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LIBERDADE, IGUALDADE E FRATERNIDADE OS DIREITOS FUNDAMENTAIS E O CONSTITUCIONALISMO MODERNO

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1
LIBERDADE, IGUALDADE E FRATERNIDADE: OS DIREITOS 
FUNDAMENTAIS E O CONSTITUCIONALISMO MODERNO 
 
Adriano Lino Mendonça1 
 
Vânia Rubia Farias Vlach2 
 
 
RESUMO: Este trabalho tem o escopo de examinar o desenvolvimento teórico do princípio da 
dignidade da pessoa humana, entendendo-o na qualidade de antecedente lógico dos direitos 
fundamentais, isto é, como substrato das normas referentes aos direitos do homem. Analisa-se, 
também, a experiência inglesa de limitação do poder real, bem como as primeiras normas que 
visaram demarcar, ainda que de forma tímida, os direitos individuais dos cidadãos em conjunto 
com a arquitetura legislativa do princípio da legalidade, a abster o Estado de determinadas ações, 
respeitando as individualidades dos cidadãos. Ainda, demonstra-se que o fenômeno dos direitos 
fundamentais desenvolveu-se por meio de uma lógica conjunta de interações histórico-culturais, 
observando-se que as experiências inglesas implicaram efeitos nas colônias norte-americanas, 
culminando com o processo de independência em 1776. Além disso, ressalta-se o papel 
desempenhado pelo pensamento iluminista e pelas teorias liberais enquanto âmago dos direitos 
humanos de primeira geração, a sublinhar as prerrogativas inerentes aos indivíduos e, a contrario 
sensu, os deveres do Estado. A Revolução Francesa é examinada sob a perspectiva da 
consolidação dos direitos fundamentais, ressaltando-se o debate referente aos direitos sociais e a 
sedimentação da dignidade da pessoa humana, salientando-se que a Declaração dos Direitos do 
Homem e do Cidadão 1789 teve uma amplitude ainda maior do que tivera as declarações inglesa 
e norte-americana. Outrossim, estuda-se a solidificação dos direitos sociais, possível apenas 
quando a modificação do ambiente histórico-cultural no mundo foi capaz de propiciar a 
mitigação da visão liberal e, por conseqüência, consolidar a democracia social, avançando para a 
segunda geração dos direitos fundamentais. 
PALAVRAS-CHAVE: Declaração dos direitos – Constituição – Direitos e deveres - 
História. 
 
1 O bolsista é aluno da Faculdade de Direito Professor Jacy de Assis (FADIR), da Universidade Federal de 
Uberlândia (UFU). E-mail: adrianolinomendonca@yahoo.com.br. 
2 A orientadora é Professora Doutora do Instituto de Geografia da Universidade Federal de Uberlândia (UFU). E-
mail: vaniavlach@netsite.com.br 
 
 
 
2
LIBERTY, EQUALITY AND FRATERNITY: THE FUNDAMENTAL 
RIGHTS AND THE MODERN CONSTITUTIONALISM 
 
 
ABSTRACT: This work examines the theoretical development of the human being dignity 
principle, understood as a logical antecedent of the fundamental rights, that is, as substratum of 
the norms regarding man's rights. It is also analyzed the English experience of the royal power 
limitation, as well as the former norms that sought to demarcate, although in a timid way, the 
citizens' individual rights together with the legislative architecture of the principle of legality, to 
refrain the State from certain actions and at the same time respecting the citizens' individualities. 
Still, it is demonstrated that the phenomenon of the fundamental rights was developed through a 
united logic of historical-cultural interactions, being observed that the English experiences 
implicated effects in the North American colonies, culminating with the independence process in 
1776. Besides, it is evidenced the role played by the illuminist thought and by the liberal theories 
while essence of the human rights of first generation, to underline the individuals inherent 
prerogatives and, in a counter sense, the duties of the State. French Revolution is examined under 
the perspective of the consolidation of the fundamental rights, being pointed out the debate 
regarding the social rights and the sedimentation of the human being's dignity. It is argued that 
the Declaration of Man's Rights and of the Citizen (1789) had a much larger width than English 
and North American declarations had had. In the same way the solidification of the social rights 
is studied. That was possible when the modification of the historical-cultural atmosphere in the 
world was able to propitiate the mitigation of the liberal vision and, for consequence, to 
consolidate the social democracy, while moving forward toward the second generation of the 
fundamental rights. 
 
KEYWORDS: Declaration or rights – Constitution – Rights and duties - History 
 
 
 
 
 
 
 
3
INTRODUÇÃO 
 
Para se conhecer melhor o 
desenvolvimento dos direitos fundamentais 
do homem, faz-se necessário estudar o seu 
antecedente lógico, isto é, o princípio da 
dignidade da pessoa humana, bem como 
analisar as positivações, ou seja, as normas 
jurídico-constitucionais sobre o tema, as 
quais são os conseqüentes lógicos das 
prerrogativas essenciais aos homens. 
A dignidade da pessoa humana é o 
núcleo irradiador das proposições 
normativas referentes à proteção do homem 
– antecedente lógico –, e as conseqüências 
extraídas do conceito concretizam-se nos 
direitos fundamentais do homem, haja vista 
que visam servir de fulcro às normas de 
defesa ao ser humano. 
Para atingir o mister objetivado pelo 
trabalho, almeja-se entender como se deu a 
cristalização teórica do princípio da 
dignidade da pessoa humana, perpassando 
por alguns dos principais ambientes 
intelectuais em que tal conceito foi debatido 
e, por conseqüência, modelado. 
Assim, preliminarmente, examina-se 
a conceituação da dignidade da pessoa 
humana para, em seguida, observar-se as 
positivações constitucionais, buscando 
entender o processo de solidificação dos 
direitos fundamentais no Mundo. Em outras 
palavras, busca-se esclarecer as nuanças do 
princípio da dignidade da pessoa humana 
para, em seguida, estudar o 
constitucionalismo ocidental, tendo como 
ponto de partida a limitação do poder 
absolutista na Europa. 
No campo dos debates intelectuais, o 
constitucionalismo transformou-se numa 
forma de mitigar a força persuasiva da teoria 
contratualista clássica e da teoria da origem 
divina do poder real, as quais se 
desenvolveram, basicamente, entre os 
séculos XVI e XVIII, e tiveram como marca 
essencial a busca da fundamentação da 
existência e da legitimação do poder 
absoluto do monarca. 
A teoria da origem divina do poder 
real propagava que o rei era o representante 
de Deus na Terra e que a sua legitimidade 
não deveria, por isso, ser aferida entre os 
homens, mas sim, por meio de sua ligação 
divina. Ademais, por essa teoria, quem 
desobedecia às ordens do rei negava a 
vontade divina, sendo não só um subversor 
da ordem pública, como também um pecador 
de primeira grandeza. (COTRIM, 
2001:128). 
O contratualismo clássico apregoava 
que o poder do rei advinha de um pacto entre 
os homens, com o escopo de conceder ao 
 
 
 
4
monarca, poderes ilimitados, em troca da 
proteção ao cidadão, promovida pelo Estado, 
e com a finalidade de superar a situação de 
barbárie que reinava antes da formação do 
Estado. Como a carta constitucional também 
é um pacto – entre os cidadãos e o Estado –, 
levantaram-se vozes na defesa de que um 
novo pacto, embasadas no postulado jurídico 
reconhecido segundo o qual uma lei nova 
revoga a anterior nos aspectos contraditórios, 
o que poderia representar um abrandamento 
do poder real via promulgação de uma lei 
constitucional. (WEFFORT, 2003). 
Nesse sentido, registre-se que a 
promulgação da Carta Magna Inglesa, em 
1215, marcou o início da derrocada do poder 
absoluto do rei e inaugurou a era da 
limitação do poder estatal, porquantoesta 
Carta motivou diversos países a seguirem o 
mesmo caminho, qual seja: o de reduzir a 
discricionariedade das ações dos 
governantes, a circunscrever as condutas do 
ente estatal pela legalidade. 
 Aborda-se, ainda, como implicação 
direta das transformações européias no feitio 
do poder estatal, o movimento emancipatório 
ocorrido nas colônias norte-americanas e, em 
conseqüência, estuda-se o “Bill of Rights” 
norte-americano, e a configuração da 
estrutura do Estado, modelado após a 
promulgação da Constituição, em 17 de 
setembro de 1787. 
 Além disso, aponta-se a importância 
do pensamento liberal nesse contexto, com 
ênfase ao movimento iluminista, 
salientando-se que foram essas idéias que 
nortearam as modificações sociais por 
intermédio das chamadas revoluções 
burguesas, as quais deram a tônica das 
constituições contemporâneas de diversos 
Estados. 
A Revolução Francesa foi um marco 
na implantação das idéias liberais e da 
superação do sistema feudal de produção no 
continente europeu. Contraditando ao “Bills 
of Rights” norte-americano, percebe-se que 
as discussões teóricas e a própria Declaração 
francesa de 1789, tiveram um maior alcance, 
pois os franceses estavam persuadidos de 
que a Revolução representava uma mudança 
não só para os franceses, mas para todos os 
homens do Mundo, diferentemente dos 
norte-americanos, que tinham como objetivo 
consolidar a independência e manter as 
idéias escravocras defendidas pela elite agro-
exportadora. 
Todavia, o ambiente histórico da 
Revolução Francesa não propiciou a 
implantação dos direitos sociais, limitando-
se a garantir os direitos individuais, os 
chamados direitos fundamentais de primeira 
 
