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Autoria: A professora Wanice Gois é Enfermeira pela Faculdade LS, Funcionária Pública da Secretaria de Saúde do GDF, Aposentada, com mais 30anos de Serviço Prestado à Saúde. Pos graduada em Docência do Ensino Superior FACETED (Faculdade Tecnologia Equipe DARWIN). Mestrando em Saúde Pública (Universidade Americana). No âmbito da Docência tem experiência como preceptora e orientadora de estágio nas seguintes áreas: Enfermagem cirúrgica (Centro Cirúrgico); Materno Infantil e CME, no Hospital Regional de Brazlândia, DF. Atuou na Clínica Recanto, por 5 anos com Pacientes Psicóticos e Dependentes Químicos. Atualmente é Docente Ativa na Área de Enfermagem Cirúrgica, Saúde Mental e Psicologia. Mantém o interesse de estudo voltado para o Comportamento Humano. Sumário 1- CONCEITO ......................................................................................................................... 5 1.1- Saúde Mental ..................................................................................................................... 5 2 INTRODUÇÃO À HISTÓRIA DA PSIQUIATRIA ................................................................. 5 2.1- Psiquiatria no Brasil ............................................................................................................ 7 2.2 - Assistência Psiquiátrica no Brasil .................................................................................... 12 3- FUNÇÕES PSÍQUICAS - NOÇÕES GERAIS ...................................................................... 13 4 - ENFERMAGEM EM SAÚDE MENTAL E O PACIENTE PSIQUIÁTRICO ........................... 13 5 - FATORES QUE INFLUENCIAM NA SAÚDE MENTAL ....................................................... 15 5.1 - Fatores físicos ou biológicos ............................................................................................ 15 5.2 - Fatores genéticos ou hereditários .................................................................................... 16 5.3 - Fatores pré-natais ............................................................................................................ 17 5.4 - Fatores perinatais ............................................................................................................ 17 5.5 - Fatores neuroendocrinológicos ........................................................................................ 17 5.6 - Fatores ligados a doenças orgânicas ............................................................................... 18 5.7 - Fatores Ambientais .......................................................................................................... 18 5.8 - Fatores emocionais ou psicológicos ................................................................................ 19 6 - CENTROS DE ATENÇÃO PSICOSSOCIAL – CAPS ......................................................... 21 7- DICA DO MESTRE .............................................................................................................. 23 8 - TRANSTORNOS MENTAIS ............................................................................................... 24 8.1 - Hormônios que envolvem transtornos mentais ................................................................ 25 8.2- Quanto à forma de manifestação ...................................................................................... 25 8.2.1- Neurose ......................................................................................................................... 26 8.2.2- Depressão ..................................................................................................................... 27 8.2.3- Transtorno Obsessivo-Compulsivo - TOC ...................................................................... 30 8.2.4- Síndrome do pânico ....................................................................................................... 33 8.2.5- Fobias transtornos fóbico-ansiosos ................................................................................ 34 8.2.6- Transtornos de Ansiedade ............................................................................................. 36 8.2.7- Transtorno Histriônico .................................................................................................... 36 8.2.8- Psicose .......................................................................................................................... 36 8.2.9- Esquizofrenia ................................................................................................................. 38 8.2.10- Transtorno afetivo bipolar ............................................................................................ 41 8.2.11 Distúrbios Alimentares .................................................................................................. 44 9- UMA VISÃO GERAL NO CUIDADO DE ENFERMAGEM NA SAÚDE MENTAL .................. 48 10- O RELACIONAMENTO TERAPÊUTICO NO CUIDADO DE ENFERMAGEM .................... 49 11- EMERGÊNCIAS PSIQUIÁTRICAS .................................................................................... 50 12- APARELHO COGNITIVO .................................................................................................. 57 13- EXERCÍCIO FIXAÇÃO ...................................................................................................... 59 14- ANEXOS ........................................................................................................................... 78 15- RESPOSTAS ..................................................................................................................... 79 16- Bibliografia ........................................................................................................................ 84 1- CONCEITO 1.1- Saúde Mental Qual o conceito Saúde Mental? Não tem! Todavia, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), Saúde Mental“é um estado de bem-estar no qual o indivíduo exprime as suas capacidades, enfrenta os fatores estressores normais da vida, trabalha produtivamente e de modo frutífero, e contribui na sua comunidade”.Massaúde mental, no entanto, não tem um conceito fechado, poisaceita atualizações científicas, visto se tratar não apenas de ausência de doença, mas de um bem estar geral da pessoa.Disponível em: Disponível em:http://www.scielo.mec. Acesso em06/11/2020. Quando esse bem-estar geral da pessoa é acometido por alguma ocorrência física, fica clara a alteração, mas quando essa ocorrência é na mente humana, faz-se necessário estudarpsiquiatria. 2 INTRODUÇÃO À HISTÓRIA DA PSIQUIATRIA A palavra Psiquiatria deriva do Grego e quer dizer arte de curar a alma, sendo o ramo da Medicina que se dedica à prevenção, ao diagnóstico, tratamento, e reabilitação de doentes mentais. Desde a Antiguidade, a loucura era vista como sobrenatural e o adoecer psíquico era relacionado com o espiritual. (MOREIRA, 1986). De acordo com as publicações do Ministério da Saúde, MS, a história da Psiquiatria informa que a humanidade convive com a loucura há séculos e, antes de se tornar um tema essencialmente médico, o louco habitou, e possivelmente habita o imaginário popular de diversas formas. De motivo de piadas e escárnio a possuído pelo demônio, até marginalizado por não se enquadrar nos preceitos morais de uma sociedade, o louco é um enigma que ameaça os saberes constituídos sobre o homem. Na época da Renascença, meados do século XIV e fim do XVI, a separação dos loucos se dava pelo seu banimento dos muros das cidades europeias e os condenados tinham que andar de cidade em cidade ou eram colocados em navios quevagavam sem destino, chegando, ocasionalmente, a algum porto. Por isso se chamava de confinamento errante, segundo a maioria dos autores que abordaram a história da Psiquiatria. Já na Idade Média os considerados loucos foram confinados em grandes espaços como asilos e hospitais, e deixados com pessoas inválidas, comDoenças Sexualmente Transmissíveis, DSTs, mendigos e libertinos. Nessas instituições, os http://www.scielo.mec/ mais violentos eram imobilizados, não como conhecemos hoje, mas acorrentados mesmo. Em 1793, Phillippe Pinel (1745-1826), nascido na França, considerado o pai da Psiquiatria, defendeu um tratamento mais humano, soltando os pacientes que eram algemados e dando alimentação mais nutritiva, ou seja, chegava para a época uma assistência mais precisa,mais parecida com a que conhecemos hoje. Nos manicômios defendidos por ele o foco era na reeducação dos alienados, no respeito às normas e no desencorajamento das condutas inconvenientes. Para o pai da Psiquiatria, a função disciplinadora do médico e do manicômio deve ser exercida com firmeza, porém com gentileza. Isso denota o caráter essencialmente moral com o qual a loucura passa a ser revestida, porém o desenvolvimento dessa ciência caminhou lentamente, acompanhando as guerras e as conjunturas. No século XIX, o tratamento ao doente mental incluía medidas físicas como duchas, banhos frios, chicotadas, máquinas giratórias e sangrias. Aos poucos, com o avanço das teorias organicistas, o que era considerado como doença moral passa a ser compreendido também como uma doença orgânica. No entanto, as técnicas de tratamento empregadas pelos organicistas eram as mesmas empregadas pelos adeptos do tratamento moral, o que significa que, mesmo com outra compreensão sobre a loucura, decorrente de descobertas experimentais da neurofisiologia e da neuroanatomia, a submissão do louco permanece e adentra o século XX. A partir da segunda metade do século XX, impulsionada principalmente por Franco Basaglia (1924-1980), psiquiatra italiano, inicia-se uma radical crítica e transformação do saber, do tratamento e das instituições psiquiátricas. Esse movimento inicia-se na Itália, mas tem repercussões em todo o mundo e muito particularmente no Brasil, no final da década de 70, devido ao momento político de redemocratização. Nesse sentido é que se inicia o movimento da Luta Antimanicomial, que nasce profundamente marcado pela ideia de defesa dos direitos humanos e de resgate da cidadania das pessoas com transtornos mentais. Aliado a essa luta, nasce o movimento da Reforma Psiquiátricaque, mais do que denunciar os manicômios como instituições de violências, propõe a construção de uma rede de serviços e estratégias territoriais e comunitárias, profundamente solidárias, inclusivas e libertárias. (AMARANTE. 