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LETRAS/PORTUGUÊS 4º PERÍODO ENSINO DA GRAMÁTICA NA ESCOLA Ana Caroline Barreto Neves Érica Karine Ramos Queiroz Maria de Lourdes Guimarães de Carvalho Ramony Maria da Silva Reis Oliveira ENSINO DA GRAMÁTICA NA ESCOLA Ana Caroline Barreto Neves Érica Karine Ramos Queiroz Maria de Lourdes Guimarães de Carvalho Ramony Maria da Silva Reis Oliveira Montes Claros - MG, 2010 2010 Proibida a reprodução total ou parcial. Os infratores serão processados na forma da lei. EDITORA UNIMONTES Campus Universitário Professor Darcy Ribeiro s/n - Vila Mauricéia - Montes Claros (MG) Caixa Postal: 126 - CEP: 39041-089 Correio eletrônico: editora@unimontes.br - Telefone: (38) 3229-8214 REITOR Paulo César Gonçalves de Almeida VICE-REITOR João dos Reis Canela DIRETOR DE DOCUMENTAÇÃO E INFORMAÇÕES Giulliano Vieira Mota Andréia Santos Dias Bárbara Cardoso Albuquerque Clésio Robert Almeida Caldeira Débora Tôrres Corrêa Lafetá de Almeida Diego Wander Pereira Nobre Fernando Freire Madureira REVISÃO DE LÍNGUA PORTUGUESA Gisele Lopes Soares Carla Roselma Athayde Moraes Jéssica Luiza de Albuquerque Karina Carvalho de Almeida REVISÃO TÉCNICA Rogério Santos Brant Kátia Vanelli Leonardo Guedes Oliveira IMPRESSÃO, MONTAGEM E ACABAMENTO Gráfica Yago PROJETO GRÁFICO E CAPA Alcino Franco de Moura Júnior Andréia Santos Dias EDITORAÇÃO E PRODUÇÃO Alcino Franco de Moura Júnior - Coordenação CONSELHO EDITORIAL Maria Cleonice Souto de Freitas Rosivaldo Antônio Gonçalves Sílvio Fernando Guimarães de Carvalho Wanderlino Arruda Copyright ©: Universidade Estadual de Montes Claros Catalogação: Biblioteca Central Professor Antônio Jorge - Unimontes Ficha Catalográfica: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MONTES CLAROS - UNIMONTES Ministro da Educação Fernando Haddad Secretário de Educação a Distância Carlos Eduardo Bielschowsky Coordenador Geral da Universidade Aberta do Brasil Celso José da Costa Governador do Estado de Minas Gerais Antônio Augusto Junho Anastasia Secretário de Estado de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior Alberto Duque Portugal Reitor da Universidade Estadual de Montes Claros - Unimontes Paulo César Gonçalves de Almeida Vice-Reitor da Unimontes João dos Reis Canela Pró-Reitora de Ensino Maria Ivete Soares de Almeida Coordenadora da UAB/Unimontes Fábia Magali Santos Vieira Coordenadora Adjunta da UAB/Unimontes Betânia Maria Araújo Passos Diretor de Documentação e Informações Giulliano Vieira Mota Chefe do Departamento de Comunicação e Letras Coordenadora do Curso de Letras/Português a Distância Ana Cristina Santos Peixoto AUTORAS Ana Caroline Barreto Neves Mestranda em Literatura pela UFMG, Belo Horizonte - MG Especialista em Letras: Português e Literatura pelo Instituto Signorelli de Gestão Educacional. Graduada em Letras pela Universidade Federal de Minas Gerais, UFMG, Belo Horizonte - MG. Érica Karine Ramos Queiroz Doutora em Linguística (UNICAMP). Mestre em Linguística (UNICAMP). Especialista em Ensino de Língua Materna/Formação do Professor (UFV),Professora de Linguística, Linguística Aplicada, Sintaxe, Morfossintaxe e Prática de Formação do Departamento de Comunicação e Letras da Unimontes. Maria de Lourdes Guimarães de Carvalho Doutoranda em Linguística e Língua Portuguesa pelo Doutorado Interinstitucional PUC/UNIMONTES. Mestre em Letras: Estudos Linguísticos pela Universidade Federal de Minas Gerais, UFMG, Belo Horizonte, Ano de obtenção: 2000. Graduada em Letras pelas Faculdades Santo Tomás de Aquino de Uberaba - MG e em Pedagogia pela Universidade Estadual de Montes Claros - UNIMONTES – MG. Professora do Departamento de Comunicação e Letras da Universidade Estadual de Montes Claros. Ramony Maria da Silva Reis Oliveira Doutoranda em Linguística e Língua Portuguesa pelo Doutorado Interinstitucional PUC/UNIMONTES. Mestre em Educação pela Universidade de Itaúna, UIT, Itaúna, Ano de obtenção: 2009. Graduada em Pedagogia e em Letras Português e Inglês pela Universidade Estadual de Montes Claros - UNIMONTES – MG Professora do Departamento de Comunicação e Letras da Universidade Estadual de Montes Claros. SUMÁRIO DA DISCIPLINA Apresentação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 07 Unidade I: O ensino de gramática na escola: algumas perspectivas. . 11 1.1 Para que ensinar a gramática da língua materna? . . . . . . . . . 15 1.2 Concepções de linguagem . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17 1.3 Tipos de gramática e finalidades do ensino . . . . . . . . . . . . . . 18 1.4. Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21 Unidade II: Tipos de ensino de Língua e a realidade do ensino de gramática no Brasil . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22 2.1 Ensino prescritivo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22 2.2 Ensino produtivo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22 2.3 Ensino descritivo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23 2.4 A realidade do ensino de gramática no Brasil . . . . . . . . . . . . 26 2.5 Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31 Unidade III: Métodos e procedimentos didáticos para o ensino de gramática . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32 3.1 Importância do planejamento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32 3.2 O ensino da gramática e os documentos oficiais . . . . . . . . . . 34 3.3 Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 56 Unidade IV: Tópicos de aplicação do ensino de gramática.. . . . . . . . 58 4.1 A gramática nos livros didáticos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 59 4.2 Especificidades do Livro Didático de Português – LDP . . . . . 61 4.3 Possibilidades de ensino de gramática baseado nos PCNs . . . 68 4.4. Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 76 Resumo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 79 Referências básica e complementar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 85 Atividades de aprendizagem - AA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 59 APRESENTAÇÃO 07 Prezado (a) Acadêmico (a), Sabemos que a Língua Portuguesa é nossa língua natural e, portanto, a empregamos, sem maiores dificuldades, a partir do momento em que iniciamos nossoprocesso comunicacional. Como você pode observar nessa charge, o uso dos recursos gramaticais também é naturalmente feito, entretanto, cabe à escola sistematizar os conhecimentos, com vistas a contribuir para a formação de sujeitos de fala e de escrita, verdadeiramente conscientes, inseridos política e culturalmente na sociedade. Por assim ser, é que nós, as professoras conteudistas, Érica Karine Ramos Queiroz, Maria de Lourdes Guimarães de Carvalho, Ana Caroline Barreto Neves e Ramony Maria da Silva Reis Oliveira, apresentamos-lhes a disciplina Ensino de Gramática na Escola. Informamos que temos como propósito nesta escrita despertar o olhar para o ensino de gramática na escola, questão amplamente discutida por autores e professores, mas, ainda, com muitas lacunas na prática docente. Figura 1 Fonte: http://www.freewebs.com/cef02/CHARGE%201.bmp 08 Letras/Português Caderno Didático - 4º Período Para tanto, teceremos reflexões sobre o ensino de gramática na escola: métodos e procedimentos, sobre gramática tradicional x gramática contextualizada, abordaremos os princípios norteadores do ensino previstos nos documentos oficiais, visando explicitar problemas e possibilidades de ensino da língua materna. Para que você possa fixar o que aprendeu, o livro traz atividades abertas e exercícios, e também sugestões de leituras, as quais ilustram os debates e podem ajudá-lo a percebera aplicação dos conceitos aprendidos na prática. A discussao feita nesta disciplina se ancora, principalmente, nos seguintes autores: Travaglia (1996), Neves (1990), Possenti (1996), Bagno (2001) e os documentos oficiais de parametrização do ensino de Português nas escolas brasileiras: Parâmetros Curriculares Nacionais- PCN, Conteúdos básicos Comuns de Língua Portuguesa – CBC/LP. Nosso propósito é preparar para formar TODOS, sem a possibilidade, portanto, de exclusão de ALGUNS. Informações sobre a disciplina A disciplina “Ensino de Gramática na Escola” será ministrada no Curso de Letras - Português com uma carga horária de 90 horas. Ela está diretamente relacionada com as demais disciplinas do curso, principalmente, com Introdução à Leitura, Leitura e Produção de Textos e Didática. A grande especificidade dessa disciplina é que ela contribui para a formação de um profissional/docente da área de Letras que prioriza a reflexão crítica sobre o ensino de Língua Portuguesa nas escolas. Vale lembrar que “Ensino de Gramática na Escola” fundamentará a Prática de Ensino e o Estágio Supervisionado, disciplina/atividade que ocorrerá a partir do 5º período. Ementa De acordo com o Projeto Pedagógico do Curso de Letras Português será desenvolvida a ementa: Ensino de Gramática na escola: métodos e procedimentos. Gramática tradicional X Gramática contextualizada. Objetivos Geral: Proporcionar aos acadêmicos do Curso de Letras - Português uma visão teórica e prática sobre o ensino de gramática na escola. 