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ESTRATÉGIAS ORGANIZACIONAIS Zaida Cristiane dos Reis Estratégias corporativa, competitiva e funcional Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes conhecimentos: Distinguir estratégia corporativa de estratégia competitiva. Relacionar estratégia funcional com alinhamento estratégico. Explicar a importância de um planejamento estratégico que contemple os três níveis de estratégia. Introdução A palavra estratégia, de origem grega (strategos), costumeiramente era relacionada a um plano de manobra. Almeida (2010) destaca que o termo, inicialmente utilizado no desenvolvimento de estratégias militares, referia- -se ao plano desenvolvido pelo general, que tinha como objetivo apre- sentar as melhores manobras para que seu exército derrotasse o inimigo. Hoje, no âmbito organizacional, estratégica competitiva se refere ao modo como uma organização pretende competir em um mercado após analisar as estratégias e posições dos seus concorrentes ou competidores, tendo como foco obter um diferencial competitivo sustentável. Por sua vez, as estratégias corporativas explicam as ações estratégicas de uma empresa no que tange à obtenção de diferencial competitivo ao operar em vários negócios simultaneamente. Neste capítulo, você vai estudar as diferenças entre as estratégias organizacionais corporativas e competitivas, além de relacionar as estra- tégias organizacionais com o alinhamento estratégico. Por fim, você vai verificar a importância de um planejamento estratégico que contemple os três níveis estratégicos (operacional, tático e estratégico). Estratégia corporativa A estratégia é considerada fundamental para o desenvolvimento das organi- zações. Diante disso, nesta seção apresentaremos os conceitos de estratégia corporativa e a sua importância no contexto atual. De acordo com Oliveira (2015), a estratégia corporativa é o plano geral de uma empresa diversificada que apresenta dois níveis de estratégia: a estratégia das unidades de negócio (ou competitiva); a estratégia corporativa (ou da totalidade do grupo empresarial). Para Serra et al. (2013), a estratégia corporativa é aquela em que constan- temente são analisadas três importantes questões enfrentadas pelos gestores da corporação: O escopo corporativo — de que complexo de negócios a corporação deve participar? O relacionamento entre as suas partes — em que bases as unidades de negócios da corporação devem relacionar-se umas com as outras? Os métodos para a gestão do escopo e dos relacionamentos — que métodos específicos (entre os quais se destacam aquisições, alianças estratégicas, desinvestimentos, etc.) serão adotados para efetuar mu- danças específicas no escopo corporativo e nos relacionamentos? Nesse sentido, de modo geral, Oliveira (2015) e Serra et al. (2013) concor- dam que a definição do termo estratégia corporativa é simples e não apresenta muitas variações. A estratégia corporativa existe quando a corporação tem mais de uma unidade de negócios e se refere à estratégia do grupo como um todo, e não às estratégias específicas de cada unidade de negócio. A estratégia corporativa, segundo Müller (2014), é o conjunto de ações que uma empresa vai usar para ter diferenciais competitivos no seu setor de atuação, para, assim, obter uma lucratividade média superior. Desse modo, observa-se que a escolha da estratégia corporativa de uma empresa é feita pela análise dos seus negócios (atuais e potenciais) e das operações realizadas em relação à sua situação de mercado. Estratégias corporativa, competitiva e funcional2 É na estratégia corporativa, conforme aponta Nogueira (2014), que é definido o po- sicionamento competitivo global da empresa no mercado, determinando-se os mercados-alvo da empresa e como ela pretende estabelecer o seu diferencial com- petitivo. Nesse contexto, nota-se que um forte desafio empresarial está relacionado à essa estratégia, pois, segundo os autores mencionados, é ela que vai orientar como uma organização deve utilizar seus recursos, suas capacidades e suas limitações para construir diferenciais competitivos que influenciarão positivamente a decisão de compra dos consumidores. Resumidamente, segundo os autores mencionados, a estratégia de nível corporativo é uma ação posta em prática para se obter um diferencial com- petitivo por meio da escolha dos gestores de um composto de negócios que competem em diversas indústrias ou diversos mercados de produtos. Nesse sentido, ela pode ser entendida como aquilo que faz o todo corporativo ser maior do que a soma de suas partes unitárias de negócios. Complementando: nesse ponto, a organização foca a sua preocupação em escolher em quais negócios a empresa deve estar e como o negócio deve ser administrado de forma corporativa. Diante do exposto, os