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ANESTESIOLOGIA AVALIAÇÃO E PREPARO PRÉ-ANESTESICO Deve ser feita preferencialmente pelo anestesiologista. 1. Capta a confiança do paciente, orientando sobre a anestesia, os cuidados perioperatórios e tratamento da dor e reduzindo a sua ansiedade → melhora da relação médico-paciente. 2. Estimar o risco cirúrgico e avaliar o risco vs benefício da cirurgia. 3. Determina sua condição física, analisa exames complementares. 4. Reduz a morbimortalidade perioperatória e pós- operatória tardia. Segundo CFM, deve ser feito a consulta pré-anestésica. Não sendo possível essa consulta, o anestesista pode fazer uma avaliação no hospital antes da admissão do paciente no centro cirúrgico. O anestesista deve obter o TCLE, um documento primordial, onde tudo (risco e benefícios) serão claros e o paciente deve assinar. Na consulta, deve ser feito uma anamnese detalhada e objetiva, com prioridade de avaliar os sistemas orgânicos, antecedentes patológicos e uso de medicamentos, um bom exame físico e exames complementares (se necessário). Depois, deve-se traçar condutas que minimizem a morbiletalidade perioperatória (período intraoperatório até 48h de pós operatório) e pós- operatória tardia (após 48h de pós operatória). Documentação da anestesia no pré-operatório deve conter: ❖ Estratificação de risco do paciente ❖ TCLE ❖ Ficha de consulta e/ou avaliação pré-anestésica (com identificação do médico, paciente, procedimento proposto, anamnese, exame físico, tempo de jejum, diagnósticos, tratamento atual ou recente, resultados dos exames complementares, prescrição médica). Risco anestésico cirúrgico Depende de fatores ligados ao: ➢ PACIENTE: estado físico, comorbidades, fatores de risco. ➢ À CIRURGIA: duração (de maior extensão possuem maior risco), localização (em órgãos vitais possuem maiores riscos) e as de emergência. ➢ À ANESTESIA: técnica, agentes utilizados, duração. Tem como base 4 perguntas: 1. Risco anestésico-cirúrgico está acima da média para a cirurgia proposta? 2. Quais exames complementares necessários para estimar com maior precisão esse risco? 3. A cirurgia deve ser adiada, modificada ou contraindicada? 4. Quais ações devem ser implementadas para minimizar o risco? Riscos cirúrgicos de complicações cardíacas, pulmonares, de tromboembolismo venoso, delirium, náuseas/vômitos e sangramento → avaliar em todos os pacientes. Riscos adicionais → avaliar de modo individualizado Escores de risco 1. Risco Anestésico (ASA): é um bom determinante da mortalidade peri-operatória secundária à anestesia e as condições clinicas pré-operatórias associadas. São levados em consideração o estado físico do paciente (análise subjetiva) e a presença ou não de morbidades. Pacientes ASA I possuem mortabilidade operatória baixa (0,1%), enquanto indivíduos ASA IV apresentam mortalidade acima de 7%. 2. Risco cardiovascular • Alta incidência de eventos cardíacos adversos maiores • A doença cardiovascular (principalmente IAM e arritmias malignas), contribui de forma importante para mortalidade perioperatória. • Os escores de risco cardiovascular avaliam a probabilidade do paciente apresentar eventos cardíacos no período perioperatório para procedimentos não cardíacos. • Os mais utilizados são: algoritmo do ACP, o da ACC/AHA, EMAPO e o IRCR de Lee - Índice de Risco Cardíaco Revisado (IRCR), ou índice de Lee (1999): estima o risco cardiovascular com base no tipo de cirurgia e critérios clínicos. Simples, de fácil aplicação e com boa capacidade de predição do risco de complicações cardíacas em cirurgia não cardíaca de grande porte. • Goldman (1977) – primeiro modelo multifatorial especifico para complicações cardíacas, que contempla variáveis referentes a avaliação clínica, ECG e tipo de cirurgia. Valoriza