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DESCRIÇÃO Fundamentos básicos da psicomotricidade no campo relacional e funcional. PROPÓSITO Compreender o conceito e a origem dos aspectos relacionais e funcionais da psicomotricidade, a partir da concepção dos autores que a fundamentaram. OBJETIVOS MÓDULO 1 Reconhecer a relação entre a psique e os transtornos psicomotores MÓDULO 2 Identificar a funcionalidade do movimento de modo hierarquizado, a partir das unidades funcionais de Luria MÓDULO 3 Construir uma prática de intervenção fisioterápica utilizando os fatores psicomotores, quando necessário INTRODUÇÃO Neste tema estudaremos os fundamentos básicos da Psicomotricidade, suas conexões e suas possíveis aplicabilidades na prática do profissional de fisioterapia, relacionando os aspectos funcionais e relacionais da área. Desse modo, será possível desenvolver um novo olhar para a prática dos futuros fisioterapeutas, conectando aspectos funcionais do movimento, tão desenvolvidos em sua formação, a aspectos psíquicos, imprescindíveis na ciência psicomotora. MÓDULO 1 Reconhecer a relação entre a psique e os transtornos psicomotores CONCEITOS A Psicomotricidade apresenta uma intrincada conexão entre as questões relacionais e funcionais. Mas o que é psicomotricidade? Veja a definição da Associação Brasileira de Psicomotricidade (2020): Psicomotricidade é a ciência que tem como objeto de estudo o homem através do seu corpo em movimento e em relação ao seu mundo interno e externo. Está relacionada ao processo de maturação, onde o corpo é a origem das aquisições cognitivas, afetivas e orgânicas. É sustentada por três conhecimentos básicos: o movimento, o intelecto e o afeto. Psicomotricidade pode também ser definida como o campo transdisciplinar que estuda e investiga as relações e as influências recíprocas e sistêmicas entre o psiquismo e a motricidade. Baseada numa visão integrada do ser humano, a Psicomotricidade encara de forma interligada as funções cognitivas, socioemocionais, simbólicas, psicolinguísticas e motoras, promovendo a capacidade de ser e agir num contexto psicossocial (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE PSICOMOTRICIDADE, 2020). Assim, podemos organizar a definição de Psicomotricidade como a ciência que tem por objeto de estudo o homem, por meio do seu corpo em movimento (função), nas relações consigo mesmo, com os objetos, com os outros e com o ambiente (relação), entendendo o corpo como a fonte das aquisições cognitivas, motoras e afetivas, assim como o meio que possibilita a expressão e a relação. Fonte: Robert Kneschke/shutterstock.com Exemplo de psicomotricidade. Fonte: Africa Studio/shutterstock.com Exemplo de psicomotricidade. Para abordar os fundamentos básicos da psicomotricidade, dividiremos a apresentação em aspectos relacionais e aspectos funcionais. Contudo, é necessário esclarecer que essa é uma estratégia didática de estudo da Psicomotricidade. Na prática, essa ciência integra função e relação de modo inseparável. Esses aspectos podem ser divididos em dois componentes: MENTAL (PSICO) Refere-se aos aspectos mentais, ou seja, aos aspectos cognitivo e afetivo da formação do ser humano. MOTOR (MOTRICIDADE) Refere-se aos aspectos biológicos e motriz do sujeito. Ambos os componentes estão conectados em uma mesma expressão, o que fortalece a ideia de que são indissociáveis. Fonte: EnsineMe Psicomotricidade. O CORPO É INTEGRADO No vídeo a seguir, abordaremos a passagem do pensamento do corpo dualista para a compreensão do corpo integrado. Inicialmente, veremos o aspecto relacional, vamos lá? A relação na psicomotricidade ocorre a partir do próprio corpo e suas conexões com o espaço, o objeto e o corpo do outro, numa intensa relação entre o meio interno e o meio externo. Mas como se dão essas relações? Por integrações? Conexões? Se dão através de mecanismos em que o corpo comunica o meio interno com o externo e vice-versa, através da integração entre as sensações e as percepções. O QUE SÃO SENSAÇÕES? Fonte: Wikipedia Inervação do sistema nervoso periférico (SNP) em comunicação com o sistema nervoso central (SNC). A sensação é o sentimento, as informações como elas são! As sensações se manifestam como reações neurovegetativas. A palavra sensação vem do latim sentio, que quer dizer ter ou experimentar algo pelos sentidos. As sensações estão divididas em três grupos: INTROCEPTIVAS Sensações oriundas do meio interno do organismo e asseguram a regulação das necessidades elementares. São elas que expressam fome, estados de tensão, satisfação, entre outros. PROPRIOCEPTIVAS Sensações oriundas das informações sobre a posição do corpo no espaço e sobre as posturas, garantindo a regulação dos movimentos. Estão ligadas aos receptores periféricos, ou seja, músculos, articulações e canais semicirculares que informam as mudanças da posição no espaço. EXTEROCEPTIVAS Sensações oriundas do mundo exterior, ou seja, olfato, visão, audição, tato, paladar. A seguir, veja um esquema de interação com esses três grupos: Fonte: EnsineMe Sensações. O QUE SÃO PERCEPÇÕES? As percepções surgem a partir das sensações. As sensações são as informações como são. Já as percepções passam por um processamento, no qual são organizadas e analisadas a partir das nossas experiências anteriores, o que gera um olhar subjetivo. javascript:void(0) javascript:void(0) javascript:void(0) EXEMPLO A sensação do frio é para todos nós, mas a percepção do frio é agradável para alguns e desagradável para outros. A palavra percepção vem do latim percepiere e quer dizer apoderar-se, movimento de colher. Merleau-Ponty (1999) diz que um dos prejuízos da humanidade é relacionar sensação e percepção como sinônimos, em especial na análise das filosofias clássicas, pois, segundo ele: Sensação Ocorre pelos órgãos dos sentidos e possuem qualidades primárias e secundárias, pois é o juízo de uma realidade concreta, o visível: “A sensação pura será a experiência de um ‘choque’ indiferenciado, instantâneo e pontual”. Percepção É a maneira pela qual sou afetado, um estado de mim mesmo, a interpretação daquilo que se sente, pois olhar sem sentir é não perceber a essência do que se observa. Assim, o sentido do que se vê é a essência, o fenômeno e o invisível. (MERLEAU-PONTY, 1999, p. 23). Mas você deve estar se perguntando, o que as sensações e as percepções têm a ver com o objetivo deste módulo, aspectos psíquicos e as disfunções? As conexões entre sensação e percepção, em especial a compreensão do conceito da percepção, são frutos dos estudos do psiquismo. Para melhor compreensão, vamos voltar um pouco na história do corpo. Para entender os aspectos psíquicos na psicomotricidade, é preciso compreender o ser humano através do seu corpo em conexão com seu mundo interno e externo. Veja como esse processo se deu: Fonte: EnsineMe Integração Sensorial. COMO SURGIU A PSICOMOTRICIDADE? A história do corpo confunde-se com a da humanidade. Sendo assim, retornaremos à Grécia antiga para entendermos melhor como chegamos ao panorama atual. Veja um pouco dessa história: PERÍODO PRÉ-SOCRÁTICO Desde a Grécia antiga, o corpo físico era exaltado, os pré-socráticos falavam de “alma” sob uma visão metafísica, um tanto materialista. PERÍODO SOCRÁTICO Sócrates (470 – 399 a.C.) e seu discípulo Platão (428 – 347 a.C.) refletiam sobre a imortalidade da “alma” e viam o corpo como lugar transitório para a “alma” imortal. Além disso, preocupavam-se com a moral e com a ética. Discípulo da escola platoniana, Aristóteles (384 - 322 a.C.) posicionava-se como mais racionalista que Platão. Para ele, o corpo é matéria moldada pela alma. A alma é quem põe o corpo em movimento. A alma é a forma do corpo. IDADE MÉDIA Surge o Cristianismo, a Igreja ganha muito poder e une-se à política. Surge a ideia de corpo sagrado e corpo profano. Em muitas reflexões, o corpo é acusado de ser objeto do pecado. IDADE MODERNA No século XVI, com o filósofo René Descartes,que o “corpo” passou a ser visto como coisa externa e a “alma” como pensante por natureza, estabelecendo, a partir destes preceitos filosóficos, uma dicotomia, um corte entre corpo