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52 REVISÃO / REVIEW PAPER / REVISIÓN Revista Interdisciplinar UNINOVAFAPI, Teresina. v.5, n.3, p.52-57, Jul-Ago-Set. 2012. Submissão: 03.01.2011 Aprovação: 14.10.2011 Caracterização da produção científica sobre a teoria das necessidades humanas básicas Characterization of scientific theory production on the basic human needs Caracterización de la producción científica sobre la teoría de las necesidades humans básicas RESUMO Estudo realizado por meio de uma revisão integrativa da literatura, o qual objetivou caracterizar as pesquisas produzidas pela enfermagem brasileira sobre tal teoria. O levantamento bibliográfico abrangeu publicações nacionais em enfermagem de 2000 a 2009, sendo identificados 17 artigos que compuseram a amostra. Os resultados mostraram que a média da produção é de 2,4 publi- cações/ano, com destaque para os anos de 2006, 2007 e 2008 que apresentaram 13 publicações (76,5%). Os trabalhos estão distribuídos em 14 periódicos. As revistas ligadas a grandes universi- dades, paulista, carioca e mineira, concentram 64,7% da produção do período. Observou-se um predomínio da produção com enfoque na área hospitalar (88,2%), pacientes portadores de doença crônica foram os mais pesquisados (35,3%), e a modalidade mais utilizada foi a pesquisa de campo (82,35%). Descritores: Processos de enfermagem. Teoria de enfermagem. Cuidados de enfermagem. ABSTRACT A study carried out by means of an integrative literature review, which aimed to characterize the research produced by Brazilian nursing on such theory. The bibliographical survey included national nursing publications from 2000 to 2009, identifying 17 articles which were part of the sample. The results showed that the average production is 2.4 publications per year, especially for the years 2006, 2007 and 2008 which presented 13 publications (76.5%). The works are distributed in 14 newspa- pers. The journals linked to major universities, São Paulo, Rio de Janeiro and Minas Gerais, 64.7% of the production for the period. There was a predominance of production focused on the hospital field (88.2%) patients with chronic disease were the majority of the respondents (35.3%), and the modality used was field research (82.35%). Descriptors: Nursing process. Nursing theory. Nursing care. RESUMEN Un estudio realizado por medio de uma revisión integradora de la literatura, tuvo como objetivo caracterizar las investigaciones producidas por la enfermería brasileña sobre esta teoria. El estudio bibliográfico fue realizado com publicaciones nacionales de enfermería desde 2000 hasta 2009, y ha identificado 17 artículos que conformaron la muestra. Los resultados enseñaron que el rendimiento medio es de 2,4 publicaciones al año, especialmente para los años 2006, 2007 y 2008 que enseñaron 13 publicaciones (76,5%). Las obras se distribuyen em 14 periódicos. Las revistas vinculados a las principales universidades, paulista, carioca y mineira, han concentrado el 64,7% de la producción de este período. Hubo um predominio de la producción sobre la área hospitalaria (88,2%), personas con enfermedades crónicas fueron las más buscadas (35,3%), y la modalidad más utilizada fue la investigación de campo (82,35%). Descriptores: Proceso de enfermería. Teoria de enfermería. Cuidados de enfermería. Taiane Soares Vieira Enfermeira. Especialista em Terapia Intensiva (UNIPOS). Discente do curso de Mestrado do Programa de Pós-graduação em Enfermagem da UFPI. E-mail: supertai18@hotmail.com Cláudia Daniella A.Vasconcelos Benício Enfermeira. Especialista em Administração Hospitalar (UNAERP- SP); Especialista em Estomaterapia (UECE); Enfermeira