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Dilemas Atuais em Bioética

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70
Unidade II
Unidade II
3 DILEMAS ATUAIS EM BIOÉTICA
Antes de começar a falar sobre a bioética no mundo atual frente aos avanços tecnológicos e das 
ciências, vamos prestar atenção nos direitos fundamentais do indivíduo, de acordo com DUDH.
Alguns dos direitos fundamentais de todo ser humano que o progresso da ciência e da tecnologia 
deve ampliar são, segundo Garrafa (2012):
•	 acesso a cuidados de saúde de qualidade e a medicamentos essenciais;
•	 acesso à nutrição adequada e à água de boa qualidade;
•	 melhora das condições de vida e do meio ambiente;
•	 eliminação da marginalização e da exclusão de indivíduos por qualquer que seja o motivo;
•	 redução da pobreza e do analfabetismo.
O fundamento ético que devemos construir em nossa formação é tão importante quanto a estrutura 
de um prédio. Se essa estrutura não está bem fundamentada, o prédio corre o risco de rachar ou, no caso da 
bioética, de não enfrentar de maneira adequada os desafios éticos que a profissão de pesquisador pode 
trazer. Entretanto, uma vez que essa estrutura esteja bem consolidada, não é preciso lembrar dela a todo 
instante, ela fica incorporada ao desenvolvimento do trabalho dando a base para a tomada de decisão 
(JUNQUEIRA, 2011).
Mas qual é esse fundamento?
Trata‑se de reconhecer que somos diferentes uns dos outros sem, com isso, assumir que uma pessoa 
seja melhor que a outra. Apesar de sermos pessoas diferentes, com diferentes ideias, culturas e crenças, 
somos todos iguais no que se refere à dignidade.
Dessa forma, lembrando mais uma vez que beneficência quer dizer fazer o bem e não maleficência 
significa evitar o mal, sempre que alguma sugestão for proposta a alguém, esse profissional que o 
faz deve reconhecer a dignidade do paciente e considerá‑lo em sua totalidade, sob os aspectos físico, 
psicológico, social e espiritual, oferecendo‑lhe o melhor (JUNQUEIRA, 2011).
O segundo princípio que devemos utilizar como ferramenta para o enfrentamento de questões éticas é 
o princípio da autonomia, que significa dizer que a pessoa tem liberdade de decisão sobre sua vida, possui o 
71
BIOÉTICA E LEGISLAÇÃO PROFISSIONAL
poder de decidir o que é melhor para si e o quanto ela pode gerenciar sua própria vontade, livre da influência 
de outras pessoas. Para que o respeito à autonomia seja possível, duas condições são fundamentais:
•	 liberdade: ser livre para decidir, estando livre de pressões externas (pressão ou subordinação);
•	 informação: ter plena ciência de fatos relevantes a fim de que seja possível ao indivíduo 
decidir conscientemente.
As pessoas podem, em algum momento, ter dificuldade ou estar impossibilitadas de se expressar. 
Nesses casos, dizemos que sua autonomia está limitada.
O terceiro princípio (justiça) se refere à igualdade de tratamento e à justa distribuição das verbas 
do Estado para a saúde e a pesquisa, por exemplo. Por esse princípio, o direito de cada um deve ser 
respeitado (JUNQUEIRA, 2011).
Como vimos durante nossos estudos sobre a bioética, esse direcionamento ético das pesquisas 
não surgiu arbitrariamente. Infelizmente, muitas pessoas sofreram para que pudéssemos chegar 
ao que temos atualmente em termos de resoluções, discussões e proteção das pessoas envolvidas. 
A seguir, vamos relembrar alguns fatos que marcaram a história da humanidade e que foram 
fundamentais para o crescimento da bioética e pela consideração que temos pelo ser humano nos 
dias de hoje (embora, apesar dos avanços históricos, essa consideração, em muitas situações, ainda 
esteja longe de ser ideal).
O primeiro fato digno de nota é o Caso Tuskegee, quando um grupo de 600 negros portadores 
de sífilis foi observado durante 50 anos sem que fosse realizado qualquer tratamento. A intenção era 
apenas saber como ocorria o desenvolvimento natural da doença. O maior problema foi que, durante 
esse período, a penicilina (medicamento utilizado no tratamento da doença) foi descoberta e mesmo 
assim essas pessoas não foram tratadas (REVERBY, 2000).
No Brasil, destaca‑se a pesquisa sobre malária coordenada pela Universidade da Flórida e patrocinada 
pelo National Institutes of Health (NIH), dos EUA. Nesse estudo, conforme informa Lorenzo (2012), 
integrantes de comunidades negras ribeirinhas no Amapá foram submetidos a picadas de 100 anófeles 
do ambiente por dia, propositalmente, em áreas endêmicas com alto índice de infectividade, sabendo‑se 
que não havia tratamento disponível.
A biotecnologia, anos depois, entrou no mercado e criou a indústria da saúde, com consequências 
positivas e negativas. Ao mesmo tempo que as empresas farmacêuticas investem tempo e dinheiro 
em pesquisas para o desenvolvimento de novas moléculas na intenção de que elas se transformem 
em drogas poderosas e eficientes, grande parte desses estudos está sujeita à ganância, o que muito 
frequentemente leva a comportamentos pervertidos, criminosos e fraudulentos geralmente aplicados 
em países em desenvolvimento. Podemos considerar fraude inclusive a propaganda enganosa que ocorre 
mesmo quando os medicamentos ainda não passaram por todas as etapas de pesquisa sobre eficácia e 
segurança (ATLAN, 2012). A seguir, incluímos exemplos desse tipo de situação:
72
Unidade II
•	 Caso Willowbrook: injeção deliberada do vírus da hepatite em centenas de crianças 
residentes em Willowbrook (instituição para portadores de deficiência mental em Nova York). 
Os pesquisadores defenderam a pesquisa, alegando que a grande maioria das crianças, dadas 
as condições de higiene e superlotação, adquiririam o vírus da hepatite de qualquer forma 
(SAKAGUTI, 2007).
•	 O estudo da cárie dental de Vipeholm: 436 deficientes mentais, internos de um hospital da 
Suécia, receberam com frequência variável uma dieta rica em açúcar com dosagens diferentes, 
sem consentimento. O estudo iniciou‑se em 1945 e durou 8 anos, provando que a cárie dentária 
é originária da ingestão da sacarose. O estudo foi encomendado pelo próprio Governo da Suécia 
(SAKAGUTI, 2007).
•	 Câmeras com baixa pressão atmosférica: experimentos em Dachau, de março a agosto de 1942, 
no campo de concentração da Força Aérea Alemã, objetivando investigar os limites da resistência 
humana em altitudes extremamente elevadas. Os indivíduos eram colocados na câmara de baixa 
pressão e, daí em diante, a altitude ali simulada era elevada (DELLA‑ROSA, 2011).
•	 Congelamento: experimentos de agosto de 1942 a maio de 1943, também realizados em Dachau, 
com intuito de investigar os meios eficazes de tratar pessoas que tinham passado por um frio 
intenso ou sofrido um congelamento grave. Em uma série de experimentos, os indivíduos foram 
forçados a permanecer em um tanque de água gelada por períodos de até três horas. Em outra 
série de experimentos, os indivíduos foram mantidos despidos ao ar livre durante muitas horas a 
temperaturas abaixo de 0 °C (DELLA‑ROSA, 2011).
•	 Experimentos com tifo (febre maculosa): ocorridos de dezembro de 1941 a fevereiro de 1945, 
nos campos de concentração de Buchenwald e Natzweiler, para investigar a eficácia da vacina 
contra a febre maculosa. Nesses experimentos, inúmeros internos sadios foram deliberadamente 
infectados com o vírus da febre maculosa para manter o vírus vivo. Mais de 90% das vítimas 
morreram (DELLA‑ROSA, 2011).
•	 Experimentos com sulfanilamida: de julho de 1942 a setembro de 1943, foram realizados 
para investigar a eficácia da sulfanilamida no campo de concentração de Ravensbrueck, onde 
os prisioneiros tinham seus ferimentos infectados com bactérias. Para interromper a circulação 
do sangue, atavam‑se os vasos sanguíneos em ambas as extremidades do ferimento para criar 
uma condição semelhante àquela de um ferimento em campo de batalha. A infecção era tratada 
com sulfanilamida e outras drogas a fim de determinar sua eficácia. Alguns indivíduos morreram 
em consequência desses experimentos e outros sofreram lesão grave, além de intensa agonia 
(DELLA‑ROSA, 2011).
•	 Experimentos com veneno: de 1943 a 1944 foram conduzidos experimentos no campode 
concentração de Buchenwald para investigar o efeito de vários venenos nos seres humanos. 
Os venenos foram secreta e experimentalmente administrados em pessoas por meio de sua comida 
(DELLA‑ROSA, 2011).
73
BIOÉTICA E LEGISLAÇÃO PROFISSIONAL
3.1 Bioética, biodireito
Segundo Diniz (2010), a bioética, num sentindo mais amplo, deveria tratar não só dos problemas éticos 
relacionados com as situações advindas da ciência (sejam eles do âmbito da saúde ou das tecnociências 
biomédicas) como também dos decorrentes da degradação do meio ambiente, desequilíbrio ecológico e 
do uso de armas químicas.
Novas tecnologias, como clonagem, reprodução assistida e alimentos transgênicos, entre outras, 
acabam suscitando questões relacionadas à segurança biológica e aos valores morais. Nessas situações, 
a bioética é ideal para avaliar os benefícios, desvantagens e consequências que esses avanços poderiam 
causar para a humanidade (PEREIRA et al., 2013).
A bioética possui postulados máximos que revelam aspectos da moralidade atual. Esses postulados 
são conhecidos como princípios.
 Lembrete
Lembre‑se dos quatro princípios básicos da bioética: autonomia, 
beneficência, não maleficência e justiça. Eles são de vital importância.
Os princípios são normas, diretrizes, que objetivam expressar valores importantes para a sociedade. 
Huxley (2009) salienta que os princípios não seguem a ideia de tudo ou nada, como ocorre com as 
regras. Quando existe um embate entre dois princípios, a solução possível de ser aplicada pode, inclusive, 
desconsiderar um desses princípios em detrimento do outro. No caso de uma regra, mesmo quando ela 
não é aplicada, não deixa de existir e continua apta a solucionar outra situação.
