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DOCÊNCIA EM SAÚDE BULLYING 1 Copyright © Portal Educação 2012 – Portal Educação Todos os direitos reservados R: Sete de setembro, 1686 – Centro – CEP: 79002-130 Telematrículas e Teleatendimento: 0800 707 4520 Internacional: +55 (67) 3303-4520 atendimento@portaleducacao.com.br – Campo Grande-MS Endereço Internet: http://www.portaleducacao.com.br Dados Internacionais de Catalogação na Publicação - Brasil Triagem Organização LTDA ME Bibliotecário responsável: Rodrigo Pereira CRB 1/2167 Portal Educação P842b Bullying/ Portal Educação. - Campo Grande: Portal Educação, 2012. 136p. : il. Inclui bibliografia ISBN 978-85-8241-390-6 1.Bullying. 2. Violência na escola. 3. Assédio. I. Portal Educação. II. Título. CDD 370.15 2 SUMÁRIO 1 O QUE É BULLYING? ............................................................................................................... 6 1.1 DEFINIÇÃO ............................................................................................................................... 10 2 CAUSAS E ORIGENS ............................................................................................................... 16 2.1 CONSEQUÊNCIAS ................................................................................................................... 21 2.1.1 Sintomas Psicossomáticos ........................................................................................................ 26 2.1.2 Transtornos do Pânico ............................................................................................................... 26 2.1.3 Fobia Escolar ............................................................................................................................. 27 2.1.4 Fobia Social ............................................................................................................................... 28 2.1.5 Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG) ......................................................................... 28 2.1.6 Depressão ................................................................................................................................. 29 2.1.7 Anorexia e Bulimia ..................................................................................................................... 30 2.1.8 Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC) ................................................................................. 31 2.1.9 Transtorno do Estresse Pós-Traumático (TEPT) ....................................................................... 32 2.2 QUADROS MENOS FREQUENTES ......................................................................................... 32 3 COMO IDENTIFICAR O BULLYING ......................................................................................... 34 3 4 CARACTERIZAÇÃO DOS ENVOLVIDOS ................................................................................ 39 4.1 AS VÁRIAS FACES DAS VÍTIMAS ........................................................................................... 39 5 OS AGRESSORES ................................................................................................................... 43 6 ESPECTADORES ..................................................................................................................... 45 7 IDENTIFICANDO OS ENVOLVIDOS ........................................................................................ 47 8 AS VÍTIMAS .............................................................................................................................. 49 9 AGRESSORES ......................................................................................................................... 52 10 ESPECTADORES ..................................................................................................................... 54 11 OS DIVERSOS COMPORTAMENTOS DIANTE DO BULLYING ............................................. 57 12 EM QUAIS LUGARES O BULLYING ACONTECE? ................................................................ 60 13 A FAMÍLIA ................................................................................................................................ 61 14 A ESCOLA NESTE CONTEXTO .............................................................................................. 63 15 A INFLUÊNCIA DOS AMIGOS E DOS GRUPOS NOS ADOLESCENTES .............................. 65 16 A JUVENTUDE E A AGRESSIVIDADE .................................................................................... 67 17 AQUELES QUE NÃO APRESENTAM AGRESSIVIDADE ....................................................... 69 18 OS ADULTOS PODEM INTERVIR ........................................................................................... 70 19 AS OUTRAS FASES DO BULLYING ....................................................................................... 71 19.1 MOBBING .................................................................................................................................. 71 4 20 OS PROFESSORES E A VIOLÊNCIA ESCOLAR ................................................................... 73 21 BULLYING HOMOFÓBICO ...................................................................................................... 74 22 TROTES UNIVERSITÁRIOS ..................................................................................................... 76 23 HAPPY SLAPPING ................................................................................................................... 78 24 ATITUDES PARA PREVENÇÃO .............................................................................................. 80 24.1 NA ESCOLA .............................................................................................................................. 80 24.2 OS PROFESSORES ................................................................................................................. 81 24.2.1 Quando o professor é o agressor .............................................................................................. 81 24.2.2 Quando o professor é o agredido .............................................................................................. 82 25 OS PAIS ................................................................................................................................... 83 26 INSTITUIÇÕES E PROGRAMAS ANTI-BULLYING ................................................................ 84 27 LEI ANTI-BULLYING NO BRASIL ............................................................................................ 87 28 DISQUE BULLYING .................................................................................................................. 91 29 CIBERBULLYING ..................................................................................................................... 93 30 AS VÍTIMAS DO CIBERBULLYING ......................................................................................... 96 31 OS PRATICANTES DE CIBERBULLYING ............................................................................... 98 32 POR QUE PRATICAR O CIBERBULLYING............................................................................. 99 33 COMO INTERROMPER OS ATAQUES VIRTUAIS ................................................................. 100 5 34 A ADOLESCÊNCIA E CIBERBULLYING ................................................................................ 10135 OS PAIS DIANTE DO CIBERBULLYING ................................................................................ 104 36 A ESCOLA E O CIBERBULLYING .......................................................................................... 106 37 AS ESTRELAS QUE SUPERARAM O BULLYING ................................................................. 107 38 CASOS DE ANÔNIMOS .......................................................................................................... 113 39 CASOS DIVULGADOS NA MÍDIA ........................................................................................... 127 40 PAIS PODEM RESPONDER CRIMINALMENTE ..................................................................... 122 41 BULLYING NO MUNDO .......................................................................................................... 123 42 A INDÚSTRIA CINEMATOGRÁFICA E O BULLYING ............................................................ 127 REFERÊNCIAS .................................................................................................................................. 