assistencial da UROCENTER; Discente do curso de Mestrado do Programa de Pós-graduação em Enfermagem da UFPI. E-mail: cdavb2010@hotmail.com Grazielle Roberta Freitas da Silva Enfermeira. Docente do Programa de Pós-graduação Mestrado em Enfermagem da UFPI. E-mail: mestradoenfermagem@ufpi.br Maria Helena Barros Araújo Luz Enfermeira. Docente do Programa de Pós-graduação Mestrado em Enfermagem da UFPI. E-mail: mestradoenfermagem@ufpi.br Claudete Ferreira de Sousa Monteiro Doutora em Enfermagem pela UFRJ. Docente do Programa de Pós-graduação Mestrado em Enfermagem da UFPI. E-mail: mestradoenfermagem@ufpi.br Eliana Campêlo Lago Doutora em Biotecnologia. Cirurgiã-dentista e Enfermeira. Professora da Graduação e do Programa de Mestrado Profissional em Saúde da Família do Centro Universitário – UNINOVAFAPI. Membro da Revista UNINOVAFAPI. Teresina-PI, Brasil. E-mail: elianalago@ig.com.br 53Revista Interdisciplinar UNINOVAFAPI, Teresina. v.5, n.3, p.52-57, Jul-Ago-Set. 2012. 1 INTRODUÇÃO A idealização da Enfermagem como profissão foi embasada a partir das bases científicas propostas por Florence Nightingale que, de forma visio- nária, começava a definir as premissas em que esta categoria profissional de- veria se fundamentar. No entanto, a Enfermagem não seguiu o modelo ideal de Florence, que estabelecia um conhecimento voltado para o doente (e não para a doença), para as condições nas quais ele estava inserido, bem como para a forma como o ambiente poderia agir, beneficiando ou não, na saúde das pessoas (TANNURE; GONÇALVES, 2008). Assim, a Enfermagem passou a ser desenvolvida e praticada no mundo com base em opiniões, idéias e conceitos já utilizados, que eram, de certa forma, impostos aos profissionais que faziam parte dessa equipe pro- fissional. Este fato contribuiu significativamente para a construção de uma profissão sem identidade e carente de respaldo técnico-científico. Tal cenário passou a ser modificado gradativamente por sofrer influência de fatores como guerras mundiais, revoluções femininas, avanços da ciência e educação, que refletiam nas condições sociopolítico-econômicas, momento em que os enfermeiros passaram a refletir e questionar a posição do profissional enfermeiro, bem como a sua prática desenvolvida (TANNURE; GONÇALVES, 2008). Vários teóricos utilizaram conceitos científicos que fossem mais próximos dos valores da profissão para superar o conceito biomédico, que até os dias atuais ainda é vivenciado, com a intenção de ampliar o conceito de ser humano, para que fosse avaliado em seus comportamentos gerais e especí- ficos, considerando além da sua doença, sua cultura, sua inserção social e até mesmo sua energia (LEOPARDI, 1999). Compreendendo a finalidade das teorias, George (2000) as concei- tua como uma articulação e comunicação da realidade criada ou descoberta na Enfermagem com o propósito de descrever, explicar, prever ou prescrever o cuidado de Enfermagem. As teorias fundamentam a assistência de enferma- gem, são importantes nas relações entre os clientes e profissionais e inter-re- lacionam os quatro conceitos do metaparadigma da Enfermagem: a pessoa, o ambiente/sociedade, a saúde e a enfermagem. A enfermagem sempre se baseou em princípios, crenças, valores e nor- mas tradicionalmente aceitos, porém a evolução da ciência mostrou a neces- sidade de se pesquisar para se construir o saber. O avanço do conhecimento teórico beneficiou a descentralização do modelo biomédico do cuidado e favoreceu o foco do cuidado da enfermagem ao ser humano, e não em sua enfermidade. Todas as teorias destacam a pessoa como o foco principal, apre- sentada como um ser bio-psico-sócio-espiritual. Sendo