09 Apresentação UAB/Unimontes Específicos: � Familiarizar-se com algumas perspectivas sobre o ensino de gramática na escola. � Entender as especificidades dos tipos de ensino de Língua e a realidade do ensino de gramática no Brasil. � Inteirar-se das propostas de ensino de Língua de Portuguesa, identificando o papel do professor e familiarizando-se métodos e procedi- mentos didáticos. � Analisar os princípios norteadores do planejamento e das ações de ensino presentes nos documentos oficiais que parametrizam o ensino de Língua Portuguesa nas escolas brasileiras e em livros didáticos dessa disciplina. � Analisar práticas de ensino de gramática na escola. Para o alcance desses objetivos a disciplina está organizada em quatro unidades: Unidade I: O ensino de gramática na escola: algumas perspectivas. Unidade II: Tipos de ensino de Língua e a realidade do ensino de gramática no Brasil. Unidade III: Métodos e procedimentos didáticos para o ensino de gramática. Unidade IV : Tópicos de aplicação do ensino de gramática. Cada uma das unidades está organizada de forma a facilitar os seus estudos e estruturada de acordo com as orientações de elaboração dos cadernos didáticos dos cursos da UAB: NOME DA UNIDADE seguido de sua APRESENTAÇÃO com especial ênfase para seus OBJETIVOS. Atente-se a esses objetivos e desenvolva os estudos com vistas a alcançá-los. Na sequên- cia, segue-se o desenvolvimento do conteúdo, subdividido em tópicos, de forma ilustrada, em linguagem clara e acessível. Alguns termos que possam dificultar a sua compreensão estão explicitados ao lado do texto na forma de GLOSSÁRIO. Você pode também recorrer a um dicionário caso seja necessário. Paralelamente, vão sendo inseridas ATIVIDADES a serem realizadas antes ou após a discussão do conteúdo. Algumas delas estão no próprio Caderno, outras pressupõem pesquisa no ambiente virtual, e/ou em equipes de estudo. Elas podem ser feitas individualmente ou em grupos e há algumas para as quais sugerimos, inclusive, o envolvimento de seus familiares. O importante é que você não deixe de fazê-las, pois elas, ora funcionam como levantamento do seu conhecimento prévio, ora como auto-avaliação para confirmação do seu entendimento e consequente alcance dos objetivos. 10 Letras/Português Caderno Didático - 4º Período As SUGESTÕES e DICAS PARA ESTUDOS e para PESQUISAS COMPLEMENTARES estão localizadas junto aos textos. Elas são oportunida- des para você se tornar um aprendiz autônomo, qualidade que hoje se faz cada vez mais necessária em todas as áreas. Após cada unidade estão as REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS e, ao final da disciplina, você encontrará um breve RESUMO com os principais pontos abordados. Lembre-se de que a realização das atividades avaliativas é obrigatória. Sucesso! 11 1UNIDADE 1O ENSINO DE GRAMÁTICA NA ESCOLA: ALGUMAS PERSPECTIVAS (...) a gramática é na verdade o estudo e o trabalho com a variedade dos recursos lingüísticos colocados à disposição do produtor e receptor de textos para a construção do sentido. Gramática é o estudo das condições lingüísticas da significação. (TRAVAGLIA, 1996, p. 235) Apresentação da unidade Para tecer a discussão das unidades I e II nos ancoramos, central- mente, no texto de Travaglia (1996) e de Possenti (1996) porque entende- mos que não podemos tratar do ensino de gramática sem recorrer a estes autores que abordam a questão de modo amplo e objetivo. Então, se vocês já conhecerem a proposta dos autores supracitados, não será inútil uma releitura porque a interpretação sempre pode ser outra, dado que a leitura sempre suscita novas reflexões. Objetivo � Discutir o ensino de gramática na escola, concepções de linguagem e tipos de ensino na língua. As pesquisas realizadas no Brasil, a partir dos anos 80, evidenciaram a necessidade de discutir, repensar questões sobre ensino-aprendizagem da língua portuguesa. A partir de então, o ensino de gramática normativa foi cada vez mais questionado, os profissionais ficavam muito confusos com as críticas de linguistas sobre a questão. Houve momentos em que os professo- res abandonaram completamente o ensino de gramática. Vale ressaltar que a linguística não propôs um abandono da gramática e, sim, um novo modo de (re) pensar a questão. Hoje, acreditamos que são menores as dúvidas sobre ensinar ou não gramáticas na escola. As perspectivas teóricas pressupõem que o aluno chega à escola com um conhecimento prévio da língua, pois já se comunica. Então, cabe à escola usar o saber do aluno aprimorar as capacidades linguísticas destes falantes. Porém, ainda é questionável o modo com que os conteúdos da língua padrão são ensinados. Figura 2: Capa de Livro Gramática e Interação: uma proposta para o ensino da gramática Fonte: http//:www.images.google.com DICAS Veja no site: ideb.Inep.gov.br a consolidação dos dados do IDEB: Índice de Desenvolvimento da Educação Básica. 12 Letras/Português Caderno Didático - 4º Período Nessa perspectiva, o ensino de gramática normativa (ou tradicio- nal), nas aulas de Língua Portuguesa, nas escolas do Brasil, é assunto polêmi- co que vai e volta em diferentes décadas, principalmente, depois dos anos 80. Fato é que a questão não é abordada com consenso entre os profissionais da área e, por isso, mais uma vez retomamos a controvérsia: deve-se ou não ensinar, na escola, a gramática da língua materna? Os professores não sabem o que fazer ao sentirem-se frustrados com o fracasso escolar, no que diz respeito ao desenvolvimento das compe- tências lingüísticas, responsabilidade imputada aos professores de língua portuguesa. Este fato é comprovado quando observamos os baixos resulta- dos de provas como ENEM, ENADE, Prova Brasil, SAEB, etc, ano após ano. Também é o que o IDEB registra (http://portal.mec.gov.br). Isso se deve a muitos fatores, sendo um o que se segue: enquanto professores de Português, afastamos os nossos alunos da linguagem real, ou da linguagem do uso, ao utilizarmos práticas equivocadas, artificiais, no ensino de gramática, leitura e interpretação. Especificamente, é preciso saber que gramáticas existem não para ensinar línguas e sim para explicar línguas. Se fosse para ensinar, pais e mães teriam que dar aulas de gramática a seus filhos de colo, afirma (POSSENTI, 2007). Mas, o que vemos nas práticas docentes é quea gramática normativa é utilizada para ensinar línguas e isso acarreta uma série de problemas, equívocos que discutiremos ao longo deste texto. Figura 3: Quadro comparativo Fonte: http://mmaialds.blogspot.com/2009/08/outra-lingua-por-marcio-maia.html Leia o livro de POSSENTI, Sírio. Por que (não) ensinar gramática na escola. Campinas, SP, Mercado de Letras, 1996. Qualquer profissional que trabalha com o ensino de língua portuguesa tem, neste livro, uma referência segura para (re)definir sua prática docente. DICAS No famoso e polêmico artigo “Por que (não) ensinar gramática na escola”, POSSENTI (1996) apresenta uma proposta de mudança radical para o ensino de Língua Portuguesa e argumenta que não adianta mudar os programas de ensino, se não houver mudanças nas escolas e nos professores. Para este autor, ensinar língua e ensinar gramática são coisas diferentes, por isso propõe o ensino da língua atual, usual e não de regras gramaticais descontextualizadas. Tal como a charge a seguir demonstra: Nesse sentido, (ibid, p.53- 54) afirma que “o domínio competente da língua não requer o ensino de seus termos técnicos”. E, para tanto, o autor acima propõe metodologias de ensino tais como: � valorização da leitura e da escrita; � mudança do padrão de língua a ser seguido, isto é, trocar a Literatura Antiga que é o modelo, pela linguagem jornalística ou dos textos científicos, tendo em vista que esses apresentam uma linguagem muito mais próxima do que falamos atualmente; � uma nova visão acerca do que o educador deve considerar como erros de escrita, ressaltando que existem muito mais acertos do que erros, pois mesmo os erros são regulares uma vez que há quem diga “os livro”, “os boi”, “os amigo” e aqui não estamos diante de três erros, mas apenas um (regra de concordância). Não ouvimos os livros, os bois, os amigos. Então, vejam que mesmo os erros são regulares, isto é, obedecem a 13 Ensino da Gramática na Escola UAB/Unimontes Figura 4: Sírio Possenti Fonte: ciberduvidas.com Figura 5: Aula de gramática - Humor Fonte: http://risosponto.blogspot.com/2009/05/vicios-linguisticos.html 14 Letras/Português Caderno Didático - 4º Período uma lógica morfossintática própria; � ensinar o que os alunos não sabem, ou quando eles erram. Nesta perspectiva, (Ibid) acredita que o domínio efetivo e ativo de uma língua dispensa o domínio de uma metalinguagem técnica. O que está em diálogo com a proposta logo acima; � as aulas de gramática sejam abolidas, ou, pelo menos, abolidas nas séries iniciais. Sobre a proposta acima, vale retomar Ilari (1997, p 3) quando esclarece que Possenti não propõe, o abandono da língua padrão pela escola o que seria sociolinguisticamente absurdo e politicamente reacionário porque, desde que os lingüistas começaram a criticar o ensino puramente gramatical, muita gente sinceramente interessada num ensino de boa qualidade (pais, professores e autoridades educacionais) entendeu que estava sendo preconizado o abandono da língua padrão na escola, e que havia começado uma espécie de "vale tudo". Muitos professores de escola média, por desinformação, acusam a lingüística de ter instaurado o caos no ensino de português, ao declarar equivalentes as variedades não-padrão e a variedade culta. Os linguistas nunca preconizaram a substituição do português padrão por qualquer forma de português não-padrão como língua-alvo da escola: defenderam, o que é muito diferente. 