O biodireito surge como um estudo sistemático, diretamente interligado à bioética, que objetiva a 
criação de normas para regulamentar as condutas humanas geradas a partir do crescente avanço 
técnico‑científico e biotécnico‑científico. O biodireito possui princípios autônomos, assim como regras, e 
leva em consideração as normas constitucionais brasileiras, por fazer parte do ordenamento jurídico pátrio.
Assim como a bioética, o biodireito possui, conforme explicam Pereira et al. (2013), quatro princípios:
•	 Princípio da precaução: limita a ação do profissional, que deve estar atento aos riscos da atividade 
exercida e, frente a um risco grave ou irreversível, deve tomar todas as medidas necessárias.
•	 Princípio da responsabilidade: está relacionado ao dever jurídico de cumprir os termos acordados. 
Essa responsabilidade acontece junto ou separadamente nos âmbitos administrativo, penal e/ou cível.
•	 Princípio da autonomia privada: a pessoa tem a autonomia, a liberdade de decidir por si, de 
modo a definir seu próprio comportamento.
•	 Princípio da dignidade da pessoa humana: garantia do total desenvolvimento do ser humano, 
tanto no âmbito psíquico como no físico.
74
Unidade II
3.2 Biotecnologia x bioética
Como a bioética implica novas maneiras de lidar com doenças e interferências genéticas, a vida no 
planeta Terra também acaba sendo profundamente atingida por essa ciência.
Embora os avanços biotecnológicos proporcionem evoluções nas áreas da saúde, do meio ambiente, 
da industrialização de alimentos e da agropecuária, ocasionam também dilemas bioéticos. Um exemplo 
disso é o desenvolvimento da tecnologia do DNA recombinante (engenharia ou manipulação genética), 
em 1953, provavelmente o fato de maior impacto na área da bioética. Em decorrência deles, várias 
questões de difícil solução surgiram:
•	 utilização do teste de identidade pelo DNA;
•	 produção de alimentos transgênicos;
•	 clonagem;
•	 reprodução assistida.
Isso, apenas para citar alguns exemplos. Para lidar com todas essas questões, que são novas, o 
Conselho Nacional de Saúde criou as resoluções específicas para determinadas áreas de conhecimento, 
como as RDC n. 340/2004, que regulamenta a pesquisa em genética humana, e a RDC n. 347/2005, 
sobre a utilização de material biológico humano em pesquisa. Todas essas resoluções foram elaboradas 
pelo Ministério da Saúde e pelo Conselho Nacional da Saúde na Resolução n. 196/1996, que se manteve 
vigente até agosto de 2013, quando foi substituída pela Resolução n. 466/2012.
3.3 Paciente terminal
O Brasil está repetindo a tendência da maioria dos países, nos quais a pirâmide populacional está se 
invertendo. As projeções feitas para 2050 mostram que o planeta abrigará 21,1% de pessoas idosas, sendo 
que em nosso país a estimativa é de que 23,6% desses idosos permaneçam no convívio social (SIQUEIRA, 
2011). Portanto, discussões, ensinamentos e experiências sobre morte, terminalidade, cuidados paliativos 
e todos os dilemas bioéticos em que esses assuntos são envolvidos devem ser passados aos futuros 
profissionais da área da saúde, em especial àqueles que enfrentarão essas situações cotidianamente.
No decorrer dos anos, houve uma mudança bastante grande em relação à maneira como lidamos com a 
morte. De acordo com Araújo (2011), “somos o único ser vivo a pensar a própria existência e, consequentemente, 
na morte, o que justifica as mudanças encontradas nos rituais e nos mitos ao longo dos anos”.
3.3.1 A morte, as crenças e a modernidade
Na cultura hindu é praticada a incineração crematória. Os mortos são cremados em uma pira aberta, 
acesa pelo filho mais velho do falecido. As cerimônias fúnebres representam um rito de passagem para 
o absoluto, o eterno, o nirvana e a paz. Os hindus, assim como os espíritas, creem na reencarnação.
75
BIOÉTICA E LEGISLAÇÃO PROFISSIONAL
O cristianismo abrange todas as religiões que professam os preceitos deixados por Jesus Cristo, 
o que inclui os católicos, os evangélicos, os pentecostais, os ortodoxos e os espíritas. Os rituais de 
morte e luto dos cristãos são similares; fazem parte dos ritos: unção, velório, enterro e orações 
(cultos e missas).
Os judeus e os cristãos veem a morte como uma passagem para a vida eterna, com a presença de 
Deus (GIACOIA JÚNIOR, 2005). De qualquer modo, as religiões acabaram se tornando um tipo de refúgio 
da morte. Independentemente da crença, as religiões trazem a ideia de uma vida pós‑morte.
Foi a partir da era industrial (séculos XIX a XXI) que o poder tecnológico e científico começou a se 
desenvolver. Os homens foram se distanciando dos ciclos naturais da vida. A morte passou a ser uma 
inimiga a ser combatida e sua chegada, a ser temida com mais angústia (COMBINATO; QUEIROZ, 2006).
O local da morte também mudou. Antes os doentes eram tratados em casa e a morte, 
consequentemente, ocorria no ambiente familiar. Por conta disso, todas as pessoas que conviviam com 
o doente acabavam compartilhando essa experiência, inclusive as crianças. A morte era vista como 
a finalização de um ciclo. Atualmente, por outro lado, a morte (ou parte desse processo) ocorre em 
hospitais, que em sua grande maioria são ambientes frios, isolados, com luz artificial e onde as visitas 
são monitoradas e restritas, segundo nos informa Boccatto (2007). Isso acaba tendo como efeito isolar 
o paciente no momento final da vida, afastando‑o do convívio familiar – e a morte, então, passa a ser 
vista como uma falha dos tratamentos médicos, gerando revolta na população, que passa a exigir a cura 
como se isso fosse fácil de ser conseguido.
Vejamos mais detalhadamente o que algumas das principais religiões – mas não as únicas – dizem 
sobre o assunto:
Catolicismo
Uma das principais religiões do mundo, o catolicismo é veementemente contra a eutanásia e em 
raríssimos casos aceita a ideia da ortotanásia.
Os suicidas não têm autorização de serem enterrados em solo considerado sagrado e seus corpos 
no ato do enterro são sepultados em locais separados e, com isso, a família, já discriminada pelo ato do 
morto, fica ainda mais marginalizada, o que constitui violação do princípio bioético da justiça.
Para os católicos, apenas Deus tem o poder de vida e de morte sobre uma pessoa, cabendo aos 
médicos e familiares a assistênciaao paciente até o fim, sem interferências no sentido de abreviar 
o sofrimento.
O líder espiritual dos católicos é representado pelo Papa, e a religião possui forte hierarquia. Não se 
acredita em reencarnação no catolicismo, embora exista a crença na ressurreição, que é a volta de todos 
os mortos, em carne e osso, apenas no dia do Juízo Final.
76
Unidade II
Figura 11 – Jesus na cruz, representando a fé católica
Budismo
Existe no budismo a noção de reencarnação posterior à morte física do corpo. Para o pensamento 
budista, são inúteis e contraproducentes os choros e as lamentações dos familiares e amigos nos 
momentos que antecedem ou logo após a morte da pessoa. São considerados muito importantes grandes 
períodos de silêncio para o doente poder fazer suas meditações e seus rituais sem ser incomodado 
(RINPONCHE, 1999).
Antes de o doente emitir seu último suspiro, o acompanhante deve dar, suavemente e com a ponta 
do indicador direito, uma sucessão de pequenos toques exatamente no centro do topo da cabeça do 
recém‑falecido, para atrair seu foco de atenção para o chamado chacra coronário, que ali se localiza e 
por onde se acredita que o espírito deixe o corpo (RINPONCHE, 1997). Podem ser usados também alguns 
itens específicos, que são colocados no topo da cabeça, a fim de atrair a consciência para o chacra 
coronário, mas não se deve tocar em nenhum outro local do corpo nesse momento, o que seria um 
desrespeito às crenças do moribundo (e, portanto, a sua autonomia). Também haveria uma quebra do 
princípio bioético da não maleficência, pois, pela visão do budista, se estaria causando mal ao paciente 
e prejudicando‑o na sua preparação para uma posterior reencarnação.
77
BIOÉTICA E LEGISLAÇÃO PROFISSIONAL
Os budistas não apoiam a ideia do suicídio assistido ou o uso de medicamentos que prolonguem a 
vida, mas que mantenha o paciente inconsciente, pois acreditam que a pessoa deve estar consciente 
para a realizar o rito de passagem.
Após a declaração do óbito, os budistas optam pelo rito funerário de cremação do corpo.
Figura 12 – Estátua de Buda em Kamakura, Japão
Espiritismo
O espiritismo, tido por uns como religião, e por outros, como doutrina, compreende a morte como 
parte integrante e natural da vida, sendo ela sempre ligada ao carma da pessoa.
Considera que cada ser é responsável pela sua evolução, acreditando na reencarnação do espírito 
em outro corpo humano ou animal. No espiritismo, não se admite a eutanásia e nem a ortotanásia, pois 
acredita‑se que cada ser deva estar em constante processo de evolução e que, portanto, deve estar apto 
a aceitar todas as etapas necessárias para que isso ocorra até o último instante de vida.
O rito funerário é do enterro, admitindo‑se a cremação unicamente após 3 dias do óbito, de forma 
que o espírito possa ter se “desligado” do corpo terreno.
78
Unidade II
 Saiba mais
Os filmes a seguir podem propiciar uma inter‑relação com os conteúdos 
dessa unidade:
O PEQUENO Buda. Direção: Bernardo Bertolucci. França; Reino Unido; 
Liechtenstein; Itália: Recorded Picture Company, 1993. 141 min.
KARDEC: a história por trás do nome. Direção: Wagnes de Assis. Brasil: 
Sony Pictures Etertainment, 2019. 110 min.
JARDIM das folhas sagradas. Direção: Pola Ribeiro. Brasil, 2011. 138 min.
Religiões africanas
As três principais religiões africanas diferem das chamadas religiões monoteístas, e suas tradições 
são passadas de forma oral e o aprendizado ocorre por meio da prática cotidiana dos rituais. São de 
matrizes africanas, mas com similaridades católicas, causadas pela adaptação que os escravos precisaram 
fazer, uma vez que o catolicismo era a única religião permitida na época da escravidão e qualquer outra 
manifestação religiosa era condenada e punida (PORFÍRIO, 2019).
