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Design Sustentável e Responsabilidade Social Material Teórico Responsável pelo Conteúdo: Prof.ª Me. Elisa Jorge Quartim Barbosa Revisão Textual: Prof. Me. Luciano Vieira Francisco Sustentabilidade e a Crise Ambiental • Introdução ao Design Sustentável; • Histórico; • Impactos Ambientais; • Dimensões da Sustentabilidade ; • Papel do Designer. · Contextualizar a crise ambiental provocada pelos processos de pro- dução industrial e projetos sem preocupação com o seu impacto no meio ambiente. OBJETIVO DE APRENDIZADO Sustentabilidade e a Crise Ambiental Orientações de estudo Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem aproveitado e haja maior aplicabilidade na sua formação acadêmica e atuação profissional, siga algumas recomendações básicas: Assim: Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e horário fixos como seu “momento do estudo”; Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo; No material de cada Unidade, há leituras indicadas e, entre elas, artigos científicos, livros, vídeos e sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você também encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados; Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discus- são, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e de aprendizagem. Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Determine um horário fixo para estudar. Aproveite as indicações de Material Complementar. Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma Não se esqueça de se alimentar e de se manter hidratado. Aproveite as Conserve seu material e local de estudos sempre organizados. Procure manter contato com seus colegas e tutores para trocar ideias! Isso amplia a aprendizagem. Seja original! Nunca plagie trabalhos. UNIDADE Sustentabilidade e a Crise Ambiental Contextualização Nesta Unidade veremos o contexto de onde surgiu o conceito de design sustentável e sua participação dentro do desenvolvimento humano e dos processos produtivos. O que leva às indústrias a poluírem? Como será que o designer pode criar ciclos virtuosos de produção influenciando positivamente? Será possível promover um design mais sustentável? Nesta Unidade responderemos a algumas dessas perguntas, esclarecendo várias dúvidas a este respeito. 8 9 Introdução ao Design Sustentável A curta felicidade material proposta a sociedades ocidentais depois da Segunda Guerra Mundial teve consequências consideráveis no meio ambiente e na qualidade de vida dos seres vivos. Nos últimos anos, a sociedade tomou consciência de seus im- pactos e do cenário de degradação do meio ambiente, alguns dos quais irreversíveis. A sociedade atual tem a sua economia baseada na comercialização de bens de consumo, com rentabilidade imediata e exploração dos recursos naturais. Se o consumo permanecer no mesmo ritmo em que é atualmente, o planeta Terra não terá mais condições de manter as nossas necessidades materiais, de modo que a sobrevivência humana corre grande risco de se extinguir. Seremos, então, uma espécie em risco de extinção? Rever o consumo humano faz parte de uma das alternativas; priorizar o uso em relação à matéria, criando novos bens e serviços mais integrados à realidade ambiental de hoje e visando um futuro próximo. As propostas devem ser pensadas em escala humana e promovidas pelas empresas e seus projetistas, oferecendo alternativas e promovendo novos elos na cadeia produtiva. A ambição desta Disciplina, portanto, é aprimorar os novos modos de vida e despertar o profissional a ser mais questionador, usando da própria criatividade para o bem comum. Histórico A relação entre as sociedades ocidentais e a natureza, como atualmente definida, baseia-se ainda em princípios modernistas enunciados no século XVII. A natureza é usada como base no progresso e aprendizado científico. Fonte de matéria-prima, e dentro desse pensamento, “imperfeita”. Ademais, o pensamento antropocentrista faz com que as pesquisas sejam levadas pelo ponto de vista do homem, ignorando outros tipos de interações menos perceptíveis aos nossos olhos. No discurso do método de Descartes, a linguagem matemática é aperfeiçoada, tornando o seu racionalismo uma abordagem “mecanicista” dos fenômenos ou princípios naturais, visão baseada em uma observação cuja função é decompor e fragmentar o real para facilitar a sua manipulação e reproduzir esses fenômenos (DESCARTES, 2005). Os antigos conhecimentos “especulativos” serão definitivamente superados pela Ciência. Com o projeto da modernidade, o produtor e detentor de conhecimento se afastará do objeto natural de seu saber, em uma tentativa de controle do mundo à sua volta. O futuro é definido em uma escala ascendente em relação ao presente e abre as portas ao progresso científico. 