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Anne Caroline Malvestio Gestão de meio ambiente Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Jeane Passos de Souza – CRB 8a/6189) Malvestio, Anne Caroline Gestão de meio ambiente / Anne Caroline Malvestio. – São Paulo: Editora Senac São Paulo, 2018. (Série Universitária) Bibliografia. e-ISBN 978-85-396-2553-6 (ePub/2018) e-ISBN 978-85-396-2554-3 (PDF/2018) 1. Gestão ambiental 2. Meio ambiente 3. Avaliação de Impacto Ambiental 4. Licenciamento ambiental 5.Legislação ambiental I. Título. II. Série. 18-850s CDD-333.714 341.347 363.7 658.408 BISAC BUS099000 NAT011000 Índice para catálogo sistemático 1. Gestão ambiental 658.408 2. Meio ambiente 363.7 3. Direito ambiental : Legislação ambiental 341.347 4. Impacto ambiental : Avaliação : Economia 333.714 5. Meio ambiente : Impactos ambientais 363.7 M at er ia l p ar a us o ex cl us ivo d e al un o m at ric ul ad o em c ur so d e Ed uc aç ão a D is tâ nc ia d a Re de S en ac E AD , d a di sc ip lin a co rre sp on de nt e. P ro ib id a a re pr od uç ão e o c om pa rti lh am en to d ig ita l, s ob a s pe na s da L ei . © E di to ra S en ac S ão P au lo . GESTÃO DE MEIO AMBIENTE Anne Caroline Malvestio M aterial para uso exclusivo de aluno m atriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD, da disciplina correspondente. Proibida a reprodução e o com partilham ento digital, sob as penas da Lei. © Editora Senac São Paulo. Administração Regional do Senac no Estado de São Paulo Presidente do Conselho Regional Abram Szajman Diretor do Departamento Regional Luiz Francisco de A. Salgado Superintendente Universitário e de Desenvolvimento Luiz Carlos Dourado Editora Senac São Paulo Conselho Editorial Luiz Francisco de A. Salgado Luiz Carlos Dourado Darcio Sayad Maia Lucila Mara Sbrana Sciotti Jeane Passos de Souza Gerente/Publisher Jeane Passos de Souza (jpassos@sp.senac.br) Coordenação Editorial/Prospecção Luís Américo Tousi Botelho (luis.tbotelho@sp.senac.br) Márcia Cavalheiro Rodrigues de Almeida (mcavalhe@sp.senac.br) Administrativo João Almeida Santos (joao.santos@sp.senac.br) Comercial Marcos Telmo da Costa (mtcosta@sp.senac.br) Acompanhamento Pedagógico Ana Claudia Neif Sanches Yasuraoka Designer Educacional Alexsandra Cristiane Santos da Silva Revisão Técnica Deborah Santos Prado Coordenação de Preparação e Revisão de Texto Luiza Elena Luchini Preparação e Revisão de Texto AZ Design Arte e Cultura Projeto Gráfico Alexandre Lemes da Silva Emília Corrêa Abreu Capa Antonio Carlos De Angelis Editoração Eletrônica Cristiane Marinho de Souza Ilustrações Cristiane Marinho de Souza Imagens iStock Photos E-pub Ricardo Diana Proibida a reprodução sem autorização expressa. 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Sumário Capítulo 1 A gestão ambiental e as questões organizacionais, 7 1 Conceitos – recursos ambientais e economia do meio ambiente, 9 2 Valoração ambiental e análise de custo-benefício, 17 3 Globalização e gestão ambiental, 23 Considerações finais, 26 Referências, 27 Capítulo 2 Riscos ambientais e gestão empresarial, 31 1 Evolução tecnológica e riscos para o meio ambiente, 32 2 Danos ambientais e responsabilidades, 36 3 Análise de riscos ambientais, 38 Considerações finais, 40 Referências, 41 Capítulo 3 Legislação ambiental, 43 1 Políticas públicas e meio ambiente, 44 2 Instrumentos de política ambiental, 46 3 Principais políticas ambientais no Brasil, 51 Considerações finais, 54 Referências, 55 Capítulo 4 Modelos e instrumentos de gestão ambiental empresarial, 59 1 Abordagens e modelos de gestão ambiental empresarial, 60 2 Instrumentos de gestão ambiental empresarial, 68 3 Política ambiental empresarial, 70 Considerações finais, 74 Referências, 75 Capítulo 5 Sistemas de gestão ambiental, 79 1 Sistemas de gestão ambiental, 80 2 Estrutura da ISO – International Organization for Standardization, 82 3 Normas da série ISO 14000, 83 4 Normas da série ISO 14000 sobre sistemas de gestão ambiental, 85 Considerações finais, 92 Referências, 92 Anexo – Sistemas de gestão ambiental, 94 Capítulo 6 Certificação do sistema de gestão ambiental, 97 1 Requisitos para implementação do sistema de gestão ambiental, 98 2 Auditoria ambiental, 100 3 Processo de certificação ambiental, 102 Considerações finais, 106 Referências, 107 M aterial para uso exclusivo de aluno m atriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD, da disciplina correspondente. Proibida a reprodução e o com partilham ento digital, sob as penas da Lei. © Editora Senac São Paulo. M at er ia l p ar a us o ex cl us ivo d e al un o m at ric ul ad o em c ur so d e Ed uc aç ão a D is tâ nc ia d a Re de S en ac E AD , d a di sc ip lin a co rre sp on de nt e. P ro ib id a a re pr od uç ão e o c om pa rti lh am en to d ig ita l, s ob a s pe na s da L ei . © E di to ra S en ac S ão P au lo . Capítulo 7 Indicadores e desempenho socioambiental, 109 1 Responsabilidade social empresarial (RSE), 110 2 Indicadores Ethos, 115 3 Avaliação de desempenho ambiental, 117 4 Diretrizes para elaboração de Relatórios de Sustentabilidade da Global Reporting Initiative, 120 Considerações finais, 123 Referências, 123 Capítulo 8 Avaliação de impacto ambiental, 125 1 Princípios da prevenção e da precaução, 126 2 Avaliação de impacto ambiental, 127 3 Avaliação de impacto ambiental e licenciamento ambiental no Brasil, 131 4 Integração entre AIA e gestão ambiental empresarial, 136 Considerações finais, 137 Referências, 139 Sobre a autora, 141 7 M aterial para uso exclusivo de aluno m atriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD, da disciplina correspondente. Proibida a reprodução e o com partilham ento digital, sob as penas da Lei. © Editora Senac São Paulo. Capítulo 1 A gestão ambiental e as questões organizacionais Quando se fala de meio ambiente, é comum imaginar uma floresta com rica biodiversidade e inalterada pelo ser humano. É comum, tam- bém, a ideia de que o isolamento do ecossistema das interferências humanas seja um fator necessário para garantir a integridade biológi- ca, concepções relatadas por Diegues (2001) como o mito moderno da natureza intocada. O conceito de meio ambiente, porém, vai além do ambiente natural, remetendo-se a tudo aquilo que cerca os seres vivos. Trata-se de todos os elementos físicos e biológicos que nos cercam, sejam eles naturais ou construídos, alterados ou mesmo destruídos 8 Gestão de meio ambiente Ma te ria l p ar a us o ex cl us ivo d e al un o m at ric ul ad o em c ur so d e Ed uc aç ão a D is tâ nc ia d a Re de S en ac E AD , d a di sc ip lin a co rre sp on de nt e. P ro ib id a a re pr od uç ão e o c om pa rti lh am en to d ig ita l, s ob a s pe na s da L ei . © E di to ra S en ac S ão P au lo . pela ação humana (por exemplo, área urbanizada e lavoura) (BARBIERI, 2011; VASCONCELLOS, 2008). O meio ambiente, portanto, é essencial à própriaexistência do ser humano e para o desenvolvimento de suas atividades, sendo fonte de recursos e de serviços ecossistêmicos. A relação entre o ser humano e o meio ambiente varia ao longo do tempo e nas diferentes regiões, sendo que o significado e a valoração do meio ambiente estão relacionados à visão de mundo predominan- te nas diferentes civilizações, influenciada por diversos fatores difusos na sociedade, como a religião, o senso comum, a filosofia e a ciência (CHRISTOFOLETTI, 1999). No âmbito global, a importância do tema meio ambiente e, em especial, a importância de sua consideração no âmbito da gestão das organizações ganharam projeção a partir da década de 1960, quando se passou a perceber os efeitos negativos da poluição ambiental e a possibilidade de esgotamento de recursos ambientais (crise do petróleo na década de 1970). Foi nesse contexto do final do século XX que começaram a surgir novas ideologias ambien- tais no âmbito da economia, que serão exploradas neste capítulo. Como consequência da tomada de consciência da importância do meio ambiente, vem sendo construído um vasto arcabouço conceitu- al e instrumental que subsidia a inserção da temática nas diferentes atividades humanas, incluindo as formas de atribuir valor aos bens e serviços ambientais e a gestão ambiental, que busca reduzir os da- nos de modelos de desenvolvimento econômico alheios às questões ambientais. Este capítulo tem por objetivo apresentar conceitos básicos de meio ambiente e um panorama quanto à inserção do tema na pauta eco nômica global. Para isso, apresentam-se o conceito de recursos ambientais, as correntes da economia do meio ambiente, métodos de valoração ambiental e a análise de custo-benefício, seguido de um pa- norama do surgimento e da consolidação da gestão ambiental no âm- bito global, destacando sua importância no âmbito das organizações. 9A gestão ambiental e as questões organizacionais M aterial para uso exclusivo de aluno m atriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD, da disciplina correspondente. Proibida a reprodução e o com partilham ento digital, sob as penas da Lei. © Editora Senac São Paulo. 