muito a presença de sintomas clínicos e alterações de ECG, mas não leva em conta outras alterações (como mobilidade, etc). • Detsky et al (1986) acrescentaram ao modelo original de Goldman avaliação de angina, história previa de infarto ou de edema agudo de pulmão • Escore de Eagle e Vanzetto (1996): construído para identificar o risco de complicações cardíacas especificamente após cirurgias vasculares • Algoritmo da American College of Physicians (ACP- 1997): estima o risco de DAC em pacientes submetidos a cirurgias não cardíacas. Valoriza a presença de sintomas clínicos e de alterações eletrocardiográficas. Classifica o paciente em 3 classes (I a III). Desvantagem é que a avaliação de pacientes com capacidade funcional reduzida (onde os sintomas clínicos podem estar subestimados) e de portadores de marcapasso definitivo (não se avalia isquemia no ECG), pode ser limitada. Classe I – 0-15 pontos → avaliar novamente utilizando os critérios de Eagle e Vanzetto para discriminar o risco em baixo ou intermediário II ou III → alto risco • Estudo Multicêntrico de Avaliação Perioperatória - EMAPO (2007) – Desenvolvido pela Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo. Propõe uma nova classificação bem completa, com 27 novas variáveis. Estratifica o risco perioperatório do paciente em 5 níveis, mas na prática classificamos em 3 niveis (muito baixo e baixo/ moderado / elevado e muito elevado). • Algorítimo para avaliação cardíaca perioperatória do ACC/AHA: classifica o paciente de acordo com a presença de preditores clínicos e cirúrgicos. Contempla o risco inerente à cirurgia, avaliação da capacidade funcional do paciente, medida em equivalentes metabólicos (METS), história de revascularização do miocárdio, sintomas clínicos e alterações do ECG. Fluxograma de avaliação cardiovascular perioperatória SBC: AVALIAÇÃO CARDIOVASCULAR: Variáveis de rastreio ✓ Condições cardíacas ativas (SCA, ICC, arritmias, doença valvar) ✓ Fatores clínicos de risco (história de isquemia miocárdica, ICC, AVC, DM) ✓ Risco inerente à cirurgia ✓ Avaliação da capacidade funcional <4 METS: capacidade funcional prejudicada Operar x não operar: Quando o risco cardiovascular é muito elevado e supera o risco de morte pela doença de base → cirurgia não- cardíaca contraindicada. 3. Risco pulmonar Questionário STOP-Bang → avalia risco de apneia obstrutiva do sono. Quanto maior o risco, maior a repercussão cardíaca. Todos os pacientes submetidos a cirurgias não cardíacas devem ser avaliados quanto ao risco de complicações pulmonares. Fatores que aumentam o risco: neurocirurgia, cirurgia cabeça e pescoço, cirurgias de emergência, procedimentos com mais de 3 horas, cirurgia torácica, cirurgia de aorta, anestesia geral. Pacientes de alto risco devem receber assistência da fisioterapia (exercícios de respiração, espirometria de incentivo), além do uso de cateter nasogástrico para náusea, vômito ou distensão abdominal pós-operatória. Pacientes de risco elevado para complicações respiratórias também devem seguir algumas recomendações: interromper tabagismo 8 semanas antes do procedimento; asmáticos e com DPOC devem receber, em muitos casos, glicocorticoides e broncodilatadores (pré e pós-operatório); pneumopatias infecciosas devem ser tratadas antes da cirurgia. 