Prévia do material em texto
Dados da anamnese, o exame físico e a avaliação laboratorial dos pacientes que necessitam de cirurgia dentoalveolar ambulatorial são diferentes daqueles realizados em pacientes que requerem hospitalização para procedimentos cirúrgicos. O médico clínico geral do paciente normalmente realiza a anamnese e o exame fí- sico de forma abrangente; é impraticável e de pouco valor para o dentista duplicar esse processo. No entanto, o dentista deve des- cobrir a presença ou o histórico de problemas médicos que pos- sam afetar a segurança do tratamento, bem como condições que afetam especifi camente a saúde da região oral e maxilofacial. Os dentistas são educados em ciências básicas e em ciências médicas pré-clínicas, particularmente aquelas relacionadas à re- gião maxilofacial. Essa habilidade especial em assuntos da área médica que se relacionam com a região oral torna o dentista um recurso valioso em uma equipe de profi ssionais da saúde. Isso confere aos dentistas a responsabilidade de serem capazes de reconhecer e tratar apropriadamente as condições patológicas orais. Para manter essa capacidade, o dentista deve permanecer informado sobre os avanços mais recentes na medicina, estar atento durante todo o tratamento dos pacientes e estar prepa- rado para comunicar completamente, mas de forma sucinta, a avaliação da saúde oral dos pacientes para os outros profi ssionais de saúde. ANAMNESE Uma anamnese acurada é a informação mais importante que o dentista pode ter quando decide se o paciente pode se submeter com segurança a um tratamento dentário. O dentista também deve prever como um problema médico alterará a resposta do paciente aos agentes anestésicos e à cirurgia planejada. Se a ob- tenção da anamnese for bem feita, o exame físico e a avaliação laboratorial do paciente acabam por desempenhar um papel me- nor na avaliação pré-cirúrgica. O formato padrão de um novo formulário utilizado para registrar os resultados da anamnese e do exame físico está ilustrado no Quadro 1-1. A anamnese e o exame físico devem ser individualizados para cada paciente, considerando os problemas clínicos do paciente, a idade, o nível de conhecimento e o estilo de vida; a complexi- dade do procedimento planejado e os métodos anestésicos an- tecipados. Dados Biográfi cos Inicialmente, a informação mais importante a ser obtida de um paciente são os seus dados pessoais. Esses dados devem incluir o nome completo do paciente, endereço, idade, gênero, ocupação, bem como o nome do médico clínico do paciente. O profi ssional usa essas informações, juntamente com a avaliação do nível de 3 CAPÍTULO1 Avaliação do Estado de Saúde Pré-operatório JAMES R. HUPP SUMÁRIO DO CAPÍTULO ANAMNESE Dados Biográfi cos Queixa Principal História da Queixa Principal Anamnese Revisão dos Sistemas EXAME FÍSICO TRATAMENTO DE PACIENTES COM CONDIÇÕES MÉDICAS COMPROMETEDORAS Problemas Cardiovasculares Cardiopatia Isquêmica Acidente Vascular Cerebral (AVC) Disritmias Anormalidades Cardíacas que Predispõem à Endocardite Bacteriana Insuficiência Cardíaca Congestiva (Cardiomiopatia Hipertrófica) Problemas Pulmonares Asma Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica Problemas Renais Insuficiência Renal Transplante Renal e Transplante de Outros Órgãos Hipertensão Distúrbios Hepáticos Distúrbios Endócrinos Diabetes Melito Insuficiência Suprarrenal Hipertireoidismo Hipotireoidismo Problemas Hematológicos Coagulopatias Hereditárias Terapêutica Anticoagulante Distúrbios Neurológicos Distúrbios Convulsivos Etilismo (Alcoolismo) TRATAMENTO DE PACIENTES GRÁVIDAS E EM PERÍODO PÓS-PARTO Gravidez Pós-Parto 4 PARTE I • PRINCÍPIOS DE CIRURGIA inteligência e de personalidade, para estimar a confi abilidade em relação ao paciente. Isso é importante porque a validade da ana- mnese fornecida pelo paciente depende primeiramente da con- fi ança que o profi ssional tem no paciente como “narrador”. Se os dados de identifi cação ou a entrevista do paciente apresentarem alguma razão para o dentista suspeitar de que a história clínica não seja segura, devem-se encontrar métodos alternativos para a obtenção das informações necessárias. Uma avaliação confi ável deve continuar por toda a entrevista da história do paciente e seu exame físico, e o profi ssional deve procurar por respostas inconsistentes, improváveis ou ilógicas que possam sugerir a ne- cessidade de comprovar as informações. Queixa Principal Cada paciente deve ser questionado sobre sua queixa principal. Isso pode ser obtido por meio de uma fi cha em que o paciente pode completar ou pela transcrição das suas respostas (prefe- rencialmente de forma literal) para o seu prontuário odontoló- gico durante a entrevista inicial, seja por um membro da equipe ou pelo dentista. Isso ajuda o dentista a estabelecer prioridades durante a tomada da anamnese e o planejamento do tratamen- to. Além disso, uma vez que os pacientes formulam uma queixa principal, eles são incentivados a esclarecer para si mesmos e para o dentista porque desejam o tratamento. Ocasionalmente, pode existir um motivo oculto, consciente ou inconscientemen- te. Nessas circunstâncias, as informações fornecidas posterior- mente, a partir da entrevista do paciente, podem revelar a verda- deira razão pela qual o paciente está buscando tratamento. História da Queixa Principal Deve-se solicitar ao paciente que descreva minuciosamente a his- tória da sua queixa atual ou doença, particularmente seu aspecto inicial, qualquer alteração ocorrida desde seu aparecimento e sua infl uência sobre ou por outros fatores. As descrições de dor devem incluir início, intensidade, duração, localização e irradiação, bem como fatores que a pioram ou melhoram. Além disso, deve-se perguntar sobre sintomas gerais como febre, calafrio, letargia, anorexia, mal-estar e fraqueza associados à queixa principal. Essa parte da anamnese deve ser o mais direta possível, tal como o histórico de 2 dias de dor e inchaço ao redor do terceiro molar em erupção. No entanto, a queixa principal pode ser re- lativamente complicada, como o relato de um local de extração com histórico de dor de longa duração, que não cicatriza, em um paciente que recebeu radioterapia. Nesse caso, uma história mais detalhada da queixa principal é necessária. Anamnese A maioria dos dentistas considera os formulários de anamnese (questionários) como meios efi cientes de iniciar a coleta de da- dos sobre a anamnese. Quando um paciente confi ável preenche o seu formulário de anamnese, o dentista pode usar as respos- tas pertinentes para direcionar a entrevista. Assistentes de con- sultório dentário treinados apropriadamente podem apontar as respostas mais importantes do paciente no formulário (p. ex., fazendo um círculo em volta das alergias a medicamentos em vermelho) para chamar a atenção do dentista às respostas. Os questionários de saúde devem ser escritos claramente, em linguagem coloquial, e não devem ser extensos. Para diminuir a chance de os pacientes fornecerem respostas incompletas ou in- corretas e concordar com as regulamentações da Health Insurance Portability and Accountability Act, o formulário deve incluir uma declaração que garanta ao paciente a confi dencialidade da infor- mação, além de um termo de consentimento individual no qual o paciente autoriza o acesso ao seu registro dentário, pelo dentista, médico e outros clínicos durante o atendimento. O documento deve incluir também um lugar para o paciente assinar confi r- mando que está ciente das perguntas e da precisão das suas res- postas. Vários modelos de questionários para pacientes odonto- lógicos estão disponíveis em diversas fontes, tais como a American Dental Association, faculdades de odontologia e livros odontológi- cos (Figura 1-1). O dentista pode escolher um questionário já preparado ou formular um de maneira individualizada. Os itens listados no Quadro 1-2 (coletados em uma fi cha ou de forma verbal) ajudam a estabelecer adequadamente os dados clínicos da históriado paciente; se os dados forem coletados verbalmente, é importante que as respostas do paciente sejam documentadas por escrito. Além dessas informações básicas, é importante questionar especifi camente em relação a problemas clínicos comuns que são passíveis de alterar o tratamento odontológico do paciente. Dentre esses problemas incluem-se angina, infarto do miocárdio (IM), sopros cardíacos, doença cardíaca reumática, distúrbios de coagulação (incluindo o uso de anticoagulantes), asma, doença pulmonar, hepatite, doenças sexualmente transmissíveis, doen- ça renal, diabetes, uso de corticoides, crise convulsiva, acidente vascular cerebral, e próteses implantadas, tais como próteses ar- ticulares artifi ciais ou válvulas cardíacas. Os pacientes devem ser perguntados especifi camente sobre alergias a anestésicos locais, aspirina e penicilina. Pacientes do gênero feminino, em grupo de idade adequada, devem ser questionadas em cada consulta sobre a possibilidade de estarem grávidas. Uma breve história familiar pode ser útil e deve focar as do- enças hereditárias relevantes, tais como hemofi lia (Quadro 1-3). A anamnese deve ser atualizada periodicamente, pelo menos uma vez ao ano. Muitos dentistas possuem assistentes treinadas especifi camente para questionar o paciente e conferir se existe alguma alteração