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Disciplina: MATEMÁTICA BÁSICA (EEL0089) GRAD Professor: MARIO SERGIO TARANTO Tema 1 Definição O estudo de equações do primeiro grau, razões, proporções, regras de três e juros. Propósito Apresentar a aplicabilidade dos conceitos matemáticos aqui explorados em situações do cotidiano e em contextos não escolares. Preparação Antes de iniciar o conteúdo deste tema, tenha em mãos papel, caneta e uma calculadora científica ou use a calculadora de seu smartphone/computador. Objetivos Módulo 1 Examinar a importância das equações do primeiro grau Módulo 2 Identificar razões, proporções e porcentagens Módulo 3 Resolver problemas do cotidiano com regras de três Módulo 4 Praticar problemas com juros simples e compostos Módulo 1 Examinar a importância das equações do primeiro grau: Introdução Neste módulo, abordaremos como as equações do primeiro grau aparecem continuamente em problemas do cotidiano. Veremos como resolver tais tipos de problemas após uma análise e interpretação dos mesmos. Como exemplo do que trabalharemos, considere a seguinte situação: (UFRRJ- 2003) Clarissa é uma típica consumidora de shopping. Seu pai lhe deu uma certa importância em dinheiro para que comprasse algumas coisas. Ao passar por uma sapataria, encantou-se com um tênis e pagou por ele um quinto do que recebeu de seu pai. Em seguida, entrou numa loja de roupas e comprou uma calça, pagando um quarto do que restou. Clarissa ainda ficou com R$120,00. Qual foi a quantia que ela recebeu de seu pai? Como resolver esse tipo de problema? Antes de iniciarmos com os estudos e resoluções desse tipo de situação, vamos entender o conceito de equação do primeiro grau. Uma equação do primeiro grau é uma expressão matemática envolvendo termos conhecidos e desconhecidos da forma: É importante destacar que existem outros tipos de equações do primeiro grau com várias incógnitas, porém, neste tema, abordaremos somente as equações do primeiro grau com uma incógnita apenas, como a equação acima. Antes de iniciarmos a análise de situações-problema, vejamos o seguinte. Acredito que muitos já devem ter visto em alguma rede social alguns desafios semelhantes aos do vídeo a seguir: Vídeo Agora que percebemos como o nosso assunto pode estar implicitamente presente em alguns passatempos do dia a dia, vamos analisar outras situações. Veremos como essas situações nos fornecem equações do primeiro grau que podem ser resolvidas conforme comentamos anteriormente. Em uma corrida de táxi, é comum pagarmos uma taxa fixa (chamada bandeirada) mais um valor variável que depende da distância percorrida. Se a bandeirada é de R$4,20 e o quilômetro rodado custa R$0,95, qual é distância percorrida por um passageiro que pagou R$21,30? Solução: Vamos denotar por X a quantidade de quilômetros rodados. Como a bandeirada (R$4,20) é fixa e pagamos R$0,95 por quilômetro rodado, então, se o passageiro pagou R$21,30 pela corrida, a equação do primeiro grau que representa essa situação é: Logo, a distância percorrida pelo passageiro foi de 18km. Na verdade, a situação também poderia ser resolvida com um raciocínio puramente aritmético. Subtraindo a bandeirada do total da corrida, obtemos 21,30 – 4,20 = 17,10. Dividindo este valor pelo custo do quilômetro rodado, obtemos 17,10/0,95 = 18 km. Observe que os cálculos efetuados correspondem aos passos de resolução da equação acima. A vantagem de formular o problema como uma equação do primeiro grau é ter um processo mais automático de resolução. (Adaptado de UNIRIO– 2016) Um grupo de amigos vai acampar no final de semana. Numa certa hora da manhã de domingo, o equivalente a um terço desse grupo está envolvido com o preparo do almoço, a metade do grupo cuida da limpeza do acampamento, a décima parte desses dois subgrupos colhe flores na redondeza e a única pessoa restante do grupo deleita-se lendo um bom livro. Quantos elementos tem esse grupo de amigos? Atenção: A imagem abaixo é meramente ilustrativa, não leve em consideração a quantidade de personagens presentes na cena para a resolução da atividade. Vamos denotar por X a quantidade de amigos nesse grupo. Pelas informações do exercício, temos a seguinte divisão do grupo: Como todos os x elementos do grupo estão distribuídos em uma das atividades acima, podemos formar a seguinte equação do primeiro grau: Resolução da equação: Vídeo Vamos voltar à situação mencionada no início deste módulo: Clarissa é uma típica consumidora de shopping. Seu pai lhe deu uma certa importância em dinheiro para que comprasse algumas coisas. Ao passar por uma sapataria, encantou-se com um tênis e pagou por ele um quinto do que recebeu de seu pai. Em seguida, entrou numa loja de roupas e comprou uma calça, pagando um quarto do que restou. Clarissa ainda ficou com R$120,00. Qual foi a quantia que ela recebeu de seu pai? Vamos denotar por x a quantia em dinheiro que Clarissa recebeu de seu pai. Utilizando as informações do exercício, temos o seguinte: Com as informações acima, temos que a quantia total de dinheiro é igual à soma dos gastos mais o valor que sobrou, R$120,00. Assim, formamos a seguinte equação do primeiro grau: Resolução da equação: Vídeo Atividades 1. (Adaptada de PETROBRÁS – 2010) Laura disse para a sua filha Ana: Daqui a 2 anos, terei o dobro da sua idade. Se hoje Ana tem 20 anos, qual é a idade atual de Laura? a) ( ) 40 b) (x ) 42 c) ( ) 44 d) ( ) 46 OBS.: Vamos denotar por x a idade de Laura hoje. Pelos dados apresentados, sabemos que hoje Ana possui 20 anos. Como as informações fazem referência às idades daqui a 2 anos, então vamos analisar primeiramente as idades de Laura e de Ana separadamente: • Idade de Laura daqui a 2 anos será = x + 2; • Idade de Ana daqui a 2 anos será = 20 + 2 = 22. Pelo enunciado, daqui a 2 anos, a idade de Laura será igual ao dobro da de Ana. Desse modo, podemos formar a seguinte equação do primeiro grau: Logo, a idade atual de Laura é 42. 2. (CEFET/MG– 2018) Numa família com 7 filhos, sou o caçula e 14 anos mais novo que o primogênito de minha mãe. Dentre os filhos, o quarto tem a terça parte da idade do irmão mais velho, acrescida de 7 anos. Se a soma de nossas três idades é 42, então minha idade é um número: a) ( ) Divisível por 5. b) ( )Divisível por 3. c) ( x ) Primo. d) ( ) Par. OBS.: Como temos três dos sete filhos envolvidos no problema, vamos chamar o caçula de Filho 7, o primogênito de Filho 1 e o quarto filho de Filho 4. Com os dados do enunciado, podemos formar as seguintes informações: • Vamos denotar por x a idade do irmão caçula, ou seja, a idade do Filho 7 é x; • Como o primogênito (Filho 1) possui 14 anos a mais que o caçula, então a idade do Filho 1 é igual a x + 14; • Agora, o Filho 4 tem a terça parte da idade do Filho 1, acrescida de 7 anos, ou seja, a idade do Filho 4 é: • Como a soma dessas três idades é 42, temos a seguinte equação: E multiplicando essa igualdade por 3, obtemos que: Logo, a idade do caçula é 7 anos, que é um número primo. Módulo 2 Identificar razões, proporções e porcentagens Introdução Conforme comentado no módulo anterior, diversas situações do cotidiano envolvem tópicos da Matemática de maneira implícita, mas que podem ser resolvidos rapidamente após uma análise e interpretação do problema. Neste módulo, abordaremos especificamente os conceitos de razões, proporções e porcentagem, juntamente com algumas das suas aplicações. Veremos que, em diversos contextos, esses conceitos nos fornecem informações que podem auxiliar, por exemplo, no planejamento de um transporte de cargas ou para se ter uma comparação sobre o aproveitamento escolar de uma turma. Por exemplo, considere a seguinte situação: Sabendo que a capacidade de carga de um caminhão é de 10 toneladas e cada caixa do produto que será transportadopesa 200kg, qual a razão entre o peso de cada caixa e a carga máxima transportada? Veremos como resolver o problema acima utilizando o próximo conceito. RAZÃO A razão entre dois números reais a e b, onde b ≠ 0, é o valor do quociente de a por b, que representamos das seguintes maneiras: As duas representações acima podem ser lidas dos seguintes modos: Razão de a para b; a está para b; a para b. O termo a nessas representações é chamado de antecedente e o termo b é chamado consequente. Sejam a e b números reais não nulos. A razão inversa (ou recíproca) da razão ab é a razão: Pegue papel e caneta e vamos praticar! Digamos que o salário de Pedro é de R$4.000,00 e o de Paulo é de R$2.000,00. • Qual a razão do salário de Pedro para o salário de Paulo? O que essa razão significa? • Qual a razão recíproca do item acima? O que essa razão representa? Solução: Vídeo ATENÇÃO É importante notar que, para se fazer a razão entre grandezas, estas devem estar na mesma unidade de medida. Você lembra da capacidade de carga do caminhão no início do módulo? Se a capacidade de carga desse caminhão é de 10 toneladas e cada caixa do produto que será transportado pesa 200kg, qual a razão entre o peso de cada caixa e a carga máxima transportada? Solução: Como as cargas estão em unidades diferentes (uma está em toneladas e a outra está em kg), devemos colocá-las na mesma unidade. Como uma tonelada (1 ton) equivale a 1000kg, então a carga máxima do caminhão é de 10.000kg. Logo, a razão de 200kg para 10.000kg é: Como veremos a seguir, é conveniente expressar a razão acima usando porcentagem. Porcentagem Porcentagem ou razão centesimal é o nome dado às razões cujo denominador é o número 100. Essas razões podem ser representadas pelo símbolo %. Exemplo: 8% (lê-se: Oito por cento) é uma forma de representar a seguinte razão: Em outras palavras, a expressão 8% significa que estamos tomando 8 partes de um todo que foi dividido em 100 partes iguais. Vimos que a razão entre o peso de cada caixa e a carga máxima do caminhão era 0,02. Mas baseados na definição de porcentagem ou razão centesimal, esse valor simboliza o seguinte quociente: Isso significa que a carga de cada caixa equivale a 2% da carga máxima do caminhão, ou seja, se considerarmos que o caminhão possui 100 espaços iguais, então cada caixa ocupa dois desses espaços. Veja mais um exemplo no vídeo a seguir: Vídeo Proporção Uma proporção é o nome dado à igualdade entre razões. Dizemos que os números a, b, c, d, onde b ≠ 0 e d ≠ 0, formam, nessa ordem, uma proporção, se temos a seguinte igualdade: ab=cd Lê-se a expressão acima da seguinte maneira: a está para b, assim como c está para d. Multiplicando ambos os termos da proporção por bd, obtemos ad=bc. Este procedimento é chamado de multiplicação cruzada e é frequentemente utilizado em problemas envolvendo proporções. Veja alguns exemplos de proporções: Tente resolver mais esses exemplos! 