4. Risco de TEV O escore de Caprini modificado é utilizado para estimar o risco de TEV em determinadas cirurgias (abdominais, pélvicas, vascular, plástica). A partir da pontuação, planeja-se a profilaxia imediatamente antes ou logo após a cirurgia e a mantém até a alta hospitalar. Situações especiais (cirurgia oncológica abdominal ou pélvica, ortopédicas) a profilaxia é estendida para até 35 dias pós- operatório. ❖ ESCORE DE CAPRINI 0: somente estimular deambulação precoce. ❖ ESCORE DE 1 A 2: profilaxia mecânica, como a compressão pneumática intermitente. ❖ ESCORE DE 3 A 4: profilaxiamedicamentosa - anticoagulação profilática com HBPM OU heparina não fracionada em baixas doses OU fondaparinux. ❖ ESCORE MAIOR OU IGUAL 5: profilaxia medicamentosa + mecânica. O American College of Chest Physicians também desenvolveu uma árvore decisória de acordo com o tipo de cirurgia: 5. Risco de Delirium: geralmente pacientes idosos. É importante para planejar uma alta mais precoce, maior aproximação da família, dentre outras. 6. Risco de náuseas e vômitos Escala de : Tem cinetose, uso de opioides, etc. 7. Risco de sangramento Avaliada a partir do tipo de procedimento a ser realizada, consequências do sangramento (a depender das consequências previstas, permite-se um determinado valor de HB), medicamentos em uso, comorbidades (distúrbios de coagulação p ex.). É uma análise um pouco subjetiva. 8. Riscos anestésicos ✓ Alergias: bloqueadores neuromusculares (mais comum); látex; antibióticos. Em caso de alergia ao látex, deve-se trocar todo o material derivado de látex no centro cirúrgico, terapia intensiva, enfermaria, etc. Fatores de risco para alergia ao látex: múltiplas exposições aos derivados do látex, alergias a alimentos, crianças com defeito no tubo neural, anomalias urogenitais. ✓ Hipertermia maligna: síndrome clinica hereditária, desencadeada por drogas e estresse, com elevação rápida da temperatura e taxa de mortalidade alta. Há hipertermia, rigidez muscular, cianose, exantema, hipercapnia, arritmia e PCR. Fatores desencadeantes mais frequentes: succinilcolina e os halogenados. Principal fator de risco é história na família. ✓ Intubação difícil: avaliação da dificuldade de intubação traqueal e ventilação sob máscara facial. Deve ser observado na avaliação pré- anestésica a abertura da boca (ideal são 3 polpas digitais), distância esternomento (>12cm ideal), mobilidade do pescoço, tamanho da língua em relação à boca (classificação de Mallampati). Ventilação difícil sob máscara: devido 1) vedação ineficaz entre a máscara e face do paciente; 2) excessiva resistência à entrada do fluxo de ar gerado pelo balão da ventilação. 2 ou mais fatores → preocupante. Exames pré-operatórios Deverão ser solicitados em casos selecionados, não sendo recomendado a realização de exames complementares pré-operatórios de “rotina”, pois apenas uma minoria dos pacientes irá se beneficiar. São raras as doenças diagnosticadas por avaliações laboratoriais. Exames complementares não se mostram superiores a uma boa anamnese e um detalhado exame físico. ➢ Alterações determinadas somente pelos “exames de rotina” quase sempre não são associadas a um aumento na incidência de complicações perioperatórias. ➢ A solicitação de exames pré-operatórios selecionados e não de “rotina” é descrito na maioria dos guidelines e livros. Exceção: pacientes portadores de retardo mental (anamnese prejudicada) e cirurgias de emergências (anormalidades orgânicas comumente encontradas). Determinados procedimentos cirúrgicos requerem a solicitação de exames pré-operatórios, independentemente da existência de comorbidade grave: ❖ Cirurgia cardíaca ou torácica: ECG, hemograma e plaquetas, eletrólitos, creatinina, ureia, glicemia, tempo de protrombina (TP), tempo de protrombina parcial (TPP) e radiografia de tórax. ❖ Cirurgia vascular: ECG, hemograma e plaquetas, eletrólitos, creatinina, ureia e glicemia. ❖ Cirurgias intraperitoneais – ECG, hemograma e plaquetas, eletrólitos, creatinina, nitrogênio ureico (ou ureia), glicemia e provas de função hepática (opcional). ❖ Cirurgias com perda esperada > 2 L de sangue – ECG, hemograma e plaquetas, eletrólitos, creatinina, nitrogênio ureico (ou ureia), glicemia, TP e TTP. ❖ Cirurgias intracranianas – ECG, hemograma e