9 UNIDADE Sustentabilidade e a Crise Ambiental 1851, Revolução Industrial: A criação do método para novas invenções trouxe um grande progresso material e científico para a humanidade, gerando grande necessidade de mão de obra e esvaziando o mundo rural. O progresso se apoiou na exploração dos recursos naturais e na mão de obra barata, sem distinção de idade ou sexo, onde as leis trabalhistas ainda nem existiam. Cidades foram criadas ao redor dos centros industriais; surgiu o homem urbanizado, disputando recursos fabricados pelo próximo e ignorando os recursos naturais presentes. No design gráfico e de produtos, ironicamente, a exploração de imagens que remetiam à natureza mostra bem esse distanciamento do homem às suas origens, em uma tentativa de aproximação artificial. O progresso se tornou o principal objetivo, de modo que sacrifícios foram aceitos para se ter acesso às novas riquezas criadas pelo próprio homem. William Morris (1834-1896), contra a Revolução Industrial e o capitalismo que, do seu ponto de vista, priorizavam mais a produtividade que a qualidade e estética, criou, em seu ateliê, o movimento Arts & Crafts, cuja ambição era embelezar o meio ambiente cotidiano pela arte da decoração. Considerava que a indústria distanciava o criador de suas obras, desfigurando os objetos cotidianos. Assim, promovendo o projeto a métodos mais artesanais, propôs que esses objetos representassem uma flora exuberante, retornando às origens humanas. Tal movimento é considerado a origem do design. Ex pl or 1929, “quebra” da Bolsa Estadunidense de Valores e a descoberta do consumidor: Após o fim da Primeira Guerra Mundial, a produção teve o seu auge como nunca antes visto. Novos produtos foram criados, tais como o automóvel e os primeiros eletrodomésticos. Junto aos quais surgiu o crédito ao consumo, com o objetivo de estimular a aquisição desses novos bens, porém, o endividamento crescente da população e a incerteza das bolsas de valores repercutiram na “quebra” da Bolsa Estadunidense de Valores, em outubro de 1929, revelando o contraste entre a especulação e realidade da economia. Tal crise levou a uma queda na produção industrial, permanecendo até a Segunda Guerra Mundial. O pós-Guerra e a necessidade da retomada da economia transformaram o marketing e design em ferramentas-chave dessa retomada econômica, agregando valor intangível aos produtos e serviços. 10 11 1945, o progresso perde a inocência: O inacreditável poder de destruição da Segunda Guerra Mundial, marcado pelos efeitos das bombas atômicas lançadassobre Hiroshima e Nagasaki, cidades japonesas, iniciou o questionamento das benfeitorias do progresso, colocando o mundo diante da problemática da ética. Pela primeira vez na história da humani- dade, o homem dominava a natureza a ponto de se tornar responsável pelo seu próprio destino. Os soldados que retornavam aos seus lares traziam consigo um sonho, baseado no “american way of life”, estilo de vida generoso cuja felicidade era baseada no apego material. As lojas de autosserviço, como os supermercados, ofereciam uma infinidade de ofertas de produtos embalados, facilitando o consumo de bens. Seus carrinhos levavam à compra além do planejado, gerando a aquisição por impulso. Seguia-se a lógica que se apoiava na exacerbação do desejo baseado no bem de consumo, rapidamente saciado. Dito de outra forma, o consumidor era levado a esquecer os benefícios do presente, sendo encaminhado a um futuro próximo, constituído de novos desejos irrisórios – ficava cada vez mais difícil resistir às propagandas bem elaboradas e que se espelhavam no estilo de vida vendido no cinema. No final da década de 1960, o pensamento ecológico fora