1 - Sabendo que os números 20, 4, x e 30 formam, nesta ordem, uma proporção, calcule o valor de x. Solução: Como os números 20, 4, x e 30 formam, nesta ordem, uma proporção, podemos elaborar a seguinte igualdade de razões: Fazendo a multiplicação cruzada obtemos: 2 - A soma de dois números vale 700. Sabendo que um deles está para 3 assim como o outro está para 4, quanto vale o produto desses números? Solução: Sejam x e y os números do enunciado. Como um deles, digamos x, está para 3 assim como o outro y está para 4, podemos formar a seguinte igualdade de razões: Como sabemos que X + Y= 700 temos que: Agora, como X+Y=700 e X=300, então obtemos que Y=400. Logo, o produto desejado é: Alguns dos principais problemas envolvendo proporções e porcentagens são resolvidos utilizando-se regras de três, como veremos no próximo módulo. Atividades 1. Em um posto de gasolina, o valor atual do etanol é de R$4,00. Sabendo que o etanol sofrerá um aumento de 7% no seu valor, qual será o novo valor do etanol? a) ( )R$4,18 b) ( ) R$4,21 c) ( x ) R$4,28 d) ( ) R$4,32 OBS.: Como o valor atual é de R$4,00 e sofrerá um aumento de 7%, então: Assim, o novo valor será o valor atual somado com o valor do aumento, ou seja: 2. A diferença entre dois números é 100. Sabendo que o maior está para 15 assim como o menor está para 5, então a soma desses números é: a) ( ) 120 b) ( ) 180 c) ( x ) 200 d) ( ) 250 OBS.: Sejam x e y os números do enunciado. Queremos descobrir o valor de x+y. Como um dos números é maior que o outro, vamos supor que x>y. Desse modo, sabemos que: X-Y=100 Como x>y, sabemos pelo enunciado que x está para 15 assim como y está para 5. Logo, podemos formar a seguinte igualdade de razões: Sabendo que x-y=100, então, temos que: Como X- Y=100 e x=150, então y=50. Logo: X+Y = 150+50 = 200 Módulo 3 Resolver problemas do cotidiano com regras de três Introdução Neste módulo, abordaremos o estudo e a resolução de problemas utilizando regras de três. Conforme veremos abaixo, existem diferentes tipos de regras de três e cada uma delas possui uma particularidade para a sua construção. Sendo assim, a eficácia desse método de solução depende estritamente desses detalhes que as diferenciam. Antes de iniciarmos o estudo da regra de três, vamos relembrar os conceitos de grandezas diretamente proporcionais e de grandezas inversamente proporcionais. Estes conceitos serão o princípio básico para a resolução dos problemas envolvendo regras de três. DUAS GRANDEZAS SÃO DIRETAMENTE PROPORCIONAIS QUANDO, AO SE MULTIPLICAR UMA DELAS POR UM NÚMERO POSITIVO, A OUTRA TAMBÉM É MULTIPLICADA POR ESSE NÚMERO. DUAS GRANDEZAS SÃO INVERSAMENTE PROPORCIONAIS QUANDO, AO SE MULTIPLICAR UMA DELAS POR UM NÚMERO POSITIVO, A OUTRA FICA DIVIDIDA POR ESSE NÚMERO. Vejamos um exemplo prático para entendermos essa definição. Considere as seguintes situações: Em uma fazenda, a produção mensal de laranjas é de 20 toneladas. Analisando as grandezas tempo de produção e peso de laranjas produzidas, vemos que essas grandezas são diretamente proporcionais, pois quando o tempo de produção dobra, o número de laranjas produzidas também dobra. Quando o tempo triplica, o número de laranjas também triplica, e assim por diante. Dois operários levam 3 horas para descarregar um caminhão. Analisando as grandezas número de operários e tempo de descarregar, vemos que essas grandezas são inversamente proporcionais, pois dobrando o número de operários, o tempo para descarregar se reduz à metade. Triplicando o número de operários, o tempo se reduz à terça parte, e assim por diante. Assista o vídeo abaixo: VIDEO Vejamos agora como resolver problemas utilizando regras de três. Como temos três tipos distintos de regras de três, veremos cada um deles separadamente. REGRA DE TRÊS SIMPLES E DIRETA Utilizamos regra de três simples e direta quando queremos resolver problemas que envolvem duas grandezas que são diretamente proporcionais. Vejamos alguns exemplos de resolução utilizando essa regra. Em uma fazenda, a produção mensal de laranjas é de 20 toneladas. Qual é a produção anual em toneladas dessa fazenda? Solução: Este é um típico caso de regra de três simples e direta. Vamos representar por T o tempo de produção (em meses) e por P a produção (em toneladas). Como 1 ano possui 12 meses, chamando de x a produção desejada e utilizando os dados do enunciado, podemos fazer a seguinte representação: As setas na figura acima apontam na mesma direção para significar que as grandezas são diretamente proporcionais. Com essa orientação das setas, podemos montar a seguinte proporção: http://estacio.webaula.com.br/cursos/temas/matematica_do_dia_a_dia/index.html http://estacio.webaula.com.br/cursos/temas/matematica_do_dia_a_dia/index.html E fazendo a multiplicação cruzada, obtemos que:Logo, a produção anual de laranjas dessa fazenda é de 240 toneladas. O próximo exemplo é de um caso de regra de três simples envolvendo porcentagem. Você consegue resolver? Separe o material e vamos começar. Anteriormente, vimos que o peso de uma caixa do produto equivale a 2% da carga máxima de um caminhão. Qual a quantidade máxima de caixas que o caminhão pode transportar? Solução: Vídeo Veja mais um exemplo de um caso de regra de três simples envolvendo porcentagem: Renato, ao completar seus 18 anos, resolveu comprar seu primeiro carro. Em uma revendedora de automóveis, o carro que ele mais gostou custa R$25.000,00. Como Renato é muito convincente, combinou com o vendedor da loja o seguinte: Se o pagamento for em dinheiro, o valor do carro tem um desconto de 20%. Qual é o valor do desconto desse carro no pagamento em dinheiro? Solução: Vídeo REGRA DE TRÊS SIMPLES INVERSA Utilizamos regra de três simples inversa quando queremos resolver problemas que envolvem duas grandezas que são inversamente proporcionais. Vejamos alguns exemplos de resolução utilizando essa regra. Uma torneira leva 7 horas para encher um tanque. Se fossem utilizadas 5 torneiras, quanto tempo levaria para encher esse mesmo tanque? Solução: Este é um caso de regra de três simples, pois envolve apenas duas grandezas: Tempo para encher e número de torneiras. Note também que essas grandezas são inversamente proporcionais, pois quando o número de torneiras é multiplicado por um fator, o tempo para encher o tanque é dividido por esse mesmo fator. Vamos representar por T o tempo para encher (em horas) e por N o número de torneiras. Utilizando os dados do enunciado, podemos fazer a seguinte representação: As setas na figura acima apontam em direções opostas para significar que as grandezas são inversamente proporcionais. Como a orientação das setas é oposta, antes de efetuar qualquer cálculo, devemos inverter os termos de uma das setas para que as duas setas apontem na mesma direção: Agora, com essa orientação das setas, podemos montar a seguinte proporção: E fazendo a multiplicação cruzada, obtemos que: Como 1h = 60min: Logo, 5 torneiras levariam para encher o tanque: Pegue o papel e a caneta mais uma vez! Agora você já consegue responder à questão apresentada no início do módulo. Em uma transportadora, dois operários levam 3 horas para descarregar um caminhão. Quantas horas serão necessárias para 5 operários descarregarem esse caminhão? Solução: Vídeo REGRA DE TRÊS COMPOSTA Utilizamos regra de três composta quando queremos resolver problemas que envolvem três ou mais grandezas. Como temos mais do que duas grandezas envolvidas, a análise das grandezas em diretamente ou inversamente proporcionais deve ser feita aos pares, conforme veremos abaixo. Em uma empresa de transporte, 10 trabalhadores descarregam 210 caixas de mercadoria em 3 horas. Quantas horas serão necessárias para 25 trabalhadores descarregarem 350 caixas? Solução: Vídeo Vamos praticar a regra de três composta: (2013- BNDES) O gráfico abaixo apresenta o consumo médio de oxigênio, em função do tempo, de um atleta de 70kg ao praticar natação. Considere que o consumo médio de oxigênio seja diretamente proporcional à massa do atleta. Qual será, em litros, o consumo médio de oxigênio de um atleta de 80kg, durante 10 minutos de prática de natação? Solução: Vamos representar por M a massa do atleta (em kg), por L o consumo de oxigênio (em litros) e por T o tempo de atividade (em minutos). Pelo gráfico, podemos ver que um atleta de 70kg consome 21 litros de oxigênio em 4 minutos. Como queremos saber o consumo de um atleta com 80kg durante 10 minutos, podemos representar o problema da seguinte maneira: Agora, vamos analisar se as grandezas são diretamente ou inversamente proporcionais. Como queremos saber x na grandeza L, vamos comparar as relações das grandezas M e T com relação a L. Considerando apenas as grandezas M e L, elas terão setas com orientação igual, pois, pelo enunciado, essas grandezas