e alma, chamado de dualismo cartesiano: “Penso, logo existo”. IDADE CONTEMPORÂNEA Ao final do século XVIII e início do século XIX, o psicólogo Maine de Bira apresenta um pensamento diferente de Descartes, identificando o movimento como um componente essencial do eu, defendendo a ideia de que a alma precisa do corpo para assumir sua intencionalidade. Essa ideia, de certa forma, instaura uma nova perspectiva do pensamento sobre o corpo. SÉCULO XIX Com a ideia apresentada pelo psicólogo Maine de Bira, chegamos ao século XIX, que é onde a história da psicomotricidade surge realmente. A Psicomotricidade é uma ciência que nasceu da Neurologia, mas no período citado, havia três correntes diferentes de pensamento entre os neurologistas sobre as conexões entre o corpo e cérebro (mente) (MATTOS, 2016). LOCALIZACIONISTA O período denominado localizacionista foi caracterizado por uma corrente de médicos que se preocupavam com o mapeamento cerebral. Assim, para todo sintoma deveria existir uma lesão. Contudo, a não localização de lesão para muitos sintomas motivou o surgimento de outras linhas de pensamento, a dos médicos preocupados com os distúrbios funcionais, ou seja, funções que apresentavam alterações, sem necessariamente haver lesões localizáveis. Em meio a esse cenário de muitas discordâncias, surgem os profissionais que darão suporte a esses tratamentos, com o nome de PARA-MÉDICOS (psicólogos, fisioterapeutas, fonoaudiólogos, psicomotricistas etc.). É exatamente o enfoque sobre os distúrbios funcionais que faz com que o modelo anatomoclínico não responda mais a todas as questões, forçando a evolução da ciência. ESTÍMULO-RESPOSTA Uma segunda corrente de neurologistas inaugura a Neurofisiologia, a qual tinha como representante o famoso neurologista russo Ivan Pavlov (1849 – 1936). Com o objetivo de compreender o funcionamento do cérebro, os neurologistas dessa linha desenvolviam estudos sobre o modelo neurofisiológico da época, o estímulo-resposta, e trilhando esse percurso chegaram à teoria do condicionamento. Porém, à medida em que as pesquisas avançavam, verificaram que a correspondência entre centro cortical e a função não explicava certas disfunções graves. Foi com Sherrington, em1906, que o modelo estímulo-resposta é superado pelo que ele descreve como a ação integrada do sistema nervoso, ou seja, o neurologista enfatizou que há uma regulação das condutas do organismo em interação com o meio. Esse pressuposto questiona o paradigma de Pavlov, pois sugere que, embora nossos cérebros sejam semelhantes em estrutura, cada um deles possui uma forma peculiar de funcionar a partir de suas relações com o meio e os estímulos aos quais é submetido. É o início do pensar a individualidade biológica. Mais uma questão de extrema relevância ao constructo da Psicomotricidade. NEUROPSIQUIATRIA INFANTIL Nessa terceira corrente de neurologistas, encontramos a base para o surgimento da Psicomotricidade, a neuropsiquiatria infantil, com destaque para Étienne Esquirol, Philipe Pinel e Jean-Martin Charcot. Em paralelo, Sigmund Freud organizava o conceito de inconsciente. Oriundo dessa corrente, o neurologista francês Ernest Duprè, em 1907, define a síndrome da debilidade motora, sem que sejam atribuídos a ela danos ou lesão localizada, correlacionando motricidade e inteligência. A palavra psicomotricidade surge no final do século XIX, com a definição baseada nos fundamentos neurológicos. A partir dos estudos do início do século XX, o “imperialismo neurológico” já não é tão forte e os autores da Psiquiatria e da Psicologia passam a ser os que mais contribuem para o fortalecimento da Psicomotricidade como: Freud, Wallon, Piaget e outros tantos que se dedicaram ao estudo da infância, de seu desenvolvimento e de seus transtornos. Em 1947, Ajuriaguerra redefine a “debilidade motora” de Duprè como uma síndrome com suas próprias particularidades e afasta definitivamente a psico-motricidade da visão do dualismo cartesiano e do período localizacionista. Ele retira o hífen e dá à palavra psicomotricidade uma unidade. Na década de 1970, Bergès, Diatkine, Jolivet, Leibovici, entre outros, definem a psicomotricidade como “uma motricidade de relação”. Na mesma década, a Psicomotricidade chega ao Brasil e influencia profissionais da área da Saúde e da Educação. O corpo passa a ser abordado em sua totalidade, como um corpo integrado, conectando movimento, cognição e afeto. A Psicomotricidade nasceu, se constituiu e possui um longo percurso de constructo teórico, evoluindo: Do pensamento do corpo-máquina → ao corpo integrado Da ciência localizacionista → ao corpo e suas conexões O CORPO E SUAS CONEXÕES PSÍQUICAS O processo histórico da evolução do pensamento sobre o corpo possui um capítulo à parte sobre a inserção dos conceitos psicanalíticos. Fonte: EnsineMe Psicomotricidade. Segundo Lazzarini & Viana (2006) foi o saber psicanalítico que permitiu o amadurecimento da escuta clínica para além das somatizações. O corpo constitui um todo em funcionamento coerente com a história do sujeito. Gantheret (apud LAZZARINI E VIANA, 2006) relata que o corpo na psicanálise é tempo, marginal e fronteiriço, fundador e constitutivo, bem como encoberto e descoberto. É sob todas estas formas que o corpo marca presença. O corpo é objeto para o psiquismo, é o corpo da representação inconsciente, o corpo investido numa relação de significação, construído em seus fantasmas e em sua história. O corpo é o grande filtro, por ele tudo passa, sua impressão do mundo e expressão no mundo. Fronteira entre dois mundos conectados que precisam estar em comunicação durante todo o tempo. O corpo produz movimentos os quais podem trazer muitas informações sobre o sujeito, as quais este não tem consciência. As disfunções podem transbordar através do corpo e do movimento, implicando em seu funcionamento, provocando transtornos psicomotores. Então você pergunta: Do que trata a Psicomotricidade? Daquilo que está oculto no movimento. VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. SOBRE A RELAÇÃO ENTRE CORPO E PSIQUISMO É POSSÍVEL AFIRMAR QUE O CORPO É OBJETO PARA O PSIQUISMO. É O CORPO DA REPRESENTAÇÃO INCONSCIENTE, O CORPO INVESTIDO NUMA RELAÇÃO DE SIGNIFICAÇÃO, CONSTRUÍDO EM SEUS FANTASMAS E EM SUA HISTÓRIA. ANÁLISE AS INFORMAÇÕES A SEGUIR 1. O CORPO TRAZ AS MARCAS DO INCONSCIENTE. 2. O CORPO, QUANDO DEMONSTRA TRANSTORNOS PSICOMOTORES, APRESENTA MOVIMENTOS DOTADOS DE SIGNIFICAÇÕES INCONSCIENTES. 3. PSICOMOTRICIDADE É O TRABALHO DAS SIGNIFICAÇÕES CONSCIENTES DO CORPO. SOBRE AS INFORMAÇOES ACIMA, MARQUE A ALTERNATIVA CORRETA: A) Somente a alternativa 1. B) Somente a alternativa 2. C) Somente a alternativa 3. D) As alternativas 1 e 2 estão corretas. E) As alternativas 2 e 3 estão corretas. 2. AS SENSAÇÕES SÃO AS INFORMAÇÕES COMO SÃO. JÁ AS PERCEPÇÕES PASSAM POR UM PROCESSAMENTO, AS QUAIS SÃO ORGANIZADAS E ANALISADAS A PARTIR DAS NOSSAS EXPERIÊNCIAS ANTERIORES, O QUE GERA UM OLHAR SUBJETIVO. SÃO AS CHAMADAS GNOSIAS. ANALISE OS ITENS A SEGUIR: 1. SENSAÇÃO E PERCEPÇÃO SÃO A MESMA COISA. 2. SE TENHO CALOR, É SENSAÇÃO. SE ESSA EXPERIÊNCIA É INSUPORTÁVEL PARA MIM, É PERCEPÇÃO. 3. SE TENHO CALOR, É PERCEPÇÃO. SE ESSA EXPERIÊNCIA É INSUPORTÁVEL PARA MIM, É SENSAÇÃO. SOBRE AS INFORMAÇÕES ACIMA, MARQUE A ALTERNATIVA CORRETA: A) Somente a alternativa 1. B) Somente a alternativa 2. C) Somente a alternativa 3. D) As alternativas 1 e 2 estão corretas. E) As alternativas 2 e 3 estão corretas. GABARITO 1. Sobre a relação entre corpo e psiquismo é possível afirmar que o corpo é objeto para o psiquismo. É o corpo da representação inconsciente, o corpo investido numa relação de significação, construído em seus fantasmas e em sua história. Análise as informações a seguir 1. O corpo trazas marcas do inconsciente. 2. O corpo, quando demonstra transtornos psicomotores, apresenta movimentos dotados de significações inconscientes. 3. Psicomotricidade é o trabalho das significações conscientes do corpo. Sobre as informaçoes acima, marque a alternativa correta: A alternativa "D " está correta. Com base no fato de que a Psicomotricidade tem por objeto o estudo do homem por meio do seu corpo em movimento e, através deste, sua relação consigo e com o meio externo de forma una e indissociável, a Psicomotricidade é o trabalho das significações inconscientes e não conscientes. 