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Resumo Cap IV Pluralismo juridico Wolkmer Fichamento capítulo IV (Pluralismo Jurídico: Projeção de um marco de alteridade). Introdução- Na introdução do texto Wolkmer justifica a legitimidade da volta da discussão sobre o pluralismo jurídico a partir da defesa de um sistema “prático- teórico”. Este sistema resultaria na busca de um novo referencial para a discussão do pluralismo jurídico em face dos avanços sociais e econômicos da sociedade. Deste modo, Wolkmer fala em um “novo pluralismo jurídico” de forma a romper com o modelo formal, sob a justificativa de atender os reais interesses e exigências sociais. Fato que pode ser observado no trecho: “O novo pluralismo jurídico, de características participativas, é concebido a partir de uma redefinição da racionalidade e uma nova ética, pelo refluxo político e jurídico de novos sujeitos - os coletivos; de novas necessidades desejadas - os direitos construídos pelo processo histórico; e pela reordenação da sociedade civil - a descentralização normativa do centro para a periferia; do Estado para a Sociedade; da lei para os acordos, os arranjos, a negociação. E, portanto, a dinâmica interativa e flexível de um espaço público aberto, compartilhado e democrático.”. Wolkmer, então, caracteriza o novo pluralismo jurídico como uma “democracia judicial”. A partir de então o autor anuncia a descrição da análise das etapas para a formação do novo pluralismo jurídico, dividindo-as em quatro partes: 1- Natureza e especificidade O autor caracteriza o pluralismo jurídico como uma oposição ao monismo. Sendo este a representação da multiplicidade de pensamentos, realidades, culturas, filosofias e todos os outros traços que influemna produção jurídica. Para esta compreensão o autor difere Pluralismo social de Pluralismo jurídico. Sendo o primeiro a ampliação dos papéis sociais de classes e culturas, enquanto o segundo se refere à oposição de centralidade de poder. O autor enfatiza a importância de não apenas reconhecer a existência da pluralidade jurídica, mas também o reconhecimento de sua validade; pois o reconhecimento da existência é um fato, enquanto o reconhecimento da validade é um procedimento técnico e ideal. A partir daí Wolkmer apresenta princípios valorativos para a compreensão da natureza e especificidade do novo pluralismo jurídico. a) Autonomia: eficácia das normas plurais independente do consentimento do Estado b) Descentralização: Poder deslocado do Estado para áreas divergentes ao poder estatal formal. c) Localismo: O auge da descentralização, a existência de um poder local independente do Estado. d) Diversidade: Reconhecimento da multiplicidade dos seres, culturas, costumes, realidades e etc... e) Tolerância: Aceitação, valoração e reconhecimento da legitimidade da diversidade. Após a análise e reflexão dos princípios valorativos, o autor chega a síntese do item 4.1. Segundo ele, o novo pluralismo deve coexistir com o Estado, adequando-se à exigências de um processo político. Sendo este processo regido e controlado pela sociedade democrática. Como pode ser observado neste trecho: “O novo pluralismo jurídico, de características participativas, é concebido a partir de uma redefinição da racionalidade e uma nova ética, pelo refluxo político e jurídico de novos sujeitos - os coletivos; de novas necessidades desejadas - os direitosconstruídos pelo processo histórico; e pela reordenação da sociedade civil - a descentralização normativa do centro para a periferia; do Estado para a Sociedade; da lei para os acordos, os arranjos, a negociação. E, portanto, a dinâmica interativa e flexível de um espaço público aberto, compartilhado e democrático.” A partir desta síntese Wolkmer argumenta que o Pluralismo proposto é contraria ao pluralismo proposto pelo “ surto neoliberal radical” que ele considera somente um subversão das normas por parte das corporações privativas. Como observado no trecho: “Tal proposição é radicalmente contrária ao pluralismo desenfreado e implementado pelo surto "neoliberal" e pela retórica "pós-moderna" que favorecem ainda mais o interesse de segmentos privilegiados e corporações privativistas, coniventes com as formas mais avançadas de exclusão, concentração e dominação do grande capital.” 