1994). http://www.ccs.saude.gov.br/memoria%20da%20loucura/Mostra/pinel.html http://www.ccs.saude.gov.br/memoria%20da%20loucura/Mostra/basaglia.html http://www.ccs.saude.gov.br/memoria%20da%20loucura/Mostra/reforma.html 2.1- Psiquiatria no Brasil A psiquiatria no Brasil surge com a chegada da Família Real ao nosso País. Com o objetivo de colocar ordem na urbanização e disciplinar a sociedade a partir de embasamento nos conceitos da psiquiatria europeia que destratava o ‘louco’ e intervia no tratamento do doente mental com seu isolamento, passando a tratá-lo em hospital psiquiátrico. Nessa época, os doentes mentais costumavam perambular pelas ruas das principais cidades e vilas brasileiras, servindo de deboche aos habitantes, ou então viviam segregados em solitárias ou quartos-fortes nos fundos dos quintais das famílias mais abastadas. Esse fato despertava críticas e reclamações de setores mais esclarecidos da população. Hospício de Pedro II, BERTICHEM, PieterGodfred. O Brasil pitoresco. RJ: Imperial de Rensburg, 1856. No final da década de 70 com a mobilização dos profissionais da saúde mental e dos familiares de pacientes com transtornos mentais, surge o movimento denominadoReformaPsiquiátrica. Esse movimento se inscreve no contexto de redemocratização do país e na mobilização política e social do Brasil. A Reforma Psiquiátrica é um processo histórico de formulação crítica e prática que teve o objetivo de questionar e elaborar propostas de transformação do modelo clássico da psiquiatria. Nascida da reivindicação da cidadania do ‘louco’, o movimentoReforma Psiquiátrica no Brasil desdobrou-se em um amplo e diversificado modo de práticas e saberes. É um campo heterogêneo, que abarca a clínica, a política, o social, o cultural e as relações com o sistema jurídico. Na VIII Conferência Nacional de Saúde, em 1986, que deliberou sobre a necessidade de criar um Sistema Único de Saúde - SUS, a I Conferência Nacional de Saúde Mental, em 1987 e posteriormente o II Encontro Nacional dos Trabalhadores em saúde Mental, a Declaração de Caracas, em 1990, em que a OMS reuniu países, entidades, juristas e parlamentares para discutirem sobre a atenção em saúde mental. Tais acontecimentos suscitaram a luta para desconstruir no cotidiano das instituições e da sociedade as formas arraigadas de lidar com a loucura. Inicia-se, portanto, no Brasil, o movimento para a desinstitucionalização, com o lema:Por uma sociedade sem Manicômio. Em 1989 é apresentado o Projeto de Lei n.º 3.657/89, que tramitou entre a Câmara e o Senado por mais de 10 anos. Umas das propostas contidas era a contenção de expansão e diminuição dos leitos psiquiátricos existentes, assim como a substituição progressiva das internações pelo tratamento em centros especializados. Doze anos após a criação do projeto de lei, é aprovada a Lei da Reforma Psiquiátrica Brasileira, número 10.216, em 06 de Abril de 2001. O texto sofreu várias alterações em relação à sua proposta original; no entanto grandes foram os avanços com a aprovação dessa lei. Ela estabelece uma diretriz de não asilar para o funcionamento público e o ordenamento jurídico da assistência psiquiátrica no país e explicita que o tratamento vise como finalidade permanentea reinserção social do paciente em seu meio. Obriga, ainda, que o tratamento em regime de internação contemple atendimento integral, inclusive de não ser só com o médico, e com atividades de lazer e ocupacionais, e proíbe a internação em instituições com características asilares. Em seu artigo 5º. Impõe a elaboração de política específica de alta planejada e reabilitação social assistida. O essencial da Reforma Psiquiátricasão as práticas de cuidado destinadas aos tidos como loucos, visando àsua inserção na vida da sociedade e permitindo, nos constrangimentos impostos por sua condição psíquica, exercer-se como sujeitos. A Reforma Psiquiátrica aponta para a construção de uma sociedade mais inclusiva, em que o louco não pode ser mais excluído, marginalizado e punido por sua loucura. PARA QUEM QUER MAIS Pesquisar a história da Psiquiatria no mundo. Em 2001 a assistência às pessoas com transtornos mentais passa a ter proteção legal do Estado. Trata-se da Lei Nº 10.2016, de 6 de abril de 2001. Veja abaixo, na íntegra. LEI No 10.216, DE 6 DE ABRIL DE 2001. Dispõe sobre a proteção e os direitos das pessoas portadoras de transtornos mentais e redireciona o modelo assistencial em saúde mental. O PRESIDENTE DA REPÚBLICAFaço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei: Art. 1oOs direitos e a proteção das pessoas acometidas de transtorno mental, de que trata esta Lei, são assegurados sem qualquer forma de discriminação quanto à raça, cor, sexo, orientação sexual, religião, opção política, nacionalidade, idade, família, recursos econômicos e ao grau de gravidade ou tempo de evolução de seu transtorno, ou qualquer outra. Art. 2o Nos atendimentos em saúde mental, de qualquer natureza, a pessoa e seus familiares ou responsáveis serão formalmente cientificados dos direitos enumerados no parágrafo único deste artigo. Parágrafo único. São direitos da pessoa portadora de transtorno mental: I - ter acesso ao melhor tratamento do sistema de saúde, consentâneo às suas necessidades; II - ser tratada com humanidade e respeito e no interesse exclusivo de beneficiar sua saúde, visando alcançar sua recuperação pela inserção na família, no trabalho e na comunidade; III - ser protegida contra qualquer forma de abuso e exploração; IV - ter garantia de sigilo nas informações prestadas; V - ter direito à presença médica, em qualquer tempo, para esclarecer a necessidade ou não de sua hospitalização involuntária; VI - ter livre acesso aos meios de comunicação disponíveis; VII - receber o maior número de informações a respeito de sua doença e de seu tratamento; VIII - ser tratada em ambiente terapêutico pelos meios menos invasivos possíveis; http://legislacao.planalto.gov.br/legisla/legislacao.nsf/Viw_Identificacao/lei%2010.216-2001?OpenDocument IX - ser tratada, preferencialmente, em serviços comunitários de saúde mental. Art. 3o É responsabilidade do Estado o desenvolvimento da política de saúde mental, a assistência e a promoção de ações de saúde aos portadores de transtornos mentais, com a devida participação da sociedade e da família, a qual será prestada em estabelecimento de saúde mental, assim entendidas as instituições ou unidades que ofereçam assistência em saúde aos portadores de transtornos mentais. Art. 4o A internação, em qualquer de suas modalidades, só será indicada quando os recursos extra hospitalares se mostrarem insuficientes. § 1o O tratamento visará, como finalidade permanente, a reinserção social do paciente em seu meio. § 2o O tratamento em regime de internação será estruturado de forma a oferecer assistência integral à pessoa portadora de transtornos mentais, incluindo serviços médicos, de assistência social, psicológicos, ocupacionais, de lazer, e outros. § 3o É vedada a internação de pacientes portadores de transtornos mentais em instituições com características asilares, ou seja, aquelas desprovidas dos recursos mencionados no § 2o e que não assegurem aos pacientes os direitos enumerados no parágrafo único do art. 2o. Art. 5o O paciente há longo tempo hospitalizado ou para o qual se caracterize situação de grave dependência institucional, decorrente de seu quadro clínico ou de ausência de suporte social, será objeto de política específica de alta planejada e reabilitação psicossocial assistida, sob responsabilidade da autoridade sanitária competente e supervisão de instância a ser definida pelo Poder Executivo, assegurada a continuidade do tratamento, quando necessário. Art. 6o A internação psiquiátrica somente será realizada mediante laudo médico circunstanciado que caracterize os seus motivos. Parágrafo único. São considerados os seguintes tipos de internação psiquiátrica: I - internação voluntária: aquela que se dá com o consentimento do usuário; II - internação involuntária: aquela que se dá sem o consentimento do usuário e a pedido de terceiro; e III - internação compulsória: aquela determinada pela Justiça. Art. 7o A pessoa que solicita voluntariamente sua internação, ou que a consente, deve assinar, no momento da admissão, uma declaração de que optou por esse regime de tratamento. Parágrafo único. O término da internação voluntária dar-se-á por solicitação escrita do paciente ou por determinação do médico assistente. Art. 8o A internação voluntária ou involuntária somente será autorizada por médico devidamente registrado no Conselho Regional de Medicina - CRM do Estado onde se localize o estabelecimento. § 1o A internação psiquiátrica involuntária deverá, no prazo de setenta e duas horas, ser comunicada ao Ministério Público Estadual pelo responsável técnico do estabelecimento no qual tenha ocorrido, devendo esse mesmo procedimento ser adotado quando da respectiva alta. § 2o O término da internação involuntária dar-se-á por solicitação escrita do familiar, ou responsável legal, ou quando estabelecido pelo especialista responsável pelo tratamento. Art. 9o A internação compulsória é determinada, de acordo com a legislação vigente, pelo juiz competente, que levará em conta as condições de segurança do estabelecimento, quanto à salvaguarda do paciente, dos demais internados e funcionários. Art. 10. Evasão, transferência, acidente, intercorrência clínica grave e falecimento serão comunicados pela direção do estabelecimento de saúde mental aos familiares, ou ao representante legal do paciente, bem como à autoridade sanitária responsável, no prazo máximo de vinte e quatro horas da data da ocorrência. Art. 11. Pesquisas científicas para fins diagnósticos ou terapêuticos não poderão ser realizadas sem o consentimento expresso do paciente, ou de seu representante legal, e sem a devida comunicação aos conselhos profissionais competentes e ao Conselho Nacional de Saúde. Art. 12. O Conselho Nacional de Saúde, no âmbito de sua atuação, criará comissão nacional para acompanhar a implementação desta Lei. Art. 13. Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação. Brasília, 6 de abril de 2001; 180o da Independência e 113o da República. 2.2 - AssistênciaPsiquiátrica no Brasil De acordo com as publicações mais importantes do MS sobre constantes questionamentos sobre a prática de assistência psiquiátrica hospitalar, inúmeras são as denúncias de hospitais que funcionam como meros depósitos, utilizando-se da fragilidade humana com um interesse puramente financeiro. Existem duas posições relacionadas ao hospital psiquiátrico: alguns o consideram ultrapassado, conceituando-o como agente repressor, enquanto outros o classificam como terapêutico. Nas últimas décadasno movimentoReforma Psiquiátrica foi proposto mudanças no modelo de assistência em saúde mental no Brasil. Diversas foram as denúncias de falta de cuidados e maus tratos aos pacientes, os quais motivaram em especial os profissionais da saúde e segmentos da sociedade a discutirem e repensarem a atenção em saúde mental no país. A Reforma Psiquiátrica no Brasil deixou definitivamente a posição de proposta alternativa e se consolidou como política de assistência à saúde mental oficial, apesar de todas as dificuldades encontradas por estudiosos dedicados àsaúde mental e a tudo que envolve o enfrentamento do nosso frágil sistema público de saúde. Portanto, os CAPS, que serão detalhados mais à frente, foram construídospara atendimento em todo o país e estão modificando a estrutura da assistência à saúde mental. A rede disponível está substituindo progressivamente o modelo do hospital como centro e manicomial, de características excludentes, opressivas e reducionistas. Em seu lugar vem sendo construído um sistema de assistência orientado pelos princípios fundamentais do Sistema Único de Saúde (universalidade, equidade e integralidade), acrescido da proposta de desinstitucionalização. Disponível em: Leia mais em: https://super.abril.com.br/saude/glossario-da-psicologia. Acesso em 20/11/2020. PARA QUEM QUER MAIS Resuma da Lei nº 10.216/2001 para debate. https://super.abril.com.br/saude/glossario-da-psicologia 3- FUNÇÕES PSÍQUICAS - NOÇÕES GERAIS As funções psíquicas estão presentes no ser humano, sendo responsáveis por suas manifestações comportamentais. Elas podem modificar suas manifestações quando relacionadas ao ser biológico e ao ser histórico-cultural. Alterações ou comprometimentos dessas funções podem ocorrer em algum momento da vida, ocasionando quadros psíquicos significativos na saúde mental. O estudo das anormalidades dessas funções é chamado de psicopatologia e,segundo NUNES at(1996), as principais funções psíquicas são: Orientação - capacidade de situar-se quanto a si mesmo, ao ambiente e a outros aspectos. A avaliação da orientação é um instrumento valioso para a verificação das alterações do nível de consciência; Consciência - competência do ponto de vista neurológico de captar o ambiente e de se orientar adequadamente; Atenção - capacidade de se concentrar em determinado objeto ou acontecimento; Pensamento - organização das ideias de forma, curso e conteúdo sintonizados entre si; Memória - capacidade de registrar, manter e evocar fatos já ocorridos, ela deve apresentar fixação, conservação, evocação e localização; Inteligência - capacidade de utilizarmos um conjunto de instrumentos de modo a nos adaptarmos a qualquer problema da vida; Afeto - capacidade de vivenciarmos as nossas emoções, relacionadas a tudo que envolve a nossa vida; Vontade - capacidade de associar a liberdade das ações, atitudes e escolhas e o determinismo próprio da condição humana. Para alguns, a vontade está relacionada ao desejo; Sensopercepção - percepções são responsáveis por refletirem objetivamente a realidade psíquica. 4 - ENFERMAGEM EM SAÚDE MENTAL E O PACIENTE PSIQUIÁTRICO A assistência aos pacientes psiquiátricos é permeada por recentes descobertas sobre o comportamento humano e funcionamento cerebral. As crenças particulares, dificuldades para atender as necessidades desses pacientes, carência indispensável do apoio familiar e de profissionais de saúde,dificultam o trabalho cujas mentes encontram-se incertas. Sobre as condutas e qualidade da assistência de enfermagem, ainda há de se seguir o preconizado por cada equipe multidisciplinar, com base no direcionamento do nosso Ministério da Saúde. A associação entre doença mental e agressividade ainda é uma crença presente na população em geral, ou seja, a crença de que doença mental é associada à violência é historicamente constante e culturalmente universal. Atualmente, as práticas dirigidas à assistência em saúde mental estão referidas a várias tendências, concepções coexistentes e de terminantes do entendimento acerca do processo entre saúde e doença e, coerentemente a este, à organização das instituições que, por sua vez, determinam a natureza da assistência aos seus usuários. A enfermagem, evidentemente, não está imune a esse processo e tem suas práticas referidas a ele. E como está inserida a prática da enfermagem junto aos outros agentes do trabalho em saúde mental? Pode-se afirmar que as práticas assistenciais à saúde mental têm passado por diferentes orientações ao longo do tempo.Assim, este é o momento de rever o objeto de trabalho (constituir o sujeito enquanto cidadão), a prática (utilizar-se de novos instrumentos e com isso ampliar sua possibilidade de intervenção), e ampliar a finalidade da assistência, para além da remissão dos sintomas manifestos. Com este entendimento, a enfermagem em saúde mental compartilha o objeto da assistência com a equipe multidisciplinar, cujo projeto é coletivo e determinado pela articulação das diferentes práticas. Assim, a enfermagem, ao compor parcela do trabalho coletivo de saúde e sua integrante parcela do trabalhador coletivo de saúde, não tem um processo próprio de trabalho, tampouco um objeto que lhe é específico. Como as outras práticas sociais, ela tem responsabilidade de desenvolver sua especificidade nos processos de trabalho de assistência, gerenciamento, investigação e ensino; dos processos de produção e de trabalho, estes aos quais as demais práticas sociais também se conectam com suas especificidades. Disponível em: http://www.scielo.mec.pt/pdf/psd/v16n3/v16n3a0. Acesso em 06/11/2020. A prática da enfermagem, neste contexto, deve ser criativa, flexível, com finalidade de possibilitar aumento de habilidades, de autonomia do usuário do serviço de atenção à saúde mental, não mais voltada exclusivamente à remissão de sintomas. Os técnicos de enfermagem, enquanto profissionais de saúde, devem munir-se de instrumentos que possibilitem melhor entendimento sobre a saúde mental, o que permitirá adequar os cuidados básicos, para planejar e implementar ações direcionadas aos portadores de transtorno mental, visandomelhoria da qualidade da assistência em nível comunitário, contribuindo para discussões desta temática, em nível nacional. 5 - FATORES QUE INFLUENCIAM NA SAÚDE MENTAL 5.1 - Fatores físicos ou biológicos O nosso corpo funciona de forma integrada, isto é, os aparelhos e sistemas se comunicam uns com os outros e o equilíbrio de um depende do bom funcionamento dos outros.Muitas vezes podemos achar difícil de entender como sintomas tão “emocionais” como sentir-se culpado ou ter pensamentos repetidos de morte ou ouvir vozes possam ter também uma base orgânica, mas ela existe. O envelhecimento, o abuso de álcool ou outras substâncias são exemplos comuns. Em muitos casos essa base já pode ser identificada e descrita pelos especialistas, em outros casos ainda não. O que se sabe é que sempre que se tem alguma emoção, seja ela agradável ou desagradável, ocorre uma série de trocas elétricas e química no nosso cérebro, o que já constitui, por si só, um fator orgânico. Podemos definir os fatores físicos ou biológicos como sendo as alterações ocorridas no corpo como um todo, em determinado órgão ou no sistema nervoso central que possam levar a um transtorno mental. Dentre os fatores físicos ou biológicos que podem ser a base ou deflagrar um transtorno mental, existem alguns mais evidentes, que avaliaremos a seguir. 