iniciado como alavanca política que se perdeu dentro de discursos apocalípticos. A ecologia surgiu como uma arma contra uma sociedade intolerante, materialista e centrada no homem branco ocidental. As primeiras reivindicações das populações sensibilizadas pelos perigos industriais fracassaram diante das cicatrizes dos anos de crise econômica, em meio a uma população que tinha como objetivo essencial o seu próprio consumo. Ademais, o principal mérito dos movimentos ecológicos foi plantar a dúvida na consciência dos governantes e da população. Victor Papanek (1927-1999) foi designer e educador, além de um grande defensor do design de produtos, ferramentas e infraestruturas comunitárias social e ecologicamente responsáveis. Foi o primeiro designer a questionar a relação do design com o meio ambiente, centralizando no homem, na ecologia e ética. No seu livro, Design for the real world (2005), originalmente publicado em 1971, destaca a responsabilidade moral do designer, que convida à sabedoria diante da sua produção. Propõe também a se inspirar na experiência de outros países e comunidades em desenvolvimento para melhor entender as necessidades básicas dos seres humanos e sua relação com o design. Ex pl or 11 UNIDADE Sustentabilidade e a Crise Ambiental 1969, redescobrimento da Terra: O ano de 1969 marcou a conclusão de uma época, o triunfo do conhecimento científico e de suas capacidades tecnológicas; a percepção era a de que o homem mudou o próprio status para o de um semideus. Porém, a Terra vista sob outro ponto, contemplada do espaço, tornou-se o ícone da vida resgatando a sua origem, mudando a maneira de ver a si. Nesse mesmo período, catástrofes abala- ram a dinâmica industrial e o homem per- cebeu a influência de demandas industriais cada vez maiores e suas consequências no meio ambiente. Esse período foi marcado pela primeira crise do petróleo, em 1973. Depois da Guerra dos Seis Dias – ou do Yom Kippur –, a cotação do petróleo multiplicou-se por quatro em três meses, de modo que as economias dependentes dessa matéria-prima foram duramente atingidas. Esse pico da crise do petróleo já havia sido previsto pelos pesquisadores do Massachusetts Institute of Technology (MIT), junto ao Clube de Roma, no livro chamado Limites do crescimento (2007), obra que tenta determinar as consequências do modo de vida dos países do Norte e da explosão demográfica das nações do Sul nas décadas seguintes. Conclui que se todo o Planeta consumisse como os norte-americanos, haveria multiplicação por sete do, então, consumo mundial, levando a crises de recursos básicos, tais como as faltas de alimento, água e energia, delegando à humanidade um trágico destino. Essas previsões, embora equivocadas em alguns pontos, conseguiram chamar a atenção de políticos e cientistas. Um ano depois, em Estocolmo, Suécia, representantes de vários países se reuniram pela primeira vez para discutir sobre o tema meio ambiente. Nessa conferência nasceu o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma). Estabelecido em 1972, o Pnuma possui, entre os seus principais objetivos, manter o estado do meio ambiente global sob contínuo monitoramento; alertar povos e nações acerca de problemas e ameaças ao meio ambiente; recomendar medidas para melhorar a qualidade de vida da população, sem comprometer os recursos e serviços ambientais das gerações futuras. Conheça outros aspectos desse programa em: https://goo.gl/Tzgg7j. Ex pl or Figura 1 – Buzz Aldrin pisa na Lua no dia 20 de julho de 1969 Fonte: Wikimedia Commons 12 13 Foi durante a década de 1970 que o consumo humano de recursos naturais começou a ultrapassar as capacidades biológicas da Terra, provocando o declínio da abundância das espécies que vivem no Planeta. Aos poucos, o desenvolvimento industrial se globalizou e feriu duramente os princípios que regem a biosfera, de modo que as condições de sobrevivência no mundo se tornaram precárias. 