2. As sensações são as informações como são. Já as percepções passam por um processamento, as quais são organizadas e analisadas a partir das nossas experiências anteriores, o que gera um olhar subjetivo. São as chamadas Gnosias. Analise os itens a seguir: 1. Sensação e percepção são a mesma coisa. 2. Se tenho calor, é sensação. Se essa experiência é insuportável para mim, é percepção. 3. Se tenho calor, é percepção. Se essa experiência é insuportável para mim, é sensação. Sobre as informações acima, marque a alternativa correta: A alternativa "B " está correta. De acordo com os conceitos de sensação e percepção, é possível verificar a distinção entre eles. A sensação é a mesma para todas as pessoas, ou seja, é um conceito assertivo. No entanto, a percepção sobre as sensações depende de um processamento individual que depende de outros fatores, como as experiências prévias, conferindo-lhe um grau de subjetividade. MÓDULO 2 Identificar a funcionalidade do movimento de modo hierarquizado, a partir das unidades funcionais de Luria CONCEITOS Antes de iniciarmos o conteúdo do módulo 2, vamos relembrar o que vimos até aqui? RELEMBRANDO A Psicomotricidade apresenta uma intrincada conexão entre as questões relacionais e funcionais. As conexões relacionais descritas no módulo anterior apresentam a relação entre o meio interno e o meio externo do corpo, além da existência de um corpo fronteiriço entre esses dois meios: um meio interno composto por enlaces entre a consciência e o inconsciente; um meio externo com toda a dinâmica da vida. O enlace do consciente e do inconsciente, junto com as questões maturacionais, transparecem no corpo em movimento. Um movimento funcional necessário à dinâmica da vida! Aqui, começamos a apresentar esse corpo e essa mente se organizando funcionalmente a partir da teoria de Luria, mas lembre-se: função e relação são componentes conectados e indissociáveis. Fonte: Desconhecido / Wikimedia commons / Licença CC-PD-Mark Alexander Luria. Alexander Luria foi um grande pesquisador russo, nascido em 1902 e falecido em 1977. Médico e psicólogo, trabalhou com Lev Vygotsky, por quem tinha grande admiração. Foi um dos pioneiros da ciência do sistema nervoso. Suas pesquisas inauguraram um novo capítulo do estudo do cérebro e da função interna, introduzindo um novo ramo científico chamado psiconeurologia. Dentre os muitos legados, a formulação do conceito de neuroplasticidade foi um dos mais extraordinários para a humanidade. Existem inúmeras teorias de como se dá a organização funcional do cérebro humano. Dentre elas, Luria descreveu um modelo no qual o cérebro humano funciona a partir de unidades funcionais que trabalham em conjunto, em prol de uma função complexa, independentemente da sua distribuição. Ele apresentou uma alternativa à questão tão debatida das localizações cerebrais. Em primeiro lugar, distingue a função como funcionamento de um tecido particular e a função como sistema funcional complexo. Luria destaca que os processos mentais, que incluem sensações, percepção, linguagem, pensamento e memória não podem ser considerados simples faculdades localizadas em áreas particulares e concretas do cérebro, mas como sistemas funcionais complexos (LURIA, 1989). Fonte: Alena Hovorkova/Shutterstock.com Cérebro visto no plano sagital. Luria pensou o sistema nervoso central estruturado de modo hierarquizado e verticalizado. O funcionamento adequado das estruturas superiores, portanto, dependeria do funcionamento das estruturas inferiores. Quanto mais acima na hierarquia, mais as estruturas seriam elaboradas e fragilizadas (KRUSZIELSKI, s/d). Luria não tratou de faculdades, mas de unidades ou sistemas funcionais complexos que, portanto, não estão localizados em áreas delimitadas do cérebro, mas que têm lugar através da participação de grupos de estruturas cerebrais que trabalham de modo integrado. A dinâmica do comportamento humano compreende a interconexão de múltiplas redes de informação dispersas pelo corpo: periféricas (pele, músculo, articulações e vísceras) e centrais (mielencefálicas, metencefálicas, mesencefálicas, diencefálicas e telencefálicas), que retratam a existência de um sistema sensorial na base do desenvolvimento e da aprendizagem. (FREITAS, 2006) O desenvolvimento evolutivo dos seres humanos exige a organização das sensações para fornecer ao cérebro as informações referentes às condições do corpo como universo intrassomático e do envolvimento como universo extrassomático, com os quais produz uma motricidade adaptativa e flexível. Trata-se de uma complexa integração e associação intraneurossensorial, que reflete a tendência evolutiva do processo informativo (LURIA, 1966). TEORIA DE ALEXANDER LURIA Segundo Luria (1984), o cérebro é apresentado contendo sistemas individuais, que fornecem as condições para se operacionalizar a atividade mental superior, que antecede a conduta consciente humana. O autor começa a abordar a noção de função como um sistema complexo e plástico que, para realizar uma tarefa particular, utilizará um grupo de componentes diferentes e permutáveis. Qualquer que seja a tarefa, trata-se de uma atividade conjunta de níveis corticais e subcorticais, que se retroalimentam em um processamento simultâneo. Essa visão das relações entre cérebro e comportamento permite encarar a lesão cerebral de modo diferente dos estudos anteriores, pois a função é distribuída por várias zonas do cérebro, o que faz com que uma lesão produza um efeito diferente no comportamento. Assim, o efeito da lesão atua como elemento de desorganização do sistema de trabalho das diferentes áreas dispersas e interativas. ATENÇÃO Segundo Luria, a reabilitação da função não é atribuída à regressão ao estágio anterior de organização, nem a transferência de função para um novo centro, mas a uma reorganização estrutural à um novo e dinâmico sistema, englobando informações superiores e inferiores corticais e subcorticais. Segundo Fonseca (2012), Luria introduziu a noção de organização sistêmica, que ajuda a explicar a reabilitação da função, em especial nas crianças e jovens. Assim como Vygotsky, Luria reforçou que as formas superiores de atividade mental têm a sua gênese nas questões sócio-históricas e culturais, as quais emergem no desenvolvimento da motricidade e da linguagem, guiando e organizando a atividade psíquica superior, ou seja, a atividade do seu próprio cérebro. Veja, a seguir, alguns objetos de estudo de Luria que refletem na motricidade e na linguagem humana: Estrutura interna da atividade mental. Organização dos diferentes componentes que contribuem para a estrutura final da atividade mental. Análise da atividade psicológica humana que está por trás da ação propriamente dita. Ao abordar a noção de função como um sistema complexo e plástico, o autor aponta que as condições para a operacionalização das atividades mentais superiores que antecedem toda conduta consciente humana estão diretamente ligadas a esses sistemas do cérebro. As funções psicomotoras e os substratos neurológicos que são por elas utilizados passam a ser vistos como sistemas organizados, dinâmicos e complexos. Ausentes no instante do nascimento, as zonas de trabalho responsáveis pela atividade cognitiva complexa, psicomotora ou simbólica, são encadeadas estruturalmente duranteo processo de desenvolvimento. ATENÇÃO Toda aquisição cognitiva da criança, postura bípede, manipulação práxica, compreensão auditiva, fala, leitura, escrita etc, é consequência de uma atividade simultânea e integrada dos centros de trabalho dispersos no cérebro. Do mesmo modo que não podemos desvincular a linguagem gestual, a comunicação não verbal emocional e mímica, a atenção, a percepção, a memória e o pensamento da linguagem falada, não podemos estudar de forma isolada a motricidade humana, pois, para que ela ocorra, deve haver a organização do tônus de repouso e de ação, o controle postural, a regulação vestibular antigravitacional e espacial, a noção do corpo e sua relação com o espaço, a memória e as aferências do meio. Para Luria, o cérebro é composto de múltiplas estruturas funcionais, que estão sistematicamente integradas em três grandes unidades funcionais fundamentais, as quais participam de todo tipo de atividade mental, no movimento voluntário, na elaboração práxica e psicomotora e na produção da linguagem falada ou escrita. TRÊS UNIDADES FUNCIONAIS DE LURIA Agora, conheceremos as três grandes unidades funcionais fundamentais descrita por Luria: Fonte: vectorus/Adaptado de Shutterstock.com Divisão funcional do cérebro por Luria. 