 Observação
Monoteísmo (do grego mono – único – e theós – deus –, significando 
único deus) é a crença na existência de apenas um deus, e a divindade é 
onipresente, onisciente e onipotente.
• Candomblé: a designação candomblé é mais popular na Bahia, já macumba é a denominação 
utilizada no Rio de Janeiro, e Xangô, no Recife. Entretanto, em muitos estados brasileiros a 
denominação macumba normalmente não é adotada pelos seguidores do candomblé, por 
apresentar conotação pejorativa não aceita por seus seguidores.
O sacerdócio é exercido pelo Babalorixá (se homem) ou pela Yalorixá (se mulher), sendo a hierarquia 
rígida e pré‑estabelecida. Os rituais envolvem música, dança e comida em homenagem aos orixás, 
com a ausência de álcool e tabaco.
Peça fundamental dessa religião é o terreiro, local onde existem os altares em homenagem a cada 
orixá, os quais têm um dia específico e mesmo alimentos próprios que devem ser ofertados em 
honra, vão sendo designados como oferendas.
79
BIOÉTICA E LEGISLAÇÃO PROFISSIONAL
O candomblé acredita que as práticas realizadas contribuem para o objetivo de desenvolvimento 
espiritual do praticante.
• Umbanda: palavra originada do dialeto quimbunda, que significa curandeirismo ou arte da cura, 
a umbanda iniciou‑se no Brasil em 1908. É uma religião afro‑brasileira que sincretiza elementos 
dos cultos africanos com elementos das religiões indígenas, do catolicismo e do espiritismo.
 Observação
Sincretismo, no sentido religioso, significa a fusão de diferentes cultos 
ou doutrinas religiosas, permitindo a reinterpretação de seus elementos.
O sacerdócio é exercido pelo pai de santo (se homem) ou pela mãe de santo (se mulher), e suas 
entidades possuem forte ligação terrena, onde manifestam‑se durante o chamado “trabalho”, 
quando ocorre a incorporação da entidade no terreiro durante o ritual. Os espíritos (ou entidades) 
têm uma ligação muito forte com a vida terrena, por isso, apresentam predileção por vícios, como 
fumo de cachimbo, charuto, cigarros e álcool.
São nove os orixás cultuados pelo Umbanda: Oxalá, Ogum, Oxóssi, Ogum, Iemanjá, Iansã, Xangô, 
Nana Buruquê e Obaluaê/Omulú, cada um com suas características específicas.
Acredita‑se na reencarnação e que somente a prática da caridade permite a evolução do espírito.
• Quimbanda: a palavra quimbanda tem origem na língua umbundu, de origem angolana, e o 
sacerdote que o pratica é chamado de Tata Kimbanda.
Essa vertente acredita que a moral não pode ser um ponto de obstáculo ao que se deseja obter, 
e que se uma pessoa deseja algo, não precisa se restringir em função de padrões morais, sociais 
ou culturais.
Suas entidades vibram em matas, cemitérios e encruzilhadas e seus guardiões são os Exus e as 
Pombajiras. Muitas vezes associada à prática de rituais dito malignos, mesmo que erroneamente, 
pois suas ditas entidades são mais próximas dos humanos e, dessa forma, apresentam os mesmos 
defeitos e qualidades que nós.
Resumidamente, os adeptos das correntes religiosas de matriz africana acreditam que o espírito 
do morto fica rondando o corpo, mas aceitam as decisões médicas de morte cerebral, não 
têm restrições ao transplante de órgãos e, diferentemente dos budistas, não acreditam que a 
manipulação do cadáver possa atrapalhar ou influenciar o espírito no post mortem.
Portanto, podemos notar que houve uma grande mudança com relação à morte e ao modo de 
encará‑la. As pessoas passaram a temer esse fato e fugir dele. Como consequência, os homens, a todo 
custo, querem permanecer jovens e, para tanto, fizeram muitos avanços no campo da ciência. A morte e 
80
Unidade II
o processo de envelhecimento estão ficando cada vez mais distantes de nosso cotidiano, o que faz com 
que o ser humano pare de enxergar esse processo como um ciclo natural da vida.
Segundo Kübler Ross (1989), o processo de morrer passa por cinco fases, que não ocorrem de forma 
ordenada e não são excludentes, visto que podem se misturar e ter períodos de duração diferentes sem, 
contudo, que uma seja mais importante que a outra. São elas:
1 – Negação e isolamento: são mecanismos de defesa temporários 
do ego contra a dor psíquica diante da morte. A intensidade e 
duração desses mecanismos de defesadependem de como a 
própria pessoa que sofre e as outras pessoas ao seu redor são 
capazes de lidar com essa dor. Em geral, a negação e o isolamento 
não persistem por muito tempo.
2 – Raiva: a raiva normalmente surge devido à impossibilidade 
do isolamento. Os relacionamentos se tornam problemáticos e 
todo o ambiente é hostilizado pela revolta de quem sabe que 
vai morrer. Junto com a raiva, também surgem sentimentos de 
revolta, inveja e ressentimento.
3 – Barganha: tendo deixado de lado a negação, o isolamento e 
a raiva, a pessoa entra na fase da barganha. A maioria dessas 
barganhas é feita com Deus e, normalmente, mantidas em segredo.
4 – Depressão: normalmente ocorre quando o paciente toma 
consciência de sua debilidade física, quando já não consegue 
negar suas condições de doente, quando as perspectivas da morte 
são claramente sentidas. Evidentemente, trata‑se de uma atitude 
evolutiva. Surge então um sentimento de grande perda.
5 – Aceitação: nesse estágio, o paciente já não experimenta o 
desespero e nem nega sua realidade. Esse é um momento de repouso 
e serenidade que ocorre quando a pessoa reconhece sua mortalidade 
e a proximidade do fim.
 Observação
Nesses casos, a depressão assume um quadro clínico característico: 
desânimo, desinteresse, apatia, tristeza, choro.
Sobre a dificuldade comum de lidar com a morte, é muito ilustrativo o trecho de um poema de Mario 
Quintana (2005, p. 44) sobre a morte:
81
BIOÉTICA E LEGISLAÇÃO PROFISSIONAL
Esta vida é uma estranha hospedaria,
De onde se parte quase sempre às tontas,
Pois nunca as nossas malas estão prontas,
E a nossa conta nunca está em dia.
Nesse momento você deve estar se perguntando: mas o que é que esse assunto de morte tem a ver 
com a bioética?
Bom, estamos chegando ao ponto... Um pouco mais de paciência.
3.3.2 Paciente terminal x bioética
Figura 13 – Imagem de necrotério
É imprescindível relacionar os quatro princípios da bioética com os pacientes terminais, mas antes 
de fazê‑lo é necessário ter esse último conceito bem claro. O paciente terminal é aquele cuja condição é 
irreversível, independentemente de ser tratado ou não. Esse paciente apresenta uma alta probabilidade 
de morrer num período relativamente curto.
Como, conforme já discutido, todos devem ser respeitados no que expressam os quatro princípios da 
bioética, vale a pena examinar melhor como eles definem esses direitos no caso dos doentes terminais. 
A beneficência prevê a importância de evitar intervenções que resultem em um sofrimento maior do que 
o eventual benefício ao paciente, enquanto a não maleficência assevera que, para essa população, devem 
ser evitadas intervenções que de algum modo possam causar desrespeito à dignidade do paciente como 
pessoa. Já a autonomia fica restrita às possibilidades do paciente, que nem sempre está em condição de 
fazer escolhas; devido a isso, a autonomia pode acabar sendo tratada de forma secundária em relação 
à beneficência ou não maleficência. Por fim, a justiça define que deve ser respeitado o princípio da 
82
Unidade II
equidade e disponibilizados para o paciente todos os tratamentos pertinentes ao seu caso, de acordo 
com as decisões tomadas por ele ou por seu representante legal.
3.3.3 Eu posso escolher como morrer?
Etimologicamente, a palavra eutanásia se origina do grego eu, que significa bom, e thanatos, que 
significa morte, o que quer dizer boa morte, termo que remete a um óbito sem sofrimento.
A eutanásia foi muito realizada na Antiguidade e era considerada uma prática natural para com as 
pessoas que nasciam com problemas físicos ou mentais. Essas pessoas eram mortas para que não sofressem.
No entanto, após a Segunda Guerra Mundial, a eutanásia passou a ter uma conotação negativa, 
visto que foi responsável pelo extermínio de 80 mil a 100 mil pessoas.
Sobre o assunto, é emblemática a figura de um médico muito famoso, Dr. Jack Kerkorkian, que 
ficou conhecido como Doutor Morte. Esse patologista americano estava convencido de que o suicídio 
assistido deveria ser liberado e passou sua vida lutando por esse direito.
 Saiba mais
Para saber mais sobre a vida do Dr. Morte, assista ao filme:
VOCÊ não conhece o Jack. Direção: Barry Levinson. EUA: HBO, 2010. 
134 min.
A eutanásia é uma prática permitida na Holanda, Bélgica, Suíça e no Oregon (EUA), desde que siga 
alguns critérios. Para que a eutanásia possa ser efetivada, o paciente deve:
•	 reafirmar o pedido várias vezes;
•	 ser adulto;
•	 estar mentalmente capaz;
•	 apresentar dor e sofrimento intolerável, tanto físico quanto psiquicamente;
•	 é necessária a presença de dois médicos para garantir a legitimidade do sofrimento e a 
irreversibilidade do quadro.
Existem algumas práticas que acabam sendo confundidas com a eutanásia. Vamos definir cada uma 
delas e veremos também quais são os códigos (leis) que tratam dessas situações. A distanásia tem origem 
83
BIOÉTICA E LEGISLAÇÃO PROFISSIONAL
grega: dis (duas vezes) e tánatos (morte), ou seja, “morte dupla”. Ela acabou se tornando um problema 
ético de primeira grandeza. À medida que os progressos científicos interferem nas fases finais da 
vida humana, uma reflexão ética passou a ser exigida, já que o homem traz para si a responsabilidade 
de não conseguir curar e ter que manter a vida a todo custo.
A distanásia também é conhecida como obstinação terapêutica ou rotulada como futilidade médica. 
Nessa situação, os médicos (e familiares) não conseguem aceitar a morte do paciente e continuam 
mantendo‑o vivo com o uso de aparelhos e, às vezes, são solicitados exames e outros procedimentos 
que, além de não beneficiar em nada o paciente, são dispendiosos, desconfortáveis e não resgatam a 
saúde (PARKIN; BRAY; DEVESA, 2001).