1) que as variedades não-padrão são línguas de pleno direito, no plano estrutural e até mesmo estético (afinal, há literaturas populares que se exprimem em português não-padrão); 2) que as variedades não-padrão podem ser utilizadas como um fator positivo no ensino, e até por esse motivo devem ser tratadas com respeito e 3) que a representação do português padrão que se pode retirar das gramáticas normativas é extremamente pobre. A língua portuguesa não é o que está nas gramáticas normativas, e isso permite ao professor Possenti defender, sem contradição, que a escola deve ensiná-la sem ensinar gramática, ou sem ensinar principalmente gramática. Enfim, na primeira parte do livro o autor faz uma reflexão que ora nomeia opções com que se defronta o professor de língua portuguesa, ora denuncia os preconceitos existentes sobre o ensino de língua portuguesa, sobre a gramática e sobre o professor. Ainda, Travaglia (1996) diz que a gramática não é desnecessária, mas também não deve ser o foco primeiro das aulas de português, uma vez que é mais importante que os falantes saibam usar a língua, de modo adequado, nas diversas situações de interação comunicativa. Nessa perspectiva, educadores ainda questionam se devem, ou como devem ensinar gramática. Para encontrar a resposta para tal questão, o professor deve ter embasamento teórico, deve evitar modismos linguísticos e práticas pedagógicas equivocadas. Pois, como bem coloca (Ibid), não há 15 Ensino da Gramática na Escola UAB/Unimontes como propiciar um bom ensino sem conhecimento do objeto de análise, no caso aqui em discussão, a Língua Portuguesa e suas regras gramaticais. Acreditamos que muitos de vocês já se questionaram sobre para quê e porque estudar gramática da língua materna se já falam este idioma. Ou, lá nas séries iniciais, vocês observaram que, na maioria das vezes, a língua que estudavam na escola era diferente da que usavam no seu cotidiano, embora o idioma seja o mesmo. Essas indagações derivam, muitas vezes, de uma visão reducionista, inocente do que seja ensino de gramática. Visto isso, a seguir iniciamos a discussão dessa disciplina com a seguinte questão: Para que ensinar a gramática da língua materna. 1.1 PARA QUE ENSINAR A GRAMÁTICA DA LÍNGUA MATERNA? Travaglia (1996, p. 17-20) responde a questão através de quatro respostas: A primeira é que o ensino da língua materna justifica-se pela necessidade de desenvolver a competência comunicativa. Sendo esta a capacidade de o falante usar a língua, de modo adequado, nas diversas práticas sociais. A competência comunicativa implica duas outras: a gramática (linguística) e a textual. A competência gramatical é a capacidade que todo falante de uma língua tem de criar um número infinito de frases gramaticais a partir de um número finito de regras. É o que alguns autores definiram como criatividade linguística. Essas frases são consideradas gramaticais porque qualquer falante da língua irá considerá-las como sendo típicas, próprias do uso. A competência textual é a capacidade que todo falante da mesma língua tem de produzir e compreender textos bem formados. E o que é um texto bem formado? Autores como: Koch (1989), Costa Val (1991) definem um texto bem formado como aquele que atende a fatores de textualidade tais como: coerência; coesão; intencionalidade; aceitabilidade; situacionalidade e informatividade. Charolles (1979, apud Travaglia, 1996) afirma que um texto bem formado vale-se de capacidades textuais básicas: � Capacidade formativa: permite ao falante de uma língua avaliar a formação de um texto, ou seja, permite ao falante avaliar se uma sequência linguística é ou não um texto. � Capacidade transformativa: possibilita ao falante de uma língua reformular, reproduzir, resumir, resenhar um texto para diferentes finalidades. � Capacidade Qualificativa: permite distinguir as tipologias de um texto, por exemplo, se um texto é uma narração, dissertação, descrição, sermão, ata, etc. Enfim, a partir das colocações acima, Travaglia (1996) diz que, para Idioma: refere-se a um conjunto de palavras e expressões usadas por um povo, por uma nação. Interação linguísitca: é a comunicação. Isto é, as pessoas se comunicam quando há uma mútua compreensão entre os falantes. Enunciação: é uma unidade de base da língua, uma atividade social, ideológica e contextual. C F E A B G GLOSSÁRIO 16 Letras/PortuguêsCaderno Didático - 4º Período desenvolver a capacidade formativa, é preciso que o professor propicie o contato do aluno com variedade de situações comunicativas interativas através da interpretação e produção de textos em situações de enunciação reais. A este propósito os PCNs propõem um trabalho docente com gêneros e tipos variados de textos. Uma das explicações para o para o fracasso no aprendizado da língua portuguesa é a falta de leitura e da atividade de escrita ao longo da vida escolar. Tendo em vista isso, aqui retomamos, rapidamente, Bakhtin quando propõe compreender a língua como uma atividade social (e não individual) em que sua existência se justifica pelas necessidades da comuni- cação. Para essa concepção, o importante é compreender a língua como enunciação, ou seja, como uma unidade de base da língua, uma atividade social, ideológica e contextual. Então, para Baktin (1986), a língua é dialógo. é interação social. Sendo assim, a língua é essencialmente dialógica. Esta concepção de língua justifica, reforça, a necessidade de ensinar gramática a partir de textos reais, isto é, de situções comunicativas de interação. Possenti (1996) afirma que ler e escrever não são tarefas extras pedidas como lição de casa, mas atividades essenciais ao ensino da língua portuguesa. Portanto, seu lugar privilegiado, embora exclusivo, é a própria sala de aula. Nesse sentido, é que interpretamos a imagem a seguir: Figura 6: Texto infantil Fonte: http://bancodeatividades.blogspot.com/2009_09_13_archive.html 17 Ensino da Gramática na Escola UAB/Unimontes Vejam que a importância do ensino de língua a partir de textos explicita a necessidade do conhecimento de teorias que tratam o texto como unidade de interação comunicativa. Nesta perspectiva, ainda, de acordo com Travaglia (1996, p.19), o segundo objetivo do ensino de Português é: 1. Levar o aluno a dominar a norma culta. 2. Ensinar a variedade escrita da língua. Os objetivos acima pressupõem que, quando o aluno vai para a escola, domina a variedade coloquial. Estas também são as justificativas, frequentes, de professores para ensinar a gramática normativa. O problema é que estes não são os únicos e nem os mais importantes objetivos do ensino de Português e sim alguns. Ainda, não é uma questão de rotular o grau de importância, pois, como veremos, o ensino de Português se justifica por quatro respostas e não somente pela segunda resposta. Na terceira resposta Travaglia (Ibid, p. 20) diz que “um dos objetivos do ensino de língua materna é levar o aluno ao conhecimento da instituição linguística, da instituição social que a língua é”. Ou seja, é necessário permitir que o educando compreenda o estudo de metalinguagem como meio para o conhecimento da estrutura e do funcionamento da língua. A última resposta propõe ensinar o aluno a pensar de modo científico, o que pressupõe o desenvolvimento das habilidades de observa- ção e argumentação da linguagem. A partir das razões para ensinar gramática, explicitadas acima, retomaremos Ilari (1997) quando diz que o domínio da língua e o domínio da gramática são coisas diferentes. Segundo este autor (Ibid), o domínio de uma língua excede o domínio de qualquer das terminologias hoje disponíve- is para sua descrição (a gramática normativa é, entre outras coisas, uma grande grade terminológica). Isso quer dizer que dominar a língua é algo muito mais complexo do que o domínio da gramática porque exige desen- volvimento das habilidades linguísticas. E o desenvolvimento destas habilidades, nas aulas de português, está atrelado às concepções de lingua- gem que o professor domina e que interferem em sua metodologia de ensino como veremos a seguir. 1. 2 CONCEPÇÕES DE LINGUAGEM Para atingir os objetivos do ensino de Português acima, é preciso apresentar e acolher uma ou algumas concepções de linguagem. Em outras palavras, é o modo como o educador compreende a língua e a linguagem que define a sua prática de ensino de gramática. Travaglia (Ibid, 21-23) apresenta três possibilidades de compreen- der a linguagem: Metalinguagem: refere-se a qualquer linguagem usada para descrever uma linguagem em si mesma, por exemplo, uma descrição gramatical, ou um discussão sobre o uso de uma linguagem. Diferença entre língua e linguagem: a linguagem está relacionada com a capacidade de comunicar. Já a língua, ou idioma, refere-se a um conjunto de palavras e expressões usadas por um povo, por uma nação, é munido de regras próprias, de sua. Também, a linguagem é uma função cerebral que permite ao ser humano adquirir e utilizar uma língua particular. C F E A B G GLOSSÁRIO 18 Letras/Português Caderno Didático - 4º Período 1. A linguagem como expressão do pensamento de modo que a linguagem é construída na mente e a fala ou escrita é a sua tradução. Nessa perspectiva, as pessoas que não se expressam bem é porque não pensam. Ainda, expressar bem está relacionado com adequação às regras da linguagem (prescritas na gramatica tradicional) que devem ser seguidas para a adequação lógica do pensamento e da linguagem. 2. A linguagem como instrumento de comunicação, ou seja, como fonte para transmitir uma mensagem. É um fato social e convencional, compartilhado pelos interlocutores. Essa definição é adotada pelos estruturalistas e pelos gerativistas. 3. A linguagem constitui um processo de interação humana, comunicativa. Nessa perspectiva, a linguagem, além de expressar os pensamentos ou transmitir informa- ções, também age, atua sobre o ouvinte/leitor, levando em consideração o contexto sócio-histórico e ideológico. Sendo assim, o que caracteriza a linguagem é a sua propriedade dialógica. Enfim, vejam que as definições de linguagem apresentadas acima apresentam diferentes tipos de ensino que retomaremos na Unidade II, mas para tratar desta questão antes precisamos definir alguns tipos de gramática. 