escola e, portanto, torna-se necessária a construção de uma nova cultura escolar. Como parte dessa mudança, em 2015, foi criado um projeto de estágio interno complementar “Recursos de Tecnologia Assistiva e Comunicação Alternativa e Ampliada na perspectiva da educação inclusiva”, com o objetivo de implementar e organizar recursos de TA e CAA para atender aos estudantes com deficiências e necessidades educacionais especiais. A Política Nacional de Educação Especial na perspectiva da Educação Inclusiva tem como objetivo assegurar a inclusão escolar de alunos com deficiências, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades/superdotação, orientando aos sistemas de ensino para garantir acesso ao ensino regular com participação, aprendizagem e continuidade nos níveis mais elevados do ensino. As tecnologias assistivas estão interligadas às adaptações curriculares. Segundo Oliveira e Machado (2007), são ajustes realizados no currículo, para que ele se torne apropriado ao acolhimento das diversidades do alunado, ou seja, para que seja verdadeiramente um currículo inclusivo. Essas adaptações envolvem modificações organizativas, nos objetivos e conteúdos, nas metodologias e na organização didática, na organização do tempo e na filosofia e estratégias de avaliação, permitindo o atendimento às necessidades educativas de todos os estudantes, em relação à construção do conhecimento. Essas adaptações curriculares dialogam com os Parâmetros Curriculares Nacionais, pois essas envolvem tanto as transformações que a escola precisa fazer para garantir a acessibilidade aos estudantes quanto às adaptações pedagógicas ou curriculares. (CORREIA, 1999). GLAT (2007) diz que ao falar em acessibilidade, há uma tendência a se enfatizar os aspectos físicos, como se o fato do estudante poder se locomover livremente na escola garantisse sua inclusão educacional. Isso é muito importante, contudo, pode no máximo permitir sua inserção social, não sendo suficiente para o processo de aprendizagem e construção do conhecimento. A expressão `Tecnologia Assistiva` pode dar a impressão de que são recursos de elevada sofisticação tecnológica. No entanto, a maioria deles é simples como projetar um assento e um encosto na cadeira que permitam estabilidade postural e favoreçam o uso funcional das mãos. (PELOSI, 2007; BRESCH, 2007). Ora, não podemos desconsiderar a importância das adaptações e criação de recursos materiais e estratégias de ensino, ajudas técnicas ou tecnologias assistivas, que garantam as condições necessárias de acesso ao currículo para esses estudantes, visando autonomia e desenvolvimento acadêmico e social. Este projeto de Estágio Interno Complementar contribui para ampliação dos espaços de pesquisa, acesso aos materiais e recursos e principalmente, para desenvolver a potencialidade dos estudantes. Os recursos de Tecnologia Assistiva (TA) e Comunicação Alternativa e Ampliada (CAA) fazem parte das adaptações e diferenciações curriculares necessárias frente ao desafio da inclusão escolar e do processo de ensino e aprendizagem de estudantes com necessidades educacionais especiais. Além disso, esse projeto conta com a contribuição de um aluno de licenciatura da universidade. Nos dois primeiros anos, nossa aluna bolsista foi uma aluna do curso de pedagogia e desde 2017, tem a presença de uma aluna do curso de ciências biológicas, uma das coautoras deste trabalho. As atividades, de adaptação e diferenciação, geralmente, são realizadas a cada encontro na sala de Atendimento Educacional Especializado (AEE) da escola, onde procuramos compreender e respeitar as potencialidades e limites de cada estudante. No entanto, neste instituto, um estudante com necessidade educacional especial também tem atendimento em sala de aula. A proposta da escola em questão para a educação inclusiva é o Ensino Colaborativo (EC), consistindo no desenvolvimento de uma parceria entre as docentes do Atendimento Educacional Especializado (AEE) e as das matérias escolares _ no caso dos anos iniciais do EF, professoras do Núcleo Comum (NC) _, compartilhando regência, planejamento e avaliação no ensino. Assim, esperamos que um docente se responsabilize mais pelo currículo que deve (ou deveria) atender a todos, enquanto o do AEE por propostas de adequação curricular, flexibilização das atividades pedagógicas, recursos diferenciados e outras formas de garantir a promoção da aprendizagem da criança em processo de inclusão. A seguir apresentamos, algumas adaptações feitas durante o Projeto, os recursos para Comunicação Alternativa e Ampliada que construímos