133 6 1 O QUE É BULLYING? FONTE: Disponível em: <http://4.bp.blogspot.com/_syI7sVrfP4Y/RlRab7FG3iI/AAAAAAAAABc/mddg3vKsPXE/s1600- h/bullying2%20copy.gif>. Acesso em: 21 jun. 2010. A palavra Bully se traduziria como valentão, tirano, logo, o verbo bully significa tiranizar, amedrontar, brutalizar, oprimir e, por esse motivo, bullying quer dizer, um conjunto de atitudes violentas tanto física quanto psicologicamente, que sejam intencionais e repetitivos praticados por um (bully) ou mais indivíduos com único objetivo de intimidar ou agredir um ou mais indivíduos incapazes de se defender. Tanto os autores das agressões quanto as vítimas- alvo são quem sofrem os efeitos deste fenômeno tão prejudicial a todos. Existem também as vítimas/agressoras, e/ou autores-alvos, que da mesma forma, em determinados momentos acabam cometendo agressões, mas igualmente são caracterizadas como vítimas de bullying pela turma. Bullying são situações caracterizadas por atitudes repetitivas e intencionais de qualquer tipo de violência como, por exemplo, física e psicológica e que normalmente parte de um ou mais alunos contra um ou mais colegas. A terminologia em inglês refere-se ao verbo ameaçar, intimidar e também é muito utilizada para enunciar a vontade decidida e consciente de insultar ou colocar alguém sob tensão. É importante que todos saibam que além dos atos de 7 violência, também estão compreendidos no bullying os apelidos desagradáveis que foram criados para humilhar e desestimular os colegas. O fenômeno bullying é uma dinâmica psicossocial expansivo envolvendo números cada vez maiores de envolvidos, tendo em vista que as vítimas em determinado momento também reproduzem os maus tratos sofridos. É uma epidemia específica e destrutiva e que pode ser considerado caso de saúde pública, por esse motivo, é importante que sejam tomadas medidas que integrem a comunidade e as autoridades competentes vinculadas à educação, saúde e segurança pública por meio de atividades de prevenção e assistência. As escolas precisam admitir que são lugares passíveis de violência para auxiliar e informar professores e alunos sobre o que é bullying sempre deixando claro que o estabelecimento não admitirá a prática. Os professores, por sua vez, também são de fundamental importância no trabalho contra o bullying, já que há diversas formas de trabalhar o tema em sala de aula com os alunos, como por exemplo, em redação, pesquisa, teatro entre tantas outras, bastando, para isso, usar a criatividade. Os professores podem ainda auxiliar no processo de identificação dos autores, tanto os agressores quanto as vítimas e expectadores, dos quais discutiremos nos próximos capítulos. Normalmente, o agressor tem uma vida familiar resolvida na base de violência, e reproduz, também, na escola, o que aprendeu em casa. Já as vítimas costumeiramente são crianças com problemas com a autoestima e também retraídas. Não importa onde estejam, por isso, dificilmente reagem às agressões sofridas, e é esse o canal de abertura para que esta violência volte a acontecer, tendo em vista que se a vítima reagisse, a tendência seria que as provocações acabassem. É evidente, que banir as brincadeiras entre os colegas no ambiente escolar não é o melhor caminho, porém, é necessário que a escola aprenda a distinguir as piadas aceitáveis e as agressivas. A empatia à vítima é a melhor forma de reconhecimento de um ato de bullying, visto que não gostamos de ser ofendidos ou humilhados e precisamos tomar uma atitude. Sempre que uma atitude de bullying for percebida pelo professor, o mesmo deverá corrigir o agressor e se for o caso de violência física, deverá entrar em contato com os pais para tomar as medidas devidas. 8 Vale informá-los de que só a escola não é capaz de resolver este problema, mas, normalmente, é nela que se apresentam os primeiros sinais de que a criança está se tornando agressora e, a tendência, é que se não for limitada, torne-se também, um adulto agressor. É necessário sempre ter boas referências para mostrar aos jovens que nada se resolve com violência e, que o bullying só se resolve com a integração da escola e da família. De alguma forma, todos nós já fomos vítimas de bullying, ou pelo menos já presenciamos casos de abuso de poder, intimidações e prepotência. Nas famílias, podemos identificar os bullies na figura dos pais, cônjuges ou irmãos autoritários e cruéis que aterrorizam a vida da vítima, diminuindo seus esforços e também sua autoestima. No ambiente escolar, eles abusam, provocam, atormentam, manipulam e humilham suas vítimas. Quando entram no mercado de trabalho suas atitudes são prepotentes, perversas, dissimuladas, ou seja, estes estão por toda parte, nos mais diversos lugares e suas atitudes podem ser identificadas nas filas de banco, hospitais, trânsito e até mesmo nas forças armadas. Normalmente, as causas do bullying são ignoradas e até mesmo vistas como fraqueza de caráter, porém elas podem estar nos modelos educacionais impostos às crianças que, muitas vezes, com carência afetiva, ausência de valores, regras e limites, são surpreendidas com a forma com que os pais impõem a autoridade, com punições ou intimidações e, dessa forma, aprendem a resolver seus problemas e dificuldades também com violência. Após ter vivenciado momentos de agressão, acaba como que “aprendendo” e passa a utilizar-se dela sempre que houver oportunidade. Para a criança que pratica o bullying, a forma como se expressa a violência é apenas para intimidar e, portanto, sua atitude lhe parece correta, desse modo, não se autocondena, contudo, também sofre. FONTE: Disponível em: <http://www.mmais.com.br/materia.cfm/idedicao/21/tb/noticias/id/631>. Acesso em: 26 jun. 2010. 9 No Brasil, Cléo Fante foi a pioneira nos estudos deste fenômeno e, tendo em vista que é educadora, desde o ano de 2000 ela vem pesquisando sobre a violência nas escolas e dedicou-se, em especial, ao bullying. Tendo grande paixão pelas causas da educação e, sabendo que é nos primeiros anos escolares que possivelmente surgirão os traumas originados da violência, tanto familiar quanto escolar, Cléo ressalta a importância e a necessidade de resgatar o estado emocional das crianças o mais breve possível. Dessa forma, propôs-se a realizar um trabalho voluntário nas escolas e criou o programa Educar para a Paz, um trabalho criativo, inteligente e eficaz, o qual já está sendo aplicado em algumas escolas e que é recomendado, visto que, houve resultados ótimos e animadores. Cabe então, ressaltar a importância da intervenção dos educadores (pais e professores) e de todas as pessoas envolvidas no processo de identificação e solução da violência,conhecida como bullying. Atina-se com Fante (2005, p. 21) que o bullying se apresenta de formas variadas e pode causar vários prejuízos aos envolvidos: O bullying apresenta-se de forma velada, por meio de um conjunto de comportamentos cruéis, intimidadores e repetitivos, prolongadamente contra uma mesma vítima, e cujo poder destrutivo é perigoso à comunidade escolar e a sociedade como um todo, pelos danos causados ao psiquismo dos envolvidos. Referimo-nos à fenomenologia bullying, aquela que gera e alimenta a violência explicita e que vem se disseminando nos últimos anos, tendo como resultado nefastos massacres em escolas localizadas nas mais diversas partes do mundo. Percebe-se que o bullying está presente em todas as escolas, independente de classe social, e que este fenômeno ocorre de forma cruel e intencional por parte dos intimidadores, na qual as vitimas do bullying sofrem caladas as torturas físicas, verbais e psicológicas, dificultando assim a aprendizagem e o convívio com a sociedade. Bullying é um problema mundial, encontrado em 100% das escolas brasileiras, primárias ou secundárias, urbanas ou rurais. Pode-se dizer que as escolas que não admitem a sua ocorrência, desconhecem ou se negam a enfrentá-la. 10 Se a escola adotar medidas contra o bullying que envolva a comunidade escolar, poderá contribuir positivamente para a formação de uma sociedade cultural não violenta. 1.1 DEFINIÇÃO FONTE: Disponível em: <http://babble.com/CS/blogs/strollerderby/2009/04/bully.jpg>. Acesso em: 22 jun. 2010. Todos os dias, alunos no mundo inteiro são vítimas da violência que vem mascarada em forma de brincadeiras, as quais são praticadas por um indivíduo ou grupo. Infelizmente, a violência escolar nos últimos anos adquiriu uma vasta dimensão em todas as classes sociais, o que a torna uma questão preocupante devido aos seus inúmeros acontecimentos em todos os níveis de escolaridade. A terminologia bullying tem sido adotada em vários países como designação para explicar todo tipo de comportamento agressivo, cruel, intencional e repetitivo inerente às 11 relações interpessoais. Bullying é um termo de origem na palavra inglesa bully, que significa valentão, brigão, e até aquele que usa a superioridade física para intimidar alguém. Ainda não existe termo equivalente em português, porém, alguns psicólogos estudiosos deste assunto, o denominaram “violência moral”, “vitimização” ou “maltrato entre pares”, já que este fenômeno se trata de agressão em grupo, como na maioria dos caso de estudantes. Compreende-se em Constantini (2004, p. 69) que bullying é um tipo de violência causada por uma ou várias pessoas: O bullying trata-se de um comportamento ligado à agressividade física, verbal ou psicológica. É uma ação de transgressão individual ou de grupo, que é exercida de maneira continuada por parte de um indivíduo ou de um grupo de jovens definidos como intimidadores nos confrontos com uma vítima. Algumas práticas de maus tratos podem tornar-se bullying de forma direta ou indireta e, quase sempre, a vítima sofre estes desrespeitos de mais de um agressor, o que contribui para a evasão escolar e também sua exclusão social. O bullying se caracteriza por alguns tipos de maus tratos como físico, verbal, moral, sexual, psicológico, moral, material e virtual e ocorrem quase sempre quando um ou mais integrantes de um grupo escolhem um indivíduo para ser espiado pelo grupo que o agride sem que este consiga se defender. Os agressores ainda induzem a opinião dos demais colegas por meio de boatos que o difamam ou apelidos que intensificam suas características tanto físicas, quanto psicológicas e seu jeito taxado como diferente, esquisito ou negativo. Seguem algumas formas e palavras que podem apresentar ações de bullying: Formas Verbais: Colocar apelidos, insultar, ofender, xingar, fazer gozações, fazer piadas e zoar; Formas