1.3 TIPOS DE GRAMÁTICA A seguir apresentamos, a partir das definições propostas por Travaglia (1996), os tipos de gramática mais conhecidos ou que interferem de modo direto no ensino com o objetivo de explicitar que cada prática de ensino de linguagem está vinculada a um tipo e a uma concepção de linguagem. 1.3.1 Gramática normativa A primeira concepção de gramática, a gramática normativa, tem como objetivo prescrever normas ou ditar regras de correção para o “bom” uso da língua. Tem uma preocupação de não deixar a língua ser “corrompi- da”pela não adequação às normas ditas na gramática tradicional. Segundo Travaglia (1996), essa gramática é um manual de regras que devem ser seguidas para o bem falar. Este tem como modelo o uso consagrado pelos bons escritores e, portanto, ignora as características da língua oral. Nesse sentido, a língua é a variedade culta de modo que todas as outras formas de uso da língua são desvios, erros, degenerações e, por isso, a variedade culta deve ser seguida. 19 Ensino da Gramática na Escola UAB/Unimontes 1.3.2 Gramática descritiva A segunda concepção de gramática, a gramática descritiva, faz uma descrição da estrutura e do funcionamento da língua em uso, separan- do o que é gramatical do que não é. (Ibid, p. 27) diz que o critério para o estudo da língua nessa concepção gramatical é linguístico e objetivo, já que “não se diz que não pertecem à língua formas e usos presentes no dizer dos usuários da língua e aceitas por estes como próprias da língua que estão usando” . 1.3.3 Gramática internalizada A terceira concepção de gramática é chamada de gramática internalizada porque o “saber gramatical” não depende da escolarização, mas da ativação e do amadurecimento dos princípios da linguagem e de suas regras. Então, essa perspectiva, a gramática é um conjunto de regras que o falante de fato aprendeu e a língua é “um conjunto de variedades usadas pela sociedade de acordo com o exigido pela situação de interaçãocomuni- cativa em que o usuário está engajado”. Ressaltamos que essa concepção não considera o erro linguístico e sim a inadequação da variedade linguística usada em uma determinada situação comunicativa porque não houve um atendimento das normas sociais de uso da língua. Além dos três tipos de gramática citados acima, gramática normati- va, descritiva e internalizada, Travaglia (1996, p. 30-37) fala de outros tipos que citaremos a seguir, de acordo com o que este autor apresenta. 1.3.4 A gramática implícita A gramática implícita é a gramática internalizada. O falante não tem consciência dela, apesar de ela estar na sua mente. Esse tipo de gramáti- ca. Esse tipo de gramática, por permitir usar a língua automaticamente, é chamada no contexto escolar de gramática de uso. 1.3.5 Gramática explícita ou teórica A gramática explícita ou teórica é uma explicitação do mecanismo linguístico (regras e princípios que regem a estruturação da língua) domina- do pelo falante e que lhe possibilita usar a língua. É usada pelos estudiosos, de modo metalinguístico, para explicar a estrutura, a constituição e funcio- namento da língua. 20 Letras/Português Caderno Didático - 4º Período 1.3.6 Gramática histórica Gramática histórica é aquela que estuda a evolução de um idioma, preocupando-se com a origem e a evolução de uma língua até o momento atual. Na gramática normativa, observamos a contribuição da gramática histórica quando apresenta a origem do Português no Latim vulgar, a evolução dos elementos fonológicos, morfológicos e sintáticos e sobre a formação do vocabulário. Vejam que há muitos tipos de gramática, os mais conhecidos são a gramática normativa e a gramática internalizada. Mas os outros tipos (alguns não foram citados acima para evitar repetição de conteúdo) também apresentam contribuições importantes para uma discussão sobre o ensino de gramática. Ilari (1997) ao apresentar o texto de Possenti (1996), retoma este autor quando trata sobre tipos de gramática opondo em primeiro lugar uma concepção descritiva à concepção normativa. Para Possenti (1996), a gramática normativa se caracteriza por objetivar uma língua ideal que consiste em um conjunto de normas que dizem como a língua deve(ria) ser. A concepção descritiva de gramática consiste em descrever a língua tal como ela é, apresentando as estruturas que os falantes de uma determina- da língua têm à sua disposição, sem atribuir valor positivo ou negativo à escolha entre essas formas. Uma terceira concepção é a gramática internalizada, segundo a qual todo falante de uma língua, durante a fase de aquisição, "internaliza" princípios e regras que lhe permitem produzir enunciados que serão reconhe- cidos como bem formados pelos demais falantes de sua comunidade. Logo, diferentes conceitos de regra, erro e língua são compatíveis com uma dessas concepções de gramática. Possenti ainda afirma que a gramática mais rica de todas é a gramática internalizada. Visto isso, o autor afirma que é responsabilidade do professor de língua portuguesa proporcio- nar ao aluno dados novos que serão internalizados ao fecharem o livro e trabalhar com fatos de linguagem reais, isto é, usados pelos alunos. 21 Ensino da Gramática na Escola UAB/Unimontes REFERÊNCIAS POSSENTI, Sírio. Por que (não) ensinar gramática na escola. Campinas, SP, Mercado de Letras, 1996. TRAVAGLIA, L. Carlos. Gramática e interação: uma proposta para o ensino de gramáticas. São Paulo: Cortez, 1996. BAKHTIN. M.; Voloshinov, V. N. Marxismo e filosofia da Linguagem. São Paulo, Hucitec, 1986. COSTA VAL, Maria da Graça. Redação e textualidade. 19o ed. São Paulo: Martins Fontes, 1991. ILARI, Rodolfo. Resenha: Por que (não) ensinar gramática na escola. In: Educação & Sociedade. Vol.18, nº. 60, Campinas, Dez, 1997. Disponível em http://www.scielo.br/scielo.php. Acesso em 20 de janeiro de 2010. KOCH, Ingedore Grunfeld Villaça. A coesão textual. 7a ed. São Paulo: Contexto, 1997. NEVES, Maria Helena de Moura. Gramática na escola. São Paulo: Contexto, 1990. POSSENTI, S í r io. Ler Gramáticas , 2007. Disponível em http://terramagazine.terra.com.br/interna. Acesso em 21-01-2010. Disponível em http://portal.mec.gov.br. Acesso em 29-04-2010. 22 2UNIDADE 2TIPOS DE ENSINO DE LÍNGUA E A REALIDADE DO ENSINO DE GRAMÁTICA NO BRASIL O ensino de gramática constitui um dos mais fortes pilares das aulas de português e chega a ser, em alguns casos, a preocupação quase exclusiva dessas aulas. Nas últimas duas décadas, entretanto, vem se firmando um movimento de revisão crítica dessa prática, ou seja, vem-se questionando a validade desse “modelo” de ensino, o que faz emergir a proposta da prática de análise linguística (AL) ao invés de aulas de português. (MENDONÇA, 2000, p. 11) Apresentação da unidade Depois de apresentar alguns motivos para o ensino de língua materna para falantes da língua em questão, algumas concepções de linguagem e tipos de gramática, nesta unidade, temos como objetivos: abordar o ensino de gramática de modo direto ao apresentar alguns tipos e finalidades do ensino e apresentar algumas questões relativas ao ensino de gramática no Brasil. 2.1 ENSINO PRESCRITIVO A prática de ensino que desconsidera a modalidade falada pelo aluno e visa substituí-la pelos modelos nomeados de “corretos” e impostos pela gramática normativa é chamado de prescritivo. Vejam que este é um tipo de ensino que interfere nas habilidades linguísticas do falante, pois o “faça isto” equivale ao “não faça aquilo”. Logo, o ensino prescritivo está relacionado à primeira concepção de linguagem (linguagem como expres- são do pensamento) e só privilegia o padrão culto da língua visando à correção formal da linguagem (TRAVAGLIA, 1996, p. 38). 2.2 ENSINO PRODUTIVO Assim como o ensino descritivo, o ensino produtivo não objetiva alterar as habilidades linguísticas adquiridas pelo aluno, mas sim explicitar novas habilidades, novos recursos de linguagem de modo que o falante tenha ao seu dispor um leque maior de possibilidades linguageiras e assim possa adequá-las às diversas situações de interação comunicativas. Vale ressaltar que este tipo de ensino é o mais adequado para realização do primeiro objetivo de ensinar gramática para falantes de língua materna: desenvolver a competência comunicativa, esta é a capacidade de o falante usar a língua, de modo adequado, nas diversas situações de interação comunicativa. Ou seja, o ensino produtivo objetiva desenvolver 23 Ensino da Gramática na Escola UAB/Unimontes novas habilidades linguísticas e o desenvolvimento da competência comunicativa objetiva a aquisição de novas habilidades de uso da língua. 2.3 ENSINO DESCRITIVO O ensino descritivo não objetiva alterar, substituir as habilidades linguísticas já adquiridas e sim mostrar como a linguagem funciona e como pode ser utilizada. Neste tipo de ensino o professor objetiva: � proporcionar ao aluno o conhecimento da estrutura, do funcionamento, da forma e da função da língua; � proporcionar o desenvolvimento pensamento, do raciocínio, da capacidade de análise sistemática dos fatos sociais e fenômenos da natureza. O ensino descritivo, diferente do prescritivo, leva em consideração todos os tipos de variedades linguísticas que são as variações que uma língua sofre a partir de condições sociais, culturais, regionais e históricas em que é utilizada. Aqui, cabe falar um pouco sobre o conceito variação linguística porque está, intimamente, relacionado ao modo como se compreende o ensino de gramática na escola e qual abordagem é mais adequada. A língua evolui tanto quanto a humanidade evolui e, sendo assim, a língua está sujeita às transformações, no tempo e no espaço. Segundo Bagno (2001), existem quatro modalidades que explicam as variantes linguísticas: 1.variação histórica (palavras e expressões que caíram em desuso com o passar do tempo); 2.variaçãogeográfica (diferenças de vocabulário, pronúncia de sons e construções sintáticas em regiões falantes do mesmo idioma); 3.variação social (a capacidade linguística do falante provém do meio em que vive, sua classe social, faixa etária, sexo e grau de escolaridade); 4.variação estilística (cada indivíduo possui uma forma e estilo de falar próprio, adequando-o de acordo com a situação em que se encontra). Vejam que as variantes supracitadas explicam as variações linguísti- cas. Sabe-se que o fato de utilizar essas variações não deve ser motivo de preconceito em nossa sociedade. Cabe, contudo, ao professor de Língua Portuguesa proporcionar atividades de pesquisa para que seus alunos conheçam as variedades e entrem em contato com a norma padrão. Como afirmamos anteriormente, o ensino de gramática (regras) não é o objetivo primeiro das aulas de Português e sim é consequência do desenvolvimento das habildiades comunicativas. E o professor não pode dispensar a compreensão de língua da sociolinguística variacionista. Os pressupostos teóricos desta disciplina já foram vistos por vocês na disciplina: Linguística Geral e, para recordar, retomamos algumas colocações de Bagno (autor conhecido de vocês). 