Buscar

Fracasso do tratamento analítico com paciente suicida-convertido (1)

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 9 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 9 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 9 páginas

Prévia do material em texto

Fracasso do tratamento analítico com paciente suicida. 
Preparado como relato oficial para o congresso da associação psicanalítica 
internacional. 
O autor descreve uma fronteira especialmente perigosa do panorama psicanalítico, ou 
seja, o tratamento de pacientes suicidas com distúrbios graves de personalidade. 
Usando um exemplo clinico de clamorosa violação dos limites por um analista, ele 
descreve armadilhas contratransferênciais suicida do paciente. Essas incluem 
desidentificação com o agressor, fracasso da mentalização, colapso do espaço analítico 
do brincar, reações a perdas na vida pessoal do analista, onipotência, inveja do 
paciente, e capitulação masoquista. O autor ressalta a vulnerabilidade singular que 
acompanha o tratamento analítico desses pacientes. 
Quando o comitê de programação de IPA conferiu-me a honra de ser escolhido como o relator Norte-
americano do tema do congresso, passei algum tempo estudando o significado do tema, “trabalhando 
nas fronteiras”. A palavra “fronteiras” inspirou-me visões de perigo, de selvageria, de regiões não 
civilizadas em que as regras da sociedade não se aplicam. Uma definição oficial era especialmente 
adequada: “A parte de um país que forma a fronteira ou o limite mais longínquo das regiões assentadas 
ou desabitas”(Brown 1993,p. 1034). Uma segunda definição era ainda mais nítida. “Uma barreira 
contraagressões” (Ibid.). Assim, uma questão que se coloca para os psicanalistas, em que somos 
vulneráveis a ataques, sitiados pela selvageria, e colocados em perigo pelo riscos inerentes do nosso 
trabalho. À medida que considerei as fronteiras perigosas da psicanálise, associei com os “desastres” 
psicanalíticos que vi quando pacientes suicidas foram tratados de forma muito inadequada por 
psicanalistas bem intencionados. 
 Minha carreira tem sido singular em alguns aspectos devido ao meu longo interesse em duas 
regiões distintas da assim chamada “ampliação do alcance” a respeito dessa fronteira, às vezes , 
perigosa. Durante alguns anos empreendi o tratamento de muitos pacientes suicidas, resistentes ao 
tratamento, com patologia de caráter grave enviados à clinica Menninger como ultimo recurso. 
Também passei grande parte da minha vida profissional supervisionando, avaliando, ou tratando 
terapeutas e analistas (no mínimo 150 até agora) que cometeram violações graves dos limites com seus 
pacientes. 
 Percebi, com preocupação cada vez maior, que as violações mais clamorosas dos limites eram 
infligidas aos pacientes suicidas mais graves. Ainda que seja fácil para nós difamarmos os analistas que 
perderam seu rumo na escura noite da alma que acompanha o tratamento de pacientes suicidas graves 
com distúrbios da personalidade sugiro nos abstermos de desprezar nossos colegas e em vez disso 
tentarmos aprender algo com eles. Nessas situações “limite”, freqüentemente descobrimos a 
humanidade essencial do analista, nua até os osso como o rei laer uivando de desespero. Esses colegas 
que chegaram perto demais do sol, em sua onipotência cega, e voltaram chamuscados e envergonhados 
são muito mais nossos semelhantes do que diferentes de nós. 
 Por sua própria natureza, os pacientes suicidas atingem uma certa vulnerabilidade especifica 
que é o risco ocupacional dos analistas. A maioria de nós prefere pensar no trabalho analítico como algo 
distinto da questão de vida ou morte. Visualizamos nosso paciente ideal como uma pessoa inteligente, 
reflexiva, atraente (um pouco como nós), perseguido por conflitos intrapsíquicos, mas muito motivado a 
compreender. Este paciente muito desejado aceita a vida e que fazer mudanças de forma que a vida 
possa ser vivida mais plenamente. Em contrapartida, os paciente suicidas chegaram à conclusão de que 
a vida tem pouco a oferecer, e a analise é uma proposta dúbia. Que insight poderia transformar a vida 
numa jornada que valesse a pena? Esses pacientes aceleram o pulso do analista ao rejeitas a priori, a 
idéia que o insight analítico tem potencial para fazer a vida valer a pena. Enquanto falamos 
frequentemente desses pacientes “da ampliação do alcance” como habitantes da “fronteira”, minha 
experiência enquanto supervisor de candidatos e de colegas sugere que esses pacientes são cada vez 
mais comuns e mudaram da fronteira para o centro da civilização psicanalítica. 
 Nesse contexto vou oferecer como prevenção do Dr. N, analista por volta dos 40 anos que 
consultou há muitos anos logo depois de uma terrível violação de limite. O Dr. N me deu permissão par 
publicar os detalhes do seu caso de forma que outros possam aprender com ele. 