assim, a unicidade e totalidade devem ser preservadas para que o cuidado seja adequado e alcan- ce seus objetivos (SOUSA, 2001). Desde então, os modelos teóricos têm contribuído na assistência ou no processo de cuidar, como referencial para a sistematização da assistência. A teoria guia e aprimora a prática, dirigindo a observação dos fenômenos, a intervenção de enfermagem e os resultados a esperar. A sistematização dos cuidados, com base emmodelos teóricos, pro- porciona meios para organizar as informações e os dados dos clientes, para analisar e interpretar esses dados, para cuidar e avaliar os resultados do pro- cesso de cuidar (CIANCIARULLO et al., 2001). No Brasil, por volta da metade da década de 60, a enfermeira paraense Wanda de Aguiar Horta, sensível à situação vivenciada pela enfermagem bra- sileira e estimulada pelas idéias da Teoria da Motivação do psicólogo Abraham Maslow, começou a elaborar a sua própria: a Teoria das Necessidades Huma- nas Básicas. Surgia então uma nova percepção acerca da enfermagem, com a proposta de refletir a assistência prestada e difundir a preocupação com o significado do papel da enfermagem (HORTA, 1979). O modelo teórico de Horta possui fases inter-relacionadas e organi- zadas que servem para o levantamento de dados necessários para que o en- fermeiro (a) possa direcionar as intervenções para a assistência ao paciente, servindo enquanto proposta de Sistematização da Assistência de Enferma- gem e estabelecendo-se como modelo conceitual ou teórico necessário para subsidiar cientificamente a prática de enfermagem (BARROS, 2004). Com vasta experiência profissional, repleta de observações, apren- dizados, estudos e reflexões, Wanda Horta voltou-se em sua teoria à natureza da enfermagem; definiu o seu campo de ação específica e sua metodologia científica. Elaborou conceitos importantes para a profissão como o de enfer- magem como sendo a ciência e a arte de assistir o ser humano no atendimen- to de suas necessidades básicas, de torná-lo independente desta assistência, quando possível, pelo ensino do autocuidado; de recuperar, manter e promo- ver a saúde em colaboração com outros profissionais (HORTA, 1979). Horta faz um relacionamento entre este conceito e os conceitos de ser humano e ambiente. Na interação com o universo dinâmico, o ser humano vivencia estados de equilíbrio e desequilíbrio no tempo e no espaço. Os de- sequilíbrios geram necessidades que se caracterizam por estados de tensão conscientes e inconscientes, e levam o ser humano a buscar a satisfação de tais necessidades para manter seu equilíbrio. Assim, as necessidades básicas precisam ser atendidas, porém, quando o conhecimento do ser humano a res- peito de suas necessidades é limitado pelo seu próprio saber, faz-se necessário o auxílio de pessoas habilitadas para atendê-las (POTTER; PERRY, 2009). Contemplando esta teoria como um marco na história da Enfer- magem brasileira, bem como pelo fato de ser uma teoria de fácil implantação nos ambientes de cuidados de saúde, traz-se como objetivo deste estudo a caracterização das pesquisas produzidas pela enfermagem brasileira sobre a teoria de Wanda Horta, por meio da investigação e análise de artigos científi- cos publicados a partir de 2000 a 2009. 