Físicas e Materiais: Bater, chutar, espancar, empurrar, ferir, beliscar, roubar ou destruir pertences da vítima e atirar objetos contra a vítima; Formas psicológicas e morais: Irritar, humilhar, ridicularizar, excluir, isolar, ignorar, desprezar ou fazer pouco caso, discriminar, aterrorizar, ameaçar, chantagear, intimidar, 12 tiranizar, dominar, perseguir, difamar, passar bilhetinhos e desenho de caráter ofensivo entre os demais, fazer intrigas, fofocas ou mexericos; Formas Sexuais: Abusar, violentar, assediar, insinuar. Estes comportamentos costumam acontecer entre meninos e meninas e entre meninos e meninos, em que um estudante é assediado e/ou violentado por um ou mais “colegas” no mesmo momento. Formas Virtuais: os agressores se utilizam dos avanços tecnológicos para propagar avassaladoramente as difamações e calúnias. Há algumas pessoas que são consideradas alvo de bullying, por exemplo, os nerds e aqueles que têm sotaque diferente. Entre os meninos são perseguidos aqueles que são mais sensíveis e efeminados, já no caso das meninas, aquelas que são masculinizadas e grosseiras. Na maioria das vezes, os agressores maltratam suas vítimas tirando sarrinhos, zombando, sacaneando ou fazendo gestos inconvenientes, dando risadinhas, ameaçando com olhares e expressões faciais. A vítima, por sua vez, fica cada vez mais isolada, excluída, rejeitada pelos grupos que não querem ninguém fraco ou indefeso ou por medo de se tornarem as próximas vítimas. Entende-se por bullying a violência praticada de forma física, verbal ou psicológica entre os educandos, no âmbito escolar, a qual pode acarretar sérias consequências ao ensino- aprendizagem dos alunos, gerando desde a queda da autoestima, até em casos mais sérios o suicídio e outras tragédias. O bullying não é um problema só do nosso país, mas sim, de uma dimensão internacional, visto que, por ano, cerca de 350 milhões de crianças enfrentam estas atitudes grosseiras e humilhantes de bullying em todo o mundo e que essa é considerada uma das principais causas de abandono escolar. Em nosso país, o termo bullying não recebeu uma tradução direta, por não existir em nosso idioma nenhuma palavra que tenha o impacto do significado o qual a palavra bullying possui, e sim, várias palavras já apresentadas anteriormente, as quais traduzem o seu significado simbolicamente e que expressam algumas situações que podem estar presentes na prática deste tipo de violência. Alguns países como a Itália, por exemplo, encontrou uma tradução do termo que engloba o significado de tantos atos de violência, lá o termo encontrou a tradução ‘prepotenza’, 13 em Portugal, ‘maus-tratos entre pares’, em alemão ‘agression unter schülern’ e na França ‘harcèlement quotidien’. Para os ingleses, bullying é comumente usado para descrever uma forma insistente e importuna, de alguém que de alguma forma, em condições de exercer o uso do seu poder sobre outro alguém ou sobre um grupo mais fraco. Na Europa, há cerca de dez anos foi iniciada uma pesquisa na qual se descobriu que, o que estava por trás de tantas tentativas de suicídio entre adolescentes, era geralmente o que os pais e a escola não davam a devida atenção, como aqueles apelidos, ofensas e “brincadeirinhas bobas”, pelos quais os jovens passavam rotineiramente que, humilhados e sob pressão, tomavam atitudes desesperadas. FONTE: Disponível em: <http://www.acosomoral.org/indexolweus.htm>. Acesso em: 28 jun. 2010. O psicólogo norueguês Dan Olweus (1978), da Universidade de Bergen, foi o pioneiro a relacionar a palavra bullying ao fenômeno, pois ao pesquisar as tendências suicidas dos adolescentes, Olweus descobriu que a maioria destes jovens já havia sofrido algum tipo de ameaça ou humilhação e que, portanto, bullying era um mal a combater. Olweus pesquisou inicialmente cerca de 84 mil estudantes, 304 professores e em torno de 1000pais, incluindo vários períodos de ensino. Este estudo constatou que, a cada sete alunos, um estava envolvido 14 em casos de bullying. Após esta pesquisa ocorreu uma campanha com o apoio do governo norueguês, onde reduziu em cerca de 50% os casos de bullying nas escolas. Este cientista sueco trabalhou por muitos anos em Bergen (Noruega) e define bullying em três termos essenciais: Comportamento agressivo e negativo; Comportamento executado repetidamente; Comportamento que ocorre num relacionamento onde há um desequilíbrio de poder entre as partes envolvidas. O bullying divide-se em duas categorias: Bullying direto; Bullying indireto, também conhecido como agressão social. O tipo mais comum entre os agressores do sexo masculino é o bullying direto e a agressão social ou bullying indireto é mais comum do sexo feminino e crianças pequenas. Este tipo de bullying é caracterizado por induzir a vítima ao isolamento social o qual é conquistado por meio de uma diversidade de técnicas que, entre outras, incluem: espalhar comentários em fofocas sobre a vítima; recusar a socialização com a vítima e intimidar também as outras pessoas que desejam se socializar com a vítima; criticar o modo como a vítima se veste e ou outros aspectos socialmente significativos (incluindo a etnia da vítima, religião, incapacidades etc.). O bullying pode ocorrer em situações que acabam por envolver a escola de qualquer nível, seja educação infantil ou ensino superior, o local de trabalho, os vizinhos e até mesmo os países, porém, em qualquer uma das situações em que aconteça, a estrutura de poder é característica evidente entre o agressor e a vítima. 15 Presenciar casos fora do relacionamento em que o bullying acontece dá a impressão de que o poder do agressor só depende da percepção da vítima, que se retrai para oferecer algum tipo de resistência, porém, normalmente, a vítima tem motivos para temer o agressor, visto que, já deve ter recebido ameaças ou concretizações de violência, ou perda da qualidade de vida que tinha outrora. No Estado de São Paulo, a legislação jurídica definiu bullying como atitudes de violência psicológica e/ou física, que acontecem sem motivos inequívocos e praticados com a intenção de intimidar ou agredir as pessoas, causando angústia e dor. Por desrespeitarem os princípios constituintes, a conduta de que a prática bullying configura ato ilícito, o Código Civil determina que todo ato ilícito que cause dano a outrem gere o dever de indenização. Também pode se enquadrar no Código de Defesa do Consumidor, visto que as escolas são prestadoras de serviço aos consumidores e, portanto, responsáveis por atos de bullying que ocorram em seu contexto. 16 2 CAUSAS E ORIGENS FONTE: Disponível em: <http://kindy.gameover.zip.net/>. Acesso em: 22 jun. 2010. Todos sabem que houve um crescente número de casos de violência e de agressividade na infância e na adolescência na sociedade atual, o que é muito preocupante para o futuro das famílias. Se levarmos em consideração que ocorrem muitas mudanças em nossos hábitos e que estes influenciam uma sequência de causas e consequências no modo de ser e de agir de uma pessoa e de um grupo, o que torna, na maioria das vezes, arcaica e defasada as respostas que precisaram ser adaptadas para que o mesmo pudesse trabalhar com essas mudanças, estas modificações podem ser facilmente identificadas com a globalização, com o apelo ao consumismo, aos padrões de beleza, aos fenômenos relacionados à emigração, do aumento da desigualdade social, na integração ética, religiosa e cultural etc. É importante que seja levada em consideração a educação familiar, a qual é responsável pela formação das atitudes dos filhos/estudantes. Estas transformações podem estimular as atitudes dos indivíduos e é preciso considerar a agressividade como um fator natural e inseparável de qualquer pessoa e a que movimenta as atitudes de sobrevivência, para enfrentar e autossuperar a vida, a qual é canalizada e orientada por meio de limites morais e sociais e que trazem a autorrealização no desenvolvimento da sua vida. http://bp3.blogger.com/_Ptg7_yUnu-Y/SE8qBcR5EAI/AAAAAAAAAIQ/Z2QMIShukhk/s1600-h/banner+bullying+c%C3%B3pia2.jpg 17 As famílias estão passando por transformações nunca imaginadas anteriormente e as dificuldades de disciplinar e limitar os filhos são fatores decisivos para expressar a agressividade e a violência entre crianças e adolescentes e, infelizmente, as atitudes agressivas e violentas são aprendidas no seio familiar, onde sonham com o oposto, ou seja, das quais fossem positivas e pudessem imitar. A falta de limites e de modelos para a autoidentificação, agregada aos demais fatores já mencionados, podem despertar comportamentos agressivos, destrutivos e violentos. Pode-se observar como é grande a influência das mudanças sociais no surgimento do bullying, visto que, não se consegue transmitir boas e estáveis referências, valores e modelos construtivos de ideias que possam ser partilhadas com todos. Entre dois e quatro anos de idade de uma criança já se pode presenciar momentos de agressividade incontrolável e ilimitada e é, nesta primeira infância, que ela tenta dominar os pais às suas vontades e inicia luta para diferenciar a relação simbólica com a figura da mãe. Aí surge a necessidade de limites que auxiliem no processo de autoafirmação, de trabalhar com as frustrações, de conversas como estilo adequado de autoexpressão, hábitos saudáveis com a família em relação à capacidade de resolver problemas e também na ocupação dos tempos livres, de estímulo e exemplos de expressões afetivas e solidárias, para que a criança possa desenvolver empatia, e para que participe ativamente dos momentos em comum com a família, para desenvolver habilidades que a integrem que lhes dê responsabilidade e noções de utilidade na construção dos seus ideais. É preciso estabelecer regras que norteiem o comportamento e as adequações da realização de seus desejos e, pouco a pouco, toda a agressividade anteriormente vivenciada vai reduzindo e volta a aparecer na adolescência, mas reaparece menos intensa, para reforçar seu autocontrole, mas, quando se aproxima da idade adulta, e já deveria ter plenas condições para gerenciá-las equilibradamente, a agressividade diminui. 