1. Primeira unidade funcional – regular o tônus cortical e a função de vigilância. 2. Segunda unidade funcional – obter, captar, processar e armazenar informações vindas do mundo exterior. 3. Terceira unidade funcional – programar, regular e verificar a atividade mental. A atividade mental do ser humano em geral e a sua atividade consciente em particular se dão a partir da participação conjunta das três unidades funcionais fundamentais. Cada uma delas tem sua função no processamento mental materializado no comportamento humano. Segundo Fonseca (2012), cada uma das três unidades funcionais básicas apresenta uma estrutura hierarquizada, em três zonas corticais, organizadas verticalmente. Veja: Fonte: BlueRingMedia/shutterstock.com Anatomia do cérebro humano. PRIMEIRA ZONA CORTICAL De projeção: recebe e emite os impulsos para a periferia. SEGUNDA ZONA CORTICAL De projeção-associação: processa a informação integrada e prepara os programas. TERCEIRA ZONA CORTICAL De sobreposição: organiza as formas mais complexas de atividade, exigindo a participação conjunta de muitas áreas corticais, razão pela qual é a última estrutura a desenvolver-se em termos filogenéticos e ontogenéticos. Como visto, a diferenciação estrutural de unidades funcionais atinge graus de progressiva organização. javascript:void(0) javascript:void(0) javascript:void(0) Fonte: EnsineMe Estrutura hierarquizada em três zonas corticais. PRIMEIRA UNIDADE DE LURIA Sobre a primeira unidade, é imprescindível dizer que, para o desenvolvimento humano, o estado de alerta e vigilância é fundamental, assim como um certo nível tônico cortical é imprescindível a qualquer atividade mental, ou um certo nível tônico postural é imprescindível ao movimento voluntário. Essa unidade depende principalmente de uma estrutura chamada tronco cerebral (também conhecido como tronco encefálico), que fica localizada entre a medula e o cérebro propriamente dito. Na parte posterior do tronco, há uma rede de neurônios chamada de formação reticular. Se um determinado potencial de ação, uma determinada carga elétrica, chega até o terminal sináptico, ela é transmitida. Isso garante intensidades diferentes na transmissão sináptica: estímulos fracos, moderados e fortes são transmitidos de acordo com sua intensidade. Esse conhecimento é importante para saber as funções do tronco cerebral. A primeira delas é a regulação do ciclo sono-vigília. É esta área cerebral que determina o quanto estamos despertos ou o quanto estamos dormindo, além de todos os estados atencionais entre o sono e a vigília. É por isso que não conseguimos acordar ou dormir de uma vez só, somente conseguimos despertar e adormecer lentamente. Luria nomeia o fenômeno como regulação do tônus cortical. É a partir deles que conseguimos regular uma certa intenção para nos mantermos despertos, atentos ou adormecidos. VOCÊ SABIA O aumento e a modulação da vigilância foi uma necessidade para a sobrevivência da espécie humana. Da filogênese à ontogênese, a preparação para o inesperado é uma condição de sobrevivência ainda hoje. A adaptação e a superação de situações inesperadas necessitam de uma mobilidade energética, compatível à modificação tônica ocorrida nas respostas adaptativas. Sem uma modulação tônica, nem a atividade mental nem a atividade corporal que lhe dá suporte podem se desenvolver (FONSECA, 2012). Está localizada no tronco cerebral, no diencéfalo e nas regiões médias do córtex. SEGUNDA UNIDADE DE LURIA A segunda unidade é específica em termos de modalidade sensorial capazes de receber informações visuais, auditivas, gustativas, olfativas, vestibulares e tátil-cinestésicas. É o grande sistema de recepção (input), análise e armazenamento oriundo do mundo exterior e do mundo interno ao indivíduo, reunindo um mecanismo sensorial específico dos processos gnósicos, ou seja, instrumentos perceptivos. É nessa unidade que as sensações, após serem processadas, transformam-se em percepções, isso é o processo gnósico! Entre as funções processadas estão a visão, a percepção tátil-cinestésica, a audição, a orientação espacial e a linguagem receptiva. É na segunda unidade funcional que ocorre a sensação e a percepção a partir dos sentidos (interoceptivos, exteroceptivos e proprioceptivos). Cabe a ela receber e analisar as informações que chegam os órgãos sensoriais, interpretando-as e atribuindo significado. A memória também está relacionada a esta unidade funcional. A seguir, veja como cada área se manifesta na segunda unidade funcional (córtex posterior): ÁREA PRIMÁRIA Também conhecidas como áreas de projeção, são grupos de neurônios que respondem somente a propriedades muito específicas dos estímulos. A informação ainda é desencontrada javascript:void(0) e, por isso, as áreas primárias são responsáveis apenas pela sensação. ÁREA SECUNDÁRIA A percepção, que podemos entender como a formação de uma imagem, só começa a aparecer nas áreas corticais secundárias, também chamadas de gnósticas. ÁREA TERCIÁRIA Já as áreas terciárias são chamadas de áreas de superposição, ou de integração, pois relacionam as informações de fontes diferentes. Por isso, a passagem das áreas primárias para as terciárias é a transição da síntese direta para o nível de processos simbólicos mais complexos. Se nas áreas primárias ocorre a sensação e nas secundárias a percepção, nas áreas terciárias podemos afirmar que ocorre a cognição (KRUSZIELSKI, s/d). Luria apresenta três leis que governam a estrutura de funcionamento das regiões corticais individuais. A seguir, veja cada uma delas: PRIMEIRA LEI A lei da estrutura hierárquica das zonas corticais afirma que há uma síntese progressivamente mais complexa das informações que chegam. As áreas terciárias organizam a atividade das secundárias, que organizam a atividade das primárias. SEGUNDA LEI A segunda lei é a lei da especificidade decrescente das zonas corticais hierarquicamente organizadas. Os neurônios das áreas primárias possuem uma especificidade modal muito grande, que diminui nas áreas secundárias até se tornar multimodal nas áreas terciárias. Isso significa que os neurônios que estão presentes nas áreas primárias só executam atividades muito específicas e não processam informações diferentes para o que não foram designados. javascript:void(0) javascript:void(0) Fonte: EnsineMe Organização neuronal segundo o funcionamento das regiões corticais individuais. TERCEIRA LEI Como terceira lei, temos a lei da lateralização progressiva das funções. Sabemos que os hemisférios cerebrais realizam um processamento diferente entre si. Algumas regiões, no entanto, funcionam da mesma forma em ambos os hemisférios. É o casodas áreas primárias, que possuem um papel idêntico no hemisfério esquerdo e no hemisfério direito. Mas, se nos voltarmos para as áreas secundárias e terciárias, perceberemos que os papéis serão diferentes de cada lado do cérebro. Nas áreas terciárias, há uma maior lateralização, localizada nas regiões posteriores e laterais do neocórtex, que representa a convexidade superficial dos hemisférios cerebrais. TERCEIRA UNIDADE DE LURIA A terceira unidade é responsável por programar, regular e verificar, ou seja, organizar a atividade consciente. O córtex frontal participa da preparação dos processos de ativação que surgem com as formas mais complexas de atividade consciente. A motricidade, a intencionalidade, o planejamento e a linguagem expressiva encontram-se entre as funções mentais envolvidas. É possível