A história do Dr. N 
 Jenny era uma mulher muito perturbada, de 35 anos, quando veio consultar o Dr. N. Sua 
primeira reação, quando a viu na sala de espera, foi que ela era a mulher mais bonita que ele já tinha 
visto. À medida que ela lhe contou a saga da sua vida trágica, o Dr. N ficou comovido. Em certo ponto, 
no meio de sua historia, Jenny disse ao Dr. N que se sentia atraída por ele e perguntou se poderiam 
interromper a consulta para poderem sair juntos. Dr. N esclareceu que seria impossível saírem juntos 
porque a relação profissional já tinha começado, e não havia jeito de fazer o relógio voltar. 
Decepcionada, mas destemida, Jenny prosseguiu contando ao Dr. N a tortura que a mãe a fizera passar 
na infância trancando-a dentro de um armário. Também descreveu os detalhes de uma relação sexual 
incestuosa com o pai, dos cinco aos doze anos de idade. Esses relatos horríveis, mas pungentes, 
emocionaram intensamente o Dr. N. Apesar da adversidade do começo da sua vida, ela era uma mulher 
inteligente que fora aceita na faculdade de medicina, mas desistiu e se tornou modelo. 
 À medida que o tratamento prosseguia, a transferência sexualizada de Jenny em relação ao Dr. 
N pareceu dissipar-se. No entorno, ela ficava ansiosa depois de algumas sessões, e desmaiou na sala de 
espera, em cinco ou seis ocasiões diferentes. O Dr. N estava surpreso. Ela parecia deprimida e referiu ter 
desejado morrer durante toda a vida. Frequentemente, dava a impressão de dissociar. Exprimia 
fantasias recorrentes de se matar logo após separar-se de qualquer pessoa mais chegada. Tinha plena 
convicção de que Ra má e suja e que não havia possibilidade de redenção. No entanto, ela contou ao Dr. 
N que se sentia calma junto a ele e que tinha sonhos tranqüilizadores em que ele aparecia. Passava 
muitas sessões em silencio, durante as quais dizia que o Dr. N precisava adivinhar o que ela estava 
pensando. 
 Jenny veio se consulta com Dr. N numa ocasião particular da vida dele. O termino da sua analise 
pessoal tinha ocorrido um ano antes de ela começar o tratamento. Ele tinha sofrido uma serie de perdas 
recentes, nos meses precedentes à primeira consulta de Jenny. Sua irmã mais nova tinha morrido de 
câncer, o amigo mais chegado tinha morrido num acidente de carro, e a noiva rompido o noivado e 
saído da casa dele, dois meses antes do inicio do tratamento. O Dr. N se sentia sitiado e contou-me que, 
pensando retrospectivamente é provável que não tivesse tentado tratar uma paciente como Jenny, 
naquele momento particular da sua vida. Esclareceu que embora não estivesse apaixonado por ela, 
frequentemente se sentia como um que irmão mais velho protetor e com o compromisso de resgatá-la 
de si mesma. Achou que tinham feito progressos, quando ela lhe contou que ele a ajudara a parar de 
viver para os outros. 
 Mas então as coisas pioraram. Depois de cerca de três anos de tratamento Jenny começou a 
ficar em silencio nas sessões. Finalmente, disse ao Dr. N que estava (...). Dr. N foi ficando cada vez mais 
receoso de que a condição mortífera dela fosse de tal monta que não pudesse mais ser manejada sem 
internação. Vários medicamentos antidepressivos foram tentados, sem efeito. Ele sugeriu a necessidade 
da hospitalização para salvá-la do suicídio. A paciente recusou um psiquiatra clinico. MasDr. N procurou 
consultar para si, com um analista mais velho, muito respeitado em sua cidade. Depois de ouvir a 
historia, o consultor do Dr. N concordou que a hospitalização não seria adequada, pois o desespero 
suicida da paciente não tinha uma depressão aguda de fundo que melhorasse com o tratamento 
hospitalar. Além do mais, ela era muito calma e poderia convencer qualquer pessoa e cair fora de um 
compromisso que não quisesse assumir. Ela conseguia parecer muito mais saudável, se fosse preciso, e 
convencer um juiz a deixá-la sair da internação. O consultor incentivou o Dr. N a continuar trabalhando 
analiticamente com o desejo de morte dela. 
 A paciente continuou a insistir que não sofria de “depressão clinica”. Ao contrario, tentou fazer 
o Dr. N compreender que ela era uma pessoa horrível. Vacilante devido às perdas recentes em sua vida, 
o Dr. N ficou cada vez mais ansioso. Percebeu em seu pensamento uma “passividade desesperada” e um 
sentimento de “confusão”. Em certo momento, disse que faria qualquer coisa para impedi-lo de se 
matar. Jenny respondeu que a única coisa que ajudaria seria ele deixá-la passar uma noite na casa dele. 