Já a ortotanásia vem do grego órtos (certo) e tánatos (morte): morte correta. A ortotanásia também 
é conhecida como eutanásia passiva. Nessa prática, os médicos oferecem apoio profissional e afetivo 
para o paciente terminal, permitindo que a morte ocorra com tranquilidade (KOVÁCS, 2003).
A especialidade médica que cuida de pacientes nessa fase é a Medicina Paliativa, que oferece ao 
doente todos os recursos necessários a fim de evitar o sofrimento.
3.3.4 A terminalidade e as legislações
Como vimos até agora, muita coisa mudou com relação à morte, ao local onde ela ocorre e até 
mesmo com relação às formas de morrer. Com tantas mudanças, as legislações competentes também 
precisaram se adaptar, conforme veremos a seguir.
Em 2009, a Medicina brasileira ganhou um novo Código de Ética Médica: a Resolução CFM n. 1.931/2009, 
com 25 princípios, que entrou em vigor em 13 de abril de 2010. O último código de ética médica datava de 1988 
e, como se pode esperar, um código mais adaptado à nova realidade era essencial (PESSINI; HOSSNE, 2010).
A principal mudança no Código de Ética Médica (CEM), nesses anos, ocorreu na relação entre médico 
e paciente, que passou a ser mais de parceria e menos de paternalismo. O paciente pode e deve emitir 
sua opinião e o médico deve orientá‑lo sobre os melhores tratamentos que existem para que ele possa 
escolher. O indivíduo passa a ser o eixo central, com direito a uma sobrevida que, dure o tempo que for, 
deve ter a melhor qualidade possível (PESSINI; HOSSNE, 2010).
Além disso, o paciente passa a ser visto integralmente, com todos os sentimentos e expectativas que 
lhe são característicos, e não apenas como um órgão que precisa ser tratado ou uma doença que precisa 
ser curada.
 Lembrete
Nas pesquisas clínicas com seres humanos, aconteceu algo parecido. 
Foi depois de 1964 (Declaração de Helsinki) que o participante passou a ser 
o principal foco dos estudos.
84
Unidade II
O código de ética médica de 2009 deve ser norteado pelos princípios bioéticos que estão incorporados 
a ele, ou seja: a autonomia, a beneficência, a justiça, e a não maleficência.
Pelo código, é vetado ao médico:
•	 deixar de obter consentimento do paciente ou de seu representante legal sobre o procedimento 
que será realizado. Esse consentimentosó deverá ser obtido após o médico esclarecer ao paciente 
todas as dúvidas que houver. Caso o doente se encontre em caso de risco iminente de morte, a 
obtenção do consentimento deixa de ser prioridade (CFM, 2009);
 Lembrete
Veto, em direito, é a oposição de um órgão, pessoa ou autoridade, que 
possui essa competência, a uma deliberação, causando um impedimento. 
Ou seja, vetar é proibir/não permitir.
•	 deixar de garantir ao paciente o exercício do direito de decidir livremente sobre sua pessoa ou 
seu bem‑estar. O doente passa a ter o direito inclusive de não querer mais se submeter aos 
tratamentos e, nesse caso, o médico tem a obrigação de continuar cuidando dele da melhor 
maneira possível e evitando o sofrimento (CFM, 2009);
•	 abandonar o paciente sob seus cuidados. “O médico não abandonará o paciente por ser este 
portador de moléstia crônica ou incurável e continuará a assisti‑lo, ainda que para cuidados 
paliativos, salvo por motivo justo comunicado ao paciente ou aos seus familiares” (CFM, 2009);
•	 abreviar a vida do paciente, ainda que a pedido deste ou de seu representante legal. Nos casos de 
doença incurável e terminal, cabe ao médico oferecer todos os cuidados paliativos disponíveis a 
seu paciente sem empreender ações diagnósticas ou terapêuticas inúteis ou obstinadas, levando 
sempre em consideração a vontade expressa do paciente ou, na sua impossibilidade, a de seu 
representante legal (PESSINI; HOSSNE, 2010);
•	 a eutanásia, prática pela qual se abrevia a vida de um enfermo incurável, de maneira controlada 
e assistida por um especialista. Pelo novo código, a eutanásia ainda é considerada crime, mas o 
documento introduz a ideia de que na impossibilidade de cura, a oferta de cuidados paliativos 
deve ser feita tendo o paciente como foco e ele tem o direito de escolher se quer ou não ter uma 
sobrevida com mais qualidade mesmo que por menos tempo (PESSINI; HOSSNE, 2010);
•	 a distanásia, prática pela qual se prorroga, por meios artificiais e desproporcionais, a vida de um 
enfermo incurável, conhecida também como obstinação terapêutica;
•	 a ortotanásia, termo utilizado pelos médicos para definir a morte natural sem interferência da 
ciência, permitindo ao paciente morte digna, sem sofrimento, deixando a evolução e o percurso 
da doença serem cumpridos. Dessa forma, os métodos extraordinários de suporte à vida, como 
85
BIOÉTICA E LEGISLAÇÃO PROFISSIONAL
medicamentos e aparelhos em pacientes incuráveis, passou a ser legalizado desde que o CEM, 
em 2006, publicou que “na fase terminal de enfermidades graves e incuráveis é permitido ao 
médico limitar ou suspender procedimentos e tratamentos que prolonguem a vida do doente, 
garantindo‑lhe os cuidados necessários para aliviar os sintomas que levam ao sofrimento, na 
perspectiva de uma assistência integral, respeitada a vontade do paciente ou de seu representante 
legal” (CFM, 2006).
 Observação
Em 2006, quando a ortotanásia passou a ser prevista no CEM, houve 
muita contestação judicial, pois essa prática foi confundida com eutanásia.
É responsabilidade do médico (CFM, 2012a):
•	 não definir diretivas antecipadas de vontade, como o conjunto de desejos, prévia e expressamente 
manifestados pelo paciente, sobre cuidados e tratamentos que quer ou não receber, no momento 
em que estiver incapacitado de expressar, livre e autonomamente, sua vontade;
•	 garantir que as diretivas antecipadas do paciente prevalecerão sobre qualquer outro parecer não 
médico, inclusive sobre os desejos dos familiares;
•	 registrar, no prontuário, as diretivas antecipadas de vontade que lhes foram diretamente 
comunicadas pelo paciente.
Não sendo conhecidas as diretivas antecipadas de vontade do paciente, nem havendo representantes 
disponíveis, o médico recorrerá ao Comitê de Bioética da instituição, caso exista, ou, na falta deste, à 
Comissão de Ética Médica do hospital ou ao Conselho Regional e Federal de Medicina para fundamentar 
sua decisão sobre conflitos éticos, quando considerar tal medida necessária e conveniente.
Convém ainda falar de documentos que têm papel importantíssimo na condução apropriada de uma 
situação de conflito ético:
•	 diretiva antecipada de vontade ou testamento vital: o documento permite que a pessoa 
transmita decisões sobre cuidados em fim de vida quando ainda estiver possibilitada e consciente 
para isso.
Em alguns países, dois documentos garantem aos pacientes o respeito a seus desejos:
•	 testamento vital: documento em que a pessoa determina, de forma escrita, os tratamentos 
que deseja ou não receber. No Brasil, a legitimidade desse documento também passou a ser 
reconhecida pelos médicos;
•	 mandato duradouro: o paciente escolhe uma pessoa para decidir em seu nome.
86
Unidade II
Esses documentos respeitam a autonomia dos pacientes, possibilitando um final de vida mais digno. 
O Estado de São Paulo, em 1999, apresentou uma legislação pioneira que versava sobre os direitos dos 
usuários dos serviços e das ações de saúde. A Lei Estadual n. 10.241 estabelece que o usuário tenha 
direito à autonomia sobre seu tratamento, podendo “consentir ou recusar, de forma livre, voluntária e 
esclarecida, com adequada informação, procedimentos diagnósticos ou terapêuticos” (SÃO PAULO, 1999).
3.3.5 Casos famosos
No decorrer da história, alguns casos famosos sobre eutanásia, distanásia e ortotanásia repercutiram 
publicamente, o que levou a sociedade a refletir sobre o assunto e a cada vez exigir melhores legislações 
sobre essa temática tão delicada. Na sequência serão citados alguns dos casos mais conhecidos.
3.3.5.1 Terri Schiavo
Um dos casos mais recentes de eutanasia é o de Theresa Marie (Terri) Schindler‑Schiavo, de 41 anos. 
Em 1990 ela teve uma parada cardíaca, o que a privou por pelo menos cinco minutos de fluxo sanguíneo 
cerebral, deixando‑a em estado vegetativo.
O marido de Terri entrou na justiça pedindo que os aparelhos que mantinham a esposa viva fossem 
desligados (sonda de alimentação e hidratação). Os pais e familiares de Terri eram contrários a tal medida e 
recorriam à Justiça toda vez que o marido de Terri conseguia obter a autorização para desligar os aparelhos.
Somente em 19 de março de 2005 a sonda pôde ser retirada de Terry, que permaneceu sem ela até 
o momento de sua morte, 12 dias depois.
Quando esse caso foi relatado na imprensa leiga, foi caracterizado como uma situação de eutanásia, 
entretanto, pode ser facilmente enquadrado como sendo uma suspensão de medida terapêutica.
3.3.5.2 Eluana Englaro
A italiana sofreu um grave acidente automobilístico em 1992 e sua família teve de atravessar 
uma longa e ruidosa batalha na Justiça. O caso chegou a gerar uma crise política na Itália. Além de 
se recusar a assinar o decreto‑lei criado por Berlusconi para impedir a eutanásia de Eluana, aprovada 
em novembro pela máxima corte de justiça italiana, o presidente Giorgio Napolitano taxou a atitude 
do colega de inconstitucional.
Em seu pedido à Justiça, a família afirmou que levar Eluana à morte atenderia a vontade da paciente, 
que morreu em 9 de fevereiro de 2009, aos 38 anos, 17 dos quais passados em estado vegetativo.