 
 
5
geração. Entretanto, o afirmar dos 
movimentos operários, aliado à notoriedade 
das correntes teóricas como o anarquismo, 
socialismo e o comunismo, forçaram o 
certame sobre os direitos sociais e acerca do 
papel desempenhado pelo Estado frente às 
questões sociais. 
Não obstante todo o desenvolvimento 
francês, os direitos sociais foram soerguidos 
à condição de norma constitucional, pela 
primeira vez no Mundo, no México, em 5 de 
fevereiro de 1917. Foi a primeira Carta 
Constitucional a considerar os direitos 
trabalhistas como direitos fundamentais do 
homem, no mesmo patamar que já se havia 
concedido aos direitos individuais, lançando-
se os esteios da Democracia Social. 
Na Europa, apenas após a Primeira 
Guerra Mundial (1914-1918), houve, por 
causa dos estragos bélicos, ambiente 
profícuo à concretização dos direitos sociais. 
A Constituição da Alemanha de 1919, a 
chamada Lei Fundamental de Weimar, foi o 
principal acontecimento na direção dos 
direitos sociais na Europa, dando contornos 
mais nítidos ao Estado Social de Direito, 
incluindo na pauta estatal a defesa dos 
direitos econômicos e sociais, além dos 
direitos civis e políticos conquistados 
anteriormente. 
Ainda, evidencia-se que o exame dos 
textos legislativos não importa num 
completo conhecimento do fenômeno social, 
pois não raras vezes os textos legais não se 
transformam em realidade fática. Todavia, o 
estudo dos textos legais mostra uma parte 
importante das mudanças de pensamento 
social e, quando interpretado em conjunto 
com os acontecimentos históricos, pode 
trazer o entendimento necessário para se 
compreender o fenômeno social. 
 
MATERIAL E MÉTODO 
 
 Para a concretização desta pesquisa, 
foram utilizadas as referências bibliográficas 
citadas ao final do trabalho e as cartas 
constitucionais, bem como as declarações de 
direitos pertinentes ao tema, enfatizando-se 
os avanços e as conquistas logradas pelo 
homem e a conseqüente diminuição do poder 
do Estado. 
 Na busca de alcançar os objetivos do 
estudo, usa-se o processo metodológico de 
raciocínio indutivo, isto é: partiu-se das 
experiências particulares com o objetivo de 
entender o processo histórico de 
desenvoltura dos direitos fundamentais do 
homem. Em consonância com o plano de 
trabalho, buscou-se, pela leitura dos textos 
relativos ao assunto, fazer um apanhado 
 
 
 
6
teórico, sintetizando os principais 
argumentos dos mais variados autores e 
adicionando as percepções trazidas no 
contexto da hermenêutica dos textos legais. 
Após a realização da pesquisa 
bibliográfica, passou-se à redação deste 
artigo, para registrar os resultados 
alcançados pelo trabalho. 
 
RESULTADOS E DISCUSSÃO 
 
1 – A ONTOLOGIA DO 
PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA 
PESSOA HUMANA 
 
 
Um dos conceitos mais importantes 
que serve de orientação às modernas 
legislações constitucionais, fulcro sobre o 
qual se arraigam os direitos fundamentais, é, 
sem dúvida, o conceito da dignidade da 
pessoa humana. 
Salta aos olhos uma aparente 
redundância na nomenclatura, pois, 
aparentemente, bastaria dizer que a 
dignidade é da pessoa, sem a adjetivação 
“humana”. Contudo, pode-se afirmar que há 
uma necessidade prática, arrimada numa 
explicação teórica, de se denominar o 
princípio em exame dessa maneira. Para se 
entender melhor o conteúdo e a 
denominação do princípio da dignidade da 
pessoa humana, urge direcionar a atenção 
para a evolução histórica do conceito. 
A primeira fase do desenvolvimento 
teórico do conceito de dignidade da pessoa 
humana remonta à Idade Antiga, 
especialmente ao pensamento estóico, o qual 
surgiu em Atenas por volta do ano 300 a.C., 
geralmente atribuído à Zenão de Eléia. 
O estoicismo apregoava que todos os 
seres humanos são iguais em dignidade, 
advindos duma unívoca razão (“logos”) 
universal (ABRÃO, 2004:74). Com o 
escopo de sustentar a aludida tese, os 
estóicos lançaram mão de dois conceitos, 
representados pelas palavras “hypóstasis” e 
“prósopon”. Aquela foi traduzida para o 
latim como “substantia” (substância), para 
manifestar o substrato inerente a todos os 
indivíduos, ao passo que a palavra 
“prósopon”, que designava as máscaras 
usadas no teatro grego, mormente para 
representar personagens femininas (em 
função da impossibilidade da participação 
das mulheres nas encenações teatrais), foi 
transposta para o latim como “persona” 
(pessoa). Com isso, os estóicos quiseram 
explicitar que, apesar da aparente diferença 
existente entre os homens, representada 
metaforicamente pela máscara (“prósopon”), 
não existe uma variação essencial nos seres; 
são todos iguais, diferindo, apenas, quanto 
 
 
 
7
ao papel desempenhado neste enorme teatro 
chamado universo. (COMPARATO, 2004). 
No que tange à visão teológica, não 
se olvide a preceituação arrogada, tanto pelo 
Antigo quanto pelo Novo Testamento, de 
uma semelhança imanente entre Deus e os 
seres humanos, para mostrar, como 
conseqüência lógica, a existência duma 
especial dignidade imputada à pessoa 
humana (SARLET, 2002). Mesmo diante 
dessa constatação, continua-se a exaltar a 
importância do pensamento estóico até 
mesmo para a concepção religiosa sobre o 
tema, haja vista que a famosa porfia entre os 
doutores da Igreja Católica acerca da Divina 
Trindade, exemplifica, sobremaneira, o 
mérito do estoicismo. 
Havia duas correntes antinômicas no 
seio da cúpula da Igreja Católica: a 
monofisista e a ariana. Os monofisistas 
asseveravam que Cristo possuía uma 
natureza una, puramente divina, e 
descartavam sua natureza humana. Os 
arianos, em posição antagônica, afirmavam 
que Cristo havia sido gerado por Deus, não 
tendo natureza intrínseca a Ele. 
Para por fim às divergências, as 
autoridadeseclesiásticas reuniram-se em 
Nicéia, no ano de 325, quando realizaram o 
primeiro concílio ecumênico da história da 
Igreja Católica. Diante da dicotomia de 
teses, ficou decidido, tendo como baluarte 
teórico os conceitos estóicos de “hypóstasis” 
e “prósopon”, que, em consonância com o 
dogma da fé cristã, Jesus Cristo apresenta 
duas essências (“hypóstasis”), uma divina e 
outra humana, em uma só pessoa, ou seja, 
possui uma só aparência. Diante disso, ficou 
confirmada a Divina Trindade; um ser com 
aparência de homem e com duas essências, 
uma humana e outra divina. 
(COMPARATO, 2005). 
A visão oriunda do Concílio de 
Nicéia vigeu soberana por muito tempo, até 
Boécio, no século VI, elaborar outra 
explicação sobre a dignidade da pessoa 
humana. Utilizando-se da metodologia 
aristotélica, considerou que existiria uma 
identificação entre a substância e a pessoa, 
porquanto a pessoa é, nesse sentido, a 
especificação individual da substância 
racional. Assim, a pessoa (“prósopon”) não é 
a exterioridade do indivíduo, mas a própria 
forma que modela a matéria, ou seja, é a 
substância que caracteriza o ser. 
A problemática do aparente 
pleonasmo pode ser vencida quando se 
compreende a construção teórica do 
conceito: existe uma igualdade substancial, 
que é o próprio centro irradiador dos direitos 
humanos, e as diferenças pessoais (a 
individualidade), que também devem ser 
 
 
 
8
respeitadas. Além disso, do ponto de vista 
pragmático, basta lembrar que o termo 
dignidade é polissêmico, podendo ser 
utilizado, v.g., para designar tratamentos 
honoríficos, ou um patamar hierárquico 
desempenhado em uma dada empresa. 
Para dar maior densidade ao conceito 
e menor extensão à sua aplicação, e evitar 
que ocorram distorções, é necessário deixar 
claro que o conceito de dignidade da pessoa 
humana leva em consideração tanto os 
aspectos intrínsecos aos homens, quanto os 
extrínsecos, a proteger a igualdade e 
respeitar a diferença. 
 