plaquetas, eletrólitos, creatinina, nitrogênio ureico (ou ureia), glicemia, TP, TTP e tempo de sangramento (aconselhável). ❖ Cirurgia ortopédica (prótese) – hemograma e plaquetas, eletrólitos, creatinina, nitrogênio ureico (ou ureia), glicemia, urinocultura e bacterioscopia pelo Gram da urina (aconselhável). ❖ Ressecção transuretral da próstata ou histerectomia – hemograma e plaquetas, eletrólitos, creatinina, nitrogênio ureico (ou ureia) e glicemia. Indivíduos sem comorbidades e que serão submetidos a procedimentos de baixo risco → sem necessidade de realização de exame complementar. Caso indicada, a avaliação laboratorial se resume a poucos itens: A presença de comorbidades requer avaliações específicas, independente da idade. Em alguns casos, os exames devem ser realizados dentro de 30 dias antes da cirurgia. Para Fabrício: • ECG: obesidade severa (IMC>40) com risco de DCV ou DCV conhecida. • Teste de estresse: DCV conhecida; pacientes de alto risco com pobre capacidade funcional. • BNP: pode ajudar em pacientes com capacidade funcional desconhecida • HB ou HT: idade avançada; submissão à cirurgia com perda de sangue significante; hemoglobinopatia conhecida. • Plaquetas: doença hematológica ou do fígado • Creatitina: doença renal conhecida, uso de medicações que afetam função renal, idade avançada ou procedimento de alto risco • Eletrolitos: uso de medicações que alteram eletrólitos • Glicemia de jejum e hemoglobina glicada: diabetes; cirurgia vascular e ortopédica • Enzimas do fígado: doença do fígado • Estudo de coagulação: coagulopatia conhecida • Albumina, transferrina: história ou exame físico • Teste de gravidez: mulheres em idade fértil • Exame de urina: cirurgia ginecológica ou urológica • Pesquisa de MRSA: • Raio x de tórax: Pacientes acima de 50 anos com cirurgia de aneurisma da aorta abdominal e cirurgia torácica; obesidade severa (IMC>40) • Teste de função pulmonar: indicado em ressecção pulmonar Recomendações finais ao paciente Jejum pré-operatório: líquidos claros 2h; leite materno 4h; formula infantil, leite não humano e alimentos leves 6 h; alimentos pesados (carne, gordurosos) e frituras 8 h. Manejo de medicamentos pré-operatórios: - B-bloqueador, alfa 2 agosnistas, BCC, estatinas → devem ser continuadas - Diuréticos → descontinuados no dia de cirurgia (risco de hipovolemia, hipotensão) - IECA e BRA → Não há consenso, mas geralmente são mantidos até 24h antes da cirurgia (risco de mortalidade e hipotensão). Para doenças respiratórias e glicocorticoidees: B-agonista, leucotrieno e glicocorticoide → continuados Glicocorticoides de uso prolongado → dose de reposição para procedimentos maiores. Se o paciente estiver em risco aumentado de crise adrenal devido à supressão do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal ou à natureza de uma próxima cirurgia, a reposição de glicocorticoide é razoável. Agentes antiplaquetários e antitrombóticos Aspirina→ uso continuo ou suspensão por 7-10 dias em casos especiais (neurocirurgia, procedimentos oftalmológicos etc). Suspensão de 1 ano caso tenha tido IAM. Anticoagulantes (clopidogrel, prasugrel, ticagrelor): suspensão 5-7d com retorno 24h pós-operatório. Agentes antidiabéticos • Antidiabéticos orais: suspensão no dia da cirurgia • Insulina de longa ação e NPH: Retirar 75% da dose no dia anterior e 50% da dose no dia da cirurgia. • Insulina de longa e curta duração misturadas: retirar 75-100% da dose. Na manhã, se glicemia de jejum > 200mg/dl deve-se retirar metade da dose, se menor ou igual a 200 deve-se suspender. • Insulina de curta duração: suspensão na manhã da cirurgia. Medicação pré-anestésica Redução da ansiedade, sedação, amnésia, analgesia, redução das secreções das vias aéreas, prevenção de respostas a reflexos autonômicos, redução do volume do conteúdo gástrico e aumento do seu pH, efeito antiemético, redução das necessidades de anestésicos, facilitação de indução suave da anestesia. Benzodiazepínicos: sedativos/hipnóticosque produzem pouca depressão ventilatória e do sistema cardiovascular. Podem ser usados ara reduzir os efeitos psicodislépticos da cetamina. Midazolam 0,2-0,5mg/kg a depender da via de administração. Cetamina: produz sedação intensa, de ação rápida, aumento das secreções salivares e respiratórias, hipertensão arterial, intraocular e intracraniana, taquicardia e alucinações. 