gerenciadores da alta gestão precisam ver os negócios da sua organização como um portfólio de competências essenciais para procurar resolver essas questões críticas (escolhas de estratégias), para que as estratégias de nível corporativo ajudem a organização a obter retornos acima da média, agregando valor para a corporação como um todo. Nogueira (2014) destaca que as estratégias corporativas precisam contribuir para os retornos de todas as unidades de negócios, sendo melhores do que as ações que existiam sem a implementação dessa estratégia. Diante disso, essas estratégias são administradas em um ambiente global caracterizado por elevados graus de risco, complexidade, incertezas e ambiguidade. A estratégia não é o único fator determinante do sucesso ou fracasso das organizações; outros fatores relevantes devem ser considerados, como a competência dos seus executivos corporativos e gestores de unidades e áreas. Afinal, quando há uma boa estratégia, e ela é bem executada, os resultados tendem a ser os objetivados, conforme leciona Silva (2013). Para esse autor, a chave para o sucesso organizacional com a utilização da estratégia cor- 3Estratégias corporativa, competitiva e funcional porativa consiste em selecionar os negócios em que a empresa vai competir (core competencies) e desenvolver e ampliar o portfólio de negócios, pois é essa estratégia que vai nortear as estratégias das suas filiais, unidades e áreas. A ideia do “funil” prevê que as informações vão se restringindo no decorrer das escolhas; quanto maior for a precisão dessas escolhas (estratégia corporativa, core competencies e portfólio de negócios), mais assertiva será a estratégia aplicada. Evoluindo a aprendizagem do capítulo, na sequência são apresentados os tipos de estratégias corporativas, para que o gestor, ao avaliar e propor ações proativas para alavancar as estratégias da organização, possa decidir de forma mais apropriada qual o melhor enfoque a ser trabalhado. Tipos de estratégias corporativas Segundo Serra et al. (2013), existem diferentes métodos para se trabalhar o conceito de estratégia corporativa. Destacam-se neste estudo três estratégias signifi cativas, que podem ser desdobradas em outras relacionadas: a estratégia de diferenciação com foco, a de gestão de carteira de aquisição de empresas e a de reestruturação. Vejamos um resumo delas abaixo: Diferenciação com foco — nicho específico e posição única no mercado. Gestão da carteira de aquisição — diversificação pela aquisição de uma empresa e gestores ativos e comprometidos. Reestruturação (ações relacionadas à troca de equipes e gerentes de unidades) — proporciona uma revisão do planejamento estratégico e busca desenvolver novas tecnologias. A estratégia de diferenciação com foco se destaca por ser voltada a um nicho bem específico. Nesse caso, o ideal é desenvolver algo que seja valori- zado pelos clientes. Para Oliveira (2015), seus produtos e serviços precisam apresentar diferenciais baseados em imagem, qualidade e suporte, oferecendo soluções completas às necessidades dos clientes almejados. O principal objetivo da estratégia de diferenciaçãocom foco tem como base o conceito desenvolvido por Porter (2004) de se conquistar uma posição única no mercado que possibilite à empresa se diferenciar dos seus concorrentes e tomar a preferência dos clientes. Nesse contexto, essa diferenciação precisa se tornar exclusiva da empresa e sustentável. Estratégias corporativa, competitiva e funcional4 Para se desenvolver uma estratégia de diferenciação com foco, é necessário: definir uma categoria isolada de clientes com a qual se possa trabalhar; entender o perfil desses clientes e o que eles valorizam; buscar artifícios para ser a única empresa a oferecer a solução ideal diante do que eles valorizam. Na estratégia de diferenciação com foco, parafraseando Porter (2004), pretende-se identificar e desenvolver um conjunto de diferenças significativas para distinguir a oferta da sua empresa da oferta da concorrência. Dessa forma, o foco consiste em encontrar aquele diferencial pelo qual o nicho de clientes escolhido será conquistado sem nem pensar duas vezes. A gestão de carteira de aquisição de empresas, segundo Serra et al. (2013), é conhecida como um dos conceitos de estratégia corporativa mais utilizados e está baseada diretamente na diversificação pela aquisição de uma empresa. Assim, torna-se importante manter os gestores ativos e comprometidos com a organização. Um exemplo disso é quando uma corporação adquire empresas sólidas e atraentes — é importante para a empresa compradora que os gestores concordem em permanecer no cargo. Para que uma empresa possa investir nessa estratégia, segundo Müller (2014), é necessário: elevada capacidade de descobrir e adquirir empresas a preços abaixo do