5.2 - Fatores genéticos ou hereditários Quantas vezes já ouvimos dizer que fulano puxou o gênio do pai? Ou que tem problema de cabeça que nem a tia? Ou que é nervoso que nem a mãe? Quando usamos essas expressões, estamos nos referindo às possíveis heranças genéticas que possamos trazer em nosso comportamento e forma de ser. Genético vem da palavra genes, que são grandes moléculas que existem dentro de nossas células contendo informações sobre como nosso corpo deve se organizar. As informações contidas nos genes são muitas e não são todas que utilizamos; algumas ficam guardadas. Em Psiquiatria, os fatores genéticos ou hereditários têm sido muito falados ultimamente, muitas vezes em programas de televisão, sempre caracterizados como grandes descobertas. Isso porque embora popularmente sempre se diga que a pessoa com transtorno mental o herdou de alguém da família, há muito tempo os cientistas tentam identificar se essa “herança” através do corpo ou do ambiente em que a pessoa foi criada. Atualmente, os avanços da Medicina permitem identificar alguns genes que podem ter influência no desenvolvimento de transtornos mentais. É importante deixar claro que quando se fala de fatores genéticos em Psiquiatria, estamos falando de tendências, predisposições que o indivíduo possui de desenvolver determinados desequilíbrios químicos no organismo que possam levá-lo a apresentar determinados transtornos mentais. Ainda assim, é uma grande armadilha acreditarmos que aí está toda a causa da doença mental, pois passamos a acreditar que a solução do problema só estará neste ponto e deixamos de prestar atenção em todos os outros aspectos da pessoa que atendemos em sofrimento mental. A constituição genética precisa ser vista como uma facilidade orgânica para desenvolver um determinado transtorno mental, mas não há garantias de que, ao longo da vida do sujeito, tal fato ocorrerá, visto que dependerá de outros fatores para que tal tendência de fato se manifeste. Em alguns filmes de ficção do futuro, vemos pessoas tendo cartões magnéticos contendo informações sobre seu genoma (o “mapa” de seus genes), utilizados como carteira de identidade. Os cientistas afirmam que isto não está tão longe de acontecer. Imaginamos até que seja possível, mas esperamos que até lá a sociedade tenha evoluído o suficiente para não usar de forma preconceituosa tais informações. Ou talvez venhamos a descobrir que todos nós temos uma ou outra alteração genética que possa nos predispor ao transtorno mental. Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br. Acesso em 07/11/2020. 5.3 - Fatores pré-natais As condições de gestação, dentre eles os fatores emocionais, socioeconômico, o consumo de álcool, drogas, cigarro e de alguns tipos de medicamentos podem prejudicar a formação do bebê, gerando problemas futuros que poderão comprometer sua capacidade adaptativa no crescimento e desenvolvimento, podendo facilitar o surgimento da doença mental. 5.4 - Fatores perinatais Perinatal é tudo aquilo que acontece durante o nascimento do bebê. Em algumas situações o bebê pode sofrer danos neurológicos devido a traumatismos ou falta de oxigenação do tecido cerebral. Nesses casos, dependendo da gravidade desses danos, a criança poderá desenvolver problemas neurológicos como, a epilepsia, diversos graus de atraso de desenvolvimento, que podem formarbase para futuros transtornos psiquiátrica. 5.5 - Fatores neuroendocrinológicos O sistema endócrino, que é responsável pela regulação do equilíbrio de nosso organismo, faz isso através da produção de hormônios pelas glândulas endócrinas: pituitária e tireoide. Acontece que esse sistema tem estreita ligação com o sistema nervoso central, havendo uma influência recíproca entre eles, isto é, o que acontece em um causa reações no outro e vice-versa.Muitos estudos recentes têm mostrado a ligação entre mecanismos neuroendocrinológicos e reações cerebrais. As mudanças hormonais podem influenciar nosso estado de humor e deflagrar até mesmo estados psicóticos como é o caso da psicose puerperal ou da tensão pré-menstrual (TPM). 5.6 - Fatores ligados a doenças orgânicas O transtorno mental pode também aparecer como consequência de determinada doença orgânica, tal como infecções, traumatismos, vasculopatias, intoxicações, abuso de álcool ou quaisquer substâncias químicas ou agentes nocivos que afetem o sistema nervoso central. 5.7 - Fatores Ambientais Você acorda pela manhã e percebe que o tempo mudou. O sol que havia ontem não apareceu hoje, faz frio e cai forte chuva. Ao se preparar para sair, com certeza você buscará roupas mais quentes e procurará se protegerda chuva. Estamos, assim, procurando nos ajustar aos fatores ambientais, nesse caso, climáticos. Na verdade estamos o tempo todo procurando formas de nos adaptarmos o melhor possível, ao que acontece à nossa volta. Tantos são os estímulos que sofremos que acabamos desenvolvendo maneiras características de reagir, muitas vezes supervalorizando as informações que nos chegam, outras vezes, tornando-nos apáticos a elas. Que sensação você experimenta quando entra em contato com as constantes e massacrantes notícias de violência via rádio e televisão? As pessoas costumam ter diferentes reações: algumas se tornam apáticas a elas, outras fazem uso do humor para digeri-las, outras se tornam excessivamente medrosas, e assim por diante. Como exemplo, uma paciente passou a pensar na possibilidade de fazer algum mal à sua pequena filha a partir de noticiários de rádio que relatavam maus tratos e até homicídios materno-infantis. Os fatores ambientais exercem forte e constante influência sobre nossas atitudes e nossas escolhas diárias, tanto externa quanto internamente, isto é, como nos sentimos e enxergamos a nós mesmos. As reações a cada estímulo ambiental se darão de acordo com a estrutura psíquica de cada pessoa, e essa estrutura psíquica estará intimamente ligada às experiências que a pessoa teve durante a vida. Assim se estabelece uma relação circular entre todos os fatores geradores de transtorno mental onde um ocasiona o outro. Para melhor compreensão, podemos dizer que os fatores ambientais podem ser sociais, culturais e econômicos. Como sociais podemos compreender todas as interações que temos com o outro, nossas relações pessoais, profissionais e com outros grupos. Estudos falam da importância das pessoas significativas em nossa infância e de como ficam marcadas em nós as suas formas de pensar e agir, assim como as reações que passamos a ter influenciam o nosso comportamento diante de outras pessoas. Se, com as pessoas importantes de nossa infância, aprendemos que existem pessoas que não são confiáveis e que devemos estar sempre atentos para não sermos enganados, possivelmente teremos dificuldades em confiar em alguém mesmo em nossa vida adulta. Entre os fatores ambientais culturais podemos nos lembrar de todo o sistema de regras no qual estamos envolvidos. Esse sistema varia de país para país, de estado para estado, de grupo para grupo, e também de acordo com a época. Ou seja, noção de certo e errado, de bem e mal variam muito dependendo do local e época em que estamos. Os mitos, as crenças, os rituais que nos cercam nos dão as noções de bem e mal que são aceitas pelos grupos aos quais pertencemos, seja ele o nosso país, grupo religioso, a nossa escola ou mesmo a nossa família. Outro grupo de fatores ambientais que podemos perceber como exercendo influência sobre nós são os econômicos. Nesse tópico tanto podemos nos referir à nossa possibilidade mais direta de aquisição de bens, quer dizer, ter dinheiro mesmo, quanto às atuais condições sociais onde a miséria, aliada à baixa escolaridade, pode levar ao aumento da criminalidade e esta ao aumento de tensão em nosso dia a dia. 5.8 -Fatores emocionais ou psicológicos Continuamos tentando compreender o que, afinal de contas, torna as pessoas diferentes umas das outras. O que faz com que se comportem de uma maneira e não de outra. Já abordamos os aspectos físicos e os ambientais e, não por acaso, deixamos para abordar os aspectos emocionais depois de bem compreendidos os anteriores. Isso porque, como já foi visto antes, os fatores influenciam-se entre si, mas no caso dos aspectos emocionais estamos falando de formação de identidade, que se inicia justamente com a conjugação dos aspectos físicos e ambientais. Cada pessoa vem a este mundo como ser único, diferente de todos os outros. Cada um de nós apresenta, mesmo ao nascer, uma forma de interagir com o mundo que influencia o comportamento de quem está à nossa volta e é influenciado por ele. Não é incomum as mulheres que possuem mais de um filho afirmarem que foram bebês totalmente diferentes: um dormia mais, outro chorava o tempo todo, ou estava sempre doente. Também devemos lembrar que, quando nascemos, já trazemos conosco uma história de vida. Se fomos desejados ou não, se somos o primeiro filho ou o décimo, se nossa estada na barriga foi tranquila ou cheia de altos e baixos, se a mamãe fez uso de algum medicamento ou droga que tenha nos deixado mais agitados ou mais apagados, se tivemos ou não dificuldades maiores no parto, se fomos bem atendidos e fomos logo para perto da mamãe, ou se tivemos que ficar mais tempo longe, indo para uma UTI neonatal, por exemplo, se a mamãe ficou bem após nosso nascimento, disponível para gente ou se teve, por exemplo, uma depressão puerperal. Bom, esses são só alguns exemplos que mostram que nós já colocamos o pé na vida com algumas características que nos são individuais e que as interações que vamos estabelecer com o mundo, a partir da nossa concepção, serão formadoras de um modo de ser caracteristicamente nosso, mais ou menos ajustado, ao qual chamamos personalidade. Ao nascer, o bebê não tem ainda consciência de si mesmo e do mundo à sua volta. Não consegue diferenciar suas sensações internas do mundo externo. Apenas consegue perceber sensações boas, prazerosas, e más desprazerosas. A fralda molhada dá desprazer e ele chora. O colo da mamãe dá prazer, possivelmente lembra o