1980, desastres e iniciativas: De consequências locais e pontuais, os impactos no meio ambiente se tornaram globais, acometidos por vários desastres ecológicos, porém, com poucas mudanças nos sistemas produtivos e econômicos humanos. A superabundância de resíduos, o declínio da biodiversidade, o aquecimento do Planeta pelo aumento do efeito estufa, o aumento do buraco da camada de ozônio causado pela emissão de Clorofluorocarbonetos (CFC) e a rápida degradação das florestas nativas são sintomas desse processo. Com a ampliação do interesse da imprensa, desastres como o ocorrido em Chernobil, então na República Socialista Soviética da Ucrânia, em 1986, evidenciam a fragilidade de nosso planeta conter as suas possíveis falhas. O desastre de Chernobil foi um acidente nuclear catastrófi co que ocorreu em 26 de abril de 1986, na central elétrica da Usina Nuclear de Chernobil, que estava sob a jurisdição direta das autoridades centrais da União Soviética. Uma explosão e um incêndio lançaram grandes quantidades de partículas radioativas na atmosfera, que se espalhou por boa parte da União Soviética e da Europa Ocidental. O desastre é o pior acidente nuclear da história em termos de custo e de mortes resultantes, além de ser um dos dois únicos elencados como eventos de nível 7 – classifi cação máxima – na escala internacional de acidentes nucleares – sendo o outro o acidente nuclear de Fukushima I, no Japão, ocorrido em 2011. Durante o acidente em si, 31 pessoas morreram, além de longos efeitos em inúmeros indivíduos a longo prazo, tais como câncer e deformidades diversas, casos estes que ainda estão em contabilização. Ex pl or Em 1987, o Protocolo de Montreal estabeleceu a redução e suspensão de CFC e outros gases destruidores da camada de ozônio, marcando o primeiro acordo para uma questão ambiental de extrema importância. No mesmo ano foi formalizado o relatório intitulado Nosso futuro comum, trazendo o conceito de desenvolvimento sustentável para o discurso público. Sustentabilidade é o desenvolvimento que satisfaz as necessidades presentes, sem comprometer a capacidade das gerações futuras de suprir as suas próprias necessidades (Gro Harlen Brundtland, Nosso futuro comum, 1987). Ex pl or 13 UNIDADE Sustentabilidade e a Crise Ambiental As amplas recomendações feitas pela Comissão levaram à realização da Confe- rência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, que colo- cou o assunto diretamente na agenda pública de uma maneira nunca antes vista. Realizada no Rio de Janeiro, em 1992, a Cúpula da Terra, como ficou conhecida, adotou a Agenda 21, um diagrama para a proteção do nosso planeta e de seu de- senvolvimento sustentável, a culminação de duas décadas de trabalho que se iniciou em Estocolmo, em 1972. A definição de desenvolvimento sustentável não fixa um objetivo preciso a ser atingido, masdetermina equilíbrios a serem alcançados. Concluídas as décadas de 1980 e 1990, surgiram produtos para suprir a demanda concernente ao meio ambiente, porém, levados apenas pelo marketing e desenvolvidos por profissionais ainda despreparados do ponto de vista de projeto. Apresentando uma qualidade duvidosa, com nomes e cores que remetiam a uma apreensão ambiental, tais produtos se apoiavam na preocupação global e de que algo deveria ser feito para mudar. Impactos Ambientais O aumento no consumo de recursos naturais vem causando sérios impactos ambientais. Segundo o Living planet report 2012, da World Wide Fund for Nature (WWF), a demanda cada vez maior de recursos por uma população crescente está causando uma enorme pressão sobre a biodiversidade do Planeta, a ponto de ameaçar o nosso futuro em termos de segurança, saúde e bem-estar. Por exemplo, se continuarmos em tal ritmo, em 2050 seriam necessários 2,9 planetas para suportar o crescimento da “pegada ecológica” da humanidade. Ademais, os impactos ambientais podem ser divididos em três categorias principais: danos ecológicos, danos à saúde humana e esgotamento de recursos; sendo relevantes para as indústrias nas economias desenvolvidas e em desenvolvimento. Quanto menos recursos naturais gastos para fazer um produto, mais barato se torna para as empresas e melhor figura ao meio ambiente, uma vez que gastou menos matéria-prima e energia. Mesmo na escala de uma única organização, as atividades industriais têm consequências ao meio ambiente, afinal, na maioria dos casos, seus impactos são imputáveis aos resíduos que perturbam os equilíbrios naturais (KAZAZIAN, 2005). 