 
2 – A DIGNIDADE DA PESSOA 
HUMANA E O FENÔMENO 
NORMATIVO 
 
 
Com a necessidade de laicizar a 
explicação e normalizar o princípio, veio a 
dificuldade de conceituá-lo. Qual a origem 
da idéia de dignidade da pessoa humana no 
plano normativo? 
São várias as explicações, mas pode-
se sintetizá-las em duas principais correntes 
teóricas, a saber: a jus naturalista e a 
ficcionista. 
A explicação jus naturalista observa 
que a dignidade da pessoa humana advém de 
um direito imanente à natureza do homem 
cuja vigência é indeterminada, prescindindo, 
por conseguinte, das positivações 
legislativas. Dessa forma, explicita-se a idéia 
de direito natural, enquanto uma qualidade 
inata, inerente à condição de ser humana, 
pelo simples fato de ser um ente racional, 
que se diferencia dessa forma dos demais 
seres, os quais são desprovidos de dignidade. 
No que se refere à análise dos 
ficcionistas, a dignidade humana passa a ser 
encarada como criação técnica do direito; 
não remonta a nenhum direito de natureza, 
mas, sim, resulta da criação da mente do 
legislador, o qual criou tal conceito com a 
finalidade de amparar os seres humanos. 
Nesse sentido, embute-se uma noção de 
conceituação jurídica apriorística, a antever 
as necessidades humanas e discipliná-las por 
meio da racionalidade técnica do direito. 
Quando se examina a origem desse 
instituto, observa-se que o entendimento jus 
naturalista carece de concretude e abusa das 
abstrações metafísicas. Por outro lado, a 
idéia de ficção jurídica pressupõe um direito 
auto-suficiente, que codifica a priori seus 
conceitos e normas, não levando em 
consideração os acontecimentos histórico-
culturais como substrato inerente às normas 
jurídicas fundamentais. 
O juízo mais razoável no que se 
refere ao conceito de dignidade da pessoa 
 
 
 
9
humana é aquele que busca compreendê-lo 
tendo por base as relações sócio-culturais – 
daí a dificuldade que o Direito, sobretudo na 
esfera internacional, possui para elaborar 
conceitos universais sobre a dignidade da 
pessoa humana e, por conseguinte, dos 
direitos fundamentais, porque as 
multiplicidades culturais são, aparentemente, 
entraves à realização desse mister. 
Dessa forma, para se compreender o 
fenômeno da positivação das prerrogativas 
inerentes à dignidade da pessoa humana, 
cumpre estudar a História, que propiciou a 
consolidação dos direitos fundamentais em 
conjunto com as declarações, a mostrar que 
os Direitos Humanos foram legitimados pela 
cultura humana sob a desenvoltura da 
História mundial. 
 
3 – O CONSTITUCIONALISMO 
INGLÊS 
 
A Inglaterra contribuiu sobremodo 
para a instauração da era do 
constitucionalismo no Mundo e para a 
positivação dos direitos limitativos da 
atuação do Estado frente aos particulares. 
É verdade que o exame dos textos 
legislativos não comporta a integralidade do 
fenômeno social; do contrário, redundaria 
num anacronismo manifesto. Salienta-se que 
entre a lei e a realidade pode haver 
disparidades; não se pode interpretar a 
produção normativa distante da vontade 
social e política. 
Contudo, junto com as mudanças 
legais, advêm mudanças políticas, as quais, 
sobretudo no caso inglês, representaram 
significativas ferramentas de compreensão 
do comportamento social. 
Diante da instabilidade política e da 
convulsão social, motivada pela insatisfação 
dos barões que ameaçavam o poder do Rei 
João da Inglaterra – conhecido 
historicamente como João Sem Terra –, foi 
prolatada a famosa Carta Magna das 
Liberdades, ou Concórdia entre o Rei João e 
os Barões para a outorga das liberdades da 
Igreja e do reino inglês (“Magna Charta 
Libertatum seu Concordiam inter regem 
Johannem et Barones pro concessione 
libertatum ecclesiae et regni Angliae”), no 
dia 15 de junho de 1215, que iniciou a era 
das normas limitativas do poder político. 
(COMPARATO, 2005). 
Observa-se que, na Idade Antiga, 
alguns impérios possuíam constituições 
escritas, com destaque para o Império 
Romano. Contudo, limitou-se, em Roma, a 
disciplinar as regras de administração, 
inclusive inseridas no “jus civile”, a 
demonstrar a feição de direito privado das 
normas, não compatibilizando com o que se 
 
 
 
10
entende, hoje, por constituição – norma 
pública de garantia da limitação da 
discricionariedade do Estado. 
A Carta Magna representou um pacto 
entre o Rei João e os barões ingleses, a 
demarcar uma sucessão de obrigações; 
nenhum monarca houvera sido adstrito em 
seu poder real, até aquele momento. 
A importância da Carta Magna não 
está no cunho técnico do documento, mas 
sim, na demonstração de que o 
aparentemente inexorável poder absoluto do 
rei dava sinais de enfraquecimento, 
explicitando o início de uma nova era, cujo 
cerne enraizará os limites do poder estatal e 
o necessário respeito à vontade do corpo 
social. Além disso, enfatiza-se que o 
documento sob exame não pode ser 
considerado uma constituição na acepção e 
simbologia modernas, porque sua validade 
restringia-se aos interesses estritos dos 
barões e do Rei (um pacto entre os poderes 
feudais). Ademais, ao examinar um antigo 
documento legislativo, deve-se ter em mente 
que, entre a edição e a efetiva atuação dos 
preceitos legais, existe um enorme abismo, 
que não se pode perder de vista. 
Sem embargo, podem-se destacar, 
como importantes prerrogativas concedidas 
pela Carta Magna, o princípio da 
proporcionalidade da pena, ao estipular no 
artigo 203 que, para os delitosgraves, a pena 
deveria ser de mesma monta da ofensa ao 
bem jurídico, para ressaltar que não haveria 
punição aos delitos de pequeno potencial 
ofensivo. Isso diminuiu a índole de vingança 
que permeava o direito penal da época. 
Os confiscos abusivos, práticas 
recorrentes à época, foram tidos como 
ilegais – artigos 30 e 31 – a partir da 
vigência da Carta na Inglaterra, a demarcar 
os limites da discricionariedade do Estado 
frente aos interesses individuais, embasando 
as condutas dos agentes estatais na 
legalidade. 
Encontram-se, ainda, nos artigos 39 e 
45, o princípio do devido processo legal (due 
process of law) e o princípio do juízo 
natural, assegurando aos homens livres o 
direito de serem julgados por juízes legais e 
de acordo com as leis da terra, impedindo, 
dessa maneira, a instalação de juízo de 
exceção. Ainda, pelo artigo 40, a Justiça 
passou a ser gratuita e sua prestação 
inescusável pelo Estado, simbolizando o 
princípio da inafastabilidade do Poder 
Judiciário, hoje recorrente nas constituições 
modernas. 
 
3 A Carta Magna, em sua gênese, não foi dividida em 
artigos. A divisão aqui apontada leva em conta a 
sistemática utilizada pelo jurista Fábio Konder 
Comparato (2005). 
 
 
 
11
Após a Carta Magna, outra notável 
legislação inglesa é, sem hesitação, a Lei de 
Hábeas Corpus de 1679, a qual permitia que 
as prisões arbitrárias fossem revogadas, 
impedindo que o rei pudesse prender os 
opositores do regime. 
A Lei de Hábeas Corpus, ao 
circunscrever a atuação do rei à legalidade, 
mostrava-se em perfeita consonância com a 
Carta Magna; até então, a ausência de nítida 
separação dos poderes, permitia que o rei 
ordenasse a prisão de quem ele bem 
entendesse, transformando o direito penal 
em instrumento de medo e de repressão 
ilegítima. 
As disputas políticas e religiosas 
trouxeram nova instabilidade ao poder do 
rei. Com a fuga do Rei Jaime II para a 
França, o parlamento declarou o trono vago. 
O novo rei foi escolhido pelo Parlamento, 
em 1689, e assumiu o trono após aceitar 
algumas concessões impostas pelo 
Parlamento; a mais importante delas, o 
respeito ao “Bill of Rights”, carta de direitos, 
a qual se transformou na verdadeira Lei 
Fundamental do Reino inglês. 
A Carta de Direitos Inglesa 
promoveu a separação dos Poderes, dando 
maior autonomia ao Parlamento e 
concedendo-lhe competência exclusiva para 
legislar. Assim, ao diminuir ainda mais o 
poder do rei, esta carta instaurou o início da 
monarquia constitucional, pondo fim à 
monarquia absolutista; agora o rei 
encontrava-se, incondicionalmente, adstrito 
a uma Constituição cuja observância era 
obrigatória. 
Importante prerrogativa conquistada 
pelo Parlamento inglês e que resguardava a 
manutenção do referido órgão, foi a 
imunidade de seus membros, no que tange à 
exposição das suas idéias ou críticas ao rei, 
bem como no que alude aos procedimentos 
utilizados pelos mesmos no Parlamento, 
impedindo a perseguição política. 
O “Bill of Rights”, do ponto de vista 
técnico-jurídico, trouxe à baila importantes 
inovações, como o direito de petição, 
consagrado pelo constitucionalismo 
moderno, que permite ao cidadão pleitear 
informações ou ações junto ao poder 
público. Ademais, a partir desse documento 
legislativo, instituiu-se, na Inglaterra, o júri 
popular, asseverando que os jurados 
deveriam ser devidamente alistados e 
sorteados, para assegurar a necessária 
imparcialidade, além de proibir a aplicação 
de penas cruéis. 
O desenvolvimento legislativo inglês 
é expressão do resultado das lutas políticas 
da sociedade, com implicações internas e, 
sobremodo, externas, influenciando diversos 
 
 
 
12
Estados, a demonstrar que as antigas bases 
do Estado absolutista minavam-se. E que as 
modernas constituições limitavam o poder 
do Estado, atentando para a vontade coletiva. 
Por isso mesmo, não tardou a 
aparecer variações na formatação do Estado 
ocidental, que, no mínimo, questionavam as 
prerrogativas ilimitadas dos governantes. 
Posteriormente, tais questionamentos 
começaram a se disseminar por diversos 
países. 
 