1 Conceitos – recursos ambientais e economia do meio ambiente A fim de conceituar e contextualizar alguns termos relacionados ao meio ambiente e às principais teorias e abordagens que tratam das relações do ser humano com o ecossistema, neste capítulo veremos, primeiro, o conceito de recursos ambientais e sua importância para o desenvolvimento da sociedade. Na sequência, trataremos da economia do meio ambiente, destacando o papel atribuído ao meio ambiente pelas principais correntes econômicas. 1.1 Recursos ambientais O meio ambiente, como entendido aqui, engloba os ambientes na- turais e os modificados pela ação humana (antropizados). Esses am- bientes, porém, se diferenciam em diversos aspectos, especialmente no que se refere à sua capacidade de regeneração: o ambiente natural possui alta capacidade de renovação, o que ocorre por meio de pro- cessos acionados pelas forças da natureza (como luz solar, ventos, água); já o ambiente antropizado tem baixa capacidade de regenera- ção, sendo pouco capaz de produzir os alimentos necessários e de reciclar os resíduos que produz (ODUM; SARMIENTO, 1997), dependen- do continuamente (direta ou indiretamente) de elementos do ambiente natural, por exemplo: ar, água e minérios (ODUM; BARRET, 2008). A sociedade, portanto, tem uma relação de dependência com a na tu - reza sob diversos aspectos, sendo esta fonte de recursos naturais ne- cessários para a produção de bens e serviços, receptora dos resíduos gerados (BARBIERI, 2011), além de meio de vida material e espiritual (MEA, 2003). Recurso natural diz respeito aos “bens ou serviços originais ou pri- mários dos quais todos os outros dependem” (BARBIERI, 2011, [s.p.]) e envolve elementos físicos e biológicos do meio ambiente natural, como: 10 Gestão de meio ambiente Ma te ria l p ar a us o ex cl us ivo d e al un o m at ric ul ad o em c ur so d e Ed uc aç ão a D is tâ nc ia d a Re de S en ac E AD , d a di sc ip lin a co rre sp on de nt e. P ro ib id a a re pr od uç ão e o c om pa rti lh am en to d ig ita l, s ob a s pe na s da L ei . © E di to ra S en ac S ão P au lo . a atmosfera, a água, o solo, o subsolo, a fauna e a flora. O termo recur- sos ambientais também tem sido usado de maneira análoga a recursos naturais. Este é o caso da legislação brasileira (DULLEY, 2004), que tem adotado o termo recursos ambientais, definido pela Política Nacional de Meio Ambiente (Lei 6.938, de 1981) como “a atmosfera, as águas inte- riores, superficiais e subterrâneas, os estuários, o mar territorial, o solo, o subsolo, os elementos da biosfera, a fauna e a flora” (BRASIL, 1981, [s.p.]). Seguindo a terminologia adotada no contexto brasileiro, deste ponto em diante, usaremos apenas o termo recursos ambientais. Geralmente, são classificados como recursos renováveis – quando se trata de recursos que podem ser obtidos indefinidamente de uma mesma fonte (por exemplo, a energia solar e plantas) – ou como recursos não renováveis – quando se trata de recursos finitos considerando a escala de tempo humano (como o petróleo e o gás natural). A finitude dos recursos, porém, deve ser entendida com ressalvas, pois está sempre relacionada ao tempo de renovação daquele bem ambiental e ao modo como ele é usado. Por exemplo: a água pode ser considerada como um recurso reno- vável, visto que, ao longo do ciclo hidrológico, a quantidade total de água no planeta se mantém a mesma e que os ambientes aquáticos têm certa capacidade de recuperar a qualidade da água (processo de autodepura- ção), estando o recurso disponível para uso humano. No entanto, se o uso ultrapassar a capacidade do ambiente de promover a recuperação da qua- lidade da água, o recurso deixará de estar disponível para uso, dentro da escala de tempo humano. PARA PENSAR Você já pensou sobre qual a diferença entre água e recursos hídricos? Ou ainda entre mineral e recurso mineral? Quando falamos da água ou do mineral, estamos tratando de elementos que existem no ambiente natural, independentemente de terem qualquer tipo de uso ou interesse para as atividades humanas. Já os termos recurso hídrico ou recurso mi- neral, ou ainda recurso ambiental, expressam a existência de interesse 11A gestão ambiental e as questões organizacionais M aterial para uso exclusivo de aluno m atriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD, da disciplina correspondente. Proibida a reprodução e o com partilham ento digital, sob as penas da Lei. © Editora Senac São Paulo. em utilizar aquele elemento do ambiente natural para as atividades hu- manas. O conceito de recursos ambientais, portanto, está alinhado a uma ótica de utilização dos bens ambientais. Outro importante conceito é o de serviços ecossistêmicos, que se refere aos benefícios gerados pelo funcionamento de ecossistemas saudáveis e que, de acordo com a Avaliação Ecossistêmica do Milênio (MEA, 2005), podem ser divididos em quatro categorias, apresentadas na figura 1: Figura 1 – Categorias dos serviços ecossistêmicos Fonte: adaptado de MEA (2005). Assim, o meio ambiente exerce um conjunto de serviços ecossistê- micos que dão base para o desenvolvimento humano, inclusive para o desenvolvimento socioeconômico, havendo uma relação de influência mútua: a qualidade dos sistemas ambientais influencia o sistema socio- econômico, fornecendo os recursos e serviços necessários, e o sistema Serviços de regulação que se referem, por exemplo, aos processos naturais de regulação da qualidade do solo, da qualidade do ar, do clima, da qualidade da água, da polinização. Serviços de suporte que se referem aos serviços necessários para a produção de outros serviços, como a ciclagem de nutrientes, a ciclagem da água, a formaçãodos solos. Serviços culturais que tratam dos benefícios imateriais obtidos dos ecossistemas, como as belezas cênicas, recreação, valores espirituais. Serviços de provisão que englobam a produção de produtos obtidos dos ecossistemas, por exemplo, água, alimentos, combustíveis.1 2 3 4 12 Gestão de meio ambiente Ma te ria l p ar a us o ex cl us ivo d e al un o m at ric ul ad o em c ur so d e Ed uc aç ão a D is tâ nc ia d a Re de S en ac E AD , d a di sc ip lin a co rre sp on de nt e. P ro ib id a a re pr od uç ão e o c om pa rti lh am en to d ig ita l, s ob a s pe na s da L ei . © E di to ra S en ac S ão P au lo . socioeconômico, por sua vez, influencia os sistemas ambientais, impac- tando sua qualidade (positiva ou negativamente), por exemplo, por meio da introdução de produtos processados, lançamento de resíduos ou alteração do uso do solo. Essas relações (apresentadas aqui de modo simplificado) se desdobram em um conjunto de questões que serão dis- cutidas mais detalhadamente ao longo desta obra, por exemplo: como os recursos ambientais, serviços ecossistêmicos e os benefícios do seu uso são distribuídos na sociedade?; quais os limites para a exploração desses serviços?; como são distribuídos os impactos de seu uso? PARA SABER MAIS Apesar de as atividades humanas sempre terem demandado recur- sos ambientais e serviços ecossistêmicos, a intensidade e escala da demanda se modificou ao longo do tempo e entre diferentes culturas. Nesse sentido, um importante marco é a Revolução Industrial (século XVIII), que possibilitou novos processos produtivos e o desenvolvimento de técnicas intensivas no uso de materiais e energia. Por consequência, a demanda por recursos e a geração de resíduos foi ampliada, levando à intensificação de problemas ambientais. Para conhecer exemplos de diferentes civilizações pré-Revolução Indus- trial e suas relações com o ambiente, recomenda-se o livro Armas, germes e aço, de Jared Diamond (1997). Já sobre as profundas modificações trazidas pela industrialização, sugere-se o filme Tempos modernos (de 1936, dirigido por Charles Chaplin). 1.2 Economia do meio ambiente Para entender melhor a relação da sociedade com o meio ambien- te, é importante entender qual a importância dada a ele nas diferentes teorias econômicas. Mas, antes de tratarmos das correntes econômi- cas mais recentes e seus argumentos, vamos explorar sucintamente as raízes da economia do meio ambiente. Nesse sentido, é importante 13A gestão ambiental e as questões organizacionais M aterial para uso exclusivo de aluno m atriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD, da disciplina correspondente. Proibida a reprodução e o com partilham ento digital, sob as penas da Lei. © Editora Senac São Paulo. primeiro mencionar a teoria econômica clássica, que deixou um impor- tante legado para a economia, sendo que algumas de suas ideias são retomadas em debates recentes (PEARCE; TURNER, 1990). Dentre os economistas clássicos, vale mencionar Adam Smith, autor do termo mão invisível do mercado, que expressa a ideia clássica de que o estado econômico de equilíbrio deveria ser alcançado a partir das próprias for- ças de mercado, sem a intervenção do Estado como agente regulador da economia. Outros dois economistas clássicos de grande importância são Thomas Malthus e David Ricardo, pois ambos expressaram a ideia do ambiente como um limitante para a economia. Malthus defendia que a quantidade de terra agricultável disponível era um limitante ambiental para o cresci- mento da população, que seria forçada a diminuir seu nível de consumo para um nível de subsistência, além de cessar seu crescimento. Já David Ricardo não se preocupava com a escassez absoluta dos recursos natu- rais, mas sim com sua qualidade, acreditando que com o tempo a socie- dade seria obrigada a mudar para terras menos férteis, o que forçaria a chegada a um estado estacionário. No entanto, sua teoria não considera que haveria inovações tecnológicas atuando. Por outro lado, o economista clássico John Stuart Mill concebeu o progresso econômico como uma corrida entre avanços tecnológicos e retorno econômico, e acreditava que quando se estivesse aproximando do estado econômico estacionário, a tecnologia já teria permitido atender às necessidades fundamentais da sociedade, que então poderia buscar outros objetivos, como educação e estética (PEARCE; TURNER, 1990; BARBIERI, 2011). Alicerçada pela teoria clássica, no final do século XIX, a teoria eco- nômica neoclássica ganhou espaço. Nela, o valor das commodities1 é 1 Commodity refere-se a “qualquer produto em estado bruto relativo à agropecuária ou à extração mineral ou vegetal, de produção em larga escala mundial, dirigido para o comércio internacional” (MICHAELIS, 2018, [s.p.]). 