na sua saúde desde a última consulta. O den- QUADRO 1-1 Formato Padrão de Ficha de Registro da Anamnese e Exame Físico 1. Dados biográficos 2. Queixa principal e sua história 3. Anamnese 4. História clínica familiar e social 5. Revisão dos sistemas 6. Exame físico 7. Exames laboratoriais e radiográficos/por imagem QUADRO 1-2 Dados Básicos da História de Saúde 1. Hospitalizações passadas, operações, lesões traumáticas e doenças graves 2. Doenças ou sintomas menores recentes 3. Uso cotidiano ou recente de medicações e alergias (parti- cularmente alergia a medicamentos) 4. Descrição de hábitos de saúde ou vícios, como o uso de etanol, tabaco e drogas ilícitas e a quantidade e o tipo de exercícios diários 5. Dados e resultados dos últimos exames médicos ou con- sulta médica CAPÍTULO 1 • Avaliação do Estado de Saúde Pré-operatório 5 ANAMNESE Nome Endereço Telefone: (Residencial) OcupaçãoData Responda todas as questões fazendo um círculo em SIM ou NÃO e complete os espaços em branco quando indicado. As respostas às perguntas seguintes são somente para nosso registro e são confidenciais. (Trabalho) Altura Peso SIM NÃO SIM NÃO SIM NÃO SIM NÃO SIM NÃO SIM NÃO SIM NÃO SIM NÃO SIM NÃO SIM NÃO SIM NÃO SIM NÃO SIM NÃO SIM NÃO SIM NÃO SIM NÃO SIM NÃO SIM NÃO SIM NÃO SIM NÃO SIM NÃO SIM NÃO SIM NÃO SIM NÃO SIM NÃO SIM NÃO SIM NÃO SIM NÃO SIM NÃO SIM NÃO M F Data de Nascimento 1. Minha última consulta médica foi em (aproximadamente) 2. O nome e o endereço do meu médico particular é 3. Você está sob tratamento médico no momento? 4. Você já teve alguma doença séria ou operação? 5. Você esteve hospitalizado nos últimos 5 anos? 6. Você tem ou teve alguma das seguintes doenças ou problemas: Se estiver, qual é a condição que está sendo tratada? Se teve, qual a doença ou operação? Se esteve, qual foi o problema? a. Febre reumática ou doença cardíaca reumática b. Anormalidades cardíacas presentes desde o nascimento c. Doença cardiovascular (problemas cardíacos, ataque cardíaco, angina, acidente vascular cerebral, hipertensão, sopro cardíaco) (1) Você sente dor ou pressão no peito após exercícios (2) Você sente a respiração mais curta após exercícios leves (3) Os seus tornozelos incham (4) Você sente a respiração difícil quando deita ou precisa de travesseiros extras para dormir (5) Alguém já lhe disse que você tem um sopro cardíaco d. Asma ou febre do feno e. Urticária ou erupções na pele f. Desmaio ou convulsão g. Diabetes (1) Urina mais de seis vezes por dia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . (2) Sente sede muitas vezes (3) Sente a boca seca h. Hepatite, icterícia ou doença hepática i. Artrite ou outros problemas articulares j. Úlceras no estômago k. Problemas renais l. Tuberculose m. Você tem tosse persistente ou tosse com sangue n. Doenças venéreas o. Outras (listar) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . . . . . . . . . . . . . . . . .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7. Você teve algum sangramento anormal associado a extrações dentárias anteriores, cirurgia ou trauma a. Você tem equimoses facilmente b. Você já teve necessidade de transfusão sanguínea c. Se sim, especifique as circunstâncias 8. Você já teve algum distúrbio hematológico como anemia, incluindo a anemia falciforme 9. Fez algum tratamento cirúrgico ou com radiação para tumor, câncer ou outra condição na região da cabeça e pescoço FIGURA 1-1 Exemplo de questionário de história de saúde útil para triagem de pacientes odontológi- cos. (Modifi cado de um questionário da American Dental Association.) Continua 6 PARTE I • PRINCÍPIOS DE CIRURGIA ANAMNESE —cont. 10. Você utiliza alguma droga, medicamento ou fitoterápico Se utiliza, qual 11. Você está tomando algum dos seguintes medicamentos: a. Antibióticos ou fármacos à base de sulfa b. Anticoagulantes (para afinar o sangue) c. Medicamento para hipertensão d. Cortisona (esteroides) (incluindo prednisona) e. Tranquilizantes f. Aspirina g. Insulina, tolbutamina (Orinase)ou droga similar para diabetes h. Digitálicos ou fármacos para problemas cardíacos i. Nitroglicerina j. Anti-histamínicos k. Anticoncepcional ou outra terapia hormonal l. Medicamentos para osteoporose . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . m.Outros 12. Você é alérgico ou teve alguma reação adversa a: a. Anestésicos locais (procaína [Novocaína]) b. Penicilina ou outros antibióticos c. Derivados de sulfa d. Aspirina e. Iodados ou contrastes para raios X f. Codeína ou outros narcóticos g. Outros 13. Você já teve algum problema grave associado a qualquer tratamento odontológico prévio Se teve, explique 14. Você tem alguma doença, condição ou problema não listado anteriormente que considera ser necessário que eu saiba Se existe, explique 15. Você está empregado em algum local que o expõe regularmente a raio X ou outra radiação ionizante 16. Você usa lentes de contato MULHERES: 17. Você está grávida ou notou ausência recente do seu ciclo menstrual 18. Você está amamentando no momento Queixa odontológica principal (Por que você veio ao consultório hoje?) SIM NÃO SIM NÃO SIM NÃO SIM NÃO SIM NÃO SIM NÃO SIM NÃO SIM NÃO SIM NÃO SIM NÃO SIM NÃO SIM NÃO SIM NÃO SIM NÃO SIM NÃO SIM NÃO SIM NÃO SIM NÃO SIM NÃO SIM NÃO SIM NÃO SIM NÃO SIM NÃO SIM NÃO SIM NÃO . . . . . . . . . . . . .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Assinatura do Paciente (verificando a precisão das informações descritas) Assinatura do Dentista FIGURA 1-1, cont. Exemplo de questionário de anamnese útil para avaliar pacientes odontológicos. (Modifi cado da forma apresentada pela American Dental Association.) CAPÍTULO 1 • Avaliação do Estado de Saúde Pré-operatório 7 tista é alertado se uma alteração tiver ocorrido e as mudanças devem ser documentadas no prontuário/fi cha clínica. Revisão dos Sistemas A revisão dos sistemas é um método sequencial e abrangente para elucidar sintomas do paciente baseados nos sistemas dos órgãos. A revisão dos sistemas pode revelar condições clínicas não diagnosticadas. Essa revisão pode ser extensa, quando realiza- da por um clínico geral em pacientes com problemas médicos complicados. No entanto, a revisão dos sistemas conduzida pelo dentista antes de uma cirurgia oral deve ser guiada por respostas pertinentes obtidas a partir da história. Por exemplo, a revisão do sistema cardiovascular em um paciente com história de doen- ça cardíaca isquêmica inclui questões relacionadas a desconforto torácico (durante exercícios, alimentação ou em repouso), pal- pitação, desmaio e edema nos tornozelos. Tais questões auxiliam o dentista a decidir se realizará a cirurgia do mesmo modo ou se alterará os métodos anestésicos ou cirúrgicos. Se métodos auxi- liares de controle de ansiedade, como sedação intravenosa (IV) ou por inalação, estiverem planejados, os sistemas cardiovascu- lar, respiratório e nervoso sempre devem ser revisados; isso pode revelar problemas não diagnosticados previamente que podem colocar em risco o sucesso da sedação. No papel de especialistas da saúde oral, espera-se que o dentista seja capaz de realizar uma revisão rápida da cabeça, ouvidos, olhos, nariz, boca e garganta em cada paciente, independentemente de outros sistemas serem re- visados. Os itens a serem revistos estão citados no Quadro 1-4. A necessidade de revisar os sistemas de órgãos, além daqueles da região bucomaxilofacial, depende das circunstâncias clínicas. Os sistemas cardiovascular e respiratório comumente necessitam de avaliação antes de uma cirurgia oral ou sedação (Quadro 1-5). EXAME FÍSICO O exame físico do paciente odontológico deve focalizar a cavida- de oral e, em menor grau, a região maxilofacial inteira. O registro dos resultados do exame físico deve ser um exercício de descri- ção precisa, em vez de uma listagem de diagnósticos médicos prováveis. Por exemplo, o dentista pode encontrar uma lesão na mucosa interna do lábio superior com 5 mm de diâmetro, exo- fítica, não-dolorosa e fi rme à palpação. Esse achado no exame físico deve ser registrado de uma maneira descritiva semelhante; o dentista não deve fazer o diagnóstico e registrar somente “fi - broma no lábio”. Qualquer exame físico deve ser iniciado com a aferição dos sinais vitais. Isso serve como um esquema de triagem para pro- blemas clínicos não suspeitados e como um padrão para futuras aferições. As técnicas de aferição da pressão sanguínea e pulso estão ilustradas nas Figuras 1-2 e 1-3. A avaliação física de várias partes do corpo geralmente en- volve uma ou mais das quatro seguintes medidas primárias de avaliação: (1) inspeção, (2) palpação, (3) percussão e (4) aus- cultação. Nas regiões oral e maxilofacial, a inspeção sempre deve ser realizada. O dentista deve observar a distribuição capilar e a textura do cabelo, simetria e proporção faciais, movimento dos olhos e cor da conjuntiva, obstrução nasal em cada lado, presen- ça ou ausência de lesões e descoloração cutânea, e massas cervi- cais ou faciais. A inspeção por toda a cavidade oral é necessária, incluindo a orofaringe, a língua, o assoalho da boca e a mucosa oral (Figura 1-4). A palpação é importante quando se examina a função da ar- ticulação temporomandibular, o tamanho e a função das glân- dulas salivares, o tamanho da glândula tireoide, a presença ou QUADRO 1-3 Condições Comuns de Saúde para Serem Inquiridas