são diretamente proporcionais; Como todas as setas apontam na mesma direção, então podemos montar a proporção que nos fornecerá o resultado desejado: E fazendo a multiplicação cruzada, obtemos: Logo, um atleta com 80kg, durante 10 minutos de natação, consome 60 litros de oxigênio. ATENÇÃO É importante notar que a resolução da regra de três composta deve seguir os passos abaixo: A grandeza que contém a variável desejada ( x no exemplo anterior está na grandeza T) deve ficar, preferencialmente, em um dos extremos (direita ou esquerda) para facilitar a visualização e auxiliar na proporção do cálculo final; Após analisar as orientações das setas e colocar todas no mesmo sentido, a proporção deve ser feita conforme visto nos exemplos acima, ou seja, a razão que contém a variável desejada (no caso, x ) deve ficar isolada em um dos lados da igualdade, enquanto que as demais razões ficam do outro lado da igualdade sendo multiplicadas normalmente. Atividade 1. Com uma certa quantia em dinheiro, eu posso comprar 21 garrafas de vinho tinto no valor de R$12,00. Se eu escolher garrafas de vinho branco, cujo valor é R$14,00, quantas garrafas de vinho branco eu posso comprar? a) ( ) 15 b) ( ) 17 c) ( x ) 18 d) ( ) 19 OBS.: Este é um caso de regra de três simples, pois envolve apenas duas grandezas: Valor da garrafa e número de garrafas compradas. Note também que essas grandezas são inversamente proporcionais, pois, ao multiplicar o valor da garrafa por um fator, o número de garrafas que podem ser compradas é dividido por esse mesmo fator. Logo, é um caso de regra de três simples e inversa. Vamos representar por V o valor da garrafa (em R$) e por N o número de garrafas compradas. Utilizando os dados do enunciado, podemos fazer a seguinte representação: As setas na figura acima apontam em direções opostas para significar que as grandezas são inversamente proporcionais. Como a orientação das setas é oposta, antes de efetuar qualquer cálculo, devemos inverter os termos de uma das setas para que as duas setas apontem na mesma direção: Agora, com essa orientação das setas no mesmo sentido, podemos montar a seguinte proporção: E fazendo a multiplicação cruzada, obtemos que: Logo, se a garrafa custar R$14,00, podem ser compradas 18 garrafas. 2. Uma família com três pessoas consome, em média, 12m3 de água a cada 20 dias. Se mais uma pessoa se juntar a essa família, quantos metros cúbicos de água eles consumirão em uma semana? a) ( x ) 5,6m3 b) ( ) 6m3 c) ( ) 6,6m3 d) ( ) 7m3 OBS .: Vamos representar por V o volume de água consumida (em m3), por F o número de pessoas na família e por D o tempo em dias. Pelo enunciado, podemos representar o problema da seguinte maneira: Agora, vamos analisar se as grandezas são diretamente ou inversamente proporcionais. Como queremos saber x na grandeza V, vamos comparar as relações das grandezas F e D com relação a V. • Considerando apenas as grandezas F e V, elas terão setas com orientação igual, pois se aumentarmos multiplicando o número de pessoas por um fator, o volume de água consumido é multiplicado por esse mesmo fator, ou seja, são grandezas diretamente proporcionais; • Considerando apenas as grandezas D e V, elas terão setas com orientação igual também, pois, se multiplicarmos o número de dias por um fator, o volume de água consumida é multiplicado por esse mesmo fator, ou seja, são grandezas diretamente proporcionais. Como todas as setas apontam na mesma direção, então podemos montar a proporção que nos fornecerá o resultado desejado: E fazendo a multiplicação cruzada, obtemos: Logo, uma família com 4 pessoas, em uma semana, consumirá 5,6m3 de água. Módulo 4 Praticar problemas com juros simples e compostos Introdução Neste módulo, abordaremosum dos principais temas que se relacionam com empreendimento financeiros (empréstimos, investimentos, aplicações, seguros, compras), que é o conceito de juro. Em cada situação, o juro pode representar uma situação diferente, por exemplo, o rendimento (ou lucro) de um investimento, imposto cobrado sobre um valor ganho (como a cobrança do imposto de renda), aumento no valor de uma compra (quando parcelamos) ou de uma conta (quando se atrasa o pagamento), desvalorização de um carro etc. Considere a seguinte situação: Ana pediu R$500,00 emprestados a Pedro, para pagar depois de 5 meses, à taxa de 3% ao mês. Qual será o valor que Ana deverá pagar ao final desse período? Veremos que, para resolver esse problema, precisamos entender alguns fatores envolvidos nesse tipo de situação e saber qual espécie de juros está sendo cobrada: Simples ou composta. Abaixo, apresentamos os principais conceitos que vamos precisar para o entendimento e estudo deste módulo. Juro Cujo símbolo será J, é o nome dado a toda compensação em dinheiro que se paga ou que se recebe, por uma quantia de dinheiro que foi emprestada ou que se pede emprestada. Capital Essa quantia de dinheiro emprestada ou que se pede emprestada é chamada de capital, cujo símbolo será C. Taxa de porcentagem A compensação que o juro fornecerá depende de uma taxa de porcentagem que irá ser paga ou recebida pelo empréstimo. Essa taxa é chamada de taxa de juro, cujo símbolo será i. Montante O valor total em dinheiro que é pago ou recebido ao final do empréstimo (ou seja, capital + juro) é chamado de montante e é representado por M=C+J. Prazo O tempo, do início ao término do empréstimo, é chamado de prazo, que denotaremos por t. A taxa de juros (i) é indicada com relação ao intervalo de tempo, por exemplo: Dia, mês, ano, bimestre, trimestre etc. Abaixo, listamos os mais utilizados: 1% a.d. Significa: 1% ao dia. 5% a.m. Significa: 5% ao mês. 15% a.a. Significa: 15% ao ano. A taxa de juros (i) e o tempo de aplicação (prazo = t) devem sempre estar na mesma unidade de medida, ou seja, se i for uma taxa por dia, então t deve ser contado em dias, se i for uma taxa mensal, então t deve ser contado em meses, e assim, sucessivamente. Agora que sabemos todos os pré-requisitos para nosso estudo, vamos analisar os dois tipos de juros: Simples e composto. JUROS SIMPLES Os juros simples são obtidos através do chamado regime de capitalização simples. Isso significa que não há incidência de juros sobre juros. Dessa forma, o juro obtido no regime de juros simples é o resultado da taxa de juros por período (que pode ser dias, meses, anos etc.) multiplicado pelo capital. Voltemos ao exemplo de Ana: Qual será o valor pago a Pedro depois de 5 meses, considerando a taxa de 3% ao mês? Solução: O capital emprestado foi C = 500, a uma taxa de juros i = 3% a.m., durante um período de t = 5 meses. Como a taxa é de 3% ao mês no regime de capitalização simples, então, ao final de cada mês, Ana deverá pagar juros de: Note que, no exemplo acima, o valor pago de juros simples ao final do período de empréstimo foi determinado pela multiplicação: Capital (C) × taxa (i) × tempo (t) Ou seja, podemos representar os juros simples da seguinte maneira: Considerando C o valor do capital do empréstimo e i a taxa de juros simples associada ao tempo de duração t, o valor do juro simples será dado pela fórmula: J= C x i x T Ou simplesmente: J=C.i.t Dessa forma, o montante (valor total pago ou recebido do empréstimo) obtido ao final do período será dado por: M= C + J = C + C.i.t = C(1+it) Vejamos mais alguns exemplos: Maria aplicou R$10.000,00 à taxa de juros simples de 2% ao mês, durante 6 meses. Quanto Maria receberá de juros e de montante? Temos que o capital inicial é C = R$10.000,00, o tempo de aplicação é de t = 6 meses e o juro simples é de: Como o tempo t e a taxa de juros i estão na mesma unidade de medida, então, utilizando a fórmula do juro simples, obtemos que: J=C×i×t=10000×0,02×6=1200 E o montante será dado pela fórmula: M=C+J=10.000+1.200=11.200 Outra forma para calcular o montante: M=C1+it=10.0001+0,02×6=10.0001,12=11.200 Logo, Maria receberá R$1.200,00 de juros e o montante será de R$11.200,00. Note que, no exemplo acima, o tempo t e a taxa de juros i foram dados na mesma unidade de medida. Como proceder no caso em que as unidades são diferentes? Nesses casos, podemos utilizar regra de três simples e direta para igualarmos as unidades. Ana aplicou R$15.000,00 por 2 meses a uma taxa de juros simples de 36% ao ano. Qual foi o rendimento que Ana obteve ao final desse período? Vídeo JUROS COMPOSTOS Os juros compostos são obtidos através do chamado regime de capitalização composta. Diferentemente do juro simples, nesse regime composto, significa que há incidência de juros sobre juros, ou seja, o juro de cada período é acrescentado ao capital, formando um novo capital. Sobre este novo capital incidem novos juros referentes ao período seguinte, e assim por diante. Esta é a situação que ocorre na maior parte das transações financeiras. Vejamos um exemplo para entendermos esse processo. João aplicou R$300.000,00 em uma empresa a juro composto de 2% ao mês. Se a aplicação tiver duração de 3 meses, qual será o montante que João vai receber da empresa? De quanto foi o juro obtido após esse tempo? Vamos, inicialmente, extrair os dados do enunciado utilizando as notações já apresentadas. O capital aplicado foi C = 300.000, a uma taxa de juro composto de i = 2% a.m. durante um período de t = 3 meses. Como no regime de juro composto ocorre incidência de juro sobre juro, para calcular o montante final, precisamos fazer o processo mês a mês, conforme mostramos abaixo. 