4 - A REVOLUÇÃO AMERICANA 
 
As modificações no feitio do poder 
estatal na Inglaterra foram, em lagar medida, 
o azo dos movimentos de emancipação nas 
treze colônias inglesas da América do Norte. 
É verdade que as idéias oriundas da 
Europa foram importantes fatores exógenos. 
Contudo, não se pode negligenciar a 
existência de vetores endógenos, isto é, de 
elementos intrínsecos ao próprio modo de 
vida americano, tais como a presença duma 
certa unicidade cultural e religiosa, as quais 
favoreceram, substancialmente, a Revolução 
Americana. 
 
“A identidade de uma nação é de 
natureza predominantemente 
cultural, formando um conjunto 
próprio de costumes, valores e visões 
do mundo. É essa especificidade 
cultural que distingue uma nação 
das demais e acaba por torná-la um 
Estado independente. No caso dos 
Estados Unidos, o patrimônio 
cultural próprio formou-se, desde os 
primórdios da colonização, em 
contraste com os valores sociais e 
costumes políticos vigentes na Grã-
Bretanha. A independência das treze 
colônias britânicas da América do 
Norte era, portanto, um resultado 
histórico previsível e inelutável”. 
(COMPARATO, 2005:95). 
 
 
Contudo, as idéias de liberdade 
originárias da Europa, sobretudo da 
Inglaterra e da França, podem ser vistas 
como o conteúdo ideológico do movimento 
de independência das colônias americanas. 
Ademais, outros fatores corroboraram com a 
luta pela emancipação. 
Com o advento da guerra entre a 
Inglaterra e a França, pela ocupação de 
territórios canadenses, o Reino Britânico 
viu-se excessivamente onerado pelos gastos 
bélicos. Com a finalidade de balancear as 
receitas, a Inglaterra promoveu modificações 
na política monetária e um processo de 
super-tributação aos colonos da América do 
Norte. Entre as medidas adotadas pela Coroa 
inglesa, com referência à política monetária, 
destaca-se a diminuição do papel-moeda 
circulante na colônia (Currency Act), o que 
causou uma significativa retração da base 
monetária, isto é, houve escassez de papel 
 
 
 
13
moeda em circulação nas colônias, o que 
causou graves problemas de iliquidez 
econômica. 
No que concerne às medidas 
tributárias, casou grande consternação social 
a imposição aos colonos de novos impostos, 
tais como a Lei do Açúcar, que estabelecia a 
proibição de importação de aguardente 
estrangeira e a determinação de taxas sobre a 
importação do açúcar que não procedesse 
das Antilhas Britânicas; a Lei do Selo, a qual 
estipulava taxas sobre documentos 
comerciais, jornais e livros. 
Outros normativos britânicos 
trouxeram indignação aos norte-americanos: 
é o caso da Lei do Alojamento, que obrigava 
os colonos a fornecerem alojamentos e 
refeições aos soldados ingleses que estavam 
em campanha contra a França; e a Lei do 
Chá, que concedia o monopólio da venda de 
chás à Companhia das Índias Orientais. 
(COTRIM, 2001). 
 Diante desse quadro insustentável de 
pressão econômica e expropriação dos lucros 
por meio de uma implacável política 
tributária, formou-se um ambiente 
extremamente profícuo à disseminação de 
pensamentos libertários. Nesse contexto, 
revoltas sucederam-se; os discursos dos 
colonos eram cada vez mais fortes, 
sinalizando para uma ruptura do pacto 
colonial. 
 Assim, em 1774, representantes das 
treze colônias reuniram-se na cidadede 
Filadélfia, para a realização de um 
congresso. Essa foi a primeira reunião dos 
colonos e tornou-se importante, porquanto 
foi nesse encontro que Thomas Jefferson 
redigiu o famoso “A Sumary View of the 
Rights of British America”, em cujo 
conteúdo trouxe as premissas que serviriam 
de sustentáculo à Declaração de 
Independência das colônias. Observa-se, por 
exemplo, teses como: direito de 
autodeterminação dos povos livres, 
igualdade entre os homens, a defesa de 
direitos derivados da natureza humana e a 
defesa da dignidade da pessoa humana, 
conquanto muitas dessas teses foram 
suprimidas e não compuseram o texto final 
da Declaração do Congresso de 1776: 
 
“O Congresso Continental de 1776, 
no entanto, reduziu em cerca de um 
terço o original de Jefferson, 
suprimindo notadamente o seguinte 
trecho, em que se condenava o 
tráfico negreiro em termos 
grandiloqüentes: ‘Ele (o rei Jorge 
III) empreendeu uma guerra cruel 
contra a própria natureza humana, 
ao violar os seus mais sagrados 
direitos à vida e à liberdade, nas 
pessoas de um povo distante que 
jamais o ofendeu, capturando-as e 
transportando-as como escravos em 
 
 
 
14
outro hemisfério, quando não 
fazendo-as (sic) morrer 
miseravelmente durante a viagem. 
Essa operação bélica de pirataria, o 
opróbrio de potências infiéis, é a 
guerra empreendida pelo Rei cristão 
da Grã-Bretanha. Decidido a manter 
aberto um mercado em que seres 
humanos seriam comprados e 
vendidos, ele prostituiu seu poder de 
veto, ao suprimir toda iniciativa 
legislativa de proibir ou restringir 
esse comércio execrável. E para que 
esse conjunto de horrores nada fique 
a dever ao acaso, ele está agora 
incitado aquelas mesmas pessoas a 
levantar armas contra nós, de modo 
a conquistar a liberdade da qual ele 
as privou, pelo assassínio do povo 
em cujo seio elas foram 
introduzidas: compensando, por 
essa forma, os crimes cometidos 
contra as liberdades de um povo 
com os crimes que ele o força a 
cometer contra as vidas do outro 
povo”. (COMPARATO, 2005:101). 
 
 A análise do Bill of Rights norte-
americano traz como resulta a constatação de 
que foi inspirado no Bill of Rights inglês de 
1679, ao positivar os chamados “direitos de 
natureza” e na sua substância filosófica teve 
como fonte o pensamento liberal, 
propugnado, sobretudo, por John Locke, e 
pelo pensamento ilustrado de Montesquieu e 
Jean-Jacques Rousseau. 
Com a promulgação da Constituição 
em 17 de setembro de 1787, Os Estados 
Unidos da América tornaram-se os pioneiros 
no constitucionalismo moderno, na sua 
acepção técnico-jurídica. Não se olvida, 
porém, as experiências gregas e romanas, 
mas os esforços dos antigos se limitaram a 
uma constituição preocupada com a estrutura 
social. Os Estados Unidos inovaram ao 
conceberem a Constituição como um ato 
causa da vontade política e como um 
instrumento de proteção do cidadão, 
enquanto efeito prático. 
Ademais, os norte-americanos 
demarcaram, desde o início, o princípio da 
supremacia da Constituição, zelando e 
garantindo, assim, pela estabilidade jurídico-
constitucional, os direitos humanos. 
Ademais, a Carta norte-americana ganhou 
um feitio rígido, só podendo ser mudada 
pelo Poder Legislativo, em processo solene. 
Com essas medidas, os constituintes 
frustraram qualquer tentativa de uma 
possível burla dos direitos constitucionais 
proclamados pela Assembléia. (MORAES, 
2006). 
No plano técnico-jurídico, a 
Constituição dos Estados Unidos da América 
adotou como forma de organização do 
Estado, o Federalismo e, como regime 
político, a República Presidencialista. 
Adotou-se a tripartição dos poderes nos 
moldes da doutrina defendida por 
Montesquieu, sendo o Legislativo em 
sistema bicameral, remontando à tradição 
 
 
 
15
anglo-saxônica, composta por um Senado e 
uma Câmara de Representantes. O Judiciário 
foi organizado através de tribunais inferiores 
e da Suprema Corte, o órgão máximo do 
Poder Judicante, responsável por, em última 
instância, interpretar a Constituição Federal. 
 A Constituição dos Estados Unidos 
da América foi o principal modelo de 
organização do Estado, utilizado no Brasil 
quando da instauração da República: 
 
“Após a Proclamação da República 
através do Decreto n. 1 de 15 de 
novembro de 1889, tornou-se 
imperativo obrar uma nova 
constituição, pois a antiga não 
coadunava com os ideais 
republicanos. De fato, a nova 
Constituição foi aprovada em 24 de 
fevereiro de 1891, tendo como 
principal artífice Ruy Barbosa, 
notório intelectual da época, o qual 
confeccionou o projeto, 
profundamente influenciado pela 
Constituição dos Estados Unidos da 
América de 1787. Ele era um 
entusiasta do constitucionalismo 
norte americano e, em função disso, 
a primeira Lei Republicana do 
Brasil acabou muito parecida com a 
Constituição dos Estados Unidos da 
América. Além desta influência, 
algumas lacunas foram preenchidas 
tendo por base as constituições da 
Argentina e da Suíça.” 
(MENDONÇA & VLACH, 2006:8). 
 