afirmar, genericamente, que a terceira unidade funcional é responsável pelas funções executivas (KRUSZIELSKI, s/d). Segundo Fonseca (2012), o desenvolvimento desta terceira unidade funcional está associado à progressiva corticalização das funções de programação, regulação e verificação das atividades conscientes, funções inseparáveis da linguagem, o maior regulador do comportamento humano. Na terceira unidade funcional (córtex anterior), as áreas secundárias frontais estão entre a intenção e o movimento bruto: são elas que conseguem coordenar os movimentos, deixando- os mais graciosos e harmonizados. Assim, a rota na terceira unidade funcional parte das áreas terciárias (intenção) para as secundárias (coordenação) para, finalmente, as primárias (movimento), que realizam o comportamento desejado. Ela está localizada na região do córtex anterior, exatamente a frente do sulco central, formando os lóbulos frontais. ATENÇÃO As três unidades apresentam uma atividade hierarquizada, mas dialeticamente recíprocas, colocando em prática a atividade de uma unidade em interação com as outras. ORGANIZAÇÃO FUNCIONAL DE LURIA No vídeo a seguir, abordaremos a organização funcional do cérebro segundo Luria. VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. SOBRE A PRIMEIRA UNIDADE DE LURIA, É IMPRESCINDÍVEL DIZER QUE, PARA O DESENVOLVIMENTO HUMANO, O ESTADO DE ALERTA E VIGILÂNCIA É FUNDAMENTAL, ASSIM COMO UM CERTO NÍVEL TÔNICO CORTICAL É IMPRESCINDÍVEL A QUALQUER ATIVIDADE MENTAL, DA MESMA FORMA QUE UM CERTO NÍVEL TÔNICO POSTURAL É IMPRESCINDÍVEL AO MOVIMENTO VOLUNTÁRIO. DE ACORDO COM ESTA INFORMAÇÃO, ANALISE OS ITENS A SEGUIR: 1. O DESENVOLVIMENTO DO TÔNUS É UM FATOR IMPORTANTE PARA O MOVIMENTO VOLUNTÁRIO. 2. A ATIVIDADE MENTAL DEPENDE DE UM NÍVEL TÔNICO CORTICAL. 3. ALERTA E VIGILÂNCIA SÃO ESTADOS ESSENCIAIS AO DESENVOLVIMENTO DA PRIMEIRA UNIDADE FUNCIONAL. SOBRE AS INFORMAÇOES ACIMA, MARQUE A ALTERNATIVA CORRETA: A) Somente a alternativa 1. B) Somente a alternativa 2. C) Somente a alternativa 3. D) As alternativas 1 e 2 estão corretas. E) As alternativas 1, 2 e 3 estão corretas. 2. AS TRÊS UNIDADES FUNCIONAIS DE LURIA FORAM ORGANIZADAS DA SEGUINTE FORMA: PRIMEIRA UNIDADE FUNCIONAL – REGULAR O TÔNUS CORTICAL E A FUNÇÃO DE VIGILÂNCIA. SEGUNDA UNIDADE FUNDAMENTAL – OBTER, CAPTAR, PROCESSAR E ARMAZENAR INFORMAÇÕES VINDAS DO MUNDO EXTERIOR. TERCEIRA UNIDADE FUNCIONAL – PROGRAMAR, REGULAR E VERIFICAR A ATIVIDADE MENTAL. A ATIVIDADE MENTAL DO SER HUMANO EM GERAL, E A SUA ATIVIDADE CONSCIENTE EM PARTICULAR, SE DÃO A PARTIR DA PARTICIPAÇÃO CONJUNTA DAS TRÊS UNIDADES FUNCIONAIS FUNDAMENTAIS. CADA UMA DELAS TEM SUA FUNÇÃO NO PROCESSAMENTO MENTAL MATERIALIZADO NO COMPORTAMENTO HUMANO. DE ACORDO COM ESTAS AFIRMAÇÕES, ANALISE OS ITENS A SEGUIR: 1. CADA UMA DAS TRÊS UNIDADES FUNCIONAIS BÁSICAS APRESENTA UMA ESTRUTURA HIERARQUIZADA, EM TRÊS ZONAS CORTICAIS, ORGANIZADAS VERTICALMENTE. 2. O CÉREBRO É COMPOSTO DE MÚLTIPLAS ESTRUTURAS FUNCIONAIS, QUE ESTÃO SISTEMATICAMENTE INTEGRADAS EM TRÊS GRANDES UNIDADES FUNCIONAIS FUNDAMENTAIS, AS QUAIS PARTICIPAM DE TODO TIPO DE ATIVIDADE MENTAL, QUER NO MOVIMENTO VOLUNTÁRIO, NA ELABORAÇÃO PRÁXICA E PSICOMOTORA, QUER NA PRODUÇÃO DA LINGUAGEM FALADA OU ESCRITA. 3. O PROCESSAMENTO É UM ESTADO ESSENCIAL AO DESENVOLVIMENTO DA PRIMEIRA UNIDADE FUNCIONAL. SOBRE AS INFORMAÇOES ACIMA, MARQUE A ALTERNATIVA INCORRETA: A) Somente a alternativa 1. B) Somente a alternativa 2. C) Somente a alternativa 3. D) As alternativas 1 e 2. E) As alternativas 1 e 3. GABARITO 1. Sobre a primeira unidade de Luria, é imprescindível dizer que, para o desenvolvimento humano, o estado de alerta e vigilância é fundamental, assim como um certo nível tônico cortical é imprescindível a qualquer atividade mental, da mesma forma que um certo nível tônico postural é imprescindível ao movimento voluntário. De acordo com esta informação, analise os itens a seguir: 1. O desenvolvimento do tônus é um fator importante para o movimento voluntário. 2. A atividade mental depende de um nível tônico cortical. 3. Alerta e vigilância são estados essenciais ao desenvolvimento da primeira unidade funcional. Sobre as informaçoes acima, marque a alternativa correta: A alternativa "E " está correta. A maturação do tônus representa a maturação da primeira unidade funcional. Para que ela ocorra, o tronco encefálico foi amadurecido, permitindo a passagem das informações sensoriais. 2. As três unidades funcionais de Luria foram organizadas da seguinte forma: Primeira unidade funcional – regular o tônus cortical e a função de vigilância. Segunda unidade fundamental – obter, captar, processar e armazenar informações vindas do mundo exterior. Terceira unidade funcional – programar, regular e verificar a atividade mental. A atividade mental do ser humano em geral, e a sua atividade consciente em particular, se dão a partir da participação conjunta das três unidades funcionais fundamentais. Cada uma delas tem sua função no processamento mental materializado no comportamento humano. De acordo com estas afirmações, analise os itens a seguir: 1. Cada uma das três unidades funcionais básicas apresenta uma estrutura hierarquizada, em três zonas corticais, organizadas verticalmente. 2. O cérebro é composto de múltiplas estruturas funcionais, que estão sistematicamente integradas em três grandes unidades funcionais fundamentais, as quais participam de todo tipo de atividade mental, quer no movimento voluntário, na elaboração práxica e psicomotora, quer na produção da linguagem falada ou escrita. 3. O processamento é um estado essencial ao desenvolvimento da primeira unidade funcional. Sobre as informaçoes acima, marque a alternativa incorreta: A alternativa "C " está correta. O processamento é um estado essencial ao desenvolvimento da segunda unidade funcional. MÓDULO 3 Construir uma prática de intervenção fisioterápica utilizando os fatores psicomotores, quando necessário CONCEITOS No módulo 2, introduzimos um aspecto fundamental da Psicomotricidade, a funcionalidade do cérebro. Agora, neste módulo, iremos associar, mais profundamente, tal funcionalidade do cérebro ao movimento a partir da obra de Vitor da Fonseca. Como Vitor da Fonseca contribuiu para a Psicomotricidade? Fonseca (2012) objetivou abordar a Psicomotricidade de forma psiconeurológica, relacionando e justificando vários fatores e subfatores psicomotores com as três unidades funcionais do cérebro segundo o modelo descrito por Luria narrado no módulo anterior. Para isso, o autor teve como propósito estabelecer um conjunto de tarefas significativas para conectar os fatores e subfatores psicomotores às unidades funcionais do cérebro, que não fossem totalmente desprovidas de quantificação e que não caíssem em padronizações restritas, permitindo a detecção qualitativa de sinais funcionais desviantes, bem como a análise dos fatores. Seu objetivo era contribuir na compreensão dos problemas de aprendizagem e de desenvolvimento da criança. Assim nasceu a Bateria Psicomotora (BPM) de Vitor da Fonseca (2012), um dispositivo diferente das escalas de desenvolvimentomotor. Como funciona a BPM? A BPM é um instrumento baseado em um conjunto de tarefas que permite detectar déficits funcionais (ou substanciar a sua ausência) em termos psicomotores, cobrindo a integração sensorial e perceptiva relacionada ao potencial de aprendizagem da criança. Ela procura analisar qualitativamente os sinais psicomotores, comparando-os às funções dos sistemas básicos do cérebro. ATENÇÃO A BPM não se situa na observação das sensações, reflexos ou movimentos simples, mas na observação de funções que envolvem as três unidades fundamentais do cérebro. A designação de fatores psicomotores é equivalente à noção de funções. Por isso, os fatores que compõe a BPM traduzem atividades complexas adaptativas, com contribuições específicas no todo funcional, que compreendem a atividade mental expressa na Psicomotricidade. FATORES PSICOMOTORES E SUAS CONEXÕES Agora, no vídeo a seguir, falaremos sobre cada fator e subfator psicomotor, suas conexões, desenvolvimento e necessidade de acompanhamento e avaliação. Os