3.3.5.3 Karen Ann Quilan
Considerado o marco sobre a discussão de eutanásia, Karen Ann Quinlan tinha 22 anos quando, em 
15 de abril de 1975, entrou na emergência do Newton Memorial Hospital, de Nova Jersey/EUA, após 
ingerir bebida alcóolica com medicamentos para emagrecer, em estado de coma. Dez dias depois, foi 
87
BIOÉTICA E LEGISLAÇÃO PROFISSIONAL
transferida para o Hospital St. Clair, de Nova Jersey. Os pais adotivos, Joseph e Julia Quinlan, tendo as 
informações da irreversibilidade do caso e após conversarem com seu pároco, solicitaram a retirada do 
respirador, a qual foi negada pelo médico.
A família foi à justiça solicitar a autorização para suspender todas as medidas extraordinárias, 
alegando que a paciente havia manifestado, anteriormente, que não gostaria de ficar viva se mantida 
por aparelhos. O juiz responsável pelo caso não autorizoua retirada dos aparelhos.
A família apelou para a Suprema Corte de Nova Jersey, que designou o Comitê de Ética do Hospital 
St. Clair como responsável para estabelecer o prognóstico da paciente e assegurar que ela nunca seria 
capaz de retornar a um “estado cognitivo sapiente”. O Comitê não existia, até então. O juiz presumiu, 
erradamente, que a maioria dos hospitais americanos possuíam comitês de ética. O comitê foi criado 
e deu parecer de irreversibilidade. Em 1976, a Suprema Corte de Nova Jersey concedeu, por sete votos 
a zero, o direito da família em solicitar o desligamento dos equipamentos de suporte extraordinários. 
Após isso, a paciente sobreviveu mais 9 anos, sem o uso de respirador e sem qualquer melhora no seu 
estado neurológico.
Exemplo de aplicação
Nos dias atuais, é bastante comum a propaganda de que apenas corpos magros e perfeitos 
correspondem ao padrão de beleza físico aceitável. Imagine que uma pessoa de sua família ou você 
mesmo misturasse álcool e medicamentos para emagrecer não prescrito por um médico, portanto, de 
forma indevida, e por essa razão, mesmo socorrida, entrou em estado de coma.
Qual seria seu posicionamento após os médicos informarem que esse coma é irreversível? Manteria 
a pessoa ligada a equipamentos para sempre? Solicitaria o seu desligamento? Se fosse você em estado 
de coma, gostaria que sua família tomasse que posicionamento?
3.4 Clonagem
A definição de “clone” é população de moléculas, células ou organismos provenientes de uma única 
célula, idênticas à original. Portanto, a clonagem é uma cópia de células e de organismos feitos a partir 
de um que já existe.
O caso mais famoso de clonagem foi o da ovelha Dolly, quando a clonagem de um mamífero se 
tornou possível, abrindo a possibilidade de clonagem do ser humano. Desde então, o médico cientista 
Salvatore Antinori assombra o mundo falando em clonar um ser humano (DELLA‑ROSA, 2011).
Resumidamente, vejamos as etapas de uma clonagem:
•	 isolar uma célula;
•	 retirar o núcleo;
88
Unidade II
•	 adicionar uma segunda célula;
•	 multiplicar essa célula repetidamente até que seja constituído um novo organismo.
No estudo da bioética atual, dois tipos de clonagem são considerados: a reprodutiva e a terapêutica. 
A primeira tem o objetivo de gerar cópias de outros seres. Nesse caso, um óvulo enucleado, (com o 
núcleo que contém o material genético que se quer clonar) acaba se comportando como um zigoto, 
que ao ser inserido no útero (barriga de aluguel) formará um ser com as mesmas características físicas. 
Quando essa técnica é aplicada a humanos, é condenada quase que unanimemente pelos cientistas.
Já a clonagem terapêutica tem o objetivo de fabricar tecidos ou órgãos apenas. O processo é 
semelhante ao da clonagem reprodutiva, mas em vez de a célula ser inserida no núcleo, ela é colocada 
em uma placa de vidro para ser cultivada. Essas células acabam se multiplicando e gerando muitas 
outras iguais e totipotentes que podem ser implantadas em tecidos e órgãos para regenerá‑los ou 
mesmo para gerar um novo tecido ou órgão. Essa prática não gera tanta rejeição quanto a primeira.
 Observação
Células totipotentes possuem a capacidade de gerar todos os 
tipos de células e tecidos do corpo, incluindo tecidos embrionários e 
extraembrionários (como a placenta, por exemplo).
A clonagem humana está sujeita a todas as observações éticas e 
jurídicas que a condenaram amplamente, pois é uma manipulação do ser 
humano (biológica e pessoal).
A clonagem humana enfrenta alguns problemas, como, por exemplo, a instabilidade genética, 
que pode resultar em deficiência ao desenvolvimento fetal, advindo consequentemente problemas 
fisiológicos de difícil reparação.
Devemos lembrar que a clonagem humana está sujeita a todas as observações éticas e jurídicas que 
a condenaram amplamente, pois é uma manipulação do ser humano (biológica e pessoal).
A clonagem reprodutiva humana já é consolidada, tanto em âmbito nacional como internacional, 
como prática que afronta o princípio da dignidade da pessoa humana e os direitos à vida, à identidade, à 
imagem e à não discriminação, razão pela qual é vedada internacionalmente pela Declaração universal do 
genoma humano e dos direitos humanos de 1997 e, no Brasil, pela Lei n. 11.105/05, a Lei de Biossegurança.
Porém, como o conceito apresentado na lei é o da clonagem reprodutiva, a terapêutica não se 
enquadra no tipo penal.
A clonagem terapêutica no Brasil é regulada pela Instrução Normativa 8/97 da Comissão Técnica 
Nacional de Biossegurança (CTNBio), e relata que a geração de embriões apenas para servirem de 
fonte de material biológico para fins terapêuticos é moralmente indefensável e o uso dessas linhagens 
celulares é admissível e desejável.
89
BIOÉTICA E LEGISLAÇÃO PROFISSIONAL
 Lembrete
A Comissão Técnica Nacional de Biossegurança, vinculada ao Ministério 
da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, é responsável por 
acompanhar o desenvolvimento e o progresso técnico‑científico nas áreas 
de biossegurança, biotecnologia e bioética.
Dessa forma, vedou‑se a prática da clonagem reprodutiva e permitiu‑se a clonagem terapêutica.
Exemplo de aplicação
Você, como estudante, tem o conhecimento de que a prática da clonagem reprodutiva é proibida, 
mas é permitida a prática da clonagem terapêutica. Assim, a legislação não apenas busca preservar 
os princípios da dignidade da pessoa humana e os direitos fundamentais, mas também garante a 
possibilidade de se estudar e desenvolver técnicas de tratamento e cura de moléstias degenerativas, que 
nos dias de hoje ainda não são tratáveis.
Por exemplo, a esclerose lateral amiotrófica (ELA) é provocada pela degeneração progressiva de 
neurônios motores, responsáveis pelo controle da musculatura do corpo. Pacientes com a doença 
sofrem paralisia gradual e morte precoce como resultado da perda de capacidades cruciais como falar, 
movimentar, engolir e até mesmo respirar.
De acordo com o Ministério da Saúde, mesmo depois de 130 anos do primeiro diagnóstico da ELA, 
sua cura permanece desconhecida. Atualmente, o único medicamento disponível é o Riluzol, que age 
para diminuir o desconforto dos pacientes com ELA, mas não reduz de forma significativa a progressão 
e aumenta em no máximo três meses a sobrevida de quem sofre com a doença.
Apesar de rara, há, atualmente, no país, 14 mil pacientes diagnosticados com a doença e, desde 2009, 
o Ministério da Saúde, por meio do Sistema Único de Saúde (SUS), oferece assistência e medicamentos 
gratuitos aos pacientes, com base apenas no que está cientificamente comprovado.
Vamos imaginar que você descobre ser portador dessa doença, mas sempre foi contra, por razões 
diversas, quanto ao uso de células‑tronco.
O que você faria? Mudaria de opinião? Sua moral e ética sofreriam mudanças agora que o fato está 
diretamente ligado a sua pessoa?
3.4.1 Últimas notícias sobre clonagem
Os avanços recentes em clonagem reprodutiva permitem quatro conclusões importantes:
•	 a maioria dos clones morre no início da gestação;
•	 os animais clonados têm defeitos e anormalidades semelhantes, independentemente da célula 
doadora ou da espécie;
90
Unidade II
•	 essas anormalidades provavelmente ocorrem por falhas na reprogramação do genoma;
•	 a eficiência da clonagem depende do estágio de diferenciação da célula doadora.
A clonagem reprodutiva a partir de células embrionárias tem mostrado uma eficiência de 10 a 
20 vezes maior do que nas células‑tronco não embrionárias, provavelmente porque os genes que são 
fundamentais no início da embriogênese estão ainda ativos no genoma da célula doadora.
Em 15 de maio de 2013, o repórter de ciência e saúde da BBC News, do Reino Unido, divulgou a 
criação de um embrião humano via clonagem. Os pesquisadores americanos disseram ter utilizado 
técnicas semelhantes às aplicadas para criar a ovelha Dolly e afirmam ter criado um embrião humano. 
Essa descoberta foi bastante comemorada na comunidade científica.
O estudo foi publicado em maiode 2013 em uma das revistas mais famosas relacionadas a pesquisas 
celulares, a Cell. Criar células‑tronco a partir de clonagem é mais fácil, barato e especialmente menos 
polêmico do que fazê‑lo a partir de um embrião real.
Para isso, os cientistas retiraram o núcleo de óvulo no qual foi transplantado o material genético de 
uma célula adulta. Os cientistas induziram os óvulos não fertilizados a se transformar em células‑tronco 
embrionárias e, para isso, foi utilizado um estímulo elétrico.
Ainda segundo os cientistas, as células‑tronco são uma das maiores esperanças da Medicina, por 
serem capazes de se transformar em qualquer outra célula. Na prática, elas podem ser usadas para curar 
os danos causados por um ataque cardíaco ou recuperar um trauma na medula espinhal.
O novo procedimento de utilização de células‑tronco a partir de clonagem também ganhou elogios 
dos mais conservadores, que são contra o uso das células‑tronco embrionárias. Os grupos contra a 
utilização de células‑tronco embrionárias levantam a bandeira de que todos os embriões, sejam eles 
criados em laboratórios ou não, têm o potencial de se transformar em um ser humano e, por essa razão, 
seria imoral realizar experimentos com eles.
Essa descoberta, por isso, demonstra ser bastante promissora, pois as células‑tronco criadas por essa 
técnica são capazes de serem convertidas em diferentes tipos de célula, da mesma maneira que ocorre 
com as embrionárias.
