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Introdução a parasitologia APRESENTAÇÃO A parasitologia é uma área de conhecimento que estuda a relação entre parasitas e humanos e suas consequências na saúde da população. Os parasitas ocorrem em duas formas distintas: protozoários unicelulares e metazoários multicelulares denominados helmintos ou vermes. Para a compreensão do ciclo de vida e a patogênese dos protozoários e helmintos, é necessário conhecer a definição de alguns termos. Nesta Unidade de Aprendizagem, falaremos sobre as denominações dos diferentes grupos e as principais espécies de parasitas. Serão abordadas as formas existentes no ciclo de vida e os tipos de hospedeiros. Bons estudos. Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Definir os grupos e as classes de parasitas;• Reconhecer as formas parasitárias;• Diferenciar um hospedeiro definitivo de um hospedeiro intermediário.• DESAFIO A parasitologia estuda os parasitas, os hospedeiros e a relação entre eles. A parasitologia humana será estudada com foco nos parasitas de importância médica. Nesta Unidade, vimos a divisão dos parasitas em duas formas distintas: protozoários e helmintos. Diante deste contexto: 1. Elabore um fluxograma com o nome das espécies identificando a localização de infecção do parasita (intestinal, sangue e tecidos, tecidual ou urogenital). 2. No mesmo fluxograma, identifique a doença que cada um causa. 3. Você deverá incluir, ao menos, as seguintes espécies: a) Entamoeba histolytica b) Giardia lamblia c) Cryptosporidium parvum d) Trichomonas vaginalis e) Plasmodium vivax f) Plasmodium falciparum g) Toxoplasma gondii h) Trypanosoma cruzi i) Leishmania donovani j) Balantidum coli k) Taenia solium l) Taenia saginata m) Schistosoma mansoni n) Enterobius vermiculares o) Ascaris lumbricoides p) Strongyloides stercoralis q) Wuchereria bancrofti Para desenvolver essa questão, você poderá tomar como base a figura abaixo. INFOGRÁFICO Veja a seguir um esquema sobre a divisão da parasitologia. CONTEÚDO DO LIVRO Será abordada aqui a divisão da parasitologia, bem como as principais espécies de cada grupo. Vimos que existem diferentes tipos de formas parasitárias que vão depender do ciclo celular de cada parasita, além da diferença entre os tipos de hospedeiro. Aprofunde seu conhecimento no capítulo Introdução à Parasitologia, da obra Parasitologia, onde você verá os grupos e classes dos pasasitatas, e como diferenciar o hospedeiro. Boa Leitura. PARASITOLOGIA Sílvia Regina Costa Dias Introdução à parasitologia Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Definir os grupos e as classes de parasitas. Reconhecer as formas parasitárias. Diferenciar um hospedeiro definitivo de um hospedeiro intermediário. Introdução O parasitismo é uma das mais importantes formas de interação entre os seres vivos e passou a ocorrer quando, na evolução das espécies, um organismo menor se sentiu beneficiado, fosse pela proteção ou pela obtenção de alimento. Trata-se de uma relação direta e íntima entre duas espécies, mas, ao contrário de outras formas de associação (comensalismo, por exemplo), nas relações parasitárias, há um grau de dependência metabólica, e o metabolismo de uma espécie encontra-se vinculado ao da outra (NEVES, 2016). No curso do processo de adaptação às novas condições de vida, o parasito acabou perdendo, na maioria dos casos, a capacidade de sintetizar um ou mais produtos essenciais ao seu metabolismo (REY, 2008). Assim, o parasito retira do outro indivíduo (hospedeiro) todos ou parte dos nutrientes necessários à sua sobrevivência (JUNIOR et al., 2018). A dependência entre eles é ainda mais estreita quando as condições que o parasito exige se