Quando Mário Daniel foi nomeado chefe geral dos Correios em 2010, ele prometeu transformar a cultura do Serviço de Correios. Ele disse todas as coi...

Quando Mário Daniel foi nomeado chefe geral dos Correios em 2010, ele prometeu transformar a cultura do Serviço de Correios. Ele disse todas as coisas certas: administração dinâmica, afastando-se da gerência baseada em autoridade, delegação de poder aos empregados, responsabilizar mais os gerentes e trabalhadores por seus desempenhos e introduzir equipes interfuncionais de trabalho para incentivar antigas operações díspares e para funcionarem mais em conjunto. Mário observou a necessidade de mudar para superar a percepção do público de que o Serviço dos Correios estava se tornando ineficiente. E levou para casa a ameaça de concorrência da Federal Express e de outros serviços de postagens.

Pondo as boas intenções de lado, Mário essencialmente não teve impacto na mudança da cultura do serviço dos Correios. “Absolutamente nada mudou”, diz o presidente nacional de um sindicato trabalhista que representa cerca de 240.000 carteiros ativos. “A delegação de poder aos empregados pareceu boa idéia por cerca de 60 dias, até a administração perceber que na verdade significava abrir mão de parte de seu poder e deixar os trabalhadores terem voz”.

O Serviço dos Correios tem há muito tempo problemas trabalhistas com sua força de trabalho de mais de 700.000 empregados de carteira. Os trabalhadores rotineiramente registram queixas sobre coisas como pedidos negados para licença ou designações não solicitadas de horas extras. Apesar de as relações sindicato-administração estarem tensas há décadas, elas parecem ter alcançado novas quedas recentemente. As queixas estão mais altas do que nunca. Por exemplo, em 2005, 73.300 queixas não puderam ser resolvidas no nível do local de trabalho. Em comparação, o Sindicato dos Trabalhadores da Indústria Automobilística, que representa cerca de 800.000 empregados, teve apenas mil queixas que deixaram de ser resolvidas no nível de fábrica.

Um exemplo das sérias ações que a administração está tomando contra os trabalhadores, de acordo com funcionários do sindicato trabalhista, foi um carteiro com uma ficha limpa de dez anos ter sido afastado por recusar-se a trabalhar depois do expediente, num dia em que tinha que pegar o filho na escola. A administração do Serviço dos Correios diz que está apenas sendo dura com os empregados que abusam do sistema. Ela admite que esforços para renovar a cultura autoritária do serviço não tiveram o sucesso que esperavam, mas que o número de queixas registradas pelos trabalhadores não deve ser usado como evidência de que esforços para mudar o Serviço dos Correios falharam. Líderes sindicais vêem as coisas de maneira diferente. Eles acreditam que a administração está entrincheirada em seu estilo de comando e controle, quer lembrar aos empregados quem é o chefe e busca reduzir o poder dos sindicatos.

Três notáveis conjuntos de acontecimentos parecem estar no cerne das tensões atuais administração-mão-de-obra no Serviço dos Correios. O primeiro é a automação. O salário médio dos empregados da unidade de negociação era de R$5.000,00 mensais em 2005. Agora, o serviço quer cortar custos de mão-de-obra por meio do uso de equipamento de separação de cartas e leitores de códigos de barra. A dissolução de cargos atuais e a ansiedade em relação a cargos futuros preocupam os sindicatos. Por exemplo, a automação no centro de distribuição e processamento de correspondência de São Paulo forçou 600 dos 2.400 trabalhadores sindicalizados a mudar de turno ou de cargo. Em alguns casos, os trabalhadores tiveram que mudar para cargos com níveis de salário mais baixos. O segundo conjunto de acontecimentos girou em torno de negociações de contratos. O ciclo de negociações de 2010 com os sindicatos do Serviço dos Correios pode ter determinado o maior recorde de todos os tempos para a intransigência. Não foram alcançados acordos para as categorias sem ir para a arbitragem judicial. Em um conjunto de negociações, o sindicato de carteiros pediu um pagamento moderado e aumento de benefícios, argumentando que seus membros desempenhavam trabalhos comparáveis aos de outras empresas e, portanto, mereciam aumentos de salários compatíveis. A administração contra-atacou com uma exigência de corte de salário, argumentando que o trabalho desempenhado pelos carteiros era comparável ao de “pessoal de entrega uniformizado, como entregadores de pizza”, o que enfureceu o sindicato e seus associados. Um juiz finalmente deu aos carteiros um aumento de salário de 1,2% com um abono de R$1000,00 reais no primeiro ano. Finalmente há problemas relacionados ao downsizing. Logo após tornar-se chefe geral dos Correios, Mário ofereceu aos gerentes um atraente pacote de desligamento. Ele esperava cortar cerca de 30.000 gerentes do que os críticos há muito caracterizavam como uma estrutura de organização inchada. Mas os trabalhadores manuais, as pessoas que realmente movimentam as 180 bilhões de peças de correspondência a cada ano, brigaram para ser incluídos no pacote de desligamento. O resultado foi que 48.000 trabalhadores se desligaram, muitos dos quais trabalhadores experientes e supervisores de primeira linha, e as horas extras dobraram na medida em que os trabalhadores remanescentes foram forçados a serem mais produtivos.

1. Quais os fatores internos e externos que explicam as dificuldades de mudança no Serviço dos Correios?

2. O caso se trata realmente de uma mudança cultural? Quais ações poderiam facilitar o processo de mudança cultural?

3. Quais medidas de gestão da mudança poderiam ter sido tomadas?

4. Em que medida a área de Gestão de Pessoas deveria atuar nesse processo?