14 Gestão de meio ambiente Ma te ria l p ar a us o ex cl us ivo d e al un o m at ric ul ad o em c ur so d e Ed uc aç ão a D is tâ nc ia d a Re de S en ac E AD , d a di sc ip lin a co rre sp on de nt e. P ro ib id a a re pr od uç ão e o c om pa rti lh am en to d ig ita l, s ob a s pe na s da L ei . © E di to ra S en ac S ão P au lo . dado pela sua escassez. Ou seja, pelo balanço entre oferta (quantidade de recurso disponível) e demanda (quantidade de recurso requisitado). Por consequência, bens e serviços ambientais para os quais não se tem demanda (não se atribui função econômica) não têm valor (PEARCE; TURNER, 1990). O neoclassicismo também rejeita a intervenção do Estado na economia e a justificativa para isso é que o mercado se autor- regularia por meio da competição. Por exemplo, visto que o custo de um produto reflete os gastos com a produção, haveria um movimento das empresas no sentido de garantir o uso eficiente dos recursos para uma vantagem competitiva garantida. Assim, em um mercado com muitos vendedores e compradores, naturalmente o equilíbrio seria atingido, sem a intervenção do Estado. Nas décadas de 1960 e 1970, a poluição já havia intensificado, dando força ao surgimento de novas ideologias ambientais e à consolidação de diferentes visões quanto à relação entre meio ambiente e economia. A figura 2 apresenta as principais correntes ideológicas e algumas de suas características. Figura 2 – Ideologias ambientais e suas principais características Fonte: Pearce e Turner (1990) e Oliveira, Montaño e Souza (2009). Tecnocentrismo Cornucopiana extrema Acomodativa Comunalista Ecologia profunda Posição conservacionista Posição preservacionistaPosição utilitarista Sustentabilidade fraca Sustentabilidade forte Ecocentrismo Máximo crescimento econômico, com limites ambientais sendo superados a partir da regulação do mercado e do desenvolvimento tecnológico. Crescimento sustentável desde que se sigam regras de manejo dos recursos ambientais. Limites ambientais impõem restrições ao crescimento econômico. Aceitação das regras da bioética e mínima utilização dos recursos ambientais. Valor instrumental do meio ambiente Valor intrínseco do meio ambiente Posição preservacionista extremada 15A gestão ambiental e as questões organizacionais M aterial para uso exclusivo de aluno m atriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD, da disciplina correspondente. Proibida a reprodução e o com partilham ento digital, sob as penas da Lei. © Editora Senac São Paulo. Por um lado se situa o tecnocentrismo, que defende o crescimento econômico indefinidamente contínuo não só como possível, mas tam- bém como desejável. Entende que, para isso, bastaria um sistema de preços (capaz de acomodar o aumento das atividades econômicas e de garantir a manutenção de um nível aceitável de recursos ambientais) associado ao desenvolvimento tecnológico. Assim, a diminuição ou a exaustão dos recursos ambientais seria superada a partir do usode novas tecnologias e pela substituição dos recursos ambientais. Do outro lado, o ecocentrismo é a corrente ideológica que considera a importância da conservação do capital natural (inclusive quando não há interesse econômico), opondo-se à visão antropocêntrica e utilita- rista do meio ambiente. Além disso, observa as restrições (limites) im- postas pelo meio ambiente ao crescimento econômico. Entre as visões mais extremadas (cornucopiana e ecologia profunda), há também as correntes que apontam formas de acomodar as implicações do cres- cimento econômico ao meio ambiente, no entanto, sem romper com o modelo econômico baseado no crescimento. Com relação às correntes ecocêntricas, o debate foi especialmente impulsionado pela crise do petróleo (ainda na década de 1970), susci- tando uma discussão sobre a finitude dos recursos ambientais. Neste contexto, vale mencionar os autores neomalthusianos que, à semelhan- ça de Malthus, continuam pessimistas com relação ao crescimento da humanidade. Essa visão foi expressa, por exemplo, nos textos: A tragé- dia dos comuns, de Garrett Hardin (1968); Bomba populacional, de Paul e Anne Ehrlich (1968) e nos textos do Clube de Roma, em especial o documento Limites do crescimento (1972), que argumentavam que as políticas de crescimento econômico eram incompatíveis com as políti- cas de proteção ambiental, levando, posteriormente, à ideia de estado econômico estacionário (crescimento zero) e aos princípios da ecologia profunda (BARBIERI, 2011). 16 Gestão de meio ambiente Ma te ria l p ar a us o ex cl us ivo d e al un o m at ric ul ad o em c ur so d e Ed uc aç ão a D is tâ nc ia d a Re de S en ac E AD , d a di sc ip lin a co rre sp on de nt e. P ro ib id a a re pr od uç ão e o c om pa rti lh am en to d ig ita l, s ob a s pe na s da L ei . © E di to ra S en ac S ão P au lo . Para este debate, também são de grande importância os trabalhos de Nicholas Georgescu-Roegen, que, ao discutir a economia a partir das leis da física, principalmente da Lei da Entropia, instiga uma mudança de paradigma. As obras apontam que, para transformar recursos am- bientais em produtos que a sociedade valoriza, o sistema econômico também produz, necessariamente, algum tipo de resíduo, pois não é fisicamente possível atingir 100% de eficiência no processo produtivo. Isso implica que o sistema econômico não é um ciclo fechado e isola- do da natureza, como se acreditava, mas é sempre baseado no uso de recursos de qualidade, provenientes de uma fonte natural, e no despejo de volta para a natureza de resíduos sem qualidade para a economia. Ou seja, há sempre a transformação de energia útil em energia inútil (CECHIN; VEIGA, 2010; GEORGESCU-ROEGEN, 2012). O autor também argumenta contra a visão tecnocentrista, ressaltando que, do ponto de vista da economia dos recursos terrestres, a maioria das inovações tec- nológicas implica o esbanjamento de energia útil, visto que, de modo geral, a produção de produtos maiores e melhores resulta no consumo de recursos e na produção e despejo de resíduos maiores e melhores (GEORGESCU-ROEGEN, 2012). Em meio a tantos debates e consolidação da importância da temá- tica ambiental para a economia, o crescimento econômico irresponsá- vel tornou-se impopular ao mesmo tempo que ainda havia incertezas com relação aos efeitos econômicos dessa nova consciência am- biental. Foi nesse contexto que, em 1987, o documento “Nosso futuro comum”, elaborado pela Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento (também conhecido como Relatório Brundland), apresentou o termo desenvolvimento sustentável, definido como: “o desenvolvimento que encontra as necessidades atuais sem compro- meter a habilidade das futuras gerações de atender suas próprias necessidades” (COMISSÃO MUNDIAL SOBRE O MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO, 1988, p. 49). 17A gestão ambiental e as questões organizacionais M aterial para uso exclusivo de aluno m atriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD, da disciplina correspondente. Proibida a reprodução e o com partilham ento digital, sob as penas da Lei. © Editora Senac São Paulo. A partir desse documento, o desenvolvimento sustentável e a sus- tentabilidade têm sido discutidos nos mais diversos âmbitos (socie- dade, governos, empresas, academia), mas não há um conceito único universalmente aceito. Neste sentido, Veiga (2010) aponta duas corren- tes sobre a sustentabilidade no âmbito da economia: sustentabilidade fraca, que admite que os três tipos de capital – econômico, natural e social – são plenamente intercambiáveis e intersubstituíveis, sendo que a soma dos três é que deve ser observada; e sustentabilidade forte, que destaca que os diferentes tipos de capital não são intercambiáveis, sen- do necessário manter constantes os serviços do capital natural. Uma variante da sustentabilidade forte também é apontada e está direta- mente relacionada à teoria de Georgescu-Roegen já mencionada, que entende que só pode haver sustentabilidade com a minimização dos fluxos de energia e matéria, o que requer que os avanços sociais se- jam desvinculados de aumentos quantitativos de produção e consumo. Como indicado na figura 2 (página 14), é possível relacionar esses graus de sustentabilidade às diferentes ideologias ambientais apresentadas. 