encontram em poucas ou em apenas uma espécie de organismo (REY, 2008). Em decorrência do parasitismo e das alterações metabólicas men- cionadas, observam-se outras modificações na organização estrutu- ral e morfológica dos parasitos que podem variar em grau e forma (se comparadas àquelas encontradas em organismos de vida livre — não parasitos — dos mesmos grupos taxonômicos): desde aquelas imper- ceptíveis até extremos, como é o caso do desenvolvimento de órgãos de fixação (cápsula bucal, dentes, lâminas cortantes) nos ancilostomídeos ou o não desenvolvimento de sistema digestório nos cestoides (que se alimentam através da absorção de nutrientes do organismo parasitado pelo tegumento) (REY, 2008). Neste capítulo, você vai ser introduzido à parasitologia, aprendendo os grupos e as classes de parasitas, as formas parasitárias e vendo como diferenciar um hospedeiro definitivo de um hospedeiro intermediário. Principais grupos de parasitos Parasitismo é toda relação desenvolvida entre indivíduos de espécies diferentes em que se observa, além de associação íntima e duradoura, uma dependência metabólica de grau variável (REY, 2008). Assim, parasitologia é a ciência que estuda os parasitos e as relações parasitárias: ciclo de vida, doenças, formas de controle, morfologia, a interação entre os organismos, entre outros aspectos. De acordo com Rey (2008), os principais parasitos humanos são divididos em três grandes grupos, que você confere no Quadro 1. Protozoários: parasitos unicelulares Helmintos: parasitos multicelulares Artrópodes Filo Sarcomastigophora: núcleo simples, presença de flagelos, pseudopodes ou ambos. Subfilo Mastigophora: presença de flagelos. Subfilo Sarcodina: locomovem-se pela emissão de flagelos. Filo Nemathelminthes: parasitos com forma cilíndrica (vermes redondos). Rhabditida: possuem gerações de vida livre e de vida parasitária. Trichocephalida: possuem a extremidade anterior muito estreita, mas sem estrutura bucal reduzida. Spirurida: filarídeos cujas fêmeas produzem embriões — as microfilárias. Classe Arachnida: ectoparasitos que possuem quatro pares de patas na fase adulta (por exemplo, carrapatos). Quadro 1. Protozoários, helmintos e artrópodes (Continua) Introdução à parasitologia2 Fonte: Adaptado de Rey (2008). Protozoários: parasitos unicelulares Helmintos: parasitos multicelulares Artrópodes Filo Apicomplexa: possuem complexo apical, sem cílios. Filo Platyhelminthes: parasitos achatados dorso-ventralmente. Trematoda: endoparasitos, possuem uma ou mais ventosas, corpo não segmentado. Cestoda: endoparasitos, corpo segmentado, desprovidos de sistema digestório. Classe Insecta: ectoparasitos que possuem três pares de patas na fase adulta (por exemplo, moscas, piolhos e mosquitos). Filo Ciliophora: possuem macro e micronúcleos, com cílios. — — Quadro 1. Protozoários, helmintos e artrópodes (Continuação) Os parasitos distinguem-se em endoparasitos ou ectoparasitos. Os primeiros habitam células e tecidos (parasitos teciduais) ou a luz de vísceras ocas (parasitos cavitários) dos hospedeiros. Já os ectoparasitos são aqueles que se nutrem de elementos da superfície do hospedeiro (como pulgas, piolhos e carrapatos), geralmente sem penetrar muito profundamente no organismo hospedeiro (FERREIRA, 2012). 