1° Mês: João receberá de juros o equivalente a i = 2% de C = 300.000, ou seja, o juro obtido após o primeiro mês será: Assim, o montante ao final do primeiro mês, que será o nosso novo capital (que denotaremos por C1), é de: 2° Mês: João receberá de juros o equivalente a i = 2% de C1 = 306.000, ou seja, o juro obtido após o segundo mês será: Assim, o montante ao final do segundo mês, que será o nosso novo capital (que denotaremos por C2), é de: C2=306.000+6.120=312.120 3° Mês: João receberá de juros o equivalente a i = 2% de C2 = 312.120, ou seja, o juro obtido após o terceiro mês será: Assim, o montante ao final do terceiro e último mês será: M=312.120+6.242,40=318.362,40 Logo, o montante que João receberá da empresa ao final de 3 meses será de: M=318.362,40 reais O juro total obtido ao final do período é o valor do montante menos o valor do capital aplicado inicialmente, ou seja, o juro total obtido foi: J=M-C=318.362,40-300.000=18.362,40 reais ATENÇÃO É necessário fazer este passo a passo sempre que trabalharmos com juros compostos? A resposta é não. Este exemplo foi apenas para entendermos como o regime de juros compostos funciona. Para resolvermos esse tipo de problema, utilizamos a fórmula do montante para juro composto, apresentada abaixo. Considerando C o valor do capital aplicado (ou emprestado), i a taxa de juros compostos associada ao tempo de duração t, o valor do montante será dado pela fórmula: M=C.1+it Dessa forma, o juro obtido ao final do período será dado por: J=M-C Novamente, destacamos que, para efetuar esses cálculos, a taxa de juro i e o tempo t devem estar sempre na mesma unidade de medida, assim como vimos no cálculo do juro simples. Baseado nas informações do exemplo de juros compostos, como o capital aplicado foi de C = 300.000, a uma taxa de juro composto de ao mês, durante um período de t = 3 meses, então, pela fórmula do montante, temos que o montante obtido por João ao final do terceiro mês de aplicação será: E o juro obtido será de: J=M-C=318.362,40-300.000=18.362,40 reais Outro casopossível para a utilização de juro (tanto o simples, quanto o composto) é o da desvalorização de um certo investimento, digamos, a desvalorização de um carro de acordo com o tempo. Vídeo Verificando o Aprendizado 1. Se João aplicar um capital de R$9.000,00 a uma taxa anual de 15%, quanto tempo será necessário para se produzir R$5.400,00 de juros simples? a) ( ) 2 anos b) ( ) 3 anos c) ( x) 4 anos d) ( ) 5 anos Comentário Temos que o capital investido foi de = 9.000, a uma taxa de juros simples de Como a taxa de juros é anual, queremos saber quanto tempo (em anos) é necessário para se produzir um juro simples de = 5.400. Utilizando os dados acima e a fórmula dos juros simples, obtemos: Logo, serão necessários 4 anos para se produzir R$5.400,00 de juros simples. 2. Com o aumento do dólar em relação ao real, Pedro resolveu aplicar seu capital de US$15.000,00 dólares em dois tipos de investimento: Aplicou 30% desse valor em um investimento que rende juros simples de 4% ao mês e o restante do valor em um investimento que rende juros compostos de 5% ao mês. Sabendo que ambas as aplicações terão duração de 3 meses, o lucro que esse investimento renderá para Pedro é de, aproximadamente: a) ( ) US$ 1.000,00 b) ( x ) US$ 2.000,00 c) ( ) US$ 3.000,00 d) ( ) US$ 4.000,00 Comentário O capital inicial aplicado é de US$15.000,00. Como esse capital foi dividido em dois investimentos com juros distintos, precisamos, primeiramente, encontrar qual foi o capital aplicado em cada investimento. Como 30% desse capital foi aplicado em juro simples, vamos descobrir quanto foi o valor C1 aplicado nesse caso. Utilizando regra de três simples e direta, podemos formar a seguinte representação: Isso nos fornece a seguinte proporção: E fazendo a multiplicação cruzada, obtemos: Logo, Pedro aplicou 1 = 4.500 durante = 3 meses a juros simples de: Assim, o lucro desse primeiro investimento será o juro simples obtido no período, que é dado por: Agora, para o segundo investimento, foi aplicado o capital de: Durante o tempo = 3 meses à taxa de juro composto: Assim, o montante obtido na taxa de juros compostos é dado por: Logo, o lucro obtido nesse segundo investimento é dado por: Portanto, o lucro total obtido por Pedro é igual à soma dos lucros individuais de cada investimento: CONSIDERAÇÕES FINAIS O estudante, em seu cotidiano, irá se deparar, com grande frequência, com os conceitos de Matemática apresentados neste tema. Por isso, os exemplos utilizados foram simples, diretos e realistas, procurando facilitar sua compreensão. Nossa realidade econômica é complexa e instável e são comuns as ocorrências de confusão e de erros, tanto na assimilação da teoria quanto na prática dos cálculos. Uma vez bem informado — e seguro com isso —, o estudante estará apto a resolver os mistérios e dilemas matemáticos de seu dia a dia, dos pequenos aos grandes, podendo, assim, escapar de eventuais armadilhas criadas por si mesmo e pelos outros. CONQUISTAS ADQUIRIDAS Examinou a importância das equações do primeiro grau; Identificou razões, proporções e porcentagens; Resolveu problemas do cotidiano com regras de três; Praticou problemas com juros simples e compostos. RESUMO GRÁFICO Referências BRASIL. Ministério da Educação. FREITAS, E. A. Matemática - Regra de Três. In: Redeetec.mec, Brasília, DF: Ministério da Educação, 2014. GIOVANNI, J. R.; BONJORNO, J. R.; GIOVANNI JÚNIOR, J. R. Matemática Fundamental - Uma Nova Abordagem, Volume Único. São Paulo: FTD S.A, 2002. HAZZAN, S.; POMPEO, J. N. Matemática Financeira. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 1998. SAMANEZ, C. P. Matemática Financeira. 5. ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2010. SILVA, A. G.; LOPES, A. F.; PEREIRA, A. C. Razões, Proporções, Porcentagens, Juros. Apostila. Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (Pibid). Faculdade de Matemática, 2013. Universidade Federal da Paraíba. Explore+ Para saber mais sobre os assuntos explorados neste tema, leia: Equações do primeiro grau SILVA, Alexandre de Azevedo; COSTA, Gabriella Marques Pereira da. Equações do primeiro grau - Uma proposta de aula baseada na análise de livros. Dissertação (Mestrado Profissional em Matemática). Instituto Nacional de Matemática Pura e Aplicada, IMPA, Rio de Janeiro, mar. 2014. Juros simples e compostos HAZZAN, S.; POMPEO, J. N. Matemática Financeira. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 1998. Juros simples e compostos SAMANEZ, C. P. Matemática Financeira. 5. ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2010. Regra de três BRASIL. Ministério da Educação. FREITAS, E. A. Matemática – Regra de Três. In: Redeetec.mec, Brasília, DF: Ministério da Educação, 2014. Conteudista Aleksandro de Mello / DEFINIÇÃO Os sistemas de números naturais historicamente contextualizados, os Axiomas de Peano, o surgimento dos números inteiros e complexos, os números racionais e sua relação com medida, seu surgimento e concepção moderna, alguns problemas e operações com frações. PROPÓSITO Refletir sobre nossa própria concepção da Matemática, proveniente de como a aprendemos ao longo de nossa vida escolar, geralmente organizada em Aritmética, Geometria e Álgebra, tendo como foco a Aritmética. OBJETIVOS MÓDULO 1 / Relacionar a contagem ao surgimento dos números naturais e o porquê de sua criação MÓDULO 2 Relacionar a criação dos números racionais e reais positivos à necessidade de realização de medidas e manipulação das operações matemáticas básicas Relacionar a contagem ao surgimento dos números naturais e o porquê de sua criação INTRODUÇÃO O QUE IRÁ NOS NORTEAR EM CADA MÓDULO É ENTENDER A PERGUNTA: “O QUE É UM NÚMERO?” A DISCUSSÃO QUE FAREMOS TERÁ DUAS IDEIAS CENTRAIS E ELEMENTARES: A CONTAGEM E A MEDIDA. Com estas ideias, iremos construir o conceito abstrato de número que permeia a Aritmética. A contagem nos conduz aos números naturais (ℕ), mas devemos estar atentos ao nosso sistema numérico, que nem sempre foi universal e que diversos povos ao longo da história criaram sua própria forma de contar. O mais interessante é que todos eles respeitavam regras muito semelhantes, que mais tarde foram nomeadas como Axiomas de Peano. / E medir vai nos conduzir aos números racionais (ℚ+ ) e reais (ℝ+ ) positivos. Os números inteiros (ℤ), bem como os números racionais e reais negativos, surgem com o entendimento mais amplo e irrestrito dos números. Não temos a ambição de chegar tão longe aqui. Nós nos restringiremos ao uso da reta, mas deixaremos algumas referências para aqueles que quiserem ir mais adiante. CONCEITO VOCÊ JÁ IMAGINOU COMO SERIA DIFÍCIL O SEU DIA, SE VOCÊ PERDESSE A NOÇÃO DE QUANTIDADE DAS COISAS? SE VOCÊ FOSSE UM CAMPONÊS, POR EXEMPLO, COMO FARIA PARA RELACIONAR O NÚMERO DE OVELHAS EM UM CERCADO, SEM SABER COMO CONTAR? Uma primeira estratégia para resolver este problema seria estabelecer uma correspondência um a um com o conjunto de referência. / Fonte: Madlen/Shutterstock Por exemplo: para cada ovelha que entrasse no cercado, você faria um nó em um pedaço de corda; ao final, a mesma quantidade de ovelhas no cercado seria a quantidade de nós em sua corda. Note, porém, que esta tarefa não envolve ainda o conceito de número, mas ela já era empregada por grupos humanos na Pré-história, segundo Tatiana Roque (2012), alguns séculos antes dos primeiros sistemas de escrita ou de numeração. Sendo assim, um número natural foi a marca dada (os nós) a todos os conjuntos de objetos (as ovelhas) que poderiam ser colocados em correspondência um a um entre si, isto é: a todos os conjuntos que têm a mesma quantidade de elementos. REFLITA O conceito de número natural é uma abstração que emerge da noção concreta de contagem. Acabamos de ver que o conceito de número natural é, de fato, um grande passo na abstração. Quando uma criança não entende de forma imediata que o mesmo número2 serve para registrar duas colheres ou duas garrafas ou duas camisas, é porque ela ainda não deu este passo abstrato. E é importante que percebamos isso, pois o