O trabalho, até que essas células possam ser utilizadas como tratamento seguro e efetivo, está 
apenas no começo – mas, ao que parece, o primeiro passo já foi dado (PEREIRA et al., 2013).
3.4.2 Clonagem x legislação
A regulamentação da clonagem no Brasil se antecipou à existente na maioria dos países do mundo. 
No Brasil, talvez pela existência de regulamentação sobre esse assunto, o debate parlamentar não tem 
sido abrangente.
91
BIOÉTICA E LEGISLAÇÃO PROFISSIONAL
A Instrução Normativa 8/97 do CTNBio relata que a geração de embriões apenas para servirem de 
fonte de material biológico para fins terapêuticos é moralmente indefensável. Já a utilização de outras 
linhagens celulares é admissível e desejável.
A clonagem reprodutiva humana, seja por bipartição ou por substituição nuclear, já foi feita. 
Por questões técnicas ou éticas, o desenvolvimento desses embriões não foi levado até estágios 
além dos iniciais.
A própria denominação de clonagem terapêutica é uma maneira sutil de propor que a finalidade 
de salvar um ser humano doente justificaria a utilização de um embrião como simples fornecedor de 
material biológico.
O Prof. Joaquim Clotet (1997), referindo‑se à questão da proibição da clonagem, afirmou que a 
pesquisa não deve ser evitada ou eliminada, apenas deve ser orientada para o bem comum da humanidade 
– afinal, esse conhecimento é considerado perigoso e, assim como os demais procedimentos, possui 
riscos associados.
A questão da clonagem é um excelente exemplo de aplicação para o princípio da precaução (do 
biodireito), atual e pouco discutido na bioética, conforme veremos a seguir.
Exemplo de aplicação
Imagine que você, jovem, brilhante em seu curso e em fase de conclusão, vive em um país que 
não permite a utilização de células‑tronco embrionárias com finalidade terapêutica. Você descobre 
que possui um distúrbio degenerativo muscular que fatalmente lhe levará à morte. No país vizinho, 
com poucas horas de voo e com preço de passagem acessível ao seu orçamento, você descobre que 
eles já estão em fase adiantada com as pesquisas para esse distúrbio e estão buscando pacientes para 
tentar um tratamento gratuito. Qual seria sua posição nessa situação? Será que o que antes não era 
considerado ético por você poderia passar a ser?
3.4.3 Reprodução assistida
Após o nascimento de Louise Brown, o primeiro bebê de proveta, em 1978, na Inglaterra, o mundo 
deparou com um problema ético até então existente somente na ficção científica. Diversos países 
procuraram criar comitês para tentar impor fronteiras à técnica de reprodução assistida (RA) para 
estabelecer limites éticos e morais para a sua utilização (DELLA‑ROSA, 2011).
No Brasil, a técnica de FIV (fertilização in vitro) teve início em 1984, quando nasceu a primeira 
criança com transferência embrionária.
Procriar, ou reproduzir a espécie, é gerar um ser semelhante com constituição genética diferente 
(reprodução sexuada), mas da mesma espécie. No caso da reprodução assexuada, é gerada uma cópia de 
si mesmo com a constituição genética idêntica.
92
Unidade II
Há mais de quarenta anos, Bernhard Haering observou que, para novos contextos sociais, ter 
filhos deixou de ser um ato impensado para se tornar ação responsável, planejada. Os motivos que 
provocaram essa mudança foram principalmente a redução da natalidade e a mudança de contexto 
socioeconômico das famílias – exemplo disso é o fato de que os idosos não esperam mais dos filhos 
a sua aposentadoria (SANCHES, 2012).
A parentalidade – ou seja, o estado ou condição de quem é pai ou mãe – pode, segundo Sanches 
(2012), se classificar dos seguintes modos, de acordo com o projeto responsável por levar ao nascimento 
dos filhos:
•	 projeto explícito: os casais ou pessoas sozinhas refletem, planejam e decidem ter ou não filhos 
num determinado momento de suas vidas;
•	 projeto implícito: os filhos são aguardados e se inserem nas condições mais amplas do casal e 
em seus projetos de vida;
•	 projeto pós‑fato: os filhos são gerados de modo indesejado e inesperado. Os casais acolhem, 
assumem a parentalidade, mas, nesse caso, não havia um projeto de parentalidade prévio;
•	 negação da parentalidade: infelizmente, crianças surgem em condições em que ou são 
eliminadas por aborto e infanticídio ou crescem sistematicamente rejeitadas.
Atualmente, a parentalidade pode ocorrer de três modos:
•	 reprodução natural;
•	 reprodução assistida (RA);
•	 adoção.
Metaparentalidade, como indica seu prefixo grego “meta”, quer dizer “além de”, ou seja, aponta para 
as transformações que sofre a parentalidade sob o impacto das tecnologias reprodutivas e, portanto, 
envolve a sociedade em três elementos que precisam ser evidenciados no contexto das novas tecnologias 
(SANCHES, 2012):
•	 mudança de cenário da reprodução (o cenário foi para “além da família”);
•	 a reprodução passou a ser viabilizada pela dinâmica tecnocientífica, padronizada por critérios 
tecnocientíficos internacionais, indo para “além das culturas locais”;
•	 a parentalidade passou a fazer parte da economia de mercado.
Para a bioética, sendo politicamente correta, a autonomia do casal deve ser respeitada. No entanto, 
quando o processo de RA se inicia, os casais se veem prejudicados por um conflito de interesses entre 
93
BIOÉTICA E LEGISLAÇÃO PROFISSIONAL
seu desejo de ter filhos e o interesse econômico dos médicos, clínicas e companhias, segundo aponta 
Sanches (2012).
As técnicas de reprodução humana assistida (RHA) são procedimentos que auxiliam o processo de 
reprodução humana e podem ser classificadas como:
•	 técnicas de baixa complexidade e de baixo de custo:
— coito programado;
— inseminação intrauterina (IIU).
•	 técnicas de alta complexidade e custo mais elevado:
— fertilização in vitro (FIV);
— injeção intracitoplasmática de espermatozoide (ICSI).
Essa área da ciência mobiliza o interesse da indústria farmacêutica e os aspectos éticos desses 
procedimentos constantemente são analisados.
Em 2013, face às constantes solicitações médicas e da sociedade, o Conselho Federal de 
Medicina apresentou as razões para a deliberação da Resolução CFM n. 2013/13, que dispõe sobre 
a reprodução assistida (RA).
 Saiba mais
Para saber sobre a Resolução que dispõe sobre a RA, leia:
CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA. Resolução CFM n. 2.013/2013. 
Brasília, 2013. Disponível em: http://www.portalmedico.org.br/resolucoes/
CFM/2013/2013_2013.pdf. Acesso em: 21 jan. 2020.
Convém observar com mais atenção algumas das partes mais importantes da resolução citada:
•	 Artigo 1: “Embriõessupranumerários”, ou seja, aqueles produzidos in vitro e que não serão 
implantados para fins de inseminação poderão ter os seguintes destinos:
— ser utilizados para pesquisa e terapia com utilização de células‑tronco embrionárias, desde que 
satisfeitas determinadas condições (Lei 11.105/05);
— ser “criopreservadas”, ou seja, ser congelados (Resolução CFM1358/92).
94
Unidade II
Podemos destacar, da referida resolução, os seguintes pontos:
• Fica proibido:
— criar seres humanos geneticamente modificados;
— criar embriões para investigação;
— criar embriões com finalidades de escolha de sexo, eugenia ou para originar híbridos ou quimeras.
Ainda fica estabelecido que:
• As técnicas de reprodução assistida (RA) podem ser utilizadas desde que exista probabilidade 
efetiva de sucesso e não se incorra em risco grave de saúde para a paciente ou o possível 
descendente. A idade máxima das candidatas à gestação de RA é de 50 anos.
• O número máximo de embriões a serem transferidos é de dois para mulheres com até 35 anos, três 
para aquelas com idade entre 36 e 39 anos e quatro para as candidatas entre 40 e 50 anos.
• Em situação de doação de óvulos e embriões, considera‑se a idade da doadora no momento da 
coleta dos óvulos.
Na Inglaterra, anualmente cerca de 50 gestações de RA são interrompidas a pedido da mãe. Esse 
dado foi revelado em junho de 2011. Existem vários motivos que podem levar a esse pedido, como:
•	 separação do casal;
•	 medo da maternidade;
•	 malformações fetais;
•	 Síndrome de Down.
A partir dessa decisão, podemos pensar em diversas questões éticas:
• O respeito à autonomia das pessoas passa necessariamente pelo reconhecimento da possibilidade 
de reconsiderarem suas decisões e pelo direito ao arrependimento. No entanto, essa decisão está 
associada à morte de um feto, cujos direitos já existem, embora ele não possa exercê‑los.
• Quanto à doação de gametas ou embriões:
— não deve ter caráter lucrativo ou comercial;
— os doadores não devem conhecer a identidade dos receptores e vice‑versa (o sigilo deve ser mantido);
95
BIOÉTICA E LEGISLAÇÃO PROFISSIONAL
— a idade limite para a doação de gametas é de 35 anos para a mulher e 50 para o homem;
— clínicas, centros ou serviços que empregam a doação devem manter um registro de dados clínicos 
de caráter geral;
— na região de localização da unidade, o registro dos nascimentos evitará que um(a) doador(a) 
tenha produzido mais que duas gestações de crianças de sexos diferentes, numa área de 
1 milhão de habitantes;
— a escolha dos doadores é de responsabilidade da unidade e deve garantir, dentro do possível, 
que o doador tenha a maior semelhança fenotípica e imunológica e a máxima possibilidade de 
compatibilidade com a receptora;
— é permitida a doação voluntária de gametas.
• Quanto à criopreservação de gametas ou embriões:
— clínicas, centros ou serviços podem criopreservar espermatozoides, óvulos e embriões e 
tecidos gonádicos;
— o número total de embriões produzidos em laboratório será comunicado aos pacientes, para 
que decidam quantos embriões serão transferidos a fresco, devendo os excedentes viáveis 
serem criopreservados;
— no momento da criopreservação, os pacientes devem expressar sua vontade por escrito quanto ao 
destino que será dado aos embriões criopreservados em caso de divórcio, doenças graves ou falecimento 
de um deles ou de ambos. Também fica registrada a informação de quando desejam doá‑los;
— os embriões criopreservados com mais de cinco anos poderão ser descartados se essa for a 
vontade dos pacientes, conforme previsto na Lei de Biossegurança.