24 Letras/Português Caderno Didático - 4º Período “A Sociolingüística tem por objeto de estudo os padrões de comportamento lingüístico observáveis dentro de uma comunidade de fala e os formaliza analiticamente através de um sistema heterogêneo, constituído por unidades e regras variáveis. Esse modelo visa a respon- der a questão central da mudança lingüística a partir de dois princípios teóricos fundamentais: (i) o sistema lingüístico que serve a uma comunidade heterogênea e plural deve ser também heterogêneo e plural para desempenhar plenamente as suas funções; rompendo-se assim a tradicional identificação entre funcionalidade e homogeneida- de; (ii) os processos de mudança que se verificam em uma comunidade de fala se atualizam na variação observada em cada momento nos padrões de comportamento lingüístico observados nessa comunidade, sendo que, se a mudança implica necessariamente variação, a variação não implica necessariamente mudança em curso”. (DANTE e ARAÚJO) Disponível em http://www.vertentes.ufba.br/socio.htm Acesso em 05 de fev de 2010. Para Bagno (2001) preconceito linguísticoé atitude que discrimina uma pessoa devido ao seu modo de falar. Este preconceito é exercido por aqueles que tiveram acesso à educação de qualidade, à “norma padrão de prestígio”, que ocupam as classes sociais dominantes e acreditam que o falar daqueles sem instrução formal e comk pouca escolarização é “feio” ou ”errado”. O preconceito linguístico pode ser visto como preconceito “social”, pois não é o modo de falar que sofre preconceito e sim a identidade social e individual do falante. Nessa perspectiva, a norma culta, ditada pela gramática tradicional, caracteriza o português correto e tudo o que foge à norma é considerado errado. E Bagno (Ibid) chama atenção para o fato de que não existe portu- guês certo ou errado, mas modalidades de prestígio ou desprestígio que correspondem ao meio e ao falante, pois o papel fundamental de uma língua é o de permitir a interação verbal entre as pessoas, isto é, a comunicação. Certamente, vocês acadêmicos do curso de Letras, enquanto alunos, já ouviram o professor falar que uma determinada construção linguística estava errada ou, enquanto professores, alguns reproduzem esta afirmação durante a correção de produção de seus alunos ou durante a correção de exercícios de classificação gramatical. E o que aqui está em discussão é que não existe certo e errado e sim adequado ou inadequado para determinada situação comunicativa (contexto linguístico). Reflita sobre Variação Linguística e o conceito de certo e errado x adequado e inadequado presente na charge abaixo. Discuta suas conclusões com o tutor presencial. ATIVIDADES 25 Ensino da Gramática na Escola UAB/Unimontes Figura 7: Cerrado em Quadrinhos Fonte: http://www.universohq.com/quadrinhos/2009/imagens/cerrado.jpg O professor deve ter em mente que ao ingressar na escola, toda criança já se comunica, já domina uma modalidade de linguagem própria do meio social onde desenvolveu a comunicação. Sendo assim, o modo de falar que cada um traz, não deve se abandonado com a justificativa de que domina o padrão informal da língua e que a escola o ensinará a substituir este padrão pelo padrão formal, culto. Nesta perspectiva, o aluno perderá a sua identidade social e individual e não encontrará estímulo para frequentar as aulas de Português. O que o professor de língua materna deve deixar claro para o aluno é que a escola ensinará o padrão culto visando à promoção social, ao acesso aos instrumentos culturais de prestígio e que em cada situação de comunica- çao um nível de linguagem será adequado. Nesse sentido é que é importante conhecer todos os níveis e dominá-los. Gêneros textuais: são os textos produzidos, materializados encontrados em nosso cotidiano. Eles apresentam características sócio- comunicativas definidas por seu estilo, Função, composição, conteúdo e canal. Ex: Carta pessoal, comercial, bilhete, diário pessoal, agenda, anotações, romance, resenha, e-mail, fórum, aula expositiva, lista de compras, horóscopo, instruções de uso, etc. C F E A B G GLOSSÁRIO Para saber mais sobre os gêneros textuais leiam: DIONÍSIO, Ângela Paiva, MACHADO; Anna Rachel; BEZERRA, Maria Auxiliadora (Orgs.). Gêneros textuais & ensino. Rio de Janeiro: Lucerna, 2005. MARCUSHI, Luiz Antônio; XAVIER, Antônio Carlos (Orgs.). Hipertexto e gêneros digitais. Rio de Janeiro: Lucerna, 2004. DICAS 26 Letras/Português Caderno Didático - 4º Período 2.4 A REALIDADE DO ENSINO DE GRAMÁTICA NO BRASIL Quando questionamos sobre a realidade do ensino de gramática no Brasil, temos uma resposta pronta: é um fracasso. Precisamos refletir acerca desse fato. Por que é consenso que os alunos, normalmente, detestam as aulas de Português? Por que os resultados das provas que medem a qualida- de do ensino no Brasil evidenciam, sobretudo, notas baixas nas provas de língua portuguesa? Travaglia (1996), ao discutir sobre o assunto acima, coloca as seguintes questões: para que se ensina, o que se ensina e o como se ensina? Para responder o autor baseia-se no estudo de Neves (1990) e na sua experiência com o ensino de gramática. Travaglia (Ibid) logo informa que o ensino nas escolas do Brasil é, de modo geral, prescritivo, apegado a regras da gramática normativa. Diante disso, o desenvolvimento das habilidades de leitura e produção de texto é relegado a um segundo plano. Vocês já viram que, sendo o desenvolvimento das habilidades comunicativas o primeiro objetivo do ensino de Português para falantes desta língua, é uma incoerência priorizar o ensino de uma só modalidade da língua: a modalidade culta. Para ancorar sua pesquisa, Travaglia (Ibid, p. 102) retoma o estudo de Neves (1990) que explicita a realidade do ensino no Brasil. Vejam que esta pesquisa foi feita há 20 anos, mas ainda é muito atual e, para comprovar, basta observarmos a realidade mais próxima que nos circunda. Neves (Ibid) entrevista 170 professores do ensino básico e médio do Estado de São Paulo. A maioria destes professores entendia que o ensino de gramática serve para falar e escrever melhor, para aprovar candidatos em concurso, para o bom desempenho social e profissional, para cumprir o programa da escola e, consequentemente, levar os alunos a acertar os exercícios. Em resumo, vemos que o ensino de gramática significa algo inútil, ou que os professores não veem uma necessidade real para o ensino de gramática. Logo, o ensino de gramática permanece por comodismo, desconhecimento de alternativas de ensino, exigência do currículo, pais, sociedade, concursos (TRAVAGLIA, Ibid). A charge a seguirnos faz refletir sobre essa realidade. 27 Ensino da Gramática na Escola UAB/Unimontes Figura 8: Charge ilustrativa de regras de ortografia Fonte: http://ensinodeportuguesparasurdos.blogspot.com/ Em relação ao que é ensinado, Neves (Ibid, p. 103) informou que os exercícios de “classificação de classes de palavras e funções sintáticas correspondem a 70% (75,56%) das atividades de ensino de gramática”. Esses tópicos são repetidos anos após ano, até a conclusão do Ensino Médio e, por isso, os alunos não encontram sentido, motivação para as aulas de Português. Não há consenso quanto ao que ensinar. Há escolas que enfati- zam o ensino de tópicos gramaticais. Há professores que não ensinam gramática. Há outros que equilibram o ensino com tópicos de linguagem e outras atividades, que ensinam o uso de linguagem. Estas posições devem-se às: � Diferentes formações teóricas - ênfase estruturalista ou funcio- nalista - etc. � Orientações das secretarias e superintendências de ensino. � Orientações dos livros didáticos que, na maioria das vezes, aparecem como única fonte de consulta sobre a língua. portuguesa. Quanto ao como a gramática é ensinada, esta é uma questão polêmica e que será tratada aqui de acordo com o que explicita Travaglia (Ibid) a partir da pesquisa de Neves (1990). Sobre o como ensinar, Neves (Ibid) observou que mais de 50% dos professores retiram dos textos exem- plos para análise e 40% dizem partir da teoria para realização de exercícios gramaticais. Aqui, vale chamar atenção para o fato de que não é produtivo 28 Letras/Português Caderno Didático - 4º Período dissimular o ensino de regras gramaticais através de exemplos retirados de textos, mas sem relacioná-los com situações reais de uso da língua. O ensino de gramática através de exemplos contextualizados com as situações de comunicação torna as aulas de língua portuguesa significativas, atuais, não enfadonhas. Ao fazer uma observação