18 FONTE: Disponível em: <http://www.yesnet.yk.ca/schools/wes/webquests_themes/media_sofie/media_images/bullying/im ages/bullying%202_jpg.jpg>. Acesso em: 21 jun. 2010 Para que possamos entender de onde vêm estes comportamentos agressivos e intimidatórios, primeiramente, é importante e necessário ficar entendidas as fases em que a criança está se desenvolvendo, como a fase do “não”, que acontece com criança com idade entre 2 e 3 anos, onde elas têm crises de oposição e inexplicáveis manifestações de ódio. Nesta fase, elas precisam de alguém que faça intervenções para conter o impulso e a ânsia que o provoca, mas que esta intervenção seja feita de maneira adequada. Quando isto não acontece, as crianças passam a usar deste comportamento para conseguir tudo o que querem, e começam a utilizá-lo em suas relações sociais, com atitudes que intimidam, abusam e agridem os demais. Há casos em que outras crianças nesta mesma fase são violentadas, cobradas, criticadas, repreendidas e/ou punidas por indivíduos adultos, que sem refletir as suas ações, agridem e maltratam e estas crianças reproduzem estas ações em suas relações com os outros. Existem ainda aquelas que aprendem sozinhas e cedo demais, que podem conseguir o que querem abusando e intimidando os outros e quando são descobertas estas atitudes, argumentam que a vítima é quem começou, ou que ela é diferente dos demais. Como não se sabe exatamente o que éser diferente, na maioria das vezes, o diferente é vítima de preconceito, transmitidos das mais diversas formas e ambientes, tornando parte da vida destas 19 crianças, tanto familiar, quanto escolar, social e até na mídia, a qual nos fornece modelos de referência que nos reconhecemos ou identificamos. Na tentativa de compreender o fenômeno bullying, inúmeros estudos estão sendo desenvolvidos nos mais diversos aspectos: familiar, social, cultural, afetivo e emocional. São também inúmeras correntes pedagógicas, psicológicas, antropológicas e filosóficas que apontam para os aspectos a seguir: maus tratos dos pais, carência afetiva, ausência de limites ou excessiva permissividade, prolongada exposição às cenas de violência por meio da mídia e dos games, acesso fácil às ferramentas disponíveis nos meios de comunicação e informação. Existe também a competitividade, a qual gera o individualismo e a dificuldade de empatia, falta de modelos educativos apoiados em valores e que são capazes de fundamentar uma vida inteira. FONTE: Disponível em: <http://diganaoaerotizacaoinfantil.wordpress.com/2009/04/01/bullying-e-um-mal-que-precisa-ser- combatido-rapidamente/>. Acesso em: 22 jun. 2010. Nos mais diversos estudos realizados sobre o fenômeno bullying, foram possíveis verificar que as possíveis vítimas, independente da idade, possuem as mesmas características, sinalizando que são de fáceis ataques agressivos, visto que, possuem autoestima fragilizada, são inseguras, possuem medo e grande dificuldade de se defender dos agressores que também são inseguros e têm medo, possuem sentimento de mágoas, dor, revolta, de momentos em que são vitimados, porém, escondem estes sentimentos atrás de suas agressões e intimidações aos mais fracos, simulando por meio de seus atos impiedosos que possuem autoestima elevada e por este motivo são considerados “maus”. 20 Nos atendimentos em consultórios psicopedagógicos, ficam evidentes que os praticantes de bullying já foram alvos da tirania de um bully, em algum momento de sua vida, podendo ser por meio dos pais, parentes ou até professores que se aproveitaram da sua fragilidade para atribuir ainda mais sofrimentos. Percebe-se que o bullying é um ciclo que se repete, repleto de maus-tratos, no qual uma pessoa pode ser vítima e ao mesmo tempo agressora. Ninguém nasce praticando bullying, logo algum fato pode ter contribuído para nascimento deste tipo de comportamento, ou seja, as crianças que hoje são vítimas na primeira infância se tornam inseguras e a tendência é que sejam alvo de bullies e/ou sujeitem outras crianças ao bullying, visto que, repetir a vitimização é uma forma de se proteger e de lidar com a dor sentida emocionalmente e os traumas causados por comportamentos desrespeitosos. Com isto, podemos observar que o bully também é uma pessoa que sofre e que tem muito medo e raiva e para esconder a sua fraqueza, maltrata os outros. Estas atitudes lhe dão prazer porque fazem os outros sofrerem como ele sofreu e, com o passar do tempo, estas atitudes vão se interiorizando e começam a fazer parte do seu repertório de comportamentos. Por esse motivo encontramos jovens que possuem conduta autodestrutiva ou violenta contra os demais e não se arrepende. Quando um indivíduo não possui um modelo positivo que seja parâmetro de ações e reações, então ele tem o direito de encontrá-lo no seu meio social mais próximo à família, à escola e, por este motivo, o professor das séries iniciais deve ser referencial de confiança, respeito, amor, equilíbrio e identificação, visto que, não encontrando esta referência na escola, irá buscá-la fora dela e, é nestes casos, que muitos acabam encontrando a figura do anti-herói de envolvimentos delinquentes. Nas ações educativas muito flexíveis, permissiva é o centro do problema, pois resultam em jovens que não sabem o que é respeito o que aumenta as infrações. Este tipo de educação conhecida como permissiva, contribui para que cada vez menos os jovens aprendam o que é limite, e faz com que sejam cada vez mais irresponsáveis, sentindo dificuldade em controlar seus impulsos, negociar os conflitos e de se responsabilizar por suas ações, pensar nas consequências de suas atitudes, respeitar e ter empatia pelo outro. 21 A falta de referencial permissivo também traz problemas, visto que, como muitos educadores não possuem habilidades para se comunicar de forma construtiva, assertiva e apropriada, acabam resolvendo os problemas com impaciência, mau-humor e desrespeito, tanto com o ambiente em que estão inseridos, quanto com as pessoas envolvidas, oferecendo modelos educativos inadequados, agindo com autoritarismo e dando maus exemplos. O que determina a manifestação de comportamentos agressivos e construção de perfis psicológicos é o modelo educativo predominante, ou seja, a memória arquivada e originada das primeiras relações familiares é responsável pela construção do pensamento, emoções e comportamentos desta criança. Nos casos em que tenha sofrido humilhações e maus tratos, ela desenvolverá tendência inconsciente de repetir o que viveu em outras crianças, se afirmando e expressando o que aprendeu na tentativa de se realizar, sentindo inconscientemente satisfação no provocar e maltratar. 2.1 CONSEQUÊNCIAS Nos estudos de caso e atendimentos clínicos, são encontradas diferentes e variadas formas de consequências e fica evidente que o que surge em maiores níveis é o estresse, o qual é responsável por 80% das doenças atuais, pois baixam a imunidade e são sentidos sintomas psicossomáticos diversificados e aumentados nos horários de ir à escola. A escolha de um aluno-alvo geralmente com grande diferença de poder, já aponta para sua baixa autoestima, visto que, os problemas causados pelo bullying prejudicam ainda mais os que já existiam antes dele. Também pode causar problemas graves de transtornos psíquicos e/ou de comportamento e podem trazer irreversíveis perdas. Os maiores índices de atendimento psicológicos são os de estresse, o qual é grande responsável pela maioria das doenças da atualidade, pelo fato de diminuir a imunidade e diversificar os sintomas psicossomáticos que, na maioria das vezes, aparecem na hora de ir à escola, como por exemplo, dor de cabeça, de estômago, musculares, náuseas, tonturas, febre, perda ou ganho de apetite, entre outros. 22 As vítimas têm inúmeras possibilidades de vivenciar traumas psicológicos e, após um longo período de ataques, podem sofrer grandes e irreversíveis perdas tanto no desenvolvimento cognitivo, quanto emocional e socioeducacional. O bullying traz prejuízos para o desenvolvimento da inteligência e da capacidade de aprendizagem, visto que, como a mente do ser humano é capaz de registrar todas as informações vivenciadas e experienciadas de uma vida inteira, logo, com o passar dos anos, constrói-se a nossa noção de autoimagem, autoestima, autoconceito, habilidades sociorrelacionais e de formas de resolver conflitos. Há também um grande repertório de comportamentos necessários para a vida e para a autopreparação, os quais se tomam conhecimento com o passar dos anos e é partindo destas construções que feitas durante a vida inteira que este terá ou não habilidades necessárias para a autorrealização. Os vitimizados ficam mais expostos às intimidações constrangedoras e são os que mais sofrem com a baixa autoestima, insegurança, ansiedade, angústia, vergonha e, principalmente, medo, o que os prejudicará, ficando cada vez em maior destaque aos olhos dos agressores, pois, não oferecerá resistência às agressões, portanto, terão maiores problemas com relações afetivas, social, de criatividade e liderança e sérios problemas em seu desenvolvimento afetivo tanto na família quanto nas relações sociais e do trabalho. O deficit de atenção, concentração, de aprendizageme a falta de interesse pelos estudos e pela escola, rendimento escolar comprometido e evasão são alguns dos sintomas mais comuns nos atendidos dos psicólogos. Em virtude da vitimização, algumas crianças tornam-se introvertidas, ansiosas, irritadas e tristes, isolando-se dos demais e perdendo o interesse pelos estudos. Com a mente aprisionada, geram emoções de repugnância que é capaz de estimular sentimentos como aflição, tensão e medo de ser vítima novamente e a qualquer momento. Por este motivo, perdem-se em pensamentos de novos ataques e de formas de se defender, preferem ficar com uma dúvida sem ser sanada do que ser humilhada ou criticada. Assim, não acompanham o rendimento escolar e inventam desculpas para não precisar ir as aulas, pois a escola, tornou-se lugar de insegurança e infelicidades. Muitos, ainda, tentam mudar de escola ou optam pela evasão escolar, ou desenvolvem fobia escolar (explicada mais adiante), a qual prejudica o seu desenvolvimento nas relações sociais, educacionais e afetivas. 