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Universidade Federal Fluminense (UFF) Aluno: Paulo Vinícius Silva Machado - Matrícula: 19213110145 Polo: Belford Roxo Curso: Administração Pública Disciplina: Filosofia e ética Atividade 9 1. Quais as críticas de Weber e de Schumpeter às doutrinas clássicas da democracia? Explique-as. Max Weber e Joseph Schumpeter, dois grandes autores da corrente democrática, visaram que “a participação democrática e o ideal da soberania popular deram lugar aos mecanismos institucionais formais e a processos de concorrência pelo poder” (WEBER; SHUMPETER. 2005, p.3). A partir de então, a realidade democrática está longe dos moldes das doutrinas clássicas, onde atualmente a política moderna está associada a sociedades complexas e pluralistas. Para eles, a manutenção do sistema político, periodicamente, é justificado sob as condições de um mundo racionalizado, aos quais fomentam o princípio da liberdade de escolha. Além disso, na realidade contemporânea, os processos políticos vão em desencontro com a soberania popular. Weber critica o sistema político, ao qual se diz que é considerada a “única fonte de direito à violência.” (WEBER. 2005, p.4). Para ele, a política está profissionalizada, onde as pessoas que administram o Estado são políticos profissionais que trabalham em prol da centralização do poder (o que consequentemente, distancia o conceito de democracia). Já Schumpeter, reforça aquilo dito por Weber sobre as sociedades complexas e pluralistas. Ele enfatiza as duas grandes ficções da clássica doutrina democrática: A do “bem comum”; e a vontade comum, onde está ensejado também a vontade de “indivíduos racionais”. A primeira diz respeito ao conceito de democracia, que serviria na realização dos interesses e valores do povo. A segunda, está ligada à questão da sociedade somente ter indivíduos capazes de conduzir e justificar suas ações de modo autônomo e racional. O que para o autor, essas duas hipóteses da doutrina clássica, não passam de ilusão, ao qual, principalmente a segunda ficção, foi comprovada que o povo não é totalmente racional, onde pode facilmente ser manipulado a pensar de acordo com os interesses daqueles que os controlam, como as propagandas, etc. O que entra em contradição o conceito de democracia. Portanto, para ambos autores, as doutrinas clássicas contradizem a realidade política contemporânea, ao qual se veem em uma total distorção do conceito ideal de democracia. Onde a elite domina a administração do estado, ao qual se dá o conceito de “elitismo democrático”, que enxuga o pluralismo, que trabalham em prol dos interesses da própria elite e não do povo, como deveria ser. 2. O que propõe Downs em “Uma Teoria econômica da democracia”? A Teoria econômica da democracia de Anthony Downs, teve como perspectiva responder ao dilema de Joseph Schumpeter em: Como associar os procedimentos racionais da alternância de poder entre a elite e o comportamento irracional dos eleitores? Na concepção do elitismo democrático, foi adotada a teoria da racionalidade individual, pois, para Downs o realismo político ainda estava distante da metodologia adotada pela elite, ao qual o ideal seria o eleitorado ser capaz de escolher, de forma racional, a melhor opção política, e hierarquizá-la em determinada situação. Caso esses indivíduos não pudessem ser capazes, abririam espaço para a concorrência dos partidos e traria a elite para o poder, que lutariam pelas próprias causas (o que é a realidade atualmente). A escolha de um indivíduo de forma racional, gera para um todo uma melhor estratégia, na relação de custo e benefício (considerado como o conceito de “otimização”). Nesse contexto, é levado em consideração o campo econômico, que utiliza de um comportamento racional do “homem comum”, que compõe o eleitorado, no modelo de democracia. Para Downs, esse comportamento é considerado da mesma forma como nas teorias econômicas, ao qual: “[…] os eleitores direcionam seus próprios interesses ao sistema político, e aqueles que administram tal sistema trocam os votos que podem obter dos eleitores por determinados benefícios e ofertas políticas” (MELO. p.10). Portanto, a teoria econômica da democracia acredita nesse tipo de modelo de alternância de poder, onde a elite utiliza do comportamento racional do eleitorado para continuar agindo no meio político. Além disso, o realismo da teoria econômica pressupõe os aspectos normativos típicos das concepções liberais: a liberdade individual, que nesse caso, entende-se como escolha racional. Com isso, pode-se considerar, resumidamente, que o comportamento político tem praticamente os mesmos ideais do comportamento econômico, dentro das estratégias políticas adotadas pelos partidos, a ideia geral em si é angariar o máximo de votos possível, nem que tenha que comprá-los (de forma direta), é como uma troca mútua de interesses individuais. Para explicação dessa teoria, leva-se em considerações questões de um lado simétricos, excluindo questões axiológicas ligadas a valores, e por outro lado, em virtude da pluralização dos movimentos sociais, deixa de incluir processos políticos essenciais para a democracia. 