geral sobre a questão, Neves (1990), Apud Travaglia (1996, p.105-106) afirma que os professores: a) “em geral acreditam que a função do ensino da gramática é levar a escrever melhor”; b) “foram despertados para uma crítica da gramática tradicional”; c) “têm procurado não dar aulas de gramática normativa”; d) “verificam que esta gramática não está servindo para nada”; e) “apesar disso, matem as aulas sistemáticas de gramática como um ritual imprescindível à legitimação de seu papel”. As colocações acima levam à conclusão de que os professores reconhecem os problemas básicos do fato de se gastar 80% do tempo das aulas com ensino de gramática, mas não conseguem ter uma prática produtiva, diferente. Talvez por falta de capacitação, conhecimento de alternativas de ensino ou dificuldade de mudar o seu papel diante do que a sociedade espera do professor de língua materna e, consequentemente, da necessidade desse profissional de assegurar o seu lugar de poder (domínio da língua culta). Possenti (1996) também faz uma afirmação referente à realidade do ensino de gramática no Brasil. Este autor chama a atenção para o fato de que crianças e adultos “normais” utilizam diferentes códigos e variedades da língua e, portanto, parece impossível que alunos “normais” não consigam alcançar um bom domínio da modalidade culta, após muitos anos de escolarização. A conclusão à qual Possenti (ibid) chega sobre esse fato é de que as potencialidades dos educandos não são exploradas de modo adequado. Vejam que é a você, estudante do curso de Letras e futuro professor, que cabe a responsabilidade de criar uma escola em que esse aprendizado possa ocorrer de maneira espontânea, real. Assim, permitirá um ensino de língua mais eficaz e democrático. Para tanto, é necessário que o professor se liberte de preconceitos linguísticos, difundidos socialmente tais como: o português é difícil, não é para todos; o uso de uma variedade não-padrão corresponde automaticamente a uma limitação mental, ensinar português é ensinar regra gramatical. (ILARI, 1997). 29 Ensino da Gramática na Escola UAB/Unimontes Figura 9: Charge ilustrativa de ensino de verbos Fonte: http://umcadimditudu.blogspot.com/2007/12/aulas-de-portugues Ainda, Ilari (Ibid, p. 5) diz que Possenti (1996), [...] lembra que a indefectível cobrança de conhecimentos inúteis de nomenclatura e ortografia que assola as provas de concurso como uma verdadeira praga nacional parte, afinal, dos elaboradores dessas provas, que são, normalmente, professores de português, bem intencionados. Por fim, para proporcionar aos seus alunos práticas pedagógicas efetivamente enriquecedoras, o professor deve perguntar o que os alunos já sabem, planejando seu ensino em função desse conhecimento, mas não é isso que acontece normalmente: o ensino de língua materna, tal como vem sendo praticado, mostra, ao contrário, que se gasta um tempo enorme etiquetando fora de contexto coisas que o aluno já domina (pense no tempo gasto com assuntos não problemáticos como o gênero e o número dos substantivos), em prejuízo de atividades mais provocativas como ler, expor e descobrir a variabilidade da língua a partir das amostras disponíveis em classe. Por fim, Ilari (Ibid, p.3), ao resenhar o livro de Possenti (ibid), diz que, [...] a questão não é mais decidir pela gramática normativa ou contra ela, mas sim criar condições para que a espontane- idade com que os alunos fazem da linguagem uma parte de suas vidas, sua assombrosa capacidade de intuir as estruturas e de atualizá-la num desempenho gramaticalmente correto 30 Letras/Português Caderno Didático - 4º Período na variedade que praticam, o natural desembaraço com que circulam entre diferentes níveis e registros sem confundi-los, não sejam sacrificados a qualquer rotina de ensinar que tenha como único argumento a inércia do sistema escolar. Diante da citação acima, vimos que o papel da escola e do professor é complexo e que as mudanças na prática de ensino de português, depen- dem não mais de teorias que deem o suporte teórico, didático- metodológico e sim de mudanças entre os sujeitos do contexto escolar e da sociedade. É nesse sentido que a ilustração abaixo dialoga com as coloca- ções acima. Por fim, na unidade IV, veremos algumas propostas de ensino de gramática que dialogam com as questões críticas, feitas até então. Figura 10: Movimento escola comunidade Fonte: http://educacaodialogica.blodspot.com/2008 31 Ensino da Gramática na Escola UAB/Unimontes REFERÊNCIAS MENDONÇA, Márcia. Análise linguística no ensino médio: um novo olhar, um outro objeto. In: BUNZEN, Clecio; MENDONÇA, Márcia (orgs.). Português no ensino médio e formação do professor. São Paulo, 2006. POSSENTI, Sírio. Por que (não) ensinar gramática na escola. Campinas, SP, Mercado deLetras, 1996. TRAVAGLIA, L. Carlos. Gramática e interação: uma proposta para o ensino de gramáticas. São Paulo: Cortez, 1996. BAGNO, Marcos. Preconceito linguístico. São Paulo: Edições Loyola, 2001. FÁVERO, Leonor Lopes. Coesão e coerência Textuais. São Paulo. Editora Ática, 2003. KOCH. I.G. V. A coesão textual. São Paulo; Contexto, 1992. ____ & TRAVAGLIA, L.C. Texto e coerência. São Paulo, Cortez, 1989. ____. A coerência Textual. São Paulo, Contexto, 1990. NEVES, Maria Helena de Moura. Gramática na escola. São Paulo: Contexto, 1990. 32 3UNIDADE 3MÉTODOS E PROCEDIMENTOS DIDÁTICOS PARA O ENSINO DE GRAMÁTICA. O modo como representamos e concebemos a linguagem, o que consideramos “domínio das linguagens e suas tecnologias”, os motivos que orientam esse domínio trazem implícitos nossos horizontes filosóficos e éticos, políticos e sociais, culturais e estéticos. Torna-se, pois, essencial explicitar nossa compreensão do que seja linguagem e de seu lugar na vida humana e, conseqüentemente, o sentido do ensino da disciplina. (CBC/LP, 2007, p.11). Apresentação da unidade Nesta unidade, abordamos a importância doplanejamento e apresentamos uma discussão em torno dos documentos oficiais que balizam o planejamento da disciplina Língua Portuguesa. Esperamos que você tire bastante proveito dessa unidade que, ancorada apelos documentos oficiais de parametrização do ensino de Língua Portuguesa, proporciona conhecimentos para a formação de um profissional consciente dos modos de agir e do por que agir ao trabalhar, em sala de aula, do ensino fundamental e médio com a disciplina Língua Portuguesa. Boa leitura. Objetivos � Identificar o papel do professor no planejamento em ação do processo de ensino e aprendizagem da Língua Portuguesa. � Inteirar-se das propostas de ensino de Língua Portuguesa, particularmente dos conteúdos gramaticais, nas escolas de ensino funda- mental e médio. � Familiarizar-se com as competências, os conteúdos e a metodo- logia de atividades referentes ao ensino de Língua Portuguesa. 3.1 IMPORTÂNCIA DO PLANEJAMENTO Em sua trajetória histórica o homem sempre sonhou, pensou refletidamente e planejou suas ações. Inclusive, o homem primitivo, do seu modo e utilizando sua habilidade de pensar, planejou como deveria agir para vencer os obstáculos que se interpunham em sua vida tais como caçar, pescar, colher frutas, que estratégias utilizar para vencer seus inimigos e para conquistar territórios. 33 Ensino da Gramática na Escola UAB/Unimontes Segundo Vasconcellos (2009), o planejamento é inerente ao ser humano. Todos, em seu dia-a-dia, têm algum plano, “mesmo que não esteja sistematizado por escrito”. Informações sobre o autor: * “Celso dos Santos Vasconcellos já foi professor, coordenador pedagógico e gestor escolar. Ao longo de sua extensa carreira de educador, participou de inúmeros processos de planejamento nas escolas e gosta de dizer que aprendeu muitas lições. 'Às vezes, há uma tentação enorme de ficar gastando tempo com problemas menores, quase sempre da esfera administrativa ou burocrá- tica. Justamente por isso é tão importante planejar o planejamento', afirma. Doutor em Educação pela Universidade de São Paulo, mestre em História e Filosofia da Educação pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e autor de diversos livros sobre esse assunto, o especialista fala na entrevista a seguir a respeito dos meandros do processo de elaboração das diretrizes do trabalho da escola.” Menegolla e Sant´Anna (1998, p. 17) afirmam que “planejar é uma exigência do ser humano; é um ato de pensar sobre um possível e viável fazer. E, como o homem pensa sobre o seu “o quê fazer”, o planejamento se justifica por si mesmo. A sua necessidade é a sua própria evidência e justificativa”. Em se tratando do processo de ensino e aprendizagem, o planeja- mento é algo muito sério que deve ser elaborado com qualidade e intencio- nalidade. Logo, pensar em qualidade pressupõe que você pense em inteirar- se do que é importante, necessário, significativo, prazeroso, etc., para o nível dos alunos. Já a intencionalidade, envolve perguntar: para que ensinar o que se vai ensinar? Com quais objetivos? Pode-se afirmar que o planejamento educacional é a previsão antecipada de ações educativas para atingir certos objetivos, que vêm de necessidades criadas por uma determinada realidade. É, sobretudo, traçar modos de agir de acordo com essa realidade, admitindo, contudo, a possibilidade de mudanças ou de alterações de percurso. O planejamento educacional é, portanto, flexível. Zabala (1996, p. 157), seguindo os critérios propostos por Raths, enumera doze princípios para guiar o professor no planejamento de atividades de ensino. Para este autor, uma atividade didática é preferível à outra se: Planejar o planejamento: é o mesmo que criar a oportunidade PARA FAZER O PLANEJAMENTO. Normalmente as escolas reservam, no início de cada período letivo, dentro do calendário escolar, o momento do