conhecido aconchego do útero e dá segurança e ele dorme. Nessa sequência, entre chorar e ser confortado se dá um dos alicerces fundamentais para o restante da vida do bebê, e dificilmente a mãe se dá conta do papel fundamental desses momentos, pois, aos poucos, a criança vai construindo a noção de confiança, que é o ponto de partida para sentimentos como segurança, otimismo e fé na vida adulta. Além disso, a formação do vínculo afetivo com a mãe ou pessoa substituta faz com que o bebê ganhe condições para amadurecer e voltar-se para conhecer e experimentar o mundo. Imagine-se chegando sozinho a um país estranho, onde você não conhece a língua, os costumes, nada. Que sufoco, não? Agora imagine que nesse lugar esteja te esperando alguém que fala a sua língua, que alívio!e que pode te ensinar tudo quanto você precisa para se adaptar melhor. A mãe e o pai, ou pessoas substitutas, atuam mais ou menos como guias turísticos do mundo para o bebê que chega. A grande diferença é que o bebê é um tipo de turista até mesmo em seu próprio corpo, precisando de alguém para ajudá-lo a se conhecer. Acontece que quando o bebê não tem suas necessidades atendidas, ele não tem ainda a capacidade de suportar a sensação ruim para aguardar a boa. O bebê não diz para si mesmo: - Ah! Agora estou com fome, mas mamãe não pode me dar de mamar porque está tomando banho. Tudo bem! Quando ela sair do banheiro, eu choro de novo. Não! Para o bebê recém-nascido, a fome é um desprazer tão intenso que, se não atendida, adquire tons de ameaça de destruição, mais ou menos como nos sentiríamos diante do fim do mundo. Nesses momentos o bebê experimenta profunda sensação de desamparo. A repetição constante de tais exposições à frustração, por períodos mais prolongados, pode levar o indivíduo, no futuro, a desenvolver uma série de transtornos mentais. Alguns autores identificam aí as raízes emocionais das psicoses e da famosa síndrome do pânico.Àmedida que vai estabelecendo trocas positivas com as pessoas que cuidam dele, o bebê vai criando uma diferenciação entre ele e o restante do mundo que, nesse momento, ainda são as pessoas mais próximas, e vai adquirindo certa tolerância à frustração e maior capacidade de espera, pois já consegue antecipar, fazendo uso da memória, a satisfação de suas necessidades. Com a continuidade de seu crescimento e desenvolvimento, a criança vai adquirindo noções de julgamento de si e dos outros, isto é, vai internalizando as regras e proibições de seu ambiente e passando a captar a impressão que ela própria provoca no ambiente. Sendo assim, entramos em contato com o ambiente social mais amplo pelas portas que abrimos nas relações com nossa família nuclear ou com outras figuras de sobrevivência de nossas vidas. 6 - CENTROS DE ATENÇÃO PSICOSSOCIAL – CAPS De acordo com Ministério da Saúde (MS), os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) possibilitaram a organização de uma rede substitutiva ao Hospital Psiquiátrico no país. Os CAPS são serviços de saúde municipais, abertos, comunitários que oferecem atendimento diário.Atuam através de oficinas onde se realizam trabalhos manuais e artísticos que proporcionam ao usuário via de acesso à expressão de seus sentimentos, emoções, criatividade. Mas quando necessário pode ser feito o atendimento individual. O objetivo do CAPS é oferecer atendimento à população, realizar o acompanhamento clínico e a reinserção social dos pacientes pelo acesso ao trabalho, lazer, exercício dos direitos civis e fortalecimento dos laços familiares e comunitários. De acordo com a realidade local, o CAPS assume táticas diferentes para enfrentar os problemas decorrentes das diversas formas de viver. Assim você jamais encontrará um CAPS igual ao outro. Porém, eles trazem como ponto comum a luta pela desconstitucionalização, a realização das oficinas terapêuticas e a atuação de uma equipe multiprofissional. Pode atuar em associação com uma emergência psiquiátrica, e o paciente que sai deste setor será avaliado imediatamente para ser inserido em atividades do CAPS, sem que haja necessidade de internação. O CAPS, entre todos os dispositivos de atenção à saúde mental, tem valor estratégico para a Reforma Psiquiátrica Brasileira. Com a criação desses centros, possibilita-se a organização de uma rede substitutiva ao Hospital Psiquiátrico no país. Os CAPS são serviços de saúde municipais, abertos, comunitários que oferecem atendimento diário. Os CAPS podem ser de tipo I, II, III, Álcool e Drogas (CAPS AD) e Infanto-juvenil (CAPSi).É função dos CAPS: prestar atendimento clínico em regime de atenção diária, evitando as internações em hospitais psiquiátricos; colher e atender as pessoas com transtornos mentais graves e persistentes, procurandopreservar e fortalecer oslaçossociaisdo usuário em seu território; promover a inserção social das pessoascom transtornos mentais por meio de ações intersetoriais; regular a porta de entrada da rede de assistência em saúde mental na sua área de atuação; dar suporte a atenção à saúde mental na rede básica; organizar a rede de atenção às pessoas com transtornos mentais nos municípios; articular estrategicamente a rede e a política de saúde mental num determinado território; promover a reinserção social do indivíduo através do acesso ao trabalho, lazer, exercício dos direitos civis e fortalecimento dos laços familiares e comunitários. Esses serviços devem ser substitutivos e não complementares ao hospital psiquiátrico. De fato, o CAPS é o núcleo de uma nova clínica, produtora de autonomia, que convida o usuário à responsabilização e ao protagonismo em toda a trajetória do seu tratamento.Os projetos desses serviços, muitas vezes, ultrapassam a própria estrutura física, em busca da rede de suporte social, potencializadora de suas ações, preocupando-se com o sujeito e a singularidade, sua história, sua cultura e sua vida cotidiana.O perfil populacional dos municípios é sem dúvida um dos principais critérios para o planejamento da rede de atenção à saúde mental nas cidades, e para a implantação de centros de Atenção Psicossocial. O critério populacional, no entanto, deve ser compreendido apenas como um orientador para o planejamento das ações de saúde. De fato, é o gestor local, articulado com as outras instâncias de gestão do SUS, que terá as condições mais adequadas para definir os equipamentos que melhor respondem às demandas de saúde mental de seu município. 7- DICA DO MESTRE Em todos os níveis de atuação, a conduta do técnico de enfermagem é sempre ponto muito importante da ação em saúde. A maneira como o paciente é recebido, a expressão das pessoas que lhe atendem ou mesmo o tom de voz com que falam, são capazes de gerar sentimentos que tanto podem determinar o tratamento como afastar o indivíduo. Não é raro o paciente sair de um setor de atendimento jurando que não volta mais porque foi maltratado pelo profissional que o atendeu ou porque não foi com a cara daquele profissional. Não cabe discutirmos aqui se ele volta ou não ao setor, mas sim no tempo em que ele adiará o tratamento. Disponível em: http://bvsms.saude.gov. Acesso em 20/11/20. 8 -TRANSTORNOS MENTAIS Transtorno mental é qualquer alteração do funcionamento da mente que prejudica o bem-estar da pessoa, seu desempenho em todos os aspectos de sua vida, como a família, vida social, o meio profissional, os estudos, a compreensão de si e dos outros, na possibilidade de autocrítica, na tolerância aos problemas e na possibilidade de ter prazer na vida em geral. Ou seja, tudo que afete a ideia de Saúde Mental. 8.1 -Hormônios que envolvem transtornos mentais O cérebro humano é uma estrutura altamente complexa, cujo funcionamento depende de centenas de mediadores químicos. Sabemos hoje que boa parte das doenças psiquiátricas está relacionadaa pelo menos cinco destes neurotransmissores: noradrenalina, serotonina, dopamina ácido gama aminobutírico (GABA) e acetilcolina. A psicose, para a medicina, se traduz como uma síndrome neurológica, em que algumas partes do cérebro não estão funcionando normalmente, geralmente associada à ação de um neurotransmissor nessas áreas, chamado dopamina. A dopamina tem inúmeras funções no cérebro, sendo importante para a comunicação dos neurônios e atuando em diversos sistemas do organismo. Entretanto, o excesso de dopamina em algumas áreas do cérebro, ou o dano direto dessas áreas pode levar as pessoas a vivenciarem alucinações, delírios, alterações de personalidade ou pensamentos e comportamentos desorganizados. 8.2- Quanto à forma de manifestação Há três classificações básicas de transtornos mentais, feitas pela a Psicanálise, a neurose,psicose e perversão. Temos uma história queilustra bem esses três conceitos freudiano: o neurótico pensa que mora num castelo, o psicótico tem certeza e o perverso quer destruir o castelo.Esses conceitos já têm novas abordagens e o nosso foco está centrado nos cuidados a pessoas que estão diagnosticadas e, comumente vamos lidar com neurose e psicose no exercício da enfermagem. Neuroseé toda a psicopatologia leve, onde a pessoa tem a noção, mesmo que vaga, de seu problema.O indivíduo além de saber que é um neurótico, ele tem plena consciência dos seus atos, mas não consegue controlá-los.Ele tem contato com a realidade, porém há manifestações psicossomáticas, que são notadas por este, e que servem de aviso para a pessoa procurar um tratamento psicológico, ou psiquiátrico. É um fator comum a ansiedade exacerbada. Já a Psicose se caracteriza por uma intensa fuga da realidade. É a loucura propriamente dita. Vamos começar com a neurose, para depois nos atermos à psicose. 