fatores psicomotores distribuídos pelas três unidades funcionais são apresentados como circuitos dinâmicos autorregulados, construídos segundo o princípio da organização vertical das estruturas do cérebro e dependentes de uma hierarquização funcional, que ocorre no desenvolvimento da criança. Os fatores psicomotores reunidos funcionalmente compreendem uma organização psicomotora, em que cada um contribui particularmente na organização global do sistema funcional psicomotor. A função na Psicomotricidade surge a partir do constructo do cérebro e unidades funcionais de Luria, o modelo psiconeurológico. Fonseca (2012) criou a bateria psicomotora composta pelos sete fatores psicomotores, distribuídos pelas três unidades funcionais-fundamentais de Luria, conforme o esquema a seguir: Fonte: Adaptado de Fonseca (2012) Unidades funcionais e fatores psicomotores. Fonte: epixproductions/shutterstock.com CONEXÕES EXISTENTES ENTRE OS FATORES PSICOMOTORES E AS UNIDADES FUNCIONAIS Os fatores psicomotores estabelecem relação com o crescimento e desenvolvimento individual. Veja, a seguir, as conexões existentes entre os fatores psicomotores e as unidades funcionais. TÔNUS FAIXA ETÁRIA DO DESENVOLVIMENTO DO TÔNUS: DO NASCIMENTO AOS DOZE MESES Tônus significa a tensão ativa em que se encontram os músculos nos indivíduos com desenvolvimento típico, processando a ativação dos reflexos que asseguram as funções adaptativas posturais. Fonte: Tomsickova Tatyana/shutterstock.com A tonicidade é a base fundamental da psicomotricidade, tendo um papel fundamental no desenvolvimento motor, pois é responsável pelo estado de tensão permanente do músculo. Tem a função de alerta e vigilância. É uma estrutura básica que prepara e guia a atividade osteomotora. O tônus é pano de fundo para o movimento e a postura está na base da organização dos movimentos. TIPOS DE TÔNUS Podemos caracterizar, de forma didática, três tipos de tônus. São eles: TÔNUS DE FUNDO, DE BASE OU POSTURAL É o responsável pela postura ortostática, pela manutenção da posição de um seguimento corporal (contração isométrica) e está presente na função de amortecedor. É avaliado por meio das manobras de passividade e de extensibilidade. TÔNUS DE AÇÃO OU DE ATITUDE É o ato motor propriamente dito (contração isotônica), quando um grupo muscular realiza uma determinada ação. TÔNUS DE FORÇA OU DE SUPORTE É quando todo o corpo se dedica a uma única ação. É claro que o tempo todo estamos flutuando entre os três tipos e um não existe sem o outro. O que temos é, em determinadas situações, a prioridade de um sobre o outro. Segundo Fonseca (2012) o fator da tonicidade na BPM compreende o estudo do tônus de suporte e do tônus de ação. O tônus de suporte compreende os subfatores da extensibilidade, da passividade e da paratonia. O tônus de ação compreende os subfatores de extensibilidade, passividade, paratonia, diadococinesias e das sincinesias. Como características principais de cada um desses subfatores, destacamos: EXTENSIBILIDADE Maior comprimento possível que podemos imprimir a um músculo, afastando as suas inserções. Pode apresentar sinais de resistência ou flacidez, de hipertonia ou hipotonia. PASSIVIDADE Capacidade de relaxamento passivo dos membros e suas extremidades distais perante estímulos introduzidos. PARATONIA (GEGENHALTEN) Forma de hipertonia, com resistência variável, durante um movimento involuntário passivo. DIADOCOCINESIAS javascript:void(0) javascript:void(0) javascript:void(0) javascript:void(0) javascript:void(0) javascript:void(0) javascript:void(0) Realização de movimentos vivos, simultâneos e alternados perante estímulos introduzidos. SINCINESIAS Reações parasitas de imitação dos movimentos contralaterais e de movimentos peribucais ou linguais. EQUILÍBRIO FAIXA ETÁRIA DO DESENVOLVIMENTO DO EQUILÍBRIO: DE 1 A 2 ANOS O equilíbrio significa a resposta motora vigilante e integrada, em face da força gravitacional, que atua permanentemente sobre o indivíduo. A equilibração é o sentido que permite a permanência em equilíbrio – em grande parte resultado da maturação dos neurônios cerebelares. Está relacionada à aquisição da postura bípede, segurança gravitacional e desenvolvimento dos padrões locomotores. Fonte: UvGroup/Shutterstock javascript:void(0) O equilíbrio está relacionado ao órgão sensorial da audição. O aparelho vestibular e labirinto detectam a posição e o movimento da cabeça no espaço pela integração das informações dos receptores periféricos, localizados no ouvido interno. A função do sistema vestibular é registrar os movimentos do corpo pelos receptores periféricos e enviar essas informações ao cerebelo, região do cérebro que tem como função controlar os movimentos voluntários, a postura, a aprendizagem motora, o equilíbrio e o tônus. Fonseca (2012) diz que equilibração é uma condição básica da organização psicomotora, pois envolve ajustamentos posturais antigravitacionais, que dão suporte a resposta motora. Dentre eles, estão: DESENVOLVIMENTO DOS PADRÕES LOCOMOTORES DESENVOLVIMENTO DA POSTURA BÍPEDE SEGURANÇA GRAVITACIONAL Fonseca (2012) relata os sinais disfuncionais posturais a partir dos quais o fator de equilibração pode ser observado através da BPM, compreendendo o estudo dos seguintes subfatores: IMOBILIDADE É observada através da capacidade da criança em conservar o equilíbrio em diversas situações, os ajustamentos posturais e as reações emocionais. EQUILÍBRIO ESTÁTICO O equilíbrio estático exige as mesmas capacidades da imobilidade com diferença das posições que são exigidas. EQUILÍBRIO DINÂMICO javascript:void(0) javascript:void(0) javascript:void(0) É observada através da capacidade da criança em conservar o equilíbrio em diversas situações de movimentação e o deslocamento. LATERALIDADE FAIXA ETÁRIA DO DESENVOLVIMENTO DA LATERALIDADE: DOS 2 AOS 3 ANOS Lateralidade significa a capacidade de integração sensório-motora dos dois lados do corpo. A lateralidade é a predisposição à utilização preferencial de um dos lados do corpo expressas nos níveis ocular, pedal, auditivo e visual, refletindo a dominância de um dos hemisférios cerebrais. A lateralidade representa uma competência operacional que preside todas as formas de orientação do corpo; é a integração sensorial, investimento emocional, desenvolvimento das percepções difusas e dos sistemas aferentes e eferentes. Fonte: ImageFlow/shutterstock.com Luria (1989) relata que a significação psiconeurológica da lateralização envolve a organização progressiva do cérebro como órgão de trabalho e de comunicação. Primeiramente, organiza as sensações e o movimento, depois organiza os símbolos. Por isso, a integração bilateral antecede a especialização hemisférica. ATENÇÃO O desenvolvimento do tônus e do equilíbrio é básico para aquisição de muitas funções psíquicas superiores, como linguagem, leitura e escrita. A lateralização dá continuidadeao processo de organização das funções psíquicas superiores. A relação esquerda e direita foi fundamental à civilização, pois sem o domínio de uma direcionalidade, não haveria a possibilidade de aprendizagem simbólica. A lateralização traduz a capacidade de integração sensório-motora dos dois lados do corpo, transformando-se em uma espécie de radar endopsíquico de relação e de orientação com o mundo exterior. Em termos de motricidade, retrata uma competência operacional que preside a todas as formas de orientação do indivíduo. Indica também uma conscientização integrada da experiência sensorial e motora, um mecanismo de orientação intracorporal (proprioceptiva) e extracorporal (exteroceptiva). Segundo Fonseca (2012), os subfatores de cotação das tarefas da BPM visam determinar a preferência dos telerreceptores (visão e audição) e dos proprioefetores (mão e pé), conforme indicado a seguir: SUBFATOR DE LATERALIZAÇÃO OCULAR Dominância do olho direito ou esquerdo. SUBFATOR DE LATERALIZAÇÃO AUDITIVA Dominância do ouvido direito ou esquerdo. SUBFATOR DE LATERALIZAÇÃO MANUAL Dominância da mão direita ou esquerda. SUBFATOR DE LATERALIZAÇÃO PEDAL Dominância do pé direito ou esquerdo. Fonte: Goami/shutterstock.com NOÇÃO DO CORPO FAIXA ETÁRIA