Verbalmente ou no Questionário de Saúde !"Alergias a antibióticos ou anestésicos locais !"Angina !"Uso de anticoagulantes !"Asma !"Distúrbios sanguíneos !"Amamentação !"Uso de corticosteroides !"Diabetes !"Sopros cardíacos !"Hepatite !"Hipertensão !"Dispositivos protéticos implantados !"Doença pulmonar !" Infartodo miocárdio (i.e., ataque cardíaco) !"Osteoporose !"Gravidez !"Doença renal !"Doença cardíaca reumática !"Distúrbios convulsivos !"Doenças sexualmente transmissíveis !"Tuberculose QUADRO 1-5 Revisão dos Sistemas Cardiovascular e Respiratório REVISÃO CARDIOVASCULAR Desconforto torácico ao esforço, quando se alimenta ou em repouso; palpitações; desmaios; edema dos tornozelos; res- piração encurtada (dispneia) ao esforço; dispneia em posição supina (ortopneia ou dispneia paroxística noturna); hipoten- são postural; fadiga; cãibras musculares nas pernas REVISÃO RESPIRATÓRIA Dispneia ao esforço, falta de ar, tosse, produção excessiva de secreções, tosse com eliminação de sangue (hemoptise) QUADRO 1-4 Revisão de Rotina de Cabeça, Pescoço e Região Maxilofacial Constitucionais: Febre, calafrios, suores, perda de peso, fadi- ga, mal-estar, perda de apetite Cabeça: Cefaleia, vertigem, desmaio, insônia Ouvidos: Audição diminuída, tinido (zumbido), dor Olhos: Visão embaçada, visão dupla, lacrimejamento excessi- vo, ressecamento, dor Nariz e seios nasais: Rinorreia, epistaxe, problemas para respi- rar pelo nariz, dor, alteração do olfato Área da articulação temporomandibular: Dor, ruídos, movi- mentação limitada Oral: Dor dentária ou sensibilidade, vesículas nos lábios ou mucosa, problemas mastigatórios, problemas de fala, hali- tose, restaurações perdidas, dor de garganta, ronco alto Pescoço: Dificuldade de deglutição, alterações na voz, dor, torcicolo 8 PARTE I • PRINCÍPIOS DE CIRURGIA ausência de aumento ou sensibilidade dos linfonodos e o endu- recimento de tecidos moles orais, bem como para determinar dor ou presença de fl utuação em áreas de edema. Os médicos normalmente utilizam a percussão durante exa- mes torácicos e abdominais, e o dentista pode usá-la para testar dentes e seios paranasais. O dentista usa a auscultação principal- mente para avaliar a articulação temporomandibular, mas tam- bém pode utilizá-la para a avaliação dos sistemas gastrointesti- nal, pulmonar e cardíaco (Quadro 1-6). Um exame maxilofacial breve que todos os dentistas devem ser capazes de realizar está descrito no Quadro 1-7. Os resultados da avaliação médica são utilizados para apontar uma classifi cação do estado físico do paciente. Existem alguns sistemas de classifi cação, porém o mais comumente utilizado é a classifi cação do estado físico da Sociedade Americana de Anestesiologistas (American Society of Anesthesiologists/ASA). Uma vez que a classifi cação do estado físico segundo a ASA foi determinada, o dentista pode decidir se o tratamento exigido pode ser realizado de forma segura e rotineira no consultório dentário. Se o paciente não for da classe I da ASA ou um pacien- te relativamente saudável classe 2, o dentista geralmente segue uma das quatro opções: (1) modifi cação do plano de tratamento de rotina, incorporando medidas para a redução de ansiedade, técnicas farmacológicas de controle de ansiedade, monitoramen- to mais cuidadoso do paciente durante o tratamento, ou uma combinação desses três métodos (isso normalmente é necessá- rio para pacientes ASA classe II); (2) obtenção de uma consulta médica para orientar no preparo do paciente para a cirurgia oral ambulatorial (p. ex., não reclinar totalmente o paciente com in- sufi ciência cardíaca congestiva); (3) recusar-se a tratar o pacien- te em ambiente ambulatorial; ou (4) encaminhar o paciente para um cirurgião bucomaxilofacial. Estão disponíveis modifi cações propostas no sistema ASA de forma a serem mais específi cas para os dentistas, mas ainda não são amplamente utilizadas entre os profi ssionais de saúde. TRATAMENTO DE PACIENTES COM CONDIÇÕES MÉDICAS COMPROMETEDORAS Os pacientes com problemas sistêmicos algumas vezes requerem modifi cações nos cuidados transoperatórios quando uma cirur- gia oral é planejada. Essa seção discute considerações em relação às principais categorias de problemas de saúde. A B FIGURA 1-2 A, Aferição da pressão sanguínea sistêmica. Um manguito de tamanho adequado é posicionado de forma segura ao redor do braço de modo que a borda inferior do manguito fi que de 2 a 4 cm acima da fossa antecubital. A artéria braquial é palpada na fossa, e o diafragma do estetoscópio é colocado sobre a artéria e mantido no local com os dedos da mão esquerda. O bulbo de pressão é mantido na palma da mão direita e a válvula é aparafusada (fechada) com os dedos e o indicador daquela mão. O bulbo é então apertado repetidamente até que a pressão atinja aproximadamente 220 mmHg. Deixa-se escapar o ar lentamente do manguito através da abertura parcial da válvula enquanto o dentista ausculta pelo estetoscópio. A leitura da aferição começa quando se escuta o primeiro som mais fraco, que se refere à pressão sanguínea sistólica. A aferição termina quando o último som da artéria desaparece, defi nindo a pressão diastólica. Logo que a leitura da pressão diastólica é obtida, a válvula é aberta para desinfl ar completamente o manguito. B, A frequência e o ritmo do pulso são avaliados mais comumente por meio do uso das pontas dos dedos médio e indicador da mão direita para palpar a artéria radial no pulso. Deter- minando-se o ritmo como regular, o número de pulsações que ocorrer em 30 segundos é multiplicado por 2 para determinar o número de pulsações por minuto. Caso descubra-se um pulso fraco ou irregular na palpação do pulso radial, o coração deve ser auscultado diretamente para determinar a frequência e o ritmo cardíacos. FIGURA 1-3 Manguitos de pressão sanguínea de tamanhos varia- dos para pacientes com braços de diâmetros diferentes (variando de pacientes infantis a obesos). O uso de um manguito de tamanho inadequado pode pôr em risco a precisão do resultado da pressão sanguínea. Manguitos muito pequenos causam leituras falsamente altas e manguitos largos causam leituras mais baixas. Os manguitos de pressão sanguínea normalmente são rotulados de acordo com o tipo e o tamanho do paciente para os quais eles foram projetados. CAPÍTULO 1 • Avaliação do Estado de Saúde Pré-operatório 9 Problemas Cardiovasculares Cardiopatia Isquêmica ANGINA PECTORIS. A obstrução do suprimento arte rial para o miocárdio é um dos problemas de saúde mais frequentemen- te encontrados pelos dentistas. Essa condição ocorre principal- mente em homens por volta dos 40 anos de idade e em mulheres após a menopausa. O processo básico da doença é um espasmo ou estreitamento progressivo (ou ambos) de uma ou mais arté- rias coronárias. Isso leva a uma discrepância entre a demanda de oxigênio requisitada pelo miocárdio e a capacidade das artérias coronárias em supri-la. A demanda de oxigênio do miocárdio pode estar aumentada, por exemplo, por exercício, ansiedade ou durante a digestão de uma grande refeição. A angina é um sintoma de doença cardíaca isquêmica produzida quando o su- primento sanguíneo do miocárdio não está sufi cientemente au- mentado para satisfazer a necessidade de oxigênio aumentada, o que resulta em doença arterial coronariana.1 O miocárdio torna-se isquêmico, produzindo uma sensação de pressão forte ou de aperto na região subesternal do paciente, que pode irradiar para o ombro e braço esquerdo e também para a região mandibular. O paciente pode se queixar de uma sensação intensa de falta de ar ou de não conseguir respirar adequada- mente. A estimulação da atividade vagal normalmente ocorre provocando náusea, sudorese e bradicardia. O desconforto ti- picamente desaparece quando o trabalho do miocárdio é dimi- nuído ou o suprimento de oxigênio é para o músculo cardíaco aumentado. A responsabilidade do dentista com o paciente que possui história de angina é de utilizar todas as medidas preventivas dis- poníveis, de forma a reduzir a possibilidade de que um procedi- mento cirúrgico desencadeie um episódio de angina. As medidas preventivas iniciam-se ao se obter uma cuidadosa história sobre A B C FIGURA 1-4 A, mucosa labial sendo examinada pela eversão dos lábios superior e inferior.B, Língua sendo examinada pela sua protrusão. O examinador segura a língua com uma gaze e a manipula gentilmente para examinar as bordas laterais. Pede-se também ao paciente que eleve a língua para permitir a visualização da superfície ventral e assoalho da boca. C, A glândula submandibular é examinada pela palpação bimanualmente através do assoalho da boca e pele sob o assoalho da boca. a angina do paciente. O paciente deve ser questionado em rela- ção aos eventos que produzem a angina; a frequência, a duração e a gravidade da angina; e a resposta aos medicamentos ou ativi- dade diminuída. O médico do paciente deve ser consultado para emitir um parecer sobre o seu estado cardíaco. 