8.2.1- Neurose Existeminúmeras classificações menores; para citar algumas temos: 1 Depressão, também chamada de distimia, ou depressão maior. Caracteriza-se por intensoretraimento e medo do mundo exterior. Causa baixa autoestima e pode levar ao suicídio; 2 TOC - Transtorno obsessivo compulsivo que é a repetição de algum ato diversas vezes aodia, não controlável e causador de grande ansiedade; 3 Síndrome do pânico, quecausa grande aflição, e medo perante alguma situação; 4 Fobias - queé o medo exagerado de alguma situação. Pode ser medo de ambientes fechados(claustrofobia), medo de água (hidrofobia), medo de pessoas (sociofobia), entre outras; 5 Transtornos de ansiedade, no qual o indivíduo tem ataques de ansiedades antes ou depois derealizar algo, ou muitas vezes nem realizá-lo. É comum em pequena escala na maioria das pessoas, porém seu excesso é denominado como patológico; 6 TPH - Transtorno de Personalidade Histriônica, que é caracterizado por um padrão generalizado de excessiva emocionalidade e busca de atenção. O diagnóstico de todos os transtornos mentais é por critérios clínicos e cabe a todos os profissionais de saúde se ater aos cuidados e não prejulgar. Os tratamentos costumam envolver psicoterapia e psicodinâmica. Freud, considerado o pai da Psicanálise, citou, em uma de suas obras, que todas as pessoas têm um pouco de neurose em si. É normal no ser humano ser um pouco neurótico, sendo apenas o excesso chamado de patológico. Feita essas seis colocações acima, vamos conhecer um pouco melhor cada uma, pois apesar do foco ser na saúde mental, é preciso saber também como se manifestam as que normalmente encontramos no nosso ambiente de trabalho. 8.2.2- Depressão A depressão é uma doença mental que se caracteriza por tristeza mais acentuada ou prolongada, perda de interesse por atividades habitualmente sentidas como agradáveis e perda de energia ou cansaço fácil. Ter sentimentos depressivos é comum, sobretudo após experiências ou situações que nos afetam de forma negativa. No entanto, se os sintomas se agravam e perduram por mais de duas semanas consecutivas, convém começar a pensar em procurar ajuda. A depressão pode afetar pessoas de todas as idades, desde a infância à terceira idade, e se não for tratada pode conduzir ao suicídio, uma consequência frequente da depressão. A depressão pode ser episódica, recorrente ou crónica, e conduz à diminuição substancial da capacidade do indivíduo em assegurar as suas responsabilidades do dia a dia. A depressão pode durar de alguns meses a alguns anos. Contudo, cerca de 20 por cento dos casos torna-se uma doença crônica. Esses casos devem-se, fundamentalmente, à falta de tratamento adequado. Fatores de risco Pessoas com episódios de depressão no passado; Pessoas com história familiar de depressão; Pessoas do gênero feminino – a depressão é mais frequente nas mulheres, ao longo de toda a vida, mas em especial durante a adolescência, no primeiro ano após o parto, menopausa e pós-menopausa; Pessoas que sofrem qualquer tipo de perda significativa, mais habitualmente a perda de alguém próximo; Pessoas com doenças crónicas - sofrendo do coração, com hipertensão, com asma, com diabetes, com história de tromboses, com artroses e outras doenças reumáticas, SIDA, fibromialgia, entre outras doenças; Pessoas que coabitam com um familiar portador de doença grave e crónica, por exemplo, pessoas que cuidam de doentes com Alzheimer; Pessoas com tendência para ansiedade e pânico; Pessoas com profissões geradoras de estresse ou em circunstâncias de vida que causem estresse; Pessoas com dependência de substâncias químicas, como ansiolíticos, anticolinérgicos, drogas como cocaína, maconha e álcool; Pessoas idosas. Causas da depressão As causas diferem muito de pessoa para pessoa. Porém, é possível afirmar que há fatores que influenciam o aparecimento e a permanência de episódios depressivos. Por exemplo, condições de vida adversas, o divórcio, a perda de um ente querido, o desemprego, a incapacidade em lidar com determinadas situações ou em ultrapassar obstáculos, etc.Partindo desse contexto a depressão pode ser dividida em Endógena, Psicogênica, Somatogênica. A depressão endógena é de origem interna, indefinida. Embora o primeiro episódio possa se dar após alguma perda ou dificuldade, os outros geralmente não apresentam causas observáveis. Comumente é uma forma grave de depressão, apresentando grande risco de suicídio (10 a 15% dos casos). Antigamente era chamada de depressão psicótica. Responde melhor a tratamento medicamentoso. A depressãopsicogênicatem suas causas mais facilmente localizadas na história de vida do indivíduo, que apresenta fatos que o levaram aos sintomas. Tanto que já foi chamada de depressão reativa ou situacional. Os sintomas são menos graves que na depressão endógena, e o risco de suicídio, embora existente, é menor. Responde melhor à psicoterapia do que ao tratamento medicamentoso. A depressão somatogênica é aquela causada por algum fator de alteração principalmente orgânico, como o uso de alguns medicamentos como anti-hipertensivos, anti-inflamatórios e contraceptivos ou ainda a interrupção do uso de psicoestimulantes. Já os episódios de mania caracterizam-se como o oposto da depressão. O indivíduo apresenta um ritmo acelerado, fala muito e geralmente alto, trocando constantemente de assunto, fuga de ideias, movimenta-se amplamente, tem energia de sobra, tanto que, muitas vezes não consegue dormir, hiperatividade. Mostra-se eufórico, com autoestima exagerada, achando que pode tudo, a sexualidade também pode estar exacerbada, gosta de atrair atenções. Não acha que tem problema algum, o que muitas vezes prejudica a aceitação do tratamento. Sintomas da depressão A depressão se diferencia dasmudanças comum de humor pela gravidade e permanência dos sintomas. Está associada, muitas vezes, a ansiedade ou pânico.Os sintomas mais comuns são: modificação do apetite (falta ou excesso de apetite); perturbaçõesdo sono (sonolência ou insónia); fadiga, cansaço e perda de energia; sentimentos de inutilidade, de falta de confiança e de autoestima, de culpa e de incapacidade; falta ou alterações da concentração; preocupação com o sentido da vida e com a morte; desinteresse, apatia e tristeza; alterações do desejo sexual; irritabilidade; manifestação de sintomas físicos, como dor muscular, dor abdominal, enjoo. Diagnóstico O diagnóstico é feito pela avaliação clínica do doente, designadamente pela identificação, enumeração e curso dos sintomas, bem como pela presença de doenças de que padeça e de medicação que possa estar a tomar. Não existem meios complementares de diagnóstico específicos para a depressão, e a bem da verdade, tão pouco são necessários: o diagnóstico clínico é fácil e bastante preciso para omédico psiquiatra, que faz a orientação terapêutica, como ouso de medicamento a usar, a dose, duração, resposta esperada em relação ao tipo de pessoa, a indicação de psicoterapia mais adequada, a necessidade de outros tipos de intervenção, entre outros. Tratamento Normalmente o tratamento é feito através do uso de medicamentos, de intervenções psicoterapêuticas, ou da conjugação de ambas. As intervenções psicoterapêuticas são particularmente úteis nas situações ligeiras e reativas às adversidades da vida, bem como em associação com medicamentos nas situações moderadas e graves. Os medicamentos usados no tratamento das depressões são designados por antidepressivos. 8.2.3- Transtorno Obsessivo-Compulsivo - TOC O transtorno obsessivo-compulsivo - TOC - é um distúrbio psiquiátrico de ansiedade, que se caracteriza pela presença de crises recorrentes de obsessões e compulsões. Entende-se por obsessão pensamentos, ideias e imagens que invadem a pessoa insistentemente, sem que ela queira. Como um disco riscado que se põe a repetir sempre o mesmo ponto da gravação, eles ficam patinando dentro da cabeça e o único jeito para livrar-se deles por algum tempo é realizar o ritual próprio da compulsão, seguindo regras e etapas rígidas e pré-estabelecidas que ajudam a aliviar a ansiedade. Alguns portadores dessa desordem acham que, se não agirem assim, algo terrível pode acontecer-lhes. No entanto, a ocorrência dos pensamentos obsessivos tende a agravar-se à medida que são realizados os rituais e pode transformar-se num obstáculo não só para a rotina diária da pessoa como para a vida da família inteira. Classificação Existem dois tipos de TOC: Transtorno obsessivo-compulsivo subclínico – as obsessões e rituais se repetem com frequência, mas não atrapalham a vida da pessoa; Transtorno obsessivo-compulsivo propriamente dito, no qual as obsessões persistem até o exercício da compulsão que alivia a ansiedade. Causas As causas do TOC não estão bem esclarecidas. Certamente, trata-se de um problema multifatorial. Estudos sugerem a existência de alterações na comunicação entre determinadas zonas cerebrais que utilizam a serotonina. Fatores psicológicos e histórico familiar também estão entre as possíveis causas desse distúrbio de ansiedade. Sintomas Em algumas situações, todas as pessoas podem manifestar rituais compulsivos que não caracterizam o TOC. O principal sintoma da doença é a presença de pensamentos obsessivos que levam à realização de um ritual compulsivo para aplacar a ansiedade que toma conta da pessoa. Preocupação excessiva com limpeza e higiene pessoal, dificuldade para pronunciar certas palavras, indecisão diante de situações corriqueiras por medo que uma escolha errada possa desencadear alguma desgraça, pensamentos agressivos relacionados com morte, acidentes ou doenças são exemplos de sintomas do transtorno obsessivo-compulsivo. Frequência Em geral, só nove anos depois que manifestou os primeiros sintomas, o