DO DESENVOLVIMENTO DA NOÇÃO DE CORPO: DOS 3 AOS 4 ANOS A noção do corpo significa a noção do eu, a conscientização corporal, percepção corporal, condutas de imitação. A noção de corpo visa estudar a percepção corporal que a criança possui a partir de sua face dentro do parâmetro de espaço próprio, ou seja, todo o espaço extracorporal imediato que é possível atingir com os movimentos do braço sem mover os pés. Também trata do esquema corporal (noção topográfica) no qual a criança se organiza corporalmente em estruturas, nomeando-as à imagem corporal, criando uma representação mental de si mesma. Essa construção se dá a partir de um corpo que se constrói na relação com o outro, que o nomeia, que o reconhece e reconhece a sua existência. Esse outro deve ser entendido na figura do cuidador do bebê. A noção de corpo possui quatro aspectos que a constituem: NOMEAÇÃO DAS PARTES DO CORPO LOCALIZAÇÃO DAS PARTES DO CORPO CONSCIENTIZAÇÃO DAS PARTES DO CORPO UTILIZAÇÃO DAS PARTES DO CORPO A imagem do corpo é inconsciente, aqui podem nascer os transtornos da imagem do corpo. Ajuriaguerra (1977) diz que a evolução da criança é sinônimo de conscientização e conhecimento cada vez mais profundo do seu corpo. A criança é o seu corpo, pois é por meio dele que vai elaborar suas experiências vitais e organizar toda sua personalidade. ATENÇÃO A noção do corpo tem a contribuição particular dos fatores psicomotores tônus, equilíbrio, lateralidade. É um fator polifatorial, que envolve a relação com o outro e a dimensão geocêntrica da linguagem. É também uma noção primeiramente intuitiva, da qual decorre uma autoimagem sensorial interior. Posteriormente, ela passa a uma noção especializada linguisticamente. A noção de corpo resulta da projeção específica das áreas primárias, mas elabora-se e armazena-se em construção gnósica corporal (somatognosia) nas áreas parietais secundárias. Além de revelar a capacidade do ser humano de se reconhecer como um objeto no seu próprio campo perceptivo, de onde resulta a sua autoconfiança e autoestima, o seu autocontrole passa a ser resultado de uma integração sensorial cortical, a qual participa na planificação motora de todas as atividades conscientes e, por meio dela, atinge a matriz espacial das nossas percepções e ações. Fonseca (2012) relata que a observação da criança deve ser realizada a partir de sinais disfuncionais proprioceptivos, da apresentação e da representação do próprio corpo. Para isso, na BPM, constam os seguintes subfatores: SENTIDO CINESTÉSICO Possibilita a percepção do movimento ou repouso do corpo. Ele fornece informações sobre as posições relativas dos membros e outras partes do corpo durante os movimentos e sobre as tensões musculares. RECONHECIMENTO DIREITA- ESQUERDA Representa o senso de direcionalidade. AUTOIMAGEM É a parte descritiva do conhecimento que o indivíduo tem de si próprio. IMITAÇÃO DE GESTOS Corresponde à reprodução dos gestos de outra pessoa. DESENHO DO CORPO Corresponde à capacidade de desenhar o corpo. ESTRUTURA ESPAÇO-TEMPORAL javascript:void(0) javascript:void(0) javascript:void(0) javascript:void(0) javascript:void(0) A estrutura espaço-temporal significa a integração cortical de dados espaciais, relacionados ao sistema visual e dados temporais rítmicos, relacionados ao sistema auditivo. É essencial que a criança tenha desenvolvido a noção do corpo para continuar o processamento da segunda unidade funcional. Fonte: Navistock/shutterstock.com Quanto à estrutura espacial, refere-se a uma orientação (aprendizagem dos conceitos) e posterior organização (aplicabilidade dos conceitos aprendidos) no que se refere ao espaço. Em relação à estrutura temporal, refere-se a uma orientação (aprendizagem dos conceitos) e posterior organização (aplicabilidade dos conceitos aprendidos) no que se refere ao tempo. ATENÇÃO A estrutura espaço-temporal depende do grau de integração e organização dos fatores psicomotores anteriores. Junto com a lateralidade e a noção do corpo, ela compõe a segunda unidade funcional, cujas propriedades funcionais são adaptação, análise, síntese e armazenamento de estímulos recebidos pelos analisadores sensoriais, visuais e auditivos, em uma transição dialética de dados espaços temporais. O desenvolvimento da atenção seletiva, do processamento da informação, coordenação espaço-corpo, proficiência da linguagem são da ordem da sensorialidade, da captação e posterior processamento das sensações do meio. Do projeto a execução! Segundo Fonseca (2012) os subfatores da BPM são: ORGANIZAÇÃO Relativo ato de organizar-se corporalmente para realizar uma tarefa. ESTRUTURAÇÃO DINÂMICA Tem como função estruturar dinamicamente os objetos, compondo os arranjos, conforme visualizados. REPRESENTAÇÃO TOPOGRÁFICA Demarca a localização dos objetos, a partir de arranjos visualizados. ESTRUTURAÇÃO RÍTMICA Repetição de intervalos sonoros, através do registro de estruturação rítmica estimulada. PRAXIA GLOBAL FAIXA ETÁRIA DE DESENVOLVIMENTO DA PRAXIA GLOBAL: DOS 5 AOS 6 ANOS Praxia global significa a expressão da informação do córtex motor, ou seja, é o resultado integrado de todos os fatores psicomotores apresentados. Se partirmos do princípio que existe uma dimensão espacial em tudo o que fazemos e conhecemos, perceberemos a importância da estruturação espaço-temporal na observação psicomotora. A praxia representa um conjunto de movimentos coordenados, para um fim determinado, que dependem de aprendizagem. Movimentos estes que não são naturais, como andar de bicicleta, dirigir. javascript:void(0) javascript:void(0) javascript:void(0) javascript:void(0) Fonte: Monkey Business Images/shutterstock.com Veja alguns pontos relevantes sobre este subfator: A praxia equaciona quatro condições: um projeto, vários engramas, ligações projeto- engramas e instrumentos neuromusculares de expressão comandados em função do projeto. A praxia global proporciona indicadores sobre a organização práxica da criança com reflexos nítidos sobre a eficiência, a proficiência e a realização motora. As possibilidades motoras e o estilo motor da criança podem ser avaliados nos vários subfatores. As dispraxias são problemas práxicos na noção do corpo e estruturação espaço- temporal. Traduzem uma disfunção psiconeurológica da organização tátil, vestibular e proprioceptiva, que interfere na capacidade de planificar ações, com repercussões no comportamento socioemocional e no potencial da aprendizagem. Segundo Fonseca (2012), os subfatores da apraxia global são: COORDENAÇÃO ÓCULO-MANUAL Ato de conjugar olhos e mãos no mesmo movimento. COORDENAÇÃO ÓCULO-PEDAL Ato de conjugar olhos e pés no mesmo movimento. javascript:void(0)javascript:void(0) DISMETRIA Dificuldade ao apontar. DISSOCIAÇÃO Dificuldade na integração, que pode afetar as memórias e percepções, emoções, identidade, representação corporal. Fonte: Lyubov Kobyakova/shutterstock.com PRAXIA FINA FAIXA ETÁRIA DE DESENVOLVIMENTO DA PRAXIA FINA: DOS 5 AOS 6 ANOS Praxia fina significa a integração de todas as significações psiconeurológicas já avançadas da praxia global. Ela se relaciona à função de coordenação dos movimentos óculo-manuais e depende da atenção e de funções de programação e regulação de atividades de preensão e manipulação mais finas e complexas, como: javascript:void(0) javascript:void(0) Concentração, organização, especialização hemisférica. Refinamento da ação motora com pequenos músculos ou músculos da periferia (mãos, pés e boca). A praxia fina é um fator psicomotor muito elaborado corticalmente, que vai se desenvolver até aproximadamente 6 anos, quando acriança estará apta ao manuseio. A mão é considerada a unidade motora mais complexa do mundo animal, a grande arquiteta da inteligência na criança e no homem, o meio mais eficaz de exploração do mundo exterior. A destralidade manual preparou o caminho para a evolução do cérebro. A praxia fina é o fator mais hierarquizado da BPM. Segundo Fonseca (2012), os subfatores da praxia fina são: COORDENAÇÃO DINÂMICA MANUAL Ato de conjugar movimentos com as mãos. TAMBORILAR Percutir com os dedos, tocando um de cada vez, em sequência, sobre uma