14 15 Dimensões da Sustentabilidade A busca de parte da sociedade para clarear o conceito de sustentabilidade, de se propor um significado de preferência tangível e prático, tem suscitado reflexões desde as mais filosóficas, como o questionamento de ordem ética e moral; até as mais palpáveis, como a escolha do material no desenvolvimento de um produto. Há a necessidade de se traduzir em palavras o que representa o desenvolvimento sustentável, assim como os seus produtos resultantes, sendo um passo fundamental para que mudanças sejam efetivadas, transformando e desenvolvendo o sistema vigente para que se torne mais efetivo e de fácil assimilação. Cientistas sociais e políticos, filósofos, antropólogos, economistas e pensa- dores das mais diversas disciplinas passaram a propor pilares que embasariam o novo conceito de sustentabilidade. O mais difundido foi o famoso tripé da sustentabilidade, social-econômico-ambiental, proposto pelo inglês John Elking- ton (2001), onde argumenta que o desenvolvimento sustentável é resultado de processos produtivos que consideram as três dimensões – ambiental, social e econômica – de maneira integrada. Esse conceito representou uma ruptura fundamental na forma que até então era feita, que sempre considerou o crescimento econômico como o único objetivo de um empreendimento. Social JustoPossível Sustentável ViávelViável Econômico Figura 2 – Tripé da sustentabilidade e esquema representativo dos vários componentes do desenvolvimento sustentável. 15 UNIDADE Sustentabilidade e a Crise Ambiental Tão forte foi a influência do tripé da sustentabilidade que, cinco anos depois, foi incorporado no documento da Cúpula de Johanesburgo, convocada com a ambição de transformar a Declaração do Rio em uma espécie de projeto executivo. A Organização das Nações Unidas (ONU) se baseou nos seguintes princípios: da igualdade; do controle institucional efetivo do sistema internacional financeiro e de negócios; da precaução na gestão do meio ambiente; da prevenção das mudanças globais negativas; da proteção da diversidade biológica – e cultural –; da gestão do patrimônio global; do sistema efetivo de cooperação científica e tecnológica internacional e eliminação parcial do caráter de commodity da Ciência e tecnologia. Independentemente das linhas e propostas sustentadas por estudiosos e militantes de diversos campos que interagem nesse debate, o mais importante é notar que se trata de um conceito em constante construção. Hoje: Os avanços foram pontuais e pouco significativos, deixando perguntas abertas a serem respondidas pelas novas gerações de profissionais, por exemplo: quais meios devem ser usados para satisfazer as necessidades humanas? Como fazer a gestão de recursos naturais existentes? Como será o progresso tecnológico e humano com recursos tão limitados? As preocupações com o meio ambiente contribuíram para a formação de uma nova consciência do papel do designer no mundo, possibilitando aumento das discussões na área sobre ecologia humana, estratégias tecnológicas alternativas e responsabilidade social desse profissional. No contexto ambiental e social, a atuação do designer Victor Papanek (1985), com o seu livro Design for a real world, colocou em discussão as preocupações das indústrias e designers interessados na ecologia, incentivando a enfrentar os problemas sociais ao seu redor ao invés de agir apenas por interesses comerciais. Esse autor acreditava que os designers poderiam proporcionar soluções para sistemas e produtos com a finalidade de uso coletivo, ou em comunidades, utilizando tecnologias apropriadas. Papanek defendeu um design centrado no homem, na ecologia e ética, destacando a responsabilidade moral do design, que convida à sabedoria diante de sua produção e propõe a inspiração na experiência de outros países – notadamente aqueles em desenvolvimento – para melhor atender às necessidades básicas dos seres humanos e sua relação com o design. A inserção das questões ambientais na atividade do design como uma necessidade surge ao longo do debate sobre desenvolvimento sustentável. A partir de tal momento, definições como design de produtos sustentáveis foram adotadas pela necessidade de os designers reconhecerem não apenas os impactos ambientais de sua atividade, mas também as consequências éticas e sociais, não se limitando aos três pilares propostos por Elkington (2001). 