Ela explicou que tinha terríveis pesadelos de abuso físico e sexual e que gostaria de ter a primeira boa 
noite de sono de sua vida. O Dr. Recusou e explicou que dormir com uma paciente era anti-ético. Em 
resposta a essa explicação direta, Jenny olhou-o friamente e perguntou: ”O que é mais importante? 
Minha vida ou suas estúpidas regras éticas?” O Dr. N ficou surpreso, e depois de varias semanas 
tentando fazer Jenny pensar junto com ele, concordou finalmente com o pedido dela de passar uma 
noite com ele. Ele racionalizou que essa medida radical poderia ser o único modo de manté-la viva. 
Também percebeu que de uma perspectiva pessoal, ele simplesmente não podia tolerar outra perda por 
morte. 
 Na noite dessa transgressão dos limites profissionais, ele estabeleceu regras estritas de que 
eles dormiriam em camas separadas e não teriam contato sexual. A paciente concordou, mas, durante a 
noite, foi para a cama dele e perguntou de um jeito muito sofrido se ele poderia abraçá-la. Uma coisa 
levou a outra, e no fim das contas tiveram uma relação sexual. Nas palavras do Dr. N: “Ela me seduziu 
enquanto eu protestava de que devíamos ficar vestidos”. Ele sabia que poderia arruinar sua carreira, 
mas se ateve à fantasia de que poderia estar salvando a vida dela. 
 Na manhã seguinte Jenny informou ao Dr. N que todo o tempo sabia que ele finalmente 
dormiria com ela. Tinha plena certeza de que os homens a achavam irresistível. Ele disse que o que 
tinham feito estava errado e que não poderiam mais se ver. Ela implorou para sair com ele, namorar, 
mas ele disse que era impossível. 
 O Dr. N consultou-me varias semana depois desse incidente, e contou-me que estava 
atormentado pela que tinha acontecido. Jenny lhe disse que para ela o mais importante é que ele 
pudesse amá-la apesar do que sabia. Mas ele se sentiu torturado e começou a perceber que havia um 
veio sádico, maligno, em Jenny, que ele não tinha levado em consideração. Contou-me que havia 
percebido o sadismo quando ela descreveu a maneira pela qual se livrava dos homens que se 
apaixonavam perdidamente por ela. No entanto, pode pensar a respeito do fato de que ele tivera um 
ponto cego a respeito da agressão dela em relação a ele. 
 Ele descreveu intensos sentimentos de culpa, pois estava começando a reconhecer que havia 
atualizado a fantasia transferêncial da paciente, ao dormir com ela, repetindo, portanto, o trauma do 
incesto com o pai. O Dr. N contou-me que foi só no momento em que estavam tendo relação que pode 
percebera re-encenação de algo agressivo. Ele perguntou-lhe a respeito de contracepção. Ele sabia que 
ela dormira com três homens diferentes e presumia que ela tomasse contraceptivos orais, Jenny contou 
ao Dr. N que não poderia ter filhos, insistindo que ele podia ejacular dentro dela. O Dr. N sentiu que ela 
estava sendo desonesta porque não havia maneira de ela poder saber que não podia ter filhos. De 
repente, ele percebeu que ela tentava acabar com ele. Ele se afastou e teve uma náusea forte. Sentiu 
que tinha cometido um erro grave de julgamento. No meio da sua angustia, no entanto, ele fez um 
comentário revelador: “Ao menos eu a salvei do suicídio”. 
DISCUSSÃO 
Este caso envolvendo um trágico fracasso do tratamento psicanalítico servirá como pedra de toque para 
a discussão de diversos tratamentos conduzidos de forma muito inadequada que supervisionei. 
Também me apoiarei em observações que fiz enquanto analista ou terapeuta de colegas que 
cometeram violações clamorosas dos limites com pacientes suicidas. Algumas questões se aplicam 
diretamente ao caso do Dr. N, enquanto outras se apóiam em casos diferentes que não posso discutir 
em detalhe por motivo de confidencialidade. Enquanto o exemplo de Jenny e Dr. N envolve a violação 
do limite sexual, examinei vários outros que pararam pouco antes do contato sexual, mas, mesmo 
assim, foram muito destrutivos para o paciente. Em alguns casos, os analistas preocupados levaram os 
pacientes suicidas para casa e os trataram com membro da família, convidaram-se para as férias 
familiares, foram fazer compras com eles e compartilharam jantares em restaurantes locais. Em outros 
casos, os analistas trataram os pacientes de graça, contaram problemas pessoais, e tiveram numerosos 
contatos extra-analiticos, em locais públicos ou na casa do paciente. 
