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Circulações Especiais 46 PRESSÃO DENTRO DO CRÂNIO PRESSÃO DENTRO DO CRÂNIO 47 Fluxo de sangue para órgãos da circulação sistêmica. A circulação encefálica supre o encéfalo, que representa apenas 2% do peso corporal e, ainda assim, comanda 15% do débito cardíaco (DC) em repouso. Dependência do fluxo sanguíneo encefálico em relação à Pco2. PRESSÃO DENTRO DO CRÂNIO 48 O cérebro contém aproximadamente 150 cm³ de fluido cerebrospinal¹ FCS) numa série de aberturas interconectadas chamadas ventrículos. O fluido cerebrospinal é gerado dentro do cérebro e flui através dos ventrículos para o interior da coluna espinhal e eventualmente para o interior do sistema circulatório. Um dos ventrículos, o aqueduto, é especialmente estreito. Se ao nascer esta abertura está fechada por qualquer razão, o FCS fica preso no interior do crânio aumentando a pressão interna. O aumento de pressão faz o crânio aumentar. Esta séria condição, chamada hidrocefalia (literalmente, cabeça-d'água), é um problema moderadamente comum na infância. Entretanto, se a condição é detectada bem cedo, frequentemente ela pode ser corrigida cirurgicamente instalando um sistema de drenagem de desvio para o FCS. PRESSÃO DENTRO DO CRÂNIO 49 Figura 1: A secção transversal do cérebro mostra a localização do fluido cérebro- espinhal, área sombreada, e o aqueduto. O cérebro frágil é suportado e amortecido por esse fluido. Fonte: CAMERON, J., SKOFRONICK, J.G. Medical physics. New York : John Wiley & Sons, 1978, p.108. PRESSÃO DENTRO DO CRÂNIO 50 Não é conveniente medir a pressão FCS diretamente. Um método muito grosseiro de detectar hidrocefalia é medir a circunferência do crânio logo acima das orelhas. Valores normais para crianças recém- nascidas variam de 32 a 37 cm, e um valor maior pode indicar hidrocefalia. Outro método qualitativo de detecção, a transiluminação, faz uso das propriedades de espalhamento de luz pelo FCS, um líquido claro, dentro do crânio. PRESSÃO DENTRO DO CRÂNIO 51 PRESSÃO NO SISTEMA DIGESTIVO 52 O trato digestivo é uma abertura bem tortuosa(vídeo) que se estende através do corpo, possuindo mais de seis metros da boca até o ânus. Durante a maior parte do tempo, esta abertura se encontra fechada na extremidade inferior, apresentando várias outras restrições. A Figura 1 mostra esquematicamente as válvulas e esfíncteres (músculos circulares) do trato digestivo, que se abrem para a passagem da comida, bebida e seus subprodutos. As válvulas são projetadas para permitirem um fluxo unidirecional da comida. Com algum esforço é possível reverter o fluxo, tal como durante o vômito (náusea). PRESSÃO NO SISTEMA DIGESTIVO 53 Figura 1: As válvulas e esfíncter do trato intestinal. Fonte: CAMERON, J., SKOFRONICK, J.G. Medical physics. New York : John Wiley & Sons, 1978, p.109. PRESSÃO NO SISTEMA DIGESTIVO 54 A pressão é maior que a atmosférica na maior parte do sistema gastrointestinal (GI). Entretanto, no esôfago, a pressão está acoplada à pressão entre os pulmões e a parede do peito (pressão intratorácica) e é usualmente menor que a atmosférica. A pressão intratorácica é algumas vezes determinada medindo-se a pressão no esôfago. Durante a alimentação, a pressão no estômago aumenta quando as suas paredes são esticadas. Entretanto, como o volume aumenta com o cubo do raio (R³) e a tensão (força de estiramento) é proporcional a R, esse aumento na pressão é muito lento. Um aumento mais significativo na pressão é devido ao ar engolido durante a refeição. Ar preso no estômago, frequentemente visível num raio-X do peito, causa arroto ou vômito. No intestino, o gás (flato) gerado pela ação de bactérias aumenta a pressão no órgão. Fatores externos tais como a utilização de cintos ou faixas, e atividades como voar e nadar também afetam a pressão no intestino. PRESSÃO NO SISTEMA DIGESTIVO 55 Uma válvula, o piloro, evita que o fluxo de sangue retorne do intestino delgado para o estômago. Ocasionalmente, um