valor real; ampla autonomia para as unidades e restrições aos tipos de unidades que podem entrar na carteira, para garantir que os gerentes não encontrem dificuldade em analisar criticamente; unidades de negócios autônomas; corporação com centro gerencial muito reduzido, de baixo custo; incentivos normalmente baseados nos resultados das unidades de negócios. A terceira forte estratégia corporativa está relacionada à reestruturação da organização adquirida. Essa estratégia, segundo Müller (2014), consiste em procurar organizações ou setores inteiros da empresa que não estão com- pletamente desenvolvidos ou estão doentes e ameaçados. Como práticas, nesse caso, os gestores promovem ações relacionadas à troca de equipes e gerentes 5Estratégias corporativa, competitiva e funcional de unidades, proporcionam uma revisão do planejamento estratégico e buscam desenvolver novas tecnologias de trabalho. Resumidamente, os autores citados concordam que definir uma estra- tégia corporativa é essencial para a sobrevivência e o crescimento de uma empresa, pois ela é influenciadora dos objetivos e da missão da empresa, tornando-se orientativa para a tomada de decisões. Nesse sentido, torna-se função dos gestores da organização dar atenção à estratégia corporativa e selecionar os melhores métodos e ações que ajudarão o negócio a alcançar suas metas e anseios. Também é preciso destacar uma abordagem importante na estratégia corporativa de diversificação, que está relacionada à estratégia de mul- tinegócios. Explorando essa tipologia, Nogueira (2014) argumenta que estratégias corporativas diversificadas relacionadas, por praticarem o com- partilhamento, possibilitam maiores ganhos do que estratégias corporativas não relacionadas. Nesse sentido, Maximiano (2014) complementa que a diversificação pode ser compreendida como uma estratégia de desenvolvimento empresarial e vista como uma opção a partir da qual, por diferentes circunstâncias, as empresas decidem atuar em diversas linhas de produtos ou atividades. Resumidamente, os autores convergem para salientar que a diversificação é comumente utilizada na estratégia para ampliar mercados e aumentar as vendas e, consequentemente, a lucratividade das organizações. Alguns exemplos interessantes que fazem parte do nosso dia a dia podem ser abordados: Diversificação de produtos em uma banca de jornal — até poucos anos atrás, encontrava-se apenas jornais e revistas nas bancas. Hoje, além dos periódicos, também se encontra DVDs, alimentos, bebidas, perfumaria e outros. Isso ocorre em função do hábito das pessoas de frequentarem sua banca; assim, o comerciante vai expandindo a disponibilidade de produtos, atendendo às demandas do seu próprio público-alvo. Diversificação de produtos nos postos de combustíveis — as lojas de conveniên- cia ganharam importância em função do pouco tempo dos consumidores para comprarem produtos não programados. Estratégias corporativa, competitiva e funcional6 Estratégia competitiva Para competir dentro do mercado no qual a empresa atua, é preciso avaliar o ambiente de atuação. Diante disso, surge a necessidade de acompanhar a movimentação dos concorrentes, entender as necessidades do cliente para satisfazê-lo e desenvolver ações estratégicas que possibilitem uma competi- tividade sustentável diante de consumidores cada vez mais interessados em inovações, bom atendimento, qualidade, entre outros diferenciais. Oliveira (2015) destaca que o termo estratégia competitiva se refere a como uma empresa decide competir no mercado em relação aos seus con- correntes, com o intuito de obter um diferencial competitivo sustentável. Segundo Porter (2004), a estratégia competitiva consiste na busca por uma posição competitiva favorável para a organização, em um ambiente no qual se detecta a concorrência. Nesse sentido, Rezende (2015) salienta que as estratégias competitivas procuram manter um posicionamento lucrativo e sustentável contra as forças que determinam a concorrência da organização. Esse autor afirma, ainda, que uma empresa pode modelar tanto a atratividade de uma indústria quanto a posição competitiva. Na sequência desta seção, apresentam-se as cinco forças competitivas desenvolvidas por Michael Porter, aprofundando-se as ideias de microambiente e macroambiente de uma organização. Cinco forças competitivas de Porter Porter (2004) lançou o artigo “Competitive strategy” em 1980, na Harvard Business Review. Nesse momento, o autor conceituou estratégia competitiva como ações ofensivas e defensivas de uma empresa para criar uma posição sustentável dentro da organização, ações estas que são uma resposta às cinco forças competitivas (Figura 1) que o autor indicou como determinantes da natureza e do grau de competição que cercam uma empresa. 