2 METODOLOGIA Esta pesquisa foi desenvolvida em uma disciplina do programa de pós- -graduação do mestrado em Enfermagem da Universidade Federal do Piauí. O processo metodológico tem caráter descritivo, desenvolvido por meio de uma revisão integrativa da literatura. Optamos por esse método, visto que ele pos- sibilita sumarizar as pesquisas já concluídas e obter conclusões a partir de um tema de interesse. Uma revisão integrativa bem realizada exige os mesmos padrões de rigor, clareza e replicação utilizada nos estudos primários. Esse tipo de investigação é assim denominado por utilizar métodos sis- temáticos para identificar, selecionar e avaliar criticamente estudos relevantes sobre uma questão específica claramente formulada; mapeando o conheci- mento de forma sucinta. O objetivo da sistematização é reduzir possíveis vie- ses que ocorreriam em uma revisão sem critérios, tanto os vieses observados na forma de revisão da literatura e na seleção dos artigos quanto aqueles de- tectados pela avaliação crítica de cada estudo (SOUSA; RIBEIRO, 2009). Embora os métodos para a condução de revisões integrativas variem, existem padrões a serem seguidos. Na operacionalização dessa revisão, utili- zamos a avaliação crítica literária do Cochrane Handbook, produzido pela Co- laboração Cochrane que recomenda os sete seguintes passos: 1- formulação da pergunta; 2- localização e seleção dos estudos; 3- avaliação crítica dos estu- dos; 4- coleta de dados; 5- análise e apresentação dos dados; 6- interpretação dos dados; 7- aprimoramento e atualização da revisão (CASTRO, 2001). Para iniciar a pesquisa foi formulada a seguinte pergunta: Como se Caracterização da produção científica sobre a teoria das necessidades humanas básicas 54 caracterizam as produções de enfermagem utilizando a Teoria de Wanda de Aguiar Horta na prática da assistência de enfermagem brasileira? O levantamento bibliográfico foi realizado via on line, no mês de julho de 2010, pela Biblioteca Virtual de saúde, no banco de dados Lilacs (Literatura Latino-Americana em Ciências de Saúde) e Scielo (Scientific Electronic Library Online), considerados dois dos principais da área da saúde brasileira. Para o levantamento dos artigos, utilizamos as palavras-chave “Wanda Horta”, “Teoria das necessidades humanas básicas”. Não houve reagrupamento das palavras-chave. Os critérios utilizados para a seleção da amostra foram: artigos publicados em periódicos nacionais no período de 2000 a 2009; arti- gos que abordam a temática da teoria de Horta, dentro de todas as áreas de interesse da enfermagem. Foram identificados inicialmente 58 artigos contidos nas duas bases de dados. No entanto, após realizarmos o cruzamento destes, haviam 18 repeti- dos e foram excluídos, restando então 40 artigos. Os artigos encontrados na base de dados SCIELO já se encontravam presentes na base de dados LILACS e portanto foram excluídos. Após a leitura dos resumos dos artigos, optamos por excluir os estudos publicados antes de 2000 (14 artigos) e os artigos pu- blicados no ano de 2010 (um artigo), e os artigos de revisão de literatura (oito artigos), por não serem estudos primários. Dessa forma, a amostra final foi composta por 17 artigos científicos produzidos pela enfermagem ou com sua participação, publicados em território nacional. Os artigos encontrados foram numerados conforme o ano de publi- cação e foram submetidos à análise independente de dois revisores, conside- rando a possibilidade de ser ou não aprovada de acordo com os critérios de inclusão e exclusão. Foi desenvolvido um formulário de coleta de dados, preenchido para cada artigo da amostra final do estudo. O formulário permitiu a obtenção de informações sobre a identificação do artigo e autores, periódico e ano de pu- blicação, modalidade do estudo, sujeitos e local da pesquisa. Os dados obtidos foram apresentados e analisados em quadros e figuras de acordo com os crité- rios estabelecidos para a realização da pesquisa. 