1O termo angina deriva-se do grego antigo e signifi ca sensação de choque (asfi xia). QUADRO 1-6 Exame Físico Pré-operatório do Paciente para Cirurgia Oral e Maxilofacial INSPEÇÃO Cabeça e face: formato geral, simetria, distribuição capilar Ouvido: Reação normal a sons (exame otoscópico se for in- dicado) Olhos: Simetria, tamanho, reatividade pupilar, coloração da esclera e da conjuntiva, movimento, teste de visão Nariz: Septo, mucosa, obstrução Boca: Dentes, mucosa, faringe, lábios, tonsilas Pescoço: Tamanho da glândula tireoide, distensão venosa ju- gular PALPAÇÃO Articulação temporomandibular: Crepitação, sensibilidade Paranasal: Dor na região dos seios Boca: Glândulas salivares, assoalho da boca, lábios, músculos mastigatórios Pescoço: Tamanho da glândula tireoide, linfonodos PERCUSSÃO Paranasal: Ressonância sobre os seios (dificuldade de ava- liação) Boca: Dentes AUSCULTAÇÃO Articulação temporomandibular: Cliques, crepitação Pescoço: Som carotídeo 10 PARTE I • PRINCÍPIOS DE CIRURGIA Se a angina do paciente surgir somente durante exercícios moderados a intensos e responder facilmente à administração de nitroglicerina oral, e se não houve aumento recente na sua gra- vidade, os procedimentos cirúrgicos orais ambulatoriais podem ser realizados com segurança desde que sejam tomadas precau- ções adequadas. No entanto, se o episódio de angina ocorrer durante exercí- cios mínimos, se várias doses de nitroglicerina são necessárias para aliviar o desconforto torácico, ou se o paciente possui an- gina instável (i.e., a angina que se manifesta em repouso ou que piora em frequência, gravidade, de fácil precipitação, duração do ataque, ou previsibilidade da resposta à medicação), a cirurgia eletiva deve ser adiada até que uma consulta médica seja realiza- da. Alternativamente, o paciente pode ser orientado a procurar um cirurgião bucomaxilofacial se uma cirurgia de emergência for necessária. QUADRO 1-7 Exame Maxilofacial Resumido Enquanto entrevista o paciente, o dentista deve examiná-lo vi- sualmente de forma geral, observar a simetria da cabeça e do esqueleto facial, o movimento dos olhos, coloração da conjun- tiva e esclera e capacidade auditiva. O clínico deve observar problemas da fala, os sons da articulação temporomandibular e a capacidade respiratória EXAME DE ROTINA Região da articulação temporomandibular: !"Palpar e auscultar as articulações !"Medir a amplitude de movimento mandibular e padrão de abertura Nariz e região paranasal: !"Ocluir as narinas individualmente para conferir se há obs- trução !" Inspecionar a mucosa nasal anterior Boca: !"Retirar todas as próteses removíveis !" Inspecionar a cavidade oral procurando lesões nos den- tes, mucosas oral e faríngea; olhar as tonsilas e úvula !"Segurar a língua para fora da boca com uma gaze seca enquanto inspeciona as bordas laterais !"Palpar a língua, lábios, assoalho da boca e glândulas sa- livares (conferir o fluxo salivar) !"Palpar o tamanho dos linfonodos do pescoço e da glân- dula tireoide. Inspecionar as veias jugulares QUADRO 1-8 Classifi cação do Estado Físico de Acordo com a Sociedade Americana de Anestesiologistas (ASA) ASA I: Paciente saudável ASA II: Paciente com doença sistêmica leve ou fator de risco de saúde significativo ASA III: Paciente com doença sistêmica grave que não seja incapacitante ASA IV: Paciente com doença sistêmica grave que é amea- çadora à vida ASA V: Paciente moribundo que não se espera que sobreviva sem cirurgia ASA VI: Paciente com morte cerebral declarada cujos órgãos serão removidos com propósito de doação Uma vez decidido que a cirurgia oral eletiva ambulatorial pode ser realizada com segurança, o paciente deve ser prepara- do para a cirurgia e a demanda de oxigênio do miocárdico do paciente deve ser reduzida e impedida de aumentar. A deman- da de oxigênio aumentada durante a cirurgia oral ambulatorial é o resultado primário da ansiedade do paciente. Um protocolo de redução de ansiedade deve ser utilizado (Quadro 1-9). Além disso, durante a cirurgia o paciente deve receber suplementa- ção de oxigênio e pode ser pré-medicado com nitroglicerina (se o paciente for extremamente propenso a angina). Uma aneste- sia local profunda é a melhor maneira de limitar a ansiedade do paciente. Embora existam algumas controvérsias em relação ao uso de anestésicos locais que contenham epinefrina em pacien- tes com angina, os benefícios (p. ex., anestesia prolongada e acentuada) superam os riscos. No entanto, deve-se ter cuidado para evitar a administração excessiva de epinefrina através da utilização de técnicas de anestesia adequadas. Alguns dentistas também evitam administrar mais que 4 mL de uma solução anestésica local com concentração de 1:100.000 de epinefrina em uma dose total de 0,04 mg em um adulto, por um período de 30 minutos. Antes e durante a cirurgia, os sinais vitais devem ser moni- torados periodicamente. Além disso, um contato verbal regular deve ser mantido com o paciente. Deve-se considerar a possibili- dade do uso de óxido nitroso ou outro método de sedação cons- ciente para o controle da ansiedade nos pacientes com doença cardíaca isquêmica. Por precaução, deve-se ter sempre nitrogli- cerina nova, caso haja a necessidade de uso (Quadro 1-10). QUADRO 1-9 Protocolo Geral para Redução de Ansiedade ANTES DA CONSULTA !"Agente hipnótico para promover sono na noite anterior à cirurgia (opcional) !"Agente sedativo para diminuir a ansiedade na manhã da cirurgia (opcional) !"Marcação de consulta pela manhã e de forma que o tempo de espera na recepção seja mínimo DURANTE A CONSULTA Métodos Não-farmacológicos de Controle da Ansiedade !"Restabelecer a confiança verbalmente !"Conversar para distrair !"Evitar surpresas (comunicar o paciente antes de fazer qual- quer coisa que possa causar ansiedade) !"Evitar barulhos desnecessários !" Instrumentos cirúrgicos fora do campo de visão do paciente !"Música ambiente para relaxar Métodos Farmacológicos de Controle de Ansiedade !"Anestésicos locais de intensidade e duração suficientes !"Óxido nitroso !"Ansiolíticos intravenosos APÓS A CIRURGIA !" Instruções sucintas para os cuidados pós-operatórios !" Informar o paciente sobre as seqüelas pós-cirúrgicas espe- radas (p. ex., edema ou pequenos sangramentos) !"Reafirmar a segurança !"Analgésicos eficientes !"O paciente deve informar quem deve ser contatado se al- gum problema acontecer !"Telefonar para o paciente em casa na tarde posterior à ci- rurgia para conferir se existe algum problema CAPÍTULO 1 • Avaliação do Estado de Saúde Pré-operatório 11 A introdução de cateteres com balão nas artérias coronárias com o propósito de restabelecer o fl uxo sanguíneo e a abertura das artérias com stent tem se tornado comum. Se uma angioplas- tia foi realizada com sucesso (com base no teste de esforço cardí- aco), a cirurgia oral pode ser efetuada logo após, com as mesmas precauções utilizadas para pacientes com angina. INFARTO DO MIOCÁRDIO. O IM ocorre quando a isque- mia (resultante de demanda de oxigênio aumentada e suprimen- to diminuído) causa disfunção e morte celulares. A área do mio- cárdio infartada torna-se não-funcional, normalmente necrosa- da, e é circundada por uma área isquêmica geralmente reversível que é propensa a servir como fontepara disritmias. Durante as primeiras horas e semanas após o IM, o tratamento consiste em limitar a exigência de trabalho do miocárdio, aumentar o supri- mento de oxigênio para o miocárdio e suprimir a produção de disritmias pelo foco irritável no tecido isquêmico. Além disso, se alguma via de condução primária estiver envolvida no infarto, pode ser necessária a inserção de um marcapasso. Se o paciente sobreviver às primeiras semanas após o IM, a área necrótica, de tamanho variável, é gradualmente substituída por um tecido ci- catricial, que é incapaz de contrair-se e conduzir adequadamente os sinais elétricos. O tratamento de um problema oral cirúrgico em um pacien- te que teve um IM inicia-se com uma consulta ao médico do paciente. Geralmente, recomenda-se que os procedimentos ci- rúrgicos eletivos maiores sejam adiados até pelo menos 6 meses após o infarto. Esta protelação é baseada na evidência estatística de que o risco de um novo infarto após o IM diminui o máxi- mo possível por cerca de 6 meses, particularmente se o paciente estiver sendo adequadamente acompanhado por um médico. O advento das estratégias de tratamento baseadas em trombolíticos e o aperfeiçoamento dos cuidados no IM fazem com que esta es- pera automática de 6 meses para o tratamento odontológico seja desnecessária. Os procedimentos de cirurgia oral menor, nor- malmente realizados no consultório odontológico, podem ser re- alizados em menos de 6 meses após o IM se for improvável que o procedimento provoque ansiedade signifi cativa e se o paciente teve uma recuperação tranquila do IM. Além disso, outros pro- cedimentos odontológicos podem ser realizados se autorizados pelo médico do paciente por meio de um atestado médico. Os pacientes com história de IM devem ser cuidadosamen- te questionados em relação à sua saúde cardiovascular. Deve-se tentar procurar evidências de disritmias não diagnosticadas ou de insufi ciência cardíaca congestiva (cardiomiopatia hipertrófi - ca). Alguns pacientes que tiveram um IM ingerem aspirina ou outros anticoagulantes para diminuir a trombogênese coroná- ria; essa informação deve ser procurada, pois afeta as decisões cirúrgicas. Se mais de 6 meses se passaram ou o médico do paciente autorizou o procedimento, o tratamento do paciente que teve IM é semelhante ao de um paciente com angina. Um programa de redução da ansiedade deve ser utilizado. Considera-se tam- bém a possibilidade