3Introdução à parasitologia Protozoários Os protozoários englobam todos os organismos protistas, eucariotas, uni- celulares e apresentam as mais variadas formas, processos de alimentação, locomoção e reprodução. Ferreira (2012) destaca as seguintes estruturas/ organelas típicas das formas evolutivas dos protozoários e extremamente importantes no parasitismo: cinetoplasto: mitocôndria especializada, rica em DNA; microtúbulos: além de formar o citoesqueleto, são importantes na com- posição de cílios e flagelos; flagelos e cílios: locomoção do parasito; corpo basal: base de inserção de cílios e flagelos; axonema: eixo do flagelo. De acordo com a locomoção em meio aquático, os protozoários podem ser classificados como: ciliados (possuem cílios), flagelados (possuem flagelos), rizópodos(rastejam-se, mudando a forma do corpo através da emissão de pseudópodes) e esporozoários (não possuem organelas locomotoras, nem vacúolos contráteis) (NEVES, 2016). A maioria apresenta vida livre e aquática (inclusive lugares úmidos), mas as espécies parasitárias passam a maior parte da vida parasitando diversas espécies de seres vivos, causando as doenças (NEVES, 2016). O artigo que você pode acessar no link a seguir é um clássico que descreve termos utilizados no estudo da ecologia de parasitos. https://qrgo.page.link/yZL7s Introdução à parasitologia4 O Reino Protista é constituído por cerca de 60.000 espécies conhecidas, das quais 10.000 são parasitos de diferentes animais e apenas algumas dezenas são parasitos do homem (NEVES, 2016). A reprodução deste grupo de parasitos é geralmente assexuada, acontecendo por (NEVES, 2016): divisão binária (clonal) (Figura 1); brotamento interno por endodiogenia (por exemplo, Toxoplasma gondii); esquizogonia (divisão nuclear seguida de divisão do citoplasma, cons- tituindo vários indivíduos isolados simultaneamente, como ocorre em espécies do filo Apicomplexa do gênero Plasmodium sp.); pode ser classificada ainda como merogonia (produz merozoítos), gametogonia (produz microgametas) e esporogonia (produz esporozoítos). No entanto, algumas espécies podem realizar reprodução sexuada, havendo, inclusive, troca de material genético entre um microrganismo e outro. Existem dois tipos de reprodução sexuada: conjugação: no filo Ciliophora, ocorre união temporária de dois indivíduos, com troca mútua de materiais celulares (por exemplo, Balantidium coli); fecundação: união de microgameta e macrogameta formando o zigoto, que pode dividir-se formando os esporozoítos (por exemplo, espécies do filo Apicomplexa). 5Introdução à parasitologia Figura 1. Modelo de reprodução assexuada e sexuada em protozoários. Em (a), está representado o modelo de reprodução por divisão binária em Euglena, um protista de vida livre. Em (b), o ciclo do Plasmodium sp. mostra os três momentos de reprodução assexuada do parasito — merogonia (produz merozoítos), game- togonia (produz microgametas) e esporogonia (produz esporozoítos), assim como o momento da reprodução sexuada, com a fecundação do macrogameta pelo microgameta para formação dos esporozoítos (no inseto vetor). Fonte: Adaptadas de (a) ELLEPIGRAFICA/Shutterstock.com; (b) DESIGNUA/Shutterstock.com. Os helmintos Os helmintos são conhecidos popularmente como vermes e vivem em várias partes do corpo humano. Podemos dividí-los em três grandes grupos: os nematoides (vermes redondos), cestoides (vermes em forma de “fi ta” e com o corpo segmentado) e os trematódeos (vermes em forma de “folha”, achatados e providos de ventosas) (Figura 2). Introdução à parasitologia6 Os helmintos apresentam representantes distribuídos em três filos: Platyhelminthes, Nematoda e Acanthocephala. Macracanthorhynchus hirudinaceus e Moniliformis moni- loformis, espécies representantes dos Acanthocephala, apesar de serem parasitos de outros animais, têm sido encontrados parasitando o homem (NEVES, 2016). Os helmintos não possuem sistema circulatório e respiratório (são anae- róbios). No aspecto reprodutivo, eles podem multiplicar-se dentro ou fora do corpo do hospedeiro. Existem espécies que são dióicos (machos e fêmeas), a exemplo do verme Ascaris