7Estratégias corporativa, competitiva e funcional Figura 1. Cinco forças de Porter. Fonte: Adaptada de Porter (2004). Porter se refere a essas forças como o microambiente (ambiente in- terno) da empresa, em contraste com o termo mais geral, macroambiente (ambiente externo). Destaca-se que a análise dessas forças afeta a capa- cidade de uma organização de servir os seus clientes e obter resultados sustentáveis e lucrativos. Porém, salienta-se que uma mudança em qual- quer uma das forças normalmente requer uma nova análise para reavaliar o mercado no qual a empresa atua, conforme lecionam Porter (2004) e Rezende (2015). Porter (2004), Nogueira (2014), Oliveira (2015) e Rezende (2015), dentre outros autores da área, resumem e explicam as cinco forças competitivas da seguinte forma: Rivalidade entre os concorrentes — na grande maioria das organizações, seja qual for o seu segmento, esse é o principal determinante da competitividade do mercado. Às vezes, rivais, isto é, concorrentes competem agressivamente em relação não só ao preço do produto, mas também à inovação e ao marke- Estratégias corporativa, competitiva e funcional8 ting, entre outros aspectos. Diante disso, a empresa precisa monitorar os seus concorrentes a partir: do número de concorrentes e da repartição de quotas de mercado; da taxa de crescimento das organizações competidoras; da diversidade de concorrentes; da complexidade e agilidade informacional; do grau de diferenciaçãodos produtos; das barreiras à saída da empresa competidora do mercado. Note que, em situações de competitividade entre os concorrentes, estes procuram como estratégia ativa captar clientes; para isso, as margens são “esmagadas” e a atuação centra-se em cortes de preços e descontos por quan- tidade. Lembrando que esse método se preocupa em servir clientes; como consequência, vêm os lucros. Poder de barganha dos clientes — nesse quesito, nota-se que os clientes são críticos e exigentes, justamente por fazerem comparações entre os concorren- tes e, a partir disso, solicitar mais qualidade por um menor preço de bens e serviços, também competindo com a empresa e forçando os preços para baixo. Dessa forma, acabam por “jogar” os concorrentes uns contra os outros. Dentro desse contexto, percebe-se a capacidade dos clientes de colocar a empresa sob pressão, afetando os concorrentes com a sensibilidade à evolução dos preços. Nesse sentido, é necessário que a organização observe os seguintes aspectos: análise da economia, para avaliar o comportamento do cliente e definir segmentos de mercado — para isso, existem ferramentas utilizadas em database marketing e marketing direto, que recebem uma atenção especial no varejo; preço da compra total; disponibilidade de informações para o comprador sobre o produto; existência de produtos substitutos; dimensão enquanto clientes; capacidade de integração. Poder de barganha dos fornecedores — também conhecido como mercado de insumos. Nesse sentido, os fornecedores de matérias-primas, componen- tes e serviços para a empresa podem ser uma fonte de poder. Nota-se que fornecedores podem recusar-se a trabalhar com a empresa, por exemplo, ou 9Estratégias corporativa, competitiva e funcional cobrar preços excessivamente elevados para recursos únicos. Desse modo, para monitorar os fornecedores, é preciso: acompanhar o grau de diferenciação; monitorar os custos dos fatores de produção em relação ao preço de venda do produto; atentar-se para o fato de que ter somente um fornecedor representa um ponto fraco — o fornecedor pode vir a falir ou mesmo elevar os preços das matérias-primas muito acima da concorrência; acompanhar as ameaças de integração entre fornecedores. Ameaça de entrada de novos concorrentes — entende-se que as empresas entram no mercado com o desejo de conseguir uma fatia (parcela) de um setor e, frequentemente, recursos substanciais. Caso haja barreiras na entrada que difi cultem a sua inserção, fi ca mais difícil a fi xação da nova empresa no mercado; desse modo, a ameaça de entrada desse novo concorrente torna-se pequena. Se o concorrente se estabelecer, pode haver perda de rentabilidade por parte da organização que atua no mercado. Por isso, com a ajuda de barreiras, certamente será mais difícil para o concorrente "roubar" os me- lhores clientes. A ideia é que, caso o concorrente venha a se estabelecer no mercado, ele fi cará com os piores clientes e, assim, repensará sua entrada nesse mercado. Esse tipo de ameaça também é chamada de ameaça de novos entrantes, ou barreiras à entrada de concorrentes. Para se evitar a entrada de novos concorrentes, é preciso: barreiras na entrada (patentes, direitos, entre outros); acesso aos canais de distribuição; exigências de capital para entrar nesse mercado; políticas governamentais; fortalecimento da marca; vantagens absolutas de