Apesar de todos os avanços 
representados pela Revolução Americana, 
não se pode esquecer que o discurso de 
defesa da pluralidade, da dignidade da 
pessoa humana e da liberdade, foi vencido 
pelo interesse da elite que dependia do 
trabalho escravo para manter seus lucros, 
sustentando o sistema escravocrata advindo 
dos tempos coloniais, alijando os negros, 
índios e seus descendentes dos progressos e 
das garantias que a Constituição trazia 
consigo e, mais tarde, promovendo um 
verdadeiro genocídio contra as comunidades 
indígenas que habitavam, sobretudo, o oeste 
do território norte-americano. 
 Mas, se, pelo lado prático, a 
Constituição norte-americana não 
acompanhou os discursos contumazes dos 
membros dos constituintes pela defesa da 
dignidade da pessoa humana, por outro 
ângulo, cumpriu um importante papel 
histórico: a técnica constitucional e os 
discursos inflamados pela liberdade dos 
povos inspiraram mudanças em todo o 
mundo, e deram maior visibilidade ao 
pensamento liberal. 
 
5 – PENSAMENTO LIBERAL 
 
 O pensamento liberal surgiu num 
contexto de críticas ao conjunto de 
características sociais, políticas, econômicas 
e culturais do chamado “Antigo Regime”. A 
sociedade do “Antigo Regime” era 
caracterizada, no plano político, pelo poder 
 
 
 
16
absoluto do rei, por uma divisão social rígida 
– os estamentos –, e na esfera econômica, 
coexistiam o sistema feudal de produção e o 
ascendente sistema capitalista. Na seara 
cultural, era marcada por uma forte 
intervenção do Estado e da Igreja Católica, 
impedindo a liberdade de pensamento, 
impondo um padrão de convicção filosófica 
e religiosa, cuja inobservância implicava em 
duras sanções por parte do Estado. 
 Nesse contexto, a burguesia 
comercial, classe social ascendente, a qual 
ainda não influía nas decisões políticas do 
Estado, mostrou-se insatisfeita com a 
condição social que ocupava e desenvolveu 
um pensamento crítico ao “Antigo Regime”, 
formando, por conseguinte, uma corrente de 
pensamento que traduzia os seus interesses. 
 Assim, para os burgueses, o Estado 
deveria acumular riqueza para demonstrar 
verdadeiramente o seu poderio. Para 
alcançar esse desiderato, na visão burguesa, 
era indispensável operar um processo 
expansionista das atividades capitalistas. E 
só havia um meio para conquistar esse 
objetivo: abandonar a visão mercantilista e 
conceder liberdade nos negócios e poder 
político à classe burguesa. 
 Dessa forma, a idéia de defesa da 
liberdade conjugou-se com as críticas à 
estruturasocial do “Antigo Regime”, 
conquistando a participação dos intelectuais 
que advogavam um movimento cultural 
conhecido como Iluminismo. 
 O Iluminismo foi uma corrente de 
pensamento que defendia a igualdade no 
comércio: independente do estamento social, 
todos possuíam o direito às mesmas 
oportunidades de contratar e não deveriam 
pagar tributos diferenciados em função da 
classe social a que pertenciam. Com isso, os 
iluministas propugnavam a isonomia 
jurídica, pondo fim aos privilégios da 
nobreza. Eram favoráveis à tolerância 
religiosa e filosófica, contraditando a 
imposição cultural do Estado e da Igreja 
Católica. Defendiam, também, o fim da 
escravidão, entendendo que a liberdade 
pessoal e social era um direito natural do 
homem, e que a propriedade privada era uma 
condição natural do indivíduo. 
 Entre os pensadores que compunham 
a corrente iluminista, destaca-se 
Montesquieu, o qual defendeu a separação 
dos poderes sociais, ressaltando que Estado e 
Igreja não deveriam se misturar, haja vista 
que: 
 
“Não se deve de modo algum 
estatuir pelas leis divinas o que deve 
sê-lo pelas leis humanas, nem 
regulamentar pelas leis humanas o 
que deve ser feito pelas leis divinas”. 
( apud Abrão 2005: 277). 
 
 
 
17
 
 Com referência aos poderes do 
Estado, Montesquieu defendia a separação 
dos mesmos. Assim, qualquer tipo de 
Estado, despótico, monárquico ou 
democrático, possui três poderes: o 
legislativo, o executivo e o judiciário. 
Contudo, apesar da separação, os poderes 
deveriam se auto-interagir, limitando-se 
mutuamente, tendendo ao equilíbrio. 
 Montesquieu defendia que o 
conhecimento do espírito das leis torna 
possível o conhecimento da natureza do 
governo: “É preciso conhecer quais são as 
leis que derivam diretamente dessa natureza 
e que, conseqüentemente, são as primeiras 
leis fundamentais”. (MONTESQUIEU, 
2005:45). Assim, pela lei fundamental da 
República, o povo deve possuir o poder 
soberano; pela lei fundamental do 
Despotismo, o príncipe deve exercer o poder 
como lhe convém e, pela lei fundamental da 
Monarquia, o príncipe possui o poder 
soberano, mas o exerce segundo as leis 
postas pelo poder legisferante. 
Até a liberdade pode ser definida por 
meio do exame das leis, pois, para 
Montesquieu: 
 
“Num Estado, isto é, numa 
sociedade em que há leis, a liberdade 
não pode consistir senão em poder 
fazer o que se deve querer e em não 
ser constrangido a fazer o que não se 
deve desejar. (…) A liberdade é o 
direito de fazer tudo o que as leis 
permitem; se um cidadão pudesse 
fazer tudo o que elas proíbem, não 
teria mais liberdade, porque os 
outros também teriam tal poder”. 
(MONTESQUIEU, 2005:200). 
 
Outro destacado pensador iluminista 
foi Jean-Jacques Rousseau. Sobretudo em 
sua obra Do Contrato Social, Rousseau 
questionou a legitimidade da soberania do 
Estado frente à sociedade civil, colocando-se 
em contraponto com o pensamento político 
clássico, mormente o referente à John Locke 
e Thomas Hobbes. Rousseau não viu o 
contrato social como um pacto que pôs fim à 
guerra, como dissera Hobbes, e nem como 
um instrumento que garantiu o usufruto dos 
bens privados, como defendera Locke. Dessa 
forma, asseverou: 
 
“O homem nasce livre, e por toda a 
parte encontra-se a ferros. O que se 
crê senhor dos demais, não deixa de 
ser mais escravo do que eles. Como 
adveio tal mudança? Ignoro-o. Que 
poderá legitimá-la? Creio poder 
resolver esta questão.” 
(ROUSSEAU, 2005:53). 
 
 Para Jean-Jacques Rousseau, o 
Estado deveria ser governado segundo a 
vontade geral do conjunto da população que 
compõe a sociedade civil, com vistas ao bem 
 
 
 
18
comum. Somente com a participação 
popular, se poderia soerguer a igualdade 
jurídica, haja vista que o legítimo contrato 
social representou, de um lado, a mitigação 
da liberdade incondicional, a qual o homem 
goza no estado de natureza e, de outro, a 
aquisição da liberdade civil, implicando no 
nascimento do direito de cidadania, cuja 
isonomia e a participação política são seus 
corolários. 
Por defender a ampliação da 
participação política da população, o 
pensamento de Rousseau convinha à 
burguesia, que almejava influir nas decisões 
do Estado. Assim, Rousseau passou para a 
História como defensor da burguesia e como 
o filósofo da Revolução Francesa. 
 Na seara econômica, o pensamento 
liberal ganhou destaque, primeiro com o 
pensamento menos elaborado dos fisiocratas 
e, posteriormente, com o mais engenhoso 
pensamento de Adam Smith. 
A palavra fisiocrata tem origem no 
grego, physis: natureza e kratos: poder. Os 
Fisiocratas formaram uma escola de 
pensamento que teve maior expressão na 
França. Defendiam que a intervenção do 
Estado na economia era um erro, pois havia 
leis naturais que orquestravam, por si, a 
desenvoltura do fenômeno econômico: 
Laissez faire, laissez passer. Le monde va de 
lui-même (Deixai fazer, deixai passar. O 
Mundo anda por si mesmo), a síntese de sua 
proposta. Opunham-se à política do 
mercantilismo, entendendo que a riqueza 
econômica advinha da terra e que a indústria 
e o comércio apenas transformavam ou 
faziam circular a riqueza natural; por 
conseguinte, valorizavam a agricultura em 
grande escala, por meio da implantação de 
um capitalismo agrário. 
 O grande mérito do pensamento 
fisiocrata foi preparar o terreno teórico para 
o pensamento de Adam Smith, mormente 
com a defesa da livre concorrência, a qual se 
tornou a alcunha do pensamento liberal 
moderno. 
 Adam Smith é considerado o 
fundador da Economia enquanto ciência, por 
propor “uma interpretação abrangente dos 
fenômenos econômicos, organizados 
segundo um sistema de leis, que explica a 
interação dos seus diversos agentes.” 
(POSSAS, 1997:15). 
 Advogava a existência de leis 
mercadológicas que dirigem o mercado; a 
chamada “mão invisível”. 
“A ‘mão invisível’ é uma imagem 
metafórica, pela qual Smith 
argumentava que, apesar de as 
decisões numa economia de mercado 
serem tomadas de modo 
descentralizado pelos produtores, 
seguindo seus próprios interesses 
egoístas, elas levam à consecução dos 
 
 
 
19
melhores interesses do conjunto da 
sociedade. A mão invisível do livre 
comércio é que dá coerência e 
eficácia a essas decisões e que 
compatibiliza (sic) busca de 
interesses privados e bem público”. 
(POSSAS, 1997:15). 
 