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO Quadro 01 - Artigos selecionados mediante aplicação dos critérios de inclusão/exclusão. Fonte: Pesquisa Direta Nº Titulo do estudo Autores/ ano de publicação 1 NBH: Software para auxílio à prática docente no ensino de necessidades humanas básicas Lopes, M.V. de O; Araújo, T.L de; Silva, R.M. da. 2000. 2 Metodologia de assistência de enfermagem na unidade de tratamento dialítico Soares, C.B; Cardoso, M.G.P. 2001. 3 Construção e validação de instrumentos de coleta de dados para o perío- do perioperatório de cirurgia cardíaca Galdeano, L.E; Rossi, L.A. 2002. 4 Proposta de instrumento para coleta de dados de enfermagem em uma Unidade de Terapia Intensiva fundamentado em Horta Lima, L.R. de; Stival, M.M; Lima, L.R.de; Oliveira, C.R.de; Chianca, T.C.M.2006. 5 Consulta de enfermagem a pacientes alcoolistas em um programa de assistência ao alcoolismo Fornazier, M.L; Siqueira, M.M. de. 2006. 6 Construção e validação de um instrumento de coleta de dados para crianças de 0-5 anos Silva,K.L; Nobrega, M.M.L. da. 2006. 7 Um marco de referência para a prática da enfermeira a pacientes com doenças crônicas à luz da Teoria de Wanda de Aguiar Horta Balduíno, A. de F.A; Labronici, L.M; Maftum, M.A; Man- tovani, M de F; Lacerda, M.R.2007. 8 Proposta para sistematização da assistência de enfermagem em UTI: o caminho percorrido Rodrigues, P; Martins, J. de J; Nascimento, E.R.P. do; Barra, D.C.C; Albuquerque,G.L. de. 2007. 9 Cuidado de enfermagem e educação em saúde com profissionais do surf Erdman, A.L; Nascimento, K.C. do. 2007. 10 O impacto da hemodiálise na vida dos portadores de insuficiência renal crônica: uma análise a partir das necessidades humanas básicas Menezes, C.L. de; , Maia, E.R; Lima Junior, J.F. 2007. 11 Assistência de enfermagem a paciente com anemia falciforme utilizando a teoria NHB e a CIPE® versão 1.0 Furtado, L.G; Nóbrega, M.M.L. da; Fontes, W.D.de. 2007. 12 Diagnósticos de enfermagem de pacientes atendidos na sala de emer- gência de um PS adulto Barbosa, P.M.K; Scapim, E.P; Giovanetti, J.N. 2008. 13 Validação de instrumentos de coleta de dados de enfermagem em Uni- dade de Tratamento Intensivo de adultos Tanure, M.C; Chianca, T.C.M; Bedran, T; Werli, A; An- drade, C.R.de. 2008. 14 Elaboração de um instrumento da assistência de enfermagem na unida- de de hemodiálise Oliveira, S.M. de; Ribeiro, R. de C.H.M; Ribeiro, D.F; Lima, L.C.E.Q. de; Pinto, M.H; Poletti, N.A.A. 2008. 15 Sistematização da assistência de enfermagem a um binômio mãe/lac- tentes utilizando a teoria das necessidades humanas básicas e a CIPE© versão 1.0 Albuquerque, C.C; Nobrega, M.M.L. da; Fontes, W.D. de. 2008. 16 Assistência de enfermagem a paciente com lupus eritematoso sistêmico utilizando a CIPE Bittencourt, G.K.G.D; Beserra, P.J.F; Nóbrega M.M.L. da. 2008. 17 Sistematização da Assistência de Enfermagem em Unidade de Terapia Intensiva sustentada pela Teoria de Wanda Horta Amante, L.N; Rossetto, A.P; Schneider, D.G. 2009. Revista Interdisciplinar UNINOVAFAPI, Teresina. v.5, n.3, p.52-57, Jul-Ago-Set. 2012. Vieira, T. S, et al. 55 A média obtida na distribuição dos 17 artigos selecionados pelo período é de 2,4 publicações/ano. Os anos de 2006, 2007 e 2008 des- tacam-se da média, apresentando 13 publicações (76,5%) ( Quadro 01). Esta elevação pode ser reflexo de mudanças como interesse maior em relação à temática por parte das instituições e o crescente envolvimento de enfermeiros, docentes e pesquisadores com o tema, o que subsidia a reflexão, o ensino e a produção de conhecimento na área. De acordo com Cianciarullo et al., (2001) os modelos teóricos ou marcos conceituais e as teorias de enfermagem são ferramentas que possibilitam a operacionalização da sistematização da assistência de en- fermagem