entendimento de que o número 2 representa a quantidade de elementos de um conjunto que possua apenas dois objetos nele é uma abstração e tanto. Arrisco a dizer que você também nunca tinha parado para pensar sob essa perspectiva. SISTEMAS DE NÚMEROS NATURAIS Antes de entramos diretamente nas operações usuais com os números naturais, com os quais você muito provavelmente está familiarizado, queremos começar olhando para esse conjunto por outras perspectivas, algumas nada triviais. / Diversas civilizações desenvolveram sistemas de numeração semelhantes aos números naturais que conhecemos hoje. Veja a seguir o exemplo dos babilônicos: Fonte: Wikimedia. Numerais Babilônicos, Josell7, 2010. IMPORTANTE Esse sistema possui 60 algarismos, isto é, um sistema sexagesimal. Note que o número 1 é o primeiro elemento e a representação do zero não aparece. Já os maias possuíam 20 algarismos, como você pode ver abaixo: Fonte: Matematiques ATENÇÃO O sistema maia merece destaque, pois ele já contava com a representação do zero em sua concepção. Portanto, se considerarmos pela ótica maia, o zero é, de fato, representado como um número natural. EXEMPLO 1 / Vejamos como os maias e os babilônicos representavam o número 300. No sistema decimal, temos: Três centenas, zero dezenas e zero unidades; (3 × 100 + 0 × 10 + 0 × 100) No sistema babilônico seria: Cinco sexagenas e zero unidades (5 × 60 + 0 × 60 ^ 0) / No sistema maia: Quinze vintenas e zero unidades (15 × 20 + 0 × 20 ^0). Você pode encontrar, ainda hoje, sistemas não decimais. O exemplo mais simples são os relógios: cada 60 segundos correspondem a 1 minuto. Poderíamos citar diversas outras civilizações, como os romanos ou egípcios que também possuíram o seu conjunto de números naturais, mas os maias e babilônicos tiveram ainda uma característica, presente em nosso sistema decimal: seu sistema de numeração era posicional, isto é, o conjunto que apresentamos acima representa as suas unidades. UM SISTEMA POSICIONAL É EXTREMAMENTE VANTAJOSO, POIS PERMITE QUE, DADO UM NÚMERO QUALQUER, SEJA POSSÍVEL DETERMINAR O SEU SUCESSOR DE FORMA SIMPLES. E A IDEIA DE SUCESSOR É A BASE QUE NORTEIA O CONJUNTO DOS NÚMEROS NATURAIS. O sistema decimal que aprendemos na escola é composto de dez algarismos, a saber: {0,1,2,3,4,5,6,7,8,9}. Antes de continuarmos, que tal esclarecer uma das dúvidas mais comuns no campo da Matemática, mas que muitas pessoas ainda se confundem? VOCÊ SABE QUAL É A DIFERENÇA ENTRE NÚMERO, NUMERAL E ALGARISMO? / Fonte: Roman Samborskyi/Shutterstock Temos certeza de que você não se confundirá mais: O número relaciona-se sempre à quantidade! O numeral é a representação gráfica desse número. E algarismos são os símbolos de numeração utilizados nessa representação gráfica. Exemplo: O número vinte e nove (quantidade de dias do mês de fevereiro, nos anos bissextos) é representado pelo numeral 29, que é formado pelos algarismos 2 e 9. Podemos escrever qualquer número utilizando apenas estes símbolos. Vamos entender como se dá esse processo: 1 Suponhamos o número 423 (que identificaremos como 𝑎). 2 Poderemos dizer: 𝑎 ∈ ℕ (lemos “𝑎 pertence ao conjunto dos números naturais”) e é um número de 3 algarismos. 3 Assim: 𝑎 = 423 = 4 ⋅ 100 + 2 ⋅ 10 + 3. 4 No caso geral, isto significa que existe: 𝑎0,𝑎1 e 𝑎2∈ {0,1,2,3,4,5,6,7,8,9} tal que: 𝑎 = 𝑎2⋅ 100 + 𝑎1⋅ 10 + 𝑎 0. Em que 𝑎0 são as unidades, 𝑎1 são as dezenas e 𝑎2 são as centenas. O CONJUNTO DE NÚMEROS QUE GERA TODO O SISTEMA POSICIONAL É CHAMADO DE BASE. NO CASO, O SISTEMA DECIMAL TEM BASE 10, O SISTEMA MAIA BASE 20 E O SISTEMA BABILÔNICO BASE 60. O RACIOCÍNIO É O MESMO / PARA QUALQUER NÚMERO NATURAL, MAS A NOTAÇÃO NÃO É TÃO AGRADÁVEL. EXEMPLO 2 Fonte: Jurik Peter/Shutterstock Digamos que, em Marte, seus habitantes possuam apenas 3 dedos em cada mão, por isso, em sua evolução, desenvolveram um sistema numérico posicional que tinha apenas 6 algarismos, {0𝑚,1𝑚,2𝑚,3𝑚,4𝑚,5𝑚 }. Quem deve ser o correspondente ao número 6 do nosso sistema decimal no sistema marciano? Fonte: Jurik Peter/Shutterstock Solução: Qual o número que deve vir depois do número 5𝑚? Note que não temos o número 6 neste sistema. Desta forma, ocorre exatamente a mesma coisa quando queremos escrever o número que vem depois do 9 no nosso sistema decimal. Portanto é 10𝑚. Fonte: Jurik Peter/Shutterstock Agora, vamos dar um pouco mais de profundidade ao exemplo: E o número 100_m no sistema marciano, corresponderia a qual número em nosso sistema decimal? / Fonte: Jurik Peter/Shutterstock Solução: Existem diversas formas de dar esta resposta. Vamos optar pela mais explícita e tentar achar um padrão, exibindo quem é o correspondente de cada um dos números compostos por dois algarismos. Assim, ficará mais fácil de intuirmos quem será o próximo: Fonte: Jurik Peter/Shutterstock 0 𝑚 →0 10 𝑚 →6 20 𝑚 →12 ⋯ 50 𝑚 →30 1 𝑚 →1 11 𝑚 →7 21 𝑚 →13 ⋯ 51 𝑚 →31 2 𝑚 →2 12 𝑚 →8 22 𝑚 →14 ⋯ 52 𝑚 →32 3 𝑚 →3 13 𝑚 →9 23 𝑚 →15 ⋯ 53 𝑚 →33 4 𝑚 →4 14 𝑚 →10 24 𝑚 →16 ⋯ 54 𝑚 →34 5 𝑚 →5 15 𝑚 →11 25 𝑚 →17 ⋯ 55 𝑚 →35 Fonte: Jurik Peter/Shutterstock Podemos ver que, de uma coluna para outra, são acrescentadas 6 unidades. Com o raciocínio análogo ao que fizemos anteriormente, o número que vem depois do 99 no sistema decimal é o 100. No caso do sistema marciano, o 55_m faz este papel, portanto: 100_m→36 / Fonte: Jurik Peter/Shutterstock Mas, imagine que você tivesse que saber a qual número corresponde o 315𝑚. Seria mais complicado! Por isso, de modo geral, dado um número de três algarismos 𝑎𝑏𝑐𝑚 ∈ ℕ𝑚 no sistema numérico marciano, em que 𝑎,𝑏,𝑐 ∈{0𝑚,1𝑚,2𝑚,3𝑚,4𝑚,5𝑚 }, para transformá-lo em um número no nosso sistema numérico, basta fazer a conta: 𝑎⋅62+𝑏⋅6+𝑐. Fonte: Jurik Peter/Shutterstock Vejamos como fica o número que apresentamos no quadro anterior: 315 𝑚=3 ⋅ 62+ 1 ⋅ 6 + 5 ⋅ 60 = 108 + 6 + 5 = 119 SAIBA MAIS Existe uma série de nuances sobre o tema de sistemas e bases numéricas, para os que estiverem iniciando o seu caminho nos círculos da Matemática. Para o leitor interessado, recomendo Números Naturais, de Ripoll, Rangel & Giraldo, que faz uma extensa discussão sobre o tema, com foco no Ensino Básico. ATIVIDADE DE FIXAÇÃO CONSIDERE AS COMPARAÇÕES A SEGUIR, EM QUE O LADO DIREITO MOSTRA NÚMEROS NO SISTEMA DECIMAL E O LADO ESQUERDO NO SISTEMA MARCIANO. SELECIONE A ALTERNATIVA QUE VOCÊ CONSIDERA VERDADEIRA: A) 235𝑚 <90 / B) 200𝑚 <70 C) 537𝑚 >200 GABARITO Considere as comparações a seguir, em que o lado direito mostra números no sistema decimal e o lado esquerdo no sistema marciano. Selecione a alternativa que você considera verdadeira: A alternativa "C " está correta. Vamos passar os números do sistema marciano para o sistema decimal: 235𝑚=2⋅62+3⋅6+5=95>90, logo, a primeira sentença é falsa. 200𝑚=2⋅62=72>70, logo, a segunda sentença também é falsa. 5⋅62+3⋅6+7=205>200, logo, a terceira sentença é verdadeira. EXEMPLO 3 Fonte: IR Stone/ Shutterstock Pirâmide Maia de Kukulcan El Castilho ao pôr do sol. Determine o sucessor e o antecessor dos números abaixo, em caracteres maias: Fonte: Autor / O leitor pode pensar em cada box da esquerda para direita como dezenas e unidades, lembrando que cada bolinha vale uma unidade e cada traço vale cinco unidades. Fonte: Autor Este é o sucessor do número dado: É o antecessor do número proposto: Fonte: Autor O BIG BANG DOS NÚMEROS NATURAIS MAS, AFINAL, O QUE É UM NÚMERO NATURAL? Segundo Eave (1995), a busca sobre o entendimento dos números se originou primeiramente na Física, com relação a uma definição precisa do que é a reta numérica. A teoria dos conjuntos se mostrou um terreno fértil para tal construção. A PARTIR DAÍ, FOI NECESSÁRIO REAPRESENTAR O CONJUNTO NUMÉRICO MAIS CONHECIDO DO PLANETASOB UMA NOVA PERSPECTIVA. Deve-se a Giuseppe Peano a constatação de que se pode elaborar toda a teoria dos números naturais a partir de quatro fatos básicos, conhecidos atualmente como os Axiomas de Peano, publicado no seu livro Os princípios da Aritmética apresentados por um novo método. Segundo ele: javascript:void(0) / GIUSEPPE PEANO Foi o fundador da lógica simbólica e o centro de seus interesses foram os fundamentos da Matemática e o desenvolvimento de uma linguagem lógica formal. Em 1889, Peano publicou os seus axiomas famosos, chamados Axiomas de Peano, que definiram os números naturais em termos de conjuntos. Fonte: (SÓ MATEMÁTICA, 2020) Fonte: Wikipedia “O conjunto dos números naturais possui quatro propriedades fundamentais, das quais resultam, como consequência lógica, todas as afirmações verdadeiras que se podem fazer sobre esses números.” Giuseppe Peano (1858-1932) AXIOMAS DE PEANO Talvez você esteja se questionando: / Fonte: Sumkinn /Shutterstock RESPOSTA Os axiomas são afirmações ou proposições que não precisam ser provadas. Eles constituem-se como alicerces nos quais uma teoria é construída. Seja ℕ um conjunto de elementos, chamados números naturais, satisfazendo os seguintes axiomas: I Existe um número natural chamado de 1. Esta afirmação é o início de tudo: existe um conjunto que possui um elemento, o primeiro. Poderia ser o zero, mas, por uma questão de princípios, o autor definiu 1. II Existe uma função 𝑠:ℕ→ℕ tal que 𝑠 é injetiva (1-1), em que, para cada número natural 𝑎 ∈ ℕ, está associado o número natural 𝑠(𝑎) denominado sucessor de 𝑎. Este axioma garante que todo número deste conjunto possui um sucessor. Assim, dá um sentido de ordem aos números naturais. III Para todo 𝑎∈ℕ, 𝑠(𝑎)≠1 Este é o resultado que caracteriza que estamos no conjunto dos números naturais e não dos inteiros, pois ele diz que o primeiro elemento não é sucessor de ninguém, isto é, não existe ninguém neste conjunto que seja menos que ele. IV (Princípio de Indução) - Se 𝑆 é um subconjunto dos números naturais ℕ, tal que: a. 1 ∈ 𝑆 b. Se 𝑎 ∈ 𝑆 então 