portador do distúrbio recebe o diagnóstico de certeza e inicia do tratamento. Por isso, a maior parte dos casos é diagnosticada em adultos, embora o transtorno obsessivo- compulsivo possa acometer crianças a partir dos três, quatro anos de idade. Na infância, o distúrbio é mais frequente nos meninos. No final da adolescência, porém, pode-se dizer que o número de casos é igual nos dois sexos. Tratamento O tratamento pode ser medicamentoso e não medicamentoso. O medicamentoso utiliza antidepressivos inibidores da recaptação de serotonina. São os únicos que funcionam. A terapia cognitivo-comportamental é uma abordagem não medicamentosa com comprovada eficácia sobre a doença. Seu princípio básico é expor a pessoa à situação que gera ansiedade, começando pelos sintomas mais brandos. Os resultados costumam ser melhores quando se associam os dois tipos de abordagem terapêutica. Recomendações Não há quem não tenha experimentado alguma vez um comportamento compulsivo, mas se ele se repete a ponto de prejudicar a execução de tarefas rotineiras, a pessoa pode ser portadora de transtorno obsessivo-compulsivo e precisa de tratamento. Crianças podem obedecer a certos rituais, o que é absolutamente normal. No entanto, deve chamar a atenção dos pais a intensidade e a frequência desses episódios. O limite entre normalidade e TOC é muito tênue. Os pais não devem colaborar com a perpetuação das manias e rituais dos filhos. Devem ajudá-los a enfrentar os pensamentos obsessivos e a lidar com a compulsão que alivia a ansiedade. O respeito a rituais do portador de TOC pode interferir na dinâmica da família inteira. Por isso, é importante estabelecer o diagnóstico de certeza e encaminhar a pessoa para tratamento. Esconder os sintomas por vergonha ou insegurança é um péssimo caminho. Quanto mais se adia o tratamento, mais grave fica a doença. 8.2.4-Síndrome do pânico A síndrome do pânico, na linguagem psiquiátrica chamada de transtorno do pânico, é uma enfermidade que se caracteriza por crises absolutamente inesperadas de medo e desespero. A pessoa tem a impressão de que vai morrer naquele momento de um ataque cardíaco porque o coração dispara, sente falta de ar e tem sudorese abundante. Quem padece de síndrome do pânico sofre durante as crises e ainda mais nos intervalos entre uma e outra, pois não faz a menor idéia de quando elas ocorrerão novamente, se dali a cinco minutos, cinco dias ou cinco meses. Isso traz tamanha insegurança que a qualidade de vida do paciente fica seriamente comprometida. Sintomas físicos de uma crise de pânico Os sintomas físicos de uma crise de pânico aparecem subitamente, sem nenhuma causa aparente (apesar de existir, mas fica difícil de se perceber). Os sintomas são como uma preparação do corpo para alguma "coisa terrível". A reação natural é acionar os mecanismos de fuga. Diante do perigo, o organismo trata de aumentar a irrigação de sangue no cérebro e nos membros usados para fugir - em detrimento de outras partes do corpo, incluindo os órgãos sexuais. Eles podem incluir: contração, tensão muscular; palpitações (o coração dispara); tontura, atordoamento, náusea; dificuldade de respirar; boca seca; calafrios ou ondas de calor; sudorese; sensação de ‘estar sonhando’ ou distorções de percepção da realidade; terror - sensação de que algo inimaginavelmente horrível está prestes a acontecer e de que se está impotente para evitar tal acontecimento; confusão, pensamento acelerado; medo de perder o controle, fazer algo embaraçoso; medo de morrer; vertigens ou sensação de debilidade; entre outros. Uma crise de pânico pode durar vários minutos e é uma das situações mais angustiantes que pode ocorrer a alguém. A maioria das pessoas que tem uma crise terá outras, se não tratar. Quando alguém tem crises repetidas ou se sente muito ansioso, com medo de ter outra crise, diz-se que tem transtorno do pânico. Tratamento Existe uma variedade de tratamentos para o T.P. O mais importante neste aspecto é que se introduza um tratamento que vise restabelecer o equilíbrio bioquímico cerebral numa primeira etapa. Isto pode ser feito através de medicamentos seguros e que não produzam risco de dependência física dos pacientes. Numa segunda etapa prepara-se o paciente para que ele possa enfrentar seus limites e as adversidades vitais de uma maneira menos estressante. Em última análise, trata-se de estabelecer junto com o paciente uma nova forma de viver onde se priorize a busca de uma harmonia e equilíbrio pessoal. Uma abordagem psicoterápica específica deverá ser realizada com esse objetivo. O sucesso do tratamento está diretamente ligado ao engajamento do paciente com o mesmo. É importante que a pessoa que sofre de T.P. entenda todas as peculiaridades que envolvem este mal e que queira fazer uma boa "aliança terapêutica" com seu médico no sentido de juntos superarem todas as adversidades que poderão surgir na busca do seu equilíbrio pessoal. 8.2.5- Fobias transtornos fóbico-ansiosos O medo é um sentimento comum a todas as espécies animais e serve para proteger o indivíduo do perigo. Todos nós temos medo em algumas situações nas quais o perigo é iminente. A fobia pode ser definida como um medo irracional, diante de uma situação ou objeto que não apresenta qualquer perigo para a pessoa. Com isto, essa situação ou esse objeto são evitados a todo custo. Essa evitação fóbica leva muito freqüentemente a limitações importantes na vida cotidiana da pessoa. As fobias são acompanhadas de ansiedade importante e também freqüentemente de depressão. Os transtornos fóbico-ansiosos constituem um grupo de doenças mentais onde a ansiedade é; ligada predominantemente a uma situação ou objeto. Há três tipos principais de fobia, a saber, a fobia social, específicas e agorafobia, Fobia social: neste caso a pessoa tem medo de se expor a outras pessoas que se encontramem grupos pequenos. Isto pode acontecer em reuniões, festas, restaurantes e outros locais. Muitas vezes elas são restritas a uma situação, como por exemplo, comer ou falar em publico, assinar um cheque na presença de outras pessoas ou encontrar-se com alguém do sexo oposto. Muitas pessoas apresentam também baixa auto-estima e medo de criticas. Usualmente a pessoa nessas situações apresenta rubor na face, tremores, náuseas. Em casos extremos pode isolar-se completamente do convívio social. Fobias específicas (ou isoladas): como o próprio nome diz, são fobias restritas a umasituação ou objeto altamente específicos, tais como, animais inofensivos (zoofobia), altura (acrofobia), trovões e relâmpagos (astrofobia), voar, espaços fechados (claustrofobia), doenças (nosofobia), dentista, sangue, entre outros. A incapacitação da pessoa no dia a dia depende do tipo de fobia e de quão fácil é evitar a situação fóbica. Agorafobia: inclui medo de espaços abertos, da presença de multidões, da dificuldade deescapar rapidamente para um local seguro (em geral a própria casa). A pessoa pode ter medo de sair de casa, de entrar em uma loja ou shopping, de lugares onde há; multidões, de viajarsozinho. Muitas pessoas referem um medo aterrorizante de se sentirem mal e serem abandonadas sem socorro em público. Muitas pessoas com agorafobia apresentam também o transtorno de pânico. Tratamento O tratamento das fobias se faz com a associação de medicamentos com psicoterapia. Os medicamentos mais utilizados pertencem ao grupo dos antidepressivos; os ansiolíticos também são freqüentemente indicados. A psicoterapia auxilia na compreensão de fatores que podem agravar ou perpetuar os sintomas fóbicos. 8.2.6-Transtornos de Ansiedade Ansiedade é um estado emocional de apreensão, uma expectativa de que algo ruim aconteça acompanhado por várias reações físicas e mentais desconfortáveis. É comum que haja comorbidade e assim uma pessoa pode apresentar sintomas de mais de um tipo de transtorno de ansiedade ao mesmo tempo e destes com outros problemas como depressão. No geral, os transtornos de ansiedade respondem muito bem ao tratamento psicológico especializado. 8.2.7-Transtorno Histriônico Pacientes com transtorno de personalidade histriônica usam sua aparência física, agindo de forma inadequadamente sedutora ou provocadora, para chamar a atenção dos outros. Eles não têm um senso de auto direção e são altamente sugestionáveis, muitas vezes agindo de forma submissa para reter a atenção dos outros. A prevalência estimada é < 2% da população geral. É diagnosticado com mais frequência em mulheres, mas isso pode refletir apenas a maior prevalência entre as mulheres nos locais de atendimento, onde os dados foram obtidos. Em alguns estudos, a prevalência entre as mulheres e os homens foi semelhante. 