de suplementação com oxigênio. A admi- nistração profi lática de nitroglicerina deve ser realizada somente se recomendada pelo médico do paciente, mas a nitroglicerina deve estar facilmente disponível no consultório. Os anestésicos locais que contêm epinefrina são seguros para serem utilizados se administrados em quantidades adequadas usando-se a técnica de aspiração. Os sinais vitais devem ser monitorados cuidadosa- mente durante todo o período transoperatório (Quadro 1-11). Em geral, em relação às cirurgias orais maiores, os pacientes que receberam enxerto da artéria coronária (bypass) (CABG, co- ronary artery bypass grafting) são tratados de maneira semelhante aos pacientes que sofreram IM. São necessários 3 meses de in- tervalo após a CABG antes de uma cirurgia oral maior eletiva ser realizada. Se uma cirurgia oral maior é necessária antes dos 3 meses após a CABG, o médico do paciente deve ser consultado. Os pacientes que receberam CABG geralmente têm história de angina, IM, ou ambos, e devem ser tratados como descrito an- teriormente. Os procedimentos cirúrgicos de rotina podem ser realizados de forma segura em pacientes com menos de 6 meses de pós-cirúrgico de CABG se sua recuperação se deu sem com- plicações e a ansiedade for mantida em níveis mínimos. Acidente Vascular Cerebral (AVC) Pacientes que sofreram um acidente vascular cerebral são sempre suscetíveis a novos acidentes neurovasculares. Esses pacientes ge- ralmente fazem uso de anticoagulantes e, se forem hipertensos, tomam agentes anti-hipertensivos. Se tais pacientes necessitarem de uma cirurgia, o encaminhamento para o médico do paciente é desejável, assim como adiar a cirurgia até que a tendência hi- pertensiva tenha sido controlada. O estado neurológico desses pacientes deve ser avaliado e documentado no pré-operatório. O paciente deve ser tratado com um protocolo de redução de ansiedade não-farmacológico e seus sinais vitais devem ser cui- QUADRO 1-10 Tratamento do Paciente com História de Angina Pectoris 1. Consultar o médico do paciente 2. Usar um protocolo de redução de ansiedade 3. Ter sempre comprimidos ou spray de nitroglicerina dispo- níveis. Utilizar a nitroglicerina como pré-medicação se for indicado 4. Administrar suplementação de oxigênio 5. Assegurar uma anestesia local profunda antes de iniciar a cirurgia 6. Considerar o uso de sedação com óxido nitroso 7. Monitorar rigorosamente os sinais vitais 8. Considerar a possibilidade de limitar a quantidade de epi- nefrina utilizada (máximo de 0,04 mg) 9. Manter contato verbal com o paciente durante todo o pro- cedimento para monitorar seu estado QUADRO 1-11 Tratamento do Paciente com História de Infarto do Miocárdio 1. Consultar o médico do paciente 2. Conferir com o médico do paciente se um tratamento den- tário é necessário antes de 6 meses desde o IM 3. Conferir se o paciente utiliza anticoagulantes (incluindo aspirina) 4. Usar um protocolo de redução de ansiedade 5. Ter nitroglicerina disponível; usar profilaticamente se o médico aconselhar 6. Administrar suplementação de oxigênio 7. Proporcionar anestesia local profunda 8. Considerar a administração de óxido nitroso 9. Monitorar os sinais vitais do paciente e manter contato verbal 10. Considerar a limitação de 0,04 mg de epinefrina a ser utilizada 11. Considerar o encaminhamento para um cirurgião bucoma- xilofacial 12 PARTE I • PRINCÍPIOS DE CIRURGIA dadosamente monitorados durante a cirurgia. Se a sedação far- macológica for necessária, devem-se utilizar baixas concentra- ções de óxido nitroso. As técnicas de tratamento para pacientes que fazem uso de anticoagulantes serão discutidas mais adiante neste capítulo. Disritmias Pacientes que são propensos a ou sofrem de disritmias cardía- cas geralmente possuem história de doença cardíaca isquêmica e necessitam de modifi cações no protocolo de tratamento odonto- lógico. Muitos defendem que a quantidade total limite de epine- frina a ser administrada deve ser de 0,04 mg. Além disso, esses pacientes podem fazer uso de anticoagulantes ou ser portadores de um marcapasso cardíaco permanente. Os marcapassos não são contraindicações para a cirurgia oral e não existem evidên- cias que demonstrem a necessidade de profi laxia antibiótica em pacientes portadores de marcapasso. Equipamentos elétricos, como bisturi elétrico ou os que emanam microondas, não de- vem ser utilizados próximos do paciente. Assim como outros pacientes sistemicamente comprometidos, os sinais vitais desse paciente devem ser monitorados cuidadosamente. Anormalidades Cardíacas que Predispõem à Endocardite Bacteriana A superfície cardíaca interna, ou endocárdio, pode estar predis- posta a infecções bacterianas quando anormalidades da sua su- perfície permitem que bactérias patológicas se instalem e se mul- tipliquem. Uma descrição completa desse processo e os métodos recomendados de prevenção serão discutidos no Capítulo 16. Insufi ciência Cardíaca Congestiva (Cardiomiopatia Hipertrófi ca) A insufi ciência cardíaca congestiva ocorre quando o miocárdio doente se torna incapaz de corresponder ao débito cardíaco exi- gido pelo corpo ou quando uma demanda excessiva é exigida do miocárdio normal. O coração desenvolve um aumento diastólico fi nal que, no caso do miocárdio normal, aumenta a contratili- dade por meio do mecanismo de Frank-Starling. No entanto, à medida que o miocárdio doente ou normal se dilata, ele se tor- na uma bomba menos efi ciente, o que causa retorno sanguíneo para os leitos vascular pulmonar, hepáticoe mesentérico. Isso, consequentemente, causa edema pulmonar, disfunção hepática e comprometimento na absorção de nutrientes intestinais. O dé- bito cardíaco diminuído causa fraqueza generalizada e impede a depuração renal normal do excesso de líquido, desencadeando uma sobrecarga vascular. Os sintomas da insufi ciência cardíaca congestiva incluem or- topneia, dispneia noturna paroxística e edema nos tornozelos. A ortopneia é um distúrbio respiratório que exibe encurtamento da respiração quando o paciente está em posição supina. A or- topneia geralmente ocorre como resultado da redistribuição do sangue acumulado na extremidade inferior quando o paciente assume a posição supina (assim como durante o sono). A capa- cidade do coração de controlar a pré-carga cardíaca aumenta- da é subjugada, e o sangue retorna para a circulação pulmonar, produzindo edema pulmonar. Os pacientes com ortopneia ge- ralmente dormem com a parte superior do corpo apoiada por vários travesseiros. A dispnéia noturna paroxística é um sintoma de insufi ciência cardíaca congestiva semelhante à ortopneia. O paciente apresen- ta difi culdade respiratória 1 ou 2 horas após assumir a posição supina. O distúrbio ocorre quando o sangue acumulado e o lí- quido intersticial reabsorvido na vascularização das pernas são redistribuídos centralmente, subjugando o coração e produzin- do edema pulmonar. Os pacientes despertam subitamente algum tempo após terem deitado para dormir, com falta de ar, e são obrigados a se sentar para tentar recuperar o fôlego. O edema das extremidades inferiores geralmente aparece como inchaço dos pés, tornozelos, ou de ambos, que é causa- do pelo aumento do líquido intersticial. Geralmente o líquido se acumula como resultado de algum problema que aumenta a pressão venosa ou diminui a concentração de proteínas séricas, permitindo que uma quantidade aumentada de plasma perma- neça nos espaços teciduais dos pés. O edema é detectado fazen- do-se pressão com os dedos em uma área inchada por alguns segundos; se houver indentação no tecido mole após o dedo ser retirado, o edema pedal está presente. Outros sintomas de insu- fi ciência cardíaca congestiva incluem ganho de peso e dispneia de esforço. Os pacientes com insufi ciência cardíaca que estão sob os cui- dados médicos geralmente seguem uma dieta de baixa concen- tração de sódio para diminuir a retenção de líquido e fazem uso de diuréticos para reduzir o volume intravascular; de glicosídeos cardíacos, como a digoxina, para melhorar a efi ciência cardíaca; e, algumas vezes, de fármacos que reduzem a pós-carga, tais como os nitratos, antagonistas β-adrenérgicos ou antagonistas dos canais de cálcio, para controlar a quantidade de trabalho para a qual o coração é solicitado. Além disso, os pacientes com fi brilação atrial crônica causada por cardiomiopatia hipertrófi ca geralmente fazem uso de anticoagulantes para evitar a formação de trombos atriais. Pacientes com insufi ciência cardíaca congestiva compensa- da por dieta e tratamento medicamentoso podem realizar cirur- gia oral ambulatorial com segurança. Um protocolo redutor de ansiedade e suplementação com oxigênio são úteis. Os pacien- tes com ortopneia não devem ser colocados na posição supina durante qualquer procedimento. A cirurgia para pacientes com cardiomiopatia hipertrófi ca não compensada deve ser adiada até que a compensação seja alcançada ou que os procedimentos pos- sam ser realizados em ambiente hospitalar (Quadro 1-12). Problemas Pulmonares Asma Quando o paciente relata história de asma, o dentista deve deter- minar primeiro, por meio de um questionamento suplementar, se o paciente realmente tem asma ou se tem um problema res- piratório como rinite alérgica, que é menos signifi cativo para o tratamento odontológico. A asma verdadeira