2- Revisão histórica do problema Nesta segunda parte Wolkmer entra em uma discussão histórica sobre a origem e a trajetória da discussão sobre o pluralismo jurídico. O autor inicia o item afirmando que identificar uma uniformidade nos princípios e teoria sobre pluralismo jurídico é uma tarefa difícil, devido a diversidade de modelos, autores. Entretanto, Wolkmer sintetiza um ponto em comum a todos os autores, que fica explicitado no trecho: “Essa situação de complexidade não impossibilita admitir que o principal núcleo para o qual converge o pluralismo jurídico é a negação de que o Estado seja a fonte única e exclusiva de todo o Direito.” Este trecho é bastante útil, também, para uma tentativa de definição de “Pluralismo Jurídico”. Para justificar suaafirmação Wolkmer exemplifica a ideia pluralista em Roma antiga e na Idade Média. Chegando à conclusão de que o monismo jurídico surgiu com Napoleão através do advento do Código Civil para reger toda a sociedade. A partir deste ponto Wolkmer passa por inúmeros teóricos jurídicos, sintetizando a discussão e contrapondo os autores. Com destaque para o trecho: “As ordenações sociais independentes podem até ser consideradas ilícitas pelo Estado, mas não perdem sua condição própria de juridicidade. Daí que o Estado, por não deter o monopólio da produção jurídica, convive com situações que inviabilizam reduzir o lícito ao jurídico. Isso configura um quadro em que o ilícito sob o ponto de vista da ordenação estatal poderá ser perfeitamente jurídico para uma organização não-estatal”. Wolkmer se utiliza de inúmeros autores, com destaque para Eugen Eurich. Por meio deste autor Wolkmer questiona o mecanismo de sanção e coerção estatal, assim como a centralidade da ordem jurídica no Estado, sob o argumento que a essência da ordem jurídica se expressa fora do Estado. Por fim sintetiza com o trecho: “Em suma, perpassa com nitidez nas considerações de Ehrlich a idéia de que a função primordial do Direito em todos os lugares não é a resolução dos conflitos, mas sim a instituição de uma ordem pacífica interna das relações sociais de qualquer associação humana. Assim, pois, o centro gerador do Direito, em qualquer época, não deve ser procurado "na legislação nem na jurisprudência, nem na doutrina ou tampouco no sistema de regras, senão na própria sociedade"”. Da tradição europeia de Ehrlich, Santi Romano e Gurvitch, Wolkmer transfere a discussãopara os âmbitos da America latina e mais tarde Brasil, passando por Boaventura Souza Santos e Roberto Lyra Filho. Fazendo assim uma abordagem histórica e uma discussão teórica. . 3- Possibilidades e limites O autor inicia este item contrapondo suas ideias com a teoria de Boaventura de Souza Santos. Na discussão proposta Wolkmer expõem a definição elaborada por Boaventura de Souza Santos, de que pluralismo jurídico seria a situação na qual dentro de um mesmo território vigora ( oficialmente ou não) mais de uma ordem jurídica. Wolkmer concorda com a definição proposta por BSS, entretanto afirma que a existência desta ordem é resultado de conflitos ou consenso motivado por necessidades existenciais, como pode ser observado no trecho: “Sendo assim, há de se designar o pluralismo jurídico como a multiplicidade de práticas jurídicas existentes num mesmo espaço sócio-político, interagidas por conflitos ou consensos, podendo ser ou não oficiais e tendo sua razão de ser nas necessidades existenciais, materiais e culturais.”. Sendo assim o autor busca explicitar a origem do pluralismo decorrente do próprio Estado, segundo BSS. A partir de uma abordagem histórica ocorre a diferenciação entre Origem coloniale não-colonial: Colonial: Se refere a países que foram obrigados a adotar a legislação da metrópole, como o colonialismo português e inglês. Não-colonial: Se refere a constituições elaboradas de forma revolucionária, como a URSS ou ate mesmo o ordenamento indígena. Então, como proposta de uma segunda origem é apontada a crise de legitimidade proposta por Joaquim Falcão. Falcão afirma que a crise de legitimidade política abreespaço para o não reconhecimento do poder estatal e o surgimento de novas alternativas à lei do Estado. Como pode ser observado no trecho: “Dentro dessa hipótese,para o consagrado investigador, configura-se que a "crise de legitimidade do regime aumenta a probabilidade de uma baixa eficácia da legitimidade estatal, o que por sua vez abre espaços para o surgimento de manifestações normativas não-estatais, sendo notório que tais manifestações não são necessariamente contra o regime. Podem ser e podem não ser. Muitas vezes elas são buscadas pelo próprio governo como válvulas de escape, capazes de viabilizar a posição hegemônica do Direito Estatal” Em outras palavras, parece claro que a "pluralidade das ordens jurídicas é fruto da busca de nova legitimidade". Wolkmer aprimora este conceito trazendo a noção do caráter injusto e ineficaz do sistema normativo estatal, fato que gera a crise de legitimidade política. Deste modo o pluralismo jurídico funcionaria como meio espontâneo da sociedade de tornar as normas mais eficazes e- ao olhar da autor- mais justas(?). Este argumento é justificado pela ideia que o pluralismo jurídico é decorrente do meio adverso no qual foi gerado, deste modo ele já nasce sob a ótica da origem do problema, tornado-o mais fácil de ser solucionado. Wolkmer ainda propõem uma classificação entre “pluralismo jurídico estatal” e “pluralismo jurídico comunitário”. Pluralismo jurídico estatal: reconhecimento de ordem jurídica “semi-autonôma”, mas subordinada ao controle estatal. Pluralismo jurídico comunitário: Formado por forças sociais com autonomia própria, independentes do controle estatal. Ainda assim é introduzidauma nova nomenclatura, dessa vez sobre as situações que o pluralismo jurídico implica: Pluralismo jurídico stritu sensu: É o pluralismo jurídico tal como proposto pela definição de BSS, porém produzindo um embate de validade com a ordem estatal. Pluralidade do direito: Existência de direitos coletivos oficiais. Ex: direito do consumidor, criança e adolescente... Pluralidade de direitos: Situação na qual existem dois direitos oficiais que se contradizem. Ex: Feudo e Igreja. (Antinomia) . 