• Quanto à reprodução assistida post mortem, ela é possível desde que haja autorização prévia 
específica do(a) falecido(a) para o uso do material biológico criopreservado, de acordo com a 
legislação vigente.
•	 O alto custo gerado ao sistema de saúde público de um procedimento solicitado e, logo depois de 
atendido, revertido por um indivíduo ou casal (como no caso da Inglaterra).
Apesar de o tema estudado nesta etapa ser a RA (reprodução assistida), não podemos deixar de 
mencionar o aborto, prática diretamente relacionada a princípios bioéticos fundamentais, como autonomia 
da mulher sobre o seu corpo e planejamento familiar, lembrando que assim como ocorre no caso de 
descarte de embriões, para que esse direito possa ser exercido, é necessário que um ser vivo morra.
96
Unidade II
O aborto é, dentre a totalidade das situações analisadas pela bioética, a de que mais se tem escrito e 
que mais tem sido debatida. A maior problemática para essa questão é discernir quais são os argumentos 
filosóficos, religiosos e científicos.
Apesar disso, essa questão ainda suscita muitas divergências dentro do debate ético. O tema aborto 
não pode e não deve ser discutido como uma questão para a qual se tem simplesmente que encontrar 
uma resposta assertiva ou negativa; é necessário que cada caso seja discutido do ponto de vista médico, 
legal e também que seja considerada a autonomia reprodutiva do casal ou da mulher.
Atualmente, no Brasil, o aborto é tratado como um problema criminal (Código Penal Brasileiro 
de 1940), exceto nas situações de estupro ou gravidez causadora de risco para a vida da mãe.
Muitos sustentam a tese de que o feto é pessoa humana desde o momento da fecundação, 
transferindo para ele os direitos e as conquistas sociais de um cidadão. Outros defendem a tese de que 
o feto é pessoa humana em potencial, sendo assim apenas a possibilidade de uma pessoa humana e, 
portanto, podendo ser eliminado (DELLA‑ROSA, 2011).
Independentemente do que se acredita, o fato é que todas essas situações, sejam do âmbito do RA ou 
do aborto, precisam ser contextualizadas. Se o princípio da autonomia está sendo infringido em muitas das 
situações que foram destacadas anteriormente e se para ter autonomia é essencial que tenhamos informação 
– o que pode ser considerado educação – podemos perceber que precisamos, antes mesmo de discutir o que 
é ou não ética, educar e informar as pessoas para que elas mesmas possam argumentar, discutir e escolher o 
que é melhor para si. Afinal, as situações são únicas e intransferíveis e devem ser tratadas como tal.
Tipos de aborto
De acordo com Diniz e Almeida (1998), basicamente se pode reduzir as situações de aborto a quatro 
grandes tipos:
• Interrupção eugênica da gestação (IEG): são os casos de aborto ocorridos em nome de práticas 
eugênicas, isto é, situações em que se interrompe a gestação por valores racistas, sexistas, étnicos 
etc. Comumente, sugere‑se o praticado pela medicina nazista como exemplo de IEG quando 
mulheres foram obrigadas a abortar por serem judias, ciganas ou negras. Regra geral, a IEG 
processa‑se contra a vontade da gestante, sendo esta obrigada a abortar.
• Interrupção terapêutica da gestação (ITG): são os casos de aborto ocorridos em nome da 
saúde materna, isto é, situações em que se interrompe a gestação para salvar a vida da gestante. 
Hoje em dia, em face do avanço científico e tecnológico ocorrido na medicina, os casos de ITG são 
cada vez em menor número, sendo raras as situações terapêuticas que exigem tal procedimento.
• Interrupção seletiva da gestação (ISG): são os casos de aborto ocorridos em nome de anomalias 
fetais, isto é, situações em que se interrompe a gestação pela constatação de lesões fetais. 
Em geral, os casos que justificam as solicitações de ISG são de patologias incompatíveis com a 
vida extrauterina, sendo o exemplo clássico o da anencefalia.
97
BIOÉTICA E LEGISLAÇÃO PROFISSIONAL
• Interrupção voluntária da gestação (IVG): são os casos de aborto ocorridos em nome da 
autonomia reprodutiva da gestante ou do casal, isto é, situações em que se interrompe a 
gestação porque a mulher ou o casal não mais deseja a gravidez, seja ela fruto de um estupro 
ou de uma relação consensual. Muitas vezes, as legislações que permitem a IVG impõem limites 
gestacionais à prática.
 Lembrete
Anencefalia: má formação do cérebro durante a formação embrionária,que acontece entre o 16° e o 26° dia de gestação, caracterizada pela 
ausência total do encéfalo e da caixa craniana.
Com exceção da IEG, todas as outras formas de aborto, a princípio, levam em consideração a vontade 
da gestante ou do casal em manter a gravidez. Para a maioria dos bioeticistas, essa é uma diferença 
fundamental entre as práticas, uma vez que o valor‑autonomia da paciente é um dos pilares da teoria 
principialista, hoje, a mais difundida na bioética.
Note que o alvo das atenções é diferente nos casos de ISG e ITG: no primeiro, a saúde do feto é a 
razão do aborto; no segundo, a saúde materna.
A diferença fundamental entre a prática do aborto seletivo e a do aborto eugênico é que não 
há a obrigatoriedade de se interromper a gestação em nome de alguma ideologia de extermínio de 
indesejáveis, como fez a medicina nazista. A ISG ocorre por opção da paciente.
As discussões sobre o aborto ganharam notoriedade com a Conferência Internacional sobre População 
e Desenvolvimento, ocorrida na cidade do Cairo, Egito, em 1994, e é considerada o marco inicial para as 
legislações e as políticas internacionais e nacionais acerca do aborto. Antes dela, o tema do aborto não 
compunha a agenda de saúde pública de inúmeros países. Segundo Kulczycki et al. (1996), “no Cairo, 
pela primeira vez, um fórum interministerial reconheceu que as complicações do aborto apresentam 
ameaças sérias à saúde pública e recomenda que, onde o acesso ao aborto não é contra a lei, ele deve 
ser efetuado em condições seguras”.
Apesar de difícil mensuração, uma vez que o aborto é considerado crime em inúmeros países, 
calcula‑se que a taxa mundial de abortos por ano esteja entre 32 e 46 abortos por mil mulheres na 
idade de 15 a 44 anos, havendo uma enorme variação entre os países, a depender da prevalência dos 
métodos anticonceptivos, de sua eficácia e das leis e políticas relativas ao aborto.
De acordo com Wrigley (1969), nos países ocidentais, o pico etário do aborto ocorre entre as mulheres 
de 20 anos, como, por exemplo, na Inglaterra, onde 56% dos abortos são praticados por mulheres com 
menos de 25 anos, ao passo que nos Estados Unidos este número é de 61% na mesma faixa etária.
Se, por um lado, o levantamento demográfico acerca do número de abortos praticados no mundo é 
contestável, uma vez que se lida com estimativas ante a ilegalidade da prática, o estudo das legislações 
98
Unidade II
comparadas se mostra mais confiável. O melhor estudo sobre o assunto é o realizado por Rahman 
et al. (1998), que vem fazendo um acompanhamento da legislação mundial desde 1985, ocasião da 
publicação do primeiro relatório comparativo. Segundo esse relatório, 61% da população mundial vive 
em países onde o aborto induzido (IVG) é permitido por algumas razões específicas ou não apresenta 
restrições, ao passo que 25% da população residem em países onde o aborto é radicalmente proibido.
Os autores do relatório argumentam, ainda, que comparando dados da primeira pesquisa (de 1985) 
com os levantados no último estudo, há um direcionamento mundial para a liberalização do aborto. 
Dos vinte países que modificaram suas legislações desde o primeiro estudo, 19 o fizeram rumo a 
legislações mais abertas para a prática.
Variações mundiais de parâmetros para o limite gestacional para a realização do aborto ocorrem de 
90 dias a 24 semanas, bem como para eventuais solicitações como autorização eventual de marido ou 
pais ou mesmo em casos específicos, como ocorre no Brasil.
Em termos bioéticos, sabemos que o debate desse tema envolve o uso de argumentos morais 
e éticos, sociais, financeiros, educacionais e principalmente religiosos. Em nosso país, o aborto induzido é 
considerado crime contra a vida humana, previsto pelo Código Penal Brasileiro desde 1984.
Fazer um aborto induzido pode acarretar em detenção de um a três anos para a mãe que causar 
o aborto ou que dê permissão para que outra pessoa o cometa. Neste caso, a pessoa que realizou o 
procedimento pode pegar de um a quatro anos de prisão. Quando o aborto induzido é provocado sem 
o consentimento da mãe, a pessoa que o provocou pode pegar de três a dez anos de reclusão.
O aborto no Brasil somente não é qualificado como crime em três situações:
• quando a gravidez representa risco de vida para a gestante;
• quando a gravidez é o resultado de estupro;
• quando o feto for anencefálico. Esse último item foi julgado pelo Supremo Tribunal Federal em 
2012 e declarado como parto antecipado com fins terapêuticos.
As gestantes que se enquadrarem em uma dessas três situações têm respaldo do governo para obter 
gratuitamente o aborto legal através do SUS.
Cumpre esclarecer que alguns países consideram o aborto legal e as gestantes brasileiras que optarem 
pelo procedimento nesses países não estão passíveis de punição, uma vez que o aborto fora do território 
nacional não poderá ser considerado como crime.
Exemplo de aplicação
O tema aborto sempre suscita discussões acaloradas. Embora considerado crime quando realizado 
no Brasil, na ausência das situações já mencionadas, existem vários defensores de sua legalização, com 
99
BIOÉTICA E LEGISLAÇÃO PROFISSIONAL
o argumento de que se deve observar o respeito à autonomia reprodutiva da mulher e/ou do casal, 
baseado no princípio da liberdade individual.
Outros dois grandes grupos defendem a ideia de que o feto é uma pessoa humana em potencial. 
A teoria da potencialidade sugere que o feto humano representa a possibilidade de uma pessoa humana 
e, portanto, não pode ser eliminado. Para os representantes da teoria da potencialidade, de feto para 
pessoa humana completa é apenas uma questão de tempo e, é claro, de evolução. Assim, em nome da 
futura transformação do feto em criança, sendo o grande marco o nascimento, o aborto não pode ser 
permitido (MORI, 1994).