23 O bullying ainda pode comprometer a vida social das pessoas, visto que, enquanto vítimas tendem a se fechar para novos relacionamentos, o que dificulta a integração social e, não superando essa dificuldade, tornam-se adultos com possíveis comportamentos depressivos ou compulsivos e com tendência a dificuldade nos relacionamentos por não confiar em ninguém. No trabalho, possuem dificuldades em se expressar e liderar, insegurança e dificuldade em resolver conflitos, tomar decisões e iniciativas, transferindo para os filhos tudo o que tem medo, tornando-se pais superprotetores. Existem alguns fatores que dificultam a defesa das vítimas, como por exemplo: estar em minoria, ter estrutura física menor, pouca habilidade de defesa e de lidar com casos estressantes e desagradáveis, baixa resistência a frustrações, o que ocorre justamente por sentirem muito medo de seus agressores. FONTE: Disponível em: <http://helpbullyingschool.blogspot.com/2009_08_01_archive.html>. Acesso em: 22 jun. 2010. A lei do silêncio impera entre as vítimas, principalmente por falta de apoio e compreensão; medo de ser repreendido; vergonha de se expor diante de todos como incompetente ou fracote; incapacidade de defesa ou por acabar concordando com seus agressores, acreditando que ele realmente tem razão e que são merecedoras de todos os maus tratos sofridos. http://www.bullyingadvice.info/images/bullying.jpg 24 Mas há casos em que as vítimas desenvolvem um sistema de defesa, o qual lhe permite a superação do problema, elas normalmente dedicam-se a fazer o que gostam como estudar ou demais atividades nas quais consegue destaque e torna-se conhecido por todos, porém há um grande número de vítimas que ainda não consegue reagir aos ataques, e muitas outras suplicam para que lhes deixem em paz, porém, as súplicas são inválidas. Há vítimas que respondem aos maus tratos com violência, outras contam com a ajuda de algum adulto, o que pode ser positivo ou não. Infelizmente, há casos em que a vítima chega ao extremo e resolve por fim a própria vida, assim como há aqueles que se munem e se vingam de todos aqueles que lhe importunavam e posteriormente também cometem suicídio. Existem vítimas que desenvolvem ansiedade, bloqueios, entre outros transtornos que serão mais bem explicados posteriormente. As consequências do bullying não param por aí. São evidenciadas ainda consequências drásticas de vitimização na vida profissional, onde mesmo pronta para assumir um cargo de chefia, a pessoa teme não ser capaz de exercê-lo, ou ainda, de talentosos músicos e compositores que não se apresentam em público por excessiva timidez, desenvolvida em função dos traumas vivenciados na escola. É comum entre os praticantes de bullying que apresentem afastamento dos objetos escolares, nível acadêmico muito baixo, e grande dificuldade de se adaptar às regras da escola e também às sociais, visto que, tem ações indisciplinadas, desafiantes que resultam no deficit de aprendizagem e falta de interesse pelos estudos. Normalmente, tornam-se pessoas arrogantes, agressivas, manipuladoras e desenvolvem liderança, porém de forma negativa. Possivelmente, estas pessoas introduzem a noção de que estão conseguindo posição de destaque social, usando de violência, autoridade e abusos que, normalmente, conduzem-no para a criminalidade, visto que, os autores de bullying têm grande possibilidade de desenvolver comportamentos delinquentes e antissociais, que se devem a falta de limites e estruturas educacionais que o direcionassem ao comportamento de autorrealização na vida para ações solidárias. Para os agressores, as regras de conduta social soam como desmotivação, pois se sentem superiores para cumprir regras. Por serem carentes tanto de amor quanto de limites, são inseguros, não possuem empatia e consideração em suas ações e ao contrário, adotam uma postura que desafia a autoridade seja de pais, professores e até mesmo policiais. Essas ações devem repercutir como um pedido de socorro, pois mostram que algo não anda bem. Os praticantes de bullying se envolvem mais facilmente em gangues, porte ilegal de armas, brigas e até mesmo 25 tráfico e uso de drogas e álcool e tendem a praticar assédio moral no trabalho, violência em casa e não estão preparados para as frustrações. A agressividade é um potencial que todos nós temos e que é muito importante para a nossa vida inteira, visto que é ela que nos faz levantar cedo, irmos à escola e/ou trabalho e passarmos um dia inteiro e ainda termos disposição para a noite. A agressividade por este ponto de vista é muito positiva, porém pode ser muito prejudicial caso não tenha sido educada e canalizada para projetos de autorrealização, neste caso, ela pode ser utilizada como mecanismo de defesa. É muito importante observarmos e controlarmos as atitudes das crianças, uma vez que as crianças que reproduzem ações de agressividade repentinamente podem estar sinalizando que alguma coisa não está bem, podendo ser um pedido de socorro, uma crise de frustração ou insatisfação com a vida que levam e, nestes casos, é necessário que um adulto faça uma intervenção amorosa, porém com firmeza, para controlar e direcionar os impulsos agressivos para ações que lhe gratificarão socialmente. FONTE: Disponível em: <http://bullying23.blogspot.com/2009_05_01_archive.html>. Acesso em: 22 jun. 2010. Os espectadores das práticas de bullying também sofrem consequências, pois, mesmo que não esteja envolvido diretamente, acabam ficando inseguros, incomodados e até mesmo traumatizados com o sofrimento do outro, tendo também a sua aprendizagem comprometida, pois começam a se inibir nas aulas e acabam não participando das mesmas, temendo ser também uma vítima ou alvo de chacotas e como as dúvidas vão se acumulando, e ninguém da http://1.bp.blogspot.com/_-ATOdobFfmA/SgWrm6KewFI/AAAAAAAAADM/spJuBkKDntc/s1600-h/jovem_01.jpg 26 família tem tempo ou consegue lhe auxiliar em suas dúvidas, acabam faltando mais aulas, o que traz grande prejuízo no desempenho escolar. Há alguns espectadores que acabam participando das práticas de bullying e, neste caso, são tão culpados quanto os próprios agressores, o que acaba acarretando indiretamente em mais sofrimento da vítima, pois, na maioria dos casos, muito veem as agressões e nada fazem para ajudar a vítima, pois tem medo de se tornar a próxima vítima e, por este motivo, acabam incentivando os agressores, rindo e valorizando as suas atitudes desrespeitosas, o que é uma pena, pois mal sabem que estão contribuindo para uma sociedade de relacionamentos cada vez mais “frios”, com incapacidade de empatia e de assumirem relacionamentos seguros e duradouros. Conforme havia descrito anteriormente, serão comentados a seguir, alguns dos problemas mais comuns expostos nos consultóriospara os psicólogos, a fim de que seja observada a dimensão que o bullying pode tomar na vida de um indivíduo. 2.1.1 Sintomas Psicossomáticos Normalmente apresenta sintomas físicos como dores de cabeça, cansaço crônico, insônia, náuseas, diarreia, palpitação, alergia, suor excessivo, tremores, tonturas, desmaios, calafrios, tensão muscular, formigamento, sensação de nó na garganta, boca seca, dificuldades de concentração, crise de asma. Estes sintomas, juntos ou isolados causam grande desconforto e consequentemente, prejuízos em suas atividades rotineiras. 2.1.2 Transtornos do Pânico 27 Caracterizado pelo medo intenso e sem fundamento que surge do nada e sem nenhum aviso, estes são os casos que mais representam o sofrimento da vítima que é tomada por uma ansiedade e ao mesmo tempo medo acrescentado de um ou mais sintomas físicos (apresentados anteriormente), sem razão aparente. Uma crise de pânico pode durar cerca de vinte a quarenta minutos e é um dos momentos mais angustiantes que uma pessoa pode vivenciar, sofrendo a sensação de um ataque cardíaco enlouquecedor, estranhando-se a si mesmo e sentindo que pode morrer a qualquer momento. Normalmente, as pessoas que passam por um ataque de pânico ficam com medo de ter medo, pois nunca sabem quando uma nova crise acontecerá. FONTE: Disponível em: <http://weblogs.clarin.com/educacion/archives/2009/02/fobia_escolar.html>. Acesso em: 26 jun. 2010. 