 São necessários três esclarecimentos antes de prosseguir a discussão. Primeiro, os leitores não 
deveriam deixar o caso do Dr. N de lado como uma aberração bizarra de ocorrência rara. O cenário que 
descrevi é muito comum nos casos de violação de limites que atendi. Segundo, violação sexual de 
limites ocorre por diversas razões e a má condução da possibilidade de suicídio é apenas um dos vários 
cenários(Gabbard e Lester, 1995; Gabbard e Peltz, 2001; Celenza e Gabbard, no prelo). Finalmente, com 
certeza, o suicídio pode ser mal conduzido mesmo que não envolva violação de limites, e ao enfatizar o 
cenário desta comunicação particular não pretendo deixar de considerar a importância dos outros 
casos. 
DESIDENTIFICAÇÃO COM O AGRESSOR 
 As vicissitudes da raiva, ódio, vingança e fantasias assassinas foram bem examinada na 
literatura sobre suicidio (Asch. 1974; Chavrol e Sztulman, 1997; Hendin, 1991; Kernberg, 1975; 
Maltsberger e Buie, 1974, 1980; Menninger, 1933). Nem se discute que o ato suicida é muito destrutivo 
para as pessoas que ficam. Frequentemente, os familiares e amigos ficam com raiva pelo que lhes foi 
feito. Ameaças de suicídio no contexto do tratamento analítico podem ser experimentadas como um 
ataque direto a pessoa e a competência do analista. Na verdade, é a ferida narcísica suprema para uns 
analistas e terapeutas ficam desolados depois do suicídio de um paciente. Alguns colegas que 
consultaram depois do suicido de um paciente, contaram que pensaram seriamente em deixar a 
profissão. Outros revelaram que não pensavam em mais nada durante semanas a fio enquanto 
reviravam suas lembranças atrás de sinais que pudessem ter deixado escapar e que pudessem ter 
impedido o suicídio. 
 Frequentemente, as transgressões de limites que ocorrem com pacietes suicidas estão 
diretamente relacionadas com o manejo inadequado da agressão e do ódio. Essa afirmação é ainda mais 
verdadeira quando o pacienyte suicida foi vitima de trauma na infacia, como no caso de Jenny. 
Pacientes como Jenny, que tiveram ralações sexuais incestuosas com o pai, foram trancados no armário 
pela mãe, ou submetidos a outras variedades de “assassinatos da alma”(Shengold 1979), intermalizam 
introjetos abusadores que os perseguem ao logo da vida. O Dr. N respondeu a essa história e a 
apresentação clinica de uma forma que muito analista fazem. Ele queria demonstrar que era 
exatamente ooposto dos pais abusadores percorrendo distancias extraordinárias para salvar o paciente 
do suicidio. Essa postura por parte do analista, que nomeei em outro lugar de “desidentificação com o 
agressor”(Gabbard, 1997), é uma tentativa desesperada de negar qualquer vinculo com a representação 
internalizada de um objeto mau que atormenta o paciente. O analista pode ser invadido insidiosamente 
pelo objeto abusador, inconscientemente, se identificar com ele devido a pressões interpessoais sutis 
ou não sutis vindas do paciente. Muitos pacientes que sofreram abuso grave ou falta de cuidados na 
infância vêm para a analise com a expectativa de serem compensados pelo passado trágico e de 
merecerem receber um tratamento especial por parte de analista (Davies e Frawley, 1992). Para esses 
pacientes, o enquadre nanalitico comum, dentro do qual criamos um espaõ analítico, pode ser 
experimentado como de privação e até sádico. Eles podem insistir na necessidade de maiores 
demonstrações de amor e de preocupação para prova que o analista não é tão monstruoso quanto os 
pais. 
 Dr. N, como a maioria de nós, estava predisposto a evitar ser transformado no objeto mau que 
habita no mundo interno do paciente. Como ressaltou Money-Kyrle (1956) anos atrás, muitos entramos 
nesse campo inconscientemente tentado reparar nossos próprios objetos internos infantis danificados. 
Quando temos a intenção de reparar, e somos acusados de destrutividade, nossa formação reativa 
profissionalmente é desafiada de uma maneira que pode criar extrema ansiedade. Karl Manniger (1957) 
certa vez observou que as profissões de ajuda fornecem uma oportunidade ideal de esconder o 
sadismo. De certa maneira, estamos nos ressegurando sempre de que nossos motivos estão fora de 
questionamento, porque escolhemos passar nossa vida a compreender e a ajudar os outros a 
melhorarem suas vidas. Um programa inconsciente de purificar a díade do ódio e da agressão pode 
fazer o analista escotomizar o sadismo na transferência. Retrospectivamente, O Dr. N percebeu que só 
conseguia ver os aspectos malignos de Jenny dirigidos a outros homens – não a ele. 
 Devido a esse ponto cego, o sadismo da paciente pode “voar abaixo do radar” do Dr. N e invadi-
lo. Oobjeto abusivo passa a habitar o analista e a operar fora do seu conhecimento, perseguindo-o a 
partir de dentro. No seu esforço de resgatar a paciente do suicidio, o objeto abusivo tomou posse do Dr. 