e empregamos com o estudante participante. ● Pasta frasal e fichas de palavras, em que os estímulos de figuras e escrita foram organizados para formar frases e palavras retiradas de textos usados em sala de aula para a aprendizagem da escrita; ● objetos concretos: caixinhas de fósforos com palitos e representação de mídia eletrônica digital, que proporcionaram melhor manipulação pelo aluno, percepção visual e ajudaram na aprendizagem matemática e escrita, além de criar o elo de entendimento com os avanços tecnológicos que caracterizam as novas exigências sociais do mundo em que estamos vivendo. ● Jogo da memória: foram utilizadas palavras-chaves de textos trabalhados em sala de aula pela professora de núcleo comum, estimulando a memória e conexão das palavras ao contexto da história, além de trabalhar o respeito às regras do jogo e vez de cada participante. ● Jogo dos pares: similar ao jogo da memória, porém o par é composto por uma peça com uma ilustração e a outra com a palavra referente. Ajuda no reconhecimento de palavras e figuras, além de estimular a fala do estudante em questão, que não é oralizado. ● Cartões de Comunicação Alternativa: cartões com ilustrações de atitudes não condizentes com o ambiente escolar / social acompanhadas do símbolo de proibição, para que o estudante esteja sempre ciente de atitudes que possam constranger ou machucar alguém, afim de evitá-las. ● Loja de brinquedos: com o uso de brinquedos e dinheiro de mentira, pode- se trabalhar a ideia de socialização, a partir do momento que o estudante assume o papel de vendedor ou comprador, e operações matemáticas deadição e subtração. Conclusão Pensar, então, sobre o atendimento educacional especializado dirigido para alunos com deficiências, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades/superdotação, nos leva a uma reflexão sobre a repercussão e implementação das deliberações contidas nas Diretrizes desse atendimento educacional especializado na educação básica, modalidade especial – Resolução 4º de 2 de outubro de 2009. E isso nos faz pensar, também, em políticas públicas atuais de inclusão escolar. As mudanças curriculares são necessárias para enfrentar as dificuldades que os estudantes apresentam em sua aprendizagem e permitem ao currículo tornar-se mais flexível e dinâmico, atendendo a todos os estudantes. Assim como é necessário pensar em estratégias que busquem, o sucesso para e na aprendizagem. O ensino colaborativo é um tipo de modelo de ensino que contribui para esse sucesso, ou seja, é quando o professor de núcleo comum (NC) trabalha em colaboração com o professor da educação especial. Segundo Vilaronga (2014), a proposta do ensino colaborativo ou coensino tem como característica ser adaptativa, portanto requer tempo para mudanças contextuais. Deve ser intencionalmente cultivada ou desenvolvida e também ser considerada nos processos de formação, tanto inicial, quanto continuada, por meio da atuação profissional a qual permite prática e reflexão sobre ela. Paulo Freire (2007) enfatiza que a educação proporciona a emancipação e promove a autonomia e a consciência crítica dos educandos. Pois bem, nesse sentido, a educação deve estender-se a todos os homens sem distinção de cor, credo ou qualquer outro tipo de discriminação. Assim, acredita-se que a educação deve ser constituída de forma que contemple os estudantes em suas distintas capacidades. A individualização do ensino significa individualizar os alvos, a didática e a avaliação. Referências CORREIA, L. de M. Alunos com necessidades educativas especiais nas classes regulares. Porto: Editora Porto, 1999. GLAT, Rosana. Educação Inclusiva: cultura e cotidiano escolar. Rio de Janeiro: 7Letras, 2007. MENDES, E.G. Inclusão escolar com colaboração: unindo conhecimentos, perspectivas e habilidades profissionais. In: MARTINS, L. A. R.; PIRES, J; PIRES, G.N.L. (Org). Políticas e práticas educacionais inclusivas. Natal: EDUFRN, 2008ª, p. 19-51. OLIVEIRA, E. e MACHADO, K.S. Adaptações curriculares: caminho para uma Educação Inclusiva. In: GLAT, Rosana. Educação Inclusiva: cultura e cotidiano escolar. Rio de Janeiro: 7Letras, 2007. PELOSI, M. B. Por uma escola que ensine e não apenas acolha recursos e estratégias para a inclusão escolar. In: MANZINI, Eduardo José (Org.) Inclusão e acessibilidade. ABPEE, Marília/SP. 2006, pp. 121-132. VILARONGA, C. A. R. Colaboração da educação especial em sala de aula: formação nas práticas pedagógicas do coensino. São Paulo: UFSCAR, 2014. ZABALA, M. A. Planificação e Desenvolvimento Curricular na Escola. Porto: Edições Asa, 1992.