lumbricoides; monoicos (hermafroditas), como as tênias; e outros podem, ainda, reproduzir-se por partenogênese (como é o caso do Strongyloides stercoralis) (REY, 2008). Figura 2. Características dos diferentes grupos de helmintos: (a) os cestoides (achatados dorso-ventralmente, corpo segmentado e estrutura de fixação bem desenvolvida); (b) os trematódeos (achatados dorso-ventralmente, corpo não segmentado); e (c) os nematoides (vermes cilíndricos, não segmentados). Fonte: DESIGNUA/Shutterstock.com 7Introdução à parasitologia Os artrópodes As doenças transmitidas por artrópodes (Figura 3) são responsáveis por epidemias que constituem importantes problemas de saúde pública, dentre elas, doenças como as leishmaniases, malária, febre maculosa, entre outras. Existe uma relação estreita entre a dinâmica da transmissão de doenças e as características biológicas e ecológicas desses vetores. A longevidade, a ca- pacidade reprodutiva, as preferências alimentares e os hábitos desses vetores determinam a importância relativa do artrópode como transmissor de uma doença e as peculiaridades da transmissão (REY, 2008). “Variáveis ambientais como disponibilidade de água, chuvas, temperatura, umidade e altitude podem infl uenciar no ciclo dos agentes infecciosos nos artrópodes ou no desenvolvi- mento dos próprios vetores”. (MARTINS; PEDRO; CASTIÑEIRAS, 2008, documento on-line). Figura 3. Diferentes grupos de artrópodes ectoparasitos do homem ou vetores de doenças parasitárias: (a) carrapato; (b) mosquito vetor de doenças parasitárias; e (c) ácaro parasito do homem (Sarcoptes sp.). Fonte: (a) NECHAEVKON/Shutterstock.com; (b) JPS/Shutterstock.com; (c) PANAIOTIDI/Shutterstock.com. Os artrópodes hematófagos compreendem os insetos (com seis patas na fase adulta) e os ácaros (oito patas na fase adulta) que se alimentam de sangue. Eles podem ser vetores de infecções, por serem capazes de transmitir agentes infecciosos entre seres humanos ou entre animais e seres humanos. Estes ar- trópodes não servem apenas como meio de transporte mecânico, uma vez que neles ocorre, obrigatoriamente, parte do ciclo de desenvolvimento dos agentes infecciosos (MARTINS; PEDRO; CASTIÑEIRAS, 2008, documento on-line). Introdução à parasitologia8 Insetos hematófagos, durante a alimentação, transmitem os agentes infec- ciosos por inoculação a partir da pele, diretamente no sangue, como ocorre com os mosquitos (por exemplo, em malária e filarioses) (Figura 4) e com os flebotomíneos (no caso de leishmaniose cutânea e visceral). Os triatomíneos (vetores da doença de Chagas), por sua vez, transmitem o parasito quando defecam e a inoculação ocorre por contaminação de mucosas e de área de pele lesada (porta de entrada) por meio do ato de coçar (a saliva do barbeiro possui substâncias que provocam uma reação de hipersensibilidade) (MARTINS; PEDRO; CASTIÑEIRAS, 2008). Figura 4. Detalhe da hematofagia de um mosquito. Observe as características do artrópode, como as patas articuladas, antenas, olho, corpo dividido em cabeça, tórax e abdome (de cor vermelha em decorrência da ingestão recente de sangue). Fonte: HENRIK LARSSON/Shutterstock.com. Os ácaros são ectoparasitos do homem e levam a quadros clínicos muito particulares no homem, uma vez que podem perfurar túneis ou galerias na epiderme (sarna) ou mesmo se instalar sobre ela, sugando o sangue (como, por exemplo, carrapatos), como mostra a Figura 5. Essa perfuração, junto a produtos do metabolismo do parasito e à ação de sua saliva, gera um prurido intenso, e o ato de coçar pode abrir portas de entrada para infecções micro- bianas secundárias (HADDAD JUNIOR et al., 2018). 