𝑠(𝑎) ∈ 𝑆 Então 𝑆 = ℕ / O PRINCÍPIO DE INDUÇÃO MATEMÁTICA ESTE PRINCÍPIO MERECE DESTAQUE, POIS É UMA FERRAMENTA PODEROSA PARA DEMONSTRAR A VALIDADE DE AFIRMAÇÕES SOBRE O CONJUNTO DOS NÚMEROS NATURAIS. A comparação ao Big Bang é inevitável, como a afirmação feita pelo professor Stephen Hawking : o universo surgiu por geração espontânea, do nada. Assim são os números naturais. Existe um conjunto com o número 1 e pronto! STEPHEN HAWKING (1942-2018) Foi um físico inglês que trabalhou nas leis básicas que governam o universo. Com Roger Penrose, ele mostrou que a teoria geral da relatividade de Einstein implicava que espaço e tempo teriam um começo no Big Bang e um fim nos buracos negros. Fonte: (HAWKING.ORG, 2020) Como teria dito um velho matemático alemão, Leopold Kronecker: Fonte: Sociedade Portuguesa de Matemática “Deus criou os números naturais, todo o mais foi criado pelo Homem” Leopold Kronecker(1823-1891). javascript:void(0) / Fonte: R-Type/Shutterstock Para que você se familiarize com o Princípio de Indução Matemática, pense em um conjunto de dominós enfileirados sobre uma mesa. Então, empurra-se uma das peças em qualquer posição. Ocorre, desse modo, um efeito em cadeia que derruba todas as restantes. Esse é um conceito formidável! Ele está presente em toda a Matemática de diversas formas. Vamos pensar em uma série de proposições: 𝑃1, 𝑃2,⋯ numeradas pelos números naturais. Suponha que podemos provar que: 𝑃𝐵= Alguma proposição da série é verdadeira. 𝑃I = A veracidade de cada proposição na série implicará a veracidade da próxima proposição. IMPORTANTE Note que isso implicará que provamos todas as proposições da série, a partir da primeira ser provada como verdade. Ou seja, provar a 𝑃𝐵 e depois 𝑃I, significa que podemos derrubar alguma peça da pilha de dominós, e cada peça ao cair vai derrubar a próxima, qualquer que seja a peça do dominó. Esta é uma descrição lúdica do Princípio de Indução Matemática: 𝑃𝐵 é chamado de passo básico e 𝑃I de passo indutivo. Este processo pode ser pensado visivelmente, como uma onda de demonstrações indo de afirmação em afirmação e formando uma cadeia de teoremas. 𝑃1→𝑃2→⋯→𝑃𝑛→𝑃𝑛+1→⋯. PSICOLOGICAMENTE, A NATUREZA INTRÍNSECA DA INDUÇÃO ESTÁ EM SEU PROCESSO. COMO APRENDER ISSO? BEM, UM IMPORTANTE PROCESSO PARA / AMADURECER O PENSAMENTO LÓGICO INDUTIVO É PERCEBER ATRAVÉS DE EXEMPLOS E CASOS PARTICULARES QUE DETERMINADOS FENÔMENOS DEVEM OCORRER SEMPRE. Este pensamento ingênuo cria um vácuo de oportunidade. A pergunta é, então: O que significa ocorrer sempre? PLANO PARA RESOLVER PROBLEMAS UTILIZANDO A INDUÇÃO MATEMÁTICA A partir do exemplo assistido no vídeo, podemos definir alguns passos para resolver problemas matemáticos através da indução. Lembre-se de que ainda estamos falando da contribuição de Peano para essa área do conhecimento, no caso, seu Axioma IV. IMPORTANTE A indução, como forma de raciocínio lógico, já era conhecida na Antiguidade Clássica, a partir das obras aristotélicas, especialmente no Órganon. . ÓRGANON Conjuntos de obras que apresentam a Lógica como um instrumento da Filosofia. Então, vamos a esses passos: javascript:void(0) / Encontre no enunciado do problema uma série de proposições semelhantes. Se elas estiverem escondidas, devemos explicitá-las e reformular o problema. Se não existir uma cadeia explícita, devemos construi-la, a fim de que o problema se torne parte dela. Prove o passo básico. Prove que qualquer que seja o número natural 𝑛, a veracidade da 𝑛-ésima proposição implica a veracidade da (𝑛+1)- ésima proposição que é o passo indutivo. Uma vez provado o passo básico e o indutivo, todas as sentenças estão provadas simultaneamente. A partir daí, é possível chegar a qualquer uma delas, partindo da base passo a passo. VAMOS ENTENDER ISSO DE FORMA PRÁTICA? EXEMPLO 5A / Seja 𝑛 ∈ ℕ Mostre que a igualdade , é verdadeira. PASSO BÁSICO Consiste em considerar a sentença, no caso 𝑛=1. Desta forma, basta verificarmos que o lado direito é igual ao lado esquerdo, de fato, pois, Apesar de não ser necessário, vamos verificar que quando 𝑛=2, também é verdadeiro. 1+2=3, e HIPÓTESE DE INDUÇÃO Vamos estabelecer a hipótese de indução, isto é, vamos supor que a igualdade é verdadeira, até um valor 𝑛0 fixado, assim: PASSO INDUTIVO Queremos provar que De fato, pois ó çã ã Daí ê Obtivemos, então, exatamente a sentença que desejamos. Provamos, assim, que a igualdade proposta no exemplo é verdadeira. / EXEMPLO 5B Seja 𝑛∈ℕ, considere a soma dos 𝑛 primeiros números ímpares: Complete a tabela: 𝑛 1 +3 + ⋯ + ( 2𝑛 − 1) Resultado da soma 𝑛2 1 1 1 12 2 1 + 3 4 22 3 1 + 3 + 5 9 32 4 1 + 3 + 5 + 7 16 5 1 + __ + 5 + 7 + 9 25 52 ⋮ ⋮ ⋮ 1 + 3 + ⋯ + 199 SOLUÇÃO O que temos que observar é que 199=2𝑛−1, logo 2𝑛=200, 𝑛=100. Portanto, 𝑛2=1002. Sobre o valor da soma, não provamos que 1+3+⋯+(2𝑛−1)=𝑛2 , mas a tabela nos induz a acreditar que de fato isto ocorra, assim, o valor da soma é 10.000. Deixaremos essa prova a seu cargo. Não se preocupe se você ainda não entendeu direito como se usa a indução, você terá tempo. javascript:void(0) / SURGIMENTO DOS NÚMEROS INTEIROS ℤ E COMPLEXOS ℂ Os números Inteiros são geralmente abordados em um primeiro curso de Álgebra e não temos aqui o intuito de explorá-lo. Assumiremos que você tem familiaridade com as operações de adição, subtração, multiplicação e divisão de números inteiros, bem como o Teorema Fundamental da Aritmética (Fatoração) e as desigualdades no Conjunto de Números Inteiros (ℤ). SAIBA MAIS Caso queira rever ou se aprofundar, recomendamos: — Algebra, de S. M. Birkhoff (um clássico). — Para uma abordagem mais formal, de Milies e Coelho. — Para uma abordagem mais informal, de Courant e Robbins. O conjunto dos números inteiros possui diversas histórias e personagens fascinantes. Recomendamoso livro O Último Teorema de Fermat, de Simon Singh (2014), para você conhecer mais o universo dos números inteiros. Alguns matemáticos se destacam quando falamos a respeito da história dos números. Veja a seguir quais são eles: Fonte: Wikipedia LEONHARD EULER No século XVIII, apresentou-se uma intensa atividade em torno dos números imaginários. Leonhard Euler afirmava que qualquer operação usual entre números imaginários nos daria novamente um número da forma , em que 𝑚 e 𝑛 eram números reais. Segundo Ripoll, Rangel e Giraldo (2016), apesar de toleradas as quantidades complexas e negativas, elas não possuíam uma representação rigorosa. Somente no início do século XIX surgem as primeiras representações geométricas dos números negativos e complexos. JEAN ROBERT ARGAND javascript:void(0) / A primeira abordagem geométrica para os números negativos é devida a Jean Robert Argand em 1813-1814. Ele introduz a noção de quantidades absolutas e orientação, dando a interpretação geométrica de que multiplicar por (−1) é a reflexão em relação à origem, fazendo então com que (−1)⋅(−1) torne-se naturalmente (+1). Isto poderia ser assim representado: Fonte: autor Fonte: Lovers of Math Fonte: Wikipedia CARL FRIEDRICH GAUSS Argand fez um trabalho muito bom, porém ele era um matemático amador (profissionalmente, era livreiro). Apenas em 1831, quando Carl Friedrich Gauss publicou o que chamou de Manifesto das grandezas imaginárias, os números complexos e negativos ganharam de vez o seu lugar na Aritmética, sobre os quais era possível realizar cálculos de modo consistente. LEONHARD EULER (1707-1783) Foi o matemático mais prolífico na história. Os 866 livros e artigos dele representam aproximadamente um terço do corpo inteiro de pesquisa em Matemática, teorias físicas e Engenharia Mecânica publicadas entre 1726 e 1800. Em Matemática pura, ele integrou o cálculo diferencial de Leibniz e o método de Newton em Análise Matemática. javascript:void(0) javascript:void(0) / Fonte: (SÓ MATEMÁTICA, 2020) JEAN ROBERT ARGAND (1768-1822) Argand ficou famoso pela sua interpretação geométrica dos números complexos. Ele apresentou, ainda, uma prova para o Teorema Fundamental da Álgebra, sendo, possivelmente, o primeiro a trabalhar com o teorema no caso em que os coeficientes são números complexos. Fonte: (EDUC, 2000) CARL FRIEDRICH GAUSS (1777-1855) Matemático, astrônomo e físico alemão, criador da Geometria Diferencial, a ele se devem importantíssimos estudos de Matemática, Física, Geometria e Astronomia. Entre outras coisas, inventou o telégrafo e definiu o conceito de números complexos. Fonte: (UC, 2020) SAIBA MAIS Se você quiser saber um pouco mais sobre essa história, leia Historia da Matemática — Uma visão crítica desfazendo mitos e lendas, de Tatiana Roque, e Números Racionais, Reais e Complexos, de Jaime Ripoll et al. VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. CONSIDERE O NÚMERO NA REPRESENTAÇÃO MAIA: / FONTE-AUTOR CLASS= LEMBRE-SE DE CADA BOX DA ESQUERDA PARA DIREITA COMO CENTENAS, DEZENAS E UNIDADES, E QUE CADA BOLINHA VALE UMA UNIDADE E CADA TRAÇO VALE CINCO UNIDADES. DETERMINE O ANTECESSOR E O SUCESSOR DO NÚMERO ACIMA, EM CARACTERES MAIAS: A) Fonte-Autor A) B) Fonte-Autor B) C) Fonte-Autor / C) D) Fonte-Autor D) 2. SEJA 𝒏 ∈ ℕ. CONSIDERE A SOMA: 1 + 2 + 4 + 8 + ⋯ + 2𝑛−1+2𝑛. A PARTIR DA TABELA, RESPONDA: 𝑛 1 + 2 + 4 + ⋯ + 2𝑛 RESULTADO DA SOMA 2𝑛+1 VALOR DE 2𝑛+1 0 1 1 21 2 1 1 + 2 3 22 4 2 1 + 2 + 4 7 23 8 3 1 + 2 + 4 + 8 15 24 16 4 1 + 2 + 4 + 8 + 16 31 25 32 DE ACORDO COM O QUE OBSERVAMOS NA TABELA, QUAL DEVE SER O VALOR ESTIMADO PARA A SOMA EM QUESTÃO COM 100 TERMOS? A) 10000 B) 2100 C) 2100-1 D) X2101-1 GABARITO 1. Considere o número na representação maia: / Fonte-Autor class= Lembre-se de cada box da esquerda para direita como centenas, dezenas e unidades, e que cada bolinha vale uma unidade e cada traço vale cinco unidades. Determine o antecessor e o sucessor do número acima, em caracteres maias: A alternativa "D " está correta. Podemos perceber que os números maias, apesar de estarem na base 20, isto é, com seus algarismos representados por números que vão de zero a dezenove, possuem uma subclassificação: O sucessor de quatro bolinhas enfileiradas é uma barra horizontal. O sucessor de uma barra é uma barra com uma bolinha em cima dela. Fonte-Shutterstock A regra vale até três barras enfileiradas. Devemos estar atentos ao fato de que o mesmo se aplica aos antecessores. Como estamos falando de sucessores e antecessores no exercício, basta que observemos a casa das unidades, que é a ultima casa, olhando da esquerda para a direita. Desta forma, podemos perceber que temos três barras. O sucessor de três barras, pela lógica apresentada, deve ser o box com três barras com uma bolinha em cima. O antecessor de três barras é o número duas barras com quatro bolinhas em cima. Desta forma, a resposta fica: / Fonte-Shutterstock 2. Seja 𝒏 ∈ ℕ. Considere a soma: 1 + 2 + 4 + 8 + ⋯ + 2𝑛−1+2𝑛. A partir da tabela, responda: 𝑛 1 + 2 + 4 + ⋯ + 2𝑛 Resultado da soma 2𝑛+1 Valor de 2𝑛+1 0 1 1 21 2 1 1 + 2 3 22 4 2 1 + 2 + 4 7 23 8 3 1 + 2 + 4 + 8 15 24 16 4 1 + 2 + 4 + 8 + 16 31 25 32 De acordo com o que observamos na tabela, qual deve ser o valor estimado para a soma em questão com 100 termos? A alternativa "D " está correta. A pergunta foi simples: no caso, queremos saber apenas a expressão do resultado dos 100 primeiros termos da soma proposta. A tabela nos faz acreditar que o resultado da soma será 2𝑛+1−1. Note que isso é o que a tabela está nos induzindo, assim, a resposta correta é a letra D. Vamos provar o caso geral. Poderíamos provar por indução que tal sentença é verdadeira para todo número natural 𝑛. Entretanto, preferimos outra abordagem, mais simples. Digamos que o valor desta soma seja 𝑥, então 𝑥 = 1 + 2 + 4 + 8 + ⋯ + 2 𝑛 - 1 + 2 𝑛. E multiplicando por 2 ambos os lados, temos 2𝑥 = 2 + 4 + 8 + ⋯ + 2 𝑛 + 2 𝑛+1 2𝑥 − 𝑥 = 𝑥 = 2 𝑛+1 −1 / Relacionar a criação dos números racionais e reais positivos à necessidade de realização de medidas e manipulação das operações matemáticas básicas INTRODUÇÃO Os números naturais e inteiros advêm do processo da contagem, tanto para acrescentar ou retirar. Contudo, na vida diária sempre se precisou medir quantidades, tais como comprimentos, áreas, pesos e tempo. Desejamos operar livremente as grandezas dessas quantidades. Para tal, devemos expandir o domínio de nossa Aritmética para além dos números inteiros. A pergunta que gostaríamos de responder inicialmente é: DADOS 𝑎, 𝑏 ∈ ℤ, QUEM DEVE SER 𝑥 TAL QUE 𝑎⋅𝑥=𝑏? No contexto dos números naturais, essa pergunta é tratada como um problema geométrico, com aparições desde o século V a.C. O valor de 𝑥 era denominado terceira proporcional, assim concluímos que o manuseio dos números racionais é muito anterior ao dos números inteiros. A MEDIDA E OS NÚMEROS RACIONAIS A medida dá origem aos números racionais positivos quando desejamos comparar grandezas de mesma espécie. Necessitamos estabelecer uma unidade, uma grandeza 𝑢 fixada como referência, com a qual outras grandezas de mesma espécie são comparadas. ESTE PENSAMENTO NOS LEVA A UMA IDEIA INCOMPLETA, MAS INTUITIVA: MEDIR = DETERMINAR QUANTAS VEZES A / UNIDADE OU ALGUMA SUBDIVISÃO DELA CABE NA GRANDEZA A SER MEDIDA (ESSE PENSAMENTO NÃO É ERRADO, APENAS INCOMPLETO). Se estabelecermos um comprimento qualquer 𝑙, e tomarmos um quadrado exatamente com essa medida de lado, então, independentemente da unidade escolhida, com base em alguma subdivisão em partes iguais do lado do quadrado, nunca iremos conseguir dois números naturais, tal que a diagonal do quadrado e o lado do quadrado sejam múltiplos inteiros desta unidade. Fonte: autor NUNCA IREMOS CONSEGUIR DOIS NÚMEROS NATURAIS Não se preocupe com essa afirmação! Você a entenderá perfeitamente, ainda neste módulo! ENTENDIMENTO GEOMÉTRICO DOSNÚMEROS RACIONAIS Passamos agora ao entendimento geométrico dos números racionais. Fixada uma grandeza 𝑎 e uma unidade 𝑢, tal que ela não possa ser colocada um número inteiro de vezes na grandeza 𝑎 a ser comparada, contudo suponha que possamos subdividir a unidade 𝑢 em uma quantidade 𝑞, obtendo, então, uma nova unidade , menor que 𝑢 tal que a qual passa, então, a caber uma quantidade inteira 𝑝 de vezes na grandeza 𝑎, assim com isto, temos: ã ATENÇÃO javascript:void(0) / Dizemos neste caso que um número racional é a medida de uma grandeza 𝑎, em que 𝑝,𝑞 ∈ ℕ. Desta forma, vemos que os números racionais positivos surgem de modo natural do conjunto ℕ. Voltaremos a esta discussão na próxima seção. Parece confuso? Tranquilize-se! Com o exemplo, tudo ficará bem mais claro! EXEMPLO 1 Sejam 𝑢 a unidade, û, uma subdivisão da unidade 𝑢 e 𝑎 uma grandeza da mesma espécie de 𝑢, que se relacionam segundo a imagem a seguir: Fonte: autor Vemos claramente que 𝑢=8⋅û e 𝑎=5⋅û . Desta forma, podemos expressar 𝑎 em termos da unidade, pois: û û Então: Logo, a medida de 𝑎 é / A CONCEPÇÃO MODERNA DOS NÚMEROS RACIONAIS O tópico anterior apresentou de forma geométrica o surgimento dos números racionais, a partir de ter fixado uma unidade como referência. De fato, uma excelente forma de se compreender esse conteúdo ou mesmo apresentá-lo a quem gostaria de aprender Matemática. Mas, seguindo a mesma percepção que tivemos com os Axiomas de Peano, podemos conceber a criação dos números racionais a partir do que já sabemos sobre números inteiros. Perceba que continuamos no campo do conjunto das frações, mas com um olhar levemente diferente. DESSA FORMA, QUE OBJETO DA TEORIA DOS CONJUNTOS PODE NOS AJUDAR A DESCONSTRUIR O CONCEITO , COM 𝒑,𝒒 ∈ ℤ E 𝒒≠𝟎? Pode não parecer tão imediato em um primeiro momento, mas podemos traçar uma relação entre frações e pares ordenados, por exemplo: Assim, podemos olhar uma fração como um par ordenado. Logo, o conjunto que dá origem aos racionais do ponto de vista da lógica matemática é ℤ × ℤ∗, em que ℤ∗= ℤ ∖ { 0 }. A figura a seguir ilustra de forma geométrica como devemos imaginar os números racionais: Fonte: autor / No entanto, temos algumas arestas a serem aparadas. Por exemplo, os pares ordenados (4, 5) e (12, 15) são diferentes, já as frações são as mesmas. Para resolver este problema, você deve lembrar que duas frações são iguais ou equivalentes quando 𝑎 ⋅ 𝑑 = 𝑐 ⋅ 𝑑. DICA Assim, utilizando as ideias já existentes, podemos definir uma relação de equivalência. SEJAM (𝒂,𝒃),(𝒄,𝒅) ∈ ℤ × ℤ ∗, DIREMOS QUE (𝒂,𝒃) É EQUIVALENTE A (𝒄,𝒅) QUANDO 𝒂⋅𝒅=𝒄⋅𝒅. Em linguagem matemática, escrevemos (𝑎 , 𝑏) ≅ (𝑐 ,𝑑). Definimos, então, um número racional como sendo o conjunto de todos os pares ordenados (𝑎, 𝑏) ∈ ℤ × ℤ ∗, tal que (𝑎 , 𝑏) ≅(𝑝, 𝑞). IMPORTANTE Note que fixado 𝑛 ∈ ℤ, o par (𝑝, 𝑞) é equivalente a (𝑝 ⋅ 𝑛, 𝑞 ⋅ 𝑛), pois 𝑝⋅(𝑞 ⋅ 𝑛) = 𝑞 ⋅ ( 𝑝 ⋅ 𝑛), assim, podemos dizer sem perda de generalidade que os conjuntos , São iguais. Nesse sentido, podemos perceber que tanto faz escrevermos , o número independe do representante do conjunto. Outra forma de percebermos isso é entender que também podemos escrever 1/2 ou 2/4, pois indicam a mesma quantidade representada. Imagine que você divida uma maçã em duas partes iguais e coma uma das partes (1/2). Não seria a mesma situação se você a dividisse em quatro partes iguais, e comesse duas destas partes (2/4)? / Fonte: Nataly Studio/Shutterstock DEFINIÇÃO: DADO UM NÚMERO RACIONAL ∈ ℚ, DIREMOS QUE É IRREDUTÍVEL SE O ÚNICO DIVISOR NATURAL COMUM DE 𝒑 E 𝒒 FOR O NÚMERO 1. EXEMPLO 2 Considere os números: . Diga se eles são ou não irredutíveis. Vejamos: como foi relatado, esperamos que você tenha alguma familiaridade com as operações básicas. Para resolver este problema, recomendamos o uso de uma tabela, onde nós vamos colocar os divisores do numerador em uma linha e os divisores do denominador em outra. Se apenas o 1 aparecer nas duas tabelas, simultaneamente, então a fração será irredutível. Esse pode não ser o método mais rápido, mas é o mais simples. 49 1,7,49 21 1,3,7,21 / Percebemos neste caso que o 1 e o 7 aparecem como divisores de ambos os números, no caso 49 e 21. Desta forma, temos que a fração é redutível. Apesar de ser redutível, note que existe um representante irredutível para esta fração, pois e neste caso é irredutível. 9 1,3,9 14 1,2,7,14 Percebemos neste caso que apenas o número 1 ocorre como divisor em ambas as tabelas, por isso, temos pela definição que é irredutível. ATENÇÃO Obs. 1: Dada uma fração ∈ ℚ, sempre existe um representante, (𝑝,𝑞)∈ , tal que é irredutível. Obs. 2: Entendemos perfeitamente o que você deve estar pensando, “Mas, como assim? Um número racional é um conjunto?”