2.1.3 Fobia Escolar 28 Como o nome mesmo já diz, é o medo de ir à escola, o que causa a repetência por faltas, problemas de aprendizagem e até mesmo a evasão escolar. Os indivíduos que sofrem da fobia escolar, experienciam o transtorno do pânico e os sintomas psicossomáticos dentro da escola e não conseguem continuar no mesmo ambiente que lhes traz lembranças traumáticas. São muitas as causas desta fobia, como por exemplo, problemas emocionais no ambiente doméstico, ansiedade de separação (quando a criança se vê teme o novo ambiente que terá de enfrentar separada dos pais), problemas físicos, psíquicos e práticas de bullying, a qual, inevitavelmente todos saem perdendo, desde a criança até os pais, a escola, comunidade e sociedade em geral. Infelizmente, quem desiste cedo da escola perde uma grande chance de construir uma base forte para descobrir e desenvolver seus talentos e alterar a rota de seus projetos existenciais e também sociais. 2.1.4 Fobia Social Mais conhecida como timidez patológica, faz o indivíduo sofrer de ansiedade excessiva e persistente, temendo ser o centro das atenções ou ser julgado negativamente, então, passa a evitar eventos sociais, trazendo sérios prejuízos na vida acadêmica, profissional, social e afetiva. Os fóbicos sociais fazem de uma tarefa simples como assinar um cheque na frente de alguém, algo impossível, e pode apresentar gagueiras ou esquecendo o que iria falar na tentativa de comunicação. Em função das inúmeras humilhações vivenciadas no passado, o fóbico social pode ter transtorno deflagrado; sofrimentos e danos capazes de refletirem por toda sua vida. 2.1.5 Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG) 29 Nada mais é, do que um medo e uma ansiedade que não desgrudam e quem sofre de TAG, este indivíduo preocupa-se com tudo que acontece ao seu redor, tanto as mais importantes e/ou delicadas, quanto as mais simples e corriqueiras. Logo ao amanhecer, tem a sensação de que se esqueceu de fazer algo importante ou que não vai dar conta de fazer tudo o que teria que fazer. São impacientes, apressadas, aceleradas, negativistas e sempre tem a sensação que algo de ruim irá acontecer, sofrem de insônia, irritabilidade e se não forem tratados, podem tornar-se transtornos muito mais graves. 2.1.6 Depressão Muito além de ser somente uma tristeza, fraqueza ou baixo astral, a depressão é uma doença que afeta humor, pensamentos, saúde e comportamento. A tristeza persistente, ansiedade ou “vazio”, culpa, inutilidade, desamparo, insônia ou excesso de sono, perda ou aumento de peso, fadiga, desânimo, irritabilidade, inquietação, dificuldade de concentração e tomada de decisão, desesperança e pessimismo, perda de interesse por coisas que antes despertavam prazer, ideias ou tentativas de suicídios, são os sintomas mais frequentes da depressão. Depois de muito tempo ignorada a depressão em crianças e adolescentes, atualmente assume um alto nível de incidência na comunidade escolar, visto que os números de suicídios desta faixa etária vêm crescendo significativamente. Devemos ficar de olhos bem abertos quando os jovens deixam de levar uma vida considerada normal, visto que por trás de irritabilidade, baixo desempenho escolar e dificuldades, podem estar às práticas de bullying. 30 FONTE: Disponível em: <http://nutricaosaude.wordpress.com/2009/11/page/3/>. Acesso em: 26 jun. 2010. 2.1.7 Anorexia e Bulimia A anorexia nervosa é um transtorno alimentar evidenciada pelo descabido e inexplicável pavor que uma pessoa tem de ficar gorda e com grave distorção da autoimagem, ou seja, mesmo que a pessoa esteja demasiadamente magra, ainda vai se achar acima do peso e longe dos padrões exigidos pela sociedade. Para conseguir chegar ao resultado esperado, esta pessoa se submete a rigorosos regimes alimentares. Trata-se de uma grave doença que, na falta de autodomínio, pode levar a morte, levando em consideração o fato de a anoréxica possivelmente estar desnutrida, desidratada e com outras complicações clínicas. Nos casos de bulimia nervosa, acontece a ingestão demasiada e compulsiva dos alimentos que na maioria das vezes são altamente calóricos e seguidos de culpa, na tentativa de expulsar estes alimentos, a bulímica busca alternativas como vômitos autoinduzidos repetido ao longo do dia, uso abusivo de diuréticos, laxantes, excesso de atividades físicas e jejuns muito longos. Para um bulímico, as atitudes compulsivas alimentares e punitivas fogem do seu controle. 31 Tanto a anorexia quanto a bulimia são patologias que devem ter diagnóstico e tratamento precoce, contudo, podemos dizer que a sociedade influencia fortemente a formação da autoimagem, estabelecendo a estética apreciável na atualidade. O que precisa ficar claro principalmente para as meninas, é que, na adolescência, todos passam pelas primeiras transformações fisiológicas e, estas mudanças podem trazer aumento do peso, o que não quer dizer que esteja acima do peso pretendido, porém, é assim que muitos sofrem sendo pressionados por familiares e amigos. 2.1.8 Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC) Mais conhecido como mania, o transtorno obsessivo-compulsivo é o transtorno de ansiedade mais intrigante entre os psicólogos e psiquiatras. Ele é caracterizado por pensamentos ruins, intrusivos e obsessivos, os quais causam muita ansiedade e sofrimento e, tentando eliminar tais pensamentos, a pessoa portadora de TOC adota comportamentos repetitivos, sistêmicos e ritualizados. Um exemplo disto é quando uma pessoa lava as mãos várias vezes ao dia, por pensar insistentemente que pode ter se contaminado com uma doença grave ao pegar em maçanetas ou apertar a mão das pessoas, desta forma, esta pessoa fica aprisionada aos seus pensamentos e muitas vezes chega até a se ferir por conta disto, neste caso, lavando as mãos com os mais diversos sabonetes e esfregando-as fortemente. Este transtorno que pode se manifestar de várias formas, pode se apresentar na forma de checagem, em que a pessoa confere várias vezes a mesma coisa e se não confere, não consegue pensar em outra coisa a não ser que pode acontecer algo muito grave com seus entes queridos por conta do seu esquecimento. Outro exemplo é o ritual de organizar as coisas sempre da mesma forma, no mesmo lugar e com a mesma simetria e posição em relaçãoaos demais objetos guardados. 32 Este e muitos outros rituais podem tornar uma pessoa escrava da sua própria mente e fazendo com que perca muito tempo do seu dia colocando as coisas nos seus devidos lugares e ainda trazendo prejuízos incalculáveis para a sua vida. Este transtorno acarreta muitos constrangimentos, visto que, na falta de conhecimento das outras pessoas que convivem com o portador de TOC, ele é muitas vezes tachado de estranho e até mesmo de louco. Quadros de TOC podem ser abertos por fortes momentos de estresse, como pressão psicológica, como por exemplo, bullying, em indivíduos com predisposição genética ou intensificando o problema preexistente. 2.1.9 Transtorno do Estresse Pós-Traumático (TEPT) O TEPT está sujeito a se desenvolver naquelas pessoas que vivenciaram momentos de medo intenso, como por exemplo, acidentes, sequestros, catástrofes naturais ou que viveram momentos em que viram a morte de perto. O TEPT caracteriza-se por lembranças como flashbacks, intrusivas e recorrentes dos momentos de horror e pode levar a depressão ou a perda da sensibilidade emocional, sensação de vida abreviada, de perda dos seus prazeres, o que afeta diretamente todos os seus setores vitais. Em consequência da violência vivida nos dias atuais, este transtorno tem afetado a vida de muitas pessoas, e levado a grande procura por consultórios médicos e psicológicos e estes números também são crescentes em adolescentes envolvidos com bullying, principalmente aqueles que sofreram agressões ou então presenciaram situações de abuso sexual e exageradas cenas de violência. 2.2 QUADROS MENOS FREQUENTES 33 Esquizofrenia: também conhecida como loucura ou psicose, esta doença mental faz com que a pessoa passe a viver paralelamente um mundo além do mundo real, um mundo imaginário. É caracterizada pela presença de alucinações (vê vultos, ouve vozes) e/ou delírios (acredita que está sendo perseguido). Quando um esquizofrênico agride alguém, normalmente é porque imagina que está sendo atacado, então agride para se defender. A esquizofrenia pode ser adquirida por vivenciar fortes momentos de pressão psicológica ou do ambiente em que está inserido. Homicídios: é a explosão dos sentimentos dos quais os jovens-alvo que já não suportam mais o constrangimento e as torturas vivenciadas, no desespero, tomam atitudes extremas para aliviar o sofrimento vivido. A maioria dos problemas relatados apresenta marcações genéticas consideráveis que podem ter sido herdadas dos pais ou parentes próximos. Contudo, o ambiente externo, pressões psicológicas, situações de estresse prolongadas aliada a vulnerabilidade de cada pessoa, pode provocar transtornos graves que até então, estavam adormecidos, portanto, é necessário que se reflita sobre as atitudes de bullying, tomando consciência de que, além de serem atitudes desrespeitosas, podem trazer quadros clínicos que precisem de cuidados médicos e psicológicos para ser superados. O pior efeito da pressão sofrida nos casos de bullying talvez seja fazer com que a vítima sinta-se absolutamente inexpressiva, insignificante, adjeta, desprezível, enfim, praticar uma agressão, que combina fazer de conta que a vítima não existe, aniquilando totalmente a autoestima, suprindo, inclusive, as condições para que esta desabafe com alguém. 