2 Valoração ambiental e análise de custo-benefício Apesar de ter diferentes significados, o termo valor, no âmbito da economia, diz respeito ao valor monetário, que resulta da interação en- tre um sujeito e um objeto. Não é, portanto, inerente ao objeto, mas va- ria em função dessa relação sujeito-objeto e do contexto em que estão inseridos (PEARCE; TURNER, 1990). Por exemplo, uma espécie florestal pode ser pouco valorizada se ela existir em grande quantidade e se hou- ver outra espécie que possa substituí-la, no caso de sua ausência. Por outro lado, em uma situação de escassez da espécie florestal de inte- resse e ausência de alternativas, ela passará a ser bastante valorizada. No entanto, a consideração dos recursos ambientais e serviços ecos- sistêmicos na definição dos valores de mercado é difícil, especialmente 18 Gestão de meio ambiente Ma te ria l p ar a us o ex cl us ivo d e al un o m at ric ul ad o em c ur so d e Ed uc aç ão a D is tâ nc ia d a Re de S en ac E AD , d a di sc ip lin a co rre sp on de nt e. P ro ib id a a re pr od uç ão e o c om pa rti lh am en to d ig ita l, s ob a s pe na s da L ei . © E di to ra S en ac S ão P au lo . porque o meio ambiente é um bem de titularidade difusa (de uso co- mum do povo e não sendo possível lhe atribuir um dono). Além disso, o cálculo de preços não contempla as externalidades ambientais das atividades econômicas. NA PRÁTICA Externalidades são os impactos (positivos ou negativos) da atividade econômica que não são considerados no sistema de preços. Para entender melhor esse conceito, imagine uma atividade econômica como a reforma de um prédio antigo. A definição do quanto vai custar (preço a ser pago pela reforma) levará em conta, essencialmente, o custo dos materiais a serem usados para a realização da reforma e a mão de obra necessária para executá-la. Não serão computados no pre- ço, porém, o impacto visual positivo que o prédio reformado provocará (externali dade positiva) ou ainda o impacto sonoro negativo que será gerado ao longo da execução da reforma (externalidade negativa). Por- tanto, esses impactos (positivos ou negativos) não são internalizados no sistema de preços, mas são externalizados para a sociedade. A emissão do gás carbônico para a atmosfera decorrente da queima de combustível usado nos automóveis é um exemplo de externalidade, vis- to que o preço do combustível não leva em consideração os impactos desse gás na qualidade do ar (por exemplo, impactos na saúde humana e mudançasclimáticas). Assim, o usuário do combustível se beneficia individualmente com o uso do combustível (locomovendo-se com o automóvel), mas externaliza para a sociedade os impactos da emissão do gás, sem pagar por isso. É nesse contexto de dificuldades em incorporar o valor dos recur sos ambientais e serviços ecossistêmicos no sistema econômico que a valoração ambiental é um instrumento da microeconomia, que busca valorar economicamente um recurso ou serviço ambiental, de- terminando quanto melhor ou pior estará o bem-estar das pessoas em virtude de mudanças na quantidade do recurso ou serviços 19A gestão ambiental e as questões organizacionais M aterial para uso exclusivo de aluno m atriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD, da disciplina correspondente. Proibida a reprodução e o com partilham ento digital, sob as penas da Lei. © Editora Senac São Paulo. ambientais (MOTTA, 2013). Em última instância, a valoração ambien- tal tem por objetivo interromper a degradação ambiental antes que se atinjam os limites da capacidade de suporte do ambiente e uma situação de irreversibilidade. O valor econômico dos recursos ambientais e serviços ecossistê- micos pode ser decomposto em valor de uso e valor de existência (ou valor de não uso). O valor de uso inclui: • valor de uso direto, que é o valor atribuído aos recursos quando sua exploração se dá, por exemplo, por meio da pesca, ativida- des de extrativismo e turismo; • valor de uso indireto, que é o valor atribuído aos recursos am- bientais em função dos benefícios que geram aos indivíduos de maneira indireta, por exemplo, ciclagem de nutrientes, proteção de mananciais e controle do clima; • valor de opção, que se refere ao valor atribuído à preservação de recursos ambientais para que estejam disponíveis para uso dire- to ou indireto no futuro, por exemplo, conservação de áreas para proteção de espécies ameaçadas de extinção e de espécies que, na hipótese de crescente conhecimento (científico, técnico, eco- nômico, social), podem passar a ser usadas. Já o valor de existência é o valor atribuído aos bens ambientais in- dependentemente de suas relações com os seres humanos, ou seja, dissociado de uso efetivo. Pode estar relacionado a cultura, ética, sim- patia ou respeito ao direito de existência de outras espécies ou bens ambientais. Para a determinação do valor ambiental, há um conjunto de méto- dos disponíveis, sendo que a escolha do método a ser adotado depende do objetivo da valoração, das hipóteses assumidas, da disponibilidade 20 Gestão de meio ambiente Ma te ria l p ar a us o ex cl us ivo d e al un o m at ric ul ad o em c ur so d e Ed uc aç ão a D is tâ nc ia d a Re de S en ac E AD , d a di sc ip lin a co rre sp on de nt e. P ro ib id a a re pr od uç ão e o c om pa rti lh am en to d ig ita l, s ob a s pe na s da L ei . © E di to ra S en ac S ão P au lo . de dados e do conhecimento da dinâmica ecológica do objeto a ser valorado (MOTTA, 2013). Nesse sentido, citamos um conjunto de ca- racterísticas dos recursos ambientais que podem ser considerados na valoração, conforme figura 3: Figura 3 – Características dos recursos ambientais considerados na valoração Impossibilidade de substituição do recurso no caso de sua extinção. Associada a espécies e ecossistemas únicos e/ou em extinção. Ignorância quanto ao funcionamento do ecossistema. Possibilidade de eliminar oportunidades de uso futuro. Incapacidade de regeneração do recurso ambiental sob determi- nada intensidade de uso. Os benefícios são perdidos para sempre. IRREVERSIBILIDADE SINGULARIDADEINCERTEZA QUANTOAO USO FUTURO Fonte: adaptado de Motta (2013). Os métodos de valoração ambiental podem ser classificados como métodos diretos e indiretos. Os métodos diretos obtêm o valor do bem ou serviço ambiental a partir das preferências dos consumidores. A preferência pode ser identificada por meio do método de avaliação de contingente, que simula um mercado hipotético de bens e serviços ambientais e questiona os consumidores quanto a sua disposição a pagar para prevenir (ou receber para aceitar) uma alteração na provisão de um bem ou de um serviço ambiental. Dentre os métodos apresen- tados, este é o único adequado para calcular o valor de existência. A preferência dos consumidores também pode ser medida, de maneira indireta, por meio de mercado de bens complementares, que avaliam, por exemplo, a disposição do consumidor a pagar por um produto que tenha determinados atributos ambientais (preços hedônicos) ou os cus- tos associados à visitação de um patrimônio natural (custo de viagem). 21A gestão ambiental e as questões organizacionais M aterial para uso exclusivo de aluno m atriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD, da disciplina correspondente. Proibida a reprodução e o com partilham ento digital, sob as penas da Lei. © Editora Senac São Paulo. Já os métodos indiretos obtêm o valor dos bens ou serviços ambien- tais por meio de uma função de produção, que relaciona a alteração do bem ou serviço ambiental com a alteração na produção de um produto que tenha preço definido no mercado. Uma das formas de fazer isso, chamada produtividade marginal, é associar diretamente a variação da provisão de um bem ou serviço ambiental com a alteração no preço de mercado do produto que é afetado. A partir dessa alteração no preço, estima-se o valor econômico de uso do recurso ambiental alterado. Por exemplo, para calcular o valor de um solo de boa qualidade, poderíamos relacionar a alteração na qualidade do solo com o impacto dessa alte- ração na produção de laranja. Definir essas relações, porém, pode ser bastante complexo, limitando o uso do método. Além disso, ele permite calcular apenas o valor de uso e tende a subestimar o valor do recurso ambiental (MAIA; ROMEIRO; REYDON, 2004). Outra forma de calcular indiretamente o valor de bens e serviços am- bientais é relacionar a sua variação com a alteração no preço de mer- cado de algum bem substituto ao bem afetado. Esse método, chamado mercado de bens substitutos, pressupõe que a perda (em qualidade ou quantidade) de um bem ou serviço ambiental leva à procura por bens ou serviços substitutos, de modo a manter o bem-estar da população. No nosso exemplo, poderíamos relacionar a variação na qualidade do solo com a variação no preço do adubo. Esse método também se limita a calcular o valor de uso e, portanto, tende a subestimar o valor do bem ou serviço ambiental (MAIA; ROMEIRO; REYDON, 2004). Para a valora- ção usando o método de mercado de bens substitutos, quatro técnicas são bastante conhecidas: custos evitados, custos de controle, custos de reposição e custos de oportunidade. O quadro 1 indica os principais métodos de valoração ambiental e exemplos de sua aplicação. 