N e pôs em movimento a re-traumatização de Jenny. Até hoje, a malevolência transmitida por Jenny e 
seu mundo de objetos internos continua a atormentar o Dr. N que todos os dias se preocupa com a 
ruína da sua carreira se Jenny decidir fazer queixa. Dessa forma, Jenny se inseriu dentro da analista, 
atualizando a fantasia de que nunca deveria se separar. Desse jeito, tornou-se inesquecível. Ela habita 
dentro dele, como um corpo estranho, maculando-o com a maldade que sentia invadi-la desde a 
infância. Agora o Dr. N se sente igualmente “sujo” e estragado. 
 Talvez outro modo de compreender o que houve entre Jenny e o Dr. N vá além da projeção de 
um objeto abusivo para dentro da analista. Pode-se considerar que ela projetou sua auto-representação 
de criança suja e estragada para dentro do Dr. N. Nesse cenário de relação objetais, ela se identifica com 
o objeto interno abusivo, destruindo o Dr. N do mesmo jeito que foi destruída pelos pais. Pais que 
abusam dos filhos podem secretamente invejar a inocência da criança (Grotstein, 1992) procurando 
estragá-la com o incesto. De forma análoga, a paciente, inconsciente identificada com o genitor abusivo, 
pode querer estragar o que percebe como pureza imaculada do analista, encorajando a violação do 
limite. Com certeza, atribuir esses motivos inconscientes ao paciente não destitui o analista da 
responsabilidade de agir eticamente, não importando os desejos que o paciente traga para o 
tratamento. 
 Frequentemente, as ansiedades inconscientes do analista estão no cerne dos com o senso 
agudo da própria vulnerabilidade, diante da intensa destrutividade do paciente. Muitos analistas sentem 
que sua reputação se arruinará se um paciente cometer suicidio. Outros podem ter ansiedades 
primitivas em relação a abandono. Rosenfeld (1987) obeservou que, em situações de impasse, os 
analistas podem lidar com suas ansiedades entrando em conluio com um aspecto da personalidade do 
paciente ao mesmo tempo que excindem ou compartimentam todas as outras dimensões do paciente. 
Desse modo, reações transferências-contratransferenciais psicóticas podem ficar enrijecidas e o analista 
paralisado. A única forma de sair parece ser uma serie mal orientada terrível de autuações (enactments) 
não ortodoxas. 
 A contraparte do ódio transferencial é, com certeza, o ódio contratransferencial. Um ddos 
piores cenários que resulta do manejo inadequado da agressão do analista é o ódio contratansferencial 
em relação ao paciente permanecer não detectado. Essa negação pode levar a atuação (enactments) 
desastrosas (maltsberger & Buie 1974). Os analistas podem comunicar inconscientemente a seus 
pacientes que não querem mais atendê-los ou realmente esquecer as consultas. Uma analista ia sair de 
férias, por uma semana, e só informou a paciente da ausência na véspera da partida. De fato, alguns 
suicídios podem até ser precipitados quando os pacientes percebem que os analistas os rejeita (Hendin, 
1991). Certa vez, fadern (1929) observou de forma estranha que “só se mata aquele que foi vitima do 
desejo de morte de outro” (citado em asch, 1980, p. 56). Este “outro” pode ser o analista. 
 Parte da raiva e do desepero do analista pode ser uma resposta direta à não melhora do 
paciente, que assim se opõe aos esforços de cura do analista. Celenza (1991) descreveu um terapeuta 
que não conseguia tolerar contratransferenciais negativos quando o tratamento estava num impasse e, 
similarmente, não conseguia agüenta a transferência negativa do paciente. O terapeuta embarcou num 
relacionamento sexual com a paciente, na tentativa inconsciente de ultrapassar os sentimento 
negativos de ambos, esperando, ao contrario, propiciar uma transferência idealizada. Searles (1979) 
observou também que o envolvimento sexual com pacientes pode resultar do esforço terapêutico do 
analista. Em reação a frustração pela falta de melhora do paciente, o analista pode sucumbir a ilusão de 
que uma copula curativa mágica transformará o paciente. O Dr. N, por exemplo, agarrou-se a crença 
mágica de que submeter-se a relação sexual com Jenny tinha lhe salvado a vida. (...) Se da 
contratransferência e simplesmente atualizou o papel do pai. Nesse cenario, o objeto do Dr. N (Jenny) é 
concretamente identificada como uma parte projetada do sujeito (o analista). Assim, o analista se 
relaciona com o paciente como se este fosse parte do Self (Gabbard e Lester, 1995). A diferença entre o 
símbolo e o objeto se perde, e os dois membros da díade sucumbem a uma forma de simbolização 
concreta em que há uma equação direta entre o símbolo e o simbolizado (Segal, 1957). 