8.2.8- Psicose se caracteriza por uma intensa fuga da realidade. É, como a filosofia e as arteschamam, a loucura, propriamente dita. Pode ser classificada de três formas: 1. pelamanifestação 2. peloaspecto neurofisiológico, 3. pelaintensidade Manifestação: se divide em dois tipos principais: a) Esquizofrenia: tem como aspectos principais a fuga da realidade, as manias deperseguição, as alucinações, entre outros. Têm ainda subdivisões, que são a esquizofrenia paranóide, a esquizofrenia desorganizada (ou hebefrênica), a esquizofrenia simples, a catatonia ou a esquizofrenia indiferenciada; b) Transtorno de afeto bipolar: tem por característica picos muito grandes de humor, empouco espaço de tempo, para o lado da depressão (ou distimia ou disforia), e pro lado da mania (euforia ou eutimia). Por estes dois aspectos também conhecemos este transtorno como psicose maníaco-depressiva. O doente sofre de mudanças de humor constantes, sendo perigoso e gastador em fases maníacas, e retraído, podendo se suícidar, no estado depressivo. Aspecto neurofisiológico: Funcional: age apenas no funcionamento do aparelho psiquico, em suas ligações. Orgânica: tem como característica mudanças ocorridas na química do cérebro, ou em mudanças fisiológicas e estruturais. Intensidade:Como intensidade entendemos a agressividade e impulsividade do doente em: A - Aguda: também chamada de fase de surto; é quando o doente se torna violento, impulsivo e fora da realidade. É necessária observação psiquíatrica constante, pois o doente oferece risco para si, para outros e para o patrimônio. B - Crônica: é a fase de relaxamento do doente, onde ele está fora da realidade, mas não põe em risco os outros e sua vida. Este estágio é permanente, e resulta de algum caso onde não há cura. 8.2.9- Esquizofrenia A esquizofrenia é uma doença mental crônica que se manifesta na adolescência ou início da idade adulta. Sua frequência na população em geral é da ordem de 1 para cada 100 pessoas, havendo cerca de 40 casos novos para cada 100.000 habitantes por ano. No Brasil estima-se que há cerca de 1,6 milhão de esquizofrênicos; a cada ano cerca de 50.000 pessoas manifestam a doença pela primeira vez. Ela atinge em igual proporção homens e mulheres, em geral inicia-se mais cedo no homem, por volta dos 20-25 anos de idade, e na mulher, por volta dos 25-30 anos. Sintomas A esquizofrenia apresenta várias manifestações, afetando diversas áreas do funcionamento psíquico. Os principais sintomas são: Delírios: são ideias falsas, das quais o paciente tem convicção absoluta. Por exemplo, ele se acha perseguido ou observado por câmeras escondidas, acredita que os vizinhos ou as pessoas que passam na rua querem lhe fazer mal. Alucinações: são percepções falsas dos órgãos dos sentidos. As alucinações mais comuns na esquizofrenia são as auditivas, em forma de vozes. O paciente ouve vozes que falam sobre ele, ou que acompanham suas atividades com comentários. Muitas vezes essas vozes dão ordens de como agir em determinada circunstancia. Outras formas de alucinação, como visuais, táteis ou olfativas podem ocorrer também na esquizofrenia. Alterações do pensamento: as ideias podem se tornar confusas, desorganizadas ou desconexas, tornando o discurso do paciente difícil de compreender. Muitas vezes o paciente tem a convicção de que seus pensamentos podem ser lidos por outras pessoas, ou que pensamentos são roubados de sua mente ou inseridos nela. Alterações da afetividade: muitos pacientes tem uma perda da capacidade de reagir emocionalmente às circunstancias, ficando indiferente e sem expressão afetiva. Outras vezes o paciente apresenta reações afetivas que são incongruentes, inadequadas em relação ao contexto em que se encontra. Torna-se pueril e se comporta de modo excêntrico ou indiferente ao ambiente que o cerca. Diminuição da motivação: o paciente perde a vontade, fica desanimado e apático, não sendo mais capaz de enfrentar as tarefas do dia a dia. Quase não conversa, fica isolado e retraído socialmente. Outros sintomas, como dificuldade de concentração, alterações da motricidade, desconfiança excessiva, indiferença, podem aparecer na esquizofrenia. Dependendo da maneira como os sintomas se agrupam, é possível caracterizar os diferentes subtipos da doença. A esquizofrenia evolui geralmente em episódios agudos onde aparecem os vários sintomas acima descritos, principalmente delírios e alucinações, intercalados por períodos de remissão, com poucos sintomas manifestos. Causa da esquizofrenia Não se sabe quais são as causas da esquizofrenia. A hereditariedade tem uma importância relativa, sabe-se que parentes de primeiro grau de um esquizofrênico tem chance maior de desenvolver a doença do que as pessoas em geral. Por outro lado, não se sabe o modo de transmissão genética da esquizofrenia. Fatores ambientais (p. ex., complicações da gravidez e do parto, infecções, entre outros) que possam alterar o desenvolvimento do sistema nervoso no período de gestação parecem ter importância na doença. Estudos feitos com métodos modernos de imagem, como tomografia computadorizada e ressonância magnética mostram que alguns pacientes têm pequenas alterações cerebrais, com diminuição discreta do tamanho de algumas áreas do cérebro. Alterações bioquímicas dos neurotransmissores cerebrais, particularmente da dopamina, parecem estar implicados na doença. Diagnóstico O diagnóstico da esquizofrenia é feito pelo especialista a partir das manifestações da doença. Não há nenhum tipo de exame de laboratório (exame de sangue, raio X, tomografia, eletroencefalograma etc.) que permita confirmar o diagnóstico da doença. Muitas vezes o clínico solicita exames, mas estes servem apenas para excluir outras doenças que podem apresentar manifestações semelhantes à esquizofrenia. Tratamento O tratamento da esquizofrenia visa ao controle dos sintomas e a reintegração do paciente. O tratamento da esquizofrenia requer duas abordagens: medicamentosa e psicossocial. O tratamento medicamentoso é feito com remédios chamados antipsicóticos ou neurolépticos. Eles são utilizados na fase aguda da doença para aliviar os sintomas psicóticos, e também nos períodos entre as crises, para prevenir novas recaídas. A maioria dos pacientes precisa utilizar a medicação ininterruptamente para não ter novas crises. Assim o paciente deve submeter-se a avaliações médicas periódicas; o médico procura manter a medicação na menor dose possível para evitar recaídas e evitar eventuais efeitos colaterais. As abordagens psicossociais são necessárias para promover a reintegração do paciente à família e à sociedade. Devido ao fato de que alguns sintomas (principalmente apatia, desinteresse, isolamento social e outros) podem persistir mesmo após as crises, é necessário um planejamento individualizado de reabilitação do paciente. Os pacientes necessitam em geral de psicoterapia, terapia ocupacional, e outros procedimentos que visem ajudá-lo a lidar com mais facilidade com as dificuldades do dia a dia. Os familiares são aliados importantíssimos no tratamento e na reintegração do paciente. É importante que estejam orientados quanto à doença esquizofrenia para que possam compreender os sintomas e as atitudes do paciente, evitando interpretações errôneas. As atitudes inadequadas dos familiares podem muitas vezes colaborar para a piora clínica do mesmo. O impacto inicial da noticia de que alguém da família tem esquizofrenia é bastante doloroso. Como a esquizofrenia é uma doença pouco conhecida e sujeita a muita desinformação as pessoas se sentem perplexas e confusas. Frequentemente, diante das atitudes excêntricas dos pacientes, os familiares reagem também com atitudes inadequadas, perpetuando um circulo vicioso difícil de ser rompido. Atitudes hostis, criticas e superproteção prejudicam o paciente, apoio e compreensão são necessários para que ele possa ter uma vida independente e conviva satisfatoriamente com a doença. 8.2.10- Transtorno afetivo bipolar O transtorno afetivo bipolar era denominado até bem pouco tempo de psicose maníaco-depressiva. Com a mudança de nome, esse transtorno deixou de ser considerado uma perturbação psicótica para ser considerado uma perturbação afetiva. A alternância de estados depressivos com maníacos é a tônica dessa patologia. Muitas vezes o diagnóstico correto só será feito depois de muitos anos. Uma pessoa que tenha uma fase depressiva, receba o diagnóstico de depressão e dez anos depois apresente um episódio maníaco tem na verdade otranstorno bipolar, mas até que a mania surgisse não era possível conhecer diagnóstico verdadeiro. O termo mania é popularmente entendido como tendência a fazer várias vezes a mesma coisa. Mania em psiquiatria significa um estado exaltado de humor que será descrito mais detalhadamente adiante. A depressão do transtorno bipolar é igual à depressão recorrente que só se apresenta como depressão, mas uma pessoa deprimida do transtorno bipolar não recebe o mesmo tratamento do paciente bipolar. Características O início pode ser tanto pela fase depressiva como pela fase maníaca, iniciando gradualmente ao longo de semanas, meses ou abruptamente em poucos dias, já com sintomas psicóticos o que muitas vezes confunde com síndromes psicóticas. Além dos quadros depressivos e maníacos, há também os quadros mistos (sintomas depressivos simultâneos aos maníacos) o que muitas vezes confunde os médicos retardando o diagnóstico da fase em atividade. Tipos Se aceita a divisão do transtorno afetivo bipolar em dois tipos: o tipo I e o tipo II. O tipo I é a forma clássica em que o paciente apresenta os episódios de mania alternados com os depressivos. As fases maníacas não precisam necessariamente ser seguidas por fases depressivas, nem as depressivas por maníacas. O tipo II caracteriza-se por não apresentar episódios de mania, mas de hipomania com depressão. Fase maníaca Tipicamente leva uma a duas semanas para começar e quando não tratado pode durar meses. O estado de humor está elevado podendo isso significar uma alegria contagiante ou uma irritação agressiva. Junto a essa elevação encontram-se alguns outros sintomas como elevação da autoestima, sentimentos de grandiosidade podendo chegar a manifestação delirante de grandeza considerando-se uma pessoa especial, dotada de poderes e capacidades únicas como telepáticas por exemplo. Aumento da atividade motora apresentando grande vigor físico e, apesar disso, com uma diminuição da necessidade de sono. O paciente apresenta uma forte pressão para falar ininterruptamente, as ideias correm rapidamente a ponto de não concluir o que começou e ficar sempre emendando uma ideia não concluída em outra sucessivamente: a isto denominamos fuga-de-ideias. Aumento