envolve episódios de estreitamento das vias aéreas menores, o que produz sibilo e dispneia a partir da estimulação emocional ou imunológica, infecciosa e química, ou uma combinação delas. Os pacientes com asma devem ser questionados em relação aos fatores desen- QUADRO 1-12 Tratamento do Paciente com Insufi ciência Cardíaca Congestiva (Cardiomiopatia Hipertrófi ca) 1. Adiar o tratamento odontológico até que a função cardía- ca tenha melhorado e o médico acredite que o tratamento seja possível 2. Usar um protocolo de redução de ansiedade 3. Considerar a possibilidade de administrar suplementação de oxigênio 4. Evitar a posição supina 5. Considerar o encaminhamento a um cirurgião bucomaxilo- facial CAPÍTULO 1 • Avaliação do Estado de Saúde Pré-operatório 13 cadeantes, frequência e gravidade dos ataques, medicações uti- lizadas e a resposta aos medicamentos. A gravidade dos ataques pode, muitas vezes, ser dimensionada pela necessidade de visitas à emergência e admissões hospitalares. Os pacientes asmáticos devem ser questionados especifi camente sobre alergia à aspirina (ácido acetilsalicílico) por causa de uma frequência relativamen- te alta de alergia à fármacos anti-infl amatórios não-esteroidais em pacientes asmáticos. Os médicos prescrevem medicações para pacientes com asma de acordo com a frequência, a gravidade e a causa da doença. Os pacientes com asma grave necessitam de broncodilatadores derivados de xantina, como a teofi lina, e corticosteroides. O cro- molin pode ser utilizado para proteger contra ataques agudos, mas ele é inefi ciente uma vez que os broncoespasmos ocorram. Muitos pacientes levam aminas simpaticomiméticas, como epi- nefrina ou metaproterenol, sob a forma de aerossol, que podem ser autoadministrados se começarem os sibilos. O tratamento cirúrgico oral de um paciente com asma en- volve o reconhecimento do papel da ansiedade na iniciação do broncoespasmo e da supressão do potencial suprarrenal em pa- cientes que fazem uso de terapia com corticoides (veja discussão anterior). A cirurgia oral eletiva deve ser adiada se uma infecção do trato respiratório ou sibilo estiverem presentes. Quando a ci- rurgia for realizada, um protocolo de redução de ansiedade deve ser seguido; se o paciente fi zer uso de esteroides, o médico deve ser consultado em relação à possível necessidade de suplementação com corticosteroides durante o período transoperatório se um procedimento cirúrgico maior for planejado. O óxido nitroso pode ser administrado com segurança em pessoas com asma e é especialmente indicado para pacientes cuja asma é desencadeada pela ansiedade. A bomba de inalação pessoal do paciente deve estar disponível durante a cirurgia, e fármacos como a epinefrina injetável e a teofi lina devem constar em um kit para emergên- cias no consultório. O uso de AINES deve ser evitado porque frequentemente eles precipitam ataque de asma em indivíduos sensíveis (Quadro 1-13). Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica As doenças pulmonares obstrutivas e restritivas geralmente são agrupadas conjuntamente e sob a denominação de doença pul- monar obstrutiva crônica (DPOC). No passado, os termos en- fi sema e bronquite eram utilizados para descrever manifestações clínicas de DPOC, mas a DPOC foi reconhecida como uma mis- tura de problemas pulmonares patológicos. A DPOC geralmente é causada por uma exposição de longo prazo a irritantes pulmo- nares, como fumaça de cigarro, que causa metaplasia do tecido das vias aéreas pulmonares. As vias aéreas fi cam desorganizadas, perdem suas propriedades elásticas e se tornam obstruídas devi- do a edema da mucosa, excesso de secreções e broncoespasmo, o que produz as manifestações clínicas de DPOC. Os pacien- tes com DPOC frequentemente se tornam dispneicos durante exercícios leves a moderados. Eles possuem tosse crônica, que produz grande quantidade de secreções espessas, frequentes in- fecções do trato respiratório e tórax em forma de barril, e podem contrair os lábios para respirar, emitindo um ruído audível du- rante a respiração. Os broncodilatadores, como a teofi lina, geralmente são pres- critos para os pacientes com DPOC; em casosmais graves, são administrados corticosteroides. Somente em casos muito graves e crônicos é utilizada suplementação com oxigênio portátil. Quando pacientes com DPOC que fazem uso de corticos- teróides precisam de tratamento odontológico, o dentista deve considerar o uso de suplementação adicional antes de uma cirur- gia oral maior. Sedativos, hipnóticos e narcóticos que deprimem a respiração devem ser evitados. Os pacientes podem precisar ser mantidos sentados em uma posição ereta na cadeira odon- tológica para serem capazes de lidar com a secreção pulmonar comumente abundante. Por fi m, não se deve utilizar suplemen- tação com oxigênio em pacientes com DPOC grave durante a cirurgia, a menos que o médico recomende. Ao contrário das pessoas saudáveis, em que o nível de CO2 arterial elevado é um estímulo maior para a respiração, o paciente com DPOC torna-se inteiramente aclimatado com os níveis de CO2 arterial elevados e começam a depender inteiramente dos níveis diminuídos de oxigênio arterial para estimular a respiração. Se a concentração de oxigênio arterial estiver elevada pela administração de oxi- gênio em alta concentração, o estímulo respiratório baseado na QUADRO 1-13 Tratamento do Paciente Asmático 1. Adiar o tratamento odontológico até que asma esteja bem controlada e o paciente não tenha sinais de infecção no trato respiratório 2. Auscultar o tórax bilateralmente com estetoscópio para detectar ruídos antes de procedimentos cirúrgicos orais maiores ou sedação 3. Usar um protocolo de redução de ansiedade, incluindo óxi- do nitroso, mas evitar o uso de depressores respiratórios 4. Consultar o médico sobre a possibilidade de uso pré-ope- ratório de cromolin sódico 5. Se o paciente faz ou fez uso crônico de costicosteróides, providenciar uma profilaxia para insuficiência suprarrenal (ver p. 16) 6. Manter um inalador com broncodilatador facilmente aces- sível 7. Evitar o uso de fármacos anti-inflamatórios não-esteroi- dais em pacientes suscetíveis QUADRO 1-14 Tratamento de Pacientes com Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica 1. Adiar o tratamento até que a função pulmonar tenha me- lhorado e o tratamento seja possível 2. Auscultar o tórax bilateralmente com estetoscópio para determinar a adequação dos sons pulmonares 3. Usar um protocolo de redução de ansiedade, mas evitar o uso de depressores respiratórios 4. Se o paciente necessita de suplementação crônica de oxi- gênio, continuar como prescrito em fluxo lento. Se o pa- ciente não necessitar de tratamento com oxigênio suple- mentar, consultar o médico antes de administrar oxigênio 5. Se o paciente faz uso crônico de corticosteróides, tratá-lo como se fosse um paciente com insuficiência suprarrenal (ver p. 16) 6. Evitar colocar o paciente na posição supina até se certifi- car que ele possa tolerá-la 7. Manter um inalador com broncodilatador em local aces- sível 8. Monitorar de perto as frequências respiratória e cardíaca. 9. Agendar o paciente para o período da tarde para permitir a eliminação de secreções 14 PARTE I • PRINCÍPIOS DE CIRURGIA hipoxia é removido e a freqüência respiratória do paciente pode tornar-se criticamente diminuída (Quadro 1-14). Problemas Renais Insufi ciência Renal Os pacientes com insufi ciência renal necessitam de diálise re- nal periódica. Esses pacientes precisam de uma atenção espe- cial durante o tratamento cirúrgico oral. O tratamento de diálise crônica normalmente requer a presença de uma fístula (shunt) arteriovenosa (i.e., uma grande junção criada cirurgicamente en- tre uma artéria e uma veia), o que permite o acesso vascular fácil e administração de heparina, fazendo com que o sangue passe pelo equipamento de diálise sem coagular. O dentista não deve utilizar a fístula para um acesso venoso, exceto no caso de uma emergência. As cirurgias orais eletivas são mais bem realizadas no dia posterior à diálise. Isso permite que a heparina usada durante a diálise seja metabolizada e o paciente esteja em melhor estado fi siológico quanto ao volume intravascular e aos produtos meta- bólicos resultantes. Os fármacos que dependem de metabolização ou excreção renal devem ser evitados ou utilizados em doses modifi cadas para evitar toxicidade sistêmica. Os fármacos removidos duran- te a diálise também precisarão de um ajuste especial no regime de dosagem. Os fármacos relativamente nefrotóxicos, como os AINES, devem ser evitados em pacientes com comprometimento renal mais sério. Devido à alta incidência de hepatite em pacientes que pas- sam por diálise renal, é necessário que os dentistas tomem as precauções necessárias. A aparência alterada do osso causada pelo hipoparatireoidismo secundário em pacientes com insufi - ciência renal deve ser observada. As áreas radiolúcidas metabó- licas não devem ser confundidas com doença dentária (Quadro 1-15). Transplante Renal e Transplante de Outros Órgãos O paciente que necessita de cirurgia oral após o transplante renal ou de outro órgão, geralmente utiliza uma variedade de fármacos para preservar a função do tecido transplantado. Esses pacientes recebem corticosteróides e podem precisar de corticosteróides suplementares