custo; economia de escala; custos de transição. Ameaça de produtos substitutos — torna-se inevitável o surgimento de produtos (bens e serviços) substitutos no mercado como opções de escolha para o cliente. Esses produtos, ao serem analisados pelo consumidor, podem desempenhar funções equivalentes ou parecidas aos da organização. Trata-se, portanto, de uma condição básica de barganha que pode afetar as organizações, Estratégias corporativa, competitiva e funcional10 já que esses produtos substitutos (bens ou serviços) podem limitar os lucros em tempos normais e reduzir as fontes de riqueza que a indústria poderia obter em tempos de prosperidade. Por isso, é importante analisar quantos concorrentes existem, seus preços e sua qualidade comparados ao negócio que está sendo estudado, bem como o lucro que esses concorrentes estão obtendo, para que a organização possa conferir e analisar a possibilidade de baixar seus custos ainda mais ou mantê-los. Essa ameaça de concorrência de produtos substitutos é caracterizada pela troca de custos, tanto imediatos quanto de longo prazo, considerando-se também a inclinação do comprador para realizar mudanças. Nesse sentido, a empresa precisa avaliar: a relação preço/rendimento; o nível de diferenciação do produto; o poder de barganha do comprador; a qualidade do produto substituto. Dentro da análise de uma organização, é comum que se avalie as cinco forças competitivas de Porter considerando-se umas como mais importantes do que as outras. É fundamental verificar as forças que atuam dentro de cada segmento, para identificar as maiores influências na determinação da lucra- tividade da organização. Nesse sentido, para se elaborar uma boa estratégia, torna-se fundamental conhecer bem o setor e as características que governam as suas forças competitivas. Acesse o link a seguir para verificar alguns exemplos de análise das cinco forças de Porter. https://goo.gl/s9sXa5 Estes são os passos para se aplicar as forças competitivas em uma organização: 1. Analise o grau de rivalidade entre os concorrentes do seu mercado. 2. Saiba até que ponto seus clientes podem barganhar. 3. Saiba até que ponto os seus fornecedores podem barganhar. 11Estratégias corporativa, competitiva e funcional 4. Identifique as barreiras e saiba como se livrar delas. 5. Planeje como enfrentar os similares. Note que esses passos consistem em ações objetivas que a empresa pode e deve aplicar para obter destaque no mercado e, portanto, merecem atenção do gestor para que este desenvolva uma análise crítica fundamentada, pois facilitam a tomada de decisões em relação às estratégias a serem adotadas. Observa-se que a análise das cinco forças de Porter é um dos instrumentos de gestão empresarial que se aplica a qualquer tipo de organização e segmento, independente- mente do seu tamanho. Seus fins são fundamentais para se apresentar a posição da empresa perante o mercado, avaliando seus pontos positivos e negativos, além das forças e fraquezas da própria empresa e da concorrência. O emprego dessa análise auxilia a equipe no aprimoramento de seus conhecimentos sobre seus serviços, clientes e concorrentes. Assim, é possível desenvolver a estratégia da organização com mais planejamento e inteligência. Evidencia-se que, para se obter um empreendimento de sucesso, não basta apenas ter uma ideia genial. Torna-se necessário monitorar o mercado à sua volta, bem como sondar o que os outros fazem de diferente e inovador. É importante, nesse momento, aprender com os demais, além de descobrir como estar sempre um passo à frente deles. Além das cinco forças competitivas, Porter (2004) identificou três estra- tégias genéricas que podem ser usadas separadamente ou em conjunto para criar uma posição sustentável a longo prazo. São elas: custo; diferenciação; foco. Nogueira (2014), Rezende (2015) e Oliveira (2015) salientam que, na estra- tégia competitiva de custo, a organização centra seus esforços na busca pelos seguintes atributos: eficiência produtiva, ampliação do volume de produção, minimização de gastos com propaganda, assistência técnica, distribuição, pesquisa e desenvolvimento (P&D). Essa estratégia considera o preço um dos principais atrativos para o consumidor. Estratégias corporativa, competitiva e funcional12 Já a estratégia competitiva de diferenciação, segundo esses autores, faz com que a empresa invista mais pesado em: imagem, tecnologia, assistência técnica, distribuição, P&D, recursos humanos (RH), pesquisa de mercado e qualidade.A sua maior finalidade é criar diferenciais para o consumidor. Ainda na observação desses mesmos autores, a estratégia competitiva de foco consiste em escolher um alvo restrito; ou seja, a organização atende às necessidades específicas de um determinado grupo e, dessa forma, pode oferecer algo considerado