bloqueio se forma no intestino delgado ou grosso, e uma pressão é produzida entre esse bloqueio e o piloro; se esta pressão torna-se suficientemente grande para restringir o fluxo sangüíneo aos órgãos críticos, ela pode causar a morte. Intubação, ou seja, a passagem de um tubo oco através do nariz, estômago e piloro, é geralmente usada para liberar essa pressão. Se a intubação não funcionar, é necessário liberar a pressão cirurgicamente. Entretanto, a pressão alta aumenta grandemente o risco de infecção, porque os gases presos expandem rapidamente quando a incisão é feita. Este risco pode ser reduzido se a cirurgia for realizada em uma sala de operação em que a pressão externa é maior que a pressão no intestino. PRESSÃO NO SISTEMA DIGESTIVO 56 A pressão no sistema digestivo está acoplada aquela dos pulmões, através do diafragma flexível que separa os dois sistemas de órgãos. Quando é necessário ou desejável aumentar a pressão no intestino, tal como durante a defecção, uma pessoa faz uma respiração profunda, prende os pulmões na glote (cordas vocais) e contrai os músculos abdominais. PRESSÃO NA BEXIGA URINÁRIA 57 A Uma das mais notáveis pressões internas é a pressão produzida na bexiga devido ao acúmulo de urina. FIGURA 1 PRESSÃO NA BEXIGA URINÁRIA 58 A Figura 1- mostra a curva típica pressão - volume para a bexiga, que é esticada quando o seu volume aumenta. Poder-se-ia ingenuamente esperar que o aumento na pressão fosse proporcional ao volume. Entretanto, para um dado aumento do raio R, o volume aumenta com R³ enquanto a pressão cresce somente com R². Esta relação explica a inclinação relativamente baixa da maior parte da curva pressão - volume. Para adultos, o volume máximo típico na bexiga antes de esvaziar é igual a 500 ml. PRESSÃO NA BEXIGA URINÁRIA 59 • Em algumas pressões (~30 cmH2O) o reflexo de micturição ocorre. A enorme contração muscular resultante nas paredes da bexiga produz uma pressão momentânea de até 150 cmH2O. É comum, garotos fazerem o "experimento" físico de medir esta pressão máxima diretamente, observando a altura atingida pela urina num muro. A pressão normal de esvaziamento é bem baixa (20 a 40 cmH2O), mas para homens que sofrem de obstrução prostática da passagem urinária pode chegar a valores acima de 100 cmH2O. • A pressão na bexiga pode ser medida passando um cateter com um sensor de pressão no interior desta através da uretra. Em direta cistometria, a pressão é medida por meio de uma agulha inserida através das paredes do abdômen diretamente na bexiga. Esta técnica fornece informação da função das válvulas fechadas (esfíncter) que não pode ser obtida com a técnica do cateter. • A pressão da bexiga aumenta durante a tosse, esforços e quando permanecemos em pé. Durante a gravidez, o peso do feto sobre a bexiga aumenta a pressão desta e causa frequente micção. Uma situação estressante, também pode produzir um aumento de pressão; estudando para exames finais frequentemente resulta em muitas idas ao banheiro devido ao "nervosismo". EFEITOS DA PRESSÃO DURANTE O MERGULHO 60 • Como o corpo é composto principalmente de sólidos e líquidos que são aproximadamente incompressíveis, variações externas de pressão não afetam a maioria deles. Entretanto, existem cavidades gasosas no corpo, nas quais variações repentinas de pressão podem produzir efeitos profundos. Para entender porque, devemos recordar a lei de Boyle : para uma quantidade fixa de gás numa temperatura constante, o produto da pressão absoluta e o volume é constante (PV = constante). Isto é, se a pressão absoluta é dobrada, o volume cai para a metade. • O ouvido médio é uma cavidade de ar que existe dentro do corpo. Uma situação confortável é caracterizada pela equalização da pressão no ouvido médio com a pressão do lado de fora do tímpano. Esta equalização é produzida pelo fluxo de ar através da trompa de Eustáquio, canal que liga o ouvido médio à faringe, que fica geralmente fechada,exceto ao engolir, durante a