22 Gestão de meio ambiente Ma te ria l p ar a us o ex cl us ivo d e al un o m at ric ul ad o em c ur so d e Ed uc aç ão a D is tâ nc ia d a Re de S en ac E AD , d a di sc ip lin a co rre sp on de nt e. P ro ib id a a re pr od uç ão e o c om pa rti lh am en to d ig ita l, s ob a s pe na s da L ei . © E di to ra S en ac S ão P au lo . Quadro 1 – Exemplos de aplicação dos métodos de valoração ambiental diretos e indiretos MÉTODO EXEMPLO M ét od os d ire to s Disposição a pagar direta Avaliação contingente Aplicação de pesquisa que questiona a uma amostra da população sua disposição a pagar uma contribuição mensal para subsidiar a manutenção de uma área vegetada. Disposição a pagar indireta Preço hedônico Considerando que o preço de uma propriedade é dado por um conjunto de características, entre elas as características ambientais (por exemplo, qualidade do ar e proximidade com áreas verdes), o valor dessas características ambientais pode ser estimado pela disposiçãodos indivíduos a pagar pela propriedade que tenha as características ambientais. Custo de viagem O valor de um patrimônio natural aberto para visitação pode ser estimado a partir dos gastos pelos visitantes com deslocamento, taxas e outros custos complementares. M ét od os in di re to s Produtividade marginal O valor da água pode ser estimado pela variação no preço da energia hidroelétrica decorrente da diminuição do volume de água disponível em um período de estiagem. Mercado de bens substitutos Custos evitados A poluição da água pode ser relacionada com o aumento da necessidade de um indivíduo comprar água mineral no supermercado. Assim, o valor da água de boa qualidade pode ser estimado pelo valor pago pelos indivíduos na compra da água mineral no supermercado. Custos de controle Considerando que a qualidade da água é alterada pelo lançamento de esgoto, uma forma de estimar o valor da água de boa qualidade é o custo de tratar o esgoto. Custos de reposição Valor de um solo fértil pode ser calculado a partir dos gastos associados à recuperação do solo degradado. Custos de oportunidade O valor de uma unidade de conservação pode ser estimado por meio dos ganhos econômicos decorrentes do uso dessa área para agricultura. Fonte: baseado em Maia, Romero e Reydon (2004) e Motta (2013). Uma das principais utilizações da valoração ambiental é subsidiar análises de custo-benefício (ACB). A ACB é uma técnica econômica bastante utilizada com o propósito de avaliar, comparar e priorizar as 23A gestão ambiental e as questões organizacionais M aterial para uso exclusivo de aluno m atriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD, da disciplina correspondente. Proibida a reprodução e o com partilham ento digital, sob as penas da Lei. © Editora Senac São Paulo. alternativas e tem sido uma forma relevante de incluir informações re- lativas aos recursos ambientais na tomada de decisão, seja no âmbito público ou privado (MAY, 1994). No contexto do uso da ACB para a consideração do meio ambiente, de acordo com Motta (2013, p. 434) os benefícios se referem aos bens e serviços ambientais cuja conservação acarretará impactos positivos no bem-estar das pessoas; já os custos representam “o bem-estar que se deixou de ter em função do desvio dos recursos da economia para políticas ambientais”. Assim, os valores monetários associados aos be- nefícios e aos custos de cada alternativa devem ser calculados e com- parados, permitindo a identificação daquelas que melhor aproveitam os recursos. Ou seja, as alternativas que propiciam melhores benefícios com menores custos, maximizando o uso dos recursos disponíveis (MOTTA, 2013). É importante destacar, porém, que a análise custo-benefício, bem como os métodos de valoração ambiental, não consegue incorporar a complexidade dos sistemas ambientais; sendo ambas, portanto, simpli- ficações. Dessa forma, a aplicação dos critérios econômicos deve sem- pre ser precedida de avaliação ecológica, que é crucial para determinar como os bens e serviços ambientais estão sendo afetados. 3 Globalização e gestão ambiental Iniciativas que visam evitar a escassez de recursos ambientais não são novidade. No Brasil, por exemplo, em 1605 foi estabelecido o Regimento sobre o Pau-Brasil, ainda ligado à legislação portuguesa (PÁDUA, 2002). Ao longo do tempo, porém, o debate sobre a temática ambiental foi se intensificando e alcançando diferentes países e gru- pos sociais, impulsionado especialmente por eventos que provocaram grandes impactos ambientais, como o caso de poluição por mercúrio identificada em Minamata (no Japão), no final da década de 1950, e 24 Gestão de meio ambiente Ma te ria l p ar a us o ex cl us ivo d e al un o m at ric ul ad o em c ur so d e Ed uc aç ão a D is tâ nc ia d a Re de S en ac E AD , d a di sc ip lin a co rre sp on de nt e. P ro ib id a a re pr od uç ão e o c om pa rti lh am en to d ig ita l, s ob a s pe na s da L ei . © E di to ra S en ac S ão P au lo . os impactos decorrentes do uso de agrotóxicos, registrado por Rachel Carson no livro Primavera silenciosa, lançado em 1962. Com o aumento da magnitude dos impactos das atividades humanas no meio ambiente, começou a ficar evidente também que muitos impac- tos não ficam restritos ao local em que foram gerados, mas com frequên- cia extrapolam fronteiras administrativas, inclusive fronteiras nacionais. Assim, a partir da década de 1960, as questões ambientais passaram a ser tratadas de maneira global, e não mais de maneira fragmentada, como era até então (BARBIERI, 2011). Reforça-se, também, a ideia de que o ambiente é um organismo e, como tal, suas partes estão conectadas. É neste contexto que se intensificaram as iniciativas intergover- namentais e os mecanismos de ação internacional para lidar com as questões ambientais. Assim, acordos multilaterais passaram a ser de- senvolvidos, por exemplo, no âmbito da ONU e suas entidades, além da realização de eventos internacionais para tratar do tema ambiental, contando, inclusive, com a participação de diversos chefes de Estado, destacando-se a Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente Humano realizada em 1972, em Estocolmo, como um marco. Um dos aspectos importantes das discussões em 1972 foi a sig- nificativa disparidade entre países, à época, desenvolvidos e em de- senvolvimento, com relação a suas contribuições quanto à explora- ção do meio ambiente. Além de terem contribuído menos, até aquele momento, para a promoção de problemas ambientais, os países em desenvolvimento não estavam preparados para abrir mão da explo- ração do meio ambiente em prejuízo ao crescimento econômico. Em resposta a essas preocupações, a Declaração sobre o Meio Ambiente Humano (resultante da Conferência de Estocolmo), em uma de suas diretrizes, destaca a garantia da soberania dos países para explorar os recursos ambientais de seu território de acordo com política am- biental nacional, desde que as atividades realizadas não prejudiquem o meio ambiente de áreas situadas fora dos limites de sua jurisdição. 25A gestão ambiental e as questões organizacionais M aterial para uso exclusivo de aluno m atriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD, da disciplina correspondente. Proibida a reprodução e o com partilham ento digital, sob as penas da Lei. © Editora Senac São Paulo. Vale ressaltar, ainda, que essas discussões evidenciam um aspecto importante, que é a distribuição dos benefícios e dos custos ambien- tais, visto que nem sempre quem se beneficia da exploração de um de- terminado recurso é quem paga o custo ambiental desse uso, como foi comprovado a partir da percepção de impactos ambientais globais, como a destruição da camada de ozônio e as mudanças climáticas. Outro evento de grande importância no cenário global foi a Confe- rência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e Desenvolvimento de 1992, no Rio de Janeiro, quando um conjunto de documentos foi aprovado, dentre eles a Agenda 21. Pode-se falar, então, que atualmente há uma Ordem Ambiental Internacional que, apesar de respeitar a so- berania e interesses nacionais, delineia uma agenda ambiental global (RIBEIRO, 2001). Para atender a essa agenda, a gestão ambiental é fundamental não só no âmbito global, mas também nos níveis regional, nacional e lo- cal, tendo como objetivo minimizar os efeitos das atividades humanas sobre o ambiente, a fim de garantir padrões aceitáveis de qualidade ambiental (ADISSI; ALMEIDA NETO, 2013). Sua aplicação pode ter dife- rentes motivadores – por exemplo, as pressões da sociedade, legisla- ção nacional, requisitos de agências multilaterais de desenvolvimento ou ainda as pressões do mercado –, envolve a avaliação de riscos e impactos ambientais e pode ser definida como: [...] diretrizes e atividades