Smith refutou que a intervenção do 
Estado se fazia necessária porque o egoísmo 
dos agentes econômicos dissolveria o 
equilíbrio do mercado, sendo prescindível, 
em regra, a gerência do Estado para impor a 
tranqüilidade. Para Smith, a busca do bem 
individual proporciona o bem coletivo. 
“O pressuposto de que todo o 
comportamento econômico se 
baseava em motivos egoístas e 
gananciosos devia tornar-se o 
fundamento da economia 
neoclássica, em fins do século XIV e 
começo do século XX.” (HUNT, 
1991:78). 
 
 Smith divergiu dos fisiocratas, os 
quais diziam que a riqueza advinha da terra, 
enfatizando que a riqueza de uma nação tem 
o trabalho como núcleo, sendo a divisão do 
trabalho a forma de optimizar a geração 
dessa riqueza: o trabalho cria a riqueza e a 
divisão social do trabalho a amplia. A 
ampliação da riqueza se dá 
fundamentalmente num capitalismo 
industrial, pois reúne as condições 
necessárias para o desenvolvimento da 
divisão social do trabalho. Suas propostas 
ficaram conhecidas como Liberalismo 
Econômico e sua obra, A Riqueza das 
Nações, constituiu-se no sustentáculo teórico 
do capitalismoliberal. 
 Em linhas gerais, foram essas idéias 
que nortearam as modificações sociais das 
chamadas revoluções burguesas, das quais a 
mais importante foi, sem dúvida, a 
Revolução Francesa de 1789, principalmente 
pelas visões jurídicas extraídas das Leis 
francesas e da Declaração de Direitos do 
Homem e do Cidadão, de 1789. 
 
6–PENSAMENTO FRANCÊS NO 
PERÍODO PÓS-REVOLUÇÃO 
 
 A Revolução Francesa marcou a 
implantação de uma boa parte das idéias 
liberais, superando, de vez, o sistema feudal 
de produção, na Europa. A Queda da 
Bastilha simbolizou, também, o acesso 
definitivo da burguesia no poder político e a 
derrocada do “Antigo Regime” na França. 
 Em 26 de agosto de 1789, a 
Assembléia Nacional Constituinte 
promulgou a Declaração dos Direitos do 
Homem e do Cidadão, documento que 
influenciou a Europa e a América, 
persuadindo os povos sobre as vantagens do 
liberalismo democrático, e a motivar 
movimentos similares em diversas partes do 
 
 
 
20
Mundo, inclusive na colônia brasileira 
(Conjuração Baiana, em 1798). 
 É inegável a maior amplitude dos 
argumentos da Declaração francesa em 
contraste com o “Bills of Rights” norte-
americano, porquanto os franceses estavam 
convencidos de que a Revolução Francesa 
defendia direitos dos povos e que os direitos 
declarados ultrapassavam as fronteiras 
culturais francesas, atingindo todos os 
homens, sem qualquer distinção. 
 
“Foi em razão desse espírito de 
universalismo militante que 
Tocqueville considerou a Revolução 
Francesa mais próxima dos grandes 
movimentos religiosos do que das 
revoluções políticas. ‘Vimo-la (a 
Revolução Francesa) aproximar ou 
separar os homens, a despeito das 
leis, das tradições, dos 
temperamentos, da língua, 
transformando por vezes os 
compatriotas em inimigos e os 
estrangeiros em irmãos; ou antes, 
ela formou, acima de todas as 
nacionalidades particulares, uma 
pátria intelectual comum, da qual os 
homens de todas as nações puderam 
tornar-se cidadãos’.” 
(COMPARATO, 2005: 131). 
 
 Dentre os principais elementos da 
Declaração francesa, destaca-se a busca do 
respeito à pessoa humana, a defesa da 
liberdade e da isonomia jurídica entre os 
cidadãos, repudiando as prerrogativas 
estamentais; o direito à propriedade 
individual elevado à categoria de direito 
inerentes ao ser humano, como propugnava 
John Locke; o direito de resistência à 
opressão política, consoante ao que defendeu 
Jean Jacques Rousseau; e a defesa da 
liberdade de pensamento e de opinião. 
(ABRÃO, 2004) 
 É digno de observação que, ao 
contrário da Revolução norte-americana, a 
Revolução Francesa teve, no conteúdo 
ideológico, a prevalência das idéias liberais, 
o que propiciou uma ampla discussão sobre 
a escravidão, haja vista que – conforme já se 
afirmou – o trabalho assalariado era 
considerado como condição sine qua non 
para a concretização da expansão capitalista 
dos países que possuíam um processo 
industrial mais adiantado, como era o caso 
dos países europeus. Apesar disso, somente 
em 1848, a França oficializou o fim da 
escravidão nas colônias. 
Nos Estados Unidos da América, as 
idéias escravocras eram recepcionadas pela 
elite agrária com mentalidade exportadora, 
considerando dispensável a formação de um 
mercado de consumo interno, o que, a 
contrario sensu, justificaria o fim da 
escravidão. 
Além da Declaração dos Direitos do 
Homem e do Cidadão de 1789, colocada 
como preâmbulo da Constituição francesa 
 
 
 
21
promulgada em 3 de setembro de 1791, no 
corpo da Constituição havia, igualmente, 
uma declaração de direitos que completava o 
sentido daquela. 
A declaração da Constituição de 
1791 foi a primeira a reconhecer, ainda que 
de forma tímida, os direitos humanos de 
caráter social: 
 
“Será criado e organizado um 
estabelecimento geral de Assistência 
Pública, para educar as crianças 
abandonadas, ajudar os enfermos 
pobres e fornecer trabalho aos 
pobres válidos que não tenham 
podido encontrá-lo. Será criada e 
organizada uma Instrução pública 
comum a todos os cidadãos, gratuita 
no que concerne às partes do ensino 
indispensável a todos os homens 
(…).” (COMPARATO, 2005:157) 
 
 A primeira Constituição francesa da 
pós-revolução contemplou a chamada 
cláusula pétrea, uma inovação que, somada 
ao princípio da supremacia da constituição, 
nascida da genialidade norte-americana, 
tinha como objetivo garantir a plena vigência 
dos direitos fundamentais. A cláusula pétrea 
consiste em impedir que o Poder Legislativo 
prolate algum ato normativo que prejudique 
ou impeça o pleno exercício dos direitos 
fundamentais, garantidos pela Constituição, 
tendo em vista respeitar a absoluta 
estabilidade das prerrogativas. 
 Com a novel Carta constitucional, a 
França tornou-se uma monarquia 
constitucional; o rei deveria, por princípio, 
governar sob a égide da Constituição. 
Extinguiram-se os privilégios estamentais, 
instaurando-se um regime de isonomia 
jurídica, atendendo aos anseios da classe 
burguesa. 
 Na seara econômica, a Lei defendia a 
liberdade comercial, nos moldes da doutrina 
liberal. Garantia-se que o Estado não 
interferiria na economia, de maneira que as 
leis do mercado dirigissem a sua trajetória. 
 A liberdade religiosa foi propugnada 
na Constituinte e consolidada na 
Constituição de 1791. O poder do Estado foi 
demarcado e, em via de conseqüência, 
destacado da Igreja, retirando-a da vida 
política do Estado francês. O Estado era 
soberano e dividia os seus poderes em 
executivo, legislativo e judiciário. A eleição 
para a escolha dos representantes do 
Parlamento era realizada por sufrágio 
censitário. 
 Contudo, a Constituição de 1791 não 
aboliu a escravidão nas colônias francesas e 
proibiu a manifestação dos trabalhadores 
para reivindicar melhores condições de 
trabalho, desrespeitando a própria 
Declaração dos Direitos do Homem e do 
Cidadão de 1789, mostrando que somente 
 
 
 
22
parte das idéias iluministas fora implantada 
pelo Estado francês. 
 A tentativa frustrada de destituir a 
família real, de promover uma contra-
revolução com apoio do exército austro-
prussiano, precipitou o fim da vigência da 
Constituição de 1791 e do regime 
monárquico-constitucional. Foi convocada 
uma nova Assembléia Constituinte que, sob 
a influência da experiência norte-americana, 
foi denominada de Convenção. (COTRIM, 
2001:261). 
Com o início dos trabalhos da 
Convenção, em 21 de setembro de 1792, 
houve consenso entre os membros sobre a 
extinção do regime monárquico e a 
instauração do regime republicano. 
 À moda da Carta revogada, a 
Constituição de 1793 instituiu uma 
declaração de direitos, depois de muito 
debate entre os girondinos e os jacobinos 
acerca da prevalência dos direitos 
individuais ou dos direitos sociais, chegando 
a um acordo que propiciou a promulgação da 
declaração. 
“A declaração de direito da 
Constituição de 1793, de modo geral, 
limitou-se a enfatizar o conteúdo das 
declarações anteriores. 
Contrariamente à opinião 
tradicionalmente estabelecida, ela 
não representou avanço algum em 
matéria de direitos sociais, em 
comparação com a Constituição de 
1791.” (COMPARATO, 2005:151). 
 