planejamento conjunto. C F E A B G GLOSSÁRIO Esperamos que você tenha percebido que o planejamento é algo inerente ao ser humano. Perguntamos: Você planeja suas atividades cotidianas? Experimente planejar a sua semana. Pare e pense quais são as atividades que você tem a desempenhar. Estabeleça um objetivo para cada uma delas, faça um cronograma de ações diárias, liste os recursos de que você vai precisar. Não se esqueça de incluir as atividades de estudo. Compare o seu planejamento com o planejamento de um colega. Sucesso! ATIVIDADES 34 Letras/Português Caderno Didático - 4º Período a) permite que o aluno tome decisões razoáveis sobre como desenvol- vê-la e veja as consequências de sua escolha; b) atribui ao aluno papel ativo em sua realização; c) exige do aluno uma pesquisa de idéias, processos intelectuais, acontecimentos ou fenômenos de ordem pessoal ou social e o estimula a se envolver nela; d) obriga o aluno a interagir com sua realidade; e) pode ser realizada por alunos de diversos níveis de capacidade e interesses diferentes; f) obriga o aluno a examinar, em um novo contexto, uma idéia, um conceito, lei etc., que já conhece; g) obriga o aluno a examinar idéias ou acontecimentos normalmente aceitos sem questionamento pela sociedade; h) coloca o aluno e o educador em uma posição de êxito, fracasso ou crítica; i) obriga o aluno a reconsiderar e rever seus esforços iniciais; j) obriga a aplicar e dominar regras significativas, normas ou disciplinas; k) oferece ao aluno a possibilidade de planejá-la com outros, participar do seu desenvolvimento e comparar os resultados obtidos; l) for relevante para os propósitos e interesses explícitos dos alunos. Ao falar sobre planejamento, Madalena Freire (1997:56) afirma que, [...] o planejamento alicerça a ação criadora, pois permite que haja um controle do que está ocorrendo em sala de aula. Nesta perspectiva, o planejamento não anula a criatividade nem a dinâmica do trabalho, pelo contrário, permite que a criatividade vá em direção aos objetivos desejados. 3.2 O ENSINO DA GRAMÁTICA E OS DOCUMENTOS OFICIAIS Não há como abordar as questões de ensino sem fazer referência à lei maior que o regula, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB nº. 9.394/96. O ensino proposto pela LDB está em função do objetivo amplo da educação que é propiciar a todos a formação básica para a cidadania, a partir da criação, na escola, de condições de aprendizagem para o que propõe no art. 32: I - o desenvolvimento da capacidade de aprender, tendo como meios básicos o pleno domínio da leitura, da escrita e do cálculo; II - a compreensão do ambiente natural e social, do sistema político, da tecnologia, das artes e dos valores em que se fundamenta a sociedade; Analise cada um dos princípios enumerados por Zabala. Reflita sobre a importância e a pertinência de se considerar cada um deles no momento de planejar as suas aulas. Agora, faça comentários, no fórum destinado à discussão das atividades, sobre o valor desses princípios para o bom andamento das atividades de ensino de Língua Portuguesa. ATIVIDADES Recomendamos para a complementação dos seus estudos a respeito de Planejamento a leitura dos livros: 1- FREIRE, Madalena. (Org.). Observação registro reflexão: Instrumentos Metodológicos I. São Paulo: Espaço Pedagógico, 1996. Em parceria com Juliana Davini, Fátima Camargo e Mirian Celeste Martins. O livro resgata importantes ferramentas para a construção do conhecimento e da consciência, na aventura de ensinar e aprender com criatividade e autoria. Na primeira parte as autoras enfocam a observação, o como aprendemos a olhar, a importância de dar direção e intenção a este ato. Elas afirmam que o olhar cuidadoso que envolve generosidade, cuidado, planejamento, atenção e presença e que a sensibilidade é um recurso a ser desvelado, para podermos ver além e a importância do exercício estético para a formação do educador atento. Na segunda, as autoras discutemsobre a importância DICAS 35 Ensino da Gramática na Escola UAB/Unimontes do registro para a obtenção de um pensamento reflexivo. A escrita como exercício básico do estudo da teoria e da própria prática pedagógica, é que vai possibilitar o clareamento do que já sabemos e do que precisamos ainda tentar, conhecer, criar, olhar. Este movimento é gerador de reflexão que, por sua vez, incentiva o ato consciente, ato fundamental para constituir a subjetividade, o sentido de um fazer, na busca de recuperar valores imprescindíveis para a formação de sujeitos pensantes, criadores e sensíveis. 2- FREIRE, Madalena. (Org.). Avaliação e planejamento: a prática educativa em questão: Instrumentos Metodológicos II. São Paulo: Espaço Pedagógico, 1997. Na primeira parte desta obra as autoras resgatam o sentido dramático do ensinar e aprender, defendendo o pensar como ingrediente básico. Afirmam que o pensar que se dá nas mais variadas linguagens é mola propulsora da consciência, que por sua vez dá força para as transformações do sujeito em sua realidade interna ou externa. Na segunda parte enumeram os instrumentos com os quais os educadores contam, para enriquecer e sistematizar seu pensar, transformando-o em fazer. “Neste livro priorizamos a discussão de duas ferramentas básicas: a avaliação e o planejamento” afirmam. As ferramentas são antigas conhecidas do público de pedagogos, porém as autoras recriaram ao inseri-las dentro de uma nova proposta em educação: a concepção democrática. “Com elas podemos ir e vir, em nosso difícil trabalho de recriar, inventar, refazer o nosso sonho pedagógico”. III - o desenvolvimento da capacidade de aprendizagem, tendo em vista a aquisição de conhecimentos e habilidades e a formação de atitudes e valores; IV - o fortalecimento dos vínculos de família, dos laços de solidarie- dade humana e de tolerância recíproca em que se assenta a vida social. (art. 32). Sendo assim, a organização curricular e a abordagem dos conteú- dos devem ocorrer primeiramente no sentido de conferir ao aluno a efetivação dos objetivos da educação democrática. Para garantir essas proposições, a estrutura federativa autoriza os órgãos governamentais a tomarem as providências necessárias. Assim é que, na esteira dessa possibilidade, a Secretaria de Estado de Educação de Minas Gerais criou, em 2000, para as escolas da rede estadual de Minas Gerais, o Sistema Mineiro de Avaliação da Educação Pública – SIMAVE Entre os programas que integram o SIMAVE, há o Programa de Avaliação da Aprendizagem Escolar – PAAE, planejado para avaliar a aprendizagem dos alunos ao longo do ano letivo e identificar, a partir dos resultados de desempenho, as necessidades imediatas de intervenção pedagógica no cotidiano escolar. Assim, os resultados de suas avaliações devem fundamentar o planejamento educacional, do ensino e as intervenções pedagógicas, fornecendo subsídios para a melhoria da aprendizagem dos alunos e da prática docente, contribuindo para o sucesso escolar do aluno. 3.2.1 O planejamento da disciplina língua portuguesa Para subsidiar o Planejamento das aulas de Língua Portuguesa, O SIMAVE oferece uma Matriz de Referência composta por um conjunto de descritores que explicitam dois pontos básicos do que se pretende avaliar: 1- o conteúdo programático a ser avaliado em cada período de escolarização e 2- o nível de operação mental necessário para a realização de determinadas tarefas. Os descritores são selecionados para compor a matriz, consideran- do-se aquilo que pode ser avaliado por meio de um teste de múltipla escolha, cujos itens implicam a seleção de uma resposta em um conjunto dado de respostas possíveis. De posse dos resultados da avaliação, cada escola volta aos descritores para o novo planejamento. Vejam, na íntegra, as matrizes de referência do ensino fundamental e do ensino médio: 36 Letras/Português Caderno Didático - 4º Período MATRIZ DE REFERÊNCIA – SIMAVE –PROEB LINGUA PORTUGUESA – 4ª SÉRIE / 5º ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL TÓPICOS E SEUS DESCRITORES I - PROCEDIMENTOS DE LEITURA D0 Compreender frases ou partes que compõem um texto. D1 Identificar um tema ou o sentido global de um texto. D2 Localizar informações explícitas em um texto. D3 Inferir informações implícitas em um texto. D5 Inferir o sentido de palavra ou expressão. D10 Distinguir um fato da opinião relativa a esse fato. II – IMPLICAÇÕES DO SUPORTE, DO GÊNERO E/OU DO ENUNCIADOR NA COMPREENSÃO DO TEXTO D6 Identificar o gênero de um texto. D7 Identificar a função de textos de diferentes gêneros. D8 Interpretar texto que conjuga linguagem verbal e não verbal. III - COERÊNCIA E COESÃO NO PROCESSAMENTO DO TEXTO D11 Reconhecer relações lógico-discursivas presentes no texto, marcadas por conjunções, advérbios, etc. D12 Estabelecer a relação causa/consequência entre partes e elementos do texto. D15 Estabelecer relações entre partes de um texto, identificando repetições ou substituições que contribuem para sua continuidade. D19 Identificar o conflito gerador do enredo e os elementos que compõem a narrativa. IV – RELAÇÕES ENTRE RECURSOS EXPRESSIVOS E EFEITOS DE SENTIDO D23 Identificar efeitos de ironia ou humor em textos. D21 Reconhecer o efeito de sentido decorrente do uso de pontuação e outras notações. V – VARIAÇÃO LINGUÍSTICA D13 Identificar marcas linguísticas que evidenciam o locutor e o interlocutor de um texto. 