no período transoperatório (veja discussão sobre insufi ciência renal, mais adiante, neste capítulo). A maioria desses pacientes também faz uso de agentes imu- nossupressores, que podem fazer com que infecções autolimi- tantes se tornem mais graves. Assim, o uso mais agressivo de antibióticos e hospitalização precoce são justifi cados. O médico do paciente deve ser consultado em relação à necessidade da uti- lização de profi laxia antibiótica. A ciclosporina A, um fármaco imunossupressor administrado após o transplante de órgãos, pode causar hiperplasia gengival. O dentista que realiza cirurgia oral deve reconhecer esse proble- ma para que não atribua erroneamente a hiperplasia gengival somente a problemas de higiene. Os pacientes que passaram por transplante renal ocasional- mente apresentam problemas como hipertensão grave. Os sinais vitais devem ser monitorados antes de a cirurgia oral ser realiza- da nesses pacientes (Quadro 1-16). Hipertensão A pressão sanguínea cronicamente elevada de causa desconhe- cida é denominada hipertensão essencial. A hipertensão leve ou moderada (i.e., pressão sistólica menor que 200 mmHg ou pressão diastólica menor que 110 mmHg) geralmente não é um problema para a realização da cirurgia oral ambulatorial. O cuidado do paciente hipertenso pouco controlado inclui o uso de um protocolo de redução de ansiedade e o monitoramen- to dos sinais vitais. Anestésicos locais que contêm epinefrina de- vem ser utilizados com cautela; após a cirurgia, os pacientes devem ser orientados a procurar um médico para o tratamento da hipertensão. A cirurgia oral eletiva em pacientes com hipertensão grave (i.e., pressão sistólica de 200 mmHg ou maior, pressão diastóli- ca de 110 mmHg ou mais alta) deve ser adiada até que a pres- são esteja controlada. Uma cirurgia oral de emergência em pa- cientes hipertensos graves deve ser realizada em um ambiente muito bem controlado ou em um hospital, para permitir que o paciente seja cuidadosamente monitorado durante a cirurgia e para assegurar o controle da pressão sanguínea aguda (Quadro 1-17). QUADRO 1-15 Tratamento do Paciente com Insufi ciência Renal e de Pacientes que Recebem Hemodiálise 1. Evitar o uso de fármacos que dependam da metabolização ou excreção renal. Modificar a dose se tais fármacos fo- rem necessários 2. Evitar o uso de fármacos nefrotóxicos, como fármacos anti-inflamatórios não-esteroidais 3. Adiar o tratamento odontológico até 1 dia após a diálise 4. Consultar o médico a respeito do uso de profilaxia antibió- tica 5. Monitorar a pressão sanguínea e a frequência cardíaca 6. Procurar por sinais de hiperparatireoidismo secundário 7. Considerar a realização de teste para hepatite B antes do tratamento odontológico. Tomar precauções se não for possível realizar a sorologiapara hepatite QUADRO 1-16 Tratamento de Pacientes com Transplante Renal* 1. Adiar o tratamento até que o médico do paciente ou o cirurgião de transplante libere o paciente para tratamento odontológico 2. Evitar o uso de fármacos nefrotóxicos† 3. Considerar o uso de suplementação com corticosteroides 4. Monitorar a pressão sanguínea 5. Considerar a realização de testes para hepatite B antes do tratamento odontológico. Tomar precauções se não for possível realizar a sorologia para hepatite 6. Observar a presença de hiperplasia gengival induzida por ciclosporina A. Enfatizar a importância da manutenção da higiene oral 7. Considerar o uso profilático de antibióticos, particular- mente para pacientes que fazem uso de agentes imunos- supressores *A maioria dessas recomendações aplica-se a pacientes com transplante de outros órgãos. †Em pacientes com transplante de outros órgãos, o dentista deve evitar o uso de fármacos tóxicos para aquele órgão. CAPÍTULO 1 • Avaliação do Estado de Saúde Pré-operatório 15 Distúrbios Hepáticos O paciente com lesões hepáticas graves resultantes de doenças infecciosas, abuso de álcool ou congestão vascular ou biliar, ne- cessita de cuidados especiais antes da cirurgia oral ser realizada. Pode haver a necessidade de alterar a dose ou evitar o uso de fármacos que sofram metabolização hepática. A produção de fatores da coagulação dependentes da vitami- na K (II, VII, IX, X) pode estar diminuídas na doença hepática grave; além disso, a obtenção da relação normalizada interna- cional (INR; tempo de protrombina [TP]) ou tempo de trombo- plastina parcial podem ser úteis antes da cirurgia em pacientes com doença hepática mais grave. A hipertensão porta causada pela doença hepática também pode causar hiperesplenismo, um sequestrador de plaquetas, o que causa trombocitopenia. O tempo de sangramento de Ivy prolongado revela esse problema. Pacientes com disfunção hepática grave podem necessitar de hospitalização para cirurgia dentária, pois sua capacidade di- minuída de metabolizar o nitrogênio do sangue deglutido pode causar encefalopatia. Por fi m, a menos que haja documentação contrária, considera-se que o paciente com doença hepática seja portador do vírus da hepatite (Quadro 1-18). Distúrbios Endócrinos Diabetes Melito O diabetes melito é causado pela subprodução de insulina ou pela resistência dos receptores de insulina em órgãos periféricos aos efeitos da insulina, ou por ambas. O diabetes é comumente di- vidido em diabetes insulino-dependente e diabetes não-insuli- no-dependente. O diabetes insulino-dependente geralmente se inicia durante a infância ou adolescência. O problema principal nesta forma de diabetes é uma subprodução de insulina, o que resulta na incapacidade do paciente em usar adequadamente a glicose. A glicose sérica aumenta para além do nível de reabsor- ção renal de glicose total, causando glicosúria. O efeito osmótico do soluto de glicose resulta em poliúria, estimulando a sede do paciente e causando polidipsia (consumo frequente de líquido). Além disso, o metabolismo dos carboidratos está alterado, le- vando à quebra da gordura e formação de corpos cetônicos. Isso pode produzir cetoacidose e a concomitante taquipneia com so- nolência e, eventualmente, coma. As pessoas com diabetes insulino-dependente devem atingir um equilíbrio entre a ingestão calórica, exercícios e a dose de insulina. Qualquer diminuição na ingestão calórica regular ou aumento na atividade física, taxa metabólica ou dose de insulina pode desencadear hipoglicemia e vice-versa. Os pacientes com diabetes não-insulino-dependente geral- mente produzem insulina, mas em quantidade insufi ciente, de- vido à atividade diminuída da insulina, resistência do receptor de insulina, ou ambas. Essa forma de diabetes, comumente, ini- cia-se na idade adulta, é exacerbada pela obesidade e geralmente não requer tratamento com insulina. Essa forma de diabetes é tratada com o controle do peso, restrições alimentares e o uso de hipoglicemiantes orais. A insulina é necessária somente se o paciente for incapaz de manter os níveis séricos aceitáveis con- forme as medições terapêuticas usuais. A hiperglicemia grave em pessoas com diabetes não-insulino-dependentes raramente pro- duz cetoacidose, mas desencadeia um estado hiperosmolar com alteração dos níveis de consciência. A hipoglicemia de leve a moderada, por um período curto de tempo, geralmente não é um problema signifi cativo em pessoas com diabetes. Dessa forma, quando um procedimento cirúrgico oral está planejado, é melhor errar para o lado da hiperglicemia do que para a hipoglicemia; isto é, é melhor evitar uma dose excessiva de insulina e administrar uma fonte de glicose. Os procedimentos cirúrgicos orais ambulatoriais devem ser reali- zados no início do dia, utilizando-se um programa de redução de ansiedade. Se a sedação IV não for usada, o paciente deve ser instruído a fazer uma refeição normal e ingerir a quantidade matinal de insulina regular e metade da dose de insulina NPH (do inglês, neutral protamine hagedorn) (Tabela 1-1). Os sinais vitais do paciente devem ser monitorados; se houver sinais de hipoglicemia, como hipotensão, fome, sonolência, náuseas, dia- forese, taquicardia ou alteração de humor, uma fonte oral ou IV de glicose deve ser administrada. Idealmente, os consultórios deveriam ter disponível um aparelho eletrônico para medição da glicose, com o qual o clínico ou o paciente pudessem deter- minar facilmente a taxa de glicose sérica com algumas gotas do sangue do paciente. Esse aparelho pode evitar que o paciente caminhe para uma hiperglicemia leve. Se o paciente for inca- paz de se alimentar temporariamente após a cirurgia, qualquer insulina de ação prolongada (mais comumente a NPH), em ge- ral ingerida pela manhã, deve ser evitada e reiniciada somente após o retorno à ingestão calórica normal. O paciente deve ser aconselhado a monitorar rigorosamente a glicose sérica nas pri- meiras 24 horas do pós-operatório e ajustar a insulina de acordo com essa medição. QUADRO 1-17 Tratamento do Paciente Hipertenso HIPERTENSÃO LEVE À MODERADA (SISTÓLICA >140 MMHG; DIASTÓLICA > 90 MMHG) 1. Recomendar que o paciente procure um médico clínico geral para realizar o tratamento da hipertensão 2. Monitorar a pressão sanguínea do paciente em cada visi- ta, e quando administrar anestésico local com epinefrina, não ultrapassar a dose de 0,04 mg em uma única visita 3. Usar um protocolo de redução de ansiedade 4. Evitar alterações posturais rápidas em pacientes que