administrativas e operacionais,tais como planejamento, direção, controle, alocação de recursos e outras realizadas com o objetivo de obter efeitos positivos sobre o meio ambiente, tanto reduzindo, eliminando ou compensando os danos ou problemas causados pelas ações humanas, quanto evitando que eles surjam. (BARBIERI, 2011, [s.p.]) De acordo com Barbieri (2011), a gestão ambiental pode ser aplicada às mais diversas áreas de atividades humanas e envolve quatro dimen- sões: a espacial, relacionada à área na qual se espera que as ações de 26 Gestão de meio ambiente Ma te ria l p ar a us o ex cl us ivo d e al un o m at ric ul ad o em c ur so d e Ed uc aç ão a D is tâ nc ia d a Re de S en ac E AD , d a di sc ip lin a co rre sp on de nt e. P ro ib id a a re pr od uç ão e o c om pa rti lh am en to d ig ita l, s ob a s pe na s da L ei . © E di to ra S en ac S ão P au lo . gestão tenham efeito; a temática, que concerne às questões ambientais foco da iniciativa de gestão; a institucional, que trata dos agentes envol- vidos na gestão; e a filosófica ou ideológica, que, como já mencionado neste capítulo, está ligada ao entendimento das relações entre ser hu- mano e meio ambiente, influenciando a significância e o valor atribuídos ao meio ambiente. As diferentes dimensões ideológicas dão base para variados modelos e práticas de gestão ambiental (que serão apresenta- dos no capítulo 4). Considerações finais Neste capítulo, foram apresentados os conceitos de recursos am- bientais e serviços ecossistêmicos, evidenciando a complexidade e a importância das relações socioeconômicas com o meio ambiente. A incorporação da consideração dessas relações pela economia também foi apresentada, destacando-se diferentes ideologias ambientais que indicam os diversos comportamentos econômicos e, como será apre- sentado ao longo dos próximos capítulos, influenciam as políticas ambientais e instrumentos de gestão ambiental. Uma forma de inse- rir o meio ambiente na economia tem sido pela valoração monetária dos bens e serviços ambientais, por meio de métodos de qualificação ambiental e da análise custo-benefício, que tem como propósito subsi- diar decisões que possibilitem um melhor aproveitamento dos recursos financeiros disponíveis, maximizando os benefícios ambientais. Vale destacar que esses métodos são usados de forma associada a ou- tros instrumentos de gestão ambiental, como nos sistemas de gestão ambiental e na avaliação de impactos ambientais, sendo, portanto, de grande relevância. Por fim, destacase a importância da gestão ambiental, reconhecida globalmente, visto que considerar os efeitos ambientais das ativida- des humanas e agir de forma a minimizar seus danos é fundamental, 27A gestão ambiental e as questões organizacionais M aterial para uso exclusivo de aluno m atriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD, da disciplina correspondente. Proibida a reprodução e o com partilham ento digital, sob as penas da Lei. © Editora Senac São Paulo. seja porque a continuidade das atividades depende da qualidade do ambiente, seja por se atribuir valor intrínseco ao meio ambiente ou, ainda, por necessidade de atender às demandas sociais e globais de buscar a minimização dos danos ambientais. Referências ADISSI, Paulo José; ALMEIDA NETO, José Adolfo. Conceitos básicos da gestão ambiental. In: ADISSI, Paulo José; PINHEIRO, Francisco Alves; CARDOSO, Rosangela da Silva. Gestão ambiental de unidades produtivas. Rio de Janeiro: Elsevier, 2013. BARBIERI, José Carlos. Gestão ambiental empresarial: conceitos, modelos e instrumentos. São Paulo: Saraiva, 2011. BRASIL. Lei no 6.938, de 31 de agosto de 1981. Dispõe sobre a Política Nacional de Meio Ambiente, seus fins e mecanismos de formulação e aplicação, e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, 31 ago. 1981. 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P ro ib id a a re pr od uç ão e o c om pa rti lh am en to d ig ita l, s ob a s pe na s da L ei . © E di to ra S en ac S ão P au lo . DIAMOND, Jared. Guns, germs, and steel: the fates of human societies. W.W. Norton & Company, 1997. DIEGUES, Antonio Carlos. O mito moderno da natureza intocada. 3. ed. São Paulo: Hucitec, 2001. DULLEY, Richard Domingues. Noção de natureza, ambiente, meio ambiente, recursos ambientais e recursos naturais. Agricultura São Paulo, v. 51, n. 2, p. 15-26, 2004. EHRLICH, Paul R.; EHRLICH Anne H. The population bomb. Nova York: Ballantine, 1968. GEORGESCU-ROEGEN, Nicholas. O decrescimento: entropia, ecologia, economia. Tradução de Maria José Perillo Isaac. São Paulo: Senac São Paulo, 2012. HARDIN, Garrett. The tragedy of the commons. Science, v. 162, n. 3.859, p. 1.243-1.248, 1968. MAIA, Alexandre Gori; ROMEIRO, Ademar Ribeiro; REYDON, Bastiaan Philip. Valoração de recursos ambientais: metodologias e recomendações. Texto para Discussão. 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Proibida a reprodução e o com partilham ento digital, sob as penas da Lei. © Editora Senac São Paulo. 32 Gestão de meio ambiente Ma te ria l p ar a us o ex cl us ivo d e al un o m at ric ul ad o em c ur so d e Ed uc aç ão a D is tâ nc ia d a Re de S en ac E AD , d a di sc ip lin a co rre sp on de nt e. P ro ib id a a re pr od uç ão e o c om pa rti lh am en to d ig ita l, s ob a s pe na s da L ei . © E di to ra S en ac S ão P au lo . que, à época, pelo menos três desses limites já haviam sido ultrapas- sados (perda de biodiversidade, mudanças climáticas e o ciclo do ni- trogênio). Na tentativa de contornar tal situação, o desenvolvimento de soluções científicas e tecnologias que agridam menos o meio ambiente tem sido buscado, bem como diversos modelos e instrumentos de ges- tão ambiental (BARBIERI, 2011). Nesse contexto, este capítulo apresenta relações entre a evolução tecnológica e os riscos ambientais, buscando esclarecer o que se entende por riscos e o que eles representam para a sociedade. Na sequência, apresenta o conceito de danos ambientais e discute as res- ponsabilidades no que tange à reparação dos danos e sua prevenção na perspectiva das organizações. Por fim, apresenta a análise de riscos ambientais como uma ferramenta para a identificação, estimativa e gerenciamento de tais riscos. 1 Evolução tecnológica e riscos para o meio ambiente A evolução tecnológica tem sido importante âncora para o desenvol- vimento do modelo de sociedade hegemônico, largamente baseado no consumo de bens. Neste sentido, a Revolução Industrial (século XIX) e a Revolução Técnico-Científica (ou Terceira Revolução Industrial – século XX) são importantes marcos, visto que proporcionaram, por meio de evolução tecnológica, o aumento significativo da produção de bens e serviços para a sociedade, inclusive gerando excedentes, que é um as- pecto fundamental para o modelo econômico e de desenvolvimento da sociedade vigentes (DEMAJOROVIC, 2003; MAMED, 2017). O avanço tecnológico-científico tem proporcionado o aumen- to da produção, no entanto, também tem permitido a ampliação das interferências humanas no ambiente, bem como o significativo au- mento do uso de recursos ambientais e serviços ecossistêmicos 33Riscos ambientais e gestão empresarial M aterial para uso exclusivo de aluno m atriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD, da disciplina correspondente. Proibida a reprodução e o com partilham ento digital, sob as penas da Lei. © Editora Senac São Paulo. necessários para a produção de bens e emissão de rejeitos, o que tem sido associado ao surgimento de problemas ambientais. A de- gradação do meio ambiente, assim, não deve ser entendida como fa- talidade ou acontecimento inesperado, mas sim como consequência inerente às escolhas relacionadas à aplicação dos conhecimentos técnico-científicos e à modernidade (DEMAJOROVIC, 2003). O reconhecimento da degradação do meio ambiente e do que se chamou de crise ambiental tem pressionado a apresentação de formas para se contornar a situação, suscitando preocupações em desenvolver soluções científicas e tecnologias que agridam menos o meio ambien- te. Essa visão está presente, por exemplo, nos modelos de produção mais limpa e ecoeficiência (apresentados no capítulo 4), que indicam o desenvolvimento tecnológico como caminho para a redução dos impactos ambientais. Ou seja, o desenvolvimento técnico-científico tem sido percebido, paradoxalmente, como gerador de danos ambien- tais e, ao mesmo tempo, ferramenta para amenizá-los (BECK, 2016; DEMAJOROVIC, 2003). Nesse sentido, Beck (2016) ressaltava, já na década de 1980, que, associado ao processo de industrialização e evolução tecnológica, há um processo de produção de risco. O risco está associado à possibi- lidade de um determinado evento indesejado se concretizar no futuro, tendo ligação, portanto, com as incertezas referentes às diversas ativi- dades humanas e suas possíveis consequências relacionadas a deter- minados valores atribuídos pela sociedade, por exemplo, com relação à economia, aspectos sociais ou ambientais (AVEN et al., 2015). Assim, ao se optar pelo desenvolvimento de determinada indústria ou pelo uso de uma tecnologia específica, assume-se um conjunto de ris- cos associados, inclusive riscos ambientais. Como exemplos, podem-se citar o risco de contaminação da população por material radioativo as- sociado ao uso de tecnologias de geração de energia nuclear e o risco de poluir o ar ou de causar acidentes relacionados à intensificação do uso de automóveis. 