 Nessas situações de impasse, há uma folie à deux, uam psicose na transferencia e 
contratansferencia. A psicose está circunscrita à díade e envolve uma falha especifica, mas limitada, do 
teste de realidade que não abrange outras situações. De fato, o Dr. N conseguiu levar adiante o 
tratamento adequado de outro pacientes durante o tempo em que patinhava no tratamento de Jenny. 
Essa folie à deux reflete o ataque ao pensamento do analista diretamente relacionado com os desejos 
destrutivos do paciente. Como Rosenfeld (1987) observa, em sua discussão de impasses:”Às vezes, os 
analistas tendem a ficar presos em certo tipo de pensamento que realmente implica não 
pensamento”(p.43). 
 O Dr.N, ao perceber Jenny como uma parte do seu Self, demonstrava também uma falha de 
mantalizaçao comum em impasses com pacientes suicidas. Ele perdeu de vista o fato deque o ponto de 
vista de Jenny sobre suicidio e a possibilidade de se suicidar era totalmente diferente da dele, O Dr. N 
ficou ansioso com o estado suicida dela, viu-o como uma crise, e fez tudo que pode para tirá-la desta. 
Jenny, enquanto isso, considerava o suicidio um alivio para o sofrimento. Era uma forma de sair de um 
desespero indizível. Ela o desenvolveu desde criança como única forma de transcender o sentimento de 
ser prisioneira numa relação incestuosa. Consequentemente havia um aspecto adaptativo na sua 
condição de suicida que, na verdade, preservava um certo senso de domínio e de coerência e que lhe 
dava força para continuar vivendo. 
 No romance The Moviegoer, de Walker Percy, vencedor do premio de 1961, a suicida crônica 
Kate dá uma lição ao protagonista Binx Bolling: 
 Todos pensam que vou cometer suicídio. Que piada. A verdade, com certeza, é exatamente o contrario: o 
suicídio é a única coisa que me mantém vida. Sempre que tudo falha, a única coisa que tenho de fazer é pensar em 
suicídio e em dois segundos estou alegre como uma idiota. Mas se eu não pudesse me matar – ah então, eu o faria. 
Posso viver sem nembutal ou misterioso assassinatos, mas não sem suicido. 
 A tarefa do analista significados da condição suicida para o paciente. A falha de mentalização 
do Dr. N levou a uma rota autodestrutiva baseada numa leitura equivocada da intenção suicida de 
Jenny. O Dr. N não conseguiu ajudar a paciente a construir uma dimensão simbólica em que fantasia e 
ação são distintas. A esse respeito é notável que, num contato de seguimento, sete anos depois do 
episodio sexual, o Dr. N constatou que Jenny ainda não tinha tentado suicídio. 
ONIPOTENCIA E PERDA. 
 Numa época em que consideramos a psicologia do analista tão importante quanto a do 
paciente, precisamos levar em conta o estado mental do Dr. N na época da transgressão do limite. No 
ano anterior, ele tinha encerrado sua analise, perdido a irmã com câncer, perdido seu melhor amigo 
num acidente de carro, e tinha levado o fora da noiva. Seu luto era recente, e a perspectiva de outra 
perda, a da paciente, foi excessiva para ele. O Dr. N estava lutando com a inexperiência ou 
vulnerabilidade que o deixaram especialmente suscetível a tomar a responsabilidade pela paciente. Ele. 
Não conseguiu impedir a perda dos seres amados na vida pessoal, mas teria a oportunidade de reparar 
as falhas imaginarias em relação a eles ao salvar a paciente. Em resposta a suas ansiedades depressivas, 
as defesas maníacas se impuseram e ele decidiu salvar a paciente. A onipotência da sua postura passou 
desapercebida, na ocasião, mas ele teve casa vez mais consciência à medida que refletiu sobre o 
acontecido. O Dr. N escreve-me muitos anos depois de me consultar: “Permaneço com a tendência a 
acreditar que o amor pode curar, que posso endireitar os erros psicológicos por meio da força de 
vontade e carisma pessoal, mas varias vezes sou lembrado das limitações/erros invitais desse ponto de 
vista e da necessidade de brincar com a idéia de ajuda onipotente e do que isso significa sobre minha 
própria necessidade de ajuda e a necessidade do paciente de um onipotente”. Não conseguir insistir na 
hospitalização quando tinha quase certeza de que ela estava prestes a se matar é um exemplo da sua 
convicção de que só ele podia salvar a paciente. Os colegas de uma equipe hospitalar podiam tê-lo 
ajudado a pensar ao menos em estratégias alternativas e ater distancia suficiente do caso para refletir 
mais plenamente sobre o seu conluio contratransferencial. 