mastigação e o bocejo. Ao mergulhar, muitas pessoas têm dificuldade de obter equalização de pressão e sentem a diferença de pressão nos seus ouvidos. EFEITOS DA PRESSÃO DURANTE O MERGULHO 61 • Um diferencial de pressão de 120 mmHg pode ocorrer a cerca de 1,7 m de água, podendo causar uma ruptura no tímpano. A ruptura pode ser séria se a água fria que entrar no ouvido médio afetar o aparelho vestibular ou o mecanismo de balanço, causando náusea e vertigem. Um método de equalização, usado pelos mergulhadores, consiste em aumentar a pressão na boca segurando o nariz e tentando soprar para fora; quando a pressão se iguala o mergulhador freqüentemente "ouve" em ambos ouvidos um "estalo". • Uma condição menos séria é o compressão dos seios paranasais . Durante um mergulho, a pressão na cavidade paranasal, no crânio, geralmente equaliza com a pressão na vizinhança. Se um mergulhador estiver resfriado, a cavidade paranasal pode estar congestionada e não permitir uma equalização da pressão, causando dor. Outro efeito da pressão é a dor causada pelos pequenos volumes de ar, presos debaixo da obturação nos dentes, que expandem durante a subida. EFEITOS DA PRESSÃO DURANTE O MERGULHO 62 • A compressão dos olhos pode ocorrer quando se usa o óculos de mergulho ao invés de uma máscara; com a máscara, o ar expirado dos pulmões aumenta a pressão sobre os olhos na descida. • Se um mergulhador subaquático, numa profundidade de 10 m, segura sua respiração e vem para a superfície, o volume de ar dentro dos pulmões expandirá por um fator de dois e assim causará um sério aumento de pressão nos pulmões. Se os pulmões estão cheios até a sua capacidade máxima, uma subida de apenas 1,2 m pode causar sérios prejuízos. Todos mergulhadores subaquáticos aprendem, durante o treinamento, a evitar prender a respiração durante a subida e expirar continuamente se uma subida rápida for necessária. • A pressão nos pulmões em qualquer profundidade é maior que ao nível do mar. Isto significa que o ar nos pulmões é mais denso debaixo d'água, e as pressões parciais de todos os componentes do ar são proporcionalmente maiores. De acordo com a lei de Henry, a quantidade de gás que será dissolvida em um líquido é proporcional a pressão parcial do gás em contato com este líquido. EFEITOS DA PRESSÃO DURANTE O MERGULHO 63 • O nitrogênio do ar não desempenha qualquer papel conhecido nas funções do corpo, e é dissolvido no sangue proporcionalmente a sua pressão parcial. Um mergulhador submerso no mar respira ar numa pressão muito mais alta do que quando ele está no nível do mar. Assim, mais nitrogênio é dissolvido no sangue e nos tecidos quando um mergulhador vai mais fundo, porque a pressão do ar e, portanto a pressão parcial de nitrogênio aumenta. Quando o mergulhador sobe, o nitrogênio extra nos tecidos deve ser removido via sangue e pulmões. É um processo lento e se o mergulhador vem à superfície muito rapidamente, o nitrogênio pode causar a formação de bolhas nas suas articulações, provocando sérios problemas de câimbras. • A pressão parcial maior de oxigênio faz com que mais moléculas de oxigênio sejam transferidas para o sangue, resultando no envenenamento por oxigênio, se a pressão parcial de oxigênio ficar muito alta. Geralmente, o envenenamento por oxigênio ocorre quando a sua pressão parcial é cerca de 0,8 atm (correspondendo a uma pressão absoluta do ar de aproximadamente 4 atm), ou seja, numa profundidade de cerca de 30m. EFEITOS DA PRESSÃO DURANTE O MERGULHO 64 • Outros problemas podem ocorrer durante a subida de um mergulho. Uma das membranas que separam o ar e o sangue nos pulmões pode romper-se, permitindo que o ar vá diretamente para o fluxo sangüíneo (embolia de ar); o ar pode ficar preso sob a pele ao redor da base do pescoço ou no meio do peito; pode ocorrer também, pneumotórax (colapso dos pulmões) se o ar ficar entre os pulmões e as paredes do peito. 65 Até a próxima semana …
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