 A Carta de 1793 reconheceu, nos 
artigos 25 e 26, que a soberania, como 
enfatizara Rousseau, pertencia ao povo, 
erradicando o voto privilegiado da Lei de 
1791. Além disso, legitimou o direito de 
resistência contra a tirania do Estado, nos 
moldes de John Locke, afirmando, no artigo 
35, que a insurreiçãopopular é um direito 
sagrado e um dever indispensável do 
cidadão. 
 Contudo, com a instabilidade política 
imanente ao momento revolucionário 
francês, a Constituição de 1793 não chegou à 
plena vigência. A tomada do poder pelos 
girondinos, os quais objetavam a 
legitimidade dos direitos sociais insertos na 
declaração, e a insurreição dos sans-culottes 
em 21 de março de 1795, forçaram a votação 
de uma nova Constituição, promulgada em 
22 de agosto de 1795. 
 A soberania popular declarada pela 
Carta de 1793 não foi repetida, preferindo-se 
uma forma mais genérica, declarando-se a 
universalidade dos cidadãos como sendo a 
personificação da soberania popular. 
 A divisão dos Poderes foi reforçada, 
adotando-se, fidedignamente, o modelo 
teórico de Montesquieu. A Constituição de 
1795 reduziu a proteção dos direitos 
 
 
 
23
fundamentais em relação à Lei revogada. 
Nesse sentido: 
 
“Entre os direitos fundamentais já 
não se incluem nem o de ‘resistência 
à opressão’, nem as liberdade de 
opinião, de expressão e de culto, nem 
tampouco os direitos sociais 
consagrados nas declarações 
anteriores: o direito ao trabalho, à 
assistência pública e à instrução. 
Considera-se inexistente a ‘garantia 
social’(…).”(COMPARATO, 
2005:152). 
 
 O que mais chama a atenção é, sem 
dúvida, a declaração de deveres que a 
Constituição de 1795 trouxe em seu bojo. 
Houve uma incongruência lógica, haja vista 
que, a todo direito declarado corresponde, 
via de conseqüência, um dever proporcional. 
Ademais, as prerrogativas fundamentais, a 
rigor, na qualidade de deveres, são dirigidas 
ao detentor do poder, na maioria das vezes, o 
próprio Estado. Apagogicamente, levou-se a 
uma espécie de “direitos humanos para o 
Estado”, como ressaltou Fábio Konder 
Comparato. (2005:153). 
 Apesar da instabilidade das 
constituições promulgadas na fase pós-
revolução francesa, o nível do debate teórico 
acerca dos direitos fundamentais e do 
próprio papel desempenhado pelas leis 
constitucionais para a concretização do feitio 
do poder estatal, contribuiu 
substantivamente para a consolidação do 
fenômeno que pode ser denominado de 
constitucionalismo ocidental. 
 Preponderantemente, houve, nessa 
época, um grande avanço no que tange aos 
direitos fundamentais de primeira geração, 
isto é: os direitos civis e políticos, mas os 
chamados direitos fundamentais de segunda 
geração, compostos pelos direitos sociais e 
econômicos, não encontraram ambiente 
histórico-cultural profícuo para semeadura 
dos mesmos, apesar dos esforços 
despendidos pelos jacobinos na direção de 
legitimá-los, já que a visão liberal da atuação 
do Estado conflitava, demasiadamente, com 
as prerrogativas de natureza 
socioeconômica. 
 O decantado lema da Revolução 
Francesa – liberdade, igualdade e 
fraternidade – não foi alcançado na íntegra 
pelas modificações operadas pelo processo. 
Pode-se dizer que a Revolução concretizou 
apenas a primeira etapa dos objetivos, ou 
seja, consolidou a liberdade, mas a igualdade 
substancial e a fraternidade ficaram como 
discussões cerebrinas, a compor outras 
etapas da evolução histórica dos direitos 
fundamentais. 
 Os direitos sociais ficaram à margem 
dos debates até o advento da Constituição 
Francesa de 1848, pois a efervescência dos 
 
 
 
24
movimentos proletários – a chamada 
primavera dos povos – deu vitalidade às 
discussões sobre as questões sociais e sobre 
o verdadeiro papel desempenhado pelo 
Estado. 
 A Lei de 1848 misturou a teoria 
liberal da redução dos gastos públicos com a 
gerência do Estado nos problemas sociais, a 
prever a responsabilidade do Estado com 
relação a algumas políticas de cunho social. 
A Constituição, em seu artigo 13, dizia que 
garantiria aos cidadãos a liberdade de 
trabalho e favoreceria a isonomia nas 
relações entre empregado e empregador. 
Além disso, defendia que o Estado deveria 
ocupar o trabalhador desempregado em 
obras públicas e proteger as crianças, os 
doentes e os idosos sem recursos, direitos 
que mais tarde comporiam os conceitos 
fundamentais do Estado do Bem-Estar 
Social, sob a tutela intelectual do pensador 
inglês John Maynard Keynes. 
 Além dos tímidos avanços 
concernentes aos direitos sociais, a Carta 
francesa de 1848 aboliu a pena de morte para 
crime político e tornou ilegal a escravidão, 
importando nas principais alterações no que 
diz respeito aos direitos fundamentais do 
homem, quando comparada às antigas 
constituições. 
 
7 – CONSOLIDAÇÃO DOS 
DIREITOS FUNDAMENTAIS DE 
SEGUNDA GERAÇÃO 
 
 A solidificação dos movimentos 
operários, aliada ao surgimento de correntes 
teóricas como o anarquismo, socialismo e o 
comunismo, forçaram o debate sobre os 
direitos sociais e acerca do papel 
desempenhado pelo Estado frente às mazelas 
sociais. 
 Apesar de todo o desenvolvimento 
teórico e prático dos países europeus, foi no 
México que os direitos sociais, pela primeira 
vez, ganharam amplo destaque, sendo 
colocados em nível constitucional. 
 A Constituição Política dos Estados 
Unidos do México, promulgada em 5 de 
fevereiro de 1917, foi um verdadeiro divisor 
de águas no direito constitucional 
contemporâneo. Foi a primeira Carta no 
mundo a considerar os direitos trabalhistas 
como direitos fundamentais do homem, no 
mesmo patamar que já se havia concedido 
aos direitos individuais, isto é, aos direitos 
fundamentais de primeira geração. 
 A Lei mexicana é uma prova da 
disseminação dos direitos fundamentais no 
Mundo, pois, muito embora as discussões 
referentes aos direitos humanos tenham 
ficado, num primeiro momento, adstritas à 
 
 
 
25
Europa e aos Estados Unidos da América, a 
influência chegou a outros países, já que há 
experiências históricas que, conquanto 
ocorram em um determinado espaço 
geográfico, tornam-se eventos com 
implicação na cultura mundial, não se 
limitando ao país no qual ocorreu. A Carta 
do México antecipou um evento que, na 
Europa, só se consolidaria após a Primeira 
Guerra Mundial, qual seja: o entendimento 
de que os direitos humanos de segunda 
geração deveriam, a exemplo dos direitos 
individuais, ganharem status de norma 
constitucional. 
 Nesse diapasão, a Constituição do 
México de 1917 limitou a jornada de 
trabalho em oito horas por dia para o 
trabalho diurno e de sete horas para o 
trabalho noturno. Fixou que os jovens 
maiores de 12 anos e menores de 16 anos, 
teriam jornada especial de trabalho não 
excedente a seis horas por dia. Estatuiu, 
também, uma idade mínima para o jovem 
ingressar no mercado de trabalho, não sendo 
permitida a contratação de trabalhadores 
com menos de 12 anos de idade. Garantiu, 
ainda, o descanso semanal obrigatório, 
assegurando que, para cada seis dias 
trabalhados, o trabalhador teria direito a pelo 
menos um dia de descanso. A Lei proibiu, 
outrossim, o trabalho insalubre para as 
mulheres e para os menores de 16 anos. 
 Além disso, destaca-se que a Lei 
mexicana protegeu a maternidade, 
garantindo que as trabalhadoras grávidas não 
deveriam realizar trabalhos físicos que 
exigissem esforço considerável três meses 
antes do parto, e desfrutariam de descanso 
no mês seguinte ao parto e, no período de 
lactação, teriam dois descansos 
extraordinários por semana, de meia hora 
cada um, para amamentar os filhos, com a 
garantia de manutenção do emprego e 
percebendo salário integral durante o 
período. 
 É importante lembrar que essas 
modificações nas prerrogativas fundamentaisnão surgiram pela livre e espontânea vontade 
dos governantes. As mudanças de paradigma 
jurídico ocorrem sempre motivadas pelo 
aprofundamento das tensões sociais, e 
culminam com a ruptura dos padrões 
jurídicos tradicionais. 
O principal mister executado pela 
Constituição mexicana de 1917 foi a ruptura 
com o paradigma liberal do trabalho. O 
trabalho era visto como uma mercadoria 
pelos liberais, sujeitando-se às oscilações das 
leis do mercado, deixando o trabalhador à 
mercê das intenções do empregador, sejam 
elas quais fossem. Ao fundar o princípio da 
 
 
 