único pelos seus clientes. Nesse sentido, a estratégia de foco de uma empresa se resume em escolher segmentos ou nichos específicos por meio da diferenciação ou dos custos. Nogueira (2014) salienta que qualquer estratégia competitiva apresenta riscos e armadilhas. Na estratégia de custos, por exemplo, destacam-se como principais preocupações: a excessiva importância que se dá à fabricação; a possibilidade de acabar com qualquer chance de diferenciação; a dificuldade de se estabelecer um critério de controle de custos; a possibilidade de surgir um novo concorrente, com novas tecnologias e um novo processo, abocanhando uma parcela significativa do mercado; a possibilidade de o mercado passar a valorizar o produto por critérios diferentes. Já na estratégia de diferenciação, Oliveira (2015) afirma que os principais riscos são: diferenciação excessiva; preço muito elevado; enfoque exagerado no produto; possibilidade de ignorar os critérios de sinalização. Na estratégia de foco, Rezende (2015) observa que o risco é de o segmento escolhido não apresentar informações críticas o suficiente para permitir à organização operar. Porter (2004) chama a atenção para esses pontos, mas salienta que a op- ção de se lidar de forma simultânea com as estratégias de menor custo e de diferenciação é bastante difícil, pois obter desempenho, qualidade ou serviço excelentes é mais oneroso, na maioria dos casos, do que pretender ser apenas comparável aos concorrentes em tais atributos. Esse autor ainda afirma que uma empresa que fica no meio-termo estará em uma situação estratégica bem 13Estratégias corporativa, competitiva e funcional pobre, sendo quase garantido que o resultado será uma baixa rentabilidade. Ao se adotar essa estratégia, também é possível perder os clientes de grandes volumes que exigem preços baixos ou renunciar a seus lucros para competir com as empresas de baixo custo. Também nessa opção haverá perda de negócios com altas margens para empresas que atingiram um padrão de diferenciação global. Fora essas questões, a organização que opta pelo meio-termo sofre de uma cultura organizacional indefinida e de um conjunto conflitante de arranjos organizacionais e sistemas de motivação, conforme afirma Oliveira (2015). Diante do exposto, observa-se que as inconsistências potenciais envolvidas na busca simultânea por estratégias genéricas de menor custo e diferenciação tornam essa abordagem quase sempre fadada ao fracasso, conforme leciona Porter (2004). Estratégias funcionais As estratégias funcionais, segundo Oliveira (2015), determinam atividades, projetos e planos de ação necessários para a execução operacional das estra- tégias corporativa e competitiva(s) defi nidas. Nesse sentido, pode-se entender que ocorre a seguinte evolução dos níveis estratégicos em uma empresa, conforme apresenta a Figura 2. Figura 2. Evolução dos três níveis estratégicos. Estratégias corporativa, competitiva e funcional14 Relacionando-se as estratégias funcionais, os autores destacam que os objetivos destas envolvem a seleção, o desenvolvimento e a tomada de deci- sões, avaliando os pontos fortes e fracos do negócio. Nesse contexto, a análise do negócio é feita observando-se as potencialidades dos recursos humanos, organizacionais, físicos e financeiros, com o intuito de promover o alinhamento desses recursos com as estratégias corporativas e competitivas da organização. Observa-se que as principais áreas presentes em todas as organizações são: P&D; operações de produção ou serviços; finanças; marketing; RH. Formulação de estratégias funcionais Para a formulação de estratégias funcionais, é necessário entender a lógica da análise do contexto. Veja na Figura 3 um breve esquema que auxilia esse entendimento. Figura 3. Base para a análise das estratégias funcionais. Por meio da Figura 3, pode-se entender que, para se formular uma estratégia funcional, é necessário entender os pressupostos anteriores, ou seja, o ambiente de atuação (interno e externo) e os referenciais estratégicos, bem como compre- ender as estratégias corporativas e competitivas. Desse modo, torna-se possível analisar as áreas (P&D, operações, finanças, etc.) para, então, desenvolver as estratégias funcionais que vão de encontro à expectativa da empresa. 