 Como em muitos outros casos de violações graves de limites, parece ter havido um “encaixe” 
singular entre o Dr. N e Jenny. Ele teve uma necessidade inconsciente enorme de curar por meio do 
amor e assim encerna uma forma especifica de relação objetal – ou seja, um curador onipotente r um 
paciente grato (Gabbard, 2000a). O pais do Dr. N se divorciaram quando ele era bem pequeno, e ele 
passou boa parte da juventude tentando resgatar homens que fossem suficientemente bons para ela. O 
Dr. N observou que Jenny se parecia muito com a mão dele, e, retrospectivamente, pode perceber que 
estava reencenando a resgate de sua infância na tentativa com Jenny. A paciente, por outro lado, tinha 
uma necessidade intensa de impedir essa encenação e destruir o zelo terapêutico, bem como a 
reputação profissional dele. Quanto mais ela frustrava seus esforços de curar, mais ele aumentava suas 
tentativas heróicas de mudá-la. A singularidade desse “encaixe” refletia-se no fato de que o Dr. N nunca 
se envolveu e, qualquer outra forma de violação grave de limites em sua carreira. Depois do incidente 
com Jenny, ele decidiu voltar para a analise. Nunca mais relatou violações após o tratamento de Jenny. 
 Analistas que entram nesse tipo de folie à deux com paciente suicidas freqüentemente 
esquecem o que é a analise. Ficam convencidos de que seu conhecimento e formação analíticos são 
inúteis; que a pessoa deles é que salvará o paciente. Esse paradigma de resgate pode tomar a forma de 
um modelo de deficit, em que o analista fica convencido que algum tipo de provisão suprirá o que faltou 
na infância (Gabbard e Lester, 1995). No caso do Dr. N, a idéia de preencher um déficit ficou 
concretizada no ato de inserir seu pênis dentro da vagina dela. Nessa regressão fantástica para o 
concreto, a inserção corporal demonstra como, nessas situações, os analistas podem entrar num estado 
mental psicótico. Esse estado alterado primitivo pode levá-los a tomar as fantasias e desejos do paciente 
quase literalmente. 
 A sexualização nessas situações pode refletir uma defesa frenética contra a morte. Sentimentos 
de não ser são bem descritos na literatura sobre incestos (Bigras e Biggs, 1990; Gabbard, 1992). O senso 
de Self da vitima de incesto é gravemente danificado no curso do desenvolvimento, e podem resultar 
profundos sentimentos de morte. Os analistas podem experimentar sentimentos correspondentes, 
especialmente quando o paciente se desobriga e fica absorvido na tarefa de planejar o suicídio 
(Gabbard, 1992). A sexualização pode dar esperança de vida e de excitação para o paciente e também 
para o analista – um esforço fútil para reviver um tratamento que está estagnado (Coen, 1992; Gabbard, 
1996). 
 No entanto, a sexualização pode impor uma capitulação autodestrutiva ao paciente. O Dr. N 
estava plenamente consciente de que sacrificava para salvar a paciente. Outros analistas, também, 
render-se-ão de maneira masoquista a um paciente suicida como forma de demonstrar a extensão do 
seu cuidado (Gabbard e Lester, 1995). Alguns colegas torna-se muito conhecidos por tratar paciente 
“impossíveis”, que nenhum outro analista trataria. Embora muitos sejam analistas bem dotados, um 
subgrupo parece prosseguir sua vida profissional recriando uma situação que, freqüentemente, reflete 
interações problemáticas com seus próprios pais. Eles podem estar tentando provar seu valor para pais 
rejeitadores ou emocionalmente distantes ou tentando elaborar abandonos precoces. Ao subjugar-se ao 
paciente, podem abrigar uma grandiosidade secreta, até um identificação com Cristo, em quem se vêem 
como pessoas que sofrem pelos pecados dos outros, a serviço da transformação do outro. Essa postura 
masoquista pode refletir o terror de repetir uma perda objetal precoce em suas próprias vidas. Sua 
prontidão em arriscar suas carreiras pode ser considerada o menor dos males quando confrontada com 
mais uma perda. Numa ocasião em que houve perdas pessoais recentes, os analistas podem ter uma 
tendência especial de salvar o paciente a qualquer custo, para não ter de enfrentar outra variação de 
perda objetal que já os aterrorizou. 
 O Dr. N, por exemplo, estava disposto a violar seu código de ética. Ele aumentou os horários, 
parou de cobrar as sessões adicionais, e gratificou o desejo da paciente de dormir com ele, num esforço 
heróico de demonstrarque se preocupava a ponto de tentar salvar a vida dela. Ele tinha plena 
consciência de que o resultado poderia ser a perda da sua profissão. O que foi uma clara recriação de 
incesto para um observador externo, foi explicado pelo analista como um sacrifício nobre. 
 Sempre achei que existe uma ironia especial na maneira pela qual as violações de limites são 
racionalizadas com pacientes suicidas muito perturbados. A base lógica para as intervenções não 
analíticas que levam a pessoa a deslizar para a transgressão de limites é que só um afastamento radical 
do enquadre analítico pode atingir o paciente. A ironia é que esses pacientes traumatizados e muito 
perturbados são exatamente para evitar a retraumatização e a falta de limites das situações da sua 
infância. 