16 17 Pensando mais na dimensão ambiental, Manzini (1993) diz que as tendências ambientais levam ao lema “menos matéria, menos energia e mais informação”, mostrando a necessidade de elaborar uma cultura ecológica capaz de resolver não apenas os problemas mais evidentes da quantidade, como também os dilemas mais sutis da qualidade, afinal, torna-se necessário orientar a evolução dos materiais em direção a equilíbrios aceitáveis entre o ambiente artificial e as leis da natureza a que estamos vinculados. A sustentabilidade ambiental se refere, conforme Manzini e Vezzoli (2002, p. 28), “[...] às condições sistêmicas segundo as quais [...] as atividades humanas não devem intervir nos ciclos naturais em que se baseia tudo o que a resiliência do Planeta permite [...], não devem empobrecer seu capital natural, que será transmitido às gerações futuras”. Já o engenheiro William McDonough e o designer e arquiteto Michael Braungart, no livro Cradle to cradle (2008), destacam a tendência de empresas e designers projetarem produtos com mais controle. No entanto, “menos mau” não é o mesmo que ser bom, figurando como uma meta limitada. Uma vez que os seres humanos são considerados como “maus”, o zero é uma meta boa. Mas sermos “menos maus” significa aceitarmos as coisas como são, acreditando que os sistemas deficientemente planejados, indignos e destrutivos são o melhor que os seres humanos conseguem fazer. Esta é a falha derradeira da abor- dagem de “ser menos mau”: uma falha da imaginação (MCDONOUGH; BRAUN- GART, 2008, p. 67). McDonough e Braungart (2008) também exploram a necessidade da elaboração de produtos dentro do conceito de ciclo fechado, ou do “berço ao berço”, onde não há a geração de resíduos. O ciclo de vida do produto não deve terminar quando seus materiais são simples- mente despejados nos sistemas naturais, fornecendo abordagens alternativas, como transformá-losem “nutrientes técnicos”, criando um metabolismo semelhante ao biológico da Terra. Manufatura Reciclagem Recursos Desperdício Consumo e Uso Economia Circular Figura 3 Fonte: Adaptado de iStock/Getty Images 17 UNIDADE Sustentabilidade e a Crise Ambiental A sustentabilidade social, segundo Crul e Diehl (2006), em seu trabalho desenvolvido para a United Nations Environment Programme (Unep) junto à Delft University of Technology, está associada também a questões como as seguintes: respeito à identidade e diversidade cultural; inclusão das minorias, marginalizados e deficientes; bem-estar social; trabalho em condições adequadas e sem a necessidade de grandes deslocamentos; geração e equilíbrio na distribuição de renda; acesso à alimentação, água potável e serviços de saúde; escolarização e abolição do trabalho infantil, entre outros temas. A sustentabilidade econômica apresenta uma ligação bastante forte com a social pela geração de trabalho e renda (CRUL; DIEHL, 2006). Além da lucratividade, é fundamental para as empresas a geração de valor tanto para cada organização, quanto para os stakeholders e consumidores; trata-se do valor que permite às empresas posicionarem-se de forma competitiva no mercado. Ao longo das últimas décadas, as organizações têm se preocupado mais com a própria responsabilidade nos impactos do ambiente e têm demonstrado que as iniciativas ambientais e melhorias podem trazer benefícios econômicos. É um objetivo a ser atingido, e não, como atualmente muitas vezes é entendido, uma direção a ser seguida. Em outras palavras, nem tudo que mostrar algumas melhorias em temas ambientais pode ser considerado realmente sustentável (MANZINI, 2005, p. 28). Papel do Designer Existem vários empecilhos no sistema econômico atual, porém, a melhor alternativa é promover ações em escala humana, e microeconômica, permitindo- nos intervir de forma mais eficiente. Segundo Kazazian (2009), o papel do designer se distingue de outras profissões, podendo ser transversal, integrador e dinâmico entre ecologia e concepção de produtos, inovações econômicas e tecnológicas, necessidades e novos hábitos. Segundo Papanek (1995), a função do designer é apresentar opções reais e significativas às pessoas, permitindo que as mesmas participem