34 3 COMO IDENTIFICAR O BULLYING O pesquisador Dan Olweus, já citado anteriormente, estabeleceu alguns critérios que auxiliam na identificação do comportamento bullying e, também, a diferenciá-lo dos demais tipos de violência e brincadeiras típicas da infância. Segue os critérios: Atuações que se repetem sempre com uma mesma vítima em um longo período de tempo; Desigualdade de poder, o que torna difícil a defesa das vítimas; Inexistência de motivos que justifiquem os ataques contra as vítimas; Para as vítimas, os sentimentos negativos e as sequelas emocionais, as quais as vítimas vivenciam. O bullying é compreendido como um subconjunto de conduta agressiva e de atos repetitivos e com desequilíbrio de poder. As ações de bullying são consideradas repetitivas quando são realizadas contra uma mesma pessoa por um período de tempo, que pode acontecer duas ou mais vezes durante um mesmo ano, e o que parece pouco, já pode ser considerado um estrago na vida deste indivíduo, pois, ele vivencia uma experiência muito desagradável gerando grande aversão a viver esta experiência novamente. 35 FONTE: Disponível em: <http://revistaepocasp.globo.com/Revista/Epoca/SP/0,,EMI25453-16206-2,00- BULLYING+SE+TORNA+PROBLEMA+SERIO+NAS+ESCOLAS+PAULISTANAS.html>. Acesso em: 12 jul. 2010. Deve ser levado em consideração que o medo se torna constante na vida das vítimas, principalmente o de sofrer outros ataques e, por este motivo, algumas vítimas mobilizam inconscientemente alguns sentimentos como, por exemplo, a ansiedade, o medo, insegurança, angústia, raiva e outros, como a tensão, constrangimentos, receio de fazer alguma pergunta ao seu professor e virar motivo de piadinha. As vítimas preferem se calar e/ou se isolar de todos, tentando diminuir seu sofrimento, pois mesmo fora da escola, ela ainda se lembra dos momentos de terror vividos e pensando que ainda poderia estar diante dos seus agressores. As crianças e adolescentes que passam por este constrangimento e alimentando o medo, a angústia, a raiva e, em alguns casos, o desejo de se vingar, depois de alguns anos, é provável que estejam desestruturados e no limite de suas forças e por que não, de suas normalidades, física e psíquica. 36 Sempre onde houver bullying haverá desigualdade de poder, visto que a vítima, independente da sua idade ou tipo físico, não tem nem habilidade nem facilidade para se defender e, muito menos ainda, para motivar aos outros para que a defendam. Na maioria dos casos, os ataques que são sofridos pelas vítimas são feitos por um grupo, o que diminui ainda mais as chances destas se defenderem. Há estratégias de ataques nas quais os agressores programam ataques astuciosos, deixando a vítima exposta a vexames e constrangimentos públicos. A insegurança pessoal se evidencia entre os que praticam o bullying. Por este motivo, são escolhidas vítimas que não possuem habilidades para se defender. A liderança também é uma marca dos agressores, assim como a influência e o poder de persuasão, visto que, na maioria dos casos, eles têm habilidades para se sair bem das situações em que se metem, em especial, quando são questionados sobre as atitudes agressivas que cometeram. Não precisa ter motivos para que os ataques de bullying sejam feitos. Eles não surgem nem de brigas, nem de discussões ou conflitos entre as partes. O que acontece é que simplesmente a escolha dos agressores por uma vítima que normalmente apresenta aspectos físicos ou psicológicos frágeis e deixa evidente que não conseguirá revidar, denunciar ou motivar alguém em sua defesa, então, fazem dela, o alvo para as suas crueldades e, consequentemente, o bullying surge da não aceitação das diferenças e da falta de tolerância e respeito ao outro. Há uma grande tendência de que as pessoas acreditem que todas as atitudes violentas acontecidas na escola são bullying, tendo em vista que o fenômeno tem certa complexidade, porém, é necessário ter conhecimento do que é e também de reconhecê-lo quando estiver acontecendo, para poder separar uma brincadeira tipicamente realizada em certa idade de “brincadeiras” inconsequentes, sem falar das mais diversas formas de violência utilizadas. Ao analisar um fato de bullying, é imprescindível avaliar se o comportamento está compreendido nos critérios do fenômeno, para só depois realizar os encaminhamentos necessários. Dessa forma, diminui-se a margem de erro tornando mais efetivas asestratégias de atuação. A atenção deve ser redobrada quando se tratar de discriminação, visto que este é um problema social e também é uma ação característica de bullying, porém, só deve ser 37 considerada como bullying nos casos em que esta ação esteja sendo realizada repetidamente e por algum tempo e que não haja motivos claros para justificar os ataques. Também é importante observar se há desequilíbrio de poder entre as partes, o que normalmente impede a vítima de se defender, além de alimentar os sentimentos desagradáveis. Sem uma análise criteriosa, nunca se deve atribuir ao bullying ações discriminatórias. Infelizmente, as escolas que deveriam educar para as diferenças e as diversidades não estão devidamente preparadas para lidar com essas situações e, em alguns casos, acabam agravando ainda mais o problema. Há muitas e graves consequências que ficam evidentes quando o ensino é negligente, tendo em vista que a escola tem interferência decisiva na formação de seus estudantes. Os adultos são referências de comportamento e se uma criança presencia momentos de preconceito, maus-tratos entre outros, é evidente que seguirão os mesmos passos e adotarão as mesmas atitudes. Os professores também podem ser alvo de bullying por meio de assédio moral, sexual, humilhações, ameaças, perseguições, ridicularizações dos seus alunos e até mesmo de alguns colegas de trabalho. O número destes profissionais que sofrem deste tipo de violência não é pequeno e, muitas vezes, eles não têm ou não sabem a quem recorrer, visto que podem ser mal- interpretados e até mesmo rotulados de incompetentes. Isso traz grande desconforto, prejudicando a autoestima e o desempenho nas funções que exercem o que causa grande estresse, desânimo e cansaço, que refletem nas relações familiares e demais professores e alunos que não estão envolvidos e/ou não sabem como são as agressões sofridas. Há, porém, casos em que o professor é o agressor e essa atitude, infelizmente, é bem mais comum do que imaginamos e as vítimas dos professores podem sofrer demasiadamente na escola. O fato de o aluno ser agredido por seu professor causa sensação de impotência e incapacidade que acabam por prejudicar o rendimento, promovendo a desmotivação em relação aos estudos. As vítimas dos professores sofrem com as ações públicas como as comparações, constrangimentos, críticas, menosprezo, humilhações, além de mostrar preferência por alguns alunos da turma e/ou da escola. As agressões verbais estão em maior destaque, pois são praticadas entre outras formas, pelos apelidos pejorativos os quais são mais frequentes e, talvez, este seja um dos motivos que a mídia se refere quando trata deste assunto, enfatizando os apelidos, porém, 38 deixando de evidenciar, no entanto, quando são graves as demais formas de violência cometidas e, quando a vítima demonstra estar ofendida, ou pede para que deixem-na em paz, os agressores investem em outras formas de ataque como por exemplo: intimidação, perseguição, chantagem e/ou agressões físicas para que as vítimas nunca denunciem seus atos. Infelizmente, a conduta dos praticantes de bullying pode ser identificada em qualquer idade e/ou nível de escolaridade. Já se pode perceber o comportamento manipulador e abusivo entre os 3 e 4 anos de idade, assim como também fica evidente a passividade, a submissão e a falta de defesa. Mas, os papéis dos protagonistas ficam mais definidos entre o 6º e o 9º anos escolar e, é nesta fase, que há maior incidência do fenômeno. Não é raro que sejam presenciados casos em que alunos de séries mais avançadas intimidem os de séries inferiores a lhes pagarem lanches, entregarem dinheiro e pertences, promovendo terror psicológico nas vítimas, semeando o medo dentro e fora da escola, por meio de ameaças, perseguições ou até mesmo maus-tratos físicos e verbais. Os pais e professores precisam ficar atentos aos vários aspectos da conduta, tanto das crianças quanto dos adolescentes, levando em consideração a possibilidade dos papéis que cada um pode exercer nas situações de bullying na escola. 39 4 CARACTERIZAÇÃO DOS ENVOLVIDOS O bullying é composto de personagens e enredos que podem provocar medo, compaixão e empatia, e pode ser identificado, combatido e enfrentado por todos aqueles que lutam para mudar a direção dessa história. Mas, para isto, é necessário e importante que as pessoas saibam identificar cada envolvido neste contexto. Segue abaixo a caracterização de cada protagonista do bullying na escola. 4.1 AS VÁRIAS FACES DAS VÍTIMAS Vítima Típica: FONTE: Disponível em: <http://diariodeumaprofessorinha.blogspot.com/2008_07_01_archive.html>. Acesso em: 12 jul. 2010. 