pela aquisição de um referencial teórico e de sua utilização na construção de métodos que possam organizar o processo de enfer- magem. Historicamente, as teorias de enfermagem foram estudadas no ambiente acadêmico isolado, independentemente da prática de enfer- magem. Há, entretanto, um movimento contemporâneo voltado para a prática baseada na ciência de enfermagem. Os enfermeiros, agora e no futuro, precisam ter modelos de cuidado nos quais sua prática esteja fun- damentada. Alfaro-Lefreve (2000) afirma que os assuntos relativos às teorias de enfermagem como meio de respaldar as atividades de enfermagem, conti- nuam a constituir, atualmente, objeto de preocupação de enfermeiros em diferentes âmbitos de atuação, quais sejam, ensino, pesquisa e assistência. Quadro 02 - Características dos estudos analisados segundo periódico, a modalidade de pesquisa, sujeitos pesquisados e enfoque. Nº Periódico Modalidade Sujeitos pesquisados Enfoque 1 Texto e contexto enfermagem Relato de experiência Docentes Extra-hospitalar 2 Arquivos de ciências e saúde da UNIPAR Pesquisa de campo Paciente Renal Crônico Hospitalar 3 Revista Latinoamericana de enfer- magem Pesquisa de campo Paciente em perioperatório Hospitalar 4 Revista eletrônica de enfermagem Pesquisa de campo Pacientes críticos (UTI) Hospitalar 5 Jornal brasileiro frde psiquiatria Pesquisa de campo Pacientes alcoolistas Hospitalar 6 Online Brazilian Journal of nursing Pesquisa de campo Pacientes pediátricos Hospitalar 7 Cogitare Enfermagem Pesquisa de campo Pacientes com doença crônica Hospitalar 8 REME Pesquisa de campo Pacientes críticos (UTI) Hospitalar 9 Cogitare Enfermagem Relato de experiência Acadêmicas de enfermagem Extra-hospitalar 10 Nursing São Paulo Pesquisa de campo Paciente com doença renal crônica Hospitalar 11 RENE Pesquisa de campo Paciente com anemia falciforme Hospitalar 12 Nursing São Paulo Pesquisa de campo Pacientes críticos (sala de emergên- cia) Hospitalar 13 REME Pesquisa de campo Pacientes críticos (UTI) Hospitalar 14 Acta Paulista Relato de experiência Pacientes renais crônicos Hospitalar 15 Ciência, cuidado e saúde Pesquisa de campo Binômio mãe lactente Hospitalar 16 Revista Gaúcha de Enfermagem Pesquisa de campo Pacientes portador de lúpus eritema- toso sistêmico Hospitalar 17 Revista Escola de enfermagem da USP Pesquisa de campo Pacientes críticos (UTI) Hospitalar Fonte: Pesquisa Direta Das 14 publicações, 11 (64,7%) foram divulgadas nas revistas da região sudeste do País (Tabela 02). Observa-se uma concentração de tra- balhos ligados a escolas de enfermagem paulistas e cariocas, talvez por estes serem grandes centros de pós-graduação e, portanto, geradores de conhecimento. Esse fato também é mostrado no estudo de Rodrigues et al. (2008) do qual, ao realizar uma análise dos Programas de Pós-Graduação em Enfermagem do país referentes ao ano de 2005, mais especificamente, aqueles que ofereciam cursos de doutorado, os resultados foram: em 2005, a área da Enfermagem contou com 27 Programas de Pós-Graduação reconhecidos, com crescimento de 31,25% em relação à avaliação trie- nal 1998-2000. Vale salientar que este crescimento ocorreu apenas nas regiões Sul e Sudeste; a região Nordeste manteve o mesmo número de Programas. Quanto à localização dos Programas de Pós-Graduação mes- trado e doutorado, da área da Enfermagem, observou-se que 15 (55,5%) encontram-se na região Sudeste; 5 (18,5%) na região Sul; 5 (18,5%) na Nor- deste; dois (7,5%) na Centro-Oeste e nenhum na região Norte. Em 2007, dos 2.266 programas de pós-graduação avaliados pela CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), Revista Interdisciplinar