Tanto para os defensores da teoria da potencialidade quanto para os defensores da ideia de que 
o feto é já pessoa humana desde a fecundação, o aborto possui o significado moral e jurídico de um 
assassinato — e é desta maneira que seus expoentes se referem à prática.
E você? Qual seria sua posição perante os grupos destacados?
3.4.4 Organismos geneticamente modificados (OGM)
No Brasil, existem muitas leis e resoluções sobre os alimentos transgênicos ou geneticamente 
modificados. Nessa temática específica, a bioética pode contribuir na compreensão das polêmicas que 
surgem na sociedade sobre esse tema (ARANTES, 2012).
Figura 14 – Pimentão lidera lista dos alimentos com mais resíduos de agrotóxicos. 
A Vigilância Sanitária encontrou problemas em mais de 90% 
das amostras do alimento analisadas em 2010
As primeiras regulamentações brasileiras datam de 1995 e foram criadas pelo Conselho Nacional 
de Biossegurança (CNBS). A Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) é uma instância 
colegiada multidisciplinar, integrante do Ministério da Ciência e Tecnologia. Essa é a comissão 
responsável pela elaboração das diretrizes relacionadas ao assunto e também pela liberação do cultivo 
de plantas transgênicas.
100
Unidade II
A primeira liberação para comercialização de uma planta transgênica no Brasil ocorreu em 1998, 
mas pouco depois, por meio de uma liminar impetrada pelo Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor 
(Idec) e pelo Greenpeace, essa liberação precisou ser retirada.
Depois disso, o Governo não chegou a um consenso sobre as decisões que deveriam ser tomadas – 
ocorreram, inclusive, diferentes posturas entre os ministérios. Como resultado, no mundo, 557 cultivos 
de alimentos transgênicos estão disponíveis, sendo que, no Brasil, temos apenas 36 (SILVEIRA, 2012).
A posição dúbia do Governo prejudica, em primeiro lugar, a pesquisa agrícola brasileira, 
majoritariamente desenvolvida nas instituições públicas, desfavorecendo a busca por autonomia de 
produção de alimentos (ARANTES, 2012).
Os desafios para a segurança alimentar podem ser resumidos, segundo Arantes (2012), em:
•	 aumento gradual da produção global de alimento;
•otimização do acesso às tecnologias e biotecnologias agrícolas que permitam aumento de 
produtividade entre todos os agricultores;
•	 redução do desperdício;
•	 conservação dos recursos naturais;
•	 melhora dos hábitos alimentares.
Existe uma rede mundial que busca encontrar como ensinar os caminhos para que os resultados 
das pesquisas agrícolas sejam seguros. O Fórum Mundial sobre Pesquisa Agrícola (Global Forum on 
Agricultural Research – GFAR) tem como objetivo a mobilização de parceiros, da ciência, do Governo e 
da sociedade, visando aos avanços dos sistemas de pesquisa e extensão em todo o mundo.
Antes de continuarmos identificando como a bioética pode contribuir com esse setor, observemos 
algumas definições de conceitos:
•	 perigo: caracterizado pelo agente nocivo, físico, químico ou biológico capaz de causar efeitos adversos;
•	 risco: função da probabilidade de ocorrência daquele perigo (ARANTES, 2012).
A análise de risco da produção de alimentos geneticamente modificados é composta por avaliação do 
risco e manejo do risco. Por sua vez, a comunicação de risco é a troca de informação e opinião sobre 
fatores relacionados com o risco e a percepção do risco entre todos os envolvidos (AGOSTINI, 2003).
A Food and Agriculture Organization (FAO) recomenda que a comunicação esteja presente em todas as fases 
da análise de risco. A bioética entra nessa questão atuando como uma ponte entre ciência e vida e tenta conseguir 
estimular a responsabilidade da participação dos envolvidos: sociedade, indústrias e Governo (ARANTES, 2012).
101
BIOÉTICA E LEGISLAÇÃO PROFISSIONAL
Segundo os pesquisadores Costa‑Font, Gil e Traill (2008), é primordial que se conheça o processo 
como um todo, para que estratégias e regulações eficientes possam ser adotadas e para que o princípio 
de autonomia (nesse caso, manifestado na opção de escolher ou não um alimento transgênico) seja 
respeitado. Para isso, a informação é essencial.
Já o princípio do benefício/risco, nesse caso, acaba sendo bastante subjetivo, visto que mesmo as 
evidências científicas não conseguem chegar a uma unanimidade. No entanto, o Governo precisa estimular 
a formação da cultura científica, a fim de contribuir com uma maior autonomia na tomada de decisão.
Sobre o assunto, foi realizada uma pesquisa on‑line sobre os temas das plantas transgênicas, dos 
organismos geneticamente modificados (OGM), da biotecnologia e da engenharia genética. Os resultados 
obtidos mostraram uma percepção negativa para os dois primeiros termos e positiva para os outros dois, 
o que reforça a ideia de que sem informação não é possível fazer escolhas adequadamente, por meio de 
um processo da escolha e de tomada de decisão consciente (ARANTES, 2012).
Os avanços da ciência são cada vez maiores. A seguir citaremos alguns dos mais famosos projetos 
que existiram ou existem e que contribuem para discussões (e consequente crescimento) da bioética.
3.4.5 Projeto Genoma Humano (PGH)
Na história da civilização ocidental, os avanços tecnológicos frequentemente trazem como 
consequência verdadeiras revoluções sociais e econômicas.
O genoma humano consiste em 3 bilhões de pares de base de DNA distribuídos em 23 pares 
de cromossomos com cerca de 70 mil a 100 mil genes. Cada cromossomo é constituído por uma 
única molécula de DNA, que, por sua vez, é composto por sequências de unidades chamadas 
nucleotídeos ou bases. As quatro bases diferentes – adenina (A), timina (T), guamina (G) e citosina (C) – 
determinam os genes.
O Projeto Genoma Humano (PGH) surgiu em 1990 com a finalidade de identificar cada um dos 100 mil 
genes humanos por meio de mapeamento genético. O mapeamento registra os genes do cromossomo, 
determinando a ordem e a função dos nucleotídeos. A ideia era de que com esse mapeamento a cura e 
a causa de muitas doenças poderiam ser identificadas, visto que o genoma nos fornece o potencial para 
desvendar o mecanismo básico das doenças – o que poderia permitir o desenvolvimento de tratamentos 
mais direcionados.
Entretanto, o uso indevido dos dados resultantes do projeto pode fazer com que as pessoas percam 
sua individualidade e se tornem vulneráveis. Por exemplo, numa situação de contratação, as empresas 
poderiam passar a exigir para a contratação um exame de DNA detectando futuros problemas médicos 
(que poderiam diminuir ou excluir a chance de contratação).
Muitos profissionais da área de saúde preocupam‑se com o fato de que milhões de pessoas possam 
vir a ser rotuladas por toda vida com os estigmas de doentes pelo simples fato de terem propensão 
genética a apresentar alguma doença. Devido a questões como essa, o PGH está cercado de inúmeras 
102
Unidade II
incertezas éticas, legais e sociais (Elsi), o que levou aos investidores a dedicarem 10% de seu orçamento 
a discussões como (PENA; AZEVÊDO, 1998):
•	 privacidade da informação genética;
•	 segurança e eficácia da medicina genética;
•	 justiça no uso da informação genética.
Compete aos bioeticistas e aos cientistas moralmente motivados trazerem essas reflexões éticas 
para a sociedade.
O Comitê de Bioética tem estado preocupado em normatizar a participação de indivíduos e 
populações em estudos genômicos, especialmente com a questão do consentimento informado. 
Por isso, enunciou quatro princípios que devem nortear toda a pesquisa sobre o genoma humano, 
conforme explica Loch (2002):
•	 o genoma humano é parte do patrimônio da humanidade;
•	 as pesquisas devem possuir aderência a normas internacionais de direitos humanos;
•	 deve haver respeito pelos valores, tradições, cultura e integridade dos participantes nos estudos;
•	 é imprescindível que haja aceitação e defesa da dignidade humana e da liberdade.
 Saiba mais
Para saber mais sobre como o mapeamento genético poderia prejudicar 
as pessoas, assista ao filme:
GATACCA. Direção: Andrew Niccol. EUA: Jersey Films, 1997. 102 min.
A Unesco tem tido um papel importante na coordenação internacional do PGH. O Comitê Internacional 
de Bioética da Unesco aprovou a importante Declaração Universal do Genoma Humano, visando definir 
os direitos, deveres e direcionamento das questões advindas dessa temática (COSTA et al., 1998).
Para o pesquisador Wilkie (1994), tamanha ênfase na constituição genética da humanidade pode 
nos levar a esquecer que a vida é mais do que a mera expressão de um programa genético escrito na 
química do DNA.
103
BIOÉTICA E LEGISLAÇÃO PROFISSIONAL
4 BIOÉTICA X MEIO AMBIENTE
Durante a década de 1990, a consciência do desafio ecológico cresceu e passou a fazer parte da 
bioética. Desde então, o horizonte bioético capta a interação entre ser humano e natureza e a inclusão 
de todos os seres vivos e não vivos.
Potter (1971) se antecipou ao alertar a humanidade com relação ao cuidado e à defesa da vida para 
além do âmbito humano no sentido cósmico e ecológico. Em meados dos anos 1980, especialmente depois 
da Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento (Cnumad), conhecida 
também como Eco‑92, que aconteceu no Rio de Janeiro, os governos dos países industrializados 
começaram a se mobilizar em razão da crise ecológica instaurada pela exploração predatória da natureza.
O Protocolo de Kyoto (1997) surgiu então para responder à necessidade de preservar o futuro da 
vida na Terra. Esse protocolo foi firmado por 160 países que se uniriam com o objetivo de diminuir a 
emissão dos gases dióxido de carbono (CO2) e metano. Os Estados Unidos, um dos países responsáveis 
por uma das maiores emissões desses gases, ainda não assinaram o protocolo (dados de 2010).
Mikhail Gorbachev, em sua obra Meu Manifesto pela Terra, de 2003, identificou três principais 
desafios a serem enfrentados pelo ser humano nesse novo século:
•	 a necessidade de manter o mundo em paz, no sentido de os países se unirem contra o terrorismo;
•	 a luta contra a pobreza mundial, já que metade da população do planeta passa fome todos os 
dias, não tem acesso à água potável e nem a condições decentes de higiene;

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