26
isonomia substancial entre empregado e 
empregador, a Lei do México rompeu com 
um ambiente de legitimação das explorações 
mercantis do trabalho, lançando os 
sustentáculos do Estado Social de Direito. 
Em novo passo, com as modificações 
advindas em decorrência da Primeira Guerra 
Mundial, a Constituição de Weimar de 1919 
foi um importante acontecimento que 
influenciou favoravelmente as instituições 
sociais européias. Por meio da Lei de 
Weimar, o Estado Social de Direito ganhou 
contornos mais definidos em relação à 
Constituição mexicana de 1917, o que 
implicou na consolidação da democracia 
social do pós Segunda Guerra Mundial, a 
contemplar os direitos civis e políticos, bem 
como os direitos sociais e econômicos. 
O artigo 153 da Lei alemã foi uma 
verdadeira inovação no trato com a 
propriedade privada, salientando que a 
propriedade trás em si obrigações, as quais 
os proprietários deveriam observar. Se, 
antes, pelo pensamento liberal, a propriedade 
era somente um direito do proprietário, 
doravante passou a representar um direito e 
um dever, porquanto seu uso deve caminhar 
em direção do bem comum. Tem-se, dessa 
forma, a gênese do moderno princípio da 
função social da propriedade. 
À moda da Lei mexicana, os direitos 
trabalhistas e previdenciários são guindados 
à condição de dogma constitucional. Ambas 
as constituições foram importantíssimas para 
a concretização dos direitos sociais e 
econômicos, e por romperem com a visão 
liberal, lançando as bases da democracia 
social no Mundo. 
 Contudo, nos dias hodiernos, tem 
ganhado força o discurso a favor dos direitos 
fundamentais de terceira geração, a 
completar os objetivos propostos pela 
Revolução Francesa. Assim, os direitos 
fundamentais de terceira geração 
compreendem os direitos de solidariedade ou 
fraternidade, englobam o direito a um meio 
ambiente equilibrado, a uma qualidade de 
vida saudável, incluindo-se o direito ao 
progresso, à paz, à autodeterminação dos 
povos, por meio da cooperação entre os 
Estados. 
 Ainda não ocorreu a implantação 
plena dos direitos fundamentais de terceira 
geração, pois muitos Estados, sobretudo as 
potências econômicas e bélicas, não 
reconhecem a legitimidade de tais direitos, 
haja vista que a busca do equilíbrio 
ecológico, por exemplo, resultaria em perdas 
econômicas. Também, não se olvida que a 
guerra é considerada uma empresa lucrativa; 
além de movimentar a indústria de 
 
 
 
27
armamento e munição, ainda é um meio 
utilizado para se conquistar mercados e 
influência política direta, v.g., a guerra 
Estados Unidos contra o Iraque, iniciada em 
2003. 
 
CONSIDERAÇÕES FINAIS 
 
Ao longo da pesquisa, sobressai o 
mérito do princípio da dignidade da pessoa 
humana enquanto núcleo nascedouro dos 
direitos fundamentais do homem e dos 
conseqüentes limites de atuação do poder 
estatal frente aos cidadãos. 
Com referência à ontologia do 
princípio da dignidade da pessoa humana, no 
atual estágio da compreensão da expressão 
do direito, deve-se levar em conta, 
fundamentalmente, a fenomenologia 
jurídica, isto é, analisar a manifestação das 
prerrogativas fundamentais, atentando-se 
para o conjunto de fatos que compõem a 
realidade concreta, e deixar de lado os 
estudos fixos e abstratos, dando primazia aos 
aspectos históricos e sócio-culturais, os quais 
se constituem no verdadeiro e legítimo 
motor do desenvolvimento legislativo de 
qualquer Estado. 
A consideração de que as relações 
sócio-culturais são as causas motoras do 
nascimento das proposições normativas, 
implica, observando a multiplicidade 
cultural existente no mundo, numa suposta 
impossibilidade de se elaborar normas cujos 
conceitos tenham validade universal (o que 
pressupõe a mesma convivência social nas 
mais diversas partes do globo terrestre). 
Entretanto, deve-se relevar que os 
direitos humanos, bem como o próprio teor 
do princípio da dignidade da pessoa humana, 
lidam com uma fração das prerrogativas 
afetas aos homens. Por mais que elas 
dependam das manifestações sócio-culturais, 
os seus objetivos já estão disseminados pelo 
mundo, não se podendo aceitar mitigações 
quanto ao direito à vida, à dignidade 
humana, sob o pretexto de que as diferenças 
culturais locais determinariam um 
tratamento diferenciado dos direitos 
humanos. 
Se, por um lado, não existe um 
direito anterior e superior a todos os homens, 
dando a feição de um direito de natureza 
metafísico, por outro, se deve observar que, 
na sistemática dos direitos humanos, já se 
consolidou o necessário respeito aos 
homens, preservando-lhes sua dignidade, 
incluindo a liberdade nas suas mais variadas 
instâncias, como a própria independência 
cultural. 
Dessa maneira, proclama-se a 
existência de uma cultura humana universal, 
 
 
 
28
pois as pessoas, por serem da mesma 
espécie, possuem necessidades idênticas, 
ligadas a sua racionalidade, sem a 
observância das quais não se poderia falar 
em dignidade da pessoa humana. Lembra-se 
que existe uma História mundial, cuja 
trajetória não influencia apenas esse ou 
aquele país, mas sim, todos os seres 
humanos, ainda que não de forma 
simultânea. Com isso, não se quer negar a 
existência da cultura local, mas, sim, realçar 
a existência de uma cultura global, modelada 
por acontecimentos históricos de implicação 
mundial, e uma cultura local a ser respeitada, 
porquanto a própria cultura global, por 
intermédio dos postulados dos direitos 
humanos, defende a manutenção e o respeito 
às diferenças culturais, preservando a 
riqueza da diversidade. 
Afirma-se, assim, a existência de 
uma cultura universal, perpetuada sobre a 
base da desenvoltura de uma História 
universal, a qual é a legítima substância dos 
direitos fundamentais do homem, cuja 
validade, eficácia e vigência transcendem 
fronteiras e se harmonizam com qualquer 
cultura local legítima. 
Os propalados entraves entre as 
culturas locais e os direitos fundamentais do 
homem são, na verdade, eventuais 
incompatibilidades entre a prática política 
local que, em muitos Estados, representa a 
vontade de uma minoria que detém o poder 
político e econômico, que insiste em não 
respeitar a dignidade humana, dando estatuto 
de cultura às práticas políticas que 
desrespeitam os direitos humanos, 
promovendo um verdadeiro paralogismo 
com a finalidade espúria de não observar as 
prerrogativas essenciais do homem. 
Verifica-se, também, que não há uma 
relação de perfeita identidade entre os 
direitos humanos positivados e os direitos 
humanos desenvolvidos no plano teórico 
com base nos acontecimentos histórico-
culturais com expressão universal, os quais 
compõem algo mais amplo, denominado de 
princípio da dignidade da pessoa humana. A 
relação entre estes dois fenômenos pode, de 
forma didática, ser representada 
graficamente por dois círculos concêntricos, 
em que o círculomaior alude ao 
desenvolvimento teórico, e o menor refere-se 
às prerrogativas positivadas, a enfatizar a 
existência de uma lacuna que precisa ser 
preenchida, para se chegar ao ápice dos 
direitos fundamentais. 
 Busca-se, ainda hoje, a afirmação dos 
direitos fundamentais de terceira geração, a 
grande empreitada para os defensores das 
prerrogativas essenciais aos homens. Mas, 
como se observou ao longo desse trabalho, 
 
 
 
29
somente em um contexto histórico e cultural 
adequado, idéias novas podem se solidificar. 
Foram necessárias revoltas violentas e 
profundas modificações na óptica de análise 
do poder do Estado, para a confirmação dos 
direitos fundamentais de primeira geração. 
Com relação aos direitos sociais, somente se 
solidificaram com os movimentos operários 
e os resultados nefastos de duas grandes 
guerras mundiais. 
 As catástrofes ecológicas, o 
derretimento das calotas polares, o 
superaquecimento da Terra em função do 
aceleramento do efeito estufa, decorrente da 
emissão desgovernada de gases e a agressão 
à camada de ozônio, têm provocado o debate 
sobre a necessidade de se criar regras que 
inibam a degradação do meio ambiente, sob 
o baluarte de que um meio ambiente 
saudável é um direito de todo ser humano. 
 Além disso, a esdrúxula invasão do 
Iraque pelos Estados Unidos com o fito de 
satisfazer necessidades econômicas ligadas 
ao comércio de hidrocarbonetos, 
desrespeitando a vontade do organismo 
multilateral máximo, a Organização das 
Nações Unidas - ONU, a qual os Estados 
Unidos pertencem, bem como a corrida 
nuclear armamentista que se assiste nos dias 
hodiernos, realçaram o certame sobre a 
imperatividade da busca de harmonia entre 
os Estados e a fixação de normas 
supranacionais ligadas à garantia da paz 
mundial. 
 Vive-se num momento histórico que 
determina a urgência das mudanças de 
padrão cultural do homem moderno. O ser 
humano consciente não tem admitido, com 
passividade, as agressões ao meio ambiente 
e aos países mais frágeis, econômica e 
belicamente. Dessa forma, aponta-se para a 
importância da afirmação dos direitos 
fundamentais de terceira geração, sob pena 
de o mundo se transformar em um lugar 
impossível de se viver e conviver. 
 
 
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