UNINOVAFAPI, Teresina. v.5, n.3, p.52-57, Jul-Ago-Set. 2012. Caracterização da produção científica sobre a teoria das necessidades humanas básicas 56 1.182 (52,2%) pertenciam à região sudeste, 449 à região sul, 386 à região nordeste, 156 à região centro oeste e 93 à região norte do país (BRASIL, CAPES, 2007). A região sudeste, na qual o quadro aponta maior numero de publicações, portanto, é a maior mantenedora de centros de pós-gra- duação e de maior crescimento nesse setor. Em relação aos sujeitos mencionados nos estudos, em 35,3% (06) dos trabalhos evidenciaram uma maior utilização da teoria de Wanda Hor- ta no cuidado a pacientes portadores de doenças crônicas, e 29,4% (05) a pacientes críticos. Essas duas categorias perfazem um total de 64,7 % (11) dos trabalhos (Quadro 02). A enfermeira tem um papel fundamental no cuidado de pessoas com doenças crônicas, pois requerem cuidados técnico-científicos per- manentes, integrais e essas constituem um desafio para o setor público deste século. Nesta década, um número cada vez maior de pessoas vive com uma ou mais condições crônicas de saúde e as populações de um modo geral estão envelhecendo. Desse modo, conforme a Organização Mundial de Saúde a atenção aos problemas crônicos deve ser coordenado por meio de evidências científicaspara orientar a prática (OMS, 2003). Diante de tais problemas crônicos, o enfermeiro realiza cuidado em enfermagem, incentivando a pessoa com doença crônica para o au- tocuidado, o controle das doenças e a prevenção das complicações. Para realizar tais cuidados é importante que na prática profissional, a enfermei- ra possua respaldo teórico, a fim de desencadear indagação e reflexão, pois somente o agir no empirismo, no “fazer por fazer” não contribui para um corpo de conhecimento próprio da Enfermagem (ANDRADE; VIEIRA, 2005). Lima et al. (2006) em seus estudos sobre a proposta de instrumento para coleta de dados de enfermagem em uma Unidade de Terapia Intensi- va fundamentado em Horta coloca que a criação de um instrumento para a coleta de dados fundamentado na Teoria das Necessidades Humanas Básicas facilita a aquisição de dados objetivos e subjetivos do paciente. Verificou-se que ele pode facilitar e direcionar a coleta de dados e que serve de guia para a elaboração do plano de cuidados a ser formulado individualmente para os pacientes críticos. Outro aspecto levantado foi o enfoque dado pelas publicações das quais 88,2% (15) referem-se a estudos realizados em área hospitalar e 11,8% (02) a extra-hospitalar. (Quadro 02). O predomínio do enfoque hospitalar pode estar relacionado ao pensamento de grande parte dos profissionais de enfermagem de que uma teoria juntamente com o pro- cesso de enfermagem e a Sistematização da assistência de enfermagem só parecem ter viabilidade se forem implementados em unidades hospi- talares, como evidenciamos na nossa prática diária. De acordo com a resolução COFEN nº 358/2009, que regulamenta a aplicação da Sistematização da Assistência de Enfermagem no Brasil, em seu artigo 1º e parágrafo 1º, O Processo de Enfermagem deve ser realizado, de modo deliberado e sistemático, em todos os ambientes, públicos ou privados, em que ocorre o cuidado profissional de Enfermagem. Os ambientes de que trata o caput deste artigo referem-se a instituições prestadoras de serviços de internação hospitalar, instituições prestadoras de serviços ambulatoriais de saúde, domicílios, escolas, associações comunitárias, fábricas, entre outros. Porém esse resultado também pode estar relacionado ao fato de a lei do exercício profissional de enfermagem preconizar que a sistematiza- ção priorizada para os pacientes com risco de vida e em situações onde