3. O que propõem os defensores do pluralismo democrático? Os defensores do pluralismo democrático acreditam que as explicações realistas tanto de Shumpeter quanto de Downs são incompletas e parciais. Para os defensores, especificamente Robert Dahl, grande defensor do pluralismo democrático, a democracia é considerada como um “processo de tomada de decisões coletivas” (DAHL, 1989. p.5). Com isso, considera-se que o eleitorado tenha ciência dessas decisões e que precisam ser legitimados por eles também. Os objetivos dos “pluralistas” tem como base impedir a centralização do poder, que justificam o processo democrático em: controle das decisões governamentais por seus representantes; eleições livres e periódicas; inclusão de todas as pessoas e grupos envolvidos; chances reais de participação no processo político repartidas igualmente entre os interessados; direitos iguais nas questões de manutenção política; transparência, etc. No Brasil, o pluripartidarismo está anexado em um dos princípios da Constituição Federal: “Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: a soberania; a cidadania; a dignidade da pessoa humana; os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa; o pluralismo político.” (CF/1988. p.15). Com isso, o pluralismo político assegura que diversos grupos sociais possuirão meios de defender suas ideias e concepções sociais. Ou seja, para os defensores do pluralismo político, esse modelo é fator fundamental para a elaboração de uma democracia, onde o poder não fica centralizado, com um único ideal, como é nos regimes totalitários onde não existe democracia. Para eles, a existência de múltiplos grupos são benéficos para a manutenção da democracia, o que para eles são considerados como “governo das minorias”. Portanto, pode-se afirmar que o processo democrático, na prática, ainda está bem distante do ideal, porém se comparado com o passado, onde vivemos períodos conturbados da política, hoje pode-se considerar que a democracia está tomando o seu lugar, entretanto, para os defensores, a luta ainda não acabou, ainda há muito o que ser feito, principalmente em meio a era da informação, onde podemos notabilizar diversas formulações de ideias a todo instante. 4. Em que consiste o modelo procedimental de democracia proposto por Habermas? Para Jürgen Habermas, um dos grandes autores da nova corrente chamada de “democracia deliberativa”, que consiste num modelo de deliberação pública, caracterizado por um conjunto de pressupostos teóricos que incorporam a participação da sociedade civil da regulação da vida coletiva. Baseado nomodelo dahlsiano, Harbermas acredita que os procedimentos adotados por este necessitam assegurar de condições mínimas de igualdade política, passando de debate público, passando pelas condições de um pluralismo cultural e de condições econômicas e sociais, até a análise das constituições e dos sistemas eleitorais. Além disso, ele é um grande defensor da ideologia do “agir comunicativo”, que considera que os indivíduos consigam se comunicar e mostrar suas ideias afim de atingirem um objetivo comum que tenha apreço da maioria ou para o bem estar de toda a comunidade. No modelo habermasiano, os problemas encontrados nas questões das sociedades plurais, são redimensionadas para a questão da legitimidade do direito moderno, que fundamenta a própria democracia constitucional. Isso desponta numa tensão entre validade e faticidade como características das normas jurídicas. Habermas procura traçar um modo como um sistema de direitos pode legitimar a formação do poder político do Estado, ou seja, procura conciliar dois princípios que sempre foral alvo de disputa na filosofia política: o princípio democrático com o princípio da autonomia da vontade. De um lado, cidadãos com projetos políticos diferentes e interesses pessoais divergentes. De outro lado, a necessidade de que a vontade política do Estado seja uniformizada conforme um padrão democrático de legitimidade. A solução para isso, no modelo democrático habermasiano, consiste na conciliação entre os dois princípios através do princípio do discurso com base da democracia deliberativa. Nesse contexto, pode-se concluir que a base para legitimar os processos democráticos, na democracia deliberativa é a racionalidade da deliberação, que consiste na formação ampla da vontade política, do juízo sobre as questões políticas fundamentais e da realização do ideal de autodeterminação pública dos cidadãos. Com isso, o auxílio das formas de comunicação devem poder formalizar as questões racionais para que os cidadãos decidem as questões democráticas. Referências bibliográficas RAMOS, Flamarion Caldeira. Manual de filosofia política Cap. 11. Ed. Saraiva, 2015. Constituição da República Federativa do Brasil. 2019. Brasília. WIKIPÉDIA. Democracia deliberativa. Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Democracia_deliberativa> Acesso em: 30 out. 2020. https://pt.wikipedia.org/wiki/Democracia_deliberativa