mais plenamente nas decisões que lhes dizem respeito. Ainda conforme esse autor, a ética é a base filosófica para fazer escolhas morais e seus valores. As decisões morais processam- se reconhecendo a existência de um dilema e sopesando conscienciosamente as alternativas, conferindo sentido ao se tomar decisões a respeito das alternativas existentes. O design ético deve também ser salutar e benéfico em termos ambientais e ecológicos – na escala humana e com responsabilidade social. Todos os objetos, grafismos e embalagens devem funcionar no sentido de suprir as necessidades do consumidor em um nível mais básico do que a mera aparência de “sustentável” (PAPANEK, 1995). 18 19 Dougherty (2011) faz uma analogia do papel do design, usando três formas de pensar: como manipulador de materiais, criador de mensagens e agente de mudanças, onde cada forma é incorporada às outras. Os designers podem ajudar empresas preocupadas com valores ambientais a construir marcas fortes e ter sucesso no mercado. Pode amparar as organizações a se posicionarem como líderes em questões ambientais, influenciando as operações de negócios nos anos seguintes (DOUGHERTY, 2011). Mesmo que a comunidade de design não seja a que resolverá os problemas de desigualdade social ou prevenirá o marketing de alimentos não saudáveis, é capaz de influenciar na escolha dos consumidores. Nesse sentido, designers devem considerar formas de utilizar as suas habilidades para o benefício da sociedade. Finalmente, as empresas representam a escala mais eficiente para as mudanças na forma de consumo, reforçando as suas estratégias de marketing e design em benefício do desenvolvimento sustentável. 19 UNIDADE Sustentabilidade e a Crise Ambiental Material Complementar Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Sites Design for sustainability: a step-by-step approach CRUL, M. R. M.; DIEHL, J. C. Design for sustainability: a step-by-step approach. United Nations Environment Programme (UNEP) e Delft University of Technology, 2010 https://goo.gl/ZTE5Lc Ecological design: inventing the future Ecological design: inventing the future. Dir. Brian Danitz; Christopher Zelov. [20--]. https://goo.gl/r5tGcu Livros Discurso do Método DESCARTES, René. Discurso do método. Trad. Paulo Neves. São Paulo: L&PM, 2005. Vídeos The Story of Stuff https://youtu.be/9GorqroigqM 20 21 Referências BORGES, Adélia (curadoria). III Bienal Brasileira de Design. Curitiba, PR : Centro de Design Paraná, 2010. Disponível em: <https://www.cbd.org.br/wp-content/ uploads/2013/02/Catalogo_Bienal_2010_1.pdf>. Acesso em: 09 mar. 2018. BRAUNGART, Michael; MCDONOUGH, William. Cradle to cradle: criar e reciclar ilimitadamente. São Paulo: Gustavo Gili, 2013 CMMAD – COMISSÃO MUNCIAL SOBRE MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO. Nosso futuro comum. 2. ed. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 1991. CRUL, M. R. M.; DIEHL, J. C. Design for sustainability: a step-by-step approach. United Nations Environment Programme (UNEP) e Delft University of Technology, 2010. Disponível em: < http://www.unep.fr/scp/publications/ details.asp?id=WEB/0155/PA >. Acesso em: 08 mar. 2018. DOUGHERTY, Brian. Design gráfico sustentável. São Paulo: Edições Rosari, 2011. ELKINGTON, John. Canibais com garfo e faca. São Paulo: Editora Makron Books, 2001 KAZAZIAN, Thierry. Haverá a idade das coisas leves: design e desenvolvimento sustentavel. 2. ed. Sao Paulo: Senac, 2009. 194 p MANZINI, Ezio; VEZZOLI, Carlo. O desenvolvimento de produtos sustentáveis: os requisitos ambientais dos produtos industriais. São Paulo: Edusp, 2002. reimpressão: 2011 MEADOWS, D. L., MEADOWS, D. H., RANDERS, J.; BEHRENS, W. W. Limites do crescimento: um relatório para o projeto do Clube de Roma sobre o dilema da humanidade. São Paulo: Perspectiva, 1972. ONU. Nações Unidas no Brasil. Disponível em: <https://nacoesunidas.org/ agencia/onumeioambiente> Acesso em: 06 abr. 2018. PAPANEK, V. Arquitetura e design: ecologia e ética. Lisboa: Edições 70, 1995. WWF – WORLD WIDE FUND FOR NATURE. Living planet report 2012: biodiversity, biocapacity and better choices. Switzerland: 2012. Disponível em: <http://wwf.panda. org/about_our_earth/all_publications/>. Acesso em: 06 abr. 2018. 21