sejam exigidas tomadas de decisão imediatas, essas características acon- tecem predominantemente na área hospitalar (FIGUEIREDO et al., 2006). Com relação à modalidade das publicações, 82,35% (14) dos tra- balhos foram classificados como sendo pesquisas de campo e 17,65% (3) eram relatos de experiência (Quadro 02). Isso demonstra que há uma ten- tativa para implementar, na prática assistencial, as teorias de enfermagem. Considera-se que existem ainda muitas lacunas na produção de conhecimento sobre o tema, em especial na análise das características administrativas das instituições de saúde, na posição e autonomia da en- fermagem, na concentração do poder dentro das instituições e sua inter- ferência na implementação da teoria. Acredita-se que trabalhos que analisem esta interface entre os di- ferentes modelos administrativos das instituições e a implementação da teoria devam ser incentivados. Afinal, os modelos teóricos ou teorias de enfermagem representam a luz que iluminará os passos do processo de enfermagem e, segundo Barros (2004), o modelo teórico de Horta é o pre- dominantemente utilizado pelos enfermeiros no ensino e na prática de Enfermagem brasileira. 4 CONCLUSÃO O estudo permitiu um panorama da produção científica brasileira sobre a Teoria das Necessidades Humanas Básicas de Wanda de Aguiar Horta na Assistência de Enfermagem Brasileira, no período de 2000 a 2009. A média da produção é de 2,4 publicações/ano, com destaque para os anos de 2006, 2007 e 2008 que apresentaram 13 publicações (76,5%). Os trabalhos estão distribuídos em 14 periódicos. As revistas ligadas a grandes universidades, paulista, carioca, e mineira, concentram 64,7% (11 artigos) da produção do período. Observou-se um predomínio da pro- dução com enfoque na área hospitalar (88,2%), pacientes portadores de doença crônica foram os mais pesquisados (35,3%), e a modalidade mais utilizada foi a pesquisa de campo (82,35%). Ao término deste estudo, considerou-se que, mediante o signifi- cado e a importância da Teoria das Necessidades Humanas Básicas para a assistência de enfermagem brasileira, bem como o fato de ser a Teoria mais utilizada para fundamentar o cuidado de enfermagem na prática co- tidiana desta categoria profissional, é pequena a produção e publicação de trabalhos nas bases de dados pesquisadas. Porém devido às exigências dos órgãos regulamentadores e de fomento do ensino de pós-graduação no Brasil, muitos pesquisadores estão preferindo publicar em revistas cien- tíficas em outras línguas. Talvez em outros estudos dessa natureza, fazen- do paralelo com artigos em outras línguas, se possa esclarecer os motivos pelos quais esse fenômeno esteja ocorrendo. No entanto, percebe-se que as pesquisas evidenciam uma maior preocupação e estímulo por parte dos enfermeiros em implementar o cui- dado baseando-se nesta Teoria, contribuindo assim para uma melhoria da qualidade da assistência de enfermagem ao paciente, bem como para a valorização profissional da Enfermagem. Revista Interdisciplinar UNINOVAFAPI, Teresina. v.5, n.3, p.52-57, Jul-Ago-Set. 2012. Vieira, T. S., et al. 57 ALFARO-LEFREVE, R. A aplicação do processo de enfermagem: um guia passo a passo. 4. ed. Porto Alegre: Artes Médicas, 2000. ANDRADE, J.S; VIEIRA, M.J. Práticas assistenciais de enfermagem: problemas, perspectivas e necessidades de sistematização. Revis- ta Brasileira de Enfermagem, Brasília, v. 58, n. 3, mai./jun. 2005. p.261-5. Disponível em < http://www.scielo.br/ pdf/reben/v58n3/ a02v58n3.pdf> Acesso em: 18 jul. 2010. BARROS, A.L.B.L. SISTEMATIZAÇÃO DA ASSISTêNCIA DE ENFERMAGEM SOB O REFERENCIAL DO CUIDAR. 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