. Sim, um número racional é um conjunto, mas se você pensar bem, ele já era um conjunto, pois se fixarmos, por exemplo, (2,3)∈ ℤ×ℤ∗, o que é este número? Pela nossa definição , que é o mesmo número que: , para quaisquer 𝑛 ∈ ℤ. Sendo assim, as frações equivalentes que vemos no Ensino Fundamental apresentam o conceito de classes de equivalência, mas sem fazer alarde. ATIVIDADE DE FIXAÇÃO QUAL DAS SENTENÇAS A SEGUIR É O REPRESENTANTE IRREDUTÍVEL DA FRAÇÃO 432180 ? A) 21690 B) 10845 C) 7230 D) 125 / GABARITO Qual das sentenças a seguir é o representante irredutível da fração 432180 ? A alternativa "D " está correta. O que estamos pedindo aqui é que você simplifique a fração até que isso não possa mais ser feito. De forma geral, temos: 432180=2⋅2162⋅90=2⋅2⋅1082⋅2⋅45=4⋅3⋅364⋅3⋅15=12⋅3⋅1212⋅3⋅5=125 Portanto, a resposta correta é a letra d). INTERPRETAÇÃO GEOMÉTRICA Para que possamos nos aprofundar ainda mais nessa concepção moderna dos números racionais, devemos ter em mente que uma interpretação geométrica está no entendimento das soluções das equações 𝑞⋅𝑥=𝑝, com 𝑝,𝑞 ∈ ℤ e 𝑞≠0. Observemos isto graficamente: Fonte: autor Você pode notar que todos os pontos pretos que estão sobre uma mesma reta na figura, pertencem ao mesmo conjunto. Sob a luz desta perspectiva, podemos pensar sobre esta nova representação no sentido das inclusões ℕ⊂ℤ⊂ℚ, como segue na próxima figura: / Fonte: autor O conjunto dos números naturais está representado pelos pontos amarelos, o conjunto dos números inteiros são os pontos amarelos e os verdes e, por fim, o conjunto dos números racionais são os pontos de cor amarela, verde e azul. RELAÇÕES DE EQUIVALÊNCIA Você sabe o que significa uma relação de equivalência? Uma relação de equivalência em ℤ×ℤ* é um objeto matemático que satisfaz as 3 propriedades a seguir: 1 - REFLEXIVA (𝑝,𝑞)≅(𝑝,𝑞) 2 - SIMÉTRICA (𝑝,𝑞) ≅ (𝑥,𝑦)⇒ (𝑥,𝑦) ≅ (𝑝,𝑞) 3 - TRANSITIVA (𝑝,𝑞) ≅ (𝑥,𝑦) e (𝑥,𝑦) ≅ (𝑎,𝑏) ⇒ (𝑝,𝑞) ≅ (𝑎,𝑏) Para que o aluno possa entender melhor as relações de equivalência, vamos pensar sobre a relação de amizade, em sentido amplo. Fonte: Rawpixel.com/ Shutterstock - A reflexividade nos diz que uma pessoa é amiga de si mesma. - A simétrica nos apresenta que a relação de amizade é mútua: se eu sou seu amigo, então você também é meu amigo. / - Por fim, a transitiva diz que se um amigo seu tiver um amigo, essa pessoa é imediatamente sua amiga também. É claro que isto é apenas um contexto lúdico, mas espero que você tenha entendido a ideia das relações de equivalência. ATENÇÃO É muito importante que você perceba que estamos aqui apenas apresentando as ideias básicas acerca deste mundo tão fantástico da Matemática. Portanto, há muito a se aprender, muito a ser aprofundado. As relações de equivalência são, de modo geral, um conceito extremamente abstrato. Frações equivalentes são apenas um exemplo que apresenta de forma simples o conceito, especialmente para os principiantes nesse vasto universo matemático. Saiba, portanto, que este tema escala em âmbito de generalidade e abstração que só pode ser de fatoentendido quando se ganha experiência e maturidade matemática, e como toda maturidade, só se adquire com o tempo. ATIVIDADE DE FIXAÇÃO SEJAM PQ ∈ ℚ UMA FRAÇÃO. QUAL DAS SENTENÇAS ABAIXO É VERDADEIRA? DICA: PARA MOSTRAR QUE ALGO É FALSO, BASTA EXIBIR UM CASO EM QUE A SENTENÇA SEJA FALSA. ASSIM, TENTE VERIFICAR QUE EXISTEM 4 AFIRMAÇÕES FALSAS. A QUE SOBRAR SERÁ A VERDADEIRA. A) pq é irredutível. B) Se 𝑝 é par e pq é redutível, então 𝑞 é par C) Se p2q2 é irredutível, então pq é irredutível. D) Se 𝑝 é ímpar e pq é irredutível, então 𝑞 é par. GABARITO / Sejam pq ∈ ℚ uma fração. Qual das sentenças abaixo é verdadeira? DICA: Para mostrar que algo é falso, basta exibir um caso em que a sentença seja falsa. Assim, tente verificar que existem 4 afirmações falsas. A que sobrar será a verdadeira. Parabéns! A alternativa “C” está correta. Vamos por eliminação: a) É falsa, pois, se escolhermos pq=24, esta fração é redutível. b) É falsa, pois se escolhermos pq=69, temos que 𝑝=6 é par, ela é redutível, mas 𝑞=9 é ímpar. c) É verdadeira, mas vamos verificar que as outras são falsas, que é bem mais simples. d) É falsa, pois, se escolhermos pq=35, temos que 𝑝=3 é ímpar, ela é irredutível, mas 𝑞=5 é ímpar. ALGUMAS OPERAÇÕES EM ℚ Apesar das ideias abstratas, a medida ainda é o que nos guia na hora de definir as operações com frações. A seguir, uma breve síntese das operações de soma e divisão de frações com objetivo de darmos sentido a essas operações. SOMA Primeiro, devemos lembrar que, para executar a soma, as grandezas devem ser colocadas sob a mesma unidade ou subunidade. Por exemplo: Pensando em segmentos, o que temos aqui são duas barras de mesmo material e mesmo tamanho, em que a primeira barra está dividida em 3 partes e usamos uma, e a segunda está dividida em 5 partes e usamos 3. O ponto é que em cada barra estão sendo utilizadas unidades diferentes. O que devemos fazer é colocar as barras sob a mesma subunidade. Como? BARRA 1 A barra 1 está dividida em 3 partes. Dividindo cada uma delas em 5 partes, vamos obter 15 partes no total. Mas, se usamos uma das 3 partes na unidade anterior, agora vamos utilizar 5 partes com a nova unidade, pois sabemos que BARRA 2 A barra 2 está dividida em 5 partes. Dividindo cada uma delas em 3 partes, vamos obter 15 partes no total. Mas, se usamos três das 5 partes na unidade anterior, agora vamos utilizar 9 partes com a nova unidade, pois sabemos que assim: / De forma geral: Definição: Dados ∈ ℚ tem-se Esta pode não ser exatamente a forma como você aprendeu a somar frações na infância, mas, no fim, é a mesma coisa. Estamos evitando usar termos como MMC (Mínimo Múltiplo Comum) ou MDC (Máximo Divisor Comum). Lembra-se deles? ATIVIDADE DE FIXAÇÃO GASTEI 39 DO MEU SALÁRIO COM ALIMENTAÇÃO E 25 COM AS DEMAIS DESPESAS. O QUE SOBROU FOI APLICADO EM UM INVESTIMENTO DE RENDA FIXA. QUAL FRAÇÃO DO MEU SALÁRIO FOI COLOCADA NO INVESTIMENTO? A) 3345. B) 514 C) 415 D) 914 GABARITO Gastei 39 do meu salário com alimentação e 25 com as demais despesas. O que sobrou foi aplicado em um investimento de renda fixa. Qual fração do meu salário foi colocada no investimento? Parabéns! A alternativa “C” está correta. A conta é simples. O que foi gasto corresponde a 3 9+ 2 5=15+1845=3345. Esta é a parte que foi gasta. Como queremos o que foi investido, então: 3345−4545=1245 A resposta poderia ser esta, sem problemas, mas ela não está na múltipla escolha, note que 1245=415 DIVISÃO Lembre-se de que uma divisão já é uma fração, assim, a divisão de frações pode ser pensada da seguinte forma: . / Segundo o mesmo princípio das frações equivalentes, isto é, quando multiplicamos o numerador (a parte de cima da fração) e o denominador (a parte de baixo da fração) pelo mesmo valor, continuamos a ter a mesma fração. Assim: . De forma geral: Definição: Dados ∈ ℚ com 𝑚≠0, tem-se RELEMBRANDO Provavelmente, você tenha se lembrado da famosa regra: Mantenha o primeiro e multiplique pelo inverso do segundo. EXEMPLO 3 Uma geladeira foi comprada de maneira que do valor foram pagos à vista. O restante do valor deve ser pago em 10 prestações iguais. Qual a fração, em relação ao total, de cada parcela? SOLUÇÃO A ideia é simples: ficaram faltando do valor da geladeira, e esta quantia foi dividida em 10 parcelas fixas. Logo, o montante de cada parcela vai corresponder a . OS INCOMENSURÁVEIS E O SURGIMENTO DOS NÚMEROS REAIS Segundo Eave (1995), os pitagóricos acreditavam que os números eram a essência do universo e da sociedade secreta grega. Sob a concepção moderna, um número para os pitagóricos correspondia aos números racionais positivos. javascript:void(0) javascript:void(0) / Devemos ter o cuidado de localizar os próximos eventos, narrados há aproximadamente 500 a.C., porque não há como ter precisão histórica em relação ao que vamos contar, mas a reflexão vale muito a pena! O problema se inicia com um fato guardado a sete chaves pelos pitagóricos: PITAGÓRICOS Pitágoras (570 a.C. - 495 a.C.) foi um filósofo e matemático grego, creditado como fundador do pitagorismo. A DIAGONAL DE UM QUADRADO É INCOMENSURÁVEL COM SEUS LADOS. O QUE ISSO SIGNIFICA? Segundo o Teorema de Pitágoras, deve-se ter que: Se 𝑥 é a diagonal de um quadrado de lado 𝑙, então 𝑥 deve ser a solução da equação 𝑥2=𝑙2+𝑙2, portanto 𝑥2=2𝑙2. Assim, se estabelecermos um comprimento qualquer, e tomarmos um quadrado exatamente com essa medida de lado, independentemente da unidade escolhida, com base em alguma subdivisão em partes iguais do lado do quadrado, nunca iremos conseguir dois números naturais, tal que a diagonal do quadrado e o lado do quadrado sejam múltiplos inteiros desta unidade. Fonte: Autor De acordo com Eave (1995), toda a teoria da proporção pitagórica e das figuras semelhantes era baseada nesse pressuposto óbvio. Assim, grande parte da Geometria pitagórica foi subitamente invalidada. CURIOSIDADE A lenda conta que Hipaso de Metaponto, um seguidor de Pitágoras, foi misteriosamente naufragado após ter exposto esse segredo. / Outra relação que ilustra a incomensurabilidade entre grandezas é a comparação entre o diâmetro 𝐷 e o perímetro 𝐶 de um círculo que gera o famoso número 𝜋, em que Fonte: autor Neste caso, a prova que tais grandezas são incomensuráveis é bem mais difícil e sofisticada. A primeira prova foi dada apenas em 1770, por Johann Lambert. Uma prova simplificada para este fato pode ser encontrada em Niven (1947) ou com maiores detalhes em Spivak (1970). Decorre da existência de grandezas incomensuráveis a necessidade de se expandir o conjunto dos números racionais. OS NÚMEROS REAIS FORAM UM CAPÍTULO E TANTO NO DESENVOLVIMENTO DO PENSAMENTO MATEMÁTICO E SOMENTE COMPLETAMENTE ENTENDIDOS PELA COMUNIDADE MATEMÁTICA NA SEGUNDA METADE DO SÉCULO XIX. Como já falamos, haverá sempre um mundo a se mergulhar no âmbito da Matemática! As atividades a seguir ilustram um pouco da dificuldade que se pode encontrar quando trabalhamos com frações. EXEMPLO 4 Adaptada da OBMEP Um ônibus transporta 31 estudantes da Estácio, baianos e mineiros, para um encontro nacional de educação. Entre os baianos, são homens e, entre os mineiros, são mulheres. Entre todos os estudantes, quantas são as mulheres? SOLUÇÃO javascript:void(0) / Esta questão é delicada, mas muito bonita também. Aqui, fica nítido que não conhecemos as unidades do problema e que eles se encontram em unidades distintas, assim, se simplesmente fizermos a soma das frações, isso não irá nos dar uma resposta adequada. Neste problema, temos duas unidades, representadas em baianos e mineiros. Porém, o problema deixa algumas coisas claras: Baianos + Mineiros = 31. A quantidade de mineiros como unidade, é divisível por 7, pois são mulheres. A quantidade de baianos como unidade é divisível por 5, pois são homens. VAMOS FAZER UMA TABELA: Múltiplos de 7 Número cuja soma é 31 7 24 14 17 21 10 28 3 Vemos claramente