34 Gestão de meio ambiente Ma te ria l p ar a us o ex cl us ivo d e al un o m at ric ul ad o em c ur so d e Ed uc aç ão a D is tâ nc ia d a Re de S en ac E AD , d a di sc ip lin a co rre sp on de nt e. P ro ib id a a re pr od uç ão e o c om pa rti lh am en to d ig ita l, s ob a s pe na s da L ei . © E di to ra S en ac S ão P au lo . PARA PENSAR Indica-se o filme The Cloverfield Paradox, estreado em 2018 e dirigido por Julius Onah, que mostra a busca por uma nova fonte de energia para suprir as necessidades da sociedade. É um filme de ficção científica que instiga a reflexão sobre as desconhecidas consequências associadas ao desenvolvimento técnico-científico. Conforme estabelecido por Beck (2016), a produção social de rique- za na modernidade está associada à produção social de riscos e a con- flitos em torno da distribuição desses riscos na sociedade, visto que, com fre quência, os riscos não ficam restritos ao seu gerador, tampouco afetam igualmente os indivíduos, mas atingem os diferentes grupos so- ciais de modos distintos. Por exemplo, os efeitos da poluição do ar pro- vocado por atividades industriais não ficam restritos aos indivíduos que adquirem e se beneficiam dos produtos resultantes da indústria, mas afetam toda a comunidade do entorno. No entanto, grupos que tenham condições de mudar sua residência para bairros afastados das zonas industriais são menos afetados do que os grupos que, por distintos mo- tivos, precisam permanecer nas zonas com maiores níveis de poluição. Nessa sociedade de risco, então, um aspecto de grande importância é a definição de riscos e em que magnitude são aceitáveis pela socie- dade. Essa definição está, essencialmente, relacionada à gravidade das consequências de um evento indesejado de fato ocorrer e à probabi- lidade de ele acontecer. É baseado nesse balanço que alguns setores da indústria (por exemplo, a indústria nuclear) atraem grande atenção, uma vez que, apesar de a probabilidade do risco se efetivar ser peque- na, as consequências ambientais e sociais são significativas. Situações desse tipo, inclusive, têm chamado a atenção da sociedade para a te- mática ambiental, evidenciando a importância de avaliar e incorporar questões ambientais na gestão e no gerenciamento das atividades in- dustriais. Nesse sentido, as figuras 1 e 2 reúnem exemplos importantes 35Riscos ambientais e gestão empresarial M aterial para uso exclusivo de aluno m atriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD, da disciplinacorrespondente. Proibida a reprodução e o com partilham ento digital, sob as penas da Lei. © Editora Senac São Paulo. de acidentes relacionados a atividades industriais que tiveram significa- tivas consequências ambientais à saúde e à segurança humana. Figura 1 – Acidentes industriais de importantes consequências ambientais e à segurança humana (1974 a 1988) Reino Unido: explosão de nuvem de ciclo hexano em indústria química – morte de 28 pessoas; 89 feridos; afetando 2.450 casas Canadá: descarrilamento de dois vagões, seguido de explosões – evacuação de 240 mil pessoas Suíça: vazamento de agrotóxicos – contaminação do rio Reno França: vazamento do petroleiro Amoco-Cadiz – morte de 30 mil aves, 230 mil peixes e frutos do mar Brasil: vazamento de duto de amônia – evacuação de 6 mil pessoas; hospitalização de 65 pessoas 1974 1978 1979 1985 1988 Fonte: adaptado de Ibama (2018) e Sánchez (2008). Figura 2 – Acidentes industriais de importantes consequências ambientais e à segurança humana (1989 a 2015) Estados Unidos: vazamento do petroleiro Exxon-Valdez – poluição de 1.000 km de costa; morte de mais de 35 mil aves Brasil: vazamento de óleo combustível de um duto na baía de Guanabara – contaminação de praias e mangues; danos à pesca e ao turismo Brasil: ruptura de barragem de rejeitos de mineração – soterramento do subdistrito de Bento Rodrigues; poluição de 663,2 km de cursos d'água; destruição de 1.469 hectares, incluindo Áreas de Preservação Permanente; impactos sociais e econômicos nos municípios da região Canadá: incêndio em fábrica de plástico – evacuação de 650 pessoas Estados Unidos: erosão do extravasor de emergência da barragem, seguida de ruptura – liberação de cerca de 900 mil m³ de sedimentos; evacuação de 1.872 pessoas; danos de US$ 100 milhões; fechamento de duas minas 1989 1997 2000 2003 2015 Fonte: adaptado de Ibama (2018) e Sánchez (2008). 36 Gestão de meio ambiente Ma te ria l p ar a us o ex cl us ivo d e al un o m at ric ul ad o em c ur so d e Ed uc aç ão a D is tâ nc ia d a Re de S en ac E AD , d a di sc ip lin a co rre sp on de nt e. P ro ib id a a re pr od uç ão e o c om pa rti lh am en to d ig ita l, s ob a s pe na s da L ei . © E di to ra S en ac S ão P au lo . Nesse sentido, a análise dos riscos ambientais, bem como o desen- volvimento de mecanismos para controlar e conviver com boa parte desses riscos são preocupações necessárias (AVEN et al., 2015). No que tange aos riscos ambientais, isso envolve técnicas de cálculo de riscos, medidas de gerenciamento e medidas compensatórias, além de mecanismos de regulação e controle por parte do Estado, que serão apresentados ao longo desta obra. 2 Danos ambientais e responsabilidades Os danos ambientais, de acordo com Milaré (2011), referem-se às le- sões ao meio ambiente que têm como consequência a degradação do equilíbrio ecológico e da qualidade de vida. Esses danos podem ser de- correntes de situações em que, mesmo conhecidas as consequências ambientais de determinada ação, são adotadas condutas imprudentes, negligentes ou mesmo por vontade de provocar o dano, sendo possível estabelecer uma relação de culpa. Por outro lado, os danos ambientais também podem ser decorrentes de situações em que, mesmo não ha- vendo conduta imprudente, negligente ou a vontade de provocar o dano (ausência de culpa), este é ocasionado por determinada ação (FARIAS; COUTINHO; MELO, 2015). Desse modo, vale lembrar que, como apresen- tado anteriormente, todas as ações têm riscos a elas associados; portan- to, ao optar pela sua realização, assumem-se os riscos. Tal responsabilização é especialmente importante no caso do meio ambiente, posto que a identificação e a medição das contribuições in- dividuais para a geração dos danos ambientais e a comprovação de culpa são difíceis, mas tal dificuldade não pode ser um impedimento para a proteção do meio ambiente, visto que se trata de bem coleti- vo, cujos danos muitas vezes são irreversíveis (DEMAJOROVIC, 2003; FARIAS; COUTINHO; MELO, 2015). Um caminho que tem sido adota- do em diferentes contextos para a responsabilização é o estabeleci- mento da relação de causa e efeito entre dano ambiental e atividade 37Riscos ambientais e gestão empresarial M aterial para uso exclusivo de aluno m atriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD, da disciplina correspondente. Proibida a reprodução e o com partilham ento digital, sob as penas da Lei. © Editora Senac São Paulo. geradora do dano (relação de causalidade ou nexo causal), baseando-se em correlações já conhecidas. A legislação brasileira que trata de meio ambiente define a responsa- bilidade objetiva ambiental, segundo a qual quem cria o risco do dano ambiental tem a obrigação de recuperar o ambiente impactado, não sen- do necessário conhecer a razão da degradação para que haja o dever de indenizar e/ou reparar o dano (BRASIL, 1981; MACHADO, 2013). Dessa forma, independentemente da comprovação de culpa, o estabelecimento de nexo causal é suficiente para responsabilizar o autor da ação pela re- cuperação ou indenização do dano ambiental. Vale mencionar, ainda, que na jurisdição brasileira tanto as pessoas físicas quanto as pessoas jurídi- cas estão sujeitas às obrigações e às sanções relacionadas à geração de danos ambientais (BRASIL, 1988), bem como o Poder Público responde solidariamente quando autoriza uma atividade que causa dano, mesmo que tal atividade esteja de acordo com os padrões de qualidade oficiais (BRASIL, 1981). Para além da definição das responsabilidades definidas nas legis- lações, a responsabilidade ambiental (assim como a responsabilidade social) é um tema de interesse das organizações nas últimas décadas. Já na década de 1980, essa preocupação surgiu especialmente nas atividades industriais que apresentavam grandes riscos ao meio am- biente e à vida humana, como a indústria química, que precisava mos- trar à sociedade que estava comprometida com uma nova postura de diminuição dos riscos ambientais à comunidade e aos trabalhadores (DEMAJOROVIC, 2003). Reconhecer e assumir responsabilidades quanto aos aspectos am- bientais reflete a percepção de que a minimização e a mitigação de danos ambientais exigem novas estratégias por parte das organiza- ções, que devem considerar as questões ambientais já na concepção das tecnologias e das atividades, a partir de uma postura proativa com relação à melhoria ambiental (BARBIERI, 2011; DEMAJOROVIC, 2003). Assim, a responsabilidade socioambiental pode ser percebida como 38 Gestão de meio ambiente Ma te ria l p ar a us o ex cl us ivo d e al un o m at ric ul ad o em c ur so d e Ed uc aç ão a D is tâ nc ia d a Re de S en ac E AD , d a di sc ip lin a co rre sp on de nt e. P ro ib id a a re pr od uç ão e o c om pa rti lh am en to d ig ita l, s ob a s pe na s da L ei . © E di to ra S en ac S ão P au lo . um caminho para responder às pressões governamentais, sociais e, também, do mercado, visto que ela tem sido usada como parâmetro de referência para os negócios no âmbito corporativo (TACHIZAWA, 2017). 