37 Ensino da Gramática na Escola UAB/Unimontes IMPORTANTE Como você pode observar, os descritores previstos para a 4ª série / 5º ano do ensino fundamental, abordam com maior ênfase as competências de leitura. Apenas o D21 e o D13 sugerem questões que poderiam se aproximar do conteúdo gramatical. Isso porque, conforme veremos mais adiante, o ensino da língua, no ensino fundamental, deve priorizar a leitura, a compreensão, a interpretação e a escrita de textos. As questões gramaticais devem ocorrer basicamente em função do aperfeiçoamento dos textos escritos pelos alunos. MATRIZ DE REFERÊNCIA – SIMAVE –PROEB LINGUA PORTUGUESA – 9º ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL E 3º ANO DO ENSINO MÉDIO TÓPICOS E SEUS DESCRITORES I - PROCEDIMENTOS DE LEITURA D1 Identificar um tema ou o sentido global de um texto. D2 Localizar informações explícitas em um texto. D3 Inferir informações implícitas em um texto. D5 Inferir o sentido de palavra ou expressão. D10 Distinguir um fato da opinião relativa a esse fato. II – IMPLICAÇÕES DO SUPORTE, DO GÊNERO E/OU DO ENUNCIADOR NA COMPREENSÃO DO TEXTO D6 Identificar o gênero de um texto. D7 Identificar a função de textos de diferentes gêneros. D8 Interpretar texto que conjuga linguagem verbal e não verbal. III – RELAÇÃO ENTRE TEXTOS D18 Reconhecer posições distintas entre duas ou mais opiniões relativas ao mesmo fato ou ao mesmo tema. D20 Reconhecer diferentes formas de abordar uma informação ao abordar textos que tratam do mesmo tema. IV - COERÊNCIA E COESÃO NO PROCESSAMENTO DO TEXTO D11 Reconhecer relações lógico -discursivas presentes no texto, marcadas por conjunções, advérbios, etc. D12 Estabelecer a relação causa/consequência entre partes e elementos do texto. 38 Letras/Português Caderno Didático - 4º Período D15 Estabelecer relações entre partes de um texto, identificando repetições ou substituições que contribuem para sua continuidade. D16 Estabelecer relações entre partes de um texto a partir de mecanismos de concordância nominal. D19 Identificar o conflito gerador do enredo e os elementos que compõem a narrativa. D14 Identificar a tese de um texto. D26 Estabelecer relações entre a tese e os argumentos oferecidos para sustentá-la. IMPORTANTE Observe que, também para o 9º ano do ensino fundamental e 3º ano do ensinomédio, a grande ênfase continua sendo a mesma. Apenas os descritores D21, D 25 e D13 fazem referência mais diretamente a aspectos gramaticais. É importante salientar que o Programa de Avaliação da Aprendizagem Escolar (PAAE) baseia-se, também, nos Conteúdos Básicos Comuns – CBC - documento curricular elaborado a partir da releitura dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN). O CBC de Língua Portuguesa – CBC/LP, para os anos finais do ensino fundamental e para o ensino médio, norteia o planejamento dessa disciplina. Muito embora não esgote todos os conteúdos a serem abordados na escola, o CBC/LP expressa os aspectos fundamentais, que não podem deixar de ser ensinados e que os alunos devem aprender. Ao mesmo tempo, esse documento indica as habilidades e compe- tências que os alunos não podem deixar de adquirir e desenvolver. No ensino médio, o CBC/LP foi estruturado em dois níveis para permitir uma primeira abordagem mais geral e semiquantitativa no primeiro ano, e um tratamento mais quantitativo e aprofundado no segundo ano. 3.2.2 Diretrizes para o ensino de língua portuguesa Em consonância com os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), que consideram o ensino de Língua Portuguesa preparatório para a vida, qualificando o aluno para o aprendizado permanente e para o exercício da cidadania, o CBC/LP considera que,”a linguagem é atividade interativa em que nos constituímos como sujeitos sociais”. Acesse o sítio da Secretaria de Educação (http://www.educacao.mg.gov. br) e conheça o Centro de Referência Virtual do Professor (CRV). No CRV, encontra-se sempre a versão mais atualizada dos CBCs, orientações didáticas, sugestões de planejamento de aulas, roteiros de atividades e fórum de discussões, textos didáticos, experiências simuladas, vídeos educacionais, etc. Por meio do CRV, os professores de todas as escolas mineiras têm a possibilidade de ter acesso a recursos didáticos de qualidade para a organização do seu trabalho docente, o que possibilitará reduzir as grandes diferenças que existem entre as várias regiões do Estado. Discuta com seus colegas e com os tutores as novidades que você DESCOBRIU no Portal acima sugerido e poste suas impressões no Fórum aberto pelo Professor Formador. ATIVIDADES 39 Ensino da Gramática na Escola UAB/Unimontes Podemos assim afirmar que, ao elaborar o planejamento para as aulas, faz-se necessário se faz ter em mente que o aluno já utiliza a Língua Portuguesa cotidianamente. Esse fato indica que ele já domina pelo menos uma das variedades dessa língua e que podemos e devemos, não só elaborar o planejamento de ensino, mas também propor ações de ensino a partir de seus conhecimentos intuitivos de falante. Desse modo, a atribuição da escola é proporcionar a expansão das capacidades de uso, estimulando o desenvolvimento das habilidades de se comunicar em diferentes gêneros de discursos, sobretudo naqueles do domínio público que exigem o uso do registro formal e da norma padrão. Considera-se que o domínio das variedades cultas é fundamental ao exercício crítico frente aos discursos da ciência, da política, da religião, etc. Para corroborar essas ideias, o CBC/LP (2007, p. 13 – 14) considera: Os conteúdos dos currículos e programas, assim como as práticas de ensino, devem ser selecionados em função da aquisição e desenvolvimento das competências e habilida- des de uso da língua e da reflexão sobre esse uso, e não em função do domínio de conceitos e classificações como fins em si mesmos. Assim, devem compor o currículo da disciplina aqueles conteúdos considerados essenciais à vida em sociedade, especialmente aqueles cuja aprendizagem exige intervenção e mediação sistemáticas da escola, como é caso da leitura e da escrita. Em relação a essas duas competências, é preciso lembrar que não basta que o aluno seja capaz de decodificar e codificar textos escritos. É preciso que ele: � “reconheça a leitura e a escrita como atividades interativas de produção de sentido, que colocam em jogo diferentes fatores, como a situação comunicativa, o horizonte social dos interlocutores, o objetivo de interlocu- ção, as imagens que os interlocutores fazem um do outro, os usos e práticas de linguagem”; � “atinja um nível de letramento que o capacite a compreender e produzir, com autonomia, diferentes gêneros de textos, com distintos objetivos e motivações”; � “tenha acesso aos usos literários da língua e a obras de autores representativos da literatura brasileira” As considerações acima, referentes ao currículo, programas e às práticas do ensino de Língua Portuguesa, levam-nos a concluir que as ações de ensino de gramática não podem ocorrer de forma desvinculada dessas intenções. Há que se considerar também: Reflita e responda: a) O que é preparar para a vida em termos do ensino de língua materna? b) Como se comporta linguísticamente um sujeito preparado para a vida? Compare suas respostas com o que diz o CBC/LP (2007, pág. 13), “Se a linguagem é atividade interativa em que nos constituímos como sujeitos sociais, preparar para a vida significa formar locutores/autores e interlocutores capazes de usar a língua materna para compreender o que ouvem e leem e para se expressar em variedades e registros de linguagem pertinentes e adequados a diferentes situações comunicativas. Tal propósito implica o acesso à diversidade de usos da língua, em especial às variedades cultas e aos gêneros de discurso do domínio público, que as exigem, condição necessária ao aprendizado permanente e à inserção social”. ATIVIDADES 40 Letras/Português Caderno Didático - 4º Período c) O que é preparar para o exercício da cidadania? d) Como procede, linguísticamente, um cidadão? Agora compare suas respostas com esta afirmação, segundo o CBC/LP (2007, pág.13), “Qualificar para o exercício da cidadania implica compreender a dimensão ética e política da linguagem, ou seja, ser capaz de refletir criticamente sobre a língua como atividade social capaz de regular - incluir ou excluir - o acesso dos indivíduos ao patrimônio cultural e ao poder político. Nesse sentido, os conteúdos e as práticas de ensino, selecionados, devem favorecer a formação de cidadãos capazes de participação social e política, funcionando, portanto, como caminho para a democratização e para a superação de desigualdades sociais e econômicas”. CONCLUSÃO: elabore um parágrafo conclusivo completando suas ideias com as afirmações do CBC/LP. Exercite seus conhecimentos contando para alguém suas concepções. Vá ao fórum e poste suas considerações. ATIVIDADES � Que a língua é uma atividade viva; � Que ela se modifica pela ação dos falantes nos processos de interlocução. � É, pois, por “natureza, heterogênea, variada, “sensível” ao contexto de uso e à ação dos usuários”. � Que a comunicação se dá, não por meio de frases ou estruturas isoladas, mas por meio de discursos e de suas manifestações, os textos. Implicando que o seu ensino “prevê o trabalho linguístico dos interlocutores no processo de produção de sentido”, cabendo ao professor fazer circular na sala de aula uma variada gama de textos de todos os gêneros e tipos, juntamente com seus suportes, e proporcionar a reflexão sobre os aspectos gramaticais inerentes à eficiente leitura e escrita. Então, concluímos que: 1. Só se justifica o estudo da língua por meio de textos orais e escritos. Nessa perspectiva, a reflexão sobre os processos de textualização deve ser o objeto de estudo central da disciplina, o que segundo o CBC/LP (2007 pág.14), “[...] exige novos níveis de análise e novos procedimentos metodológicos - a começar pelo reconhecimento de que estudar língua é mais que analisar a gramática da forma ou o significado de palavras”. 2. Não se justifica o ensino de língua privilegiando o estudo da forma em detrimento do sentido e da função sociocomunicativa.