2-6mg/kg a depender da via de administração Alfa 2-agonistas: tem ações sedativa, ansiolítica, analgésica. Reduz pressão intraocular, as variações da pressão arterial durante a anestesia e o consumo de anestésicos. Clonidina 2,5-5microg/kg 20-90 min antes da cirurgia. Dexmedetodmina 1,2-5 microg/kg IM 60 min antes. Podem ser usados também: Estimulantes gastrointestinais, Bloqueadores de secreção ácida gástrica, Antiacidos, Antieméticos. Anticolinérgicos → não usados Grupos de risco para broncoaspiração: doença do refluxo gastroesofágico, dismotilidade esofágica, dificuldade em engolir, diabetes, esvaziamento gástrico retardado, quadro obstrutivo causando estase esofágica. Antibioticoprofilaxia → diminui a probabilidade de desenvolvimento de infecção no sitio cirúrgico no pós- operatório. Quando maior o grau de contaminação do procedimento, maior o risco dessa complicação. Deve-se classificar a cirurgia quanto ao seu grau de contaminação: Pacientes sujeitos a risco de infecção do sitio cirúrgico ou aqueles de baixo risco com alta morbidez e mortalidade em caso de infecção, se beneficiam do uso profilático de antibióticos. Cirurgia classe I → geralmente não indicado antibioticoprofilaxia, exceto se usado material sintético (como em cirurgias ortopédicas), cirurgias que envolvem incisão de osso, ou se a infecção do sitio cirúrgico, caso aconteça, representará uma catástrofe (cirurgia cardíaca, neurocirurgia, cirurgia vascular de grandes vasos). Nas cirurgias classe I, os principais agentes etiológicos da infecção são germes de pele, principalmente Staphylococcus aureus, seguido de Staphylococcus coagulase negativo (S. epidermidis, principalmente). As cefalosporinas de primeira geração, com destaque para a cefazolina, são habitualmente as medicações utilizadas. Cirurgias classe II e classe III → procedimentos gastroduodenais e hepatobiliares a cefazolina também é recomendada. Nas intervenções em íleo terminal, cólon e reto existe a necessidade de cobertura antimicrobiana para germes Gram-negativos (E.coli e outras entero- bactérias) e anaeróbicos. Nesse caso, pode ser prescrita a cefoxitina. As associações de fluoroquinolona (ou aminoglicosídeo) e metronidazol, cefazolina e metronidazol ou o uso de ampicilina--sulbactam também podem ser recomendadas. A primeira dose de antibiótico é administrada em 30min a 1 hora antes da incisão, geralmente na indução anestésica. A segunda dose é administrada em um intervalo igual a 2x a meia vida da droga em questão. Se a cirurgia é abdominal, a segunda dose é infundida 3h após a primeira. Ao término da cirurgia, a antibioticoproxfilaxia pode ser interrompida. Cirurgias cardíacas, neurológicas, ortopédicas, torácicas, vasculares, de cabeça e pescoço, e potencialmente contaminadas, necessitam de profilaxia estendida por até 24h. Cirurgias classe IV → Terapia antibiótica (e não profilaxia). A prescrição antimicrobiana vai muito além do período perioperatório. Casos especiais (medcurso) Paciente com doença isquêmica do miocárdio ✓ Muitos não precisam de avaliação pré-operatória detalhada de sua anatomia coronariana atual e função miocárdica antes de cirurgias não cardíacas. Nesses casos, um bom tratamento clinico anti-isquêmico é o suficiente para reduzir