4- Fundamentos do Pluralismo Jurídico como novo paradigma No último item do capítulo Wolkmer retorna à questão levantada na introdução, que se refere à estagnação dos processos, modelos e instrumentos normativos em relação aos avanços da interação humana globalizada. Segundo ele o modelo normativo que antes atendia as necessidades da sociedade, hoje não satisfaz esta demanda. Deste modo abre espaço para a busca de formas alternativas de normatividade. Esta incompetência do sistema normativo, como foi dito antes, foi causado pela expansão das relações sociais, que passaram a ser mais heterogêneas. A partir deste raciocínio o autor argumenta que começa a ser articulado um “Novo direito”, não mais produzido pelo Estado e sim pelas comunidades. A elaboração deste novo direito deverá envolver duas condições: Os fundamentos de efetividade material- os sujeitos e os elementos constitutivos- e os fundamentos de efetividade formal- à ordenação prático-procedimental. Em relação aos fundamentos de efetividade material, Wolkmer busca explicitar os sujeitos atuantes neste novo processo. A síntese da identificação pode ser observada neste trecho: “(...) identidades coletivas conscientes, mais ou menos autônomos, advindos de diversos estratos sociais, com capacidade de auto-organização e autodeterminação, interligadas porformas de vida com interesses e valores comuns, compartilhando conflitos e lutas cotidianas que expressam privações e necessidades por direitos, legitimándose como força transformadora do poder e instituidora de uma sociedade democrática, descentralizadora, participativa e igualitária.”. Após a identificação dos sujeitos Wolkmer também se utiliza de todo um item para identificar as necessidades humanas que legitimam a busca por direitos, porém a síntese de todo o texto do item pode ser resumida neste trecho: “Sendo assim, para efeito desta pesquisa, "carência" (sentido estrito) é designada como privação ou falta de alguma coisa, enquanto "necessidade" (sentido genérico, mais abrangente) todo aquele sentimento, intenção ou desejo consciente que envolve exigências valorativas, motivando o comportamento humano para aquisição de bens materiais e imateriais considerados essenciais.”. Já em relação aos fundamentos de efetividade formal, Wolkmer desmembra à ordenação pratico- procedimental em três aspectos: Reordenação do espaço público, à ética da alteridade e à racionalidade emancipatória. Em relação ao ultimo o autor argumenta que a emancipação é um processo difícil, já que as estruturas sociais possuem uma “ tradição político- cultural centralizadora, dependente e autoritária”, apontando como culpado desta tradição às elites nacionais. Portanto, seria necessário uma ruptura profunda com o modelo imperante resgatando principalmente a noção de comunidade,democracia e gestão descentralizadora. O autor define a noção de comunidade como: “a noção de "comunidade" implica certo aglomerado social com características singulares, interesses comuns e identidade própria, que, embora inseridos num espectro de relações pulverizadas por consenso/dissenso, interligam-se por um lastro geográfico espacial, coexistência ideológica e carências materiais”. Por conta desta definição, o autor defende a legitimidade do pensamento de produção de praticas jurídicas autônomas capazes de satisfazer as necessidades das inúmeras comunidades inseridas dentro de um mesmo sistema globalizado. O autor Dallari aponta seis mecanismos de produção jurídica comunitária: 1. o poder de "iniciativa legislativa" da comunidade com a conseqüente vinculação para os representantes (as propostas legislativas da população não devem ser mera sugestão, pois devem ser discutidas e aprovadas por assembléia ou parlamento); 2. a prática do "plebiscito" enquanto consulta de caráter geral sobre assuntos fundamentais; 3. o exercício do referendum para a aceitação ou rejeição de medidas legislativas; 4. o pronunciamento da comunidade através do "veto popular" sobre determinado projeto de lei; 5. a convocação de "audiências públicas" com a inscrição prévia da população para deliberar sobre futuros projetos; 6. o ato de revogação do mandato e a reconfirmação, tanto do representante político quanto de servidor público comunitário. Fora estes mecanismos Wolkmer reforça a ideia da criação de conselhos, apontando-os como “ a forma democrática mais autêntica de participação(...) do poder de autonomia local” no meio comunitário. .