3 Análise de riscos ambientais Reconhecida a importância dos riscos na sociedade atual, sua ob- servação tem ganhado cada vez mais destaque no âmbito das orga- nizações, destacando-se a necessidade de estratégias sólidas para a identificação, avaliação e gerenciamento dos riscos (KAERCHER; LUZ, 2016). Nesse contexto, uma ferramenta importante é a análise de riscos, que envolve a identificação de perigos e a estimativa dos riscos, além da proposição de medidas de gerenciamento e de contingenciamento dos riscos, subsidiando decisões sobre localização e operação dos proces- sos industriais, investimentos em equipamentos, rotinas de monitora- mento e manutenção e procedimentos de segurança (DEMAJOROVIC,2003; SÁNCHEZ, 2008). A análise de risco tem início com a identificação de perigos1, seguida pela estimativa da frequência de ocorrência desses perigos, depois pela avaliação de suas consequências e, por fim, pela definição de medidas para lidar com os riscos, reunidas em planos de gerenciamento de ris- cos (figura 3). Figura 3 – Etapas da análise de riscos ambientais Elaboração de plano de gerenciamento de riscos Identificação de perigos Estimativa da frequência de ocorrência de perigos Avaliação das consequências associadas aos perigos 1 Perigo é a condição que tem potencial de causar uma situação indesejada (SÁNCHEZ, 2008). 39Riscos ambientais e gestão empresarial M aterial para uso exclusivo de aluno m atriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD, da disciplina correspondente. Proibida a reprodução e o com partilham ento digital, sob as penas da Lei. © Editora Senac São Paulo. Para a identificação dos perigos, alguns dos métodos mais usados são as listas de verificação, o estudo de risco e operabilidade, a análise de modos de falha e consequências e a análise da árvore de falhas. Já para a análise das consequências, os métodos variam para os diferen- tes tipos de atividades e perigos, de modo que permitam simular a ex- tensão e magnitude dos efeitos no ambiente e na sociedade (SÁNCHEZ, 2008). Conhecidos os perigos e suas potenciais consequências, os riscos são estimados, podendo ser utilizadas diferentes métricas, sendo que a esco- lha de como calcular os riscos dependerá da situação. De maneira geral, as estimativas consideram a probabilidade de ocorrência do perigo e a magnitude de suas consequências, mas podem também envolver, por exemplo, a avaliação dos custos e dos benefícios relacionados à redu- ção dos riscos (AVEN et al., 2015; SÁNCHEZ, 2008). Outro aspecto im- portante é a definição dos níveis de risco considerados toleráveis, uma vez que a propensão dos indivíduos a aceitar riscos varia amplamente. Além disso, como já mencionado, a distribuição dos riscos e dos bene- fícios também varia entre os diferentes grupos sociais e, portanto, as percepções dos riscos são distintas. Em situações em que há menos complexidade, é comum que, ao invés de se realizar uma análise completa dos riscos, a análise seja concentrada apenas na elaboração de um plano de gerenciamento de riscos (SÁNCHEZ, 2008). De acordo com a Sociedade para Análise de Risco (AVEN et al., 2015), o gerenciamento de riscos pode ser definido como o conjunto de atividades que visam lidar com os riscos, por exem- plo, prevenção, mitigação e adaptação. Um plano de gerenciamento de riscos geralmente contém informa- ções sobre: as características e segurança do processo de interesse; a revisão dos riscos associados ao processo; o gerenciamento das mo- dificações feitas na indústria; a manutenção e a garantia da integridade dos sistemas considerados críticos para a segurança do processo; os 40 Gestão de meio ambiente Ma te ria l p ar a us o ex cl us ivo d e al un o m at ric ul ad o em c ur so d e Ed uc aç ão a D is tâ nc ia d a Re de S en ac E AD , d a di sc ip lin a co rre sp on de nt e. P ro ib id a a re pr od uç ão e o c om pa rti lh am en to d ig ita l, s ob a s pe na s da L ei . © E di to ra S en ac S ão P au lo . procedimentos operacionais tanto para situações normais quanto para situações de emergência; a capacitação dos funcionários; os procedi- mentos de investigação de incidentes; o plano de ação de emergência e auditorias, visando verificar a conformidade dos procedimentos e ações de gerenciamento (SÁNCHEZ, 2008). Especificamente sobre o plano de emergência (ou plano de contingên- cia), ele deve sintetizar as informações relacionadas às ações a serem executadas nos diferentes cenários de emergência, por exemplo, apon- tando as atribuições e responsabilidades dos envolvidos, de modo a guiar as ações no caso de ocorrência da situação de perigo (SÁNCHEZ, 2008). Considerações finais A evolução tecnológica associada ao desenvolvimento da ciência tem possibilitado, ao longo do tempo, diversas modificações no modo de produção industrial e na produtividade, possibilitando aumento sig- nificativo na produção de bens e serviços para a sociedade. No entan- to, além dos efeitos positivos associados ao desenvolvimento tecno- lógico-científico, também há efeitos negativos, sobretudo relacionados ao aumento do uso de recursos ambientais e serviços ecossistêmicos demandados (DEMAJOROVIC, 2003). Nesse contexto, o processo de industrialização e evolução tecnológica tem como uma de suas conse- quências o processo de produção de riscos, inclusive ambientais, que, ao mesmo tempo que afeta a sociedade como um todo, afeta de ma- neiras distintas os diferentes grupos sociais (BECK, 2016). Todo uso de tecnologia e atividades realizadas, portanto, tem as- sociados riscos ambientais que são explícita ou implicitamente assu- midos e, quando o risco se efetiva, um dano ambiental é provocado. Visando à garantia da qualidade do meio ambiente enquanto um bem de interesse da coletividade, a responsabilização pelos danos ambien- tais tem sido atribuída àquele que provocou o dano, independentemen- te de intenção ou culpa de causá-lo, bastando existir relação de causa 41Riscos ambientais e gestão empresarial M aterial para uso exclusivo de aluno m atriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD, da disciplina correspondente. Proibida a reprodução e o com partilham ento digital, sob as penas da Lei. © Editora Senac São Paulo. e efeito (MACHADO, 2013). A partir de uma postura proativa, muitas organizações também têm assumido responsabilidades ambientais e sociais com relação aos efeitos de suas atividades, visando mostrar à sociedade que tem buscado diminuir os riscos ambientais a elas asso- ciados (DEMAJOROVIC, 2003). Para que os riscos ambientais possam ser evitados e, quando neces- sário, mitigados, a análise e gerenciamento de riscos é um aspecto de grande importância, principalmente quando se trata de atividades que en- volvem riscos significativos, seja em função da frequência com que ocor- rem, seja em função da magnitude de suas consequências. A reflexão em torno de quais são os níveis de riscos aceitáveis pela sociedade, porém, deve estar sempre presente, reconhecendo-se que percepções e tolerân- cias são diferentes para os diferentes grupos e indivíduos (SÁNCHEZ, 2008). Além dos estudos de análises de riscos e planos de gerencia- mento, há ainda um conjunto de outros instrumentos, tanto no âmbito do Poder Público como no âmbito das organizações privadas, que tem como objetivo evitar ou mitigar danos ambientais, visando à compatibi- lização do desenvolvimento socioeconômico com qualidade ambiental. Tais instrumentos serão apresentados e discutidos ao longo desta obra. Referências AVEN, Terje et al. Society for risk analysis glossary. Society for risk analysis, Committee on Foundations of Risk Analysis, 22 jun. 2015. Disponível em: <http://www.sra.org/sites/default/files/pdf/SRA_glossary_20150622.pdf?pdf= Glossary>. Acesso em: 15 abr. 2018. BARBIERI, José Carlos. Gestão ambiental empresarial: conceitos, modelos e instrumentos. São Paulo: Saraiva, 2011. BECK, Ulrich. Sociedade de risco: rumo a uma outra modernidade. Tradução de Sebastião Nascimento. São Paulo: Editora 34, 2016. BRASIL. Lei no 6.938, de 31 de agosto de 1981. Dispõe sobre a Política Nacional de Meio Ambiente, seus fins e mecanismos de formulação e aplicação, e dá 42 Gestão de meio ambiente Ma te ria l p ar a us o ex cl us ivo d e al un o m at ric ul ad o em c ur so d e Ed uc aç ão a D is tâ nc ia d a Re de S en ac E AD , d a di sc ip lin a co rre sp on de nt e. P ro ib id a a re pr od uç ão e o c om pa rti lh am en to d ig ita l, s ob a s pe na s da L ei . © E di to ra S en ac S ão P au