15Estratégias corporativa, competitiva e funcional Estratégia de P&D A estratégia de P&D objetiva criar produtos, segundo Kotler e Armstrong (2015), e abrange a criação, o planejamento, o desenvolvimento e o lançamento do produto no mercado. É uma forma de alinhar os processos e produtos a um objetivo geral — por exemplo, combater a concorrência. Entre as características das estratégias de P&D, pode-se destacar as seguintes: podem ser muito lucrativas, por exemplo, quando lidam com inovação radical, em que o produto ou serviço a ser lançado é totalmente desco- nhecido e novo ao mercado — porém, essa estratégia (inovação radical), se não for bem recebida pelo consumidor, pode trazer prejuízos; em função dos riscos, muitas empresas usam estratégias de imitação, isto é, copiam rapidamente novos produtos de concorrentes que foram bem-sucedidos — com isso, evitam-se os custos com P&D. Sobre os riscos das estratégias de P&D, destacam-se os seguintes: podem levar um tempo muito elevado para serem implementadas; são dispendiosas e arriscadas; estima-se que apenas 1/7 dos novos produtos imaginados chegam ao mercado; em média, entre 30% a 35% dos produtos ou serviços lançados fracassam. Autores como Oliveira (2015), Maximiano (2014), Kotler e Armstrong (2015), entre outros, comparam as estratégias, como um todo, com organiza- ções militares. Em relação às estratégias de P&D, esses autores formulam as seguintes técnicas de combate: Combate defensivo — inovações que só deverão ser usadas por líderes do mercado. Envolve a proteção da participação no mercado contra a concorrência, introduzindo novos produtos e serviços que substituam os produtos que se tornaram obsoletos ou tecnologicamente defasados. As empresas copiam e lançam novos produtos rapidamente. Combate ofensivo — as inovações devem ser testadas pelas empresas de duas a três vezes; essas organizações, como são grandes o sufi- ciente para sustentarem um ataque contra a empresa líder do mercado, concentram-se em analisar cuidadosamente os pontos fortes da líder Estratégias corporativa, competitiva e funcional16 e descobrir os seus pontos fracos, onde ela é vulnerável a ataques. O ataque deve ser empreendido em uma frente o mais estreita possível, normalmente com um único produto. Combate pelo flanco — envolve inovações que ocupam áreas não ocupadas (onde não exista mercado), surpreendendo os concorrentes e acompanhando implacavelmente as suas inovações. Trata-se de uma estratégia ideal para empresas secundárias, mas não para as líderes. Como regra geral, é uma estratégia de alto risco, mas, quando bem- -sucedida, pode ser altamente lucrativa. Ataque artilheiro — as estratégias de guerrilha envolvem a descoberta de um nicho de mercado pequeno o suficiente para ser defendido, mas que possibilite uma rápida retirada, se necessário. É a estratégia ideal para as empresas com pequenas participações no mercado. Diante do exposto, percebe-se que as organizações, ao se organizarem para desenvolver novas estratégias de inovação, precisam sobretudo conhecer seu ambiente competitivo e sua potencialidade perante o mercado consumidor. Estratégia de finanças Os autores em destaque neste capítulo, como Oliveira (2015), Müller (2014), entre outros, salientam que os cuidados com a previsãoe o planejamento fi nanceiros, assim como a avaliação de propostas de investimentos e o controle dos custos fi nanceiros, devem ser constantes. Na formulação dessa estraté- gia, analisa-se o impacto potencial dos lucros entre as diversas alternativas. Dentre suas características e seus riscos, destacam-se os seguintes aspectos da estratégia fi nanceira: deve garantir o financiamento para os investimentos; deve controlar todos os recursos financeiros; os gestores precisam avaliar o impacto das estratégias escolhidas sobre os lucros; atrasos no suprimento de recursos podem comprometer a estratégia; erros nos planejamentos podem, também, provocar impactos não previstos. Diante do exposto, nota-se o quanto é importante acompanhar e rever cons- tantemente o planejamento estratégico financeiro, para fortalecer a estratégia de atuação da empresa nessa área. 17Estratégias corporativa, competitiva e funcional Estratégia de marketing Kotler e Armstrong (2015) salientam o quanto a estratégia de marketing ajuda na determinação dos mercados apropriados para as ofertas da empresa e no desenvolvimento do mix de marketing. Como características e riscos da estratégia de marketing, os autores destacam: ocupa-se, em desenvolver os quatro elementos do mix de marketing (preço, produto, promoção, distribuição); o custo pode ser elevado; pode ser deturpada pelas funções da propaganda. É notório o quanto as estratégias de marketing precisam ser assertivas para manterem o cliente motivado e interessado em efetuar a compra. Por isso, o monitoramento dos efeitos da aplicação do marketing na empresa precisa ser feito constantemente, para o alinhamento com o planejamento estratégico. Estratégias de recursos humanos Oliveira (2015) e Maximiano (2014) afi rmam que a função do departamento de RH é a atração, avaliação, motivação e manutenção do número e do tipo de funcionários requeridos para conduzir o negócio. Além disso, o RH precisa planejar as ações positivas e avaliar a segurança do ambiente do trabalho. Os autores observam como requisitos