inge- rem fármacos vasodilatadores 5. Evitar a administração intravenosa de soluções que conte- nham sódio HIPERTENSÃO GRAVE (SISTÓLICA >200 MMHG; DIASTÓLICA > 110 MMHG) 1. Adiar o tratamento odontológico eletivo até que a hiper- tensão esteja controlada 2. Considerar o encaminhamento para um cirurgião bucoma- xilofacial para problemas emergenciais QUADRO 1-18 Tratamento do Paciente com Insufi ciência Hepática 1. Descobrir a causa dos problemas hepáticos; se a causa for hepatite B, tomar precauções 2. Evitar fármacos que requerem metabolismo ou excreção hepática; se o seu uso for necessário, modificar a dose 3. Realizar testes no paciente com doença hepática grave para investigar distúrbios sanguíneos por meio da conta- gem de plaquetas, tempo de protrombina, tempo de trom- boplastina parcial e tempo de sangramento de Ivy 4. Evitar situações em que o paciente possa deglutir grandes quantidades de sangue 16 PARTE I • PRINCÍPIOS DE CIRURGIA Se o paciente necessita perder uma refeição antes do proce- dimento cirúrgico, ele deve ser instruído a não tomar a insulina matinal e somente restabelecer o regime terapêutico usual quan- do for capaz de ingerir o suprimento adequado de calorias. A in- sulina regular deve, então, ser utilizada, com a dose baseada no monitoramento da glicose sérica e como prescrito pelo médico do paciente. Quando o paciente retornar aos seus hábitos ali-mentares normais e à atividade física, o regime usual de insulina pode ser reiniciado. As pessoas com diabetes bem controlado não são mais susce- tíveis a infecções do que as pessoas que não têm diabetes, mas elas têm maior difi culdade de conter as infecções. Isso é causado pela função leucocitária alterada ou por outros fatores que afetam a capacidade do corpo de controlar uma infecção. A difi culdade em controlar infecções é mais signifi cativa nas pessoas com diabe- tes não controlado. Portanto, uma cirurgia oral eletiva deve ser adiada em pacientes com diabetes não controlado até que essa alteração esteja corrigida. No entanto, se uma situação de emer- gência ou uma infecção oral grave ocorrerem em uma pessoa com diabetes, deve-se considerar a hospitalização para permitir o controle agudo da hiperglicemia e o tratamento agressivo da infec- ção. Muitos clínicos também acreditam que antibióticos profi lá- ticos devem ser administrados rotineiramente a pacientes com diabetes que passarão por qualquer procedimento cirúrgico. No entanto, esse posicionamento é controverso (Quadro 1-19). Insufi ciência Suprarrenal As doenças do córtex suprarrenal podem causar insufi ciência suprarrenal. Os sintomas da insufi ciência suprarrenal primária incluem fraqueza, perda de peso, fadiga e hiperpigmentação cutânea e das mucosas. No entanto, a causa mais comum de in- sufi ciência suprarrenal é a administração crônica de corticoste- roides (insufi ciência suprarrenal secundária). Muitas vezes, os pacientes que ingerem corticosteroides regularmente apresen- tam uma “faces em forma de lua”, “giba de búfalo” e uma pele fi na e translúcida. A sua incapacidade de aumentar os níveis de corticoide endógeno em resposta ao estresse fi siológico pode fa- zer com que se tornem hipotensos, sujeitos à síncope, nauseados e febris durante a cirurgia oral prolongada e complexa. Se um paciente com supressão suprarrenal primária ou se- cundária necessitar de uma cirurgia oral complexa, o médico do paciente deve ser consultado em relação à necessidade de uma suplementação com esteroides. Em geral, os procedimentos me- nores necessitam somente de um protocolo de redução de an- siedade. Dessa forma, os esteroides suplementares não são ne- cessários para a maioria dos procedimentos odontológicos. No entanto, procedimentos mais complicados, como uma cirurgia ortognática em pacientes com supressão suprarrenal, geralmente necessitam de suplementação com esteroides (Quadro 1-20). Hipertireoidismo O problema da glândula tireoide de signifi cado principal em ci- rurgia oral é a tireotoxicose, porque esta é a única doença da glândula tireoide em que pode ocorrer uma crise aguda. A ti- reotoxicose é o resultado de um excesso de triiodotironina e tiroxina circulantes, que é causado mais frequentemente pela doença de Graves, bócio multinodular, ou adenoma da tireoide. As manifestações precoces da produção excessiva de hormônio da tireoide incluem cabelos fi nos e quebradiços, hiperpigmenta- TABELA 1-1 Tipos de Insulina* Início e Duração da Ação Nome Pico de Efeito da Ação (Horas Após a Injeção) Duração da Ação (Horas) Rápida (R) Regular Semilenta 2-3 3-6 6 12 Intermediária (I) Zinco globina NPH Lenta 6-8 8-12 8-12 18 24 24 Longa (L) Zinco protamina Ultralenta 16-24 20-30 36 36 *Fontes de insulina são porco — R, I; Vaca — R, I, L; vaca e porco — R, I, L; e DNA recombinante — R, I, L. QUADRO 1-19 Tratamento do Paciente com Diabetes DIABETES INSULINO-DEPENDENTE 1. Adiar a cirurgia até que o diabetes esteja controlado; con- sultar o médico 2. Agendar uma consulta de manhã; evitar consultas longas 3. Usar um protocolo de redução de ansiedade, mas evitar técnicas de sedação profunda em pacientes ambulatoriais 4. Monitorar o pulso, a respiração e pressão sanguínea an- tes, durante e após a cirurgia 5. Manter a comunicação verbal com o paciente durante a cirurgia 6. Se o paciente comeu ou bebeu antes da cirurgia oral e tiver dificuldade para se alimentar e beber após a cirurgia, orientá-lo a não tomar a dose usual da insulina NPH ou regular; iniciar uma infusão venosa com dextrose a 5% em água a 150 mL/h 7. Se for permitido, orientar o paciente a tomar o seu desje- jum normal antes da cirurgia e tomar a dose usual de in- sulina regular, mas somente metade da dose da insulina NPH 8. Advertir o paciente a não ingerir as doses usuais de insu- lina até que ele tenha capacidade de retomar a ingestão calórica habitual e o nível de atividade 9. Consultar o médico do paciente se surgir qualquer ques- tão em relação a modificação do regime de insulina 10. Observar sinais de hipoglicemia 11. Tratar as infecções agressivamente DIABETES NÃO-INSULINO-DEPENDENTE 1. Adiar a cirurgia até que o diabetes esteja controlado 2. Agendar a consulta para o período da manhã; evitar con- sultas demoradas 3. Usar um protocolo de redução de ansiedade 4. Monitorar o pulso, a respiração e pressão sanguínea an- tes, durante e após a cirurgia 5. Manter a comunicação verbal com o paciente durante a cirurgia 6. Se o paciente comeu ou bebeu antes da cirurgia oral e tiver dificuldade para se alimentar e beber após a cirurgia, orientá-lo a não tomar a medicação hipoglicemiante no dia da cirurgia 7. Se o paciente puder comer e beber após a cirurgia, orien- tar paciente a comer seu desjejum normalmente e ingerir a dose usual do agente hipoglicemiante 8. Observar sinais de hipoglicemia 9. Tratar as infecções agressivamente NPH, Insulina protamina neutra de Hagedorn. CAPÍTULO 1 • Avaliação do Estado de Saúde Pré-operatório 17 ção cutânea, sudorese excessiva, taquicardia, palpitação, perda de peso e instabilidade emocional. Os pacientes frequentemen- te, embora não invariavelmente, desenvolvem exoftalmia (globo ocular saliente em decorrência do aumento da gordura na órbi- ta). Se o hipertireoidismo não for reconhecido precocemente, o paciente pode desenvolver insufi ciência cardíaca. O diagnóstico é realizado pela constatação de hormônios tireoideanos circu- lantes elevados, utilizando-se técnicas laboratoriais diretas ou indiretas. Os pacientes tireotóxicos geralmente são tratados com agen- tes que bloqueiam a síntese do hormônio de tireoide e a sua li- beração, com tireoidectomia, ou com ambos. No entanto, os pa- cientes não tratados ou incompletamente tratados podem desen- volver uma crise tireotóxica causada pela liberação repentina de grandes quantidades de hormônios tireoideanos pré-formados. Os sintomas iniciais de uma crise tireotóxica incluem agitação, náusea, e cãibras abdominais. Os sintomas tardios são febre alta, diaforese, taquicardia e, eventualmente, descompensação cardí- aca. O paciente pode se tornar estuporoso e hipotenso, o que pode resultar em óbito se não houver uma intervenção a tempo. O dentista deve ser capaz de diagnosticar previamente um hipertireoidismo não reconhecido por meio da anamnese com- pleta e realização de um exame cuidadoso do paciente, incluindo a inspeção e palpação da glândula tireoide. Se houver suspeita de um hipertireoidismo grave a partir da história do paciente e da inspeção, a glândula tireoide não deve ser palpada porque a manipulação pode desencadear uma crise. Os pacientes com suspeita de problemas na tireoide devem ser encaminhados para uma avaliação médica antes da cirurgia oral. Os pacientes com doença na glândula tireoide tratada podem submeter-se a cirurgia oral com segurança. No entanto, se um paciente estiver com uma infecção oral, o médico deve ser infor- mado, particularmente se o paciente apresentar sinais de hiperti- reoidismo. Devem-se evitar atropina e soluções anestésicas com quantidades excessivas de epinefrina em pacientes parcialmente tratados (Quadro 1-21). Hipotireoidismo O dentista pode desempenhar um papel importante no reco- nhecimento inicial do hipotireoidismo. Os sintomas iniciais do hipotireoidismo incluem fadiga, constipação, ganho de peso, rouquidão, cefaleia, artralgia, distúrbios