9Introdução à parasitologia Figura 5. Carrapato instalado sobre a pele durante o ato hematofá- gico. Observe que as peças bucais parecem “mergulhadas” no tecido. A saliva do carrapato associada com os danos teciduais provoca uma reação inflamatória, caracterizada pela hiperemia local. Fonte: IANREDDING/Shutterstock.com. Formas evolutivas dos parasitos O estudo dos parasitos e das doenças parasitárias é extremamente com- plexo porque depende de condições ecológicas/bioquímicas/fi siológicas do(s) hospedeiro(s), dos vetores e dos próprios parasitos que, muitas vezes, apresentam fases de vida livre e/ou formas de resistência (ovos e cistos) no ambiente. Os parasitos desenvolveram mecanismos adaptativos que foram selecionados por sua efi cácia, e um exemplo disso é o elevado número de ovos liberados pelas fêmeas dos helmintos (REY, 2008). Assim, vários fenômenos adaptativos entre os parasitos e o meio físico ocorrem a partirdo organismo do hospedeiro e de suas reações fi siológicas — que modifi ca a função das atividades e da morfologia do parasito, como será apresentado, de forma geral, a seguir. Protozoários Os protozoários apresentam grandes variações morfológicas ao longo dos seus ciclos de vida e dependem do meio em que os parasitos estejam adaptados. Podem ser esféricos, ovais, alongados e podem possuir cílios ou fl agelos. Dependendo da atividade metabólica/fi siológica, os protozoários possuem fases bem defi nidas (REY, 2008): trofozoíto (Figura 6a): forma ativa, na qual o protozoário se alimenta e se reproduz (por diferentes processos); Introdução à parasitologia10 cisto (Figura 6b): forma vegetativa, de resistência; parasito secreta uma parede resistente que o protege quando em meio impróprio ou em fase de latência; gameta: forma sexuada que aparece entre os parasitos do filo Apicom- plexa (por exemplo, Plasmodium sp., agente etiológico da malária); o ga- meta masculino é o microgameta; o gameta feminino é o macrogameta; oocisto: forma resultante da reprodução sexuada; dão origem aos esporozoítos. Figura 6. (a) Morfologia do trofozoíto de Giardia intestinalis — o trofozoíto dos protozoários é a forma ativa do parasite. No caso da G. intestinalis, é encontrado no intestino delgado do homem. (b) Cisto de Entamoeba sp., que representa a forma de resistência do parasito encontrado contaminando o ambiente e responsável pela infecção do homem. Fonte: (a) D. KUCHARSKI K. KUCHARSKA/Shutterstock.com; (b) SCHIRA/Shutterstock.com. Helmintos Os helmintos são um grupo muito diverso morfologicamente e as variações morfológicas dependem do habitat, das condições ambientais e, principalmente, das condições fi siológicas do hospedeiro. Durante o ciclo biológico do parasito, Rey (2008) e Ferreira (2012) destacam as seguintes formas evolutivas dos helmintos. Ovos (Figura 7): forma de resistência do parasito com células germina- tivas ou larvas no seu interior; possuem casca mais ou menos espessa, dependendo da espécie do parasito; são encontrados contaminando o ambiente e apresentam forma infectante em algumas espécies. Larvas (Figura 7): possuem morfologia muito variável, contêm reservas nutritivas (glicogênio e lipídios) acumuladas durante a oogênese e algu- 11Introdução à parasitologia mas espécies têm a capacidade de alimentar-se de micro-organismos, outras não. Podem ser encontradas no ambiente ou no hospedeiro e apresentar cílios (larvas natantes). Apresentam forma infectante em algumas espécies. Nos nematoides, as larvas possuem cinco estádios de desenvolvimento e mantêm o revestimento (cutícula) do estádio anterior. Adultos: morfologicamente muito distintos — os trematódeos são achatados dorso-ventralmente e têm forma de “folha”; os cestódeos também são achatados, mas possuem o corpo segmentado e em forma de “fita”; os