das estratégias de RH os seguintes pontos, salientando que os riscos estão em justamente não se prever a efetivi- dade de tais ações e programas: levar em conta as pessoas e ter claramente definida a posição dos em- pregados como recursos; oferecer oportunidades de capacitação e progressão na carreira; vislumbrar programas de manutenção de empregados e de baixa rotatividade; estabelecer bons canais de comunicação interna; estabelecer o alto comprometimento da administração com as estra- tégias, os regulamentos e as leis, bem como o respeito aos sindicatos; estabelecer o encorajamento do pessoal em participar dos processos, inclusive fazendo proposições para mudanças no clima organizacional; Estratégias corporativa, competitiva e funcional18 prever investimentos em programas específicos (produtividade, pre- venção de acidentes, entre outros); evitar os riscos de se adotar políticas desatualizadas — que dificultem administrar em tempos difíceis —, inconsistentes ou que não evitem a alta rotatividade. No cenário mercadológico atual, é fundamental a retenção de talentos nas organizações, justamente para fortalecer as ações do planejamento estratégico, mantendo o forte comprometimento desses talentos para com a empresa. Planejamento estratégico e os três níveis estratégicos Diante do exposto neste capítulo, nota-se o quanto organizar o planejamento estratégico, contemplando os três níveis estratégicos (corporativo, competitivo e funcional), é imprescindível para o sucesso e o fortalecimento sustentável da organização. A Figura 4 destaca a interligação e a complementação entre os níveis estratégicos. Figura 4. Planejamento estratégico e sua relação com os três níveis estratégicos. Nesse sentido, o gestor, ao desenvolver o planejamento estratégico da empresa, precisa estar atento para que as estratégias se complementem e se encaminhem para um único objetivo, qual seja: atingir a meta da empresa. Oliveira (2015), Maximiano (2014) e Nogueira (2014) destacam que, apesar das diferenças existentes entre um processo de planejamento adequado a um negócio individual e outro direcionado para uma organização multinacional diversificada, existem propriedades comuns a ambos. Esses autores salientam que ambos os processos requerem um conhecimento profundo e comprome- tido da alta gestão da organização e exigem a participação e a contribuição 19Estratégias corporativa, competitiva e funcional individual dos níveis mais operacionais. Para tanto, surge a necessidade de se aproximar os objetivos desejados pelos diferentes níveis organizacionais, buscando-se resultados coerentes com cada um dos campos de ação. Diversos autores, destacando-se, entre eles, Oliveira (2015), Serra et al. (2013) e Nogueira (2014), tratam dos três níveis estratégicos, cujos conceitos podem ser resumidos da seguinte forma: Nível corporativo — apresentado como uma necessidade de direcionar o modo de compartilhar recursos da organização e formular estratégias de mercado. Nível competitivo — nesse nível, os gestores tratam as questões mais detalhadas pertinentes às opções estratégicas de segmentação de mer- cado dos produtos. Nível funcional — essas estratégias são concretizadas com base nas solici- tações decorrentes da implantação dos negócios da organização, bem como a partir de direções estratégicas legítimas que delimitam as características do segmento. Assim, o foco são os problemas específicos de cada uma das áreas funcionais: marketing, produção, finanças, P&D, RH, entre outras. Diante desse contexto, percebe-se que as estratégias (corporativas, com- petitivas e funcionais) interagem de forma complementar, ou seja, existem nas empresas como um todo. Assim, existe em todo e qualquer segmento a necessidade de se trabalhar com esses níveis. Estratégias corporativa, competitiva e funcional20 ALMEIDA, M. I. R. Manual de planejamento estratégico: desenvolvimento de um plano estratégico com a utilização de planilhas Excel. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2010. KOTLER, P.; ARMSTRONG, G. Princípios de marketing. 15. ed. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2015. MAXIMIANO, A. C. A. Fundamentos de administração: introdução à teoria geral e aos processos da administração. 3. ed. São Paulo: LTC, 2014. MÜLLER, C. J. Planejamento estratégico, indicadores e processos: uma integração neces- sária. São Paulo: Atlas, 2014. NOGUEIRA, C. S. Planejamento estratégico. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2014. OLIVEIRA, D. P. R. Planejamento estratégico: conceitos, metodologia e práticas. 33. ed. São Paulo: Atlas, 2015. PORTER, M. E. Estratégia competitiva: técnicas para análise de indústrias e da concor- rência. 2. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004. 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