 Com certeza, não estou argumentando a favor da rigidez na abordagem com pacientes 
perturbados com trauma precoce na infância. Tenho advogao, de forma consistente, em favor da 
flexibilidade no trato desses pacientes (Gabbard, 1997; Gabbard e Lester, 1995; Gabbard e Wilkinson, 
1994). É essencial um ambiente empático firme de holding. Estou ressaltando que, em nome da 
flexibilidade, as transgressões clamorosas de limites são racionalizadas, sem levar em consideração que 
elas simplesmente encenam o trauma da infância, em vez de contê-lo e compreendê-lo por meio do 
procedimento analítico. 
 
CONCLUSÕES 
 O que podemos aprender a partir desses fracassos trágicos do tratamento analítico? Devemos 
começar tendo clareza de que jamais podemos culpar o paciente pelas transgressões do analista. O 
paciente não tem um código de conduta profissional e tem o direito de testar os limites do setting 
analítico. Como Betty Joseph (2001) já observou, “O paciente tem todo o direito de tentar seduzir o 
analista. O analista não tem o direito de se permitir ser seduzido”. Mas a ameaça de suicídio se insinua 
dentro do psiquismo do analista de forma singular em nossa experiência. Esta nos traz diretamente face 
a face com os limites do que podemos fazer enquanto analista. Uma lição obvia a partir desses casos é 
que a analise pode não ser o tratamento adequado para certos paciente mortíferos, e que se deve levar 
em conta outras medidas. Outra fronteira da psicanálise é seu limite com a psiquiatria. Quando 
necessário, devemos dispor da experiência de colegas que têm conhecimento de psicofarmacologia, 
eletroconvulsivoterapia e tratamento psiquiátrico hospitalar inteligente. Nesses casos, todos nos 
beneficiamos de uma fronteira permeável entre psiquiatria e psicanálise. Às vezes podemos 
superestimar o poder do tratamento analítico. 
 Ainda em outra situação, pensamos muito pouco em analise. Os analistas podem ser rápidos 
demais para abandonar o poder de continência e de compreensão para se lançar de cabeça em ações 
precipitadas. O Dr. N recordou que abandonou as interpretações sistemáticas da transferência hostil de 
Jenny. Ele percebeu timidamente que a maior parte do seu trabalho interpretativo se dirigia para as 
relações dela com outros homens. Quando, no segundo ano, ela ficou “entediada” com o tratamento, 
ele indagou sobre o rancor em relação a ele, mas Jenny negou qualquer hostilidade. Nas semanas finais 
do tratamento, ele lhe contou que se sentia torturado. Ela foi superficialmente doce na resposta, 
dizendo que não queria causar-lhe dano ou preocupação. Jenny disse ao Dr. N que ele deveria estar 
orgulhoso de tê-la mantido viva tanto tempo e que não era culpa dele ela ter ficado destruída tão cedo 
em sua vida. Retrospectivamente, ele reconheceu que isso foi um “artifício manipulativo”. 
 Outra lição a ser aprendida a partir do exame cuidadoso desses casos é que nós, analistas, 
temos uma grande soma de ambivalência a respeito da pratica da psicanálise. Nosso amor pela analise é 
constantemente ameaçado pelo nosso adio inconsciente à analise (Steiner, 2000). Em nosso trabalho 
sofremos uma pressão que sempre cobra seu preço. Exigimos uma autodisciplina que poucas outras 
profissões podem igualar. Às vezes o papel analítico é experimentado como uma camisa de força da 
qual queremos escapar. O Dr. N não está sozinho em sua fantasia secreta de que o amo deva ser mais 
eficaz do que o tratamento. Em muitos casos, o ódio é alimentado tambpem por ressentimentos 
profundos em relação ao analista didata ou ao instituto ( Gabbaer e Lester, 1995). 
 Esse ódio inconsciente ao papel e trabalho analítico frequentemente está ligado a certo 
sentimento de inveja em relação ao paciente. A assimetria do setting analítico é de tal ordem que a 
devoção as necessidades e as preocupações do paciente é uma necessidade ética. Certamente é um 
luxo ter a atenção total de outro ser humano por quatro ou cinco vezes por semana durante uma hora 
cada vez. Às vezes, nós, analistas, podemos querer uma atenção semelhante. Ferenczi, por exemplo, 
percebeu que estava tentando dar aos pacientes os que ele próprio não tinha recebido de sua mãe 
(Dupont, 1988). No entanto, a situação analítica piora esse problema, pois exacerba a ferida do analista. 
Em outras palavras, à medida que Ferenczi continuava dando para o paciente, sentia cada vez mais sua 
própria privação. Finalmente, tentou a analise mutua a fim de obter alguma coisa do paciente que 
suprisse sua necessidade. A favor de Ferenczi está o fato de ter abandonado esse experimento quando 
reconheceu que estava repleto de problemas.

Continue navegando

Outros materiais