nematódeos são vermes cilíndricos. Podem ser dioicos (sexos separados) ou monoicos (hermafroditas). Figura 7. Formas evolutivas de helmintos (várias espécies). Observe que os ovos possuem casca (mais ou menos espessa, dependendo da espécie), que garante resistência às condições adversas do ambiente. Esses ovos possuem uma massa de células germinativas ou larvas já formadas no seu interior. No centro da imagem, observa-se uma larva. Fonte: JARUN ONTAKRAI/Shutterstock.com. Artrópodes Os artrópodes são assim denominados porque possuem patas articuladas. Apresentam exoesqueleto, que garante proteção, sustentação e impede a perda de água. Esse exoesqueleto impede o crescimento contínuo dos artrópodes, ocorrendo, portanto, apenas durante os períodos de muda (ecdises). O corpo é dividido em cabeça, tórax e abdome, mas, em alguns grupos, a cabeça Introdução à parasitologia12 encontra-se unida ao tórax, formando a estrutura cefalotórax. Além diso, podem ser hematófagos. Os aracnídeos (carrapatos) possuem corpo dividido em cefalotórax e ab- dome, têm quatro pares de patas e não possuem antenas. Contam com um par de pedipalpos (palpos), apêndices sensoriais e também um par de quelíceras, apêndices em forma de pinça. Seu desenvolvimento é direto (filhotes são iguais aos adultos e são chamados de ninfas). Acesse o link a seguir para assistir a um vídeo sobre o ciclo de vida e as formas evolutivas dos carrapatos. https://qrgo.page.link/id9cZ Os insetos são uma classe que possuem representantes dotados de asas. Na cabeça, há um par de antenas e uma par de olhos, além do aparelho bucal. O tipo de aparelho bucal relaciona-se ao tipo de alimentação do inseto. Possuem desenvolvimento indireto, passando pelos estágios de ovo, larva e pupa — da qual emerge o inseto adulto (Figura 8). Figura 8. Diferentes fases evolutivas de mosquitos: (a) larva, (b) pupa e (c) adulto. Fonte: Adaptada de JPS/Shutterstock.com. 13Introdução à parasitologia Especificidade parasitária: os hospedeiros Durante o ciclo biológico de um parasito, existem etapas (ou fases) de de- senvolvimento — umas mais complexas do que outras. Por isso, ao longo do processo evolutivo, os parasitos desenvolveram recursos que garantiriam seu sucesso reprodutivo e de dispersão. Para isso, a passagem desses parasitos por um organismo (ou tecido) — habitat do parasito — é fundamental (NEVES, 2016; REY, 2008). Assim, aquele organismo que é parasitado ou que alberga o parasito é denominado hospedeiro. Aquele que alberga o parasito na sua forma adulta ou reprodutiva final é denominado hospedeiro definitivo (NEVES, 2016; REY, 2008). No entanto, enquanto em alguns ciclos a passagem de um hospedeiro para outro é direta, em outros, o parasito desenvolve suas formas jovens ou assexuadas em hospedeiros intermediários até alcançar o hospedeiro defini- tivo. Esses hospedeiros intermediários são usualmente um molusco ou um artrópode (NEVES, 2016; REY, 2008). Hospedeiro definitivo é aquele que alberga o parasito na sua fase adulta e/ou onde ocorre a fase de reprodução sexuada do parasito. Hospedeiro intermediário é aquele no qual se desenvolvem as formas evolutivas jovens e/ou assexuadas dos parasitos — normalmente, é um molusco ou um artrópode. Ainda neste tema, Neves (2016) destaca ainda outros conceitos importantes em parasitologia, que você confere a seguir. Hospedeiro natural: aquele no qual o parasito se desenvolve sem causar-lhe danos, não sofrendo com o parasitismo, o que garante a perpetuação da espécie; funciona como fonte de infecção para outros animais ou para o homem. Hospedeiro anormal: aqueles que são afetados pelo parasitismo, adoecendo ou morrendo em consequência dele; acredita-se que sejam hospedeiros