40 Geralmente são aquelas que não possuem muita habilidade para sua socialização, normalmente são tímidas e quando recebem as provocações e agressões, não conseguem reagir contra seus agressores. São de aparência física frágil ou então possuem alguma “marca”, a qual tem grande destaque para os agressores, como exemplo, são gordinhas ou magrelas, muito altas ou muito baixas, necessitam de óculos, são cuidadosas, possuem algum tipo de deficiência física, manchas na pele como sardas, nariz ou orelhas grandes ou pequenas demais, usam roupas que não estão na moda, e apresentam diversidade na descendência, credo, classe social e econômica ou até mesmo diferente opção sexual. As vítimas típicas não precisam fazer nada, basta não estarem inseridas no contexto que um determinado grupo impõe, ou seja, os motivos sempre são os mais banais ou injustificáveis. Na maioria dos casos, a fragilidade, a falta de coordenação motora, sensibilidade, submissão, passividade, baixa autoestima, ansiedade, irritabilidade, dificuldade de autoexpressão e de autoafirmação, aspectos depressivos e a insegurança das vítimas fica estampada para quem quiser ver e, justamente pela dificuldade de se imporem diante do grupo, é que ficam ainda mais expostas a tornarem-se vítimas fáceis, as mais comuns para os agressores. É importante e necessário evidenciar que nem todas as pessoas que apresentem estas características são vítimas ou podem tornar-se vítimas de bullying. Vítimas Provocadoras: 41 FONTE: Disponível em: <http://campobullying.blogspot.com/2008_11_01_archive.html>. Acesso em: 12 jul. 2010. Normalmente encontramos este tipo de vítima entre as crianças e adolescentes, principalmente os hiperativos e/ou impulsivos ou imaturos que, muitas vezes, são os responsáveis por climas tensos na escola. As vítimas provocadoras geralmente são aquelas que possuem a capacidade de inspirar nos demais reações agressivas contra si e, como não estão preparadas para responder os revides, então, discutem e/ou brigam sempre que são atacadas. Elas acabam chamando a atenção dos agressores para si, e estes aproveitam a situação e desviam as atenções para as vítimas. Estas vítimas são imaturas, manifestam dificuldade de concentração, hiperatividade, apresentam-se irritadiças, provocadoras, agitadas, irrequietas, ofensoras, intolerantes e possuem costumes que irritam a todos. Vítima Agressora: 42 O estudante provocou tragédia nos EUA era vítima de bullying. FONTE: Disponível em: <http://questaodeclasse.wordpress.com/2009/01/22/bullying- pode-ser-uma-das-explicacoes-para-tragedia-nos-eua/>. Acesso em: 12 jul. 2010. As vítimas agressoras são aquelas que sofrem ou já sofreram com os ataques de bullying e reproduzem os maus-tratos recebidos. Levam as ações de bullying como “ferro e fogo” e reproduzem os maus tratos que sofrem para compensar seu sofrimento, buscando vítimas ainda mais vulneráveis e repetem todas as agressões recebidas, o que impulsiona o ciclo vicioso, transformando o bullying em um problema difícil de ser controladoe que vem ganhando proporções de epidemia mundial que ameaça a saúde pública. Em alguns casos extremos, a vítima agressora se mune de armas e explosivos e vai até a escola para praticar a “justiça” com as próprias mãos, matando ou ferindo o maior número de pessoas e depois pondo fim a própria vida. 43 5 OS AGRESSORES FONTE: Disponível em: <http://diariodeumaprofessorinha.blogspot.com/2008_07_01_archive.html>. Acesso em: 10 jul. 2010. São prepotentes, arrogantes, sempre metidos em confusões, valendo-se sempre de sua força física ou habilidade psicoemocional para apavorar os indefesos e mais fracos, possuem grande capacidade de liderar e poder de persuasão. De ambos os sexos, os agressores são indivíduos de personalidade forte, de caráter desrespeitoso e de muita maldade, que pode ser aliada ao grande poder de liderança, geralmente obtido por meio do uso da força física ou então intenso assédio psicológico. Pode agir sozinho ou em grupo, onde seu poder de destruição fica ainda mais forte, ampliando seu território e sua capacidade de originar cada vez mais vítimas. 44 Normalmente, os agressores ainda muito pequenos já não gostam de regras e não aceitam ser contrariados ou frustrados. Apresentam-se envolvidos em pequenos casos de delitos, como furtos e vandalismos, visto que não sofreram intervenções necessárias para reverter estas práticas, as quais vão aperfeiçoando durante toda a sua vida. Na escola, estes jovens estudantes apresentam resultados regulares ou deficitários, o que em hipótese alguma pode ser considerado deficiência intelectual ou de aprendizagem deles. No início das práticas de bullying, muitos dos agressores apresentam rendimentos normais e alguns até com nota acima da média, faltando para estes jovens o afeto pelos demais, o que pode ser originário dos costumes de famílias desestruturados e até do comportamento deles mesmos, que pode ser observado desde os seus 5 ou 6 anos de idade, quando desrespeitam seus irmãos ou colegas e sem sentir remorso ou culpa pelo fato acontecido. Para tornarem-se populares, os agressores se utilizam de diversos tipos de maus- tratos, como por exemplo: zoações, expressões de menosprezo, apelidos pejorativos e uso da força física. As atitudes de bullying tomadas durante uma brincadeira é apenas o início de um padrão de práticas adotadas que durante a sua vida chega ao ponto de cometer violência doméstica e até mesmo assédio moral em seu trabalho, porém, para que possa dar continuidade às suas atitudes, é necessário que haja confusão, medo e impotência das suas pretensiosas vítimas e o silêncio dos que estão presenciando as ações. 45 6 ESPECTADORES FONTE: Disponível em: <http://www.ionline.pt/conteudo/9778-o-que-fazer-se-o-seu-filho-for-alvo- bullying>. Acesso em: 12 jul. 2010. Estão em maior número entre os alunos da escola e são aqueles que nem sofrem e nem praticam o bullying, mas acabam sofrendo as consequências, visto que presenciam as situações vivenciadas pelas vítimas as quais ficam constrangidas. A maioria odeia as atitudes dos agressores, porém nada fazem para mudar a situação. Outros fingem que se divertem com as situações para se defender, pois temem ser a próxima vítima e, há aqueles, que incentivam dando maior apoio e consentindo a violência. Veremos a seguir que há três grupos distintos de espectadores. São eles: Espectadores passivos: normalmente recebem ameaças do tipo “fique na sua ou a gente vai atrás de você”, portanto, mesmo não aprovando as atitudes dos bullies, acabam ficando de mãos atadas para defender as vítimas e assumem uma postura passiva por puro medo de ser a próxima vítima. Estão inseridos neste grupo todos aqueles que presenciaram alguma cena de constrangimento ou violência de um agressor para uma vítima. São propícios a também sofrerem as consequências psíquicas, tendo em vista que também possuem estrutura psicológica frágil. 46 Espectadores ativos: são aqueles que manifestam apoio aos agressores, apesar de não praticarem os ataques contra as vítimas. Eles incentivam, dão risadinhas e se divertem com o que veem, mesmo não estando diretamente envolvidos. Devemos ficar de olhos bem abertos para a identificação de cada um, visto que, em meio a tantos expectadores, os verdadeiros articuladores podem estar disfarçados de bons moços, sendo que já tramaram tudo e resta apenas observar e se divertir com o que veem. Espectadores neutros: emocionalmente anestesiados, não demonstram sensibilidade com as situações que presenciam pelo próprio contexto social em que estão inseridos. A maioria dos espectadores se omite diante dos ataques de bullying que presenciam. É importante salientar que nestes casos não deixam de ser atitudes imorais e/ou criminosa, que acabam por deixar que estas posturas fiquem impunes, pois contribuem para que a violência praticada cresça, ajudando a fechar o ciclo das atitudes covardes de bullying. 47 7 IDENTIFICANDO OS ENVOLVIDOS É importante que assim como as escolas, as famílias também saibam identificar as vítimas, os agressores e os espectadores, para que possam auxiliar na elaboração das estratégias de ações contra o bullying. Como cada indivíduo envolvido apresenta comportamentos típicos, tanto na escola quanto em casa, para identificá-los com mais brevidade, segue uma relação de atitudes que devem ser observadas e tratadas com especial atenção: 48 49 8 AS VÍTIMAS Na escola: Encontram-se normalmente isoladas ou perto de algum adulto nos momentos de recreio; Durante as aulas são retraídas e dificilmente perguntam ou expressam sua opinião para a turma, deixando evidente a sua insegurança e a sua ansiedade; Com o objetivo de fugir dos momentos de humilhações e ou agressões, faltam aulas com muita frequência; Normalmente aparentam tristeza, aflição ou que estão deprimidas; Sempre são os últimos a serem escolhidos para os grupos para desenvolver alguma atividade; Perdem o interesse nas aulas e nas atividades escolares; Em alguns casos apresentam hematomas, cortes, ferimentos e até roupas rasgadas. Em casa: Queixam-se de dores de cabeça, de estômago, enjoos, tonturas, perda de apetite e insônia, principalmente nos momentos que se aproximam da hora de ir para a escola; Alterações de humor mais frequentes e com maior intensidade; Poucos ou nenhum amigo, o que se evidencia pela ausência de telefonemas, convites para festas, passeios e viagens escolares; Começam a ter gastos maiores na cantina da escola ou comprando objetos para presentear alguém; Apresentam sintomas de doenças físicas que podem de fato existir, com o intuito de faltar às aulas; 50 Demonstram irritação, ansiedade, tristeza, abatimento e sonolência durante todo o dia e permanente ar de infelicidade, além do mais, apresentam aumento ou redução relevante do apetite; Descuidam-se de tudo o que possa estar relacionado com a escola. 51 52 9 AGRESSORES Na escola: Inicialmente aparecem as brincadeiras de muito mau gosto que logo tomam proporções de sarrinhos, provocações, zoações, menosprezo e agressões; Colocação de apelidos pejorativos e que ridicularizam, escolhidos por pura maldade; Difamam, insultam e constrangem alguns de seus colegas; Dão ordens, dominam, reprimem e ameaçam de forma direta ou indireta seus parceiros; Perturbam, intimidam, empurram, dão socos, pontapés, tapas, beliscões, puxam o cabelo e/ou roupas;
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