complicações perioperatórias. ✓ Considerar os escores de risco do paciente para a cirurgia (como IRCR), capacidade funcional do paciente (MET) e risco intrínseco da cirurgia. Deve-se solicitar testes provocativos de isquemia miocárdica para estratificar a DAC: cintilografia miocárdica sob estresse físico ou farmacológico e ecocardiograma sob estresse farmacológico. Menos utilizado, ainda se tem o teste ergométrico em esteira (apesar de menor sensibilidade e especificidade na avaliação de isquemia miocárdica). ✓ O estresse anestésico-cirúrgico de qualquer procedimento pode aumentar a taxa metabólica do organismo, semelhante a um exercício físico. ✓ O risco cardíaco perioperatório é aumentado nos doentes que não conseguem alcançar 4 METs durante sua atividade física diária. As diretrizes da ESC/ESA (2014 European Society of Cardiology/European Society of Anaesthesia) e da AHA/ACC sugerem fazer um teste de esforço cardíaco preoperatório caso sejam atendidos todos os critérios abaixo: • Cirurgia eletiva. • Capacidade functional reduzida por angina ou dispneia (CF< 4 METs, ou capacidade desconhecida). • Alto risco perioperatório de eventos coronários adversos significantes (RCRI > 2). • O teste afetará a tomada de decisão sobre os cuidados perioperatórios. Paciente com Diabetes Mellitus ✓ Valores descontrolados de glicemia causam aumento expressivo na morbimortalidade cirúrgica. Níveis superiores a 250 mg/dl → maior risco de deiscência pós-operatória, desidratação, cetoacidose e infecção de sitio cirúrgico. Níveis de glicose <40 mg/dl → aumento no SNAS, com maior probabilidade de arritmias e complicações cardíacas. ✓ A American Diabetes Association recomenda valores entre 80-180mg/dl da glicemia (algumas referências podem sugerir 110-180mg/dl) no período perioperatório. ✓ Assim que o paciente estiver se alimentando, a glicemia durante jejum deve ser <140 mg/dl e valores durante o dia <180mg/dl. ✓ Cirurgias eletivas devem ser sempre marcadas para manhã. ✓ DM 2 em uso de hipoglicemiantes orais ou drogas injetáveis não insulina: metformina e drogas injetáveis não insulina, não podem ser administradas na manhã da cirurgia. Clorpropamida → suspensa 48h antes da cirurgia Metformina → CI em procedimento que aumenta o risco de hipoperfusão renal (devido ao risco de acúmulo da droga e desenvolvimento de acidose láctica) Cirurgias prolongadas podem requerer insulina de curta ação (insulina regular) para controle eventual de hiperglicemia. Escalas de dose de insulina regular de acordo com a glicemia são amplamente empregadas. Assim que o paciente reiniciar a alimentação no período pós-operatório, as drogas habitualmente empregadas devem ser reiniciadas. Metformina só deverá ser reiniciada caso a função renal no pós-operatório se encontre normal. ✓ DM 2 insulinodependente: Pacientes que utilizam NPH (insulina de ação intermediária) → a dose da noite, na véspera da cirurgia, deve ser 2/3 da habitual e, na manhã da cirurgia, metade da dose utilizada. Pode manejar como se fosse insulina de longa duração. Insulina de longa duração (glargina) → dose noturna deve ser reduzida de 30-50% Insulina de curta duração → suspensão de manhã. Procedimentos de curta duração → pode ser feito uso de insulina regular subcutânea de acordo com a glicemia capilar. Procedimentos longos ou complexos → infusão continua de insulina regular e glicose, com ajuste de acordo com a glicemia capilar. ✓ DM tipo 1: procedimento de curta duração com bloqueio regional ou anestesia local → dose de glargina ou NPH da manhã deve ser reduzida 30- 50%, sem necessidade de suplementação de insulina de curta ação. Procedimentos prolongados ou com anestesia geral → infusão continua de insulina regular e glicose, com ajuste de acordo com a glicemia capilar (realizada de hora em hora).