que ainda não desenvolveram mecanismos de adaptação suficientes para garantir a perpetuação da espécie (do parasito). Introdução à parasitologia14 Hospedeiro acidental (ou ocasional): aquele em que raramente ocorre a presença de eterminado parasito, não podendo, portanto, ser considerado como um elo obrigatório do seu ciclo vital. Hospedeiro paratênico: serve de refúgio temporário e/ou de veículo para alcançar o hospedeiro definitivo, mas não é necessário para o desenvolvimento do ciclo de vida dos parasitos. Reservatório: hospedeiro que, sem ser afetado pela infecção, dispo- nibiliza o parasito para transmissão a outro. Nesse contexto, surgem dois conceitos relacionados à existência/possibilidade de diferentes hospedeiros: parasitos estenoxenos, que admitem grande variedade de hospedeiros (como Ascaris lumbricoides — homem); e parasitos eurixenos, aqueles que se mostram estritos quanto ao(s) hospedeiro(s) (por exemplo, To- xoplasma gondii — bovinos, equinos, canídeos, aves, homem, entre outros). A presença ou a ausência de um hospedeiro intermediário no desenvolvimento de um parasito determina o tipo de ciclo biológico: monoxênico (direto) ou heteroxênico (indireto). No primeiro, o parasito desenvolve-se em apenas um hospedeiro — o hospedeiro definitivo; no segundo, há a participaçãode um hospedeiro intermediário, no qual se desenvolvem as formas infectantes do parasito. A infecção do homem por Ascaris lumbricoides ocorre através da ingestão de água ou alimento (frutas e verduras) contaminados com os ovos do parasito. No intestino delgado, cada ovo se rompe e libera uma larva, que penetra na parede intestinal, alcançando fígado, coração e pulmões, onde se desenvolve. Após o desenvolvimento, as larvas atravessam os alvéolos, passam para brônquios, traqueia, laringe, faringe e são deglutidas. Quando atingem o intestino delgado, o parasito completa seu desenvolvimento, passando a vermes adultos. No ciclo biológico do A. lumbricoides, o homem é o hospedeiro definitivo (não há hospedeiro intermediário). A infecção é espécie-específica, ou seja, o A. lumbricoides não é capaz de infectar nenhum outro animal, apenas o homem. 15Introdução à parasitologia FERREIRA, M. U. Parasitologia contemporânea. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2012. HADDAD JUNIOR, V. et al. Manifestações cutâneas de picadas de carrapatos em seres humanos. Anais Brasileiros de Dermatologia, v. 93, n. 2, p. 254–258, 2018. MARTINS, F. S. V.; PEDRO, L. G. F.; CASTIÑEIRAS, T. M. P. P. Doenças transmitidas por insetos e carrapatos. Cives Centro de Informação em Saúde para Viajantes, 2008. Dispo- nível em: http://www.cives.ufrj.br/informacao/viagem/protecao/dtic-iv.html. Acesso em: 15 set. 2019. NEVES, D. P. Parasitologia humana. 13. ed. São Paulo: Atheneu, 2016. REY, L. Parasitologia. 4. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2008. Leitura recomendada REY, L. Bases da parasitologia médica. 3. ed. Rio de Janeiro Guanabara: Koogan, 2011. Introdução à parasitologia16 DICA DO PROFESSOR O vídeo a seguir nos ajudará a compreender melhor o conteúdo desta Unidade de Aprendizagem, ou seja, os grupos e classes de parasitas, suas características, a identificação das formas parasitárias, os tipos de hospedeiros e de diagnósticos. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! EXERCÍCIOS 1) Os protozoários são unicelulares e encontram-se subdivididos em quatro grupos. Quais são eles? A) Sarcodina, Metazoa, Sporozoa e Cestoda. B) Protozoa, Metazoa, Platyhelminthes e Nemathelminthes. C) Sarcodina, Sporozoa, Mastigophora e Ciliata. D) Trematoda, Cestoda, Ciliata e Sarcodina. E) Protozoa, Metazoa, Sarcodina e Ciliata. 