superfície. VELOCIDADE-PRECISÃO Padrões de qualidade do gesto motor. Para finalizarmos esse módulo, vejamos um resumo dos fatores e subfatores psicomotores. Fatores psicomotores Função Subfatores Tonicidade muscular Permite a manutenção das diferentes posturas corporais. Extensibilidade Passividade Paratonia Diadococinesia Sincinesia javascript:void(0) javascript:void(0) javascript:void(0) Equilibração Permite a realização dos movimentos com equilíbrio do corpo contra a gravidade. Imobilidade Equilíbrio estático Equilíbrio dinâmico Lateralização Evidencia o controle de cada um dos lados do corpo. Lateralização ocular Lateralização auditiva Lateralização manual Lateralização pedal Noção de corpo Possibilita conhecer e nomear segmentos corporais, necessário na execução de ações ajustadas. Sentido cinestésico Reconhecimento direita/esquerda Autoimagem Imitação de gestos Desenho do corpo Estruturação espaço-temporal Permite a realização dos movimentos física e simbolicamente entre os obstáculos em tempos e ritmos adequados. Organização Estruturação dinâmica Representação topográfica Estruturação rítmica Praxia global Permite a realização de ações planejadas com controle das grandes articulações do corpo. Coordenação óculo-manual Coordenação óculo-pedal Dismetria Dissociação Praxia fina Permite a realização de ações planejadas com controle das mãos, pés, dedos e boca. Coordenação manual Velocidade- precisão Tamborilar Atenção! Para visualizaçãocompleta da tabela utilize a rolagem horizontal VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. A NOÇÃO DO CORPO PASSA PELA ORGANIZAÇÃO DO ESQUEMA E DA IMAGEM CORPORAL. A IMAGEM CORPORAL SE DÁ A PARTIR DE UM CORPO QUE SE CONSTRÓI NA RELAÇÃO COM O OUTRO, QUE O NOMEIA, QUE O RECONHECE ESTRUTURAL E EXISTENCIALMENTE. ANALISE AS AFIRMATIVAS A SEGUIR: 1. NO ESQUEMA CORPORAL (NOÇÃO TOPOGRÁFICA), A CRIANÇA SE ORGANIZA CORPORALMENTE EM ESTRUTURAS, NOMEANDO-AS. 2. IMAGEM CORPORAL É ONDE A CRIANÇA CRIA UMA REPRESENTAÇÃO MENTAL DE SI MESMA. 3. POSSUI QUATRO ASPECTOS QUE O CONSTITUEM: NOMEAÇÃO DAS PARTES DO CORPO; LOCALIZAÇÃO DAS PARTES DO CORPO; CONSCIENTIZAÇÃO DAS PARTES DO CORPO; UTILIZAÇÃO DAS PARTES DO CORPO. SOBRE AS AFIRMATIVAS ACIMA, MARQUE A ALTERNATIVA CORRETA:, A) Somente a alternativa 1. B) As alternativas 2 e 3 estão corretas. C) As alternativas 1 e 3 estão corretas. D) As alternativas 1 e 2 estão corretas. E) As alternativas 1, 2 e 3 estão corretas. 2. ASSOCIE OS TERMOS E OS CONCEITOS DA COLUNA 1 E DA COLUNA 2, ENUMERANDO-OS: COLUNA 1: 1) TÔNUS 2) EQUILÍBRIO 3) LATERALIDADE 4) PRAXIA GLOBAL 5) PRAXIA FINA COLUNA 2: ( ) DOMINÂNCIA DE UM HEMISFÉRIO CEREBRAL SOBRE O OUTRO. ( ) TENSÃO DOS MÚSCULOS. ( ) ESTADO DE UM CORPO, QUANDO FORÇAS DISTINTAS SE ENCONTRAM SOBRE ELE, COMPENSAM-SE E ANULAM-SE MUTUAMENTE. ( ) É DEFINIDA COMO A COLOCAÇÃO EM AÇÃO SIMULTÂNEA DE GRUPOS MUSCULARES DIFERENTES, COM VISTAS À EXECUÇÃO DE MOVIMENTOS AMPLOS E APRENDIDOS. ( ) É O TRABALHO DE FORMA ORDENADA DOS PEQUENOS MÚSCULOS. A) 3; 4; 5; 1; 2. B) 3; 1; 2; 4; 5. C) 1; 4; 2; 3; 5. D) 1; 3; 2; 4; 5. E) 2; 3; 1; 4; 5. GABARITO 1. A noção do corpo passa pela organização do esquema e da imagem corporal. A imagem corporal se dá a partir de um corpo que se constrói na relação com o outro, que o nomeia, que o reconhece estrutural e existencialmente. Analise as afirmativas a seguir: 1. No esquema corporal (noção topográfica), a criança se organiza corporalmente em estruturas, nomeando-as. 2. Imagem corporal é onde a criança cria uma representação mental de si mesma. 3. Possui quatro aspectos que o constituem: nomeação das partes do corpo; localização das partes do corpo; conscientização das partes do corpo; utilização das partes do corpo. Sobre as afirmativas acima, marque a alternativa correta:, A alternativa "E " está correta. Para desenvolvimento da noção do corpo, é fundamental que a criança reconheça cada uma de suas partes de forma individual. Em seguida, faz-se necessária uma representação mental dessas partes para, em seguida, discriminar a funcionalidade de cada uma dessas, culminando numa visão integrada. 2. Associe os termos e os conceitos da coluna 1 e da coluna 2, enumerando-os: COLUNA 1: 1) TÔNUS 2) EQUILÍBRIO 3) LATERALIDADE 4) PRAXIA GLOBAL 5) PRAXIA FINA COLUNA 2: ( ) Dominância de um hemisfério cerebral sobre o outro. ( ) Tensão dos músculos. ( ) Estado de um corpo, quando forças distintas se encontram sobre ele, compensam-se e anulam-se mutuamente. ( ) É definida como a colocação em ação simultânea de grupos musculares diferentes, com vistas à execução de movimentos amplos e aprendidos. ( ) É o trabalho de forma ordenada dos pequenos músculos. A alternativa "B " está correta. Conhecer conceitual e funcionalmente as características dos fatores psicomotores contribui para uma intervenção psicomotora adequada. CONCLUSÃO CONSIDERAÇÕES FINAIS Concluindo a abordagem dos aspectos fundamentais da Psicomotricidade, apresentamos as conexões da intrincada relação entre as questões relacionais e funcionais. As conexões relacionais descritas no módulo 1 relataram a relação entre o meio interno, o meio externo e o corpo, cumprindo seu papel de intermediar essas relações pelas suas expressões. Uma relação entre o consciente e o inconsciente, aliado às questões maturacionais, vivenciadas no corpo e no movimento. Vimos que o corpo e o movimento funcionam em paralelo com a funcionalidade do cérebro, a partir das obras de Luria e Vitor da Fonseca, nos módulos 2 e 3, e compreendemos o que é a Psicomoticidade através das conexões dos aspectos fundamentais – relação e função, em que função e relação são componentes conectados e indissociáveis. A não conexão pode apontar disfunções, sendo possível através da BPM avaliar tais disfunções ou analisar os fatores e subfatores psicomotores, com o propósito de compreender problemas de aprendizagem e de desenvolvimento da criança, fato compreensível pela integração sensorial e perceptiva, que se relaciona com o seu potencial de aprendizagem. AVALIAÇÃO DO TEMA: REFERÊNCIAS AJURIAGUERRA, J. Manual de psiquiatria infantil. Rio de Janeiro: Masson, 1977. AJURIAGUERRA, J. Manual de psicopatologia infantil. Porto Alegre: Artes Médicas, 1991. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE PSICOMOTRICIDADE. Consultado em meio eletrônico em: 17 set. 2020. FONSECA, V. da. Psicomotricidade. Lisboa: Notícias, 1986. FONSECA,V. Da filogênese à ontogênese da motricidade. Porto Alegre: Artes Médicas, 1998. FONSECA, V. Manual de observação psicomotora. Rio de Janeiro: WAK, 2012. FREITAS, Neli Klix. Desenvolvimento humano, organização funcional do cérebro e aprendizagem no pensamento de Luria e de Vygotsky. In: Ciênc. cogn., Rio de Janeiro, v. 9, p. 91-96, nov. 2006. Consultado em meio eletrônico em: 09 out. 2020. GALLAHUE, D.; OZMUN, J. Compreendendo o desenvolvimento motor. São Paulo: Phorte, 2001. GESELL; AMATRUDA. Diagnóstico do desenvolvimento. São Paulo: Atheneu, 1990. KRUSZIELSKI, Leandro. Teoria do Sistema Funcional. s/d. LAZZARINI, Eliana Rigotto; VIANA, Terezinha. O corpo em psicanálise. In: Psic.: Teor. e Pesq., Brasília, v. 22, n. 2, pág. 241-249, agosto de 2006. Consultado em meio eletrônico em: 20 set. 2020. LURIA, A.R. Fundamentos da neuropsicologia. Rio de Janeiro: Livros Técnicos e Científicos, 1984. LURIA, A.R. Human Brain and Psychological Process. Londres: Harper & Row, 1966. LURIA, A.R. Pensamento e linguagem. Porto Alegre: Artes Médicas, 1986. LURIA, A.R. O cérebro em ação. Porto Alegre: Artes Médicas, 1989. MATTOS, V. Psicomotricidade. Rio de Janeiro: SESES, 2016. MATTOS, V; KABARITE, A. Avaliação Psicomotora – um olhar para além do desempenho. Rio de Janeiro: Wak, 2014. MERLEAU-PONTY, Maurice. Fenomenologia da Percepção. São Paulo: Martins Fontes, 1999. EXPLORE+ Procure os artigos Psicomotricidade: uma visão pessoal, de Vitor da Fonseca. Contribuições da Neuropsicologia de Alexsandr Romanovich Luria para o debate contemporâneo sobre relações mente-cérebro, de Izabel Hazin et al. CONTEUDISTA Rossana de Vasconcelos Pugliese Vito CURRÍCULO LATTES javascript:void(0);
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