2) Com relação às formas parasitárias, marque a reposta INCORRETA. A) Trofozoíto é uma forma móvel que se alimenta e se reproduz envolto por uma membrana celular flexível. B) Cisto é uma forma não móvel que sobrevive bem no meio ambiente. C) Promastigotas ou tripomastigotas não apresentam flagelos e amastigostas apresentam flagelos. D) O ovo contém um embrião que gera a forma larval. E) A forma larval se desenvolve na forma adulta que produz ovos. 3) Contagens elevadas de eosinófilos ocorrem em infecções causadas por: A) Ascaris, Strongyloides e Necator. B) Toxocara, Trichina e Trypanosoma. C) Schistosoma, Necator e Leishmania. D) Ancylostoma, Toxocara e Trypanosoma. E) Ascaris, Leishmania e Trichina. 4) Com relação ao local de infecção do parasita, é correto afirmar: A) Taenia solium, Trichomonas vaginalis e Cryptosporidium parvum causam infecções intestinais. B) Wuchereria bancrofti e Schistosoma mansoni causam infecções teciduais. C) Taenia saginata e Schistosoma mansoni causam infecções intestinais. D) Entamoeba histolytica e Toxoplasma gondii causam infecções no sangue e nos tecidos. E) Plasmodium falciparum, Trypanosoma cruzi e Enterobius vermiculares causam infecções no sangue e nos tecidos. 5) Com relação às alternativas abaixo, marque a resposta correta. A) Protozoários são seres multicelulares. B) O cisto é uma forma móvel, assim como o trofozoíto. C) Leishmania e Trypanosoma possuem apenas formas com flagelos, que podem ser promastigotas ou tripomastigotas. D) Um hospedeiro definitivo apresenta ciclo sexuado ou parasito adulto. Um hospedeiro intermediário apresenta ciclo assexuado ou larva. E) A diminuição na contagem de eosinófilos está associada a várias infecções helmínticas. NA PRÁTICA As parasitoses são responsáveis por inúmeras doenças nos seres humanos, podendo ocorrer por infecções intestinais e urogenitais, além de infecções no sangue e nos tecidos. Veremos um exemplo de infecção que ocorre no tecido subcutâneo Crianças com idade aproximada de 10 anos foram ao posto de saúde do município de Taciba, São Paulo, apresentando dermatites com lesões serpiginosas, com áreas de eritema e prurido intenso, principalmente na região do membro inferior. O diagnóstico foi confirmado pelos médicos do município como larva migrans cutânea (Santarém et al., 2004). A larva migrans cutânea é causada por larvas de Ancylostoma spp. (nematódeos). Ocorre por contato direto da pele do ser humano com larvas presentes no solo ou em fômites contaminados com fezes de cães ou gatos. Após a penetração na epiderme, as larvas migram no tecido subcutâneo, ocasionando reações inflamatórias caracterizadas por prurido intenso e erupções de aspecto serpiginoso, observadas com mais frequência nos membros inferiores. O solo de praças e parques públicos constitui a via de transmissão para zoonoses parasitárias, uma vez que a eliminação de fezes de cães ou gatos domésticos, os quais têm acesso aos locais de recreação pública, pode resultar na contaminação por helmintos. Seu potencial zoonótico é maior para crianças, que são mais expostas ao brincarem em locais que podem estar contaminados, como praias e caixas de areia de parques de recreação. O diagnóstico dessa doença é clínico e o tratamento medicamentoso é eficiente para regressão das lesões e cura. SAIBA MAIS Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do professor: Larva migrans cutânea: ocorrência de casos humanos e identificação de larvas de Ancylostoma spp em parque público do município de Taciba, São Paulo. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! Microbiologia Médica e Imunologia [Série Lange] Microbiologia Médica de Jawetz, Melnick & Adelberg [Série Lange]
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